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QUALIDADE DA ÁGUA DO RIO POTI E SUAS IMPLICAÇÕES PARA ATIVIDADE DE LAZER EM TERESINA-PI
Livânia Norberta de
OLIVEIRA
Doutoranda em Geografia-UFPE e Mestra em Desenvolvimento e Meio Ambiente- UFPI livanigeo@gmail.com http://lattes.cnpq.br/9967851444577561
Carlos Ernando da
SILVA
Doutor e Mestre em Engenharia Química pela Universidade Estadual de Campinas. Professor Associado do Departamento de Recursos Hídricos e Geologia Aplicada (DRHGA) - Centro de Tecnologia
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Resumo:
O presente artigo objetiva avaliar as condições de uso do rio Poti em Teresina para Lazer, tendo em vista que a capital piauiense apresenta elevadas temperaturas durante o ano, em detrimento de suas condições climáticas e estar localizada na confluência de dois importantes rios federais: o rio Poti e o Parnaíba, os quais sofrem grande pressão em consequência do expressivo crescimento urbano e o ineficaz sistema de esgotamento sanitário existente. Neste contexto o monitoramento da qualidade da água do rio Poti possibilita avaliar os impactos causados pela urbanização e propor soluções para melhor utilização dos recursos hídricos pela população. Para a pesquisa foram coletadas mensalmente amostras de água entre abril de 2009 e abril de 2013, em sete sítios selecionados no rio Poti, ao longo de 35 km de seu percurso desde a área urbana até sua foz no bairro Poty Velho. Foi aplicado um Índice de Qualidade da Água (IQA) com base em dez parâmetros. Constatou-se uma redução na qualidade da água do rio Poti conforme este adentra no núcleo urbano da cidade, por receber maior carga de efluentes sem a tratamento, deixando o rio impróprio para contato primário, assim como a vulnerabilidade do rio Poti e da população local frente ao impotente sistema de saneamento e consequente gestão corpos hídricos em Teresina.
Palavras-chave
: Rio Poti. Teresina. Lazer.
WATER’S QUALITY OF THE POTI RIVER
AND ITS IMPLICATIONS TO LEISURE ACTIVITY IN TERESINA-PI Abstract:
The present study aims to evaluate the use terms of the Poty river in Teresina for leisure, considering that the capital of Piauí presents high temperatures during the year, in detriment of its climate terms and being located in the confluence of two important federal rivers: the Poti and Parnaíba river, which suffer great pressure in consequence of the significant urban growing and of ineficient disposal sewage system. In this context the monitoring of water quality of the Poti river enables to evaluate the impacts caused by the urbanization and to propose solutions for best use of the
water resources by the population. For the research were collected monthly water samples between April 2009 and April 2013, in seven selected in Poti river along its 35 km route from the urban area to its mouth in the neighborhood Poty Velho. An Index of Water Quality (IQA) was applied on ten
parameters. Found a reduction in water quality of the river Poti as this enters the urban core of the city,
Revista Equador (UFPI), Vol.3, nº1, p. 128 - 147 (jan./jun.,2014) to receive greater load of effluents without treatment, leaving the river unsuitable for primary contact, as well as the vulnerability of the Poti river and the local population powerless against the sanitation
system and consequent water management bodies in Teresina
Keywords
: Poti River. Teresina. Leisure.
LA CALIDAD DEL AGUA DEL RÍO POTI Y SUS IMPLICACIONES PARA LA ACTIVIDAD RECREATIVA EN TERESINA-PI Resumen:
Este artículo tiene como objetivo evaluar las condiciones de uso del río Poti en Teresina para el ocio, ya que la capital del Piauí muestra altas temperaturas durante el año, en detrimiento de sus condiciones climáticas y se encuentra en la confluencia de dos grandes ríos federales: el río Parnaíba y Poti, que se someten a una gran presión como consecuencia del crecimiento urbano y el sistema existente del ineficiente alcantarillado. En ese contexto, el monitoreo de la calidad del agua del río Poti posible evaluar los impactos causados por la urbanización y proponer soluciones para mejorar la utilización de los recursos hídricos por la población. Para la investigación se recogieron muestras de agua mensuales entre abril de 2009 y abril de 2013, en siete seleccionados en el río Poti a lo largo de sus 35 kilómetros de recorrido desde el casco urbano hasta su desembocadura en el barrio Poty Velho. Un Índice de Calidad del Agua (IQA) se aplicó sobre diez parámetros. Encontró una reducción en la calidad del agua del río Poti, ya que entra en el núcleo urbano de la ciudad, para recibir mayor carga de efluentes sin tratamiento, dejando el río aptos para contacto primario, así como la vulnerabilidad del río Poti y la población local impotente contra el sistema de saneamiento y los organismos de gestión del agua consiguientes en Teresina.
Palabras clave
: Río Poti. Teresina. ocio
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos a humanidade vem se defrontando com uma série de problemas ambientais, financeiros e sociais. Neste quadro de preocupações com o ambiente os recursos hídricos adquirem especial importância, tendo em vista que a demanda por água está se tornando cada vez maior, sob o impacto do crescimento da população e do maior consumo imposto pelos padrões da vida moderna. Com isso, a qualidade das águas vem sendo degradada de maneira alarmante, podendo logo ser irreversível, sobretudo nas áreas mais urbanizadas. A partir da Revolução Industrial, o crescimento desordenado e localizado das demandas, associado aos processos de degradação da qualidade da água, vem engendrando sérios problemas de escassez quantitativa e qualitativa, além de conflitos de uso, até mesmo nas regiões naturais com excedente hídrico (MOTA, 2008). As conseqüências do processo inadequado do crescimento já comuns nas grandes cidades são: condições sanitárias mínimas, ocupação de áreas inadequada para habitação, degradação dos recursos hídricos, poluição do meio ambiente, dentre outras. Segundo Damasceno (2005), em ambientes onde a ação antrópica é marcante, a qualidade da água deixa de ser afetada somente por fatores naturais, como nos centros urbanos onde a
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situação dos recursos hídricos é agravada pelo crescimento acelerado e desordenado, sem a implantação adequada de saneamento básico. Como a saúde humana depende do suprimento de água potável segura, adequada, acessível e confiável, a qualidade da água torna-se um dos indicativos da qualidade ambiental, por ser palco de interação dos diversos processos desenvolvidos no âmbito de uma bacia hidrográfica. Comenta Tucci (2006), que existe uma tendência do desenvolvimento urbano em contaminar a rede de escoamento superficial com despejos de esgotos cloacais e pluviais, inviabilizando o manancial em trechos urbanos. Situação observada com o rio Poti em Teresina, por não existir um sistema de esgotamento sanitário que contemple toda a cidade, trazendo prejuízos para saúde do rio, sobretudo no período de estiagem. O monitoramento da qualidade da água é um dos principais instrumentos para execução de uma política de gestão de recursos hídricos, por servir como um sensor que permite o acompanhamento do processo de uso dos recursos hídricos, apresentando seus efeitos sobre as características qualitativas das águas, visando subsidiar ações de controle ambiental. Neste contexto este artigo objetiva avaliar a qualidade da água do rio Poti no perímetro urbano de Teresina, através do monitoramento da qualidade da água deste rio, correlacionando seu índice de qualidade com as atividades de lazer ofertadas para a população. Tendo em vista a cidade apresentar características climáticas que proporciona elevadas temperaturas durante o ano, situação que favorece o uso deste rio como opção de lazer.
RIOS URBANOS
Os rios são considerados sistemas complexos, hierárquicos, que possuem três componentes principais interligados: o componente geológico e geomorfológico que constitui o modelo de base física, os componentes climáticos e hidrológicos, que são controladores abióticos fundamentais do sistema, através de regimes de vazão, qualidade da água e temperatura da água (MAITRE; COLVIN, 2008). Mesmo o Brasil possuindo a vantagem de dispor de abundantes recursos hídricos, possui também a tendência desvantajosa em desperdiçá-los. A legislação de proteção de mananciais aprovada na maioria dos Estados brasileiros protege a Bacia Hidrográfica utilizada para abastecimento das cidades, exigindo-se que nessas áreas seja proibido o uso do
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solo urbano de modo que possa comprometer a quantidade e a qualidade da água para abastecimento. No entanto, tal legislação não vem sendo cumprida, nem fiscalizada pelos órgãos competentes, deixando-os vulneráveis à ação antrópica (MAROTTA; SANTOS; ENRICH-PRAST, 2008). Em estudo sobre a qualidade da água do rio Pisuerga, localizado na região de Castilla y León (Centro-Norte da Espanha), interpretaram Vega et al
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(1998) que fatores como a precipitação, o escoamento superficial e o interfluxo, influenciaram no fluxo do rio, concluindo que as variações sazonais desses fatores possuiam forte efeito sobre as vazões e consequentemente, sobre a concentração de poluentes nas águas do rio. Frente a isso, interpreta-se que a concentração dos poluentes orgânicos de um rio está estreitamente correlacionada ao regime de vazão, com sua capacidade de auto-purificação dependente de vários fatores como: o volume e velocidade da vazão, concentração de poluentes, taxa de composição dos poluentes, dentre outros (GUOLIANG WEI
et al,
2009). Todavia, apesar da grande influência da drenagem pluvial na poluição dos rios, o lançamento de esgotos domésticos e industriais ainda configura-se como a principal causa da degradação da qualidade das águas dos rios que possuem parte de seu leito em áreas urbanas (SPERLING, 1996; TUCCI, 2006). No atual mundo globalizado, o crescimento das atividades econômicas demanda maior abastecimento de água e saneamento, o que acaba por exercer uma maior pressão sobre os recursos hídricos e os ecossistemas naturais. Frente a essa realidade, a urbanização exige investimentos significativos em infra-estrutura hídrica para o abastecimento e o esgotamento das águas residuais, como forma de evitar que as águas poluídas e não tratadas representem riscos à saúde pública (TUCCI, 2006). Segundo o IBGE (Censo 2010) existe no Brasil aproximadamente 185.712.713 habitantes, com quase 90% dessa população vivendo no espaço urbano, o que conseqüentemente provoca impactos aos recursos hídricos, por não existirem na mesma proporção do aumento da população, investimentos em saneamento básico das áreas densamente povoadas. A extensão dos tecidos urbanos à margem da legislação de uso do solo e associada à especulação imobiliária vem sendo reproduzida por diferentes classes sociais, resultando na ocupação de áreas ribeirinhas sem infra-estrutura sanitária adequada e causando degradação da qualidade das águas naturais (TUCCI, 2008).