Documentos Diversos - TJBA - Ação Abuso de Poder - Procedimento Comum Cível - Contra Municipio de Coronel Joao

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EXMO SR. DR.

JUIZ ELEITORAL DA 52a ZONA ELEITORAL - PARIPIRANGA/BA


Nº do processo: 0600186-67.2020.6.05.0052
O MINISTÉ RIO PÚ BLICO ELEITORAL , pelo Promotor ao final assinado, no regular exercício
da delegaçã o legal que lhe é conferida pelo art. 78, da LC 75/93, vem à presença de V. Exa.,
nos termos do art. 3º, da LC 64/90, propor a presente AÇÃ O DE IMPUGNAÇÃ O AO
REGISTRO DA CANDIDATURA de , devidamente qualificado nos autos do Pedido de
Registro nº 0600186- 67.2020.6.05.0052, em face das seguintes razõ es de fato e de direito:
O Partido dos Trabalhadores - PT - protocolou pedido de registro de seus candidatos e
junto com ele a documentaçã o exigida em lei.
Em pesquisa, constatou-se que o Impugnado fora, no bojo de processo administrativo
disciplinar, demitido do serviço pú blico (Prefeitura do Município de Coronel Joã o Sá , na
qual exercia o cargo de professor) em 02 de julho de 2020, portanto, há menos de oito
anos , conforme publicaçã o no Diá rio Oficial do Município (em anexo).
Sabe-se que a demissã o do serviço pú blico, por decisã o administrativa ou judicial, quando
apurada infraçã o funcional em procedimento contraditó rio e com observâ ncia da
amplitude de defesa, desperta impedimento à candidatura, qual seja, a inelegibilidade
prevista no art. 1º, I, alínea o, da LC n. 64/90, com redaçã o dada pela
LC n. 135/2010, e que se impõ e desde a decisã o e perdura até o transcurso de 8 (oito)
anos .
Nos autos nã o há notícia de que essa decisã o administrativa de exclusã o tenha sido
suspensa ou anulada pelo Poder Judiciá rio, ú nica hipó tese de suspensã o da inelegibilidade
aqui cogitada.
Pelo contrá rio, em consulta ao sistema Processo Judicial Eletrô nico - PJe - do Tribunal de
Justiça do Estado da Bahia, observa-se que o impugnado requereu, no processo nº , a
suspensã o da decisã o administrativa, tendo sido negada a liminar (em anexo a decisã o
negató ria da liminar).
Confira-se a redaçã o atual do citado art. 1º, I, o, da LC n. 64/90:
"o) os que forem demitidos do serviço público em decorrência de processo administrativo ou judicial, pelo prazo
de 8 (oito) anos, contado da decisão, salvo se o ato houver sido suspenso ou anulado pelo Poder Judiciário ;
(Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)"
A doutrina especializada assim se posiciona sobre o tema:
"Se apurado e punido com demissão o desvio de conduta do servidor, que se mostra despreparado e
inconveniente ao exercício das funções públicas de cargo efetivo da administração, não fazia mesmo sentido
manter aberta a via de acesso às funções públicas eletivas, tão ou mais caras que aquelas, porque aqui se exerce
parcela da soberania popular.
A inelegibilidade, então, se impõe aos servidores públicos efetivos que forem demitidos mediante regular processo
administrativo ou judicial, persistindo o impedimento por 8 (oito) anos a partir da decisão administrativa ou
judicial de demissão . (Curso de Direito Eleitoral, Edson de Resende Castro, Editora Del Rey, 10a edição, 2020, pág.
346 e 347)
A inelegibilidade em estudo se aplica inclusive na hipó tese de demissã o por abandono de
emprego e naquelas em que o estatuto do servidor se utilizar de expressã o diversa para se
referir ao ato de perda de cargo como sançã o. Colhe-se da
jurisprudência do TSE os seguintes julgados:
"Eleições 2018. Recurso ordinário. Registro de candidatura. Candidato eleito. Deputado estadual. Inelegibilidade.
Art. 1º, I, O, da Lei Complementar 64/90. Policial militar excluído a bem da disciplina. Não provimento. 2. A causa
de inelegibilidade prevista no art. 1º, I, O, da Lei Complementar 64/90 aplica-se aos militares a que se impuserem
sanções que, a qualquer título, produzam efeitos análogos à demissão. Isso porque: (i) a interpretação literal não é
recomendável, na medida em que, nos regimes jurídicos estabelecidos pelos entes públicos para seus servidores
civis ou militares, pode-se utilizar termos diferentes - como 'exclusão a bem da disciplina' - para designar institutos
jurídicos que têm as mesmas características e produzem os mesmos efeitos que a demissão; (ii) caso não se
atribua interpretação sistemática ao texto da alínea o, não haverá regime de inelegibilidade aplicável aos praças
que forem excluídos dos quadros do ente público por praticarem infrações disciplinares graves, o que gerará
injustificada disparidade de tratamento em relação aos oficiais, que se submetem a regime específico (art. 1º, I, f,
da Lei Complementar 64/90); e (iii) no estatuto da Polícia Militar do Estado de Pernambuco, não é prevista
nenhuma sanção com o nome 'demissão', sendo a "exclusão a bem da disciplina" a penalidade máxima prevista.
3. Razões ligadas à segurança jurídica não recomendam a oscilação da jurisprudência em curto período e a adoção
de entendimentos diversos a respeito de determinada matéria nas mesmas eleições. Por essa razão, o
entendimento de que o art. 1º, I, O, da Lei Complementar 64/90 se aplica aos militares a que se impuserem
sanções que, a despeito da nomenclatura diversa, produzam efeitos análogos à demissão, é fixado apenas para as
próximas eleições, não sendo aplicável no caso concreto.[...]". (TSE, Ac de 19.12.2018, no RO , rel. Min. Admar
Gonzaga)
"Eleições 2018. Recurso ordinário. Registro de candidatura. Deputado estadual. Demissão do serviço público.
Incidência da inelegibilidade insculpida no art. 1º, i, o, da Lei Complementar nº 64/90. Indeferimento. Negativa de
provimento. 1. À luz do art. 1º, I, o, da LC 64/90, são inelegíveis, pelo prazo de oito anos, os candidatos demitidos
do serviço público em decorrência de processo administrativo ou judicial, salvo se o ato houver sido suspenso ou
anulado pelo Poder Judiciário .
2. Aludida causa de inelegibilidade incidirá sempre que o pretenso candidato for demitido do serviço público e não
houver a suspensão ou anulação do ato pelo Poder Judiciário . 3. No caso em exame, Paulo César Gomes foi
demitido do serviço público, em razão de abandono do cargo, por meio de processo administrativo disciplinar. Não
há notícia suspensão ou anulação do ato pelo Poder Judiciário. Infere-se, assim, que o fato se subsume à hipótese
de inelegibilidade descrita na alínea o da Lei de Inelegibilidades.[...]"(TSE, Ac de 16.10.2018, no RO ,rel. Min. Luís
Roberto Barroso, rel. designado Min. Edson Fachin)

No estudo das condiçõ es de elegibilidade e causas de inelegibilidades, percebe-


se que sã o elas um conjunto de normas que - traçando o perfil do brasileiro apto ao
exercício do jus honorum - visam proteger a probidade e a moralidade administrativas,
como também a normalidade e legitimidade das eleiçõ es (art. 14, § 9º, da CF). 1 Já a partir
daí, fá cil perceber que as causas de inelegibilidade nã o representam uma sançã o, uma
puniçã o ao brasileiro que se encontrar nas hipó teses discriminadas na lei, até porque, para
ser uma sançã o ou uma resposta punitiva do ordenamento jurídico eleitoral, seria
necessá rio encontrar no inelegível uma conduta no mínimo culposa, pois difícil imaginar
puniçã o sem culpa. E o cotejo do rol de causas de inelegibilidades positivadas, a começar
pelas constitucionais, desautoriza por completo a afirmaçã o de que inelegibilidade é pena .
Basta ver que a Constituiçã o Federal faz inelegível o analfabeto (art. 14, § 4º) e o cô njuge e
parentes do Presidente da Repú blica (art. 14, § 7º) para qualquer disputa no territó rio
nacional. Se as inelegibilidades representassem uma pena para o brasileiro, por que razã o
os analfabetos seriam punidos? Qual seria o seu comportamento culposo, a ensejar essa"
pena "?
A verdade é que o regime jurídico das inelegibilidades, ao contrá rio, se funda em valores e
princípios do pró prio direito constitucional eleitoral, que naturalmente nã o coincidem com
aqueles que orientam um sistema sancionador.
O direito eleitoral, que se justifica pela opçã o que o constituinte fez pelo sistema
representativo, orienta-se precipuamente pelos princípios maiores - ou super princípios -
da preservaçã o do regime democrá tico e da supremacia da soberania popular, aos quais se
subordinam os da (i) normalidade e legitimidade das eleiçõ es e (ii) probidade e
1 O texto que se segue é encontrado no Curso de Direito Eleitoral, de , Editora Del
Rey, 10a ediçã o, pá g. 226 e seguintes.
moralidade para o exercício das funçõ es pú blicas eletivas.
Nã o há regime democrá tico que se sustente sem que a representaçã o - extraída das urnas -
atenda ao interesse pú blico de lisura, nã o só da disputa, como também do exercício do
mandato, sob pena de desencantamento do seu soberano, o povo, e daí o seu
enfraquecimento. E, para a efetivaçã o destes princípios, impõ em-se restriçõ es e limites à
capacidade eleitoral passiva daqueles que trazem na sua vida, atual ou pregressa, registros
de fatos, circunstâ ncias, situaçõ es ou comportamentos - nã o necessariamente ilícitos - tidos
como suficientes pelo ordenamento jurídico para despertar a necessidade de preservaçã o
daqueles valores.
Percebe-se que há , no direito eleitoral mesmo, razõ es suficientes para a existência de
limites à s candidaturas, que de resto há em qualquer regime democrá tico, sendo
absolutamente desnecessá rio e impró prio importar princípios do direito penal, p.ex. Esses
limites ou restriçõ es, somando-se à s condiçõ es 2 , longe, repita-se, de configurar sançã o ou
pena ao indivíduo que pretende a candidatura - o que se pretende alcançar aqui nã o é a
puniçã o do indivíduo e sim a proteçã o da coletividade -, vã o desenhando o perfil de homem
pú blico fixado como minimamente necessá rio à representaçã o dos interesses do soberano.
E, a partir da" Lei da Ficha Limpa", esse modelo de candidato é resultado, em grande parte,
da opçã o manifestada diretamente em lei de iniciativa popular. Nada mais legítimo e
natural que o perfil dos representantes seja fixado diretamente pelos representados.
2 Condiçõ es de Elegibilidade do art. 14, § 3º, da CF.
Bom registrar que o brasileiro, quando se apresenta ao registro de candidatura perante a
Justiça Eleitoral, em dado processo eleitoral, deve, naquele momento, preencher todas as
condiçõ es de elegibilidade e nã o incorrer nas causas de inelegibilidade, sob pena de
indeferimento da sua pretensã o. Isto porque, diz o art. 11, § 10, da Lei n. 9.504/97, que os
requisitos gerais para o registro sã o auferidos no momento da formalizaçã o do pedido.
Tanto que vigente e aplicá vel, a nova hipó tese de inelegibilidade apanha fatos, situaçõ es ou
circunstâ ncias da vida pregressa 3 do brasileiro, nã o importando se anteriores à entrada
em vigor da lei que a estabeleceu, o que nã o representa conflito com o princípio da
irretroatividade das leis.
Tratando-se - o conjunto das normas definidoras de inelegibilidades - do
denominado"regime jurídico das candidaturas", o que está sob a regência da lei nova nã o é
o fato em si mesmo, mas tã o somente os efeitos jurídicos que esse fato produz no tempo. A
lei, ao estabelecer uma causa de inelegibilidade nova, tomando como referência um fato ou
uma conduta até entã o irrelevante para o direito eleitoral, nã o pretende protrair-se para
regular esse fato ao tempo da sua ocorrência, tornando-o ilícito. Ao contrá rio, esse fato ou
conduta, em si mesmo, continua a sofrer a incidência apenas das leis do seu tempo. Para as
candidaturas que se apresentarem apó s a vigência e aplicabilidade da lei nova, isto sim,
eles sã o considerados nos seus efeitos futuros, se ainda nã o ultrapassado o prazo de
cessaçã o do impedimento consignado na lei. Equivale dizer que o fato, ainda que nã o
afetasse a elegibilidade ao tempo da sua ocorrência - portanto, sem esse efeito jurídico -,
3 O art. 14, § 9º, da CF, diz expressamente que lei complementar estabelecerá novas
hipó teses de
inelegibilidade, considerada a vida pregressa do candidato.
é marca inapagá vel na vida pregressa da pessoa, produzindo sim efeitos pessoais, morais e
sociais. Lei posterior pode considerá -los, quando do estabelecimento de novas hipó teses de
inelegibilidade, conferindo-lhe efeitos jurídicos eleitorais na seara da capacidade eleitoral
passiva. Percebe-se que a isso nã o se pode dar o nome de retroatividade da lei nova, porque
esta nã o vai ao fato, regulando tã o somente os seus efeitos ao tempo do pedido de registro
de candidatura, este - registro de candidatura - sim necessariamente posterior à nova lei.
Sancionada em 2010, a LC n. 135 está apta a regular as eleiçõ es de 2020, como regulou as
eleiçõ es de 2012, 2014, 2016 e 2018.
De resto, todas as causas de inelegibilidade agora constantes da LC n. 64/90, acrescida e
alterada pela LC n. 135/2010, inclusive o prazo uniforme de oito anos, guardam perfeita
relaçã o de subordinaçã o e pertinência com os bens jurídicos fixados no art. 14, § 9º, da CF.
Os fatos, situaçõ es e circunstâ ncias estabelecidos pelo legislador complementar como
impedimentos ao exercício da capacidade eleitoral passiva, pelo prazo comum de oito anos,
traduzem com razoabilidade e proporcionalidade a necessidade de proteçã o da
(i) legitimidade e normalidade das eleiçõ es e da (ii) moralidade e probidade para o
exercício das funçõ es pú blicas eletivas.
Com efeito, perfeitamente proporcional e razoá vel afastar das disputas eleitorais - daí das
funçõ es pú blicas eletivas -, por oito anos, p.ex., (i) aquele candidato que, durante a
campanha eleitoral, substituiu a exposiçã o de ideias e projetos pela doaçã o, promessa ou
oferta de vantagens pessoais aos eleitores, comprando-lhes a liberdade de escolha, ou (ii)
aquele funcioná rio pú blico que tiver sido demitido a bem do serviço pú blico, porque já
demonstrada em processo administrativo regular a prá tica de conduta incompatível com o
interesse pú blico.
Ademais, esses novos padrõ es de comportamento, que agora traçam o perfil das
candidaturas, estã o em adequada harmonia com o sentimento de moralidade da sociedade
brasileira, manifestada de forma clara e induvidosa inclusive pela subscriçã o do projeto de
lei de iniciativa popular. Nas ADC n. 029 e 030, o STF confirmou a constitucionalidade de
todas as novas hipó teses de inelegibilidade , sendo oportuno lembrar que a decisã o do STF,
em sede declarató ria de constitucionalidade, tem efeito vinculante e nã o admite posiçã o
diversa de qualquer outro ó rgã o do Poder Judiciá rio.
Em face do exposto, requer o Ministério Pú blico Eleitoral:
1) Seja recebida a presente Impugnaçã o e juntada aos autos do registro de candidatura do
Impugnado;
2) Seja determinada a notificaçã o do Impugnado para a defesa que tiver, no prazo de 07
(sete) dias;
3) Estando a matéria fá tica provada por documentos, sem necessidade de dilaçã o
probató ria, seja julgada procedente a impugnaçã o para indeferir-se o pedido de registro de
candidatura do Impugnado em razã o da sua demissã o do serviço pú blico, conforme a
inelegibilidade, prevista no art. 1º, I, alínea o, da LC nº 64/90, com redaçã o dada pela LC nº
135/2010 .
4) Surgindo a necessidade de produçã o de provas, o Parquet protesta por todos os meios
em direito admitidos, com o fim de fazer prevalecer a verdade real dos fatos;
5) A Promotoria Eleitoral da 52a Zona Eleitoral anexa à presente AIRC documentos
comprobató rios do quanto alegado (publicaçã o do Diá rio Oficial do Município
de Coronel Joã o Sá aplicando penalidade de demissã o e decisã o judicial indeferindo o
pedido liminar de suspensã o da penalidade).
Nestes termos, pede deferimento.
Paripiranga/BA, 29 de setembro de 2020

Promotor Eleitoral
Assinado eletronicamente por: - 29/09/2020 22:13:59
29/09/2020 https://pje.tjba.jus.br/pje-web/Processo/ConsultaProcesso/Detalhe/
documentoHTML.seam?ca=42023f01d2634ef5f91f595dbdc1a2...
PODER JUDICIÁ RIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA
V DOS FEITOS RELATIVOS À S RELAÇÕ ES DE CONSUMO, CÍVEL, COMERCIAL, FAZENDA
PÚ BLICA E
REGISTROS PÚ BLICOS DE JEREMOABO
Processo: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL n.
Ó rgã o Julgador: V DOS FEITOS RELATIVOS À S RELAÇÕ ES DE CONSUMO, CÍVEL,
COMERCIAL, FAZENDA
PÚ BLICA E REGISTROS PÚ BLICOS DE JEREMOABO
AUTOR:
Advogado (s): (8/BA)
RÉ U: MUNICIPIO DE CORONEL JOAO SA e outros
Advogado (s):
DECISÃ O
Vistos etc.
Cuida-se de açã o declarató ria de nulidade de ato jurídico c/c pedido de tutela de urgência
aforada por em face do MUNICÍPIO DE CORONEL JOÃ O SÁ /BA e , todos já conhecidos nos
autos.
Esclarece o Autor que foi submetido a PAD (n.º 02/2020), o qual culminou com a ediçã o da
Portaria n.º 417/2020, sendo-lhe aplicada a pena de demissã o.
Alega que o PAD instaurado possuiu a ú nica e exclusiva finalidade de prejudica-lo no pleito
eleitoral que se avizinha, pois havendo aplicaçã o de pena de demissã o no procedimento
administrativo dessa natureza, incidirá sobre o Demandante as hipó teses de inelegibilidade
contidas na Lei Complementar nº 64/90, haja vista ser pré-candidato a vereador do
Município, ora Réu, e oposiçã o a este.
Diz que foram inú meras as ilegalidades e arbitrariedades praticadas durante o
procedimento: a) ausência do local de reuniã o da comissã o e ausência do dispositivo legal
violado; b) ocorrência de prescriçã o intercorrente e c) desvio de finalidade.
Pugnou pela concessã o de uma tutela de urgência, a fim de que o fossem suspensos os
efeitos da Portaria n.º 417/2020, que veiculou o ato demissioná rio do Autor, além de
determinar ao Município de Coronel Joã o Sá /BA que lance, ou, se já lançado, retire, o nome
do Autor da relaçã o de inelegíveis, sob pena de multa diá ria no valor de .
Valorou a causa em .
Com a inicial vieram documentos.
https://pje.tjba.jus.br/pje-web/Processo/ConsultaProcesso/Detalhe/
documentoHTML.seam?ca=42023f01d2634ef5f91f595dbdc1a... É 1/4
29/09/2020 https://pje.tjba.jus.br/pje-web/Processo/ConsultaProcesso/Detalhe/
documentoHTML.seam?ca=42023f01d2634ef5f91f595dbdc1a2...
É o que basta relatar. Fundamento e decido.
Diz o art. 300, do CPC, que"a tutela de urgência será concedida quando houver elementos
que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado ú til do
processo".
Há , pois, dois requisitos fundamentais para a concessã o da tutela provisó ria de urgência: (i)
a probabilidade do direito e (ii) a urgência.
Segundo ARRUDA ALVIM (in Tutela Provisó ria, ed. Saraiva, 2017, p. 153),"o caput do art.
300 do CPC/2015 exige, assim, que fique caracteriza a plausibilidade do direito alegado
pelo requerente da tutela provisó ria, ou seja, deve ser possível ao julgador, dentro dos
limites permitidos de seu conhecimento ainda nã o exauriente da causa, formar uma
convicçã o ou uma avaliaçã o de credibilidade sobre o direito alegado".
Nesse sentido, o requisito da probabilidade do direito"deve ser revelado como um
interesse amparado pelo direito objetivo, na forma de um direito subjetivo, do qual o
suplicante se considera titular, apresentando os elementos que prima facie possam formar
no juiz uma opiniã o de credibilidade mediante um conhecimento sumá rio e superficial. [...]
O juízo necessá rio nã o é o de certeza, mas o de verossimilhança, efetuado sumá ria e
provisoriamente à luz dos elementos produzidos pela parte. Nã o se pode, bem se vê, tutelar
qualquer interesse, mas tã o somente aqueles que, pela aparência, se mostram plausíveis de
tutela no processo"(cf. THEODORO JÚ NIOR, Humberto. Curso de direito processual civil:
Teoria geral do direito processual civil, processo de conhecimento e procedimento comum.
56. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2015, v. I. p. 609-610).
O deferimento da medida excepcional pressupõ e, portanto, a consideraçã o, pelo julgador,
de que existem grandes e palpá veis chances de que haverá correspondência entre o
conteú do da cogniçã o aferida no momento da tutela provisó ria e o conteú do da cogniçã o
obtida na decisã o final de mérito, justificando-se a concessã o da tutela de urgência, quer de
natureza cautelar, quer de natureza antecipató ria.
Noutro vértice, cumulativamente ao requisito da" probabilidade do direito ", deve estar
presente, também, a" urgência "da tutela pleiteada, seja pelo perigo de dano, seja por ficar
caracterizado o risco ao resultado ú til do processo ( CPC/2015, arts. 300, 303 e 305)." Para
a primeira, trata-se do risco de dano no mundo empírico, estando o bem da vida submetido
a perigo, ao passo que o perigo de dano cautelar representa o risco de que o processo,
enquanto instrumento, se mostre inú til ". (ARRUDA ALVIM, . Tutela Provisó ria, ed. Saraiva,
2017, p. 153).
Por derradeiro, há que se observar o requisito de cará ter negativo inserto no § 3.º do art.
300 do CPC/2015, que cuida da vedaçã o à concessã o de tutela provisó ria de urgência
antecipató ria, isto é, satisfativa, caso a providência se mostre irreversível. Vale dizer:
quando a providência antecipató ria houver de produzir situaçã o de fato inapta a se
desfazer, retornando as partes ao status quo ante, nã o se dado ao magistrado o seu
deferimento.
Pois bem.
Os atos da Administraçã o Pú blica revestem-se da presunçã o de legitimidade e veracidade,
circunscrevendo-se, a atuaçã o do Poder Judiciá rio, ao campo da regularidade do
procedimento e da legalidade do ato demissioná rio, sendo-lhe defesa qualquer incursã o no
mérito administrativo.
Os supostos vícios ocorridos por ocasiã o do procedimento administrativo, quais sejam: a)
ausência do local de reuniã o da comissã o e ausência do dispositivo legal
29/09/2020 https://pje.tjba.jus.br/pje-web/Processo/ConsultaProcesso/Detalhe/
documentoHTML.seam?ca=42023f01d2634ef5f91f595dbdc1a2...
violado; b) ocorrência de prescriçã o intercorrente e c) desvio de finalidade , nã o restaram,
num primeiro momento, comprovados.
No mais, a aná lise do suposto desvio de finalidade, diante da alegaçã o de que o PAD
instaurado contra o Autor possuiu a ú nica e exclusiva finalidade de prejudica-lo no pleito
eleitoral de 2020, a par de demandar o prévio estabelecimento do contraditó rio, nã o restou
verificá vel de plano, demandando o estabelecimento do contraditó rio e devida dilaçã o
probató ria, com o revolvimento de matéria fá tica nã o amparada por prova exclusivamente
documental, o que só é possível em sede de instruçã o processual.
Tecidas tais consideraçõ es, indefiro a tutela de urgência vindicada na peça de ingresso.
No mais, cuida-se de açã o aforada em face da Fazenda Pú blica.
O art. 334 do Novel CPC diz que:"Se a petiçã o inicial preencher os requisitos essenciais e
nã o for o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de
conciliaçã o ou de mediaçã o com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser
citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência.
Trata-se de inovaçã o implementada pelo atual có digo de ritos, haja vista inexistir previsã o
correspondente no anterior ( CPC/73). Visa estimular a soluçã o consensual dos litígios (art.
3.º, § 2.º, NCPC), concedendo à chamada autonomia privada um espaço de maior destaque
no procedimento, denotando tendência mundial de ceder o procedimento comum aos
meios alternativos de soluçã o de conflitos, tornando a soluçã o judicial uma espécie de
ultima ratio para composiçã o dos litígios.
Todavia, a modificaçã o é praticamente inó cua quando presente a Fazenda Pú blica no polo
passivo. Isso porque as procuradorias dos município integrantes desta comarca, quando
comparecem à audiência de conciliaçã o/mediaçã o, o fazem sem autorizaçã o, pelos
gestores, para formalizaçã o de qualquer tipo de acordo, sob os mais variados e absurdos
pretextos.
Sob tal panorama, a novidade legislativa finda por causar formidá vel delonga na
triangularizaçã o processual, trazendo mais prejuízo que benefício à parte que traz a sua
pretensã o a Juízo, além de, evidentemente, macular o princípio da razoá vel duraçã o do
processo, já tã o comprometido numa comarca onde tramitam aproximados 9.000 feitos.
Destarte, a despeito da louvá vel intençã o do legislador, mas, por nã o divisar prejuízo algum
à s partes, até porque a conciliaçã o é possível em qualquer fase do processo e pelos motivos
suso mencionados, ORDENO:
A imediata CITAÇÃ O da Fazenda Pú blica ré, VIA MANDADO, para, no prazo de 30 (trinta)
dias, apresentar contestaçã o, sob pena de presumirem-se aceitos como verdadeiros os
fatos articulados pelo (a) autor (a) (art. 344 NCPC).
Quando da citaçã o, deverá constar expressamente que trata o presente feito, de processo
digital, e, que, eventual peça ofertada deverá observar essa forma, nã o sendo admitido
recebimento em papel.
Havendo arguiçã o das matérias elencadas no art. 337 do NCPC, bem como, de fato,
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor com a peça de defesa, intime- se o
(a) autor (a) para se manifestar em 15 (quinze) dias.
Se houver juntada de documentos com eventual réplica, manifeste-se a parte ré, querendo,
em 15 (quinze) dias.
29/09/2020 https://pje.tjba.jus.br/pje-web/Processo/ConsultaProcesso/Detalhe/
documentoHTML.seam?ca=42023f01d2634ef5f91f595dbdc1a2...
Apó s, dê-se vista ao IRMP.
Com a manifestaçã o, certifique-se tornem-me conclusos.
Nos termos do artigo 188 c/c com o artigo 277 ambos do CPC/2015, que nã o exige forma
determinada para os atos e termos processuais, e, que, considera vá lido todo ato desde que
alcançado o seu objetivo, determino que a có pia deste Despacho sirva como MANDADO
JUDICIAL DE CITAÇÃ O, devendo o Cartó rio entregar três có pias ao Oficial de Justiça, uma
para servir como mandado e as outras como contrafés.
Intimem-se.
Cumpra-se.
Jeremoabo (BA), 10, AGOSTO, 2020.
Juiz PAULO DE M MOREIRA
Assinado eletronicamente por: PAULO DE MENEZES
MOREIRA
10/08/2020 23:19:42
https://pje.tjba.jus.br:443/pje-web/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam
ID do documento:
20081023194278800000066508707
Assinado eletronicamente por: - 29/09/2020 22:14:00

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