1.3.3 Resíduos Sólidos Na Mata Atlântica

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 8

AMBIENTE E OS DESAFIOS

LOCAIS E GLOBAIS

1.3.3 Resíduos Sólidos na Mata


MÓDULO 1

Atlântica

Fábio Vieira de Araujo


INTRODUÇÃO

O Brasil é o quinto maior país do mundo. Com uma área de 8.514.876


Km2 podemos dizer que possui dimensões continentais, já que possui
quase o tamanho da Oceania (8.526.000 Km2). Distribuídos por esta
área podemos encontrar 6 diferentes Biomas, a saber: Amazônia,
Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pampa e Pantanal (Ministério do
Meio Ambiente, 2024). Por Bioma entende-se “um conjunto de vida
vegetal e animal, constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação
contíguos e que podem ser identificados a nível regional, com
condições de geologia e clima semelhantes e que, historicamente,
sofreram os mesmos processos de formação da paisagem, resultando
em uma diversidade de flora e fauna própria” (COUTINHO, 2006).

Dentre todos os nossos Biomas, a Mata Atlântica é considerado o


mais degradado. Se originalmente este Bioma possuía uma área de
cerca de 15% do território brasileiro, distribuída ao longo de 17
estados, cobrindo 1,3 milhões de Km2, hoje sua área corresponde a
12,5% da sua área original (SÁ, 2022).

Pela sua posição na costa do Brasil, foi o local de chegada dos


colonizadores, onde se instalaram as primeiras cidades e onde se
desenvolveram as primeiras atividades econômicas, como o a
extração do pau-brasil, o cultivo da cana-de-açúcar e do café.
Atualmente, cerca de 70% da população brasileira vive no território de
Mata Atlântica, aumentando ainda mais a pressão sobre este Bioma
(WWF, 2022).

A Mata Atlântica junto com o Cerrado no Brasil e outras 32 regiões no


mundo, é considerada um HOTSPOT (área de grande diversidade com
alto grau de ameaça de degradação) (TABOADA ET AL., 2022). Esta
diversidade, composta de cerca de 20 mil espécies vegetais, e
1.600.000 espécies animais, das quais 2.168 espécies de vertebrados,
muitas das quais endêmicas a este Bioma, estão distribuídas pelas
diferentes formações florestais e ecossistemas que compõe a Mata
Atlântica, como a Floresta Ombrófila Densa; Floresta
Ombrófila Aberta; Floresta Ombrófila Mista; Floresta Estacional
Decidual; Floresta Estacional Semidecidual; Mangues e Restingas (IBF,
2022).

Entre os impactos que este bioma sofre, podemos citar o


desmatamento, as queimadas, a caça e pesca predatória e a poluição
de suas águas, responsáveis pelo abastecimento de centenas de
cidades. Além destes, a presença de resíduos sólidos vem crescendo e
se tornando um grave problema ambiental.

RESÍDUOS SÓLIDOS

Por definição, resíduos sólidos são todo material, substância, objeto


ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade
que podem ser reaproveitados em outros processos produtivos;
diferentemente dos rejeitos que são os resíduos que não podem ser
tratados ou recuperados. Apesar desta definição técnica, os resíduos
sólidos são popularmente chamados de “lixo” (IBAMA, 2012).
A quantidade crescente de lixo é consequência direta do alto
consumo pela sociedade. É notório comprovar a total falta de
sustentabilidade do modelo de produção, distribuição e consumo de
bens e serviços atuais. A geração de resíduos está atrelada ao modo
de vida, higiene, trabalho, cultura, alimentação e consumo humanos
(AMORIM, 2010). Há um destaque para o avanço de tecnologias e a
produção de materiais artificiais, com durabilidade limitada. A
preocupação com a reintegração desses materiais ao meio ambiente
retrata um ponto negativo no que se refere às iniciativas por parte
das indústrias produtoras. Para a sociedade de forma geral, não
existe um interesse no destino dos resíduos, prevalecendo uma maior
preocupação quanto ao recolhimento dos mesmos. Ou seja, uma vez
recolhido pelo serviço público, acha-se que o lixo não é mais um
“problema”; o que resulta em uma falta de interesse em fazer uma
redução significativa na produção do mesmo, de modo a se ter uma
gestão sustentável.
Mas o pior acontece quando os resíduos não recebem adequado
tratamento e destinação final, o que pode gerar vários impactos
negativos sobre o ambiente, dos pontos de vista social, sanitário e
ecológico, pois no conjunto, propiciam a proliferação de vetores e o
aparecimento de doenças em animais e nos seres humanos, além da
poluição da atmosfera, do solo e dos recursos naturais (PHILLIPP
JUNIOR e AGUIAR, 2005).

Muito se fala do lixo no ambiente marinho, e com razão, pois além de


toda a importância que o oceano possui para a humanidade, este
ambiente costuma ser o destino final de todo lixo disposto
inadequadamente no ambiente terrestre; mas devemos lembrar que
antes mesmo dos impactos negativos no oceano, os resíduos
impactam negativamente os ecossistemas terrestres.

Como impactos, podemos citar a degradação da paisagem e


consequente desvalorização de propriedades e perda da qualidade
ambiental. A presença de lixo no ambiente também atrai diversos
vetores de doenças podendo ocasionar na proliferação destes vetores
e no aumento da disseminação destas doenças. Além dos vetores de
doenças, a presença de resíduos no ambiente pode atrair diversos
outros animais que os confundem com alimento, vindo a ingerir estes
parcialmente ou em sua totalidade. Cita-se também a contaminação
do solo pelo chorume e do ar pelo biogás (metano e dióxido de
carbono), ambos produtos da degradação destes resíduos (PEARCE,
2002). Mas talvez o maior impacto resida na contaminação do
ambiente aquático, seja, o lençol freático, os rios, ou mesmo os
ambientes costeiros; ambientes estes que se apresentam em grande
quantidade no Bioma Mata Atlântica.

Apesar da Política Nacional de Resíduos Sólidos, lei criada em 2010


com o objetivo de organizar o gerenciamento dos resíduos sólidos
produzidos no país, ter estipulado um prazo final para o despejo de
lixo a céu aberto, nos chamados lixões, vários destes continuam
funcionando em áreas de Mata Atlântica e mesmo os que já foram
fechados, por anos contaminaram os lençóis freáticos destes
ecossistemas. Estudos mostram ainda que grande parte dos rios
deste Bioma estão com sua qualidade comprometida pelos despejos
de esgotos e lixos que recebem, fora a presença de lixos nas
restingas, manguezais e na própria região de mata (SOS Mata
Atlântica, 2024).

O PLÁSTICO NO AMBIENTE

Dentre os vários resíduos sólidos que podemos encontrar no


ambiente, destaca-se o plástico. Devido as suas propriedades de
resistência, durabilidade e principalmente pelo baixo custo de
produção, este material tem sido utilizado na produção de diversos
bens de consumo que fazem parte do nosso dia a dia e
principalmente daqueles chamados de uso único, os descartáveis
(VIDELA E ARAÚJO, 2021).

Além dos aditivos químicos que já carreiam e que lhes conferem cor,
propriedades antiinflamáveis entre outras, estes materiais quando no
ambiente aquático podem absorver poluentes como metais pesados e
poluentes orgânicos persistentes (POP´s), além de servir de
substratos para a formação de biofilmes que podem conter
microrganismos patogênicos e/ou carreadores de genes de resistência
a antimicrobianos e que atraem organismos bentônicos que podem
se fixar neste substratos e serem dispersos para várias outras áreas
onde não ocorrem, tornando-se espécies exóticas e por vezes
invasoras (ARAÚJO ET AL, 2021).

Ao longo de sua permanência no ambiente os plásticos podem vir a se


fragmentar devido a exposição aos raios solares ou mesmo a ação
abrasiva do sal no ambiente marinho, tornando-se cada vez menores,
facilitando desta forma sua entrada na cadeia alimentar nos níveis
inferiores facilitando assim sua bioacumulação ao longo desta e
potencializando seus efeitos prejudiciais (CASTRO ET AL., 2018)
Estes pequenos fragmentos de plástico (<0,5mm) são chamados de
microplásticos e, além de serem resultados da fragmentação de
pedaços maiores (chamados de microplásticos secundários), podem
ser, também, classificados de primários quando já em sua forma
original apresentam este tamanho, como os pellets (matéria -prima
para a fabricação de produtos plásticos) e as microesferas presentes
em produtos de beleza (IDEM, 2018).

Estudos mostram que os microplásticos estão presentes em todos os


ambientes no planeta, desde os próximos a centros urbanos aos mais
remotos, como ilhas afastadas de continentes, fossas oceânicas e
ecossistemas terrestres de grandes altitudes, além de já terem sido
isolados de diversos alimentos, bem como de fezes humanas e do
leite materno (CASTRO ET AL., 2018).

Reduzir a presença de resíduos plásticos no ambiente é uma tarefa


árdua e um dos principais desafios que a humanidade possui
atualmente. A diminuição do consumo como citado anteriormente é
um passo fundamental. O outro é sensibilizar as pessoas em relação a
realizar a disposição adequada dos seus resíduos, um dos principais
problemas enfrentados na gestão das diversas áreas de preservação
ambiental que existem no Bioma Mata Atlântica.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E RESÍDUOS SÓLIDOS

Diante do que foi descrito no texto, investir em ações e projetos de


Educação Ambiental é primordial (BORGES E OLIVEIRA, 2011). Através
da Educação Ambiental conseguiremos aproximar a população do
meio ambiente e desta forma despertar nesta a percepção dos
problemas ambientais de modo a estimular a solução destes e
consequentemente a preservação do meio ambiente.
Diversos são os projetos de Educação Ambiental desenvolvidos em
áreas de Mata Atlântica e em Unidades de Conservação, mas há muito
a ser feito em relação à presença de resíduos sólidos neste Bioma.
Mais do que incentivar a destinação correta dos resíduos, através da
distribuição de lixeiras seletivas dentro das unidades, estes projetos
devem incentivar a diminuição do consumo e gerir as possíveis fontes
de produção de resíduos. Acabar com os resíduos sólidos no
ambiente é ainda uma utopia, mas minimizar a presença destes,
depende muito de nossas ações, sejam individuais ou coletivas.

REFERÊNCIAS

AMORIM, A. P.; ALBUQUERQUE, B. M. de; GAUTÉRIO, D. T.; JARDIM, D.


B.; MORRONE, E. C.; REJANE, M. S., 2010. Lixão municipal: abordagem
de uma problemática ambiental na cidade de Rio Grande – RS.
Disponível em:
http://www.seer.furg.br/ojs/index.php/ambeduc/article/viewFile/888/9
20>. Acesso em: 01 mar. 2024.
ARAÚJO, F. V., Castro, R. O., Silva, M. L., Silva, M. M., 2021.
Ecotoxicological effects of microplastics and associated pollutants. In:
Aquaculture Toxicology. 189 -227. Disponível em:<10.1016/B978-0-
12-821337-7.00009-8>. Acesso em: 01 mar. 2024.
BORGES, E. A., Oliveira, M. A de. 2011. Educação ambiental com
ênfase no consumo consciente e o descarte de resíduos – uma
experiência da educação formal. Disponível em:
<https://nupeat.iesa.ufg.br/up/52/o/31_Consumo_consciente.pdf>.
Acesso em: 01 mar. 2024.
CASTRO, R. O., SILVA, M. L., ARAUJO, F.V., 2018. Review on microplastic
studies in Brazilian aquatic ecosystems. Ocean & Coastal
Management. 165, 385-400. Disponível em:
<https://doi.org/10.1016/j.ocecoaman.2018.09.013>. Acesso em: 01
mar. 2024.
COUTINHO, L. M., 2006. O Conceito de Bioma. Acta Botanica
Brasilica. 20(1): 13-23. Disponível em:<https://doi.org/10.1590/S0102-
33062006000100002>. Acesso em: 01 mar 2024.
IBAMA, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais,
2012. Instrução Normativa Nº 13, de 18 de dezembro de 2012.
Disponível em:
<https://servicos.ibama.gov.br/phocadownload/legislacao>. Acesso
em: 01 mar. 2024.
IBF - Instituto Brasileiro de Florestas, 2022. Bioma Mata Atlântica.
Disponível em: <https://www.ibflorestas.org.br/bioma-mata-
atlantica>. Acesso em: 01 mar. 2024.
MMA, Ministério do Meio Ambiente. 2024, Biomas. Disponível em:
<https://antigo.mma.gov.br/biomas.html>. Acesso em: 01 mar. 2024.
PEARCE, F., 2002. O aquecimento global. São Paulo: Publifolha. (Série
Mais Ciência / editor da série John Gribbin). 72 p.
PHILIPPI Jr., A. AGUIAR, A., 2005. Resíduos sólidos: características e
gerenciamento. In: PHILIPPI JR, A. (Org.) Saneamento, saúde e
ambiente: fundamentos para um desenvolvimento sustentável.
Barueri-SP: Manole. p. 267-321.
PNRS, Política Nacional dos Residuos Sólidos. Lei nº 12.305, de 2 de
agosto de 2010. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 01 mar. 2024.
SÁ, M. R., 1996. A ferro e fogo: a história e a devastação da Mata
Atlântica brasileira. São Paulo, Companhia das Letras. 484 p.
Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/hcsm/a/Cg4JkHQfHgPbPhmz4KFdR8Q/?
format=p-df&lang=pt>. Acesso em: 01 mar. 2024.
SOS MATA ATLÂNTICA, 2024. O Retrato da Qualidade da Água nas
Bacias Hidrográficas da Mata Atlântica. Disponível em:
<https://www.sosma.org.br/noticias/estudo-revela-que-apenas-7-dos-
rios-da-mata-atlantica-apresentam-agua-de-boa-qualidade>. Acesso
em: 01 mar. 2024.
TABOADA, J. K., MIRANDA T. M., MELLO, R. S. P., COELHO DE SOUZA,
G., 2022. Usos e conservação de espécies e ecossistemas nativos para
o fortalecimento da socio biodiversidade no território do PAN Lagoas
do Sul. Cadernos de Agroecologia, v. 17, n. 3.
VIDELA, E. S., ARAÚJO, F. V., 2021. Marine debris on the Brazilian coast:
which advances in the last decade? A literature review. Ocean &
Coastal Management. 199, 105400. Disponível em:
<https://doi.org/10.1016/j.ocecoaman.2020.105400>. Acesso em: 01
mar. 2024.
WWF, WORLD WIDE FUND FOR NATURE (Brasil). Ameaças à Mata
Atlântica. Disponível em:
<https://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/bi
omas/bioma_mata_atl/bioma_mata_atl_ameacas/>. Acesso em: 01
mar. 2024.

Você também pode gostar