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RESUMO - Este trabalho teve como objetivo determinar métodos eficientes e práticos para
superação da dormência de sementes de Sterculia striata A. St. Hil. & Naudin. É uma espécie
nativa utilizada em reflorestamentos e na arborização urbana. As sementes foram submetidas
a seis tratamentos, sendo a escarificação com lixa n. 80 no lado oposto à micrópila, o
tratamento mais eficiente para superação a dormência dessas sementes.
Palavras - chaves: sementes, superação de dormência, chichá, espécies florestais.
1. INTRODUÇÃO
O chichazeiro (Sterculia striata A. St. Hil. & Naudin), da família Malvaceae também é
conhecido popularmente como chichazeiro-do-cerrado, mendubi-guaçu, aracha-chá, chechá-
do-norte e castanha-de-macaco; nativa da região de Meio-Norte de Brasil, cujo fruto, uma
cápsula lenhosa e alongada, apresenta bom potencial para o mercado de nozes. A planta é
decídua e mede entre 8 e 14 m de altura, com diâmetro de caule variando entre 0,4 e 0,5 m.
Uma planta adulta, em suas condições naturais, pode produzir de 100 a 180 cápsulas com três
ou quatro lóbulos cada por safra/ano (Araújo, 1997).
O chichazeiro é uma planta pioneira, de rápido crescimento e tolerante a terrenos secos
e pedregosos, sendo indicada para plantios destinados à recomposição de áreas degradadas de
preservação permanente. A espécie tem potencial madeireiro, paisagístico e alimentar, pois
seus frutos e sementes (nozes) podem ser consumidos in natura. A sua área de ocorrência
abrange a região amazônica até o Piauí, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Mato Grosso do
Sul e São Paulo, na floresta semidecídua e sua transição para o Cerrado (Lorenzi, 2002).
Com relação à sua noz, seu grande diferencial é o baixo teor de gordura (em torno de
30,2%) quando comparada com os demais tipos de nozes disponíveis no mercado, como a
macadamia (75,5%), a castanha-do-brasil (66%), o pistachio (55-60%), a avelã (57-67%) e a
castanha de caju (43%) (Araújo, 1997). Dessa forma, considerando que a preferência do
consumidor é, em geral, por produtos com baixo teor de gordura, a "noz de chichá", que pode
ser considerada como uma noz “light” apresenta bom potencial para inserção nos mercados
nacional e internacional.
A utilização do teste de germinação é fundamental para o monitoramento da
viabilidade das sementes em bancos de germoplasma, antes e durante o armazenamento.
Todavia, o conhecimento atual sobre as técnicas de monitoramento é limitado, concentrando-
se, principalmente, em plantas de interesse agrícola. Pouco se conhece acerca das condições
para germinação da maioria das sementes de espécies silvestres (Heywood, 1989). Lotes de
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sementes que possuem algum mecanismo de dormência podem ter a sua viabilidade
subestimada quando são obtidos baixos valores de porcentagem de germinação.
A importância ecológica da dormência baseia-se, principalmente, no bloqueio da
germinação quando as condições ambientais são adequadas, porém as perspectivas de futuro
estabelecimento e crescimento das plântulas não são promissores (Eira e Caldas, 2000). Dessa
forma, metodologias para a superação de dormência são importantes, particularmente, para o
monitoramento da viabilidade de sementes (Ellis et al., 1985).
As sementes da maioria das espécies germinam prontamente quando lhes são dadas
condições ambientais favoráveis (Popinigis, 1985; Carvalho e Nakagawa, 2000). No entanto,
segundo Kramer e Kozlowisk (1972), as sementes de cerca de dois terços das espécies
arbóreas apresentaram certo grau de dormência, que pode ser superada com a utilização de
tratamentos pré-germinativos. Dessa forma, a dormência passa a ser um transtorno quando as
sementes são utilizadas para produção de mudas, em virtude do longo tempo para que ocorra
a germinação, ficando as mesmas sujeitas às condições adversas, o que favorece o ataque de
fungos e, conseqüentemente, pode acarretar grandes perdas (Borges et al.,1982).
As causas da dormência podem ser devidas à presença de embriões imaturos,
tegumentos impermeáveis à água ou ao oxigênio, por restrições mecânicas ou pela presença
de substâncias inibidoras da germinação (Popinigis, 1985; Bewley e Black, 1994). Espécies
florestais tropicais, com sementes duras, freqüentemente apresentam consideráveis problemas
para os viveiristas porque seus tegumentos duros e impermeáveis restringem a entrada de
água e oxigênio, oferecendo assim, alta resistência física ao crescimento do embrião (Moussa
et al., 1998).
A impermeabilidade do tegumento pode ocorrer devido à presença de uma cutícula e
de uma camada bem desenvolvida de células em paliçada, ou de ambas (Copeland e
McDonald, 1995), o que impede a absorção de água e impõe uma restrição mecânica ao
crescimento do embrião, retardando o processo de germinação. Sob condições naturais, este
mecanismo (tipo é primária ou secundária) de dormência pode ser superado por processos de
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MATERIAL E MÉTODOS
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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
As sementes de Sterculia striata, apresentaram umidade relativa em torno de 6,58. A
média relativa da quantidade de sementes por fruto, expressa uniformidade dos dados pelo
baixo coeficiente de variação obtido (3,4%), enquanto os dados do peso de mil sementes
(1.445,6g) apresentou-se elevado e uma pequena variação em relação à essa característica
(1,19%) (Tabela 1).
Um dos fatores limitantes à propagação da Sterculia striata é a dormência profunda
das sementes, o que resulta em germinação lenta e desuniforme. A impermeabilidade do
tegumento à água é o fenômeno considerado por Popinigis (1985) como uma das causas mais
comuns de dormência nas sementes de plantas de diversas famílias.
As sementes submetidas à escarificação manual com lixa no lado oposto à micrópila
(T2) e imersão em ácido sulfúrico por 15 e 45 minutos (T4 e T3, respectivamente)
apresentaram as maiores porcentagens de emergência de plântulas. As menores porcentagens
de emergência foram obtidas com as sementes submetidas ao ácido sulfúrico por 60 minutos
(T5) e aquelas escarificadas com posterior imersão em água fria por 24 horas, provavelmente
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devido ao fato dos mesmos terem provocado danos nas estruturas vitais da semente (Figura
1A). Resultados semelhantes foram obtidos por Santos et al. (2004) quando observaram que
as maiores porcentagens de germinação de sementes de Sterculia foetida L. ocorreram com a
utilização de escarificação em um lado da semente seguida de embebição e escarificação
mecânica nos dois lados, sem embebição.
A escarificação manual com lixa n. 80 também favoreceu a germinação de sementes
com tegumento impermeável à água, a exemplo daquelas de Senna macranthera (Santarém e
Aquila, 1995), Ocotea corymbosa (Meissn.) Mez (Bilia et al., 1998), Leucaena diversifolia
(Bertalot e Nakagawa, 1998), Operculina macrocarpa (Medeiros Filho et al., 2002), Acacia
mearnsii (Roversi et al., 2002), Ormosia arborea (Lopes et al., 2004), Schizolobium
amazonicum (Cruz e Carvalho, 2006), Leucaena leucocephala (Deminicis et al., 2006) e
Senna siamea (Dutra et al., 2007).
Os tratamentos com ácido sulfúrico também proporcionaram aumentos e uniformidade
na germinação de sementes de Senna macranthera (Eschiapati-Ferreira e Perez, 1997), Parkia
multijuga (Bianchetti et al., 1998), Cassia excelsa (Jeller e Perez, 1999), Bauhinia monandra
(Alves et al., 2000), Mimosa caesalpiniifolia (Garcia et al., 2002), Ormosia arborea (Lopes et
al., 2004), Ochroma lagopus, (Barbosa et al., 2004), Zizyphus joazeiro (Alves et al., 2006) e
Ormosia nitida (Lopes, 2006).
Verificou-se que quanto à emergência das plântulas aos 10 dias, destacaram-se as
sementes escarificadas com lixa (T2), seguidas pelas sementes imersas em ácido sulfúrico por
15 minutos (T3), com um porcentual de emergência de 61 e 50%, respectivamente. Esses
resultados demonstram que a dormência tegumentar foi superada quando as sementes foram
submetidas aos referidos tratamentos (Figura 1B). Segundo Hartmann et al. (1997), para
espécies que apresentam sementes com tegumento impermeável à água, um dos tratamentos
mais comumente usados é a escarificação mecânica. Quanto à ação do ácido sulfúrico,
Santarém e Áquila (1995) relataram que seu efeito no amolecimento do tegumento das
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4. CONCLUSÕES
A dormência das sementes de Sterculia striata é do tipo tegumentar, restringindo-se a
embebição, considerando a escarificação com lixa n. 80 no lado oposto a micrópila, o
tratamento mais eficiente para a sua superação.
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Tabela 1. Peso de mil sementes, média do número de sementes por fruto e número de
sementes por quilograma de S. striata.
Determinações Média CV (%)
No de sementes por fruto 4,7 -
No de sementes por quilograma (g) 657 -
Peso de mil sementes(g) 1.445,6 1,19
100 A
80
Emergência (%)
a a
ab a
60
bc
40
c
20
0
1 2 3 4 5 6
Tratamentos
100 B
Primeira contagem de
80
Emergência (%)
a
60
ab
bc b
40 bc
c
20
0
1 2 3 4 5 6
Tratamentos
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5 C
Índice de velocidade de
4
emergência
2
ab a ab abc bc
1 c
0
1 2 3 4 5 6
Tratamentos
10 A 15 B
daparte
a a
raiz
8 a 12 ab ab
a a b b b
a a
Comprimentoda
aérea (cm)
6 9
Comprimento
4 6
2 3
0 0
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
Tratamentos Tratamentos
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1 1
da aérea
C D
raiz
0,8 0,8
parte
0,6 0,6
seca
a
seca da
0,4 0,4 a a a a a
MassaMassa
a a a a a
0,2 a 0,2
0 0
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
Tratamentos Tratamentos
Figura 2. Comprimento da raiz (A), da parte aérea (B) e massa seca da raiz (C) e da parte
aérea (D) de plântulas de S. striata em função de tratamentos pré-germinativos.
Médias seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey, a
5% de probabilidade.
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