Ava 1 e 2 de Saúde Da Criança
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UNIDADE 1.
Figura 5. Criança com torcicolo muscular congênito. Fonte: MOHAMAD; RAHMAN; SANIASIAYA,
2020, p. 390.
O torcicolo muscular congênito é observado em 0,3-1,9% de todos os nascidos vivos. Devido ao
encurtamento efetivo do músculo esternocleidomastóideo no lado envolvido, há inclinação
ipsilateral da cabeça e rotação contralateral da face e do queixo. Diversas teorias foram propostas,
mas a verdadeira etiologia do torcicolo muscular congênito permanece incerta. Várias causas são
destacadas na literatura, entre elas: apinhamento intrauterino ou fenômeno vascular; fibrose de
sangramentos periparto; miopatia primária do músculo esternocleidomastóideo; parto traumático e
síndrome compartimental.
Ainda, conforme apontado por Lopes e colaboradores (2009), existe uma separação do torcicolo
muscular congênito em dois grandes grupos: torcicolos musculares e torcicolos com
tumefacção do esternocleidomastóideo. Vamos conhecê-los?
• Torcicolos musculares
Representam torcicolos que apresentam contratura do músculo esternocleidomastóideo, mas sem
tumefacção palpável.
• Torcicolos com tumefacção do esternocleidomastóideo
São todos os torcicolos com tumefacção palpável, de consistência dura e móvel.
É importante destacar que os torcicolos posturais incluem os torcicolos sem tumefacção ou
contratura do músculo esternocleidomastóideo e que o termo torcicolo muscular congênito engloba
os três subgrupos.
Um exemplo de protocolo de tratamento fisioterapêutico para torcicolo muscular congênito,
proposto por Leung e Leung em 1987 e mencionado por Pagnossim e colaboradores em uma
publicação de 2008 intitulada Torcicolo congênito: avaliação de dois tratamentos fisioterapêuticos,
consiste em um modelo de tratamento intensivo com realização diária de sessões
fisioterapêuticas, além de contar com a adesão dos pais para a aplicação dos exercícios e dos
cuidados domiciliares. Nesse sentido, é importante incentivar os pais a realizarem as orientações
e exercícios.
Os exercícios para realizar na sessão de fisioterapia são:
• Analgesia com calor local superficial;
• Massoterapia para o músculo esternocleidomastóideo com criança em decúbito dorsal, com
cinco repetições e permanecendo por dez segundos na posição;
• Alongamentos para o músculo esternocleidomastóideo com criança em decúbito dorsal, com
cinco repetições e permanecendo por dez segundos na posição;
• Flexão lateral da cabeça em direção ao ombro contralateral;
• Rotação cervical simultânea à flexão lateral para o lado contraído;
• Orientação aos pais para permanecer com exercícios domiciliares.
As orientações domiciliares, por sua vez, são: observar e corrigir o posicionamento da cabeça da
criança durante o sono, o transporte e a amamentação; sempre favorecer o alongamento passivo
do músculo contraído; intensificar o tratamento com estímulos visuais e sonoro; favorecer a
movimentação ativa do pescoço de forma lúdica.
Figura 2. Radiografia de uma criança com pé torto congênito. Fonte: Shutterstock. Acesso em:
15/01/2021.
Em relação à classificação do pé torto congênito idiopático, Maranho e Volpon (2011) apontam que
pode ser conforme a avaliação de Pirani, que é mais recente e mais acessível. Esta classificação
é baseada em um sistema simples de graduação, composto de três variáveis no retropé e três no
mediopé. Cada variável pode ser assinalada em pontos: zero, meio e um. Comumente, o pé torto
é classificado como “pé torto idiopático”, o que significa que não há causa conhecida para a
deformidade. No pé torto idiopático, também pode haver uma influência hereditária definitiva, pois
se uma pessoa tem um parente, pai ou irmão, que tem pé torto, então é mais provável que ela
também tenha pé torto ou um filho com esta condição. Dentro do grupo de pés tortos idiopáticos,
há um amplo comprometimento de alguns itens que dependem da gravidade, bem como se o pé
torto foi tratado, parcialmente tratado, maltratado ou tratado com sucesso.
Em relação aos métodos de tratamento, o primeiro que vamos conhecer é o método de Kite. Este
método foi criado em 1932, buscava ser mais gentil objetivava a correção de cada componente do
pé torto congênito idiopático separadamente, e não de maneira simultânea (MARANHO; VOLPON,
2011) (sic). A correção do indivíduo adulto era baseada na abdução do pé com fulcro no mediopé
e apoio na articulação calcaneocuboidea. A correção do pé varo era realizada com uma eversão do
retropé, com trocas gessadas ou cunhas. As manipulações forçavam continuadamente a abdução
e pronação do antepé. Depois da correção da inversão, os pés equinos eram corrigidos com
progressiva dorsiflexão.
De acordo com Maranho e Volpon (2011), outro método de tratamento é a liberação posteromedial,
que foi criada nos anos 1970 e que consiste em extensa liberação de partes moles com destaque
para a liberação posteromedial. Foi aprimorada nos anos 1980 e 1990, mas ainda permanecia
aparecendo a hipercorreção com valgismo do retropé como complicação. Nos últimos anos, os
métodos vêm evitando extensas liberações articulares em cirurgias e seu uso é recomendado
apenas para liberar as estruturas necessárias para se ter uma correção.
Outro método que você vai conhecer é o de Ponseti, o qual, conforme Maranho e Volpon (2011),
foi criado em razão dos maus resultados de outros tratamentos cirúrgicos e não cirúrgicos. Assim,
o método de Ponseti estabeleceu maneiras de confeccionar e manipular o gesso e os segmentos
após secção do tendão calcâneo.
O método também busca prevenir estratégias de recidivas, baseando-se na idade da criança e na
cooperação dos pais. Este método encontrou e divulgou os erros mais comuns que os profissionais
realizavam quando tratavam o pé torto congênito idiopático. Ainda, o fundamento da técnica Ponseti
é corrigir os elementos encurtados e com contraturas, mediante a mudança plástica dos que
apresentam alta capacidade elástica na criança mais nova.
Outro tratamento utilizado para o pé torto congênito idiopático é a secção percutânea do tendão
calcâneo. Esta técnica foi amplamente utilizada, ainda que sem descrições dos riscos e
complicações do procedimento do método. Não obstante, no meio ortopédico existe um receio
quanto à possibilidade de lesão das estruturas que estão adjacentes, bem como preocupação
quanto à qualidade da cicatrização do tendão. Outros métodos de tratamento iniciais apresentam
um relativo sucesso – como alongamentos, bandagens (método francês) e órtese de Denis Browne
– quando aplicados adequadamente, contudo, a falha é usual na obtenção da completa correção
da deformidade (MARANHO; VOLPON, 2011).
O pé plano congênito é uma variante fisiológica que consiste em uma redução no arco longitudinal
medial, um retropé valgo e uma abdução do antepé com levantamento de peso. A incidência é
desconhecida em crianças e geralmente se apresenta em 20 a 25% dos adultos. No pé plano
congênito existe uma frouxidão ligamentar generalizada, os quais 25% estão associados à
contratura do músculo tríceps sural. O prognóstico do pé plano congênito na maioria das vezes é
favorável, resolvendo espontaneamente.
O pé plano congênito se classifica em pé plano valgo flexível hipermóvel (o mais comum) e na
maioria das vezes a família apresenta uma característica de frouxidão ligamentar generalizada e
problema rotacional de membros inferiores, o qual frequentemente é bilateral. Outra classificação
é a coalizão rígida de pé chato (menos comum), onde o paciente não apresenta nenhuma correção
de retropé valgo com o dedo do pé em pé graças a um movimento subtalar limitado.
Em relação aos sintomas, é geralmente assintomático em crianças, podendo ocorrer dor no arco
ou dor pré-tibial. No exame físico, durante a inspeção, o pé é apenas plano com a posição em pé,
e se reconstitui com caminhar, dorsiflexão do hálux ou pé pendente; apresenta também
deformidade do retropé valgo e outra possibilidade de achado é a abdução do antepé.
Durante a motricidade, o paciente apresenta um movimento subtalar normal e indolor. Além disso,
o paciente pode ter um retropé valgo que corrige para uma posição varo com o dedo do pé em pé.
É importante que o fisioterapeuta avalie a dorsiflexão reduzida.
Em relação ao tratamento, é indicado o alongamento do tendão de Aquiles ou da fáscia
gastrocnêmica; também se realiza a osteotomia de alongamento do calcâneo (com ou sem
osteotomia cuneiforme).
Figura 4. Aspectos estéticos e funcionais observados na criança com pé torto congênito. Fonte:
RUARO et al., 2009, p. 91.
Quando o fisioterapeuta for inspecionar, mas de maneira dinâmica, o pé do paciente, deve avaliar
principalmente a mobilidade articular (antepé, mediopé e retropé) e a qualidade da marcha. No pé
torto congênito não submetido ao tratamento, aos poucos, as deformidades se estruturam. A
marcha é totalmente claudicante, principalmente quando o pé torto é bilateral. Em relação à
inspeção dinâmica, a estética agrava-se porque durante a fase de apoio a criança sustenta o peso
corporal sobre a borda lateral do pé e do maléolo fibular, o que intensifica ainda mais os desvios e,
em consequência, a deformidade. É observada a mobilidade na fase de oscilação (RUARO et al.,
2009) e é comum notar a presença de deformidades residuais no decorrer da mobilidade e
deambulação nos pés tratados. Nessa perspectiva, quando a criança anda para o lado contrário ao
fisioterapeuta que está avaliando, observa-se se o calcâneo está em varo.
Já durante a avaliação no processo de palpação, é importante avaliar a flexibilidade, principalmente
o grau de correções das deformidades. Os tendões retraídos do músculo tríceps sural e do tibial
posterior e o calcâneo são palpados, não raramente o calcâneo fica elevado e os tendões
hipertrofiados. A cápsula articular e os ligamentos estão encurtados e espessados e são sentidos
na face posterior e medial das articulações do tornozelo e subtalar (RUARO et al., 2009). Além
disso, durante a palpação é possível notar uma atrofia dos músculos da panturrilha. É importante
palmar os seguintes itens em cada região: palpação na cabeça do tálus na face lateral saliente e
palpação no maléolo lateral mais posteriorizado. Além disso, deve-se realizar a palpação no
navicular, o qual na face interna está praticamente em contato com a margem anterior e distal do
maléolo medial, de modo que um dedo não pode ser interposto entre as duas referências ósseas
(RUARO et al., 2009).
Outras alterações que devem ser analisadas e palpadas são: a cabeça e o colo do tálus não estão
inclinados medialmente; o calcanhar não está retraído pela tração do tendão calcâneo e apresenta-
se de tamanho normal; a panturrilha não está atrofiada; o navicular não está totalmente em contato
com o maléolo medial; e os sulcos cutâneos na face posterior do tornozelo e medial do pé não são
salientes.
Ademais, é essencial realizar durante a avaliação fisioterapêutica um estudo radiológico, cujo
objetivo é complementar o exame clínico. É feito, principalmente, na criança que anda e tem
alicerce basicamente em incidências radiográficas do pé em anteroposterior e perfil (RUARO et al.,
2009). Sempre que possível, as radiografias são feitas em ortostatismo ou em posição de máxima
correção, favorecendo mensurações radiográficas, além das avaliações das relações anatômicas
das articulações talonavicular, talocalcânea, tarsometatarsais e mediotársica da criança.
Todavia, o estudo radiológico no recém-nato não apresenta valor, mesmo porque o quadro clínico
é exuberante. Ainda estão ausentes alguns centros de ossificação, o do navicular, que se encontra
desviado medialmente, surge ao redor de três a quatro anos de idade, por exemplo. Sendo assim,
fica evidente que o uso de radiografias é muito importante para avaliar o paciente, principalmente
se o paciente realiza cirurgias e o fisioterapeuta solicita as radiografias dos resultados da cirurgia
para analisarem. Veja na Figura 5 uma possibilidade de avaliação proposta por Lara e
colaboradores (2007), que é a mensuração do ângulo talocalcaneano nas incidências
anteroposterior e perfil, índice talocalcaneano que representa a soma de ambos os ângulos. Além
disso, é possível identificar os ângulos talo-1º metatarsal e calcâneo-5º metatarsal na incidência
em anteroposterior com carga.
SINTETIZANDO
Nesta unidade foi possível identificar que as possibilidades de atuação do fisioterapeuta na saúde
da criança são diversas no âmbito das disfunções congênitas e neurológicas e necessita de um
grande olhar clínico para uma boa avaliação, planejamento e intervenção fisioterapêutica.
As disfunções congênitas e neurológicas que acometem o período gestacional e neonatal
representam um desafio para o fisioterapeuta que atua diretamente a saúde da criança, então foi
possível conhecer nesta unidade algumas das principais e mais importantes características para
poder propor objetivos e condutas fisioterapêuticas para reabilitar a criança com pé torto congênito,
lesão neonatal do plexo braquial e paralisia cerebral.
Além disso, conhecemos as maneiras de avaliar e tratar clinicamente as alterações e protocolos
fisioterapêuticos. Outro ponto crucial com as crianças com pé torto congênito, lesão neonatal do
plexo braquial e paralisia cerebral é a importância de incentivar a família para seguir as orientações
passadas pelo fisioterapeuta.
Por fim, o tratamento clínico e fisioterapêutico é essencial para todas as alterações que acometem
a saúde da criança no âmbito das disfunções congênitas e neurológicas estudadas nesta unidade,
observando que sempre haverá um objetivo específico para cada característica da alteração e
queixa da criança. De maneira em geral, o fisioterapeuta deve promover a saúde da criança com
disfunções congênitas e neurológicas e sua respectiva família.