Avaliação Hídrica Subterrânea Do Aqüífero Cristalino Na Região Metropolitana de Curitiba-Pr

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 15

AVALIAÇÃO HÍDRICA SUBTERRÂNEA DO AQÜÍFERO CRISTALINO NA

REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA-PR


Edison Archela1 & Jorge Kazuo Yamamoto2

RESUMO --- A população da Região Metropolitana de Curitiba tem enfrentado muitas


dificuldades no que se refere ao abastecimento de água potável. Os mananciais hídricos fluviais,
geralmente escassos, encontram-se totalmente captados, quando ainda oferecem água com relativa
qualidade para o consumo humano. O presente trabalho apresenta uma avaliação parcial e
preliminar dos recursos hídricos subterrâneos da região, como uma alternativa à escassez hídrica
local. Além de pouco onerosa e de rápida execução, em seu aspecto logístico-financeiro, os recursos
hídricos subterrâneos constituem-se, comumente, em mananciais de boa qualidade. O tratamento
geoestatístico de dados hidrogeológicos, provenientes de 276 poços tubulares profundos existentes
na área de estudo, possibilitaram o mapeamento das disponibilidades hídricas para o Aqüífero
Cristalino, subjacente aos sedimentos da Formação Guabirotuba ou aflorante no entorno destes. O
mapa de vazões revelou que as maiores vazões estão intimamente associadas às zonas de fratura e
contatos litológicos do Embasamento Cristalino, preferencialmente junto ao eixo coincidente à
borda noroeste da bacia, segundo a direção NNE-SSW. Essa região encontra-se sob vários
lineamentos estruturais importantes, cujos deslocamentos, através de falhas normais, são os
principais movimentos responsáveis pela estruturação tectônica da bacia. A maior vazão encontrada
foi de 44m3/hora, sendo que a média das vazões corresponde a 5,94m3/hora.

ABSTRACT --- The population of the metropolitan region of Curitiba has faced many difficulties
as regards the supply of drinking water. The river springs water, usually scarce, are fully captured,
while still offering relatively water quality for human consumption. This paper presents a partial
and preliminary evaluation of groundwater resources of the region, as an alternative to local water
shortages. In addition to inexpensive and rapid implementation in its logistical and financial aspect,
the groundwater resources are up, usually in water of good quality. The geostatistical processing of
hydrogeological data from 276 deep tube wells allowed the mapping of water availability for the
Crystalline Aquifer, the underlying sediments Guabirotuba or in these surroundings. The map of
flow showed that the largest flows are closely associated with zones of fracture and the lithological
boundaries, preferably along the axis coincident with northwest edge of the basin, according to the
NNE-SSW direction. This region is under several major structural lineaments, which shifts by
normal faults, are the main tectonic movements responsible for the structuring of the basin. The
largest flow was found 44m³/h, and the average flow is 5.94 m³/h.

Palavras-chave: Hidrogeologia, Aqüífero Cristalino; Região Metropolitana de Curitiba.

1
Departamento de Geociências do Centro de Ciências Exatas da Universidade Estadual de Londrina. E-mail: [email protected]
2
Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo.
1. INTRODUÇÃO

É de conhecimento público as dificuldades que os grandes centros populacionais enfrentam


no tocante ao abastecimento de água potável. Os mananciais hídricos fluviais, geralmente escassos,
encontram-se totalmente captados, quando ainda oferecem água com relativa qualidade para o
consumo humano. Na maioria das vezes, porém, estes se apresentam impróprios ao consumo,
devido aos estágios críticos de poluição ambiental a que foram submetidos. As alternativas que
normalmente são postas em prática, por parte das empresas responsáveis pelos serviços de
abastecimento são, via de regra, a exploração de mananciais circunvizinhos, por vezes muito
distantes do centro consumidor, encarecendo o produto.
A Região Metropolitana de Curitiba não foge à regra. Os graves problemas com o
abastecimento de água, causados pelo grande crescimento populacional, levaram à busca de novas
fontes fora dos limites urbanos. Segundo Rosa Filho et al. (1996), os mananciais captados na Serra
do Mar vieram contribuir com cerca de 120 litros d’água por segundo, mas foram suficientes para
suprir a demanda apenas até o ano de 1945; quando a população era de apenas 150.000 habitantes.
Com o crescente aumento da população, o abastecimento passou a contar com a captação do rio Irai
(800 l/s), e posteriormente com a captação do rio Iguaçu (3000 l/s). No final dos anos 80, foi
incorporada a contribuição das águas represadas do rio Passaúna, aumentando a oferta d’água em
5800 l/s. Em 1995 a Companhia de Saneamento do Paraná (SANEPAR) já admitia um déficit de
20% no abastecimento público.
O gerenciamento da distribuição de água na região de Curitiba tem sido feito através de
programas de conscientização da população, quanto ao uso racional, e às vezes através do
racionamento. Propostas oficiais para atender a crescente demanda apontaram para a construção de
barragens, cada vez mais distantes dos centros consumidores, como aquelas localizadas nos rios
Irai, Piraquara II, Pequeno, Miringuava e Cotia, todas já concluídas e em operação; além da
perfuração de poços tubulares profundos visando a explotação de mananciais cavernículos na região
de Campo Largo a Colombo.
Neste contexto, a exploração dos recursos hídricos subterrâneos locais vislumbra-se como
uma alternativa muito interessante, pois além de pouco onerosa e de rápida execução, constitui-se,
via de regra, num manancial de boa qualidade.
O presente trabalho objetiva contribuir, nesse sentido, para a solução da problemática exposta,
ainda que parcialmente, através do estudo dos mananciais hídricos subterrâneos locais. O
tratamento geoestatístico de dados hidrogeológicos, provenientes de 276 poços tubulares profundos
existentes na área de estudo, possibilitou o mapeamento da disponibilidade hídrica no
Embasamento Cristalino na Região Metropolitana de Curitiba.
Em termos práticos, espera-se que os resultados desta pesquisa possam contribuir para uma
melhor orientação nas políticas oficiais, no que tange o abastecimento público, dispondo-se dos
mananciais hídricos subsuperficiais para a região estudada. Ao mesmo tempo, estamos
disponibilizando essas informações à comunidade em geral – indústrias, empresas prestadoras de
serviços, clubes esportivos e de recreação, e condomínios residenciais – dotando-a de elementos
que lhes permita visualizar as perspectivas de obtenção de água nos domínios de suas propriedades,
com previsões estatísticas de profundidade de perfuração e vazão d’água, o que pode ser traduzido
em redução de custos e otimização do investimento.

2. LOCALIZAÇÃO, GEOLOGIA, GEOMORFOLOGIA E HIDROGEOLOGIA

A localização geográfica da região pesquisada enquadra-se numa área retangular


compreendida entre as longitudes 49º00’ e 49º30’ a oeste de Greenwich, e latitudes 25º15’ e 25º45’
a sul do Equador; ou mais precisamente entre 655 e 705 quilômetros E e 7155 e 7200 quilômetros N
na Unidade Transversa de Mercator (UTM) (Figura 1).
Geologicamente, a área estudada compreende terrenos com litologias e idades bem distintas,
ou seja: predominância de metamorfitos pré-cambrianos - que constituem o embasamento cristalino
de toda a área; e os sedimentos inconsolidados (ARCHELA, 2004), com idades provavelmente
miocênicas a pleistocênicas (COIMBRA & RICCOMINI, 1985; RICCOMINI, 1988; ARCHELA,
1989, 1990, 2004 e 2006; ARCHELA & COIMBRA, 2006), constituindo os domínios da Bacia
Sedimentar de Curitiba.
A evolução das pesquisas tem apontado que o arcabouço estrutural, onde se localiza a Bacia
Sedimentar de Curitiba, faz parte de um contexto mais amplo, no tempo e no espaço, abrangendo a
gênese e evolução de toda a margem continental do sudeste do Brasil; e que, portanto, para sua
melhor compreensão, deve ser estudado à luz do arcabouço tectono-deposicional das principais
bacias sedimentares com idade terciária, tais como: São Paulo (SP), Taubaté (SP), Resende (RJ) e
Volta Redonda (RJ) (ALMEIDA, 1976; ARCHELA, 1989, 1990, 2004 e 2006; COIMBRA et al.,
1989; MELO et al., 1985; COIMBRA & RICCOMINI, 1985; RICCOMINI, 1988).
Em termos geomorfológicos, os domínios são muito maiores, desdobrando-se até o limite a
leste, representado pela escarpa da Serra do Mar, a oeste pela escarpa Serrinha - São Luiz do
Purunã, ao norte pelos rios Ribeira do Iguape, Açungui, São Miguel, Uberaba, Piedade e Serra da
Antagorda, e ao sul pelos rios da Várzea e Capivari (AB'SABER & BIGARELLA, 1961;
ARCHELA, 2004; MAACK, 1968; SALVI, 2002).
Trabalhos voltados para a pesquisa das potencialidades hídricas subterrâneas, na área
enfocada, são relativamente escassos na literatura acadêmica. As poucas informações disponíveis
fazem parte de relatórios internos das empresas que atuam no campo da prospecção e explotação de
águas subterrâneas e daqueles órgãos responsáveis pelo abastecimento público.

Figura 1 – Mapa destacando a Região Metropolitana de Curitiba. Fonte: modificado e adaptado a


partir de IBGE (1999) e Guia Geográfico (2003).

Sendo assim, entre os poucos trabalhos publicados, podemos apontar o de Nogueira Filho
(1997) que estudou, especificamente, a hidrogeologia na área de abrangência de toda a Bacia
Sedimentar de Curitiba. Ele observou uma íntima relação entre a disposição dos sedimentos e a
estruturação regional cristalina, que também refletiu no comportamento hidrogeológico da área em
apreço.
Ainda nessa linha, Rosa Filho e Archela, têm procurado ressaltar as potencialidades hídricas
subterrâneas, alertando para sua real contribuição como manancial hídrico alternativo para fazer
frente à crescente escassez de água potável na Região Metropolitana de Curitiba (ARCHELA, 2004
e 2006; ROSA FILHO, 1993 e 1997; GIRÃO NERY & ROSA FILHO, 1994; ROSA FILHO et al.,
1996).

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

As informações geológicas e hidrogeológicas de subsuperfície foram obtidas a partir da


análise dos relatórios técnicos de obras de perfuração e construção de mais de 600 poços tubulares
profundos para exploração de água subterrânea na área de interesse. Apesar desse volume inicial de
dados disponibilizados, e após rigorosa triagem, optou-se por trabalhar com 276 poços, cujas
localizações e informações técnicas são, relativamente, mais completas e de qualidade.
Todos os relatórios mencionados fazem parte do Cadastro Geral de Poços do Estado do
Paraná, acervado pela Superintendência do Desenvolvimento dos Recursos Hídricos e Saneamento
Ambiental (SUDERHSA), e gentilmente disponibilizados para nossa pesquisa.
De posse dos relatórios, previamente selecionados, passamos a construir uma planilha com as
seguintes informações: número do poço, localização precisa em coordenadas UTM, cota altimétrica
da “boca” do poço, profundidade do Embasamento Cristalino em cota altimétrica, profundidade
total do poço; e vazão de teste. Vale ressaltar que a maioria dos poços não possuíam informações
georreferenciadas; portanto, concomitantemente à elaboração da planilha, foi realizada a plotagem
manual de todos os poços, em seus respectivos endereços, em carta base dotada de malha urbana
viária, hidrografia e linhas de altimetria, na escala 1:20.000.
Com a planilha de poços elaborada e os dados georeferenciados, passamos para a fase de
elaboração de uma planilha eletrônica, a fim de se alimentar o banco de dados dos programas
computacionais utilizados nesse trabalho.
Sabemos que a distribuição dos poços na área estudada não é regular. Há uma concentração
nas áreas centrais da capital curitibana e em outros centros urbanizados dos demais municípios que
compõem a Região Metropolitana de Curitiba, em detrimento de zonas pouco urbanizadas ou rurais.
Sendo assim, haverá necessidade de se pesquisar qual o melhor ajuste e conseqüente método de
interpolação para a adequada modelagem geoestatística dos dados.
Sabemos que as áreas com pouca ou nenhuma amostragem são regiões de incertezas; porém, a
geoestatística baseia-se em modelos probabilísticos que levam em conta essas incertezas,
extrapolando e interpolando os valores conhecidos para as áreas onde são desconhecidos. A
fidelidade dos resultados dependerá, muito, da qualidade das informações numéricas trabalhadas e
do conhecimento, prévio, do contexto geológico.
A geoestatística parte da premissa de que dois dados numéricos possuem valores cada vez
mais semelhantes quanto mais os dois estiverem próximos no espaço (inferência Bayesiana). Por
conseqüência, quanto mais distantes estiverem, um do outro, dependendo das características
ambientais, maior será a discrepância, sendo que a partir de certa distância, os valores podem ser
totalmente discrepantes, ou seja, aleatórios. Nesse sentido, a geoestatística propõe, através de um
conjunto de ferramentas apropriadas, trabalhar a aparente aleatoriedade dos dados (variáveis
regionalizadas), tornando possível uma estruturação espacial. É estabelecida, desse modo, uma
função para a correlação espacial (variograma). Esta função representa a base da estimativa da
variabilidade espacial em geoestatística.
Em outras palavras, o variograma é uma ferramenta básica para se caracterizar a correlação
espacial entre as variáveis regionalizadas (HUIJBREGTS, 1975, in YAMAMOTO, 2001).
Supondo que Z(x) represente o valor de uma variável para um local x, onde x é o vetor (x,y);
e que Z(x+h) represente o valor da mesma variável para uma determinada distância h, em qualquer
direção. O variograma resume a continuidade espacial para todos os pareamentos (comparação de
dois valores) e para todos os h significativos.

h
Z(x) Z(x+h)

A dependência espacial é analisada, segundo Isaaks & Srivastava (1989, in YAMAMOTO,


2006), pela função:

¦ [Z(x  h )  Z( x )]
1
2J (h ) ˜ 2
n i 1

onde:
2J(h) é a função variograma; n é o número de pares de pontos separados por uma
distância h;
Z(x+h) é o valor da variável regionalizada no ponto (x+h);
Z(x) é o valor da variável regionalizada no ponto x.
Ou pela simplificação da função:
N (h )

¦ >Z ( x  Z ( x i  h ) @2
1
J (h ) i)
2 N (h ) i 1

onde:
J (h) é o valor do semivariograma estimado para a distância h;
x é a medida de posição;
h é a distância entre medições.

O modelo de semivariograma representa a estrutura de correlação espacial que será usada nos
procedimentos de krigagem e simulação.
Denomina-se de Analise Estrutural à análise e ajuste de um semivariograma experimental a
um teórico, o qual pode ser representado pelo gráfico a seguir:

onde:
J(h) é a semivariância;
Co é o efeito pepita;
C é a semivariância estrutural ou espacial;
C+Co é o patamar ou soleira;
A é o alcance.

O “efeito pepita” (Co) corresponde à cota do ponto onde o semivariograma corta o eixo das
ordenadas. Esse ponto reflete as microestruturas não captadas pela menor escala da amostragem,
erros de amostragem, de análises laboratoriais, etc.
O “alcance” (A) corresponde ao conceito da “Zona de Influência” ou de “Dependência
Espacial” de uma amostra, marcando a distância a partir da qual as amostras tornam-se
independentes.
O “patamar” (C+Co) corresponde ao ponto onde toda semivariância da amostra é de
influência aleatória.
Quando o “efeito pepita” (Co) for aproximadamente igual ao patamar (C+Co), denominamos
de “efeito pepita puro”, e a amostra não recebe influência espacial.
A técnica da confecção dos mapas de isolinhas, onde são geradas estimativas de dados de
pontos não amostrados a partir de pontos amostrados, é denominada de interpolação de dados. A
Krigagem constitui-se num excelente método de interpolação de dados, pois, faz uma descrição
mais acurada da estrutura espacial dos dados e produz valiosa informação sobre a distribuição da
estimativa do erro.
Landim (1998) descreve a Krigagem como uma série de técnicas de análise de regressão que
procura minimizar a variância estimada, a partir de um modelo prévio, que leva em conta a
dependência estocástica entre os dados distribuídos no espaço.
Rossi et al. (1994, in ZIMBACK, 2003), destaca três características que distinguem a
Krigagem dos outros métodos de interpolação: 1ª) a Krigagem pode fornecer uma estimativa que é
maior ou menor do que os valores da amostra, sendo que as técnicas tradicionais estão restritas à
faixa de variação das amostras; 2ª) enquanto os métodos tradicionais usam distâncias Euclidianas
para avaliar as amostras, a Krigagem tem a vantagem de usar a distância e a geometria (relação de
anisotropia) entre as amostras; 3ª) diferente dos demais métodos, a Krigagem leva em conta a
minimização da variância do erro esperado, por meio de um modelo empírico da continuidade
espacial existente ou do grau de dependência espacial com a distância ou direção, isto é, através do
variograma, covariograma ou correlograma.
A Krigagem Ordinária, que é a variação mais utilizada da Krigagem simples, é descrita como
^

sendo o valor interpolado Z x 0 de uma variável regionalizada Z, num local xo; podendo ser
determinada por:

¦ ª«¬O ˜ Z x º»¼
^
Z x0
i i
i 1

onde:
^
Z x0
é o valor estimado para o local xo não amostrado;

Z x é o valor obtido por amostragem no campo;


i

n é o número de amostras vizinhas;


O i são pesos aplicados em cada Z xi , ou seja, ponderadores obtidos pela resolução do
sistema linear de equações.

O sistema de Krigagem Ordinária tem solução única se o modelo de variograma for válido. A
Krigagem, além de ser um estimador não tendencioso, é um interpolador exato, isto é, se o ponto a
ser estimado coincidir com um dos pontos amostrados, o valor estimado deverá ser igual ao valor
amostrado (YAMAMOTO, 2000).

4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O mapa que sintetiza as informações geológicas da área em estudo encontra-se na figura 2. A


delineação dos domínios das exposições dos sedimentos, com seus contornos irregulares, está
relativamente prejudicada devido à escala para impressão. Quanto às litologias pertencentes ao Pré-
Cambriano e cambro-ordovicianas, as mesmas foram objeto de checagem no campo; porém, seus
limites foram compilados de Biondi (1983). Com relação aos lineamentos estruturais, os mesmos
foram refeitos a partir da interpretação de fotografias aéreas e observações em campo. Dessa forma,
obtivemos uma representação cartográfica mais densa, tanto para aquelas estruturas inferidas e/ou
observadas nos domínios dos sedimentos, quanto aquelas inferidas e/ou observadas nos domínios
do Embasamento Cristalino.
A observação do mapa geológico permite notar que as drenagens encaixam-se em importantes
alinhamentos estruturais do Embasamento Cristalino, num imbrincamento de grandes blocos cujas
porções mais deprimidas encontram-se nas porções centrais da Bacia Sedimentar de Curitiba; o que
sugere que as atuais principais redes de drenagens não diferem, em essência, daquelas
contemporâneas à gênese da bacia.
Figura 2 – Mapa geológico da área centro-sul da Região Metropolitana de Curitiba. Fonte: Archela
(2004).
Para a elaboração do mapa de vazões hídricas, na área de estudo, procedemos a uma
meticulosa análise das informações geológicas e hidrogeológicas para cada poço tubular profundo,
selecionando apenas aqueles poços cujos dados fossem representativos; ou seja, cujas “entradas”
d’água provinham exclusivamente do Aqüífero Embasamento Cristalino (Figura 3).

Figura 3 – Mapa de localização dos poços tubulares profundos.

O mapa de vazões para o Embasamento Cristalino (Figura 4) elaborado por krigagem revelou
uma tendência geral de aumento das vazões, preferencialmente, junto ao eixo coincidente à borda
noroeste da bacia, segundo a direção NNE-SSW.
Essa região encontra-se sob vários lineamentos estruturais importantes, cujos deslocamentos,
através de falhas normais, são os principais movimentos responsáveis pela estruturação tectônica da
bacia. Como em meios não porosos, as águas subterrâneas circulam através das descontinuidades, já
era previsto que as maiores vazões estariam relacionadas a essas zonas de cisalhamentos.
Figura 4 – Mapa de vazões do Aqüífero Embasamento Cristalino.

Mesmo aqueles núcleos de maiores vazões localizados sobre os sedimentos, na região centro-
oeste da Bacia Sedimentar de Curitiba, estão associados a lineamentos de falha ou fratura inferidas.
Nessa mesma região, já sobre o Embasamento Cristalino, pode-se observar um importante setor
com altas vazões que estão associadas a lineamentos e contato litológico entre migmatitos
embrechíticos epibolíticos e migmatitos estromáticos.
A maior vazão encontrada foi de 44m3/hora; porém, a média das vazões corresponde a
5,94m3/hora. Essa discrepância pode ser explicada devido a grande parte dos poços terem sido
perfurados em locais estruturalmente sem descontinuidades; ou seja, fora das zonas de fraturamento
ou cisalhamento. Nessas regiões “impróprias” os poços normalmente apresentam baixas vazões, o
que faz diminuir a média geral.

5. CONCLUSÕES

A elaboração do mapa das vazões hídricas do Embasamento Cristalino, sobreposto ao mapa


geológico da região enfocada permitiu observar que as drenagens atuais encaixam-se em
importantes alinhamentos estruturais do Embasamento Cristalino. Esses alinhamentos constituem-
se em limites de imbrincamentos de grandes blocos cujas porções mais deprimidas encontram-se
nas porções centrais da Bacia Sedimentar de Curitiba, sugerindo que as atuais principais redes de
drenagens não diferem, em essência, daquelas contemporâneas à gênese da bacia.
A conformação geomorfológica também explica a mudança de regime hídrico observada para
o rio Iguaçu, onde o basculamento de blocos tectônicos propiciou, já nos primórdios genéticos da
estruturação da bacia, centros de represamentos mais profundos para as águas de drenagens que
provinham dos altos estruturais tectônicos, hoje parcialmente expostos no entorno.
O mapa de vazões do Aqüífero Embasamento Cristalino revelou que as maiores vazões estão
intimamente associadas às zonas de fratura e contatos litológicos, preferencialmente junto ao eixo
coincidente à borda noroeste da bacia, segundo a direção NNE-SSW. Essa região encontra-se sob
vários lineamentos estruturais importantes, cujos deslocamentos, através de falhas normais, são os
principais movimentos responsáveis pela estruturação tectônica da bacia. Mesmo aqueles núcleos
de maiores vazões localizados sobre os sedimentos, na região centro-oeste da Bacia Sedimentar de
Curitiba, estão associados a lineamentos de falha ou fratura inferidas.
A maior vazão encontrada foi de 44m3/hora; porém, a média das vazões corresponde a
5,94m3/hora. Essa baixa média é reflexo das vazões nulas ou das baixas vazões obtidas em grande
parte dos poços, cujas locações sem critérios técnicos, ocorreram em locais estruturalmente sem
descontinuidades; ou seja, fora das zonas de fraturamento ou cisalhamento.

6. REFERÊNCIAS

AB'SABER, A. N.; BIGARELLA, J. J. (1961). Superfícies aplainadas no Primeiro Planalto do


Paraná. Boletim Paranaense de Geografia, Curitiba, n. 4/5, p. 116-125.
ALMEIDA, F. F. M. (1976). The system of continental rifts bordering the Santos Basin, Brazil.
Anais da Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, n. 48, p.15-26.
ARCHELA, E. (1990). Faciologia e ambientes de sedimentação da Bacia de Curitiba. São Paulo:
IGc/USP. 167 p. (relatório científico FAPESP).
ARCHELA, E. (1989). O sistema de "rifts" da Serra do Mar e as bacias sedimentares associadas.
São Paulo: IGc/USP. 42 p. (mimeo).
ARCHELA, E. (2006). Relações entre a faciologia e a disponibilidade hídrica subterrânea na
Bacia Sedimentar de Curitiba. In: SIMPÓSIO DO CRETÁCEO DO BRASIL, 7 / SIMPÓSIO DO
TERCIÁRIO DO BRASIL, 1, 2006, Serra Negra. Boletim de Resumos... Rio Claro: UNESP -
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Instituto de Geociências e Ciências
Exatas. v. 1, p. 13-13.
ARCHELA, E.; COIMBRA, A. M. (2006). Faciologia e ambientes de sedimentação da Bacia de
Curitiba. In: GEOPAR I – SIMPÓSIO AMBIENTES GEOLÓGICOS DOS RECURSOS
NATURAIS DO PARANÁ, 2006, Curitiba. Boletim de Resumos... Curitiba: Sociedade Brasileira
de Geologia - Núcleo Paraná. v. 01. p. 60-60
BIONDI, J. C. (1983). Mapa geológico da área do escudo do estado do Paraná. MINEROPAR -
Minerais do Paraná. Escala 1:250.000, Curitiba.
COIMBRA, A. M.; COUTINHO, J. M. V.; ATENCIO, D. (1989). Lanthanite (Nd) From Santa
Isabel, State of São Paulo: Second brasilian and world occurrence. The Canadian Mineralogist,
Journal of the Mineralogical Association of Canada, v. 27, march.
COIMBRA, A. M.; RICCOMINI, C. (1985). Considerações paleoambientais sobre as ocorrências
de caliche nas bacias de Curitiba (PR), Taubaté (SP) e Resende (RJ). Anais da Academia Brasileira
de Ciências, Rio de Janeiro, n. 54, v. 4, p. 517-518.
GIRÃO NERY, G.; ROSA FILHO, E. F. (1994). Hidrogeofísica do poço da fazenda Canguiri-PR.
In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HIDROGEOLOGIA, 8, 1994, Recife. Anais... São Paulo:
ABAS, v. 1, p. 363-371.
LANDIM, P. M. B. (1998). Análise estatística de dados geológicos. São Paulo: Ed. UNESP.
MAACK, R. (1968). Geografia Física do Estado do Paraná. Curitiba: BADEP.
MELO, M. S.; RICCOMINI, C.; HASUI, Y.; ALMEIDA, F. F. M.; COIMBRA, A. M. (2001).
Geologia e evolução do sistema de bacias tafrogênicas continentais do sudeste do Brasil. Revista
Brasileira de Geociências, São Paulo, v. 15, n. 3, p. 193-201.
NOGUEIRA FILHO, J. (1997). A bacia hidrológica de Curitiba. 159 p. Dissertação (Mestrado em
Geologia) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba.
RICCOMINI, C. (1988). São Paulo and Curitiba basins. In: 7th. Gondwana Symposium. 7.
Anais..., July 18-22. São Paulo, Brasil.
ROSA FILHO, E. F. (1993). Caracterização da depleção de um aqüífero através do coeficiente de
descarga , de Maillet. Boletim Paranaense de Geociências, Curitiba, n. 41, p. 125-144.
ROSA FILHO, E. F. (1997). Disponibilidade das águas subterrâneas na bacia hidrográfica do
Iraí. Boletim Paranaense de Geociências, Curitiba, n. 45, p. 149-160.
ROSA FILHO, E. F. et al. (1996). Considerações sobre aspectos físicos e hidráulicos da Formação
Guabirotuba. Boletim Paranaense de Geociências, Curitiba, n. 44, p. 1-23.
ROSA FILHO, E. F.; LISBOA, A. A.; SCHOENAU, O. (2001). Abastecimento de água para
Curitiba: Situação atual e proposta de solução. In: ABAS-MG-BR/UNESCO-PHI, 1996a.
Disponível em: http://www.unesco.org.uy/phi/libros/estrategias/art01.html. Acesso em: 25
setembro.
SALVI, R. F.; ARCHELA, E.; ARCHELA, R. S. (2002). Breve descrição da formação do
território paranaense. In: FRESCA, T. M.; SALVI, R. F.; ARCHELA, R. S. (Org.). Dimensões do
espaço paranaense. Londrina: EDUEL, p. 193-210. (Geografia em Movimento, 2).
YAMAMOTO, J. K. (2000). An alternative measure of the reliability of ordinary kriging estimates.
Mathematical Geology, EUA, v. 32, n. 4, p. 489-509.
YAMAMOTO, J. K. (2000). An alternative measure of the reliability of ordinary kriging estimates.
Mathematical Geology, EUA, v. 32, n. 4, p. 489-509.
YAMAMOTO, J. K. (2001). Análise geoestatística. In: YAMAMOTO, J. K. Avaliação e
classificação de reservas minerais. São Paulo: EDUSP, (Acadêmica; 38).
YAMAMOTO, J. K. (2001). Análise geoestatística. In: YAMAMOTO, J. K. Avaliação e
classificação de reservas minerais. São Paulo: EDUSP, (Acadêmica; 38).
YAMAMOTO, J. K.; CONDE, R. P.; YOSHIKAWA, P. S.; HUBNER, A. M. (2006).
Geoestatística on line. Disponível em http://www.igc.usp.br/subsites/geoestatistica/index.html.
Acesso em: abril/maio.
ZIMBACK, R. C. L. (2003). Geoestatística. Botucatu: GEPAC-FCA-UNESP.

Você também pode gostar