Acordao
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4ª CÂMARA CRIMINAL
Recurso: 0003315-43.2022.8.16.0196 Ap
Classe Processual: Apelação Criminal
Assunto Principal: Furto Qualificado
Apelantes: RAFAEL ANDRADE DA COSTA
EDUARDO HENRIQUE RAMALHO DOS SANTOS
Apelado: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ
Relatora: Desembargadora Maria Lúcia de Paula Espíndola
Relatório
Trata-se de recurso de apelação interposto pela defesa contra a sentença proferida pelo Juízo da 3ª Vara
Criminal do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba que, nos autos de ação penal
n. 0003315-43.2022.8.16.0196, julgou procedente a pretensão punitiva estatal e condenou os réus
Eduardo Henrique Ramalho dos Santos e Rafael Andrade da Costa, como incursos nas sanções do
artigo 155, § 4º, II e IV, c/c artigo 14, II, ambos do Código Penal[1]. (mov. 164.1)
Ao réu Eduardo Henrique Ramalho dos Santos, foi fixada a pena de 1 (um) ano e 9 (nove) meses de
reclusão, em regime semiaberto, e 48 (quarenta e oito) dias-multa, cada um na razão de 1/30 (um
trigésimo) do salário mínimo vigente à época do fato.
Para o réu Rafael Andrade da Costa, foi estabelecida a pena de 11 (onze) meses de reclusão, em regime
semiaberto, e 18 (dezoito) dias-multa, cada um na razão de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo
vigente à época do evento delituoso.
Inconformada com a sentença condenatória, a defesa dos réus Eduardo Henrique Ramalho dos Santos
e Rafael Andrade da Costa interpôs recurso a esta Instância Superior e, em suas razões recursais, busca
a absolvição dos apelantes pela atipicidade da conduta decorrente de erro de tipo; a fixação das penas-
base no mínimo legal, ou a aplicação da fração de 1/6 (um sexto) para cada circunstância judicial
desfavorável; a compensação integral da agravante da reincidência com a atenuante da confissão
espontânea, na segunda fase da dosimetria da pena, relativamente ao réu Eduardo Henrique Ramalho dos
Santos, ou a fixação da fração de 1/6 (um sexto) para aumento da pena pela reincidência; e o
abrandamento do regime inicial dos réus ou, subsidiariamente, sua harmonização (mov. 262.1).
Nesta instância, a Quarta Procuradoria de Justiça Criminal opinou pelo conhecimento e, no mérito,
pelo desprovimento do recurso defensivo, e a consequente manutenção da sentença condenatória (movs.
24.1/TJPR).
Voto
Juízo de admissibilidade
De início, destaca-se que, embora o réu Eduardo Henrique Ramalho dos Santos não tenha expressado
interesse em recorrer da sentença (mov. 254.2), em conformidade com o princípio da ampla defesa,
prevalece a vontade do defensor público que interpôs o recurso de apelação, uma vez que a defesa
técnica, teoricamente, está em posição de analisar qual seria a medida mais apropriada em benefício do
réu.
Nessa perspectiva, dispõe a Súmula 705 do Supremo Tribunal Federal que “a renúncia do réu ao direito
de apelação, manifestada sem a assistência do defensor, não impede o conhecimento da apelação por
este interposta.”
Por outro lado, o pedido de harmonização do regime de cumprimento das penas privativas de liberdade
não pode ser conhecido, porquanto se cuida de matéria afeta ao Juízo de Execução, consoante reiterado
entendimento deste Tribunal:
Mérito
A defesa pugna pela absolvição dos réus apelantes Eduardo Henrique Ramalho dos Santos eRafael
Andrade da Costa do crime de furto qualificado pela escalada e pelo concurso de pessoas, na forma
tentada, em virtude de erro quanto à elementar “coisa alheia”, inerente ao tipo penal pelo qual foram
condenados (CPP, art. 386, III[2]).
A materialidade delitiva e a autoria estão comprovadas pelos: auto de prisão em flagrante (mov. 1.2),
boletim de ocorrência n. 2022/926630 (mov. 1.3), auto de avaliação indireta (mov. 1.17) e fotografias
(movs. 1.19 - 1.21), assim como pelos depoimentos prestados em juízo.
Por brevidade, e conferidas as respectivas mídias, considera-se a prova oral anexada à sentença (mov.
234.1) como parte integrante deste voto.
Em juízo, a vítima Ronaldo Santos da Silva relatou que: “(...) o crime se deu em um imóvel que possui
em Curitiba, o qual estava vazio, uma vez que reside na cidade de Telêmaco Borba. Um vizinho lhe
telefonou, informando que seu imóvel havia sido invadido por dois elementos e, em razão disso, havia
acionado a Polícia Militar, que logrou êxito em deter os acusados. No dia seguinte, veio até Curitiba,
oportunidade em que constatou que os réus danificaram a residência e que alguns objetos haviam sido
separados. Os réus quebraram o vidro da janela e uma porta, ambas na parte da frente da casa. Para
os réus adentrarem o terreno, pularam a grade que tem em média dois metros e vinte de altura, além
de escalarem a parede que dá acesso à sacada do sobrado. Com o arrombamento da porta da sacada,
os réus acessaram a sala. Informou que dentro da casa estavam separadas diversas panelas de metal,
talhares e ferramentas de jardinagem, tudo acondicionado em três sacos de lixo preto. Expôs que os
denunciados arrombaram a porta de uma espécie de depósito, onde estavam guardadas as ferramentas
de jardinagem. Além disso, os acusados desmontaram a porta do aquecedor a gás. Tomou
conhecimento que os réus não conseguiram subtrair nenhum êxito, diante da chegada dos policiais
militares que impediram a consumação do crime.” (mov. 212.5) (destacou-se)
Jeonan Rodrigues de Assis Valério, policial militar que atendeu à ocorrência, em juízo, narrou que:
“(...) foram acionados via COPOM, informando acerca de uma possível invasão a domicílio, em que
dois indivíduos estariam furtando uma residência. Se deslocaram até o endereço indicado,
oportunidade em que um vizinho declinou qual imóvel estava sendo furtado. Em seguida,
desembarcaram da viatura e deram voz de abordagem aos meliantes, alegando que já tinham
conhecimento que os criminosos estavam no terreno e ordenaram que se rendessem. Na sequência, os
acusados pularam para o lado de fora e constataram que eles já haviam separado alguns objetos para
subtrair. Assim, os encaminharam para a Delegacia. Disse que, para sair da residência, os réus
pularam o muro, da mesma forma como ingressaram.” (mov. 212.3) (destacou-se)
No mesmo sentido, o policial militar Diogo Moisés Ferreira da Silveira asseverou ao juízo que: “(...)
receberam uma denúncia, dando conta de dois indivíduos que estariam furtando uma residência. Se
deslocaram até o local, onde encontraram alguns produtos separados para o lado de fora, bem como
era possível perceber certa movimentação dentro da casa. Deram voz de abordagem, ordenando que os
criminosos saíssem da residência, ocasião em que acataram a ordem e justificaram que o local estava
abandonado. Sustentou que não ingressaram na casa porque o portão estava fechado e era difícil pular
o muro. Indagados os acusados a respeito do modo como ingressaram no terreno, ambos responderam
que “pularam” e, por tal razão, mandaram que eles pulassem novamente para sair.” (mov. 212.4)
(destacou-se)
Em interrogatório judicial, o réu apelante Eduardo Henrique Ramalho dos Santos confessou a autoria
delitiva e contou que: “(...) foram abordados pelos policiais quando estavam dentro da residência
separando os objetos para subtraírem. Pontuou que a casa ficava envolta por uma grade, e em
determinada parte estava faltando um cano, local por onde ingressou no terreno. Após os policiais
chegarem, ordenaram que pulassem para o lado de fora e, por isso, saiu por cima da grade. Esclareceu
que achou que a casa estava abandonada e não sabe como Rafael ingressou na residência.” (mov.
212.2) (destacou-se)
Quando interrogado em juízo, o réu apelante Rafael Andrade da Costa também confessou a prática do
crime, e afirmou “(...) não se recordar de quais itens tentaram subtrair, mas se lembra de ter pulado o
muro e estar na companhia do corréu Eduardo. Aduziu que quando chegaram na residência, ela
parecia estar abandonada e, assim, separaram alguns objetos de alumínio para subtrair. Antes de se
evadirem, os policiais chegaram ao local e os abordaram, ainda dentro do imóvel.” (mov. 212.1)
(destacou-se)
À autoridade policial, os réus apelantes nada disseram sobre os fatos (movs. 1.9 e 1.13).
Inicialmente, verifica-se que a vítima Ronaldo Santos da Silva ofertou relato harmônico e detalhado
sobre o incidente em que os apelantes pularam a grade do seu imóvel, que estava vazio, e tentaram
subtrair vários itens, mas foram impedidos pela chegada de policiais militares. Contou que, no dia
seguinte ao furto, viajou a Curitiba e encontrou a residência danificada, com a porta e o vidro da janela
da frente quebrados, e as portas da sacada e do depósito arrombadas. Em seguida, deparou-se com
diversos objetos metálicos que os réus haviam separado, tais como panelas, talheres e ferramentas de
jardinagem, e a porta de alumínio de um aquecedor, que haviam desmontado. Por fim, relatou que sofreu
um prejuízo estimado em R$ 1.450,00 (um mil, quatrocentos e cinquenta reais).
Sabe-se que em crimes patrimoniais a palavra da vítima possui significativa importância para o
esclarecimento dos fatos, especialmente pelas condições em que esses delitos são praticados,
normalmente sem a presença de testemunhas, ainda mais quando ausente qualquer indicativo de que ela
tenha interesse em incriminar injustamente o réu ou que tenha faltado com a verdade.
Além disso, as declarações dos policiais detêm considerável peso probatório, especialmente se coadunam
com os demais elementos carreados nos autos.
Perante o juízo, os policiais militares Jeonan Rodrigues de Assis Valério e Diogo Moisés Ferreira da
Silveira confirmaram o que foi registrado no boletim de ocorrência n. 2022/926630, e narraram que,
quando chegaram ao imóvel, ordenaram aos réus que saíssem, os quais admitiram que haviam pulado a
grade para entrar e que pretendiam levar os itens selecionados. Adicionalmente, contaram que a equipe
policial não entrou no terreno porque era de difícil acesso e o portão estava fechado.
Inexiste qualquer impedimento em considerar o depoimento dos agentes públicos, que testemunharam
em juízo, sob o crivo do contraditório, e que constitui relevante valor probatório. Sobre o tema:
Soma-se que os próprios réus apelantes, em interrogatório judicial, confessaram que entraram na casa e
separaram objetos de alumínio; inclusive, o réu Rafael Andrade da Costa admitiu que pulou a grade do
imóvel – a qual, segundo o proprietário, tem cerca de 2,2 metros de altura.
Ademais, não há nos autos qualquer indício de que a casa estivesse abandonada.
Nota-se que os policiais militares que atenderam à ocorrência relataram que sequer entraram no imóvel,
porque estava fechado e era de difícil acesso.
Por sua vez, a vítima Ronaldo Santos da Silva contou que, no dia seguinte ao ocorrido, deslocou-se até
Curitiba e constatou os danos, que acarretaram um gasto estimado em R$ 1.400,00 com reparos, o que
demonstra seu zelo com a propriedade e sua conservação.
Nesse trilhar, destacou a representante do órgão ministerial, em contrarrazões: “(...) Embora os apelantes
e a defesa aleguem que a prática criminosa se deu somente porque os condenados acreditaram tratar-se
de residência abandonada, frisa-se que não há nos autos nenhuma evidência que comprove que o imóvel
aparentava estar em tal situação, até porque, como bem indicado pelos sentenciados e pelos agentes
policiais, o local encontrava-se trancado e foi necessário pular o muro para adentrar o terreno. Além
disso, não existe nenhum indício de que o ofendido pretendia se despojar do bem.”
Consoante exposto, as provas coligidas são inequívocas em demonstrar a atuação consciente e voluntária
dos réus apelantes Eduardo Henrique Ramalho dos Santos e Rafael Andrade da Costa para a
subtração de coisa alheia móvel, de residência que sabiam pertencer a outrem e, por isso, não se sustenta
a argumentação de atipicidade da conduta por falsa percepção da realidade (erro de tipo).
A propósito:
Portanto, rejeito a pretensão absolutória fundada na atipicidade da conduta pelo erro de tipo.
Subsidiariamente, os apelantes buscam a revisão da dosimetria das penas, pela fixação das penas-base no
mínimo legal, ou pela aplicação da fração de 1/6 (um sexto) para cada circunstância judicial
desfavorável; e pela compensação integral, relativamente ao réu apelante Eduardo Henrique Ramalho
dos Santos, da atenuante da confissão espontânea com a agravante da reincidência, ou a fixação da fração
de 1/6 (um sexto) para exasperação da pena em virtude da reincidência.
É cediço que a dosimetria da pena está sujeita à discricionariedade do julgador, que leva em consideração
as circunstâncias específicas do caso e as características subjetivas do agente, somente passível de
revisão pela instância superior no caso de inobservância dos parâmetros legais ou de flagrante
desproporcionalidade, o que se verificará adiante.
2.1 Circunstâncias judiciais dos réus apelantes Eduardo Henrique Ramalho dos Santos e Rafael
Andrade da Costa
[3]
Na hipótese, ao examinar as circunstâncias judiciais previstas no artigo 59 do Código Penal , a
magistrada a quo estabeleceu as penas-base dos réus apelantes acima do mínimo legal, pois considerou o
vetor das circunstâncias do crime desfavorável a ambos e, exclusivamente em relação ao réu apelante
Eduardo Henrique Ramalho dos Santos, também atribuiu desvalor à culpabilidade.
Em relação às circunstâncias do crime, nas possibilidades em que houver a incidência de mais de uma
qualificadora, no caso, escalada e concurso de agentes, é possível a migração de uma delas para majorar a
pena-base, enquanto a remanescente permanece configurando o tipo qualificado.
Nesse contexto, “a jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que, em caso de existência de duas
circunstâncias qualificadoras, uma delas pode ser utilizada para qualificar o delito e a outra para
exasperar a pena-base, como circunstância judicial negativa.” (STJ, AgRg no HC 609.143/SP, rel. Min.
Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, j. em 2/2/2021, DJe de 4/2/2021)
Quanto à culpabilidade, para fins de individualização da pena, deve ser compreendida como juízo de
reprovabilidade sobre a conduta, apontando maior ou menor censurabilidade do comportamento do réu.
Nesse compasso, para a sua adequada valoração, devem ser levadas em consideração as especificidades
fáticas do delito, e as condições pessoais do agente no contexto em que foi praticado o crime.
Na data dos acontecimentos (07/09/2022), o réu apelante Eduardo Henrique Ramalho dos Santos
cumpria pena privativa de liberdade (autos de execução de pena n. 0003798-79.2018.8.16.0013), o que
torna sua conduta ainda mais censurável. O fato de o réu ter cometido novo crime no curso do
cumprimento de pena por delitos anteriores é fundamento idôneo para a valoração negativa da
culpabilidade, porquanto se denota maior juízo de reprovabilidade na conduta do agente, que desprezou
as regras inerentes ao próprio objetivo da execução penal, qual seja, a ressocialização. Consigna-se que a
valoração negativa do vetor da culpabilidade não configura bis in idem em relação à falta grave no
processo de execução, porque se refere à avaliação do comportamento do réu perante a sociedade, em
latente desrespeito assumido com o Estado-Juiz.
1. Para fins de individualização da pena, a culpabilidade deve ser compreendida como o juízo de
reprovabilidade da conduta, ou seja, o menor ou maior grau de censura do comportamento do réu, não
se tratando de verificação da ocorrência dos elementos da culpabilidade, para que se possa concluir
pela prática ou não de delito. No caso, destacou-se que os crimes e a contravenção penal foram
praticados enquanto o agravante estava no gozo de benefício penal de saída temporária, cumprindo
pena em regime semiaberto.
Ademais, quanto à receptação, mencionou-se o elevado valor do bem receptado (veículo automóvel).
2. Tais elementos são concretos e denotam um dolo mais intenso ou uma maior reprovabilidade do agir
do réu, a ensejar resposta penal superior, não se havendo falar, no caso concreto, em bis in idem acerca
da utilização do valor do bem para considerar desfavorável a culpabilidade quanto ao crime de
receptação.
3. O fato de o agente praticar o crime durante gozo de benefício penal ou de cumprimento de pena
imposta em outro processo é circunstância que justifica a elevação da pena-base.
Ainda, quanto à fração de aumento, segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal “a dosimetria da
pena é matéria sujeita a certa discricionariedade judicial. O Código Penal não estabelece rígidos
esquemas matemáticos ou regras absolutamente objetivas para a fixação da pena.” (HC 107.409, Rel.
Min. Rosa Weber, j. 10.4.2012)
In casu, a magistrada de primeiro grau utilizou a fração de 1/8 (um oitavo) do intervalo entre as penas
mínima e máxima cominadas ao crime para exasperar as penas-base, e deve ser mantida, visto que é
proporcional e adequada, e segue a linha adotada por este Tribunal de Justiça.
A saber:
Com base nessas considerações, não foram identificadas quaisquer ilegalidades ou desproporcionalidades
na avaliação desfavorável, pela magistrada de primeiro grau, dos vetores culpabilidade e circunstâncias
do crime.
Assim, ficam mantidas as basilares em 3 (três) anos e 6 (seis) meses de reclusão e 96 (noventa e seis) dias-
multa, para o réu Eduardo Henrique Ramalho dos Santos, e em 2 (dois) anos e 9 (nove) meses de
reclusão e 53 (cinquenta e três) dias-multa, para o réu Rafael Andrade da Costa.
Diante da presença da circunstância atenuante da confissão espontânea (CP, art. 65, III, “d”) e da
agravante da reincidência (CP, art. 61, I), devido a quatro condenações definitivas - (i) 0001191-
65.2015.8.16.0024, em 04/11/2021; (ii) 0008209-39.2016.8.16.0013, em 12/01/2018; (iii) 0005808-
33.2017.8.16.0013, em 05/08/2019; e (iv) 0000163-26.2018.8.16.0196, em 04/06/2018, a magistrada
sentenciante efetuou a compensação da circunstância atenuante com uma das agravantes, e utilizou as
três reincidências remanescentes para agravar a pena do réu apelante Eduardo Henrique Ramalho dos
Santos à razão de 1/2 (metade), estabelecendo a pena intermediária em 5 (cinco) anos e 3 (três) meses de
reclusão e 144 (cento e quarenta e quatro) dias-multa.
Nesse particular, destaca-se que a multirreincidência é elemento hábil para fundamentar a exasperação
em um grau mais severo, e sua compensação parcial com a atenuante da confissão espontânea é admitida
pela jurisprudência. Aplica-se à questão o entendimento firmado pelo Superior Tribunal de Justiça, que
originou a redação do Tema n. 585 do STJ:
Por esse motivo, e considerada a multirreincidência do réu apelante Eduardo Henrique Ramalho dos
Santos, não há falar em compensação integral da atenuante da confissão espontânea com a agravante da
reincidência.
No mais, o percentual de aumento de pena, fixado em ½ (metade) pela juíza sentenciante, não comporta
alteração, já que foi fixado de forma fundamentada e proporcional às circunstâncias do caso – sobretudo
a quantidade de condenações definitivas ostentadas pelo réu.
Irreparável, então, a dosimetria da pena imposta ao réu apelante Eduardo Henrique Ramalho dos
Santos.
3. Regime prisional dos réus apelantes Eduardo Henrique Ramalho dos Santos e Rafael Andrade
da Costa
Devido à reincidência dos apelantes, mantenho o regime semiaberto para o início do cumprimento das
penas de reclusão, a teor do artigo 33, § 3º, do Código Penal[4].
Em acréscimo, de acordo com o artigo 44, II, do Código Penal[5], a substituição da pena privativa de
liberdade por pena restritiva de direito não é cabível, tendo em vista a reincidência dos réus apelantes.
Conclusão
Posto isso, voto pelo parcial conhecimento e, nesta extensão, pelo não provimento do recurso interposto
pela defesa dos réus Eduardo Henrique Ramalho dos Santos e Rafael Andrade da Costa, nos termos
desta fundamentação.
Comunique-se a vítima do teor deste acórdão, na forma do disposto no artigo 201, § 2º, do Código de
Processo Penal.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Celso Jair Mainardi, sem voto, e dele participaram a
Desembargadora Maria Lúcia de Paula Espíndola (relatora), a Desembargadora Substituta Renata
Estorilho Baganha e o Desembargador Carvílio da Silveira Filho.
[1] Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: (...) § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é
cometido: (...); II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza; (...); IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
Art. 14 - Diz-se o crime: (...); II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.
[2] Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça: (...); III - não constituir o fato infração
penal;
[3] Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias
e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e
prevenção do crime: (...)
[4] Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou
aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado. (...). § 3º - A determinação do regime inicial de cumprimento da pena far-se-á
com observância dos critérios previstos no art. 59 deste Código;
[5] Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: (...) II – o réu não for reincidente
em crime doloso.