3-2013 Revista

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 320

DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA

REVISTA
MARÍTIMA
BRASILEIRA
(Editada desde 1851)

v. 133 n. 07/09
jul./set. 2013

FUNDADOR COLABORADOR BENEMÉRITO

Sabino Elói Pessoa Luiz Edmundo Brígido Bittencourt


Tenente da Marinha – Conselheiro do Império Vice-Almirante

R. Marít. Bras. Rio de Janeiro v. 133 n. 07/09 p. 1-320 jul. / set. 2013
A Revista Marítima Brasileira, a partir do 2o trimestre
de 2009, passou a adotar o Acordo Ortográfico de 1990,
com base no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
editado pela Academia Brasileira de Letras – Decretos nos
6.583, 6.584 e 6.585, de 29 de setembro de 2008.

Revista Marítima Brasileira / Serviço de Documentação Geral da Marinha.


–– v. 1, n. 1, 1851 — Rio de Janeiro:
Ministério da Marinha, 1851 — v.: il. — Trimestral.

Editada pela Biblioteca da Marinha até 1943.


Irregular: 1851-80. –– ISSN 0034-9860.

1. MARINHA — Periódico (Brasil). I. Brasil. Serviço de Documentação Geral da Marinha.

CDD — 359.00981 –– 359.005


COMANDO DA MARINHA
Almirante de Esquadra Julio Soares de Moura Neto

SECRETARIA-GERAL DA MARINHA
Almirante de Esquadra Airton Teixeira Pinho Filho

DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA


Vice-Almirante (Refo-EN) Armando de Senna Bittencourt

REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA


Corpo Editorial
Capitão de Mar e Guerra (Refo) Milton Sergio Silva Corrêa (Diretor)
Capitão de Mar e Guerra (RM1) Carlos Marcello Ramos e Silva
Jornalista Deolinda Oliveira Monteiro
Jornalista Manuel Carlos Corgo Ferreira

Diagramação
Desenhista Industrial Felipe dos Santos Motta
Artífice de Artes Gráficas Celso França Antunes

Assinatura/Distribuição
Terceiro-Sargento-RM1-ES Mário Fernando Alves Pereira
Artífice de Artes Gráficas Celso França Antunes
Marinheiro-QPA Tierry Pinheiro Almeida

Departamento de Publicações e Divulgação


Capitão de Fragata (T) Fábio Bittencourt Quirino

Apoio Administrativo e Expedição


Suboficial-CN Maurício Oliveira de Rezende
Suboficial-MT João Humberto de Oliveira
Artífice de Artes Gráficas Ilda Lopes Martins

Impressão / Tiragem
Mangava Comércio Ltda / 8.500
A REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA é uma publicação oficial da MARINHA DO BRASIL desde
1851, sendo editada trimestralmente pela DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMEN-
TAÇÃO DA MARINHA. A opinião emitida em artigo é de exclusiva responsabilidade de seu autor, não
refletindo o pensamento oficial da MARINHA. As matérias publicadas podem ser reproduzidas. Solicitamos,
entretanto, a citação da fonte.

REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA


Rua Dom Manuel no 15 — Praça XV de Novembro — Centro — 20010-090 — Rio de Janeiro — RJ
 (21) 2104-5493 / -5506 - R. 215, 2262-2754 (fax) e 2524-9460

Para contato e remessa de matéria: Para assinaturas e alterações de dados:


E-mail: [email protected] E-mail: [email protected]
Intranet: dphdm-083@dphdoc Intranet: dphdm-085@dphdoc

Na internet:
http://www.mar.mil.br/dphdm/public/rmb/rmb_revista.htm

SEJA ASSINANTE OU OFEREÇA AO SEU AMIGO UMA ASSINATURA DA RMB

Os preços do número avulso e da assinatura anual são, respectivamente:


BRASIL (R$ 9,00 e R$ 36,00) EXTERIOR (US$ 10 e US$ 40)

Para assinatura, em caso de mudança de OM, residência, posto ou graduação,


encaminhe as informações abaixo; se preferir, envie por e-mail, fax ou telefone.

Nome: Posto/Grad.:

NIP: CPF.: OM:

Endereço resid.: No:

Bairro: Cidade: UF:

CEP: Tel.: e-mail:

Indique a forma de pagamento desejada, conforme abaixo:.

desconto mensal em folha de pagamento, por intermédio de Caixa Consignatária, no valor de R$ 3,00,
autorizada a sua atualização

em anexo, comprovante de depósito na conta corrente 13000048-0 agência 3915, do Banco Santander,
em nome do Departamento Cultural do ABRIGO DO MARINHEIRO, no valor de R$ 36,00; se
for do exterior, por vale postal
SUMÁRIO

nossa CAPA
9
9 A NOVA FRONTEIRA: O MAR PROFUNDO
Carlos Feu Alvim – Professor-Doutor
Luiz Philippe da Costa Fernandes – Vice-Almirante (Refo)
Leonam dos Santos Guimarães – Capitão de Mar e Guerra (RM1)
Fundo do mar é desafio à humanidade – exploração científica. Camada pré-sal.
Veículos para pesquisa atingem profundidade de 6 a 10 mil metros. Veículos para socorro
e salvamento de submarinos. Submarinos nucleares de pequeno porte. Equipamentos pro-
jetados e construídos no Brasil – de controle remoto, sem tripulação. Esforço nacional para
exploração na Amazônia Azul

26 O fortalecimento da Contrainteligência no âmbito do Sistema de


Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON)
Renato Ferreira Jácomo dos Santos – Capitão de Fragata
Viviane da Silva Simões – Analista de Relações Internacionais
Proteção ao conhecimento. Espionagem e contraespionagem. Proteger o sistema
de inteligência e a tecnologia nuclear. Mentalidade a disseminar

  

41 Desarmamento e controle de armas


José Antônio de Castro Leal – Almirante de Esquadra (RM1)
A Conferência de Desarmamento da ONU, em Genebra. Interesse político, estra-
tégico e financeiro condicionando postura de nações. Posição brasileira contrária ao uso de
arma nuclear. Equipar Forças Armadas para proteção de interesses nacionais

49 A BUSCA DE GRANDEZA – (X) – Cultura Militar, Desenvolvimento e Defesa


Elcio de Sá Freitas – Vice-Almirante (Refo)
Continuação da série. Cultura militar – ideias do povo e do governo sobre o poder
militar. Necessidade de base industrial. Desenvolvimento e defesa – essenciais ao país –
preparação das Forças Armadas e da indústria. O segmento técnico-científico. Obstáculos

62 CARTOGRAFIA: UM BREVE PANORAMA HISTÓRICO


Mucio Piragibe Ribeiro de Bakker – Contra-Almirante (Refo)
Evolução do homem é acompanhada pela atividade cartográfica. Registro de con-
quistas. Exploração do fundo do mar, seu subsolo, da região antártica e do espaço, exigindo
novas concepções cartográficas

64 A HISTÓRIA MILITAR NA FORMAÇÃO DOS OFICIAIS DE MARINHA


Guilherme Mattos de Abreu – Contra-Almirante (RM1)
A importância da história na formação. Doutrina de liderança – traços de caráter
que o militar deve possuir, competências, habilidades. Absorção de exemplos de líderes, mo-
tivação para o aprimoramento técnico-profissional. Fixação de valores essenciais ao homem
77 A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A organização
e os meios de combate (Parte I)
Francisco Eduardo Alves de Almeida – Capitão de Mar e Guerra (RM1)
Início da série. A Marinha Real no século XVIII – organização e meios de com-
bate. Existiam de 6 a 8 esquadras: Canal, Mar do Norte, Mediterrâneo, Báltico, Índias
Ocidentais, Índias Orientais e Cabo. Em 1805 eram 534 navios em atividade

89 O regime das águas na Amazônia


Ronald dos Santos Santiago – Capitão de Mar e Guerra (RM1)
Breve relato sobre a Bacia Amazônica com fotografias mostrando aspectos da
região e das habitações ribeirinhas

95 Modal Marítimo – um desafio


Luiz Paulo Guimarães – Capitão de Mar e Guerra (Refo-IM)
Transporte marítimo – cabotagem – navegação interior. A Marinha e o sistema
marítimo de abastecimento

105 PIRATARIA MARÍTIMA FORA DE CONTROLE NO GOLFO DA GUINÉ


Henrique Peyroteo Portela Guedes – Capitão de Fragata (Marinha de Portugal)
Novo foco no Golfo da Guiné. Nigéria – emergente produtor de petróleo com
proliferação de crimes e de pirataria. União Europeia atuante no combate à pirataria no
Corno da África

115 MODERNIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CARTAS NÁUTICAS – BANCOs DE DADOS


Aluizio Maciel de Oliveira Junior – Capitão de Fragata
Sebastião Simões de Oliveira – Capitão de Fragata
Adriano Vieira de Souza – Capitão de Corveta
Flávia Mandarino – Capitão de Corveta (EN)
Produção por meio de bancos de dados – batimétricos e cartográficos. Segurança
da navegação

FRETE MARÍTIMO E SEU IMPACTO NA ARRECADAÇÃO TRIBUTÁRIA E NA


122
INFLAÇÃO
Gilberto Luiz do Amaral – Advogado
Isabel Vieira – Advogada
Letícia Mary Fernandes do Amaral – Advogada
Parcelas que compõem o frete; Influência no imposto de importação e no custo de
produtos e mercadorias. Inflação crescente em decorrência do frete marítimo

128 Aspectos Gerais dos Afretamentos de Embarcações Estrangeiras


na Marinha Mercante
Jonas Soares dos Santos Filho – Advogado
Disposições da Constituição. O transporte aquaviário – regimes de navegação.
Resoluções da Antaq para os regimes de navegação

137 A NAVAMAER E O ESPORTE NO MEIO MILITAR PROMOVENDO FORMAÇÃO,


CONSCIENTIZAÇÃO, INTEGRAÇÃO E CULTURA DE PAZ
Fernando Antonio Cardoso Garrido – Professor Doutor
Marcelo Pereira Marujo – Suboficial (FN-MU)
O advento da competição em 1938. Henrique Lage – idealizador e incentivador.
Importância do esporte. Desgastes físico e mental na guerra – preparo do homem. Teste
de avaliação física
150 A COMPETÊNCIA DO JULGAMENTO DE CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA
DE CIVIS QUANDO COMETIDOS NA DEFESA DA LEI E DA ORDEM
Gabriela Alarcon Guilherme Fernandes – Advogada
Emprego das Forças Armadas na defesa da lei e da ordem – hipóteses nesta
atribuição subsidiária. Diretrizes da Presidência da República e do Ministério da Defesa.
Código Penal Militar e a justiça comum. Atividade policial. Divergências doutrinárias e
jurisprudênciais

160 Moral e Ética: apresentação e consolidação desses conceitos nas


atividades que envolvem a liderança militar no Colégio Naval
Rodrigo Monteiro Lázaro – Capitão de Corveta
Liderança no meio militar. Aspectos conceituais de ética e moral na formação do
cidadão e do futuro oficial. No Colégio Naval, a geração Z em novo cenário de relaciona-
mento. Contribuição para atração e retenção de talentos individuais

169 HEGEMONIA E CONFLITO NO PÓS-GUERRA FRIA: A construção do inimigo


e a perpetuação da guerra
Charles Pacheco Piñon – Capitão de Corveta (FN)
Paz imposta pelo medo nuclear – Guerra Fria. Hegemonia americana – a contes-
tação e a ação – dinâmica das alianças. Enfraquecimento da soberania dos estados – inter-
ferência de grupos radicais ideológicos/religiosos

174 Reflexões acerca da Fertilização dos Oceanos


Maria Cecília Trindade de Castro – Capitão de Corveta (T)
Fertilização dos oceanos para mitigar mudanças climáticas. Geoengenharia para
minimizar efeitos – apoiar pesquisas. Princípios da precaução e da prevenção

181 Armas Químicas, uma Breve Revisão para um Assunto Atual


Fábio Triachini Codagnone – Primeito-Tenente (S)
Stanley de Souza Guedes – Primeito-Tenente (S-RM2)
Utilização na Primeira Guerra. Definição de arma química. Convenção
Internacional sobre proibição do desenvolvimento, produção, armazenamento e uso.
Classificação de agentes químicos, vesicantes, sanguíneos, asfixiantes. Respostas
contra agentes

189 DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E POLÍTICAS PÚBLICAS


Thalita Mayan Esquerdo Andrade – Estagiária de Serviço Social
Direitos humanos e novos paradigmas. Mudanças na sociedade – conquistas das
pessoas com deficiência. Formulação de políticas que garantam acesso e ingresso de defi-
cientes no setor público. Benefícios à sociedade

195 VIAGEM À ANTÁRTICA


Lohan Farias Molina Lopes – Aspirante
Almir Freire Pereira – Aspirante
Breve comentário sobre o Continente Antártico. Descrição da viagem. Atividades
no NP Almirante Maximiano
201 SUBMARINO NUCLEAR: PODER DE DISSUASÃO NO MAR
Daniel Theberge de Viveiros – Aspirante
Diego da Silva Cespes – Aspirante
Breve histórico. Funcionamento da planta e vantagens do emprego. O enriquecimento
do urânio – Programa Nuclear da Marinha. Benefícios no âmbito militar. A Base em Itaguaí

210 Necrológio

227 LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL


A importância e criação de um símbolo
Ronald dos Santos Santiago – Capitão de Mar e Guerra (RM1)
O símbolo do Grupamento Naval do Norte – concurso para criação do símbolo
na tripulação

229 Doações à dphdm

231 ACONTECEU HÁ CEM ANOS


Seleção de matérias publicadas na RMB há um século. O que acontecia em nossa
Marinha, no País e em outras partes do mundo

237 REVISTA DE REVISTAS


Sinopses de matérias selecionadas em mais de meia centena de publicações rece-
bidas do Brasil e do exterior

247 NOTICIÁRIO MARÍTIMO


Coletânea de notícias mais significativas da Marinha do Brasil e de outras
Marinhas, incluída a Mercante, e assuntos de interesse da comunidade marítima
A nova Fronteira: o Mar Profundo

Carlos Feu Alvim*


Professor Doutor
Luiz Philippe da Costa Fernandes**
Vice-Almirante (Refo)
Leonam dos Santos Guimarães***
Capitão de Mar e Guerra (RM1)

SUMÁRIO

Introdução
DSVs (Deep Submergence Vehicles)
DSRV (Deep Submergence Rescue Vehicle – EUA)
Submarinos nucleares de pequeno porte
Os ROV no Brasil
O Brasil na exploração do mar profundo

Introdução A imprensa1 destaca o fato de que, nos


Estados Unidos da América (EUA), empresas

O Mar Profundo é uma nova fronteira,


talvez a última, que ainda se apresenta
como desafio à humanidade em nosso pla-
importantes, capitaneadas por milionários de
visão, não hesitam em investir grandes somas
visando ao desenvolvimento de minissubma-
neta. O fundo do mar não é só uma fronteira rinos de pesquisa em grandes profundidades. É
do conhecimento que o Brasil tem todos os o caso, por exemplo, do fundador do “império”
motivos e condições para explorar. Virgin, Richard Bronson, e do presidente exe-
* Professor Doutor em Física, foi o primeiro secretário brasileiro da Agência Brasil-Argentina de Contabilidade e Con-
trole de Materiais Nucleares de 1992 a 2003. Atualmente é diretor superintendente da Oscip Economia & Energia.
** Secretário executivo da Comissão Nacional Independente sobre os Oceanos e Coordenador do Centro de
Excelência para o Mar Brasileiro (Cembra). Foi diretor de Hidrografia e Navegação (DHN) e secretário da
Comissão Interministerial de Recursos do Mar (Secirm).
*** Assistente do presidente da Eletrobras Eletronuclear e membro do Standing Advisory Group on Nuclear Energy
(Sagne) da Agência Internacional de Energia (AIEA). Foi coordenador do Programa de Propulsão Nuclear
do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP).
1 “O segredo do abismo” – O Globo, 3 de agosto de 2011, p. 30.
A nova Fronteira: o Mar Profundo

cutivo da Google (2011), Eric Schmidt, funda- Transcendendo a óbvia utilização dos
dor do Schmidt Ocean Institute. Não parece ser minissubmarinos para a localização de mi-
o interesse científico a motivação maior de tais nerais de interesse estratégico na plataforma
investimentos, mas o lucro. Cogita-se cobrar continental de cada país, há que se conside-
US$ 250 mil a quem se dispor a conhecer o rar, em termos da exploração dos recursos
que revelam as profundidades da Fossa das da Área, conforme previsto na Convenção
Marianas (10,9 km de profundidade em seu das Nações Unidas sobre o Direito do Mar
ponto mais fundo, a Depressão Challenger). (CNUDM), que o seu emprego poderá faci-
De fato, são múltiplos os interesses rela- litar muito o equilíbrio, em termos de valor
cionados à exploração comercial, das duas áre-
do Mar Profundo, não as a serem estabelecidas
cabendo aqui esmiuçá- Por ocasião do acidente pelos países interessa-
los todos. Mas há que
se fazer menção às suas
de vazamento de petróleo dos em tal exploração,
visando à escolha, pela
óbvias aplicações mi- no Golfo do México, o Autoridade Internacio-
litares (por exemplo, mundo assistiu perplexo nal dos Fundos Ma-
operações de inteligên- rinhos, de uma delas
cia e de minagem) e até às enormes dificuldades para a exploração a seu
à sua utilidade na pesca dos meios governamentais cargo2. Note-se que, na
de fundo. No campo da
exploração científica
do mais poderoso país do atualidade, a Rússia, a
China, a Coreia e a Fran-
dos grandes fundos, a mundo em diagnosticar e ça já possuem áreas de
utilização de submersí- resolver o problema exploração de sulfetos
veis especiais pode ser polimetálicos, atribuídas
de grande importância pela Autoridade3.
para a localização e a exploração científica Por ocasião do acidente de vazamento de
das fontes hidrotermais – cujo descobrimento petróleo no Golfo do México, o mundo as-
é relativamente recente –, que remete bió- sistiu perplexo às enormes dificuldades dos
logos e químicos ao fascinante estudo dos meios governamentais do mais poderoso
organismos que, em temperaturas muitíssimo país do mundo em diagnosticar e resolver
elevadas, dependem para viver não mais da o problema. Parte disso se explica pelo fato
fotossíntese, mas da quimiossíntese. A pró- de o acidente ser de responsabilidade de
pria fauna pelágica de águas profundas, por uma empresa privada e que, portanto, por
suas peculiares adaptações, também é objeto ela deveria ser resolvido. Para a solução do
de grande interesse biológico. problema foi de grande valia a utilização
As profundezas do mar guardam, por de veículos e robôs telecomandados. Tais
outro lado, riquezas minerais que já estão robôs também são usados no Brasil em ta-
sendo objeto de pesquisas e, em alguns refas de exploração e pesquisa de petróleo
casos, de exploração comercial. e de manutenção de equipamentos.

2 Nos termos da CNUDM, Área significa “o leito do mar, os fundos marinhos e o seu subsolo, além dos limites da
jurisdição nacional”. A Área e seus recursos são considerados patrimônio comum da humanidade. A Autori-
dade é o sistema que organiza e controla as atividades na Área, particularmente com respeito a seus recursos.
3 O Brasil e o mar no século XXI – Relatório aos tomadores de opinião do País, Ed. Virtual em www.cembra.org.
br, Capítulo V – Recursos Minerais, p. V-12.

10 RMB3oT/2013
A nova Fronteira: o Mar Profundo

Parece lógico considerar que a presença petróleo em águas profundas. Recentemente


de submarinos tripulados poderia ser de está desbravando uma nova fronteira que
grande utilidade em uma circunstância como envolve não somente o mar profundo, mas
aquela. O assunto foi debatido em reunião do também o correspondente subsolo profundo.
Centro de Excelência para o Mar Brasileiro Para explorar o petróleo na camada pré-sal é
(Cembra)4 quando foi exposta certa surpre- necessário vencer, em alguns casos, profundi-
sa por, aparentemente, não ter a Marinha dades de 7 km, dos quais 2 km de água e 5 km
americana recursos para fazer as necessárias de subsolo, incluindo 2 km de camada de sal.
intervenções. Na ocasião, chegou a ser indi- Assim como os EUA promoveram um
cado que tais atividades não estariam dentro grande esforço para analisar as pedras
das atribuições precípuas da US Navy, cuja coletadas na Lua pelas missões Apolo
missão é a de defesa, apenas intervindo em (que finalmente não geraram resultados
caso de ameaças de natureza militar. Ficou espetaculares), deveríamos estar realizando
a dúvida, no entanto, se havia ou não, nos um esforço investigativo sobre esse sal e
EUA, os recursos para fazê-lo. Essa dúvida sobre outros materiais existentes ao longo
será esclarecida um pouco mais adiante neste do trajeto das sondas. Análises isotópicas,
trabalho, ao abordar-se o submersível Alvin. químicas e biológicas deveriam merecer
À época, a internet mostrava que o recorde atenção especial dos cientistas brasileiros.
de profundidade de uma
embarcação tripulada
cabia ao batiscafo (sub-
mersível para grande
profundidade) Trieste,
projeto de um cientista
suíço, construído na
Itália. Pesquisa poste-
rior mais aprofundada
revelou, em seguida,
que o referido projeto
fora encampado pela
Marinha americana, que
assumiu sua coorde-
nação, mantendo o nú-
cleo da equipe original,
como reconhecimento A camada pré-sal5
ao papel fundamental
de seus idealizadores. Na avaliação dos geólogos, este sal se acu-
Mas há um aspecto que diz respeito mulou paulatinamente no fundo do mar inte-
especificamente ao nosso país e que está a rior do continente comum que unia América
merecer destaque especial. O Brasil foi e do Sul e África há muitos milhões de anos,
continua sendo pioneiro na exploração do na última fase da separação do Gondwana.6
4 http://cembra.org.br/
5 http://www.passeiweb.com/saiba_mais/atualidades/1252441608
6 Grande massa continental localizada no Hemisfério Sul há cerca de 180 milhões de anos e composta pelas atuais
América do Sul, África, Oceania, Antártica e o subcontinente indiano (http://pt.wikipedia.org/wiki/Gondwana)

RMB3oT/2013 11
A nova Fronteira: o Mar Profundo

râneo em 1953 e atingiu


uma profundidade má-
xima recorde de 10.911
metros, na parte mais
profunda conhecida dos
oceanos, a Depressão
Challenger, na Fossa
das Marianas perto de
Guam, em 23 de janeiro
de 1960, tripulado por
Jacques Piccard (filho
do designer do barco,
Auguste Piccard) e pelo
tenente da Marinha dos
EUA Don Walsh, que
alcançou a meta do Pro-
jeto Nekton9 de chegar
às maiores profundida-
des do oceano.
Gondwana
O Trieste está em ex-
posição no estacionamen-
Sucessivos períodos de inundação e seca to do Museu Nacional
teriam contribuído para essa formação, que de Submarinos (HNSA) dos EUA, ao lado
se repete na margem africana do Atlântico,
onde também o petróleo do pré-sal está pre-
sente. Nas avaliações do United States Geo-
logical Survey (USGS) sobre petróleo e gás
natural a serem descobrertos nos próximos
anos, o maior volume está na América do
Sul e no Caribe (45% no Brasil), seguidos
da África Subsaariana7.

DSVs (Deep SubmeRgence


Vehicles)

Trieste

O batiscafo Trieste foi um projeto suíço


construído na Itália, para pesquisar o mar
profundo com uma tripulação de dois pas-
sageiros8. O Trieste foi lançado no Mediter- Foto do Batiscafo Trieste

7 An Estimate of Undiscovered Conventional Oil and Gas Resources of the World, 2012. http://pubs.usgs.gov/
fs/2012/3042/fs2012-3042.pdf
8 http://en.wikipedia.org/wiki/Bathyscaphe_Trieste
9 http://en.wikipedia.org/wiki/Project_Nekton

12 RMB3oT/2013
A nova Fronteira: o Mar Profundo

Lastros metálicos, presos magneticamente,


permitiam aumentar o peso do batiscafo para
acelerar a descida. Quando retirados, o empu-
xo fazia a nave emergir (efeito análogo ao dos
sacos de areia que carregam os balões). Como
estavam acoplados magneticamente, em caso
de falha da eletricidade (provida por baterias)
os pesos se desprenderiam e o Trieste voltaria
automaticamente à superfície. Tanques de
lastro internos com gasolina (menos densa
que a água) garantiam o empuxo para cima
Batiscafo Trieste10 após liberados os lastros metálicos. Um siste-
da Escola de Guerra Naval Submarina, em ma de reciclagem do ar (cilindros de oxigênio
Keyport, Washington.11 e absorção química do CO2) permitia purificar
O habitáculo (esfera de pressão) do o ar, como nos submarinos militares.
Trieste é mostrado a seguir. É ele que abriga É interessante notar que o Trieste, após
os mergulhadores. A concepção da nave é seu lançamento, passou a ser operado pela
resultado das experiências do seu criador, Marinha francesa e, mais tarde (1958), foi
Auguste Piccard, com balões que chegavam adquirido pela Marinha americana por 250
próximo à estratosfera. mil dólares (cerca de 2 milhões de dólares
O batiscafo tinha a capacidade de atuar em moeda de hoje). O Trieste foi aperfei-
independentemente do navio-mãe, não preci- çoado pelos americanos, dentro do Projeto
sando de cabos umbilicais. Uma janela cônica Nekton, e alcançou o ponto mais fundo do
de plexiglass permitia a observação direta. mar em 1960, como já indicado.

Deepsea Challenger

A façanha do Trieste só seria repetida


em março de 2012, pelo cineasta James
Cameron a bordo do Deepsea Challenger
(ver esquema do submersível adiante). Sua
expedição foi patrocinada pela National
Geographic Society com apoio da Rolex,
sendo objeto de um filme em 3D.
O equipamento de James Cameron pode
ser visto em pequenos vídeos disponíveis
na internet13. Como também ocorreu no
Trieste em 1960, um relógio experimental
Rolex foi colocado no exterior do batiscafo,
tendo suportado as altíssimas pressões do
Habitáculo do Trieste12 fundo e funcionado perfeitamente. Há um

10 http://en.wikipedia.org/wiki/File:Bathyscaphe_Trieste.jpg
11 http://www.hnsa.org/ships/triesteii.htm
12 http://www.infovisual.info/05/062_en.html
13 http://deepseachallenge.com

RMB3oT/2013 13
A nova Fronteira: o Mar Profundo

projeta e fabrica submarinos privados,


cujo veículo, Triton 36000/3, pretende le-
var de um a três tripulantes ao ponto mais
profundo do mar em cerca de 120 minutos.
– Virgin Oceanic, patrocinado pelo
Grupo Virgin, de Richard Branson, que
está desenvolvendo um submersível
projetado por Graham Hawkes, chama-
do DeepFlight Challenger, em que um
único tripulante descerá ao ponto mais
profundo do mar em 149 minutos.

Deepsea Challenger

vídeo no mesmo site que conta a história


da experiência do Trieste14.
O Deepsea Challenger foi fabricado na
Austrália, sendo o construtor Acheron Project
Pty Ltd. O chefe da equipe foi Ron Allun, res-
ponsável pela elaboração do material para a
espuma que reduz a densidade do submarino,
substituindo a gasolina em tanques de lastros
internos existentes no Trieste. Este material,
denominado isofloat, tem forte resistência à
compressão, sendo composto de resina con-
tendo bolas de vidro ocas, proporcionando
uma densidade ainda inferior à da gasolina
e, portanto, um empuxo maior em menor
volume ocupado. O isofloat tem uma densi-
dade de 0,7 e preenche 70% do batiscafo. O
peso total é menos de um décimo do Trieste,
o que facilita seu tempo de subida e descida.
Em fevereiro de 2012,15 vários outros
veículos estavam em desenvolvimento para
atingir profundidades similares. Os grupos
com projetos em desenvolvimento incluem:
– Triton Submarines, de uma compa-
Deepsea Challenger – Arranjo Geral
nhia privada, com sede na Flórida, que

14 http://deepseachallenge.com/the-expedition/rolex-deepsea-history/
15 http://en.wikipedia.org/wiki/Deepsea_Challenger

14 RMB3oT/2013
A nova Fronteira: o Mar Profundo

– Doer Marine, de uma companhia por três “oceanautas”, recebidos na China


com sede em São Francisco, que está como heróis nacionais. Todos os detalhes de
desenvolvendo o veículo Deepsearch uma missão anterior de 47 dias, anunciada em
(Ocean Explorer HOV Unlimited) com 2011, foram considerados secretos. Em julho
algum apoio de Eric Schmidt, da Goo- de 2012, em solenidades comemorativas do
gle, e que pretende atingir o ponto mais recorde de profundidade na China, o submer-
fundo do mar em cerca de 90 minutos. sível foi exposto à visitação pública.
Um detalhe interessante é que o Jiao-
Jiaolong (China) long é parte do programa 863 da China16,
de alta tecnologia, que também se ocupa da
A China, com o desenvolvimento de um estação espacial Shenzhou.
submersível denominado Jiaolong, acaba O governo chinês pretende assumir po-
de entrar nesta corrida com objetivos que sição destacada na exploração de depósitos
estão longe do simples desafio de conhecer minerais no fundo do mar. No contexto, as-
novas fronteiras. O nome vem de um dra- sinou um acordo com a Autoridade Interna-
gão da água da mitologia chinesa. Ele foi cional dos Fundos Marinhos (International
concebido para atingir 7 mil metros de pro- Seabed Authority – ISA) para mapear uma
fundidade. Em julho de 2011, estava sendo área de 30 mil milhas quadradas no Pací-
testado para mergulhar a 5 mil metros. fico. A China, que tem limitados recursos
O submersível chinês, embora conce- naturais, estaria se habilitando para explo-
bido para atividades de pesquisa, também rar, com licença da ISA, recursos minerais
pode ser empregado em atividades de que vão desde o petróleo até o cobre e o
exploração mineral. Dispõe de visores de carvão,17 segundo Wang Pinxian, chefe do
observação, braços mecânicos e meio de Laboratório Estatal de Geologia Marinha
propulsão. Sua tripulação foi treinada nos de Universidade de Tongji.
EUA, utilizando o Submarino Alvin, que é
abordado a seguir. Alvin (EUA)
Em 25 de junho de 2012, o Jiaolong atingiu
a profundidade de 7.020 m, que é seu novo O Alvin,18 lançado em 1964 pelos EUA,
recorde. O veículo, na ocasião, era tripulado protagonizou várias missões importantes,
como a recuperação de uma bomba H perdi-
da no Mediterrâneo (acidente de Palomares,
sobre a Espanha, com um B52, durante
abastecimento em voo19) e a localização de
um submarino de propulsão nuclear naufra-
gado, armado com torpedos nucleares (USS
Scorpion SSN-58920). O próprio Alvin tam-
bém naufragou (1968) e esteve alguns anos
afundado, sendo recuperado posteriormente
Jiaolong (1973). Participou, ainda, da monitoração do

16 http://en.wikipedia.org/wiki/863_Program
17 http://news.xinhuanet.com/english/photo/2012-07/16/c_131718236_7.htm
18 http://pt.wikipedia.org/wiki/DSV_Alvin
19 http://en.wikipedia.org/wiki/1966_Palomares_B-52_crash
20 http://pt.wikipedia.org/wiki/USS_Scorpion_(SSN-589)

RMB3oT/2013 15
A nova Fronteira: o Mar Profundo

exportação, este tipo de submersível não


pode ser vendido para fora dos EUA.

Mir (Rússia)

O Mir21 é um DSV russo capaz de trans-


portar três tripulantes e atingir 6 mil metros
de profundidade. A esfera de contenção
tem 2 metros de diâmetro e é feita de uma
liga aço-níquel.

Alvin Mir

acidente da British Petroleum BP no Golfo Nautile (França)


do México. Ou seja, houve participação
de autoridades americanas monitorando o O Nautile é capaz de atingir uma profun-
mencionado acidente petrolífero. didade de 6 mil metros. Utiliza tecnologias
Os trabalhos realizados com o Alvin deram derivadas do desenvolvimento de subma-
origem a cerca de 2 mil artigos científicos. rinos nucleares e é operado pelo Instituto
Em 2011, estava sendo remodelado, sendo Francês para a Exploração do Mar (Ifremer).
prevista a instalação de um novo habitáculo Trabalha principalmente em pesquisa,
(esfera inferior) de titânio, um pouco maior mas também atende a demandas especiais do
que o original. O Alvin pesa 17 toneladas e Governo francês. Recentemente se ocupou
tem lugar para dois cientistas e um piloto. da procura dos restos do avião da Air France
Outras unidades similares da linha Alvin fo- que caiu no mar em voo Rio de Janeiro-Paris.
ram construídas para a Marinha, mas somente
o Alvin presta serviços à National Oceanic
Atmosferic Administration (NOAA).
Em agosto de 2004, a National Science
Foundation anunciou a criação de um Hu-
man Occupied Vehicle (HOV) capaz de
atingir os 6.500 m de profundidade, de acor-
do com notícia publicada no site da Woods
Hole Oceanographic Institute (WHOI).
Esse tipo de unidade deverá substituir os da
classe Alvin, capazes de mergulhar somente
até 4.500 m. Devido a leis de restrição de Nautile
21 http://en.wikipedia.org/wiki/Mir_(submersible)

16 RMB3oT/2013
A nova Fronteira: o Mar Profundo

Shinkai 6500 (Japão)

O DSV japonês Shinkai 6500 operou,


recentemente, ao largo de nosso litoral,
por força de um convênio firmado entre
o Brasil (Serviço Geológico do Brasil) e
o Japão (Agência Ciência e Tecnologia
para o Mar e a Terra), a partir do Navio-
Oceanográfico Yokosuka. O Shinkai, capaz
de mergulhar até 6.500 m, manteve o
recorde de profundidade para esse tipo de
Shinkai 6500
veículo até 2012.
Segundo a imprensa (O Globo, 7 Em outra área de trabalho, a Elevação
de maio de 2013 22), a expedição con- do Rio Grande, foram encontradas cla-
junta denominou-se ras evidências de que
Iatá-Piúna (o que, em tal região submarina
tupi-guarani, significa Há evidências na Elevação constituir-se-ia parte
“navegando em águas do Rio Grande que podem submersa de nosso lito-
profundas”). Cientistas ral, configurando o que
brasileiros participa- ter importantes implicações está sendo denominado
ram das atividades de para a demarcação de nossa de “Atlântida Brasilei-
coleta de amostras no ra”. Cabe indicar que,
fundo do mar em sete plataforma continental a se confirmarem tais
expedições, em pro- primeiras evidências, o
fundidades de cerca de 2 mil metros. Os fato poderá assumir importantes implicações
trabalhos incluíram a Dorsal de São Paulo e no que respeita à demarcação de nossa plata-
iriam estender-se ao platô de mesmo nome. forma continental.

DSRV Deep
Submergence Rescue
Vehicle (EUA)

Os dois Deep Submergence


Rescue Vehicle – DSRV24, da US
Navy (Mystic e Avalon), são veícu-
los de submersão profunda usados
para socorro e salvamento de sub-
marinos avariados ou em missões
de inteligência. DSRV é um termo
usado pela Marinha americana. Ou-
Topografia geral da Elevação de Rio Grande. Os retângulos indicam a tras Marinhas utilizam outras siglas
localização de folhas cartográficas da região, na escala de 1:1.000.00023
para o mesmo tipo de veículo.
22 http://oglobo.globo.com/ciencia/encontrada-no-fundo-do-oceano-atlantida-brasileira-8311057
23 Op cit., Capítulo V – Recursos Minerais, p. V-11.
24 http://en.wikipedia.org/wiki/Deep-submergence_rescue_vehicle

RMB3oT/2013 17
A nova Fronteira: o Mar Profundo

O DSRV é projetado para resga-


tar 24 pessoas ao mesmo tempo, em
profundidades de até 600 m (2 mil
pés). Atinge a profundidade máxima
de 1.500 m (5 mil pés). A energia é
fornecida por duas baterias de gran-
de porte, a vante e a ré, que alimen-
tam os sistemas de suporte elétrico,
hidráulico e de sobrevivência. Ele
pode acoplar-se ao submarino em
dificuldade, mesmo que adernado de
45°, e ser transportado por um avião
do tipo C-5 Galaxy Lockheed, da
Força Aérea americana. Austrália,
China, França, Noruega, Reino Uni- Anteprojeto da Unidade Submarina de Resgate
do, Coreia, Rússia e até Cingapura
têm esse tipo de veículo. Submarinos Nucleares de
Embora a profundidade de operação Pequeno Porte
desses veículos seja inferior à dos anterior-
mente tratados, a sua presença em tantas A ideia de desenvolvimento de peque-
Marinhas significa que o desenvolvimento nos submarinos nucleares para operação
de um veículo capaz de atingir grandes em águas profundas surgiu na década de
profundidades tem sinergia com os veículos 60, com objetivos ligados a operações
de socorro e salvamento submarino. especiais no contexto da Guerra Fria. Os
EUA construíram à época o NR-1. Um
interessante relato dessas operações
especiais é feito no livro Dark Waters:
An Insider’s Account of the NR-1, the
Cold War’s Undercover Nuclear Sub25:
A União Soviética também desen-
volveu projetos similares, porém com
propulsão convencional. Só recente-
mente a Rússia desenvolveu o projeto
Losharik, com o objetivo de explorar o
mar profundo do Oceano Ártico.
Na Marinha do Brasil, a então Co-
DSRV pesp, (hoje CTMSP) desenvolveu, no
No Brasil, ao final da década de 90, foram início dos anos 90, o chamado projeto
feitos estudos pela empresa Consub para Voga para propulsão de um submarino
concepção de um DSRV para a Marinha do nuclear de pequeno porte denominado
Brasil, denominado USR-1 (Unidade Sub- Candiru, em colaboração com a empresa
marina de Resgate). Esse projeto, entretanto, Consub. Essa iniciativa, entretanto, foi
não teve prosseguimento. descontinuada em 1994.

25 http:/books.google.com.br/books/about/Dark_Waters.html?id=DMaMQgAACAAJ&redir_esc=y

18 RMB3oT/2013
A nova Fronteira: o Mar Profundo

NR-1 (EUA)

O Deep Submergence Vessel NR-1


é um caso único de submarino nuclear
dedicado a pesquisa e engenharia
submarina. Construído pela Electric
Boat Division, da General Dynamics,
em Groton, Connecticut, e lançado em
25 de janeiro de 1969, foi desativado
em 2008.
Às suas atividades, sempre foi
atribuído alto grau de sigilo pela US
Navy. A ele confere-se a instalação do Losharik
sistema Sosus26 de escuta submarina,
no auge da Guerra Fria. cafo e submarino nuclear capaz de operar
Suas principais características eram: até a 6 mil metros de profundidade. Este
deslocamento de 400 toneladas; compri- navio estaria sendo usado em perfurações
mento de 45 metros; boca de 3,8 metros; e exploratórias no fundo do Ártico.
tripulação de 13 homens. Atingia profundi-
dades da ordem de 800 metros e era movido Os ROV no Brasil
por um pequeno reator nuclear27.
Os HOV (Human Occupied Vehicle),
acima mencionados, se contrapõem aos
ROV (Remotely Operated Vehicle). O ROV
é extensivamente usado na exploração
de petróleo, inclusive no Brasil. Existem
empresas que se especializam em locação
de ROV para a indústria do petróleo. É o
caso, por exemplo, da Fugro29. No Guia
Oil & Gas Brasil, 14 empresas oferecem
serviços de ROV30.
Mais baratos do que os HOV, permitem
NR-1 a participação simultânea de pesquisadores
de várias áreas em cada operação, graças à
Losharik (Rússia) projeção das imagens obtidas em telas de
vídeo, nos laboratórios dos navios a partir
Entre os submarinos de pequeno porte, dos quais operam.
pode-se citar ainda o Losharik russo,28 que Seu uso em explorações científicas é
seria uma composição de esferas de batis- bastante limitado em nosso país. Publicação

26 Sound Surveillance System dos EUA, para monitorar, por meio de sinais sonoros, submarinos soviéticos.
http://en.wikipedia.org/wiki/SOSUS
27 http://www.rand.org/content/dam/rand/pubs/monograph_reports/MR1395/MR1395.ch2.pdf
28 http://www.globalsecurity.org/military/world/russia/210.htm
29 http://www.fugro-br.com/rov.asp
30 http://www.guiaoilegas.com.br/

RMB3oT/2013 19
A nova Fronteira: o Mar Profundo

Mancuso Tupinambá, que é pioneiro na


atividade empresarial na área e entusiasta
da exploração pelo Brasil da fronteira do
Mar Profundo33.
Recentemente, chegou ao País o ROV
denominado Glider (primeiro de três),
operado pela firma Prooceano, para ex-
plorar o litoral entre Rio de Janeiro e São
Paulo, na área do pré-sal. Os trabalhos, que
constituem o chamado Projeto Azul, obje-
FCV 3000 da Fugro tivam obter informações científicas que se-
do Cembra31 já apontava, como possível rão analisadas em laboratório do Instituto
Projeto Estruturante, o desenvolvimento Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação
de submersível para pesquisas no País. À e Engenharia da Universidade Federal do
época (2010), somen- Rio de Janeiro (Coppe-
te a Universidade de UFRJ), visando ao de-
São Paulo (USP) e o O Brasil deveria criar senvolvimento de um
Instituto de Ciências modelo matemático
do Mar (Labomar)/
um programa de governo capaz de prever as con-
Universidade Fede- cujo objetivo maior fosse dições oceanográficas,
ral do Ceará (UFC) avançar na fronteira do asãoexemplo da previ-
meteorológica. Tal
possuíam veículos
ROV deste tipo, mas conhecimento tecnológico ROV pode submergir
limitados a cerca de no Mar Profundo até mil metros. Movi-
uma centena de me- do a bateria de lítio,
tros de profundidade. tem autonomia de seis
Na Marinha do Brasil, o seu Instituto de meses e é capaz de coletar dados sobre
Pesquisas (IPqM) já efetuava estudos sobre temperatura da água, pressão, oxigênio
componentes essenciais dos ROV, parte dissolvido, nível de turbidez e clorofila34.
de programa mais amplo. A Universidade
Federal do Rio Grande (Furg) tem um pro-
grama visando à construção de ROV, com
trabalhos experimentais na área.
A Consub32 é uma companhia brasileira
com forte atuação na área de equipamentos
submarinos e reivindica ter sido responsá-
vel pela construção do primeiro ROV no
Brasil a atingir a profundidade de 1.000
metros. Ela construiu um submarino de uso
turístico. A empresa foi fundada por Paulo ROV da Consub, capaz de operar a 1.000 metros

31 Conceitos Básicos e Estratégia, 5a atualização, 1 jul. 2010 (encontrado em www.cembra.org.br).


32 http://www.ussubmarines.com/faq/consub.pdf
33 Tupinambá, P. M. (outubro de 1989). “A Engenharia Submarina e o Desafio das Águas Profundas”. Pesquisa
Naval, 155-161.
34 O Globo, RJ, “Robô chega à Bacia de Campos para estudar mar sobre o pré-sal”. 5 mar. 2013, p. 32.

20 RMB3oT/2013
A nova Fronteira: o Mar Profundo

As atividades do pré-sal propiciaram uma tâncias, cria todas as condições para que
intensa procura por ROVs, já estando em curso passemos a atribuir prioridade à solução do
esforços para produzi-los no Brasil. O primeiro problema: a construção (ou a obtenção, de
ROV parcialmente fabricado no País, tipo Li- forma mais ampla) de um submersível com
ght Work Class, alcançaria 30% de nacionali- capacidade para três ou quatro tripulantes/
zação.35 A expectativa é que tal ROV, chamado cientistas visando à realização de pesquisas
“Dragão do Mar”, possa executar até 60% das científicas/exploração mineral.
operações submarinas possíveis, como ativi- Uma etapa intermediária seria buscar
dades de montagem, inspeção e manutenção, uma participação no esforço atual de levar
coleta de materiais e pesca, entre outras. O veículos monotripulados a grandes pro-
equipamento, que é mais leve e possui meno- fundidades. A empreitada mostrou-se ao
res dimensões que os ROVs tradicionais, terá alcance de empreendedores privados (Na-
capacidade para operar em lâmina d’água de tional Geographic Society, Google e outras
até 3 mil metros de profundidade. A Armtec, empresas), como já ocorrera, 50 anos atrás,
uma das empresas responsáveis pelo projeto, na fabricação do Trieste, graças a iniciativa
já desenvolveu ROVs capazes de operar até suíço-italiana, com a participação da Rolex.
300 m e faz parte da incubadora de empresas Associar-se ou até mesmo comprar um
da Universidade Federal do Ceará. A empresa desses veículos (como fizeram os americanos
também está desenvolvendo um ROV-AUV quando se interessaram pelo Trieste) seria um
para a Marinha do Brasil, projeto orçado em caminho. No momento, parece que não existe
R$ 3 milhões, sendo R$ 2,6 milhões financia- um impedimento explícito a exportação ou
dos pela Financiadora de Estudos e Projetos transferências de tecnologia envolvendo
(Finep). O equipamento atuará na varredura projetos de menor porte de HOVs existentes,
de minas submarinas, mas também poderá ter embora os três outros anteriormente citados
aplicações na indústria de óleo e gás. (além do de Cameron) sejam americanos e
possivelmente sujeitos a algum tipo de restri-
O Brasil na Exploração do ção de transferência de tecnologia.
Mar Profundo Na área dos multitripulados, as dificulda-
des para obter tecnologia externa podem ser
O Brasil deveria criar um programa de maiores, pelo menos em relação aos EUA,
governo cujo objetivo maior fosse avançar mas existem alternativas, como o Mir russo e
na fronteira do conhecimento tecnológico no o Nautile francês. Este, quem sabe, poderia ser
Mar Profundo, com o propósito de explorar objeto de uma extensão do acordo já vigente
nossa plataforma continental e regiões da entre o Brasil e a França para construção de
Área, de nosso maior interesse. A atuação submarinos. O que não parece lógico é o Brasil
científica e a tecnologia brasileira na fronteira estar ausente nesta área de ponta tecnológica.
do Mar Profundo são ainda modestas em re- Esta iniciativa seria apenas uma, no con-
lação a seu interesse econômico e estratégico texto do grande esforço científico/tecnológico
para o País. No entanto, o Mar Profundo já é que se faz necessário para que o País avance no
uma prioridade econômica, na medida em que estratégico conhecimento das águas profundas
nosso petróleo vem e virá de águas profundas. e no domínio das tecnologias correlatas.
Esta é uma área tecnológica de ponta, e a Todos estes DSV têm contribuído para a
exploração do pré-sal, entre outras circuns- elaboração de milhares de trabalhos científi-

35 http://portalmaritimo.com/2012/06/01/rov-nacional-com-30-de-conteudo-local/#more-23148

RMB3oT/2013 21
A nova Fronteira: o Mar Profundo

cos. No Brasil, além de servir de plataforma viabilizem o início, no País, da familiarização


para tais atividades científicas, estes veículos de grupos de pesquisa com veículos suba-
submarinos serviriam para formar e manter quáticos, tripulados ou não, que permitam
grupos de cientistas trabalhando em áreas o estudo de fenômenos oceanográficos e/ou
que dariam retorno às atividades de explo- possibilitem o desenvolvimento de tecnologias
ração das riquezas do fundo do mar. por observação direta, abaixo da superfície.”
Vale, nesta altura do trabalho, indicar Com a inclusão do Ministério da Ciência,
que, já na primeira edição de O Brasil e o Tecnologia e Inovação, tal consideração é
Mar [ ... ]36, pelo Centro de Excelência para muito atual nos dias que correm, cabendo
o Mar Brasileiro (Cembra), em 1998 (com reafirmar a disposição do Cembra em con-
repetição em sua segunda edição – 2012), duzir estudos exploratórios neste sentido.
consta o seguinte: A obra acima citada, já com edição
“Outro ponto a ser considerado, com a virtual posterior à segunda, alinha informa-
indispensável utilização da Marinha e da ções, no capítulo V – Recursos Minerais,
Petrobras, seria a análise de alternativas que sobre a importância política e estratégica,

Localização geral da área mapeada pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais – Serviço Geológico do
Brasil (CPRM) na Cordilheira Meso-Atlântica, visando à identificação de depósitos hidrotermais associados à
presença de sulfetos polimetálicos37

36 http://www.cembra.org.br/segundoprojeto.html
37 Op. cit. Cap. V – Recursos Minerais.

22 RMB3oT/2013
A nova Fronteira: o Mar Profundo

senão até geopolítica, de o Brasil lançar-se A construção de um submersível como o


à exploração mineral dos recursos minerais Deepsea Challenger australiano parece per-
existentes em sua plataforma e, mirando feitamente ao alcance dos recursos nacionais,
o futuro, dos recursos minerais das áreas já que tanto sua construção como a do Trieste,
contíguas da Área, de maior interesse. A há 60 anos, foram praticamente financiadas
propósito, programa conduzido pelo Servi- pela iniciativa privada em sua versão inicial.
ço Geológico do Brasil – o Proarea – já tem A etapa seguinte seria a construção,
os primeiros resultados sobre ocorrências pela Marinha do Brasil, de um DSV na-
de minérios em nossa plataforma e em cer- cional que poderia aproveitar a experiência
tas regiões contíguas francesa de construção
da Área, para o que do Nautile, dentro do
foi utilizado o Navio O Brasil parece já estar acordo vigente com a
Hidrográfico Sirius, da França ou em coopera-
Marinha do Brasil, e navegando no Mar ção com outros países
foram contratados dois Profundo. Falta assumir que detêm essa tecno-
outros navios oceano-
gráficos estrangeiros:
esta tarefa como um desafio logia. Esse tipo de mi-
nissubmarino de águas
o Navio Oceanográfico nacional profundas é visto como
(NO) Marion Dufres- instrumento essencial
ne, do Instituto Polar para a exploração das
Francês, e o NO Ocean Stalwart. Para a riquezas do fundo do mar e no atendimento
indispensável complementação de tais de eventuais emergências.
levantamentos, o País viu-se obrigado a Como uma janela para o futuro, a Rússia
utilizar, como já mencionado, o DVS ja- já está ensaiando o uso de um minissubma-
ponês Shinkai 6500. A disponibilidade de rino nuclear para a exploração em águas
um DVS nacional para a realização de tais profundas seguindo os passos já dados
trabalhos, de vital importância estratégica pelos EUA com o NR-1 na década de 70.
para o País, permitiria evitar a dependência Como se sabe, a necessidade de calor e
de submersíveis estrangeiros. força motriz é um dos grandes obstáculos

Nuclear Underwater Gas Transfer Station (Rússia)38 Flexblue (França)39

38 http://en.wikipedia.org/wiki/Rubin_Design_Bureau
39 http://www.world-nuclear-news.org/NN_Deep_sea_fissiom_2001111.html

RMB3oT/2013 23
A nova Fronteira: o Mar Profundo

na exploração do petróleo ou de outro re- Como disse o Presidente Kennedy quan-


curso mineral no Mar Profundo. O uso da do engajou os EUA no Projeto Apolo, este é
energia nuclear para essas aplicações pode um novo oceano que devemos navegar. Na
trazer uma revolução tecnológica para o verdade, o Brasil parece já estar navegando
setor. Rússia e França são líderes nesses no Mar Profundo. Falta assumir esta tarefa
desenvolvimentos. como um desafio nacional.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<CIÊNCIA E TECNOLOGIA>; Pesquisa; Estudo de oceano; Ciência e Tecnologia na
Marinha; Tecnologia; Submarino; Submersíveis; Veículo não tripulado;

A RMB considera que a notícia a seguir transcrita se relaciona


ao tema do artigo “A nova fronteira: o mar profundo” e o comple-
menta, ao mostrar a atualidade brasileira em absorção e aplicação
de técnica e tecnologia.

BRASIL RECEBE DA CHINA MAIOR


EQUIPAMENTO NAVAL DO MUNDO

O maior equipamento de engenharia Companhia de Indústria de Construção Na-


de mar profundo do mundo já construído val de Wuchang, da China, entregará quatro
será entregue em breve para a Petrobras. A conjuntos de boias e 16 conjuntos de bases

24 RMB3oT/2013
A nova Fronteira: o Mar Profundo

para a empresa, como parte do Projeto de


Boias e Fundações para Sapinhoa-Lula
NE BSR. A instalação será em um campo
petrolífero em alto mar no Brasil, para
operação por um período de 27 anos.
O equipamento é capaz de se adaptar
em ambiente marinho profundo e ampliará

em larga escala o âmbito de exploração de


petróleo em alto-mar. As boias permane-
cem submersas a aproximadamente 200
metros, de onde sustentam os risers, desde
a profundidade delas até o fundo – cerca
de 2.250 m.
O peso das linhas acima até o navio é
dividido entre este e as boias, que equili-
bra a quase totalidade do peso. As boias
também evitam a transmissão dos efeitos
dinâmicos da superfície para os risers. Este
é o primeiro sistema do mundo construído
desta forma.
(Fonte: http://www.engenhariae.com.br)

RMB3oT/2013 25
O fortalecimento da Contrainteligência no
âmbito do Sistema de Proteção ao Programa
Nuclear Brasileiro (SIPRON)*

RENATO FERREIRA JÁCOMO DOS SANTOS**


Capitão de Fragata
VIVIANE DA SILVA SIMÕES***
Analista de Relações Internacionais

SUMÁRIO

Introdução
Espionagem e contraespionagem
Um conhecimento nacional a ser protegido
Mentalidade de contrainteligência no Brasil
A operacionalização da contrainteligência no Sipron
Conclusão
Apêndice

INTRODUÇÃO Nesta nova competência identificamos


a aplicação da Contrainteligência, definida

O Sistema de Proteção ao Programa


Nuclear Brasileiro (Sipron) foi insti-
tuído originalmente em 1980, por meio do
como a “atividade que objetiva prevenir,
detectar, obstruir e neutralizar a inteligên-
cia adversa e ações de qualquer natureza
Decreto-Lei 1.809, para atender às neces- que constituam ameaça à salvaguarda de
sidades de segurança do Programa Nuclear dados, informações e conhecimentos de
Brasileiro (PNB). interesse da segurança da sociedade e do
Em 2012, a Lei 12.731 reformulou as Estado, bem como das áreas e dos meios
atribuições do Sipron com vistas a conferir- que os retenham ou em que transitem”
lhe a competência específica de coordenar (BRASIL, 2002).
as ações para proteger os conhecimentos e a No desenvolvimento deste trabalho, pes-
tecnologia relativos àquele Programa. quisando em fontes abertas, apreciaremos

* Adaptação do Trabalho de Aplicação de Curso apresentado pelos autores à Escola Superior de Guerra.
** Analista de Contrainteligência do Centro de Inteligência da Marinha (CIM).
*** Analista de Relações Internacionais da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen).
a prática da Espionagem como um recurso Por sua vez, Conhecimento Sensível é:
empregado, ou passível de o ser, pelos Esta- “todo conhecimento, sigiloso ou estratégico,
dos na defesa de seus interesses, e como os cujo acesso não autorizado pode comprometer
alvos desta ação podem buscar se defender, a consecução dos objetivos nacionais e resultar
mediante a Contraespionagem. Constata- em prejuízos ao País, necessitando de medidas
remos a relevância do PNB como um alvo especiais de proteção” (BRASIL, 2009a).
do interesse estrangeiro – portanto deman- Quase dois milênios e meio após a
dante de medidas de proteção por parte citação que abre esta seção, percebemos
do governo brasileiro – e as deficiências que a Espionagem continua viva como um
de mentalidade de Contrainteligência no instrumento à disposição dos Estados nos
Brasil para a proteção deste conhecimento. conflitos ou disputas de interesses que se
Ao final, procuraremos apresen- verificam em todos os campos das relações
tar propostas para internacionais.
o fortalecimento da Na China de 1999,
Contrainteligência Dois milênios e meio após os igualmente estrate-
no âmbito do Sipron, Suntzu, a Espionagem gistas militares Qiao
na forma de subsídios Liang e Wang Xiangsui
para a sua regula- continua viva como um apontaram que, a partir
mentação, e também instrumento à disposição da Guerra do Golfo
conhecimentos que de 1990-1991, eviden-
poderiam ser de uti- dos Estados em todos ciou-se no mundo um
lidade para os seus os campos das relações aumento na violência
órgãos integrantes. internacionais política, econômica e
tecnológica, em con-
ESPIONAGEM E traste com uma relativa
CONTRAESPIONAGEM redução na violência militar. Isto levaria a
uma reformulação dos princípios da guerra
“Não há quaisquer áreas em que não se no sentido de que não prescreveriam mais
empreguem espiões” (SUN TZU e SUN “o emprego da força armada para compelir
PIN, 2002). um inimigo a submeter-se a nossa vontade”
Na transcrição dos ditos do estrate- (CLAUSEWITZ, 1984, p. 75), e sim “a
gista militar Sun Tzu, verifica-se um dos utilização de todos os meios, militares e
primeiros registros históricos a respeito não militares, letais e não letais, para com-
da utilidade da Espionagem. Definimo- pelir um inimigo a submeter-se aos nossos
la1, nos termos da proposta de Política interesses” (LIANG e XIANGSUI, 1999,
Nacional de Inteligência (PNI) para o p. 6). Assim, um Estado poderia desenca-
Estado brasileiro2, como: “a ação que visa dear “Operações de Guerra Não Militares”,
à obtenção de conhecimentos ou dados que incluiriam as seguintes modalidades:
sensíveis para beneficiar Estados, grupos comercial, financeira, terrorista em redes,
de países, organizações, facções, grupos ecológica, psicológica, de contrabando,
de interesse, empresas ou indivíduos” de mídia, de drogas, em redes interativas,
(BRASIL, 2009b). tecnológica, de maquinação3, de recursos,
1 Preferimos esta definição à constante do Glossário das Forças Armadas (BRASIL, 2007, p. 95).
2 Em 29 de junho de 2013, a proposta da PNI encontrava-se em tramitação no Poder Executivo/Congresso Nacional.
3 Criando uma falsa aparência de poder real aos olhos do inimigo.
O fortalecimento da Contrainteligência no âmbito do Sistema de Proteção
ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON)

de ajuda econômica, cultural, de legislação As ações de busca e violação de dados


internacional, entre outras possibilidades sigilosos em poder dos Estados vêm se
(LIANG e XIANGSUI, 1999, p. 58-66). desenvolvendo em paralelo com a exponen-
Nesse contexto, um Estado poderá adotar cial evolução tecnológica e alargamento das
a definição de “guerra” que seja mais con- áreas do conhecimento humano. A chama-
veniente à sua Estratégia Nacional; e na da Ciberespionagem, uma modalidade de
mesma medida estaria propenso a utilizar- Guerra Cibernética5, segue na crista desta
se de “quaisquer meios”, entre os quais a onda, viabilizando que tanto atores estatais
Espionagem. como não estatais6 furtem, adulterem ou
Hodiernamente também podemos cons- destruam informações remotamente, com
tatar a formulação de legislações estatais baixo custo e baixo risco de detecção ou
que, em geral de forma velada, validam o captura, em escala industrial (REINO
emprego da Espionagem. Citamos aqui o UNIDO, 2013).
exemplo dos Estados Explicitando essa
Unidos da América tendência de acesso a
(EUA), ator interna- As ações de busca e dados negados em es-
cional de prevalência
global 4, cujo Natio-
violação de dados sigilosos cala industrial, em 7 de
junho de 2013 o jornal
nal Security Act de em poder dos Estados britânico The Guardian
1947 (EUA, 2010, p. vêm se desenvolvendo divulgou a existência
6) define “inteligên- de um programa ofi-
cia estrangeira” como em paralelo com a cial da Agência de Se-
o seguinte produto: exponencial evolução gurança Nacional dos
“informações relativas
às capacidades, inten-
tecnológica e alargamento EUA (NSA) denomi-
nado Prism/US-984XN
ções ou atividades de das áreas do conhecimento ( o u s i m p l e s m e n t e
governos estrangeiros humano “Prism”)7, que visaria
ou elementos equipa- à obtenção de dados
rados, organizações (e-mail, conversas em
ou pessoas estrangeiras, ou atividades vídeo e voz-sobre-IP, transferências e ar-
terroristas internacionais”. Também é re- quivos de imagem, áudio e vídeo, detalhes
levante considerar o Foreign Intelligence de redes sociais etc.) por meio de acesso
Surveillance Act (Fisa) de 1978, que, em direto aos servidores de internet das empre-
2008 recebeu emenda incluindo, sob o sas Microsoft, Yahoo!, Google, Facebook,
Título VII, procedimentos de Inteligência PalTalk, YouTube, Skype, AOL e Apple
adicionais concernentes à interceptação de (GREENWALD e MACASKILL, 2013).
dados de pessoas específicas fora dos EUA Apesar de ter sua existência negada pelos
(EUA, 2008, p. 2438). executivos das empresas, no mesmo dia
4 A legislação estadunidense também é citada, de maneira específica, em razão da facilidade de acesso à infor-
mação oficial.
5 Guerra Cibernética – Conjunto de ações para uso ofensivo e defensivo de informações e sistemas de informações.
6 Em outubro de 2012, foi detectada uma rede de ciberespionagem, chamada Outubro Vermelho, que comprometia
várias agências de serviços diplomáticos internacionais.
7 O responsável pelo vazamento do programa Prism para a imprensa foi Edward Snowden, um ex-funcionário
de empresa terceirizada pela NSA. Por ocasião do fechamento deste artigo, em 30 de agosto, Snowden
encontrava-se em asilo temporário na Rússia.

28 RMB3oT/2013
O fortalecimento da Contrainteligência no âmbito do Sistema de Proteção
ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON)

o programa foi admitido pelo Presidente no realismo das relações internacionais esta
dos EUA, Barack Obama, que enfatizou a lógica não se aplica. Apesar do discurso
aquiescência do Congresso e do Judiciário politicamente correto8, empresas podem
estadunidenses. E o diretor de Inteligência se beneficiar da Espionagem estatal no
Nacional, James Clapper, além de confirmar, limite da Inteligência Competitiva – aquela
frisou que o programa seria direcionado voltada para o mundo dos negócios, ou
exclusivamente à “inteligência estrangeira”, seja, que busca a manutenção ou o desen-
e não aos cidadãos de seu Estado, estando volvimento de vantagem competitiva em
em conformidade com a Seção 702, parte do relação aos concorrentes (ABRAIC, 2013).
Título VII do Fisa (ROBERTS e ACKER- Além dos EUA9, França, Rússia, China e
MAN, 2013). Japão seriam Estados que empregariam
Destaque-se que o caso supramenciona- Inteligência estatal em apoio a empresas
do evidencia outro aspecto importante do nacionais (FILHO, 2000).
problema que estudamos: a possibilidade Em face do exposto, caberia a pergun-
de vazamento de Conhecimentos Sensíveis ta: seria o Brasil um alvo da espionagem
por funcionários dos estrangeira?
órgãos que os detêm. Bem, se já não for
É uma situação que
Em que pese a conotação centenária, essa ati-
se constata em nível negativa atribuída à vidade se verifica no
mundial, inclusive no Espionagem, e apesar do Brasil (como alvo)
Brasil, onde pesquisa há mais de 90 anos.
feita pela empresa Sy- discurso politicamente Jeffrey M. Dorwart
mantec entre outubro correto, empresas (1979, p. 137) apre-
e novembro de 2012 senta que, em 1918,
apontou, entre outras
podem se beneficiar da o Capitão de Mar e
constatações, que 62% Espionagem estatal Guerra (da Marinha
dos colaboradores que dos EUA) Frank K.
mudaram de emprego Hill, oficial de Inteli-
mantêm dados corporativos confidenciais, gência agindo sob cobertura diplomática
e 56% planejam usá-los na nova companhia de Adido Naval, operava a partir do Rio
para a qual trabalharão (SYMANTEC, de Janeiro uma rede de informantes e
2013). Voltaremos a este ponto quando agentes10 engajada no levantamento de
tratarmos mais adiante dos desafios à conhecimentos acerca das condições
implantação de uma mentalidade de Con- de trabalho nas minas de manganês de
trainteligência no Brasil. Minas Gerais, e de subsídios para que
Em que pese a conotação negativa que a companhia estadunidense Bethlehem
se pode perceber atribuída à Espionagem, Steel superasse a britânica Vickers and
como uma atividade antiética especialmen- Armstrong na disputa pelo lucrativo
te no campo empresarial, constatamos que contrato de modernização dos encoura-

8 “Sobre a espionagem, queremos acrescentar que, apesar do caráter totalmente antiético da atividade, as empresas
que cogitam praticá-la correm riscos demasiadamente grandes que podem conduzir à morte da organização.”
(CÂMARA DE COMÉRCIO FRANÇA-BRASIL, 2007, p. 8)
9 O que impediria o Prism de ser um instrumento, entre outros?
10 Integrariam esta rede um censor postal, três agentes de campo, um assistente no porto do Recife, dois funcio-
nários de escritório, um oficial de ligação com a Marinha do Brasil e representantes comerciais de empresas.

RMB3oT/2013 29
O fortalecimento da Contrainteligência no âmbito do Sistema de Proteção
ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON)

çados São Paulo e Minas Gerais, entre Com relação à Segurança Ativa, limita-
1920 e 1922 (VIDIGAL, 1983, p. 92), remos nossa apreciação ao seu desdobra-
entre outros conhecimentos. Eis aqui um mento na Contraespionagem13, ou seja, o
exemplo cabal, conquanto já histórico, conjunto de medidas voltado para detecção,
de envolvimento estatal em Inteligência identificação, avaliação e neutralização das
Competitiva, e no Brasil. ações adversas de busca de conhecimento
Com efeito, a proposta da PNI aponta e dados sigilosos.
a Espionagem como a ameaça prioritária Allen Welsh Dulles (1963, p. 175)
para efeito de balizamento das atividades sintetiza de maneira bastante apropriada a
dos diversos órgãos que integram o Sisbin maneira como um serviço de Contraespio-
(BRASIL, 2009b, p. 10). nagem deve atuar eficientemente: “É claro
Retornamos então à importância das me- que se um país pretende proteger-se contra
didas de Contrainteligência, que se dividem a incessante invasão dos serviços de espio-
em dois segmentos: Segurança Orgânica e nagem hostis, tem de fazer mais qualquer
Segurança Ativa – esta de caráter proativo, coisa que vigiar os viajantes estrangeiros
aquela de caráter preventivo. No Glossário que atravessam suas fronteiras, que colocar
das Forças Armadas (BRASIL, 2007, p. guardas em volta de áreas ‘estratégicas’,
235-236), estão definidas da seguinte forma: ou que averiguar a lealdade dos seus em-
– A Segurança Orgânica visa obter pregados em posições de destaque. Tem
um grau de proteção ideal, por meio da também de descobrir o que procuram os
adoção eficaz e consciente de um conjunto serviços de espionagem das nações hostis,
de medidas destinadas a prevenir e obstruir como procedem, que espécie de agentes
as ações de qualquer natureza que ameacem usam e quem são.”
a salvaguarda de dados, conhecimentos e Disto depreendemos que uma proteção
seus suportes; e efetiva do Conhecimento Sensível não
– A Segurança Ativa, preconizando pode se dar somente com medidas de
a adoção de medidas de caráter proativo, Segurança Orgânica nos limites do terri-
destina-se a detectar, identificar, avaliar tório nacional. As medidas de Segurança
e neutralizar as ações da Inteligência ad- Ativa são igualmente fundamentais, e só
versa e outras ações de qualquer natureza, terão êxito se calcadas em atividade de
dirigidas contra os interesses da sociedade Inteligência no exterior. Shulsky e Schmitt
e do Estado. reforçam esta assertiva, ao se referirem à
No segmento Segurança Orgânica, Contraespionagem como “medidas que
destacamos a existência, no Brasil, do procuram entender como um serviço de
Programa Nacional de Proteção ao Conhe- Inteligência estrangeiro atua, a fim de
cimento (PNPC)11 e do Programa Nacional frustrá-lo, impedir suas ações, ou, no ex-
de Integração Estado-Empresa na Área de tremo, volver tais ações em nossa própria
Bens Sensíveis (Pronabens)12. vantagem” (2002, p. 108).

11 Para mais informações sobre a aplicação recente do PNPC, q.v. BALUÉ e NASCIMENTO, 2006, NOGUEIRA,
2012 e CRUZ, 2012.
12 Tendo em vista a adesão do Brasil aos principais regimes e às convenções internacionais estabelecidos pelos
países comprometidos com o desarmamento e a não proliferação nucleares, o Ministério da Ciência, Tecnologia
e Inovação (MCTI) e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) conceberam o Pronabens.
13 A Segurança Ativa desdobra-se didaticamente em contraespionagem, contraterrorismo, contrassabotagem e
contrapropaganda.

30 RMB3oT/2013
O fortalecimento da Contrainteligência no âmbito do Sistema de Proteção
ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON)

Sob a perspectiva da ação da Ciberespio- a paz, a saúde e a prosperidade pelo mundo,


nagem, vislumbramos também a necessida- e assegurar, na medida do possível, que
de do envolvimento de órgãos vocacionados tal energia não seja usada para propósitos
para a Guerra Cibernética14 com as medidas bélicos (AIEA, 2013).
de Segurança Ativa. Neste sentido, compreendem-se as
A seguir, veremos que, em um quadro reações internacionais de oposição aos
de continuidade do interesse estrangeiro programas nucleares desenvolvidos por
na busca por dados nacionais sigilosos, o Irã e Coreia do Norte (ONU, 2013), como
desenvolvimento do PNB representa um também ocorrera em 1990 em relação ao
potencial alvo. Iraque. No sentido oposto, encontram-se os
próprios Estados interessados na obtenção
UM CONHECIMENTO NACIONAL de armamento nuclear, que lançam mão
A SER de Espionagem para so-
PROTEGIDO brepujar os obstáculos
O Brasil possui estatura de internacionais impostos
O domínio da tec- relevo neste setor de alto à proliferação, como foi
nologia nuclear é con- o caso do Paquistão16.
siderado estratégico e
15
grau de especialização e Contudo, além das
objeto permanente de sofisticação tecnológica, a nobres considerações
atenção das potências nível mundial, sendo um quanto à paz e à segu-
internacionais, princi- rança mundiais, a tec-
palmente em razão de país que detém o domínio nologia nuclear também
presumir capacitação tecnológico de todas as fases se coloca como uma va-
para desenvolvimento
e produção de ADM,
do ciclo do combustível riável relevante no equa-
cionamento das matrizes
tanto pelo Estado de- nuclear energéticas dos Estados,
senvolvedor da tecno- carreando assim inte-
logia como por tercei- resse econômico e, por
ros Estados que venham a ter acesso por seu conseguinte, da Inteligência estrangeira.
intermédio, consentido ou não (EISENHO- Evidentemente, as atividades nucleares estão
WER, 1953). A preocupação legítima com inseridas num mercado altamente competiti-
a proliferação nuclear, suscitando questões vo. Os países competem por mercados para
como a própria destruição da Humanidade, venda de reatores (de potência e de pesqui-
levou à criação da Agência Internacional de sa), de radiofármacos, de urânio, de combus-
Energia Atômica (AIEA), órgão das Nações tível nuclear, de serviços de enriquecimento
Unidas que objetiva a aceleração e a amplia- de urânio, e de equipamentos pesados para o
ção da contribuição da energia atômica para setor, entre outros itens. Então, surge o risco

14 A Estratégia Nacional de Defesa atribui ao Ministério da Defesa (MD) e ao MCT, por intermédio do Departa-
mento de Ciência e Tecnologia do Exército, a promoção de ações que contemplem a multidisciplinaridade
e a dualidade das aplicações no setor cibernético (BRASIL, 2012a).
15 Os setores cibernético, nuclear e espacial são considerados estratégicos e decisivos para a Defesa Nacional
(BRASIL, 2012a).
16 O cientista nuclear Abdul Qadeer Khan, considerado o “Pai da Bomba Paquistanesa”, furtou a tecnologia de
enriquecimento de urânio da companhia Urenco, na Holanda, quando lá trabalhara entre 1972 e 1975, e a
aplicou na instalação da Usina de Kahuta, Paquistão. Posteriormente, liderou uma rede clandestina de venda
da tecnologia para Irã, Coreia do Norte e Líbia, que seria desmantelada em 2004 (OLIVEIRA, 2008, p. 4-5).

RMB3oT/2013 31
O fortalecimento da Contrainteligência no âmbito do Sistema de Proteção
ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON)

do aproveitamento de um discurso de não A esta conquista se acrescenta a decisão


proliferação nuclear como cobertura para governamental de investir em projetos que
a obstrução de um programa de finalidade projetarão ainda mais o País neste setor,
autenticamente não bélica. dos quais podemos destacar: a retomada da
O Brasil possui estatura de relevo neste construção da usina de Angra III, a constru-
setor de alto grau de especialização e sofis- ção de pelo menos quatro novas usinas nu-
ticação tecnológica, a nível mundial, sendo cleares em território nacional (com possibi-
um país que detém o domínio tecnológico lidade de serem oito novas usinas) até 2030,
de todas as fases do ciclo do combustível desenvolvimento e construção de depósito
nuclear, com destaque para a tecnologia definitivo de rejeitos radioativos de baixa e
própria de enriquecimento de urânio por média atividades (GONÇALVES FILHO,
ultracentrifugação. 2011), desenvolvimento e construção de
A busca por esta tecnologia remonta reator nuclear multipropósito (CORRÊA,
a 1953, a partir dos entendimentos reali- 2013) e a produção de submarino movido
zados pelo Almiran- a propulsão nuclear
te Álvaro Alberto da (BRASIL, 2012b).
Mota e Silva com os
Deparamo-nos no Como se ainda pre-
cientistas alemães Wi- Brasil com óbices de cisássemos explicitar
lhelm Groth, Konrad ordem cultural que mais sobre o interesse
Beyerle e Otto Hahn, adverso no PNB, des-
que culminaram na representam talvez as tacamos dois exemplos
aquisição sigilosa de maiores resistências concretos, primeira-
três ultracentrífugas. mente um de Espiona-
Estes equipamentos,
para a implantação da gem humana, e outro de
entretanto, acabaram mentalidade de Inteligência campanha de desinfor-
apreendidos na Ale- nas instituições públicas mação na mídia.
manha Ocidental, por Entre 1992 e 1994,
ordem do Alto Co- o já Almirante Othon,
missário dos EUA, em conformidade com como coordenador da Coordenadoria de
uma política estadunidense de negação de Projetos Especiais da Marinha em São Paulo
transferência de tecnologias nucleares a (Copesp) teve um agente de Inteligência
países do Terceiro Mundo. Na superação estadunidense como vizinho do apartamento
destas barreiras, o Brasil desenvolveu, a em que residia (MONIZ BANDEIRA, 2011,
partir de 1979, sua própria tecnologia de p. 270-271), que o vigiou durante o período.
enriquecimento, inclusive com o recurso Em 2004, veículos de comunicação
à Espionagem. Logrou sucesso em 1987, estadunidenses e argentinos polemizaram
com a operação da ultracentrífuga projetada em torno da negativa brasileira de permitir
pelo então Capitão de Fragata engenheiro acesso de inspetores da AIEA às ultracen-
naval Othon Luís Pinheiro da Silva (MO- trífugas instaladas nas Indústrias Nucleares
NIZ BANDEIRA, 2011). Brasileiras (INB)17, levantando suspeitas

17 “O Comando da Marinha, responsável pelas ultracentrífugas para enriquecimento de urânio, e as agências brasileiras
do setor advertiram o governo de que por trás das pressões da AIEA, atrás das quais o Departamento de Estado [dos
EUA] se movia, poderia existir o objetivo de espionagem da tecnologia de ponta desenvolvida pelo Brasil e consi-
derada superior à americana e à francesa.” (MONIZ BANDEIRA, 2005, p. 78) Os almirantes Othon Luiz Pinheiro
da Silva (2004) e Tiudorico Leite Barboza (2005, p.73), ambos engenheiros navais, endossaram esta possibilidade.

32 RMB3oT/2013
O fortalecimento da Contrainteligência no âmbito do Sistema de Proteção
ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON)

de que o Brasil estaria envolvido com a após décadas de retorno à democracia, a


proliferação nuclear.18 associação dos serviços secretos com as
arbitrariedades cometidas durante o regime
MENTALIDADE DE militar que vigeu por 21 anos no Brasil20.
CONTRAINTELIGÊNCIA NO Enquanto o crescimento econômico
BRASIL reposiciona o Brasil no mundo, no âmbito
doméstico a classe política e a sociedade em
Deparamo-nos no Brasil com óbices de geral não se mostram devidamente prepara-
ordem cultural que representam talvez as das para reconhecer o papel que a atividade
maiores resistências para a implantação da de Inteligência joga na qualificação do País
mentalidade de Inteligência nas instituições como ator no cenário internacional. Verifica-se
públicas, a despeito da existência de alguma “desconhecimento generalizado da essência
compreensão, em deter- da atividade: ferramen-
minados setores, acerca ta parcial e oportuna,
dos interesses e da pro-
Carecemos ainda do pautada em evidências
babilidade de atuação de fortalecimento de uma coletadas e analisadas
Inteligência estrangeira cultura democrático- com metodologia e racio-
em nosso país. nalidade, cujo objetivo
Infelizmente, o que cidadã, assim como de exclusivo é apoiar o pro-
se vê como regra são uma cultura capaz de ser cesso decisório nacional,
tão somente reações
após a ocorrência de
sensível à percepção de definidor do destino da
sociedade e do Estado
um infortúnio ─ isto ameaças à segurança da brasileiro” (REBELLO,
quando se toma conhe- sociedade e do Estado 2006, p. 37).
cimento do infortúnio, A conformação da
muitas vezes catastró- política de um país re-
fico. Como diz o adágio popular, “depois flete a cultura do seu povo. Carecemos
da porta arrombada, põe a tranca na porta”. ainda do fortalecimento de uma cultura
Especialistas, acadêmicos ou não, da democrático-cidadã, assim como de uma
área de Inteligência no Brasil reconhecem cultura capaz de ser sensível à percepção
que há uma percepção distorcida, tanto por de ameaças à segurança da sociedade e
parte dos tomadores de decisão quanto por do Estado. Mesmo setores elitizados de
parte da sociedade em geral – incluída aí a nossa sociedade mostram-se incapazes de
mídia19 – da atividade de Inteligência. Na perceber que o Brasil é alvo do interesse,
verdade, tal incompreensão e preconceito por exemplo, de comunidades científicas
se verificam mesmo no seio de institui- internacionais e das empresas que as fi-
ções estatais, nos setores que não lidam nanciam. Rebello (2006, p. 44) ilustra o
com a atividade. De fato, persiste, mesmo descaso com a proteção do conhecimento

18 Lembramos que em 2004 ocorreu o desmonte da rede de contrabando tecnológico nuclear do Dr. Khan, já citada.
19 Vide a reportagem da revista Veja de 19 de junho de 2013 (MARQUES e RANGEL, 2013), que expõe a
público, pejorativamente, a identidade de agentes e veículos da Abin empregados em missão de vigilância
no porto de Suape, e que, no mínimo, não leva em consideração a segurança pessoal ou familiar dos citados
servidores do Estado Brasileiro.
20 A atuação dos “órgãos de informações” militares naquele período, ao confundir a atividade de Inteligência com
a de Segurança, seria a responsável pela repulsa de parte da sociedade brasileira aos serviços de Inteligência
(ANTUNES, 2001, p. 193).

RMB3oT/2013 33
O fortalecimento da Contrainteligência no âmbito do Sistema de Proteção
ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON)

sensível nacional ao destacar dois casos. Não resta dúvida de que esse é um
O primeiro é o do cupuaçu – fruta típica desenvolvimento importante. No entanto,
da Região Norte –, que teve seu nome pa- é forçoso reconhecer que, a despeito da
tenteado por empresa japonesa. O segundo existência do PNPC, há um longo cami-
caso é o da rapadura – doce tipicamente nho a ser percorrido, sobretudo no âmbito
brasileiro –, cuja tentativa de exportação da administração pública federal, para a
por produtores cearenses foi inviabilizada, efetivação de uma mentalidade de Con-
uma vez que empresa alemã já possuía a trainteligência. Consideramos que o PNPC,
patente do nome. como um instrumento demandante de co-
Apesar dos sérios operação das entidades
argumentos acima nacionais, públicas ou
mencionados, há que É imperativo que seja privadas, que geram
se reconhecer que, ou custodiam conheci-
desde 1980, o Brasil amplamente disseminada, mentos sensíveis para
vem desenvolvendo fortalecida e consolidada, o Brasil, não tem sido
atividades que visam suficiente para atingir
à proteção do conhe-
nos âmbitos da o propósito de proteção
cimento sensível. Em administração pública, do destes conhecimentos.
1983, a Escola Nacio- setor privado e do meio Nossa assertiva
nal de Informações de- respalda-se no levan-
senvolveu o primeiro acadêmico, a mentalidade tamento feito pela
Estágio de Proteção da da Contrainteligência, Controladoria-Geral
Informação Empresa- da União (CGU) até 14
rial, com o propósito
especialmente no seu de junho de 2013, so-
de oferecer instrumen- aspecto de proteção do bre os órgãos públicos
tos para auxiliar as ins- conhecimento sensível ligados à União que
tituições a protegerem usaram a classificação
informações empresa- para manter dados sob
riais sensíveis. Posteriormente, a partir da sigilo. Destacamos que, de todas as univer-
criação da Abin, e com base no artigo 4o da sidades federais, somente quatro21 fizeram
Lei 9.883/99, que atribui àquela Agência a uso de classificação sigilosa. Ou seja, uma
competência de “planejar e executar a pro- das medidas mais triviais de proteção de
teção de conhecimentos sensíveis, relativos conhecimento sensível, que é a atribuição
aos interesses e à segurança do Estado e da de classificação sigilosa 22, não estaria
sociedade”, coube ao seu Departamento sendo observada por uma série de órgãos
de Contrainteligência a responsabilidade responsáveis23.
de cumprir o disposto na lei, por meio da Na área nuclear, entre alguns exemplos
aplicação do PNPC. de vulnerabilidades que podem suscitar a

21 Fundação Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre - UFCSPA, Fundação Universidade
Federal do ABC – UFABC, Universidade Federal de Itajubá – Unifei e Universidade Federal de Santa
Catarina – UFSC (BRASIL, 2013b).
22 O artigo 23 da Lei 12.527/ 2011 relaciona as informações consideradas imprescindíveis à segurança da socie-
dade ou do Estado.
23 Um representante da comissão criada dentro da UFSC para analisar e classificar os dados em 2012 para que
nenhum trabalho seja usado inadequadamente (FELLTHAUS, 2013).

34 RMB3oT/2013
O fortalecimento da Contrainteligência no âmbito do Sistema de Proteção
ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON)

perda de conhecimentos sensíveis podemos c) a perfeita caracterização do Sipron


mencionar a internacionalização da comu- como sistema responsável por garantir a
nidade científica, uma vez que há intensa prevenção e a pronta resposta às ocorrên-
interação entre os especialistas do setor, cias que possam comprometer as atividades
requerida pelo exercício de suas funções nucleares no País; e
– troca de visitas técnicas, treinamentos, d) o enquadramento das atividades re-
participação em congressos, cursos e reu- lacionadas à área nuclear como assunto de
niões internacionais etc. Surge, assim, a interesse estratégico do Estado.
possibilidade de vazamento de dados sigi- Como vimos, a cultura de Inteligência
losos por parte de servidores motivados (ou e Contrainteligência no Brasil é ainda bas-
desmotivados) por diferentes causas, bre- tante incipiente, seja por sua associação ao
chas na segurança cibernética, publicações período de exceção dos governos militares,
em periódicos internacionais sem prévia seja pela fraca percepção de ameaças, in-
aprovação do órgão, e até recrutamento por ternas e externas, à segurança da sociedade
serviço de Inteligência estrangeiro (de for- e do Estado. Conforme temos procurado
ma consciente ou não). Portanto, as ações demonstrar, essas condições afetam sen-
a serem planejadas devem conter enfoque sivelmente a proteção dos conhecimentos
realista, aplicado às práticas usuais dos ser- sensíveis do setor nuclear nacional.
vidores e dirigentes do órgão em questão. No contexto do Sipron original (1980),
Diante do exposto, e na medida em que foi estabelecida, em 1998, no âmbito da
o Brasil capacita-se para ser, e manter-se, Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE),
como um Estado-chave para as discussões a Norma Geral para o Planejamento e a
no contexto das principais agendas temáticas Execução da Proteção ao Conhecimento
do século XXI, é imperativo que seja ampla- Sigiloso (NG-08), com o objetivo de
mente disseminada, fortalecida e consolidada, “orientar o planejamento da Proteção ao
nos âmbitos da administração pública, setor Conhecimento Sigiloso dos órgãos do
privado e meio acadêmico, a mentalidade da Sipron, estabelecendo diretrizes quanto à
Contrainteligência, especialmente no seu as- forma de proteger os conhecimentos sigi-
pecto de proteção do conhecimento sensível. losos considerados de interesse do Estado,
Em última instância, como se poderá de- particularmente aqueles relacionados aos
preender, a relevância do tema evidencia-se projetos, às atividades e às instalações
pela contribuição para o desenvolvimento nucleares” (BRASIL, 1998).
e a manutenção dos seguintes Objetivos Com efeito, a NG-08 significou um
Fundamentais do Estado Brasileiro: Pro- passo importante no sentido de aplicar,
gresso e Soberania (ESCOLA SUPERIOR no contexto das instituições que integram
DE GUERRA, 2013, p. 24-25). o PNB, o conceito e as medidas de Con-
trainteligência. No entanto, a despeito de
A OPERACIONALIZAÇÃO DA tal evolução à época, atualmente reco-
CONTRAINTELIGÊNCIA NO nhecemos que seu cumprimento tem sido
SIPRON negligenciado por parte das instituições
pelas quais deveria ser aplicada, como já
Na exposição de motivos do anteprojeto demonstrado no levantamento realizado
encaminhado pelo MCTI em 2003, que pela CGU em junho de 2013.
redundou na Lei 12.731/ 2012, constam, Nos últimos 15 anos (1998-2013), im-
entre as preocupações elencadas: portantes transformações ocorreram nos

RMB3oT/2013 35
O fortalecimento da Contrainteligência no âmbito do Sistema de Proteção
ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON)

cenários nacional e internacional no que a) elaboração dos Planos Diretores de


tange ao tema nuclear. Internamente, a Proteção ao Conhecimento Sigiloso;
usina Angra II entrou em operação (2000), b) supervisão da execução do Plano
o governo de Luís Inácio Lula da Silva Diretor de Proteção ao Conhecimento
(2003-2011) decidiu reativar os projetos es- Sigiloso; e
tratégicos do setor e o País encarou desafia- c) cumprimento, no que couber, das
doras negociações internacionais no campo diretrizes contidas nos Planos Diretores de
das salvaguardas internacionais aplicadas Proteção ao Conhecimento Sigiloso.
pela AIEA (MONIZ BANDEIRA, 2011, É importante observar que a NG-08
p. 321, n. 3). Externamente, as mudanças estabelece que os Planos Diretores de-
climáticas ensejaram o reposicionamento vam contemplar a adoção de medidas
da opção nuclear como efetiva contribuição de segurança adequadas às necessidades
à diminuição do aquecimento global. Com particulares de cada órgão. Diz ainda que
isso, deu-se o que se convencionou deno- tais planos, “e suas respectivas regula-
minar “renascimento da energia nuclear” mentações, no âmbito do Sipron, deverão
em nível global. orientar os órgãos integrantes do Sistema
Assim, acreditamos que as significati- no cumprimento das legislações especial
vas transformações ocorridas no âmbito e comum sobre a proteção dos assuntos
doméstico – onde se destacam a constru- sigilosos de interesse da sociedade e do
ção de instalações para enriquecimento de Estado brasileiros, particularmente, quan-
urânio em escala industrial e a construção to às responsabilidades de natureza civil,
de submarino movido a propulsão nucle- penal e administrativa”.
ar – repercutiram em Brasília a ponto de Ou seja, enquanto a lei de 2012 se refere
fomentar a reformulação das atribuições a “coordenar ações”, não especifica quais
do Sipron, formalizada em 2012. seriam as tais “ações” a serem coordenadas.
Tomando por base as especificidades Propomos que sejam mantidas as ações que
institucionais e culturais nas quais ocorrem foram estabelecidas em 1998.
os esforços para aplicação da Contrainteli- Adicionalmente, entendemos como
gência no âmbito dos organismos do PNB, necessária uma articulação formal mais
advogamos que certas medidas podem ser efetiva entre o Sisbin e o Sipron. O dis-
observadas com vistas a tornar o Sipron, tanciamento entre estes sistemas é uma
reformulado em 2012, mais operacional no situação curiosa, permitindo inferir que, até
que tange à proteção do conhecimento sen- o momento, o fato de ambos se encontrarem
sível nuclear. Deste modo, apresentaremos sob a coordenação de um mesmo órgão,
algumas propostas que estimamos possam o Gabinete de Segurança Institucional da
ser aproveitadas quando da regulamentação Presidência da República (GSI/PR), não
da Lei Nº 12.731/2012. estaria se concretizando como fator de força
A NG-08 de 1998 prevê como “ações a para o fortalecimento da Contrainteligência
serem implementadas pelos órgãos do Si- no PNB.
pron” as seguintes, que consideramos ainda De acordo com o arcabouço jurídico em
passíveis de aproveitamento no decreto de vigor, “o Sistema Brasileiro de Inteligên-
regulamentação da nova lei, ao encontro cia é responsável (...) pela salvaguarda de
da atribuição do Sipron de “coordenar as assuntos sigilosos de interesse nacional”
ações” que visem proteger os conhecimen- (BRASIL, 2002). Desta forma, entende-se
tos e a tecnologia da área nuclear: que são competências dos órgãos do Sisbin

36 RMB3oT/2013
O fortalecimento da Contrainteligência no âmbito do Sistema de Proteção
ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON)

tanto a discriminação dos elementos do Para superar tal vulnerabilidade, pro-


PNB que sejam potenciais alvos do interes- pomos que, na regulamentação da Lei
se de serviços de Inteligência estrangeiros 12.731/2012, seja previsto o estabeleci-
como a adoção das correspondentes medi- mento da figura do “oficial de Ligação de
das de Segurança Ativa, em especial as de Contrainteligência” em cada órgão inte-
Contraespionagem. grante do Sipron. Este “oficial de Ligação”
Conforme evidenciado pela Tabela 1, deverá ser formalmente qualificado e de-
essa articulação ainda carece de ser aper- signado, tendo como um dos requisitos de
feiçoada, uma vez que no Sipron ainda qualificação a realização, por exemplo, do
há vários órgãos que não se relacionam Curso Superior de Inteligência Estratégica
formalmente com o Sisbin24. Em outras (CSIE), ministrado pela Escola Superior
palavras, apontamos a ocorrência de órgãos de Guerra, ou equivalente designado pelo
integrantes do Sipron não participantes Órgão Central do Sisbin (Abin) – que
do Sisbin como uma vulnerabilidade na também vem a ser Órgão de Coordenação
proteção dos conhecimentos e tecnologia Setorial de Inteligência do Sipron. A rea-
detidos por esses órgãos25. lização de curso especializado é de crucial
TABELA 1 – Órgãos do Sipron que não integram o Sisbin26

ÓRGÃOS FUNÇÃO NO SIPRON


Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobras) Órgão de Execução Seccional
Eletrobras Termonuclear S.A. (Eletronuclear) Órgão de Execução Seccional
Entidades de ensino e pesquisa científicas27 (federais, Órgãos de Execução Seccional
estaduais ou privadas) que participem em projeto ou
atividade nuclear ou, ainda, que possuam instalação
nuclear no País
Ministério dos Transportes Órgão de Apoio
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão Órgão de Apoio
Ministério das Comunicações Órgão de Apoio
Prefeituras Municipais em cujos territórios se desen- Órgãos de Apoio
volvam projetos ou atividades do Programa Nuclear
Brasileiro
Empresas ou entidades do setor privado que, por Órgãos de Apoio
contrato ou outro documento hábil, prestam serviços
relacionados com a segurança de projetos e atividades
do Programa Nuclear Brasileiro

Fontes: BRASIL, 2002 e 2013.

24 No Apêndice, a Tabela 2 explicita os órgãos do Sipron que integram o Sisbin.


25 O Ministério das Minas e Energia, apesar do envolvimento com a mineração de urânio e geração de energia
nucleoelétrica, não figura como participante nem do Sipron nem do Sisbin. Contundo, figura na composição
da Comissão de Coordenação da Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro (Copron) (BRASIL, 2012e).
26 Consideramos que as INB, Órgão de Execução Seccional do Sipron, estariam ligadas ao Sisbin via MCTI
(BRASIL, 2013).
27 Exceto os institutos militares – CTMSP, CTEx e IEAv do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial.

RMB3oT/2013 37
O fortalecimento da Contrainteligência no âmbito do Sistema de Proteção
ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON)

importância para o exercício da função CONCLUSÃO


institucional, a qual guarda estreita relação
com o caráter estratégico das atividades Como procuramos demonstrar, a Espio-
nucleares desenvolvidas no País. Com tal nagem continua sendo, nos dias de hoje, um
iniciativa, espera-se consolidar, gradativa recurso utilizado pelos Estados na defesa de
e regularmente, a formação de quadros seus interesses, sendo forçoso reconhecer
especializados em Contrainteligência no que o PNB é um potencial alvo do interesse
âmbito do setor nuclear. da Inteligência estrangeira.
Outra proposta seria a instituição de Desse modo, identificamos a regulamen-
duas reuniões anuais de coordenação do tação da Lei 12.731/2012 como um momen-
Sipron. A primeira reunião seria interna to por demais oportuno para promover o
de cada órgão, conduzida pelo “oficial de aperfeiçoamento da Contrainteligência nos
Ligação do Sipron” e tendo como público- órgãos que integram o Sipron, estabelecendo
alvo a Alta Direção (diretores e vice-dire- efetivos mecanismos de operacionalização
tores, ou DAS 6 e 5) e os gestores de média do sistema e levando em consideração a
gerência (chefes de departamento ou DAS modernidade das ameaças que se figuram,
4), com vistas à sensibilização sobre o notadamente a Ciberespionagem.
tema Contrainteligência e formulação de A institucionalização da Contrainte-
subsídios para discussão com os demais ligência, aproximando mais o Sipron do
órgãos do sistema, e também do Sisbin. Sisbin, é requisito básico para subsidiar e
Esta seria uma forma direta de promover robustecer o caráter estratégico das ativi-
o efetivo envolvimento dos tomadores de dades nucleares do País. No entanto, o es-
decisão e respectivos assessores do setor tabelecimento formal da Contrainteligência
nuclear no tema “Inteligência de Estado.” no âmbito do setor nuclear por meio da lei
Cremos que a persistência do hiato de não é, isoladamente, suficiente. O compro-
conhecimento entre o nível de tomada de metimento da Alta Direção das instituições
decisão e o nível operacional nesta área nucleares é crucial.
tão sensível implicará a impossibilidade No eixo operacional, a formalização da
do cumprimento do previsto na lei. figura dos oficiais de Ligação de Contrain-
A segunda reunião, decorrente da teligência poderá contribuir para:
primeira, envolveria todos os órgãos inte- – a formação de quadros especializados
grantes do Sipron que participam do Sisbin, em atividades de Inteligência em nível
com os propósitos de discutir o próprio estratégico nos órgãos do setor nuclear;
fortalecimento da Contrainteligência no – um maior engajamento de seus órgãos
Sipron e, principalmente, de superar barrei- no Sipron, notadamente no que tange à
ras burocráticas e de confiança existentes proteção do conhecimento sensível da área
entre os órgãos. nuclear; e
Com base no que precede, acredita- – apoiar, de maneira mais eficiente e
mos ser possível tornar mais operacional racional, as medidas de Segurança Ativa
o Sipron, estimulando tanto a realização do Sisbin.
de ações eficazes, eficientes e efetivas
pelos órgãos que o integram quanto Vislumbramos, assim, uma maneira
gerando insumos para uma coordenação eminentemente prática de contribuir para a
perene das ações de Contrainteligência criação paulatina de uma mentalidade pro-
no PNB. ativa e sinergética de Contrainteligência no

38 RMB3oT/2013
O fortalecimento da Contrainteligência no âmbito do Sistema de Proteção
ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON)

País, experiência que poderia no futuro até Enfim, esperamos que este artigo seja
ser replicada, após a obtenção de resultados mais um incentivo à ruptura do paradigma
consistentes, em outros setores estratégicos brasileiro da “porta arrombada”, neste caso
do governo. com relação ao PNB.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<INFORMAÇÃO>; Inteligência; Espionagem; Sistema de informação; Segurança da in-
formação; Programa nuclear;

REFERÊNCIAS

As referências relativas a este artigo podem ser consultadas com os autores.

RMB3oT/2013 39
O fortalecimento da Contrainteligência no âmbito do Sistema de Proteção
ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON)

APÊNDICE
TABELA 2 – Órgãos do Sipron que integram o Sisbin

ÓRGÃO FUNÇÃO NO SIPRON COMO SE INTEGRA AO SISBIN

Gabinete de Segurança Institucional da Órgão Central Órgão de coordenação das atividades de Inteligência
Presidência da República (GSI/PR) federal

Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Órgão de Coordenação Setorial Órgão Central

Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) Órgão de Coordenação Setorial, por por meio do Gabinete do Ministro de Estado
meio da Comissão Nacional de Energia
Nuclear (CNEN)

Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) Órgão de Coordenação Setorial, por por meio da Secretaria Executiva
meio do Departamento de Segurança
e Saúde no Trabalho

Ministério da Integração Nacional Órgão de Coordenação Setorial por meio da Secretaria Nacional de Defesa Civil

Ministério do Meio Ambiente Órgão de Coordenação Setorial, por por meio do Ibama e da Secretaria Executiva
meio do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama)

Ministério da Justiça Órgão de Apoio por meio da Secretaria Nacional de Segurança Pública,
da Diretoria de Inteligência Policial do Departamento de
Polícia Federal, do Departamento de Polícia Rodoviária
Federal, do Departamento Penitenciário Nacional e do
Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação
Jurídica Internacional da Secretaria Nacional de Justiça

Ministério das Relações Exteriores (MRE) Órgão de Apoio por meio da Secretaria-Geral de Relações Exteriores
e da Coordenação-Geral de Combate aos Ilícitos
Transnacionais

Ministério da Defesa Órgão de Apoio por meio da Subchefia de Inteligência Estratégica, da


Assessoria de Inteligência Operacional, da Divisão
de Inteligência Estratégico-Militar da Subchefia de
Estratégia do Estado-Maior da Armada, do Centro
de Inteligência da Marinha (CIM)28, do Centro de
Inteligência do Exército (CIE), do Centro de Inteli-
gência da Aeronáutica (CIAer) e do Centro Gestor e
Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia

Ministério da Fazenda Órgão de Apoio por meio da Secretaria Executiva do Conselho de


Controle de Atividades Financeiras (Coaf), da Secre-
taria da Receita Federal do Brasil (SRF) e do Banco
Central do Brasil

Ministério da Saúde Órgão de Apoio por meio do Gabinete do Ministro de Estado e da


Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)

Governos estaduais em cujos territórios Órgãos de Apoio poderão integrar mediante ajustes específicos e
se desenvolvam projetos ou atividades convênios
do PNB

Fontes: BRASIL, 2002 e 2013

28 Na MB, o CIM é o órgão responsável pela centralização e coordenação da produção de conhecimentos de


Contrainteligência, bem como pela coordenação e supervisão da Segurança Ativa (BRASIL, 2012c).

40 RMB3oT/2013
Desarmamento e controle de armas*

José Antonio de Castro Leal**


Almirante de Esquadra (RM1)

sumário

A função de conselheiro militar


Desarmamento e controle de armas
A Conferência de Desarmamento
O posicionamento do Brasil
A atuação do conselheiro militar

A função de Conselheiro três Forças, por oficial-general do último


Militar posto, indicado pelo Ministério da Defesa,
a quem permanece vinculado. Ao receber o

A pós 48 anos de serviço ativo na Mari-


nha, tive a ventura profissional de ser
designado como conselheiro militar na Re-
amável convite de elaborar um texto sobre
o trabalho ali desenvolvido para o Boletim
da Sociedade dos Amigos da Marinha em
presentação Brasileira junto à Conferência Campinas (Soamar Campinas), avaliei
de Desarmamento, em Genebra, na Suíça, que seria uma excelente oportunidade de
no período de março de 2010 a março de divulgar aspectos interessantes desse im-
2012. Essa função tem caráter diplomático portante e peculiar campo das negociações
e é exercida em sistema de rodízio entre as internacionais multilaterais.
* Publicado no Boletim Informativo da Sociedade dos Amigos da Marinha de Campinas – junho de 2013.
** Foi comandante dos 1o e 4o Distritos Navais, diretor de Ensino da Marinha, comandante da Escola Superior
de Guerra, diretor-geral do Pessoal da Marinha e conselheiro militar na Representação Brasileira junto a
Conferência de Desarmamento, em Genebra, na Suíça
Desarmamento e controle de armas

emprego ou na dispo-
nibilidade de meios
militares, reduzindo o
risco de guerras pela
melhoria do conheci-
mento mútuo e pela
limitação das opções
disponíveis. No seu
conjunto, as medidas
Palácio das Nações, sede do escritório da Organização das Nações Unidas de desarmamento e
(ONU) em Genebra, que abriga a Conferência de Desarmamento controle de armas se
consolidam mediante
Desarmamento e controle acordos formalmente negociados entre
de armas Estados e alcançados livremente em tempo
de paz. Se até a Se-
Todos compreen- gunda Guerra Mundial
demos – militares e As medidas de a implantação desses
civis – que qualquer
limitação em arma-
desarmamento e controle acordos era baseada na
premissa de confiança
mentos coloca res- de armas se consolidam entre os Estados, após,
trições no alcance e mediante acordos em parte como fruto da
propósito das políticas corrida armamentis-
de defesa. De modo formalmente negociados ta nuclear, evoluiu-se
geral, o termo “desar- entre Estados e alcançados para sistemas formais
mamento” está ligado
à redução do nível
livremente em tempo de paz de verificação quanto
ao cumprimento das
da capacidade militar prescrições acordadas.
ou ao banimento de certas armas, tendo Por outro lado, cada vez mais o desarma-
por base o conceito de que a posse de ar- mento parece inspirar na diplomacia multila-
mamentos é a fonte principal de tensão e teral uma ênfase maior no impacto que certas
guerra. Por sua vez, o termo “controle de armas causam nos seres humanos do que na
armas” implica a colocação de restrições no própria razão de existência dos arsenais dos
Estados. Ou seja, os objetivos humanitários
passam a prevalecer sobre os temas de se-
gurança nacional e utilidade militar. Nesse
contexto, o entendimento prevalecente nas
discussões é que, se nenhum texto pode es-
pecificar antecipadamente as circunstâncias
que justificariam um comandante não cum-
prir as prescrições de dado acordo, nenhuma
circunstância poderia justificar a violação
dos princípios fundamentais das regras acor-
dadas, com ênfase nas que proíbem infligir
Acesso de pedestres ao Palácio das Nações, com
danos desnecessários a indivíduos e causar
bandeiras de todos os países integrantes da ONU destruição sem limites de propriedades.

42 RMB3oT/2013
Desarmamento e controle de armas

Monumentos defronte ao Palácio das Nações – Detalhe de “A Cadeira Inválida”, monumento às


“Canhão da Paz” e “A Cadeira Inválida” vítimas de minas terrestres

Em assunto tão sensível, não se pode comum de armamento e historicamente o


esquecer que existem interesses de elevado meio preponderante empregado nos confli-
valor político, estratégico e financeiro nos tos. Por certo, para os países que renunciam
negócios de armas e munições, que muitas às armas de destruição em massa, os acor-
vezes condicionam as posturas das nações. dos relacionados às armas convencionais
No tema desarmamento, os compromissos adquirem especial significado.
consequentes de acor-
dos políticos e comer- A Conferência
ciais, sejam aqueles Em assunto tão sensível, de
inerentes a alianças não se pode esquecer que Desarmamento
entre nações ou mes-
mo pactos sigilosos, existem interesses de elevado Nessa intrincada
sejam os decorrentes valor político, estratégico teia, o papel da Con-
de contratos de forne- ferência de Desarma-
cimento de materiais
e financeiro nos negócios mento é ímpar, pois
e de transferência de de armas e munições, que em 1978, na 10a Sessão
tecnologia, trazem um muitas vezes condicionam as Especial da Assembleia
pragmatismo às rela- Geral da ONU, ela foi
ções diplomáticas que posturas das nações reconhecida como o
somente as tornam único organismo mul-
mais complexas. tilateral de negociações em desarmamento.
Adicionalmente, é fundamental separar É um órgão formalmente autônomo em re-
as armas de destruição em massa daquelas lação à ONU, não integrando sua estrutura,
genericamente designadas como armas embora seja apoiado administrativamente
convencionais. As primeiras, conforme pelo Escritório da ONU, instalado no Palá-
definição aceita no âmbito da ONU, são cio das Nações, a antiga e imponente sede
armas com explosivo atômico ou mate- da Liga das Nações, em Genebra. Em que
rial radioativo, químicas ou biológicas, e pese o nome Conferência, possui caráter
qualquer arma desenvolvida no futuro que permanente, contando com 65 Estados
tenha características comparáveis em efeito membros e abrangendo todos os envolvi-
destrutivo. As convencionais são todas dos com atividades nucleares. Tem regras
as demais, constituindo-se no tipo mais próprias de funcionamento, Presidência

RMB3oT/2013 43
Desarmamento e controle de armas

rotativa de quatro semanas e realiza uma senso para implementá-lo. De 2010 a 2012,
sessão anual, dividida em três períodos, de também não se obteve sucesso, tendo o
dez, sete e sete semanas. É aberta a Estados Brasil, quando na Presidência, agora com o
observadores, porém fechada a organizações Embaixador Macedo Soares, em junho/julho
não governamentais, o que a torna mais de 2010, apresentado um novo programa,
imune a pressões da opinião pública. Suas vetado pelo Paquistão por não atender às
decisões são adotadas por consenso, enten- preocupações de segurança nacional rela-
dido como unanimidade, permitindo assim cionadas com possíveis negociações sobre
que, em plena igualdade de condições, os material físsil. Mesmo assim, é bastante
Estados membros possam exercer direito interessante destacar os ditos quatro temas
de veto, até mesmo no estabelecimento do centrais ali repetidamente discutidos:
programa de trabalho e no envio do relatório – Desarmamento nuclear – Na agenda
anual à ONU. desde 1979, com a primeira proposta já
No seu âmbito, as nações desenvolvem, contemplando negociações para término da
quando e como preciso, de forma proativa produção de todos os tipos de armas nucle-
ou reativa, suas formulações político-estra- ares e redução gradual de estoques até sua
tégicas de defesa. Ali, eliminação. Entre 1994 e
apreciam os meandros 1996, as negociações que
trilhados pelas demais Na Conferência de levaram ao Tratado de
nações, a serem apoia- Desarmamento se discute Banimento Compreen-
das ou confrontadas, a sivo de Testes Nucleares
depender de possíveis permanentemente o único dominaram as atividades
interferências com os tema que envolve a garantia da Conferência, sendo
interesses nacionais.
Ali discutem perma-
de sobrevivência das nações esse o único resultado
já obtido na área nuclear
nentemente o único (conquanto o tratado
tema que envolve, na realidade, a garantia ainda não tenha entrado em vigor). É tema de
de sobrevivência das nações. Por isso, vem interesse estratégico para o Brasil, de forma
ocorrendo um esforço internacional mais coerente com seus preceitos constitucionais.
concentrado, nos últimos anos, para sua – Controle de material físsil – Em 1993,
plena revitalização, sendo que o impasse a Assembleia-Geral da ONU recomendou
atual se evidencia pela repetida não apro- a negociação de um tratado para proibição
vação do Programa Anual de Trabalho. da produção de material físsil para fins
Vale destacar que o Brasil é membro da explosivos e, no ano seguinte, a Confe-
Conferência desde seus primórdios e man- rência iniciou discussões que desde logo
tém atuante representação específica junto se polarizaram sobre considerar apenas
a ela. Em 2000, quando, sob a Presidência a produção futura ou também incluir os
do Brasil, foi formulada uma proposta pelo estoques existentes.
então Embaixador Celso Amorim, que ten-
tava “organizar as diferenças”, prevendo a Em 2010, o Brasil, enquanto na Presi-
criação de quatro comitês independentes, dência, apresentou um novo arranjo para
focado em temas centrais. Em 2009, sob a um possível tratado, com um acordo bási-
presidência da Argélia, conseguiu-se apro- co, em contexto de desarmamento, e dois
var um programa de trabalho contemplando protocolos, lidando um com produção e
esses comitês, não se obtendo, porém, con- outro com estoques. A proposta, embora

44 RMB3oT/2013
Desarmamento e controle de armas

usada em diversas discussões, não prospe- quão complexa é a natureza dos compro-
rou. O tema possui particular motivação missos assumidos ou a serem assumidos
para o Brasil, por poder interferir com pelo Brasil, permeando as responsabilida-
os interesses nacionais e de defesa no que des do Estado defronte a comunidade in-
tange ao domínio autônomo do ciclo de ternacional, mas, no contexto humanitário,
combustível nuclear, no qual a Marinha atingindo também os indivíduos investidos
tem papel notável e essencial. da capacidade de mando, sujeitos desde
– Garantias negativas de segurança – As- 2002 também ao Tribunal Penal Interna-
pecto recorrente na agenda, objetiva proteger cional, por prescrição de emenda à nossa
os Estados não-nucleares contra o uso ou a Constituição Federal.
ameaça de uso de armas nucleares. Na prá- Se apreciarmos a história do desarma-
tica, ocorre uma resistência não exposta dos mento, constatamos que o Brasil sempre
Estados nucleares quanto a um instrumento esteve presente nas negociações relaciona-
internacional juridica- das com o tema, desde
mente vinculante, en- a Conferência de Haia
quanto os Estados não Na Assembleia-Geral de 1907, quando Rui
nucleares continuam a Barbosa contou com
se sentir sob a ameaça
da ONU, a posição assessores da Marinha
nuclear sem tal acordo. brasileira é de reiterar seu e do Exército. Parafra-
É tema de interesse es- entendimento de considerar seando o que foi bem
tratégico para o Brasil, dito pela delegação
em conformidade com a Conferência como a única brasileira na criação da
suas posturas regionais instituição constituída Liga das Nações, em
e internacionais. 1919, enquanto país
– Prevenção da cor-
pela comunidade pacífico, nada tendo de
rida armamentista no internacional para negociar imperialista, por força
espaço sideral – Desde desarmamento nuclear de seu considerável
1982 consta da agenda, território, suas extensas
porém nunca se conse- fronteiras e suas imen-
guiu passar das discussões para as negocia- sas águas jurisdicionais, o Brasil precisa ter
ções, por força de vistas divergentes quanto à Forças Armadas adequadas e bem prepara-
real necessidade desse acordo, que colocaria das. Daí é natural que busque uma atuação
restrições antes mesmo da ocorrência do determinada e contínua em todos os foros
emprego de armas ou de reflexos de cará- internacionais onde se discutem as limita-
ter humanitário. O tema possui particular ções na capacidade bélica das nações e se
motivação para o Brasil, que coordenou busca a prevenção dos danos humanitários
discussões temáticas em 2009 e 2010, por colaterais. Nessas oportunidades, logo se
poder interferir com os interesses nacionais identifica a completa opção nacional pela
e de defesa, postos as metas e os objetivos renúncia ao armamento de destruição em
do seu programa espacial. massa, seja nuclear, biológico ou químico,
devidamente formalizada pela adesão aos
O posicionamento do Brasil inúmeros tratados vigentes.
No foro da Conferência de Desarma-
Nos dois anos no exercício da função mento, a posição repetidamente expressa
de conselheiro militar, pude bem verificar pelo Brasil é de não haver alternativa, sendo

RMB3oT/2013 45
Desarmamento e controle de armas

de munições em cacho
(de forma resumida,
podendo ser descritas
como munições que
contêm outras muni-
ções de menor calibre
e as espalham na área
alvo, provendo efeito
de saturação).
Fora do âmbito da
Detalhe da Delegação Brasileira durante o período da Presidência da
ONU, por iniciativa
Conferência do Desarmamento em 2010, então composta pelo Embaixador de países insatisfeitos
Macedo Soares, ministro Tabajara, conselheiro Militar Castro Leal e pelos com compromissos já
conselheiros Júlio Laranjeira e João Marcelo alcançados ou com ne-
sua revitalização um passo firme no sentido gociações em curso, duas convenções sobre
de fortalecimento da abordagem multila- armas convencionais foram elaboradas. A
teral do desarmamento. Na Assembleia- Convenção sobre Minas Antipessoal, fruto
Geral da ONU, a posição brasileira é de do Processo de Ottawa, realizado sob forte
reiterar seu entendimento de considerar a influência de organizações não governa-
Conferência como a única instituição cons- mentais, bane totalmente a posse de minas
tituída pela comunidade internacional para antipessoal e promove a destruição dos
negociar desarmamento nuclear, apoiando estoques e limpeza de áreas, introduzindo,
a expansão no número de membros e maior pela primeira vez, a obrigação de assistência
participação da sociedade civil. a vítimas em tratados de armas. O Brasil ra-
Por outro lado, o Brasil participa de to- tificou essa Convenção e se destaca por par-
das as iniciativas desenvolvidas, no âmbito ticipação ativa no desminado humanitário
da ONU, relacionadas com o armamento na América Central e do Sul, sob a égide da
convencional e com medidas de construção Junta Interamericana de Defesa. A Conven-
de confiança. É membro pleno da Conven- ção sobre Munições em Cacho, resultante do
ção sobre Certas Armas Convencionais, Processo de Oslo, incluiu Estados, socieda-
entendidas essas armas como aquelas que de civil e o Comitê Internacional da Cruz
causam sofrimento desnecessário e têm Vermelha. Proíbe o uso, a armazenagem e
efeitos indiscriminados. Em detalhes, os a transferência de munições em cacho, com
protocolos da Convenção incluem proi- exceções, e trata também de assistência a
bição ou restrição ao uso de armas com vítimas, limpeza de áreas e destruição de
fragmentos que escapam à detecção por estoques. O Brasil, enquanto não partici-
raios X; minas, armadilhas e dispositivos pou do Processo de Oslo por considerar
improvisados; armas incendiárias; armas a inadequado o trato fora do âmbito da ONU
laser causadoras de cegueira; e obrigações e não envolver os principais produtores e
para reduzir os riscos e efeitos de restos utilizadores (entre os quais está incluso),
explosivos, em situações de pós-conflito. manteve ativa e permanente presença nas
De 2006 ao final de 2011, grupos de es- discussões no âmbito da Convenção sobre
pecialistas governamentais se reuniram Certas Armas Convencionais, que vieram
em Genebra na tentativa frustrada de a se revelar infrutíferas, por oposição dos
elaboração de protocolo referente ao uso próprios signatários de Oslo.

46 RMB3oT/2013
Desarmamento e controle de armas

Por último, no que se refere aos ins- análise de propostas de alterações. Como
trumentos ou iniciativas que, sem se con- cada acordo tem mecanismos próprios, é
figurarem como acordos entre as nações, imprescindível conhecimento específico
buscam regular o tema de desarmamento atualizado, preparo contínuo e participação
e controle de armas e contribuir para a proativa. Algumas das convenções, por
construção de medidas de confiança mú- sua complexidade, como a de Armas Bio-
tua, o Brasil está sempre presente. Cabe lógicas, envolvem inúmeros organismos
citar o Instrumento Padronizado da ONU governamentais, levando a pesados meca-
de Informação sobre Gastos Militares; o nismos internos de coordenação. Outras,
Regime de Controle de Tecnologias de em especial as relacionadas com armamento
Mísseis; o Registro da ONU sobre Armas convencional, afetam a indústria nacional de
Convencionais (abrangendo tanques, defesa, inclusive no que se refere a exporta-
blindados, sistemas de artilharia de grosso ções, como o recém-acordado Tratado sobre
calibre, aviões de combate, helicópteros de o Comércio de Armas.
ataque, navios de guerra, e mísseis e seus Mesmo expondo o tema de modo muito
sistemas de lançamento) e a Convenção sucinto, procurei deixar transparecer como
Interamericana sobre Transparência nas é preciso ser intensa e permanente a inte-
Aquisições de Armas Convencionais. ração entre o Ministério da Defesa e o das
Relações Exteriores, de modo a prover as
A atuação do Conselheiro delegações brasileiras, nos diversos foros,
Militar com os elementos requeridos para funda-
mentar as posições a serem manifestadas.
Pode-se depreender o intenso trabalho Exerci a função de conselheiro militar com
requerido em consequência desses atos inter- esse sentido em mente e atesto que foi uma
nacionais, todos contemplando a emissão de oportunidade extraordinária atuar junto à
relatórios, exames periódicos de conteúdo, nossa competente representação diplomática
medidas de verificação de cumprimento e em Genebra, participando ativamente, por

Comemoração do Dia do Marinheiro, em 2010, na sede da Representação brasileira, com participação de


conselheiros militares de países integrantes da Conferência do Desarmamento

RMB3oT/2013 47
Desarmamento e controle de armas

dois anos, na elaboração e na formulação das das armas de destruição em massa, da regu-
posições brasileiras, quer na Conferência de lação do uso das armas de efeitos inumanos
Desarmamento, quer nos foros dos tratados e e de medidas equilibradas de construção de
convenções de que o Brasil faz parte. confiança e transparência, mas preservando
Porém, considero ser também necessário sua autonomia no processo decisório de bem
que a sociedade que sustenta as Forças Arma- e adequadamente equipar as Forças Arma-
das saiba que o Brasil tem sempre posicio- das, consideradas necessárias para a proteção
namento firme e claro em prol do banimento dos legítimos interesses nacionais.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<guerras>; ONU; Desarmamento; Arma de destruição em massa; Conferência; Relações
internacionais; Política nuclear;

48 RMB3oT/2013
A BUSCA DE GRANDEZA – (X)*
Cultura Militar, Desenvolvimento e Defesa

Cultura militar, desenvolvimento e defesa interagem.


Têm influências recíprocas. Condicionam nosso futuro.

Elcio de Sá Freitas**
Vice-Almirante (Refo -EN)

SUMÁRIO

Cultura Militar
Desenvolvimento e defesa
Cultura Militar, desenvolvimento e defesa
Retrospecto Histórico
Transição
Atualidade
O imperativo da preparação
Preparação nas Forças Armadas
Preparação no Governo
Preparação na indústria de defesa
Preparação em órgãos técnico-científicos
Obstáculos

Cultura Militar governo sobre o poder militar nacional.


Este não depende só das Forças Arma-

C ultura militar tem alcance amplo.


Não se restringe a militares. Abrange
conhecimentos e ideias de um povo e seu
das. Depende principalmente de coesão e
vontade nacionais e da Base Logística de
Defesa (BLD)1, que inclui a indústria de

* Continuação da série publicada no 3o trim./2006; no 2o trim./2007; nos 1o, 2o, 3o e 4o trim./2011; e nos 2o, 3o e
4o trim./2012.
** Serviu na Diretoria de Engenharia Naval de dezembro de 1981 a agosto de 1990, tendo sido seu diretor de abril
de 1985 a agosto de 1990.
1 “Logística de Defesa é o provimento de meios para compor as Forças Armadas e sustentar suas operações em
quaisquer situações em que tenham que ser empregadas. Base Logística de Defesa (BLD) é o agregado de
capacitações tecnológicas, materiais e humanas necessárias para desenvolver e sustentar a expressão militar do
poder, mas também profundamente envolvida no desenvolvimento da capacidade e competitividade industrial
do país como um todo” [1]. A BLD tem oito componentes: indústria; ciência, tecnologia e inovação; apoio
logístico (manutenção e suprimentos); inteligência tecnológica; financiamento; mobilização; comercialização;
e arcabouço regulatório. Os três primeiros componentes constituem a Base Industrial de Defesa (BID) [1].
A BUSCA DE GRANDEZA – (X) – Cultura Militar, Desenvolvimento e Defesa

defesa, órgãos técnico-científicos e setores do poder militar com a BLD e o cenário


no Executivo e Legislativo. mundial. Orienta obtenções de meios de
defesa, no país ou no exterior. Assim,
Desenvolvimento e Defesa estimula ou inibe a integração de defesa
e desenvolvimento.
Desenvolvimento é a grande aspiração Portanto, cultura militar, desenvolvi-
nacional. Gera riqueza e, bem conduzido, mento e defesa interagem. Têm influências
formas elevadas de civilização. Para con- recíprocas. Condicionam nosso futuro.
quistar e manter esses bens é indispensável
defesa eficaz, que só o desenvolvimento Retrospecto Histórico
pode produzir e manter. Sem desenvolvi-
mento é impossível defesa eficaz. E sem de- Em quase toda a nossa história, cultura mili-
fesa eficaz é impossível proteger os bens do tar e defesa sempre foram tidas como assuntos
desenvolvimento. Além disso, por demandar exclusivamente militares, e não como preocu-
recursos tecnológicos avançados, defesa é pação nacional. Ideias explícitas sobre desen-
indutora de desenvolvimento. volvimento surgiram entre nós tardiamente.
Portanto, defesa e desenvolvimento Ações sistemáticas para desenvolvimento
são inseparáveis. Este é o princípio ba- ocorreram somente na década de 1950. Daí
silar da Estratégia Nacional de Defesa em diante o desenvolvimento foi descontínuo,
[2]. Governo e povo mas suas bases técnico-
— militares e civis
— devem entender a
Nossa base industrial de científicas se implanta-
ram com o Plano Básico
lógica e imprescindi- defesa nunca foi nossa. de Desenvolvimento
bilidade desse princí- Sempre foi o exterior Científico-Tecnológico
pio. É indispensável (PBDCT), entre 1970 e
praticá-lo. 19852.
Até o final do século XX, as relações
Cultura Militar, entre desenvolvimento e defesa estiveram
Desenvolvimento e Defesa praticamente ausentes do pensamento nacio-
nal, salvo em alguns círculos militares e civis
Desenvolvimento e defesa influem que iniciaram na década de 1970 uma base
sobre cultura militar, mas também dela industrial de defesa3 logo depois combalida.
dependem. Nossa base industrial de defesa nunca
No processo de desenvolvimento e de- foi nossa. Sempre foi o exterior. Do exterior
fesa de um país, sua cultura militar evolui, é que nos vinham quase todos os meios
pois se amplia e aprofunda o conhecimento bélicos, novos ou usados, a cada 15 ou 20
e a compreensão do povo e seu governo anos, considerados Reaparelhamento, bem
sobre o poder militar nacional. como escassos recursos de apoio logístico.
Por outro lado, a cultura militar na- Assim, o poder militar real foi quase sem-
cional é que gera interações de desen- pre insatisfatório e menor que o aparente,
volvimento e defesa. Avalia o estado, exceto em breves períodos. Aos militares só
necessidades, possibilidades e relações restava operar e manter da melhor forma os
2 O PBDCT foi aprovado em julho de 1973 e formalizado como Sistema Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (SNDCT) em 1975
3 Base Industrial de Defesa (BID) é a Base Logística de Defesa (BLD) sem seus cinco últimos componentes [1].

50 RMB3oT/2013
A BUSCA DE GRANDEZA – (X) – Cultura Militar, Desenvolvimento e Defesa

meios bélicos assim disponíveis e, em casos o mesmo ocorria na mídia, também sem
singulares, lançar bases para o futuro4. formação e informações úteis. E até mes-
Nesse ambiente histórico é que se for- mo nos cursos de altos estudos militares,
mou e consolidou a cultura militar nacio- questões sobre desenvolvimento e defesa
nal. Apesar de positiva evolução recente, não eram ainda objeto de estudos intensos e
seu substrato persiste. Dele, a parte mais contínuos. O foco das atenções era política
importante e insubstituível é a de valores internacional e estratégia — fundamental,
cívicos, a ser cuidadosamente preservada mas carente de uma BLD ainda a cons-
e fortalecida. truir em décadas de esforço inteligente e
incessante.
Transição Em dezembro de 2008 publicou-se a
Estratégia Nacional de Defesa (END),
Na década de 1970 iniciou-se uma destinada a tornar-se documento básico
transição. A implantação do PBDCT e de do Estado brasileiro sobre o poder militar
uma nascente indús- nacional. Ela declara,
tria de defesa criou logo ao início:
raízes. O PBDCT A Estratégia Nacional “A estratégia nacio-
evoluiu e originou o de Defesa é um impulso nal de defesa é insepa-
atual Sistema Nacional rável da estratégia de
de Desenvolvimento modernizante na cultura desenvolvimento. Esta
Científico e Tecno- militar nacional. Mas motiva aquela. Aquela
lógico e Inovação. A
incipiente indústria de
pode criar expectativas fornece escudo para
esta. Cada uma refor-
defesa, apesar de todas irrealistas. Desenvolvimento ça as razões da outra.
as dificuldades que e defesa é obra incessante Em ambas se desperta
enfrentou e enfrenta, para a nacionalidade
não sucumbiu. Algu- e gradual, para décadas. e se constrói a Nação.
mas universidades se Terá que superar duras Defendido, o Brasil
interessaram por as-
suntos de defesa. E os
contingências e dilemas terá como dizer não.
Terá capacidade para
militares ampliaram e construir seu próprio
aperfeiçoaram recursos humanos e centros modelo de desenvolvimento.”
tecnológicos; interagiram com indústrias e Ainda que discutível, a END é um marco
universidades; e em seus escassos progra- na evolução da cultura militar nacional:
mas de obtenção de meios, entre 1970 e pela primeira vez, o poder militar passou a
1995, procuraram desenvolver a indústria ser declaradamente preocupação do Estado
de defesa. Foi um início de evolução em Nacional; também pela primeira vez o
nossa cultura militar. Estado reconheceu que desenvolvimento e
No entanto, a cultura militar antiga ainda defesa são inseparáveis; e pela primeira vez
prevalecia: os altos escalões executivos e procurou traçar rumos para reforçarem-se
legislativos nacionais mantinham-se quase mutuamente. Foi um fato inédito, de alto
alheios a questões sobre o poder militar; alcance prático e político: procurou orientar
4 Aí se incluem a construção do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), moderno para a época, que logo
passou a produzir navios de guerra; e a criação do Instituto Militar de Engenharia (IME), do Instituto Tec-
nológico de Aeronáutica (ITA) e do Centro Técnico Aeroespacial (CTA).

RMB3oT/2013 51
A BUSCA DE GRANDEZA – (X) – Cultura Militar, Desenvolvimento e Defesa

esforços no presente e para o futuro; abriu para nós. Sem preparação, será impossível
caminho para cuidados com defesa no Con- realizá-la. A preparação terá que ser con-
gresso Nacional; atraiu atenções públicas tínua e caminhar pari passu com a grande
para problemas de defesa; e serviu e serve missão de desenvolvimento e defesa. Terá
de apoio aos que se dedicam a desenvolvi- que abranger desde os mais altos escalões
mento e defesa. do governo até os níveis mais básicos de
A Estratégia Nacional de Defesa é um execução nas Forças Armadas e na Base
impulso modernizante na cultura militar na- Industrial de Defesa.
cional. Mas pode criar expectativas irrealistas. Para toda grande missão é necessário
Desenvolvimento e defesa é obra incessante e “ter-se os homens certos nos lugares certos
gradual, para décadas. Terá que superar duras nas horas certas”. Em grandes organizações
contingências e dilemas. — civis ou militares, governamentais ou
não —, nem sempre o homem certo está no
Atualidade lugar certo. Ele pode ter sido bem preparado
para algumas funções, mas não para todas.
Continuamos em transição. Progredimos, Quanto mais elevado for o cargo, maior
mas ainda não temos cultura militar nacional será a possibilidade dessa ocorrência,
realmente motora de pois maior será a área
desenvolvimento e de- de conhecimentos e
fesa. Em organizações, Preparação é a obtenção experiências abrangida.
decisões e ações ainda de conhecimentos e Por isso, a preparação
influi a cultura militar experiências visando fins de dirigentes e seus
antiga, portadora de staffs é vital, mais ainda
valores inestimáveis específicos do que a dos demais
e permanentes5, mas níveis. Porém será inútil
insuficiente para concretizar as grandes aspi- caso se restrinja a generalidades.
rações nacionais e proteger nossa soberania e
patrimônio contra ameaças latentes. Torná-la Preparação nas Forças
apta não é só questão de tempo. Requer ade- Armadas
quada preparação. E esta tem que abranger até
os mais altos escalões de decisão nacionais Preparação dos militares
e seus staffs.
Conhecimento
O Imperativo da Preparação
Nossas carreiras militares são bem
Preparação é a obtenção de conhecimen- estruturadas. Têm quatro fases básicas de
tos e experiências visando fins específicos. provisão de conhecimentos: a de aspiran-
Nenhum país chegará à vanguarda se tes ou cadetes; a de oficiais subalternos; a
não se dedicar constantemente a desen- de oficiais intermediários; e a de futuros
volver-se e a operar e manter seus recursos almirantes, generais e brigadeiros. Em
bélicos presentes, projetar e construir os todas as quatro, os currículos são perio-
do amanhã e planejar os do futuro. Esta é dicamente revistos para atenderem às
uma grande e incessante missão, ainda nova necessidades presentes e futuras. Além

5 A parte de valores cívicos é de suprema importância. Há que preservá-la e sempre fortalecê-la.

52 RMB3oT/2013
A BUSCA DE GRANDEZA – (X) – Cultura Militar, Desenvolvimento e Defesa

dessas fases, os oficiais obtêm conheci- cultura militar nacional. Sem eles, defesa
mentos operativos específicos ou graus e desenvolvimento se dissociam.
técnico-científicos avançados no Brasil e A terceira fase, preparando staffs aos
no exterior. altos escalões, deveria prover, além de
Nas duas primeiras fases básicas, as conhecimentos operativos, conhecimen-
atualizações resultam da evolução tecnoló- tos sólidos sobre Aparelhamento Con-
gica do País e da incorporação de escassos tínuo, BLD e CTI. Seu foco deveria ser
meios bélicos obtidos no exterior6. Além interno, voltado para a Força Armada, e
da formação acadêmica, o foco dessas externo, voltado para a BLD nacional e
fases é interno, pois elas visam essencial- a internacional.
mente a operação e A última fase pre-
manutenção primária cisa intensificar e am-
dos meios bélicos. Aparelhamento contínuo é pliar os dois focos, com
Aparelhamento Con- a constante atualização de os amplos propósitos
tínuo, BLD, e Ciência,
Tecnologia e Inova-
meios bélicos e de seu apoio. necessários aos altos
escalões militares. De-
ção (CTI) — elemen- É a grande atividade veria estudar integra-
tos indispensáveis ao promotora de damente estratégia, or-
poder militar — não ganização e o cenário
constam dessas fa- desenvolvimento e defesa. militar mundial, mas
ses. Devem ser objeto Mas será solapada se com grande ênfase em
importante das duas
seguintes.
ocorrerem obtenções não aparelhamento contí-
nuo. Este último tópico
A p a r e l h a m e n t o essenciais de meios bélicos ainda não se incorporou
contínuo é a constante ou de seus projetos no à nossa cultura militar.
atualização de meios Estratégia, orga-
bélicos e de seu apoio. exterior nização e exame do
Requer frequentes in- cenário mundial são
corporações de novos meios e periódicas elementos clássicos na vida e na cultura
modernizações. Demanda atividades inin- de militares em todos os países. Mas
terruptas de projeto, pesquisa, desenvolvi- aparelhamento contínuo de meios bélicos
mento, fabricação e avaliação. Depende de só existe em países de vanguarda. Para
criar-se, desenvolver-se e manter-se uma nós, ainda é quase uma abstração. Suas
apropriada BLD. É a grande atividade relações com desenvolvimento, BLD e
promotora de desenvolvimento e defesa. CTI são preocupações recentes, que ainda
Mas será solapada se ocorrerem obtenções não criaram força para suplantar antigos
não essenciais de meios bélicos ou de seus hábitos e ideias.
projetos no exterior. Torna-se inviável Alterar esse quadro, resultante de de-
sem programas contínuos e graduais de senvolvimento tardio, é alterar a cultura
aparelhamento, com orçamentos pluria- militar nacional. Culturas alteram-se gra-
nuais. Estes conceitos não existiam na dualmente, expostas a diferentes ideias.

6 No entanto, será necessário que na segunda fase muitos oficiais obtenham graus avançados em cursos técnico-
científicos. Isto ocorre em Marinhas de países de vanguarda. Será condição indispensável para melhor
desempenho operativo, para melhor apoio, para melhor aproveitamento nas fases seguintes de preparação e
para evolução apropriada da estrutura organizacional da Marinha.

RMB3oT/2013 53
A BUSCA DE GRANDEZA – (X) – Cultura Militar, Desenvolvimento e Defesa

Porém é indispensável que ideias assumam estudo e ação antes de surtos seguintes, e
forma escrita, para multiplicarem seu poder
não existe o hábito de a ela recorrer. Tudo
e perenizarem-se. recomeça no próximo surto, quase como
no anterior, numa sucessão de ciclos de
Experiência atraso crônicos. Esta é a situação de países
de desenvolvimento
Mais difícil do que tardio [3], [4], [5], [6].
prover conhecimentos Sem aparelhamento A partir da fase de
é prover experiências. transição iniciada em
Não se pode esperar
contínuo é impossível até 1970, temos tentado
que cada indivíduo ob- mesmo uma combinação nos libertar desses ci-
tenha experiências su- mínima de experiências clos crônicos. Mas,
ficientes para exercer pela própria natureza,
bem qualquer função. em desenvolvimento e eles tendem a perpe-
Bastará que em sua defesa. Este é o nó górdio tuar-se, pois em suas
equipe haja a neces-
sária combinação de
na preparação de civis e fases finais geram ob-
solescência e escassez
experiências. Isso é in- militares, tanto no governo extrema de meios bé-
dispensável, mormen- como no setor privado licos que demandam
te em staffs dos mais urgentes substituições,
altos escalões. Porém, somente possíveis por
sem aparelhamento contínuo é impossível novas obtenções no exterior.
até mesmo uma combinação mínima de Na longa duração de cada ciclo crônico,
experiências em desenvolvimento e defe- surge uma nova geração que não teve nem
sa. Este é o nó górdio mesmo a limitada experi-
na preparação de civis ência da que viveu o ciclo
e militares, tanto no Sem terem quadros anterior e que, portanto,
governo como no se- não conseguiu obter pre-
tor privado.
civis bem preparados, paração em desenvolvi-
Sem aparelhamen- remunerados e prestigiados mento e defesa. Apesar
to contínuo, o máximo será impossível às Forças das quatro cuidadosas
possível são surtos fases básicas de provisão
passageiros de obten- Armadas cumprirem sua de conhecimentos de sua
ção de meios bélicos missão de desenvolvimento carreira militar, só pôde
fornecidos pelo exte-
rior, com participação
e defesa. É necessário que estudar superficialmente
assuntos de desenvolvi-
mínima da BLD na- esta ideia se incorpore à mento e defesa. Diante de
cional. Quinze anos ou cultura militar nacional prementes necessidades
mais ocorrem entre os operativas, é natural que
inícios desses surtos. tenda a adotar soluções
No interregno, a pouquíssima experiência típicas da cultura militar antiga, com pequenas
obtida se perde, as equipes se desfazem, alterações. Mas o indispensável e possível é
os problemas logísticos se agravam e a conciliar urgências operativas com desenvol-
obsolescência sobrevem. Pouca ou nenhu- vimento e defesa, embora com prazos globais
ma documentação analítica é deixada para mais longos [8].

54 RMB3oT/2013
A BUSCA DE GRANDEZA – (X) – Cultura Militar, Desenvolvimento e Defesa

Preparação dos Civis nantes de desenvolvimento e defesa. Nesse


amplo conjunto, avultam o Ministério da
A preparação nas Forças Armadas não Defesa e o Congresso. Em ambos é impe-
deve restringir-se aos militares. Precisa rativo haver conhecimento e experiência
incluir seus quadros civis. em desenvolvimento e defesa. Mas para
Sem terem quadros civis bem prepa- eles essa questão é ainda mais recente do
rados, remunerados e prestigiados será que para as Forças Armadas. Portanto,
impossível às Forças Armadas cumprirem no Congresso e no Ministério da Defesa,
sua missão de desenvolvimento e defesa. a necessidade de preparação é ainda mais
É necessário que esta ideia se incorpore à crítica do que nas Forças Armadas, tanto
cultura militar nacional. em conhecimento quanto em experiência.
Em países de vanguarda, a capacidade E não inclui somente recursos humanos,
do setor militar depende vitalmente de seus mas também organização e procedimentos.
componentes civis. Não tendo as imposições À preparação dos componentes militares
de mobilidade funcional indispensáveis aos e civis do Ministério da Defesa aplicam-se
militares, os civis podem permanecer muitos as observações já feitas para aqueles dos
anos num mesmo setor e função, tornando-se Comandos Militares. Seu nó górdio é a
realmente especialistas. Só eles é que podem ausência de aparelhamento contínuo.
assegurar a obtenção e acumulação de conhe- Quanto a organização e procedimentos,
cimentos e experiências técnicas, científicas e considere-se que o Ministério da Defesa é
gerenciais específicas para desenvolvimento recente, e nova sua missão de desenvolvi-
e defesa. Além de trabalhos internos nos mento e defesa. Portanto, a organização e
comandos militares, são indispensáveis na procedimentos iniciais desse Ministério
interface com a BLD. Em constante con- ainda não resultam de experiência. Pre-
vívio e ações especializadas com militares, cisarão evoluir com o conhecimento e a
eles absorvem a essência do espírito militar, experiência que forem obtendo. Mas esta,
mantêm seu status civil e fortalecem a cultura como nos Comandos Militares e em toda a
militar nacional. BLD, só será possível com aparelhamento
São muitas as especialidades necessárias contínuo e constante interação com a Base
aos civis das Forças Armadas [1]. Vão Industrial de Defesa.
muito além do campo educacional militar, A preparação para desenvolvimento e
mas existem ou podem ser introduzidas em defesa no Ministério da Defesa e nos Co-
nosso sistema de ensino superior. Tal como mandos Militares certamente se propagará
os militares, os civis deverão ter fases de ao Congresso Nacional.
aperfeiçoamento e atualização de conhe- Na preparação do Governo para de-
cimentos técnico-científico-gerenciais, senvolvimento e defesa, resta um aspecto
intercaladas com importantes experiências fundamental: direção. No momento, “as
práticas. Estas, porém, só serão possíveis políticas e ações para a BLD estão disper-
com a consecução de aparelhamento con- sas em pelo menos quatro ministérios: da
tínuo, até hoje ausente na defesa nacional. Defesa, do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior, da Ciência, Tecnolo-
Preparação no Governo gia e Inovação, e das Relações Exteriores.
Não existe um responsável pela BLD” e
Deve-se considerar todas as demais “não existe um único ente estatal com
instituições e órgãos do Governo determi- responsabilidade, autoridade e imputa-

RMB3oT/2013 55
A BUSCA DE GRANDEZA – (X) – Cultura Militar, Desenvolvimento e Defesa

bilidade para desenvolver e sustentar a nossa defesa, a não ser que outra nacional
capacidade industrial e de inovação para a substitua. Vendida a estrangeiros, haveria
a nossa defesa” [1]. investimento direto do exterior e produtos
tecnológicos inicialmente mais avançados.
Preparação na Indústria de Mas esse progresso aparente seria um re-
Defesa trocesso real. Voltaríamos a ter o exterior
como nossa Base Industrial de Defesa.
Na indústria de defesa distinguem-se Tecnologias recentes ficariam no exterior
dois segmentos: o de produtos exclusiva- [8]. Em geral, pouco ou nenhum interesse
mente de defesa e o de produtos duais, isto haveria em projetar ou fabricar aqui com-
é, que servem tanto a aplicações militares ponentes críticos. Embora com produtos
como a civis. Da primeira, o governo é o inicialmente mais avançados, mas com par-
único cliente. ticipação nacional sem
alta densidade tecno-
Questão Capital A questão mais capital, lógica, cessaria nosso
urgente e complexa esforço para crescente
A questão mais ca- autonomia. Decisões
pital, urgente e com-
na preparação e no estratégicas sobre nos-
plexa na preparação e desenvolvimento da so desenvolvimento e
no desenvolvimento indústria de defesa é não defesa seriam feitas no
da indústria de defesa exterior. Por conveni-
é não desnacionalizá- desnacionalizá-la e decidir ências políticas ou eco-
la e decidir bem sobre bem sobre associações nômicas, seriamos cer-
associações tecnoló-
gicas com o exterior.
tecnológicas com o exterior ceados — contingência
sempre existente —,
Envolve a indústria mas sem ter cultivado
e o Governo. Requer análises sucessivas a capacidade de superar cerceamentos.
de casos, cada uma servindo de base às Haveria, enfim, uma aparência moderna
seguintes, em contínua acumulação de para uma dependência antiga. Todas estas
conhecimento e experiência. considerações também se aplicam, embora
Uma empresa tende a falir ou desna- abrandadas, a indústrias de defesa com
cionalizar-se quando a demanda de seus produtos duais.
produtos e as condições atuais são insu- A desnacionalização da indústria de
ficientes para cobrir custos de operação, defesa frustra as aspirações de desenvol-
fazer investimentos e gerar lucros. Se a vimento e garantia de nossa soberania e
indústria for exclusivamente de defesa, patrimônio. Porém, isolada, nossa indústria
cabe ao Governo — seu único cliente e de defesa não atingirá altos níveis. São
responsável pela defesa do país — detectar necessárias associações tecnológicas com o
tempestivamente essa situação, analisá-la e exterior. Que tipos de associações? Quando
tomar providências. Essa ação óbvia ocorre são necessárias? Como realizá-las? Res-
em países de vanguarda. postas a essas perguntas demandam análi-
Para agilidade e eficiência, a indústria ses em centros civis e militares de estudos
de defesa deve ser prioritariamente privada. de defesa, mas com participação direta da
Portanto, pode falir ou ser vendida a es- indústria de defesa. Cabe ao Ministério da
trangeiros. Se falir, se abrirá um flanco em Defesa solicitá-las. Alguns princípios são

56 RMB3oT/2013
A BUSCA DE GRANDEZA – (X) – Cultura Militar, Desenvolvimento e Defesa

claros e também aplicáveis a instituições associação tecnológica: assistência técnica


do Governo: ocasional, assistência técnica intermitente,
– Finalidade. A finalidade de absorver assistência técnica permanente, fabricação
tecnologia é progredir tecnologicamente sob licença, joint venture e participação
por esforço próprio, mesmo após cessada acionária. Nesta última, há que se atentar
a associação com o exterior. Para isso é muito à questão do real poder decisório.
indispensável participação intensa do setor
técnico-científico nacional. Preparação na indústria exclusivamente
– Cautela. Não existem soluções garan- de defesa
tidas. Entre nações ou empresas, espere-se
apenas cordialidade e interesses conver- Na indústria exclusivamente de defesa,
gentes durante algum tempo. Resista-se a mesmo com a pequena e irregular demanda
slogans sedutores de governamental, existe
marketing (“transfe-
rências de tecnologia”,
A finalidade de absorver um nível razoável de
conhecimento e expe-
“saltos tecnológicos”, tecnologia é progredir riência em certos seg-
“plataformas de ex- tecnologicamente por mentos, enquanto em
portação”, etc.). outros ele é precário.
– Esforço. Não esforço próprio, mesmo Nos primeiros, inclui-
existem boas soluções após cessada a associação se o projeto e produção
sem esforço próprio,
inteligente e contínuo.
com o exterior. Para isso é de “mísseis e foguetes,
carros de combate, sen-
– Potencial. Para indispensável participação sores, sistemas de co-
absorver tecnologia, intensa do setor técnico- mando e controle, armas
incluam-se pessoas já leves e munições”. [1]
com o máximo possí- científico nacional Demandas por produtos
vel de conhecimento, mais complexos, mas
experiência e estabilidade, tanto na empresa da mesma natureza, poderão aumentar gra-
como no segmento técnico-científico. Mais dualmente a capacidade tecnológica nesses
aprende quem mais sabe. segmentos. Nos outros, menos evoluídos,
– Flexibilidade. É difícil prever as pos- estão “a capacidade industrial e de projeto de
síveis contingências, favoráveis ou não, de meios navais, armas pesadas e torpedos”. [1]
uma associação tecnológica com o exterior.
Convém haver cláusulas contratuais que Preparação nos segmentos mais
permitam flexibilidade para superá-las ou capacitados da indústria exclusivamente
explorá-las. Quanto maior o porte, valor e de defesa
duração prevista para a associação tecno-
lógica, mais necessária será a flexibilidade. Mesmo nos setores mais capacitados da
– Poder Decisório. O real poder decisório indústria exclusivamente de defesa, é pro-
não é diretamente proporcional ao capital fi- vável que os produtos atuais tenham alguns
nanceiro. Depende muito do capital intelec- componentes críticos ainda importados, por
tual, sempre maior no país mais avançado. dificuldades tecnológicas ou insuficiência
– Modalidade. A modalidade escolhida de demanda. Quando essas dificuldades são
deve ser a que melhor atenda ao conjunto de tecnológicas, tem-se uma vulnerabilidade
princípios acima. Há várias modalidades de estratégica. Mapear e analisar detalhadamente

RMB3oT/2013 57
A BUSCA DE GRANDEZA – (X) – Cultura Militar, Desenvolvimento e Defesa

situações como essas e ter planos e ações para Preparação nos segmentos menos
superá-las é obter conhecimento indispensá- capacitados da indústria exclusivamente
vel. É uma preparação constante, somente de defesa
possível por ação conjunta do Ministério da
Defesa com a indústria e centros de estudos A capacidade de projeto e construção
de defesa. Ela terá que ocorrer sempre, pois de meios navais, armas pesadas e torpedos
a evolução tecnológica cria constantemente inclui-se no setor menos evoluído da indús-
novas necessidades e limitações. tria exclusivamente de defesa. Este é um
Também é possível formidável obstáculo,
que alguns componen-
tes em produtos atuais
A capacidade de projeto particularmente Marinha. Decorre de
para a

estejam sendo fabri- e construção de meios nosso desenvolvimento


cados sob licença do navais, armas pesadas e tardio e da cultura mili-
exterior. Se forem crí- tar nacional consequen-
ticos, serão aplicáveis torpedos inclui-se no setor te, ainda parcialmente
as considerações do menos evoluído da indústria atuante.
parágrafo precedente. Quanto a projeto de
Desenvolvimen-
exclusivamente de defesa. navios de guerra, ain-
to e defesa requerem Este é um formidável da não percebemos sua
constante evolução. obstáculo, particularmente importância e complexi-
Portanto, qualquer in- dade, nem sua baixa inci-
dústria exclusivamente para a Marinha. dência no custo total da
de defesa não deve Quanto a projeto de navios vida de uma classe de na-
concentrar-se apenas vios7. Não percebemos a
nos produtos atuais.
de guerra, ainda não preponderância do proje-
Precisa dedicar-se si- percebemos sua importância to na nacionalização de
multaneamente ao seu e complexidade, nem sua sistemas, equipamentos
aperfeiçoamento e ao e materiais e, portanto,
desenvolvimento de baixa incidência no custo na demanda tecnoló-
produtos de uma nova total da vida de uma classe gica à Base Industrial
geração. Também para de Defesa. Ainda não
isso é necessário obter
de navios nos convencemos de
conhecimento e expe- que são indispensáveis
riência, seja por inteligência tecnológica, projetos nacionais de navios de guerra para
associação com o setor técnico-científico associar defesa e desenvolvimento, como
nacional, associações com o exterior ou por requer a Estratégia Nacional de Defesa. Pro-
outros meios. Os aperfeiçoamentos em pro- jetos estrangeiros tendem a excluir sistemas,
dutos atuais e os desejáveis para a próxima equipamentos e materiais projetados no País.
geração requerem ação conjunta das Forças E erroneamente tendemos a pensar que facil-
Armadas e do Ministério da Defesa com mente poderemos nos capacitar em projetos
a Base Industrial de Defesa, em atividade de navios de guerra quando desejarmos. To-
constante que acompanha todo o processo dos esses fatos são exaustivamente tratados
de desenvolvimento e defesa. nas referências de [3] a [9]. Por outro lado, o
7 Para uma classe de quatro modernas fragatas, estima-se que o custo do projeto seja 6% do custo de obtenção e
4% do custo total de ciclo de vida da classe.

58 RMB3oT/2013
A BUSCA DE GRANDEZA – (X) – Cultura Militar, Desenvolvimento e Defesa

mecanismo de ciclos de atrasos crônicos, já risco de falirem ou se desnacionalizarem é


mencionado, leva repetidamente a situações provavelmente menor, mas não desprezí-
emergenciais que só podem ser atendidas por vel, principalmente se produzirem insumos
obtenções de navios de guerra no exterior, para a indústria exclusivamente de defesa.
novos ou usados, ou então de seus projetos.
Nosso desenvolvimento tardio e a cul- Preparação em Órgãos
tura militar consequente também geram a Técnico-Científicos
impressão de que facilmente passaremos
da construção de navios mercantes para Os orgãos técnico-científicos são a parte
a de navios de guerra. Essa impressão é mais cerebral e de mais lenta maturação do
falsa, pois um navio de guerra é produto organismo de desenvolvimento e defesa. Sua
muito mais complexo. base são as ciências exa-
É possível passar da tas e de engenharia. Sua
construção naval mer- A deficiência maior na preparação consiste em
cante para a de navios
de guerra. Mas isso
preparação do segmento formação de recursos
humanos, aquisição de
demanda tempo, orga- técnico-científico para conhecimentos, implan-
nização e assistência desenvolvimento e defesa tação de laboratórios e
técnica apropriada [8]. aplicação em problemas
Demanda preparação. é sua pouca utilização. práticos e complexos.
Quanto a torpedos, Esta só é possível com Quase toda essa prepa-
essenciais para o poder
naval, há um longo ca-
aparelhamento contínuo ração vem ocorrendo
desde a década de 1970,
minho a percorrer. Para das Forças Armadas e ainda que lentamente.
isso, porém, ao menos empreendimentos nacionais A deficiência maior
parte da experiência na preparação do seg-
que vem sendo acumu- em que o segmento mento técnico-científico
lada em mísseis talvez participe intensamente para desenvolvimento e
possa ser útil. Em armas defesa é sua pouca utili-
pesadas, certamente é zação. Esta só é possível
o Exército que melhor condição tem para com aparelhamento contínuo das Forças Ar-
liderar um esforço conjunto. madas e empreendimentos nacionais em que
o segmento participe intensamente.
Preparação na indústria não exclusivamente Nos órgãos técnico-científicos é que se
de defesa formam as retaguardas técnicas, que são
grupos de pessoas capazes de aplicar recursos
Muitas das considerações acima também avançados a problemas práticos e complexos
se aplicam a empresas com produtos de de desenvolvimento e defesa. Essas retaguar-
emprego civil e militar. Essa duplicidade das técnicas são o elo vital entre obtenção e
de aplicação será tanto maior quanto mais aplicação de conhecimentos. Ligam o setor
alta for a densidade tecnológica dos pro- técnico-científico ao organismo decisório e
dutos. Como o Governo não é o cliente executivo nacional.
único dessas empresas, sua manutenção e O grau de preparação do setor técnico-
progresso não dependem apenas do apare- científico da BLD mede-se pelo número,
lhamento contínuo das Forças Armadas. O abrangência e utilização das retaguardas

RMB3oT/2013 59
A BUSCA DE GRANDEZA – (X) – Cultura Militar, Desenvolvimento e Defesa

técnicas. Elas são analisadas detalhada- otimismo, prenunciaram evolução constante


mente na referência [9]. em nossa defesa e foram bem-sucedidas. Po-
rém feneceram. Por que? Feneceram porque
Obstáculos não resistiram a obstáculos sempre presen-
tes, ainda que latentes. Sem os identificar,
Após mais de um século de ciclos de atra- analisar e reduzir, ficará desprotegida nossa
sos crônicos em defesa8 e tardança em desen- tentativa atual. Faremos essa identificação e
volvimento, mais uma vez tentamos superar análise baseados na referências de [3] a [10]
essas duas falhas. Outras tentativas houve, e nas considerações precedentes.
e não muito remotas. Convém lembrá-las. O primeiro obstáculo foi a insuficiente
Em defesa, basta citar as três últimas cultura militar nacional, que desvinculava
tentativas da Marinha: defesa de desenvolvimento, considerava
defesa como preocupação e atribuição ex-
1) entre 1930 e 1950, a criação de um clusiva de militares e praticamente ignorava
moderno estaleiro para navios de guerra, a importância de uma BLD. Esse obstáculo
o Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro tem-se reduzido, mas ainda permanece.
(AMRJ), que se edificou e logo construiu O segundo obstáculo foi a frequente ins-
contratorpedeiros com projetos americanos tabilidade econômico-financeira nacional,
e ingleses, tornando-se o sustentáculo de que cancelava ou interrompia empreendi-
nossa Armada [10]; mentos longos e complexos, totalmente
2) entre 1974 e 1980, construção de dependentes de continuidade. Não se pode
duas modernas fragatas de projeto inglês dizer que não mais ocorrerá.
no AMRJ; O terceiro obstáculo foi a baixa capa-
3) entre 1981 e 1995, projeto de quatro cidade de demanda de nossas Forças Ar-
corvetas classe Inhaúma na Diretoria de madas, que inviabilizava economicamente
Engenharia Naval (DEN), com alto con- obter no Brasil vários produtos de defesa,
teúdo nacional, construídas no AMRJ e na mesmo com subsídios. Este obstáculo era
Verolme; construção de quatro submarinos agravado pelo anterior, e também permane-
de projeto alemão no AMRJ; primeiro pro- ce. É irrealista supor que o Estado poderá
jeto básico nacional, na DEN, de um sub- subsidiar suficientemente vários sistemas
marino diesel-elétrico; reprojeto da Corveta e produtos de defesa até que tenham de-
Inhaúma, gerando a Corveta Barroso. Esta, manda economicamente viável. Esta só
primeiro navio de guerra não protótipo pro- ocorrerá gradualmente, acompanhando o
jetado no Brasil em toda a era republicana, crescimento econômico.
só pôde ser incorporada em 2008, 14 anos O quarto obstáculo foi a insuficiente pre-
após se iniciar o seu projeto. paração de todo o nosso sistema civil e mili-
tar para a missão permanente de desenvolvi-
As três tentativas acima ocorreram num mento e defesa. Preparação consiste em dois
período de 78 anos. A mais recente termi- componentes: conhecimento e experiência.
nou há cinco anos, mas seu impulso já se Ambos sempre foram e ainda são muito
esgotara bem antes. Todas as três, e particu- insuficientes. Na Marinha, conhecimento
larmente a última, iniciaram-se com intenso e experiência aumentaram moderadamente
8 A primeira tentativa bem-sucedida da Marinha para evolução em defesa foi o projeto e construção nacionais
de monitores encouraçados próprios para a guerra em águas fluviais, ainda no Brasil imperial. Como as
subsequentes, não teve continuidade.

60 RMB3oT/2013
A BUSCA DE GRANDEZA – (X) – Cultura Militar, Desenvolvimento e Defesa

na terceira tentativa mencionada parágrafos cresceu com os propósitos de nossa Es-


acima, mas reduziram-se desde então. O nó tratégia Nacional de Defesa, expressos no
górdio em toda a BLD é a insuficiente ex- seu princípio basilar. Nela definem-se os
periência. Só poderá ser rompido pari passu grandes rumos, mas não as rotas. Estas te-
com aparelhamento rão que ser traçadas por
contínuo das Forças etapas, coerentes com
Armadas, vinculado Diante de recursos escassos a Estratégia Nacional
estreitamente ao desen- cuja continuidade é incerta, de Defesa, mas diante
volvimento nacional. de cenários nacionais
Na tentativa atual, concentração em vultosos e mundiais mutáveis.
os quatro obstáculos empreendimentos poderá Deverão resultar de
acima permanecem. conhecimento, basear-
Porém outro obstá- comprometer o esforço se em realismo e buscar
culo avulta: a correta global de desenvolvimento e prudente e gradual re-
escolha de prioridades defesa dução de dependências.
e sequências de ações [9] Diante de recursos
tecnológico-industriais escassos cuja continui-
que evitem interrupções ou retrocessos dade é incerta, concentração em vultosos
diante de solavancos econômicos e da empreendimentos poderá comprometer o
instável política mundial. Este obstáculo esforço global de desenvolvimento e defesa.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<ARTES MILITARES>; Pensamento militar; Defesa; Desenvolvimento; Forças Armadas;
Indústria Militar; Ciência e Tecnologia;

Referências

[1] Base Industrial de Defesa. Eduardo Siqueira Brick, Seminário na Escola de Comando e Estado-
Maior do Exército (Eceme), Rio de Janeiro, 27 de março de 2013.
[2] Estratégia Nacional de Defesa. 2a Edição. Ministério da Defesa, Brasil, dezembro de 2008.
[3] “A Busca de Grandeza”. Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas, Revista Marítima Brasi-
leira. 3o trimestre de 2006.
[4] “A Busca de Grandeza II”. Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas, Revista Marítima
Brasileira. 2o trimestre de 2007.
[5] “A Busca de Grandeza III”. Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas, Revista Marítima
Brasileira. 1o trimestre de 2011.
[6] “A Busca de Grandeza IV”. Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas, Revista Marítima
Brasileira. 2o trimestre de 2011.
[7] “A Busca de Grandeza V”. Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas, Revista Marítima
Brasileira. 3o trimestre de 2011.
[8] “A Busca de Grandeza VI”. Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas, Revista Marítima
Brasileira. 4o trimestre de 2011.
[9] “A Busca de Grandeza VII”. Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas, Revista Marítima
Brasileira. 2o trimestre de 2012.
[10] Memórias de um Engenheiro Naval – Vice-Almirante (EN) Júlio Regis Bittencourt, Serviço de
Documentação da Marinha, 2005.

RMB3oT/2013 61
CARTOGRAFIA: UM BREVE PANORAMA HISTÓRICO

MÚCIO PIRAGIBE RIBEIRO DE BAKKER*


Contra-Almirante (Refo)

A atividade cartográfica tem acompa-


nhado a evolução do homem desde as
suas manifestações artísticas mais rudimen-
o desenvolvimento das artes e ciências,
paulatinamente, iriam permitir ao homem
dilatar o seu horizonte geográfico e ocupar
tares. Os registros pictóricos nas cavernas novos espaços, que ele ia representando
de Altamira, com ideias expressas por meio por meio de mapas ou cartas geográficas.
de desenhos ou figuras simbólicas, as gra- O conhecimento científico, paralelamente,
vuras nas tabuletas de barro, apresentando incentiva a discussão sobre a forma da Ter-
um antigo caminho ou a situação do local ra, que só passou a ser considerada esférica
onde um grupo social habitava, constituem, depois dos filósofos pitagóricos, e depen-
na realidade, manifestações cartográficas dente do Sol, quando Copérnico suplantou a
primitivas e, provavelmente, representam Teoria Geocêntrica de Ptolomeu. Os mapas
o início de um processo de registro gráfi- e as cartas, sob as mais diferentes formas,
co das atividades do homem, que o tem estiveram presentes durante todo esse pro-
acompanhado em sua trajetória através do cesso, como fiéis testemunhas gráficas da
espaço e do tempo. evolução do conhecimento humano.
As movimentações ou migrações huma- As necessidades da navegação marítima,
nas, as guerras, a ampliação do comércio, o desenvolvimento da artilharia e da arte da
* Pronunciamento feito pelo autor em conferência sobre Cartografia, realizada em Brasília, em fins da década
de 1980, quando exerceu as funções de Secretário de Cartografia do Ministério de Ciência e Tecnologia.
Colaborador assíduo da RMB.
guerra, a colonização de amplos espaços de saneamento e para possibilitar o ordena-
geográficos, a busca de matérias-primas, mento do espaço, por meio da distribuição
as exigências da aeronáutica, as novas urbana, agrária e do registro cadastral; e o
perspectivas de uso do solo, juntamente zoneamento ambiental, para compatibilizar
com o desenvolvimento das ciências, o desenvolvimento socioeconômico com
sobretudo as astronômicas, geográficas, os parâmetros da preservação ecológica,
geodésicas e matemáticas, foram exigindo, são alguns aspectos, entre outros vários, da
gradativamente, não só maior precisão na moderna cartografia. Por outro lado, toda
representação cartográfica, como também essa cartografia especializada ou temática
a inclusão de novos temas, à medida que requer um assentamento geodésico funda-
a atividade humana ia se diversificando e mental, que lhe dê precisão e consistência, e
novas fronteiras iam sendo conquistadas. necessita de uma linguagem específica que
Atualmente, a cartografia adquiriu a torne de fácil utilização e compreensível
amplo espectro, atingindo praticamente para seus usuários, além de uma escala
todos os assuntos ligados às atividades do compatível com o tema representado e com
homem, constituindo-se, assim, em suporte a finalidade em vista.
indispensável ao planejamento nacional A cartografia, portanto, continua acom-
e integrado a essas atividades. A par da panhando os caminhos do homem e re-
cartografia ilustrativa, normalmente em gistrando todas as suas novas conquistas.
escala pequena, e usualmente empregada A cada etapa alcançada pela inteligência
na representação de amplos espaços da humana, um novo tema cartográfico surge
superfície da Terra e de sua distribuição e uma nova técnica lhe dá a representação
geográfica e política, a atividade carto- adequada. A exploração do fundo dos mares
gráfica se especializou conforme os mais e do seu subsolo, a ocupação da região antár-
diferentes temas ligados ao desenvolvi- tica e a conquista do espaço estão exigindo
mento econômico e social das sociedades novas concepções cartográficas, para as
humanas. O mapeamento do solo e da quais são indispensáveis os satélites geodé-
vegetação para atender ao planejamento sicos, os sensores remotos e a informática,
agrícola; o mapeamento geológico para o como uma comprovação paradoxal de que
aproveitamento dos recursos minerais; a uma das mais antigas atividades do homem
cartografia para o planejamento de obras continua a ter aplicação das mais modernas.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<ATIVIDADES MARINHEIRAS>; Cartografia; Estudo do oceano;
A HISTÓRIA MILITAR NA FORMAÇÃO DOS OFICIAIS
DE MARINHA*

“... la historia, …, depósito de las acciones, testigo


de lo pasado, ejemplo y aviso de lo presente, advertencia
de lo por venir.”
Miguel de Cervantes

“A História sempre foi, em todos os tempos, a maior


fonte de ensinamentos de que dispõe a Humanidade.”
Vice-Almirante João do Prado Maia (1961)

Guilherme Mattos de Abreu**


Contra-Almirante (RM1)

A apresentação a seguir traduz a nossa


visão quanto aos objetivos que se
busca alcançar com o ensino da disciplina
Art. 27. São manifestações essenciais
do valor militar:
I – o patriotismo, traduzido pela vontade
História Naval nos cursos de formação de inabalável de cumprir o dever militar e
oficiais de Marinha, em particular os gra- pelo solene juramento de fidelidade à Pá-
duados na Escola Naval (EN). tria até com o sacrifício da própria vida;
Neste trabalho, a expressão “História II – o civismo e o culto das tradições
Militar” abrangerá os ambientes, naval, históricas;
terrestre e aeroespacial, que são interde- III – a fé na missão elevada das Forças
pendentes. A expressão História Naval, Armadas;
portanto, será tratada como uma compo- IV – o espírito de corpo, orgulho do
nente da História Militar. militar pela organização onde serve;
Antes de prosseguirmos, vale destacar V – o amor à profissão das armas e o
que o Estatuto dos Militares1 estabelece, entusiasmo com que é exercida; e
em seu artigo 27: VI – o aprimoramento técnico-profissional.

* Trabalho apresentado no I Encontro de Historiadores Militares (CEPHiMEx/IGHMB), realizado na Aman, de


18 a 20 de maio de 2012, e publicado na Revista Villegagnon de 2012.
** N.R.: Superintendente de Ensino da Escola Naval, por ocasião da apresentação deste artigo.
1 Lei no 6.880, de 9 de dezembro de 1980.
Em nossa avaliação, os conhecimentos é uma qualidade de um oficial de Estado-
adquiridos no ensino da História Militar são Maior. Mas, do mesmo modo que ocorre
essenciais para a moldagem desses atributos. em relação ao artigo 27 do Estatuto dos
Mais especificamente, a Ordenança Geral Militares, conclui-se que os conhecimentos
para o Serviço da Armada (OGSA)2 – docu- adquiridos no ensino da História Militar
mento orientador das tradições e procedimen- são essenciais para a moldagem das demais
tos marinheiros, sucessivamente aperfeiçoado qualidades elencadas.
e cujas origens remontam a cerca de 700 anos3 Coerentemente com o Estatuto e a Or-
– estabelece, em seu artigo 6-1-15: denança, o Currículo da Escola Naval es-
Art. 6-1-15. São qualidades desejáveis tabelece o perfil dos oficiais de Marinha ali
do oficial de Estado-Maior: graduados, bem como aponta os atributos e
a) dominar intelectualmente sua área de as competências e habilidades que devem
atividade e sobre ela exercer domínio apresentar (grifos do autor):
profissional; Ao longo de cinco anos4, o aspirante
b) ter conhecimento das novidades técnicas da Escola Naval será preparado para,
que o progresso introduz na prática, tanto a partir do condicionamento moral,
nas armas em si como no seu emprego; militar e psicológico, exercer as funções
c) ter conhecimentos estratégicos e táticos; inerentes aos postos de segundo-tenente
d) ter conhecimentos de história militar e primeiro-tenente e ser capaz de
e naval; e desenvolver-se para exercer as funções
e) ter a habilidade para o trabalho em de comando e direção inerentes aos
grupo, a consciência de que a assessoria demais postos da carreira.
se destina à decisão do chefe e de que, (...........................................................
uma vez esta assumida, deve empenhar- .............................................................
se totalmente no seu cumprimento. ................)
Como síntese das qualificações desejá-
Verifica-se que a Ordenança, espe- veis ao oficial subalterno ... verifica-se
cificamente, estabelece que dispor dos que a este são cometidas responsabi-
conhecimentos de História Militar e Naval lidades por atividades operacionais e

2 Decreto no 95.480, de 13 de dezembro de 1987, alterado pelos Decretos no 937, de 23 de setembro de 1993, e no
1.750, de 19 de dezembro de 1995.
3 A forma mais antiga das Ordenanças encontrada são Ordinationes Ripariae, elaboradas pelos dirigentes marítimos
de Barcelona e confirmadas por Jaime I (Rei de Aragão), em 1258, tratando do armamento que deveriam
levar os marinheiros embarcados em suas naves. Pouco depois, surgiu o código de Las Siete Partidas (1265),
de Afonso X, o Sábio (Rei de Leão e Castela), que regulou como se deveria reger uma Marinha constituída
essencialmente de navios de guerra.
Mesmo após a Restauração Portuguesa, tal legislação quase sempre foi observada pela Armada lusi-
tana até quase o século XIX. De grande influência em nossa Marinha, foi também o documento The King’s
Regulations and Admiralty Instructions for the Government of Her Majesty’s Naval Service, ou seja, as
Ordenanças britânicas. Suas origens remontam, da mesma forma que as do Reino de Aragão, aos usos e
costumes navais do Mediterrâneo, possivelmente os estabelecidos nas Leis de Rodes (800 AC), preservadas
pelas compilações romanas sob a designação Lex Rhodia.
Em Portugal, país do qual nos ficaram as leis, usos e costumes navais, só muito tarde o vocábulo
ordenança foi utilizado para a legislação naval. Excetuando o período filipino, quando as Ordenanzas espa-
nholas nortearam a atuação das armadas comuns, foi notória a preferência lusa pela palavra regimento para
denominar procedimentos gerais. (OGSA, Título X – Histórico).
4 Quatro anos do Ciclo Escolar, acrescido de um ano do Ciclo Pós-Escolar, como guarda-marinha.
A HISTÓRIA MILITAR NA FORMAÇÃO DOS OFICIAIS DE MARINHA

técnico-administrativas, ... sendo que sociada às operações terrestres e aéreas


dele se espera o exercício eficiente da que lhe forem relacionadas, integrando-
liderança na condução e supervisão a no desenvolvimento geral da guerra.
de tarefas de subordinados. Deverá
possuir, ainda, uma sólida formação Esta visão abrangente, de associar a guerra
acadêmica que assegure, ao longo da naval às operações terrestres e aeroespaciais
carreira, sua capacidade de perseguir o e aos campos político, diplomático e militar,
contínuo aperfeiçoamento profissional, em suma, à grande estratégia, é tradicional no
sujeito, cada vez mais, a transformações ensino de História Naval na EN. O saudoso
velozes e sofisticadas. professor Capitão de Mar e Guerra Léo Fon-
seca e Silva (1927-1997), então responsável
Adicionalmente, a “Rosa das Virtudes”, pela cátedra de História Naval por mais de
estabelecida na publicação Doutrina de 40 anos, orientava-nos a estudar História
Liderança da Marinha, do Estado-Maior da associada à Geografia (preparava, assim, as
Armada, lista os 16 traços de caráter que um nossas mentes para absorver os conceitos da
militar da Marinha deve possuir, em um dia- geopolítica); insistia em apontar que o conhe-
grama no formato de uma rosa dos ventos. cimento e a interpretação dos acontecimentos
do passado seriam importantes para moldar
o posicionamento dos futuros oficiais diante
dos fatos, ao longo da carreira; salientava os
vínculos da guerra naval ao que se passava
nos demais ambientes. Exaustivamente,
repetia que inexiste, nem nunca existiu,
a arma absoluta – aquela que nunca seria
confrontada:
De vez em quando, o homem pensa ter
chegado à perfeição, com a descoberta
de uma nova arma, tão terrível que
não poderá ser mais superada, isto é,
a arma absoluta! E por vezes chega
a ter a ilusão de que tal arma, por ser
absoluta, virá acabar com a guerra, já
A Rosa das Virtudes que ninguém terá coragem de usá-la!
Assim foi sempre, especialmente com a
O estudo da História Militar e de seu arma de fogo, o gás asfixiante, o avião,
componente naval contribui sobremaneira o submarino, a bomba atômica, a bom-
para a moldagem de tais atributos, com- ba de hidrogênio, e já se fala em raios
petências, habilidades e traços de caráter. terríveis e bombas orbitais!
O Currículo estabelece como objetivos Conseguirá um dia o homem chegar
gerais da disciplina História Naval: à perfeição absoluta de destruir todo
– Analisar o desenvolvimento do fenô- e qualquer inimigo, ou seja, ele pró-
meno da guerra e suas implicações nos prio?!! (SILVA, 1980, p. 74.)
campos político, diplomático e militar.
– Analisar o desenvolvimento dos meios Cabe ainda destacar que, ao longo do
navais e a evolução da guerra naval as- curso, existe uma ampla gama de opor-

66 RMB3oT/2013
A HISTÓRIA MILITAR NA FORMAÇÃO DOS OFICIAIS DE MARINHA

tunidades para se trazer ao aspirante os no Colégio Naval e, por sua vez, tem prosse-
referenciais do passado. São exemplos: guimento na Escola de Guerra Naval.
as cerimônias alusivas à Batalha Naval Ao estudar a História Militar e seu com-
do Riachuelo (11 de junho) e ao Dia do ponente naval e conhecer as realizações
Marinheiro (13 de dezembro); visita anual do passado, o nosso aspirante assimila o
dos Veteranos de Guerra, inauguração do exemplo dos grandes líderes; sedimenta o
Memorial de Honra, em homenagem aos patriotismo, o civismo, o culto às tradições
oficiais e guardas-marinha falecidos em históricas, o compromisso com o legado
operações de guerra; resgate de marcos construído pelas gerações passadas, o espí-
históricos, como a “Canção da Divisão rito de corpo, o amor à profissão das armas
Naval em Operações de Guerra” (DNOG e o entusiasmo com que é exercida e a fé
– Primeira Guerra Mundial (IGM))5, visi- na missão elevada das Forças Armadas;
tas guiadas ao Museu Naval e ao Espaço bem como encontra motivação para o apri-
Cultural da Marinha etc. moramento técnico-profissional. Adquire
Como o Sistema de Ensino da Naval a convicção de que o mar sempre esteve
(SEN) é um processo de educação contínuo presente na história do Brasil: que o expôs
e progressivo, o estudo de História na Escola ao mundo, que lhe trouxe o progresso e as
Naval representa a continuidade do iniciado ameaças.

Inauguração do Memorial de Honra, em homenagem aos oficiais e guardas-marinha falecidos em


operações de guerra, por veteranos de guerra e outras autoridades, em 2011

5 Na Primeira Guerra Mundial, tornou-se muito conhecida a marcha britânica “It’s a long way to Tipperary”. O
Capitão de Corveta Benjamim Goulart (comandante do Navio-Tênder Belmonte e, mais tarde, do Cruzador
Bahia) criou versos para serem cantados com a música dessa marcha. A Canção da DNOG foi muito cantada
pelas guarnições da Divisão Naval e recentemente recuperada para emprego em cerimônias na Escola Naval.

RMB3oT/2013 67
A HISTÓRIA MILITAR NA FORMAÇÃO DOS OFICIAIS DE MARINHA

De fato, constatará quão vulnerável na Batalha Naval de Hampton Roads (Guer-


é o nosso país às ações vindas do mar ra Civil Americana – 9/9/1862), na Batalha
ou conduzidas no mar, ao analisar a sua Naval do Riachuelo9 (Guerra da Tríplice
história. A vulnerabilidade, já grave, em Aliança – 11/6/1865), na Batalha Naval de
função da dependência da economia em Lissa (Itália versus Áustria – 20/7/1866) e
relação ao tráfego marítimo, evidenciada outras, decaindo a sua relevância como tática
nas duas Guerras Mundiais, vê-se hoje deliberada na primeira metade do século se-
aguçada em função de possuirmos uma guinte. A abordagem, que ao longo do século
cadeia produtiva de petróleo dispersa em XX tornara-se um evento com pouca pro-
nossa extensa Amazônia Azul e de existir, babilidade de ocorrência, voltou a merecer
em terra, concentração de macrovalores ao atenção em nosso tempo, passando a figurar
alcance de ações bélicas de caráter naval.6 nos programas de adestramento em função
Ao examinar as mudanças das táticas em da incidência de operações de interdição de
função da evolução tecnológica, constatará área marítima (MIO – Maritime Interdiction
que procedimentos antigos ressurgem com Operations), como a que está em execução
novas roupagens. Assim, o abalroamento em águas libanesas pela Força Naval da
deliberado com o uso de esporões7, típico Unifil (United Nations Interim Force in
do combate com galés8, seria novamente Lebanon), comandada por um almirante da
adotado no século XIX, como, por exemplo, Marinha do Brasil.

A Abordagem ontem e hoje

Combate dos galeões holandeses Utrecht e Huys Grupo de Visita e Inspeção da Fragata União em
Van Nassau contra o português Nossa Senhora do treinamento de abordagem a viva força, em águas
Rosário (Bahia – setembro de 1646)10 libanesas

6 Tal observação nos remete ao conceito de “áreas vitais”, onde se encontra maior concentração de poder político
e econômico, conforme define o subitem 4.3 da Política de Defesa Nacional (Decreto 5.484/2005).
7 Esporão – Protuberância pontuda e muito resistente na proa dos navios de guerra, destinada a perfurar o casco
dos navios adversários.
8 Galé – Navio de guerra da antiguidade impelido por remos, podendo ou não possuir vela como recurso de
propulsão auxiliar.
9 O abalroamento foi empregado pelo Almirante Barroso na Batalha Naval do Riachuelo (11 de junho de 1865),
ainda que a Fragata Amazonas, seu capitânia, não fosse equipada com esporão. Os navios encouraçados do
tipo monitor, construídos à época, incorporariam o esporão no seu projeto.
10 Os navios holandeses aferraram-se ao português, cujo comandante decidiu explodi-lo levando com ele o Utrecht e
avariando seriamente o Huys Van Nassau, que, posteriormente, foi recuperado e incorporado à Armada portuguesa.

68 RMB3oT/2013
A HISTÓRIA MILITAR NA FORMAÇÃO DOS OFICIAIS DE MARINHA

Ao instruir-se sobre as Guerras Greco- Ao pesquisar sobre os meios envolvidos


Persas (século V a.C.), aprecia, na segunda na guerra naval e aeronaval no Oceano Pací-
delas, a estratégia do rei de Esparta, Leônidas, fico na Segunda Guerra Mundial, pode iden-
de posicionar os seus soldados no desfiladeiro tificar que a mentalidade ofensiva tradicional
das Termópilas (480 a.C.), neutralizando em japonesa fez com que os militares daquele
larga escala a superioridade numérica do in- país desprezassem os recursos tecnológicos
vasor. Ao mesmo tempo, contempla um caso voltados à sobrevivência em combate. En-
remoto de guerra naval associada às operações quanto navios e aeronaves norte-americanos,
terrestres. O movimento das forças terrestres mesmo com danos severos, conseguiam
persas se dava ao longo da costa, pois estava retornar às bases, ser recuperados e voltar
vinculado ao apoio de uma força naval. à ação, os seus congêneres japoneses eram
Os espartanos sucumbiriam depois de der- destruídos em combate12 – aspecto que
ramar muito sangue persa em Termópilas; os chama a atenção para a diversidade de
persas seriam derrotados na Batalha Naval de preocupações que pode assomar a um líder
Salamina e em outros confrontos, colocando militar de alto nível para alcançar o sucesso;
a termo a invasão. Eventos que permitem no caso, contrapor-se a condicionamentos
abordar a estratégia de fazer o inimigo com- culturais de seu povo.
bater em situação que lhe é desfavorável, O nosso aspirante, ao estudar a campanha
bem como assinalar a interdependência da contra os holandeses (século XVI), toma
força naval e terrestre, desde a Antiguidade, conhecimento da amplitude do teatro de
condicionada ao cenário estratégico. operações, que se estendia até a Europa e
Ao estudar a Guerra Russo-Japonesa, o litoral africano13; da divisão dos escassos
conhece a excelência da manobra nipônica recursos militares portugueses em função de
na Batalha Naval de Tsushima e aprende seus interesses na Ásia, na África e no Brasil,
que não se deve subestimar o inimigo (a influenciando o correr dos acontecimentos em
liderança russa “nada conhecia sobre a nossa terra; de inúmeros combates navais e
capacidade do Japão em mobilizar suas desastres naturais, com elevado custo em
reservas, e alimentavam a ilusão de que um vidas de parte a parte; bem como de que uma
soldado russo equivalia a três japoneses”; significativa batalha da História Naval espa-
o Tsar Nicolau II e muitos de seus súditos nhola e portuguesa se deu no Brasil, com di-
descreviam os japoneses como macacos e reito a ser imortalizada em tela na Espanha14:
seu exército como imaturo11). a Batalha Naval de Abrolhos (12/9/1631).

11 JUKES. p. 21.
12 Os navios japoneses possuíam recursos muito limitados de controle de avarias comparativamente aos norte-
americanos. Os aviões japoneses eram dotados de tanques de combustível rígidos, que explodiam quando
atingidos, em função da concentração de gases de evaporação; já os norte-americanos desenvolveram
modelos com tanques colapsáveis.
13 Exemplos: confrontos navais nas linhas de comunicação marítimas entre a América e as metrópoles europeias;
ocupação holandesa de Angola (25/8/1641) e sua retomada por Salvador Correia de Sá e Benevides, à frente
de uma expedição que partira do Rio de Janeiro (maio de 1648).
14 Tela de Juan de la Corte (1597-1660), Museu Naval, Madrid. (HIERRO, p. 46). Na manhã de 12/9/1631, uma
esquadra luso-espanhola, comandada pelo Almirante D. Antônio de Oquendo (19 navios de guerra, escol-
tando 23 navios mercantes com destino à Europa e 12 caravelas transportando tropas para Pernambuco),
foi atacada por uma esquadra holandesa (16 navios). No fim da tarde, os holandeses estavam em fuga, com
severas baixas, inclusive de seu comandante, Almirante Andriaan Janszoon-Pater. Do ponto de vista tático,
a vitória foi indecisa, mas foi uma vitória estratégica, visto que Oquendo conseguiu cumprir a sua missão,
pois o comboio seguiu incólume.

RMB3oT/2013 69
A HISTÓRIA MILITAR NA FORMAÇÃO DOS OFICIAIS DE MARINHA

Teles da Silva, que,


em um plano astucioso,
determinou (março de
1645) que uma coluna
de afro-brasileiros, sob
liderança de Henrique
Dias, simulando escra-
vos fugitivos, se diri-
gisse para Pernambuco
utilizando os caminhos
do interior e que uma
coluna de índios, sob o
comando de Felipe Ca-
marão, partisse em seu
Combate Naval de Abrolhos – Tela de Juan de la Corte (1597-1660), “encalço” (de tudo isso
Museu Naval, Madri daria conta aos holan-
deses em Pernambuco,
Verifica que os aperfeiçoamentos do pedindo ajuda para prender Henrique Dias).
canhão levaram os ingleses a conceber, em Enviados os emissários, o governador
1578, um navio de guerra que, embora em despachou uma esquadra comandada por
aparência fosse semelhante aos portugueses Jerônimo Serrão de Paiva, que realizou uma
e espanhóis, era mais leve e ágil e mais bem operação anfíbia, desembarcando os terços
artilhado, ainda que com menor capacidade comandados por André Vidal de Negreiros
de transporte de tropa para abordagem. Con- e Martim Soares Moreno na Baía de Ta-
cepção que foi copiada pelos holandeses, mandaré, ao sul de Recife. Em maio, com
mas não pelos portugueses e espanhóis. Com a aproximação das tropas de Henrique Dias
isso, nessa época, ingleses e holandeses con- e de Felipe Camarão, dar-se-ia a sublevação
seguiam posicionar-se favoravelmente nos de João Fernandes Vieira. Desencadeava-se
embates com os pesados e grandes navios a Insurreição Pernambucana (MONTEIRO,
ibéricos, evitando sistematicamente a abor- Vol. VI, 1996, p. 260)
dagem (ou recusando o combate, quando Por fim, a Guerra Luso-Holandesa che-
conveniente) (MONTEIRO, Vol. V, 1996, garia a termo, com o bem-sucedido cerco
p. 11). Carência de flexibilidade intelectual por terra e o bloqueio por mar de Recife,
que nos remete a Basil Liddell-Hart: “A úni- que levariam os holandeses à rendição.
ca coisa mais difícil que introduzir uma nova Após a independência, o período mo-
ideia na mente dos militares é remover-lhes nárquico oferece ao aspirante os exem-
uma ideia antiga”. plos de liderança, descortino e espírito
Torna-se permeável à complexidade das de sacrifício dos grandes chefes navais e
relações internacionais, ao conhecer a exó- militares que contribuíram para a manu-
tica situação em que Portugal foi colocado tenção da integridade territorial de nosso
após a Restauração: aliado da Holanda na Brasil. Naquele tempo, não se falava em
Europa; inimigo dos holandeses no He- operações combinadas ou conjuntas, mas
misfério Sul. as exigências dos teatros de operações
Aprecia a iniciativa, a ousadia e a dis- levaram os eminentes chefes a planeja-
simulação do governador-geral Antônio rem e a operarem coordenados, para o

70 RMB3oT/2013
A HISTÓRIA MILITAR NA FORMAÇÃO DOS OFICIAIS DE MARINHA

que contribuía o conhecimento mútuo e o Na Segunda Guerra Mundial, a nossa


sentimento de interdependência fraterna Força Naval operou agregada à 4a Es-
desenvolvidos entre eles. O Almirante quadra norte-americana; a Força Expe-
Tamandaré e o General Osório, por exem- dicionária Brasileira foi incorporada ao
plo, eram grandes amigos, assim como o V Exército norte-americano e incluída
Duque de Caxias e o Almirante Visconde nos quadros do IV Corpo de Exército;
de Inhaúma.15 e os meios de nossa
Entretanto, obser- nascente Força Aérea
va-se que, ao final do A DNOG, com suas Brasileira operaram
Império e na Repú- integrados ao 350 th
blica, tal capacidade dificuldades e limitações, Fighter Group da For-
deteriorou-se gradu- representou um alerta para ça Aérea do Exército
almente. Raros fo-
ram os eventos em
a necessidade de que Forças norte-americano, na
Itália, e da 4a Esqua-
que ocorreram ações Armadas estejam sempre dra, na proteção área
envolvendo as duas, prontas e adestradas. à navegação maríti-
depois as três Forças, ma, a partir das bases
de forma ampla e co- Alerta que rapidamente no litoral brasileiro.18
ordenada. caiu no esquecimento, (MORAES, 2005, p. 7.
Na Primeira Guer-
ra Mundial, a nossa
considerando as condições Lavenère-Wanderley,
1966, p. 354 e 355)
participação, no dizer em que ingressamos na Quanto a esses con-
do Marechal Dutra, Segunda Guerra Mundial flitos, cabe registrar o
“...se limitou a uma despreparo e a obso-
contribuição platônica lescência que se obser-
de manifestos, passeatas e declarações vava nas nossas Forças Armadas à época.
ferventes de votos, exclusa a contribuição Entretanto, constatar que a atuação
real de uma divisão naval e de alguns pou- brasileira na Primeira Guerra Mundial
cos e espontâneos voluntários que à luta se foi militarmente modesta não significa
atiraram”.16, 17 ignorar os esforços custosos e admiráveis

15 No início da Guerra da Tríplice Aliança, o Almirante Joaquim Marques Lisboa, Marquês de Tamandaré, foi
o comandante em chefe da Esquadra Imperial; O General Manuel Luís Osório, Marquês do Erval, foi o
comandante do Exército Imperial. Mais adiante, o perfeito entendimento entre Luís Alves de Lima e Silva,
o Duque de Caxias, comandante do Teatro de Operações, e o Almirante Joaquim José Inácio de Barros,
Visconde de Inhaúma, que sucedera Tamandaré, contribuiria efetivamente para o sucesso das operações.
16 Este comentário está incluso em correspondência do ministro da Guerra ao Presidente da República, datada
de 27 de janeiro de 1942, que trata dos preparativos do Exército com relação à Segunda Guerra Mundial,
conforme reproduzido em: LEITE, NOVELLI. 1983, p. 367.
17 Além da Divisão Naval, enviou-se uma missão médica, composta por civis e militares, para a França; um
grupo de aviadores navais, acrescido de um oficial do Exército, foi incorporado à Real Força Área britânica.
Oficiais da Marinha e do Exército foram destacados na Marinha norte-americana, na Marinha Real britânica
e no Exército Francês.
18 Em 23 de agosto de 1942, foi assinado um acordo de cooperação entre o Brasil e os EUA em que se traçavam
as normas e condições destinadas a regular o concurso das forças militares e econômicas dos dois países. Por
este acordo, o Comando da Força do Atlântico Sul (Marinha do EUA) detinha o comando operacional das
forças navais e aéreas do Brasil. A 4ª Esquadra possuía uma Ala Aérea, composta de esquadrões de aviões
e de blimps. (Lavenère-Wanderley, 1966, p. 354 e 355)

RMB3oT/2013 71
A HISTÓRIA MILITAR NA FORMAÇÃO DOS OFICIAIS DE MARINHA

realizados, considerando as limitações de motivar os nossos discípulos. Entretanto,


nosso país no início do século XX. Tais as condicionantes existentes ao longo do
deficiências fizeram com que a prontifica- século fizeram desvanecer o sentimento de
ção de uma força naval nas dimensões da interdependência e o conhecimento mútuo,
DNOG, que requereria poucas semanas em o que criou condições para existência de
qualquer das grandes potências, tardasse divergências, ocorrências que, no passado,
cinco meses. Apesar disso tudo, a Divi- foram manipuladas para cindir as Forças
são materializou-se e foi útil no cenário Armadas, em função do envolvimento dos
africano, e a contribuição do Brasil teve militares com a política.19
alto significado político. Em consequência Com a ativação do Ministério da Defesa,
da participação militar, o País ganhou o passaram a ser realizadas operações conjun-
direito de se fazer representar na Confe- tas em grande número, bem como se incre-
rência de Paz de Versalhes e, mais tarde, mentou a atuação do País em operações de
de ocupar papel de paz, ocorrências que
relevo na Liga ou So- têm contribuído para
ciedade das Nações, Em um mundo ávido por reverter este quadro.
fazendo parte de seu água, energia, alimentos e Antes de pros-
Conselho, o qual é o seguir, vale a pena
antecedente jurídico espaço surge uma ampla identificar, em uma
do Conselho de Segu- gama de oportunidades, visão prospectiva, o
rança da Organização cenário que espera o
das Nações Unidas
mas também combatente brasileiro
(ONU). vulnerabilidades, que não no século XXI, sa-
A DNOG, com podem ser desprezadas. lientando que é fato
suas dificuldades e concreto que o nosso
limitações, represen- país muito evoluiu
tou um alerta para a necessidade de que da Segunda Guerra Mundial para cá.
Forças Armadas estejam sempre prontas e Também é fácil depreender que o Brasil
adestradas. Alerta que rapidamente caiu no assume uma nova estatura geopolítica,
esquecimento, considerando as condições considerando os recursos de que dispõe,
em que ingressamos na Segunda Guerra em um mundo ávido por água, energia, ali-
Mundial. Neste conflito, foi com enorme mentos e espaço. Aspectos que encerram
esforço e com auxílio norte-americano uma ampla gama de oportunidades, mas
que as Forças Armadas se atualizaram e se também vulnerabilidades, que não podem
reequiparam. Encerrado a guerra, o Brasil ser desprezadas.
encontrava-se prestigiado. O jornalista William Waak resumiu esta
A atuação dos brasileiros em tais even- conjuntura em uma frase singela20: “A gente
tos é repleta de episódios de grandeza a tem tudo que todo o mundo quer”.

19 Como exemplo, o período entre guerras é internamente conflituoso: Revolta da Escola Militar do Realengo e
do Forte de Copacabana (1922); Revolução de 1923 (Rio Grande do Sul); Revoluções em São Paulo (1924
e Constitucionalista de 1932); Coluna Prestes (1925 a 1927); Revolução de 1930, que culminou com a
deposição do Presidente da República, Washington Luís, e o impedimento da posse do Presidente eleito,
Júlio Prestes, e pôs fim à República Velha; Intentona Comunista (1935); golpe de Estado de 1937 (instituiu
o Estado Novo); Levante Integralista (1938); movimento anarquista etc.
20 “Globo News Painel”. 24 de abril de 2011.

72 RMB3oT/2013
A HISTÓRIA MILITAR NA FORMAÇÃO DOS OFICIAIS DE MARINHA

Personalidades civis relevantes

Personalidades civis também fazem jus a destaque na História Militar. No Brasil, entre outros, merecem
destaque dois grandes personagens, por vezes antagônicos em suas concepções, os quais constituem refe-
rências para o nosso tempo: José Maria da Silva Paranhos Júnior – o Barão do Rio Branco – e Rui Barbosa.
O Barão, em sua gestão na pasta das Relações Exteriores, para apoiar a política externa, procurou
obter o respaldo do poder militar, que então era insuficiente e necessitava ser ajustado para um nível que
conferisse credibilidade. Nessa época, o tema Defesa virou motivo de discussão nacional, sendo debatido
na mídia e no Congresso. O Barão defendia a tese de que era necessário ser forte para ser pacífico.21
Rio Branco, em seus importantes escritos, assinalou:
Não depende da vontade de uma nação evitar conflitos internacionais.22
Os povos que, ... desdenham as virtudes militares e se não preparam para a eficaz defesa
de seu território, dos seus direitos e da sua honra, expõem-se às investidas dos mais fortes e aos
danos e humilhações consequentes da derrota.23
Entende-se entre nós que só depois de começada a guerra se aprende a guerra.24
Nota-se que o Barão evoluía com desenvoltura nos quatro campos clássicos do poder25: não apenas
guiava-se com base no culto ao Direito e no poder coercitivo, pois se escudava em seu profundo conheci-
mento e capacidade de persuasão (inclusive por meio da imprensa), além de recorrer ao poder econômico,
pois, de outra forma, não viabilizaria as compensações acordadas nas negociações.
Rui Barbosa, o grande e polêmico jurista, político, diplomata e escritor brasileiro, foi um dos intelectuais
mais brilhantes do seu tempo. Muito citado – mais que lido –, deixou importantes escritos relacionados
à Defesa Nacional, entre outros temas, os quais devem fazer parte da cultura militar. Em Cartas de
Inglaterra, citando Spencer Wilkinson, argumentou:
Um escritor inglês, (...), traduziu uma verdade memorável nestas palavras: “As nações
anuem ao arbitramento em desavenças triviais, mas nunca se submetem a ele em pendências,
que sejam , ou se acredite serem de importância vital para elas. Uma nação que confia nos seus
direitos, em vez de confiar nos seus marinheiros e soldados, engana-se a si mesma e prepara a
sua própria queda”.
Especificamente quanto ao Poder Naval, acrescentou:
A defesa de um Estado é o mais importante dos seus problemas. E nesse problema, o mais
imperioso é a defesa marítima. Esta requer uma longa antecipação de trabalhos, uma aturada
preparação técnica, um concurso de meios que não se apuram na ocasião da necessidade. (....)
As fronteiras terrestres não raro têm na sua própria natureza, nos rios, nos montes, nos acidentes
do solo as condições da sua guarda, ao passo que a fronteira oceânica é uma porta escancarada
a todas as incursões.
(.............................................................................................................................)
(...). esquadras de guerra não se evocam de improviso, nem se atamancam entre apuros
com invenções engenhosas de momento.

21 Mas não se pode ser pacífico sem ser forte, como não se pode, senão em intenção, ser valente sem ser bravo.
Discurso de agradecimento do Barão do Rio Branco, por ocasião de homenagem no Clube Militar, sem data
indicada (ANTUNES, 1942, p. 102.)
22 Discurso pronunciado no Palácio do Itamaraty, Rio de Janeiro, em 10 de novembro de 1906. (Discursos, p. 104).
23 Discurso pronunciado no Clube Militar, Rio de Janeiro, em 15 de outubro de 1911. (Discursos, p. 279).
24 Carta a Joaquim Nabuco (24/8/1892), conforme citado pelo Vice-Almirante (Ref-EN) Armando de Senna
Bittencourt, ao discorrer sobre o tema “O emprego do poder militar como estratégia de Rio Branco”, no
“Seminário Internacional ‘Barão do Rio Branco – 100 anos de memória”’, Palácio do Itamaraty, Rio de
Janeiro, em 8 de maio de 2012.
25 Aqui nos referimos aos poderes político, econômico, militar e psicossocial como componentes clássicos do
Poder Nacional, conforme conceituação adotada pela Escola Superior de Guerra no passado. Posteriormente,
agregou-se um quinto poder componente: o cientifico-tecnológico. Esta conceituação, com cinco componentes,
foi acolhida na Doutrina Militar de Defesa.

RMB3oT/2013 73
A HISTÓRIA MILITAR NA FORMAÇÃO DOS OFICIAIS DE MARINHA

O Almirante de Esquadra Guimarães Cabe a nós, educadores, contribuir para


Carvalho, ex-comandante da Marinha, que ele esteja apto para enfrentá-lo. Das
certamente, acrescentaria: “Toda riqueza diversas disciplinas, a História Militar é
acaba por se tornar objeto de cobiça, im- uma das que apresenta maior potencial para
pondo ao detentor o ônus da proteção”.26 fomentar o conhecimento mútuo, que não
Trata-se de uma situação diferente da só é importante para o desenvolvimento de
que o País vivenciou até o século passado, estudos estratégicos e a condução eficiente
por estar distante do eixo dos grandes das operações conjuntas e combinadas,
acontecimentos. As novas tecnologias e mas também contribui para minorar di-
a expectativa de obtenção de recursos em vergências. É importante refletir sobre
larga escala tornaram este afastamento tais demandas, bem como incutir uma
desprezível. cultura na qual todos os elementos sejam
Nossos interesses transcendem as nossas encorajados a desenvolver um senso de
fronteiras! Temos que ter capacidade de interdependência, respeito mútuo e con-
gerenciá-los e protegê-los, de abster-nos fiança. Isto acompanhado de simpatia e
de atitudes além da conta e de cultivar a de conhecimento recíprocos, ou seja, da
boa imagem de nosso país, o que inclui o faculdade de reconhecer e compreender as
Poder Militar. capacidades, necessidades, sensibilidades e
Enfrentamos e enfrentaremos divergên- limitações de cada força singular.
cias! É conveniente ter em mente que, ape- Vale lembrar que a educação adequada
sar das visões positivas quanto às impres- mostra-se instrumento relevante para a for-
sões do estrangeiro, veiculadas pela mídia mação dos membros das instituições milita-
amiúde, enfrentaremos constrangimentos, res. As pessoas são propensas a rejeitar as
bem como há quem não nos aprecie e não mensagens que colidam com as suas ideias,
nos leve em conta. seus valores e suas expectativas. Por outro
Adicionalmente, em nossa época, o Bra- lado, os indivíduos mais educados tendem
sil vem realizando uma ofensiva em vários a ser mais firmes nos seus pontos de vista,
ambientes, com o propósito de aumentar a além de serem mais capacitados a decidir.
sua inserção no cenário internacional. A Assim, em proveito da instituição, a edu-
mudança da conjuntura geoestratégica ora cação militar deve incutir profundamente
observada e tal postura aumentam a possi- os valores fundamentais, suplementando
bilidade de que ocorram eventos em que seja ou reformando o adquirido com a educação
necessário empregar as Forças Armadas em externa à Força. Mais uma vez, podemos
proveito da política externa ou para atender apontar que o ensino de História é um dos
interesses brasileiros no exterior. instrumentos apropriados para a fixação de
Eis o ambiente que espera o combatente tais valores.
do século XXI! O nosso Brasil merece!

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<educação>; Formação de oficial; Escola Naval; História do Brasil;

26 “A outra Amazônia”, Folha de São Paulo, 25/2/2004 (CARVALHO).

74 RMB3oT/2013
A HISTÓRIA MILITAR NA FORMAÇÃO DOS OFICIAIS DE MARINHA

REFERÊNCIAS

ABREU, G. “Defesa e Diplomacia: Uma Visão Geral”. Conferência apresentada no Palácio Itamaraty,
Brasília, em 18 de junho de 2007, por ocasião do seminário “As Forças Armadas na Defesa
da Amazônia”, promovido pelo Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI) e pela
Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), em parceria com a Escola Superior de Guerra.
ABREU, G. “A Importância Geoestratégica do Atlântico Sul: Variável Defesa”. Conferência apre-
sentada no seminário “Segurança e a Defesa do Atlântico Sul”, organizado pela Associação
dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (Adesg), no Instituto Histórico-Cultural da
Aeronáutica (Incaer), Rio de Janeiro, em 28 de abril de 2011.
ABREU, G. “Política Externa e Defesa na primeira metade do século XX”. Rio de Janeiro: Revista
da Escola de Guerra Naval no 14 (dezembro de 2009).
ANTUNES, P. História do Grande Chanceler Rio de Janeiro: Biblioteca Militar. Ministério da
Guerra, 1942.
BEAUFRE, A. Introdução à Estratégia. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1998.
BARBOSA, R. Cartas de Inglaterra. São Paulo: Saraiva & C. Editores, 1929.
CARDIM, Carlos Henrique. A Raiz das Coisas – Rui Barbosa: o Brasil no Mundo. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2007.
CARVALHO, R. “A outra Amazônia”. São Paulo: Folha de São Paulo, 25 de fevereiro de 2004.
DOUTRINA de Liderança da Marinha (EMA-137 Mod 1). Brasília: Estado-Maior da Armada, 2004.
DOUTRINA Militar de Defesa. Portaria Normativa no 113 /Speai/MD (Ministério da Defesa). 1o de
fevereiro de 2007.
ESTATUTO dos Militares. Lei no 6.880, de 9 de dezembro de 1980.
HIERRO, J. España En La Mar: Una Historia Milenaria. Barcelona: Lunwerg Editores, 1998.
HISTÓRIA Naval Brasileira (coletânea). Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da Marinha.
JUKES, G. The Russo-Japanese War: 1904-1905. Oxford. UK: Osprey Publishing Midland House. 2002.
KING, D. Science, Technology, Innovation and Wealth Creation: Skills and Capacity Building for
Developing Countries. (conferência). Banco Mundial. Washington, EUA, 11 de julho de 2007.
Disponível: siteresources.worldbank.org/EDUCATION/Resources/2 – 2007-07-16. Acessado
em 30 de abril de 2012.
LAVENÈRE-WANDERLEY, N. História da Força Aérea Brasileira. Rio de Janeiro: Departamento
de Imprensa Nacional. 1966.
LEITE, M. NOVELLI Junior, L. Marechal Eurico Gaspar Dutra: O Dever da Verdade. Rio de Janeiro:
Editora Nova Fronteira, 1983.
MONTEIRO, A. Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa (coletânea). Lisboa: Livraria Sá da
Costa Editora, 1996.
MORAES, J. A FEB por seu Comandante. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 2005.
O EXÉRCITO na História do Brasil (coletânea). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército/Salvador:
Odebrecht, 1998.
OBRAS do Barão do Rio Branco (Discursos). Volume IX. Ministério das Relações Exteriores. Frag-
mento sem data de edição.
ORDENANÇA Geral para o Serviço da Armada (OGSA). Decreto no 95.480, de 13 de dezembro
de 1987, alterado pelos Decretos no 937, de 23 de setembro de 1993, e no 1.750, de 19 de
dezembro de 1995.
SILVA, L. ARMARIA. Revista Marítima Brasileira jan, fev, mar 1980. Rio de Janeiro: Serviço de
Documentação da Marinha, 1980.

RMB3oT/2013 75
A Família Real não saía sem ela
Ela navegava soberana pela Baía de
Guanabara. Viveu dias de glória e pom-
pa. A Família Real não passeava sem
ela – a Galeota Imperial. Construída em
1808, em Salvador, na época da vinda de
D. João VI para o Brasil, esteve em uso
até os primeiros governos republicanos.
Modelo sem similar em toda a
América, ainda conserva a sua realeza.
A Galeota Imperial foi detalhadamente
restaurada para compor o acervo do
Espaço Cultural da Marinha.

Av. Alfred Agache, s/nº Centro.


Aberto de terça a domingo, de 12 às 17h. Entrada franca.
A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE
HORATIO NELSON: A organização e os meios de combate

(Parte I)

Francisco Eduardo Alves de Almeida1


Capitão de Mar e Guerra (RM1)

SUMÁRIO

A Marinha Real britânica no século XVIII: organização e os meios de combate


Tipos de navios que compunham as esquadras da RN
Tipos de canhões, caronadas e munição dos navios da RN
Apêndice
Anexo A – Navios em atividade na Marinha Real – 1793 a 1805
Anexo B – Canhões e caronadas e suas especificações na Marinha Real – século XVIII

O historiador inglês Gerald Graham


disse, com propriedade, que o co-
mando do mar, como o Almirante Alfred
ceu à Grã-Bretanha (GB) e somente a ela.
Desde a Guerra de Sucessão da Espanha
até as Guerras Napoleônicas, já no século
Mahan tão frequentemente repetia, era algo seguinte, o poder naval britânico se fez pre-
exclusivo; ele não podia ser dividido e só sente no Atlântico, Mediterrâneo, Índico e
se aplicava a uma nação de cada vez.2 No Pacífico, estendendo e estabelecendo o que
século XVIII, o comando do mar perten- viria a ser “o vasto império no qual o Sol

1 Graduado em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mestre e doutor em História Com-
parada, UFRJ. Instrutor de Estratégia e História Naval da Escola de Guerra Naval, ex-diretor do Serviço de
Documentação da Marinha.
2 REYNOLDS, Clark. Command of the Sea. The History and Strategy of Maritime Empires. New York: William
Morrow, 1974, p. 211.
A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A organização e os meios de combate (Parte I)

nunca se põe e cujas fronteiras a natureza táticas de combate, muitas das quais fize-
ainda não determinou”3, segundo palavras ram Nelson se sobressair entre seus pares.
de Sir George Macartney4.
Horatio Nelson foi o principal expoente A Marinha Real britânica no
da Marinha Real britânica (RN) no final do século XVIII: organização e
século XVIII e início do XIX. Ele nasceu os meios de combate
em 1758, na cidade de Burham Thorpe, em
Norfolk, na Inglaterra, dois anos depois do A GB era uma monarquia constitucio-
início da Guerra dos Sete Anos, o que para nal, sendo o seu rei Jorge III, que não exer-
Paul Kennedy foi a mais decisiva vitória cia o poder absoluto, dependendo, assim,
da GB em guerra como estado-nação. 5 de um primeiro-ministro apontado por ele
Com 12 anos de idade entrou para a RN e e um gabinete para as funções executivas.
lá permaneceu até sua morte, em combate Desde que assumiu o trono, em 1760, Jorge
na Batalha de Trafalgar, em 1805. Nelson III fazia questão de interferir nos assuntos
viveu o auge do poderio naval britânico. do gabinete, o que complicava a administra-
Ele conviveu em uma comunidade com ção, uma vez que ele alternava períodos de
seus costumes, tradições e linguagens pró- insanidade, o que se tornou permanente em
prios, algumas vezes contrastantes com a 1811. Esse gabinete possuía um primeiro
chamada sociedade “civil”6 inglesa. Nesse lorde do Almirantado, normalmente um
mundo ele se criou, viveu, amou e acabou político escolhido pelo primeiro-ministro
morrendo gloriosamente em combate, de- e referendado pelo rei. Podia ser também
fendendo o seu país. um almirante elevado ao pariato. A esse
O que se pretende discutir nesta série político cabia a condução política da RN.
de artigos é a constituição da RN, de for- A House of Commons (Câmara dos Co-
ma a se compreender o universo no qual muns), composta de elementos conduzidos
Nelson estava inserido e entender de que pelo sufrágio distrital, representantes da
forma esse instrumento de poder atendeu pequena burguesia, votava a aprovação de
às políticas navais britânicas do período. recursos destinados à Marinha, ao mesmo
Essa discussão será dividida em quatro tempo em que, junto com a House of Lords
artigos temáticos. O primeiro abarca a (Câmara dos Lordes), ou “casa superior”,
organização naval, seus meios de combate, debatia assuntos específicos relativos à
órgãos de apoio e construção naval. Em se- condução política da RN. A House of
guida, pretende-se discutir em dois artigos Lords era mais poderosa que a House of
distintos os recursos humanos, os modos Commons, sendo composta de um número
de entrada de oficiais e praças na RN, o pequeno de membros, geralmente pares e
recrutamento e as tarefas a bordo. Por fim, ricos detentores de terras.
no último artigo da série serão apresentadas A responsabilidade por organização,
a vida cotidiana nos navios da armada e as planejamento, estratégia e designação das
3 FERGUSON, Niall. Império. Como os britânicos fizeram o Mundo Moderno. São Paulo: Planeta, 2010, p. 58.
4 Sir George Macartney, primeiro Conde Macartney, nasceu em 1737 e morreu em 1806, tendo sido um diplomata
e administrador britânico competente. Ficou conhecido por essa expressão.
5 KENNEDY, Paul. The Rise and Fall of British Naval Mastery. London: Penguim, 2004, p. 97.
6 Segundo Ronald Jacobs, “sociedade civil” se refere a todos os lugares em que indivíduos se reúnem para con-
versar, defender interesses comuns e ocasionalmente tentar influenciar a opinião ou as políticas públicas. Em
muitos aspectos, a sociedade civil é onde as pessoas passam o tempo quando não estão no trabalho ou em
casa. Fonte: SCOTT, John. Sociologia: conceitos-chave. Rio de Janeiro: Zahar, 2010, p. 199.

78 RMB3oT/2013
A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A organização e os meios de combate (Parte I)

esquadras da RN cabia ao Almirantado Subordinados a esses sete membros


(Admiralty Board)7. Esse órgão respondia encontravam-se o Navy Board, o Ordnance
ao gabinete, ao qual pertencia também o Board10, o Transport Board,11 o Sick and
primeiro lorde do Almirantado. Ao todo Wounded Board12 e o Victualling Board13.
compunham o Almirantado sete membros, O Navy Board, responsável basicamente
os lordes comissários que normalmente pela contratação e a construção de navios
eram almirantes, não necessariamente nos arsenais e estaleiros no país, tinha dez
pares 8. Esses lordes membros, entre oficiais
eram chamados de sea e civis, e o seu chefe era
lords, e seu membro A Marinha de Guerra era chamado de controller
mais antigo era cha- of the Navy, sempre um
mado de first president
a maior e mais custosa oficial de Marinha. Em
sea lord 9. Esse gru- organização da coroa verdade, o Navy Board
po de comissários era britânica era quase independente
apoiado por um grande do Almirantado, embo-
grupo de funcionários ra a ele se reportasse.
e auxiliares que conduziam as funções Ao Navy Board competia também a desig-
executivas. Esses sete homens, além das nação de suboficiais (os warrant officers)
tarefas apontadas, exerciam o controle geral como carpinteiros, cozinheiros e pessoal de
da RN, da logística naval, da incorporação manobra para os navios da RN.
de novos meios de combate, dos fuzileiros Esses boards eram também responsáveis
reais e do comissionamento de oficiais. por condução das operações, pessoal, docas
e arsenais, armas, munições, logística, re-
cursos financeiros, equipamentos diversos e
quaisquer outros recursos necessários para
manter a RN funcionando. A Marinha de
guerra era a maior e mais custosa organi-
zação da coroa britânica.14
A esquadra era a principal organização
operacional da RN. Normalmente ela se
preparava para o combate em uma linha
contínua de navios, sob o comando de um
almirante, que dividia os navios na linha
segundo critérios pessoais, recebendo as
7 O Almirantado ficava localizado em Londres, na Whitehall.
8 FREMONT-BARNES, Gregory. The Royal Navy 1793-1815. Oxford: Osprey, 2007, p. 44.
9 HICKOX, Rex. All you wanted to know about 18th Century Royal Navy. Bentonville: Rex Publishing, 2005. p. 13.
10 O Ordnance Board era responsável pelo guarnecimento de todo o armamento nos navios da RN de pistolas e armas
portáteis até os canhões e caronadas. Fonte: FREMONT-BARNES. The Royal Navy 1793-1815. op. cit. p. 48.
11 O Transport Board era responsável pela contratação de navios mercantes para o esforço de guerra. Fonte:
LAVERY, Brian. Nelson’s Navy. The Ships,Men and Organization 1793-1815. Annapolis: Naval Institute
Press, 1989, p. 25.
12 O Sick and Wounded Board era responsável pelos cirurgiões de bordo e sua logística, a administração dos
hospitais navais e prisioneiros de guerra. Fonte: Idem.
13 O Victualling Board era responsável pelos regulamentos e designação dos comissários dos navios (pursers) e
do apoio logístico com gêneros alimentícios e água. Fonte: Idem.
14 HICKOX, op. cit. p. 13.

RMB3oT/2013 79
A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A organização e os meios de combate (Parte I)

ordens diretamente do Almirantado. Pela gatas e em 1805, ano da morte de Nelson,


distância do centro de comando em Londres existiam 35 navios de linha e 16 fragatas.16
e pela dificuldade que o Almirantado tinha A segunda esquadra em importância
em transmitir ordens a esse oficial-general, da RN era a Esquadra do Mar do Norte,
ele tinha total liberdade para tomar decisões localizada em Yarmouth, Nore, Downs, She-
que considerasse apropriadas. Também erness e Leith. Suas tarefas eram similares
tinha a responsabilidade suprema de defen- às da Esquadra do Canal, uma vez que ela
der os interesses do Império britânico e de tinha como área de responabilidade o Mar do
manter, treinar e incentivar seus subordina- Norte e o setor do Canal da Mancha a leste
dos, o que requeria uma grande autonomia. que chegasse às costas belga e holandesa.
Esse almirante podia dividir sua esqua- Em 1797 existiam 20 navios de linha mais
dra em esquadrões subordinados, comanda- 36 outros meios, entre fragatas e brigues; e
dos por até seis almirantes mais modernos em 1805, 11 navios de linha e 20 fragatas.17
que ele15. Normalmente um esquadrão com- A terceira esquadra da RN era a Esqua-
portava em torno de dez navios de linha. dra do Mediterrâneo, na qual Nelson se
Os esquadrões podiam, da mesma forma, destacou no Cabo São Vicente, no Nilo e
dividir-se em divisões sob o comando de em Trafalgar. Suas bases eram Gibraltar;
almirantes modernos ou comodoros. Malta; Port Mahon, em Minorca; Lisboa e
Cada esquadra era designada para uma outras menores. Suas tarefas eram proteger
área geográfica de responsabilidade, e o nú- os comboios de interesse da GB, apoiar com
mero de navios que compunham a esquadra apoio de fogo os aliados no Mediterrâneo,
variava de acordo com a importância es- vigiar o porto francês de Toulon e o espanhol
tratégica da área ou região. Existiam cerca de Cadiz e bloqueá-los em caso de conflito.
de seis a oito esquadras ao final do século Sua área de responsabilidade comportava
XVIII, além de esquadrões independentes, também a aproximação do Mediterrâneo
destaques de fragatas e brigues em regiões provindo do Oceano Atlântico. Por essa
com menos importância. esquadra a GB impunha seus interesses aos
A principal esquadra da RN era a Es- estados mediterrâneos. Seus efetivos varia-
quadra do Canal, geralmente localizada vam conforme a ameaça. Em 1795, contava
em Portsmouth, Spithead, Torbay e Ply- com 16 navios de linha e 11 fragatas, e dois
mouth, no sul da Inglaterra. Suas tarefas anos depois aumentou os efetivos para 23
eram proteger os comboios que trafegavam navios de linha e 24 fragatas.18
no Canal da Mancha; vigiar os portos A quarta esquadra da RN era a Esqua-
franceses no canal, em especial Brest, en- dra do Báltico, e sua importância variava
gajando com navios franceses ou inimigos conforme o tipo de ameaça. Por exemplo,
que se aventurassem na Mancha; impedir em 1801, com o estabelecimento da Liga
qualquer tentativa de desembarque na GB; da Neutralidade Armada, congregando
e bloquear os portos franceses em caso de Dinamarca, Suécia e Rússia, seus efetivos
conflito. Seus efetivos variavam: em 1795 dobraram. Nessa esquadra, Nelson venceu a
existiam 26 navios de linha mais 17 fra- Batalha de Copenhagen. Suas tarefas varia-

15 LAVERY, Brian. Nelson’s Navy. op. cit. p. 251.


16 FREMONT-BARNES. Gregory. The Royal Navy 1793-1815. op.cit. p. 15.
17 Idem.
18 Ibidem, p. 17.

80 RMB3oT/2013
A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A organização e os meios de combate (Parte I)

vam; no entanto, a principal era a proteção nas Bermudas, com efetivos variados, che-
dos comboios de navios mercantes que tra- gando a ter três navios de linha em 1795;
ziam madeira do Báltico, além de “mostrar a e, por fim, uma divisão no Atlântico Sul,
bandeira” aos estados bálticos. Assim, pode- nas costas do Brasil, que em 1808 chegou
se considerar que essa esquadra variava de a ter cinco navios de linha e três fragatas22.
tamanho conforme a missão a ela atribuída.
Em 1801, por exemplo, era constituída por Tipos de navios que
21 navios de linha e 11 fragatas19. compunham as esquadras da
A quinta esquadra da RN foi a Esqua- RN
dra das Índias Ocidentais, localizada em
Antigua, em Barbados e na Jamaica. Efeti- Os navios de guerra básicos no século
vamente essa esquadra foi dividida em dois XVIII eram os navios de combate a vela,
comandos, um nas Ilhas de Sotavento e outro isto é, os navios que compunham a linha de
em Port Royal, na Jamaica. Sua importância batalha, e as fragatas. Eles eram construídos
variava conforme o tipo de ameaça. Suas ta- de madeira, carvalho na maior parte, com
refas básicas eram a proteção aos comboios algumas seções de metal, incluídas aí uma
que saíam das Antilhas para a GB e o ataque parte submersa de cobre nos cascos que
aos corsários franceses e espanhóis que servia como atrativo eletrolítico, ao mesmo
assolavam a região. Em 1795 essa esquadra tempo em que congregavam micro-orga-
possuía cinco navios de linha e sete fragatas, nismos, impedindo a acumulação desses
aumentando em 1805 para três navios de animais em outras partes mais vulneráveis
linha, 14 fragatas e 24 chalupas.20 submersas dos navios.
A sexta esquadra da RN foi a Esquadra Os conveses dos navios eram mantidos
das Índias Orientais e do Cabo, cujas ta- tão baixos quanto possível, de modo a
refas básicas eram a proteção dos interesses manter o centro de gravidade o mais pró-
britânicos na Índia e na África do Sul e o ximo da linha-dágua, melhorando o seu
apoio aos comboios que provinham des- desempenho e sua estabilidade. Os grandes
sas regiões. Suas bases eram na região da navios de linha possuíam até três conveses,
Cidade do Cabo e em Madras e Bombaim, enquanto os menores, como as fragatas,
na Índia. Em 1797 ela era composta de dez possuíam apenas um convés corrido.
navios de linha e 17 fragatas. Em 1805 Todos os navios de combate possuíam
atingiu oito navios de linha21. três mastros principais. O mais de vante era
Existiam esquadrões menores no Mar chamado de mastro traquete23. O mastro
Irlandês, na Base de Cork, no sul da Irlanda, localizado no centro do convés principal era
com cerca de um navio de linha e fragatas e chamado de mastro grande24 e, por fim, o
brigues, dependente da Esquadra do Canal; mastro mais de ré era chamado de mastro da
na América do Norte, em Halifax, Nova gata ou mezena.25 Todos esses três mastros
Escócia, Terra Nova e, eventualmente, possuíam mastaréus e vergas que suporta-
19 Ibidem, p. 16.
20 Ibidem, p. 17.
21 Ibidem, p. 20.
22 Ibidem, p. 13.
23 Em inglês, the fore mast. Fonte: LIMA, Alexandre de Azevedo. Termos Náuticos. Inglês-Português. V1. 5a
ed. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação Geral da Marinha, 1981, p. 313.
24 Em inglês, main mast. Fonte: Ibidem, p. 472.
25 Em inglês, mizzen mast. Fonte: Ibidem, p. 481.

RMB3oT/2013 81
A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A organização e os meios de combate (Parte I)

vam velas que, quando infladas pelo vento,


movimentavam o navio26. O vento era, en-
tão, a única propulsão disponível para esses
navios. A combinação da direção de onde
vinha o vento e das angulações de masta-
réus e vergas, com suas respectivas velas,
determinava a direção do deslocamento
do navio. Dessa maneira, a velocidade
do navio a vela dependia grandemente da
direção de onde vinha o vento. Conforme o
vento aumentava de intensidade, era neces-
sário reduzir os panos, de modo a manter
a estabilidade da embarcação, chegando-se
até ao ponto de navegar-se sem nenhuma generais. O HMS Victory foi o navio de 1a
vela, no caso de vento extremamente forte, classe utilizado por Nelson na Batalha de
quase com força de furacão.27 Trafalgar e até hoje se encontra preservado
Assim, os navios de combate eram como museu. Eram navios muito grandes,
conhecidos como de 1a classe até o de de difícil manobra e caros que existiam em
6a classe28, dependendo da quantidade de pequenos números.
canhões disponíveis e do número de con- Os navios de 2a classe também eram na-
veses. Pelo apêndice pode-se ter uma ideia vios grandes com três conveses, transpor-
das dimensões dos navios de combate do tando até 98 canhões e de difícil manobra.
período em relação a tonelagem, número de Podiam comportar também um almirante.
canhões, conveses, tripulação29, graduação Os navios de 3a classe com dois conveses
do comandante e custo de construção. e 74 e 64 canhões eram os mais comuns
Pode-se constatar que os grandes navios navios de linha e compunham quase a me-
de linha de 1a classe deslocavam até 2.600 tade dos navios de linha do período. Eles
toneladas, possuindo mais de cem canhões, combinavam boas qualidades marinheiras
dispostos nos três conveses, com uma tripu- e grande poder de fogo, principalmente o
lação de cerca de 950 homens. Geralmente de 74 canhões. Eles eram também bem
esses navios constituíam-se nos capitânias proporcionados e bons de navegação em
de almirantes, uma vez que possuíam aco- mares agitados30. Nelson, ainda capitão
modações específicas para esses oficiais- em 1793, ficou extremamente feliz ao

26 A altura do mastro grande do HMS Victory, do convés até o tope do mastro, era de 78 pés, ou 24 metros. O
mastro traquete tinha 21 metros; e a mezena, 20 metros. Fonte: LONGRIDGE, Nepean. The Anatomy of
Nelson’s Ships. Hertfordshire: Model and Allied Publications, 1977, p. 190 e 157.
27 Um livro pequeno, porém interessante, que descortina a navegação a vela é o de Alberto Piovesana Júnior,
Noções Básicas sobre Navios a Vela, publicado em 2006 pela Fundação de Estudos do Mar.
28 A expressão rate foi traduzida como classe, no entanto, em inglês, class significa navios de desenhos idênticos,
o que não era o caso para os rated ships. Assim, na falta de expressão mais condizente em português, optou-
se por classe para rate em relação à quantidade de canhões e conveses. Fonte: LAVERY, Brian. Nelson’s
Navy. op. cit., p. 40.
29 A tripulação era composta da oficialidade (os oficiais de bordo e da guarnição), dos suboficiais e de marinheiros.
30 Os navios de 64 canhões não eram os mais queridos entre os oficiais de Marinha ingleses, pois não possuíam as
qualidades de manobrabilidade e eficiência em combate dos de 74 canhões; no entanto, foram navios muito
construídos na RN. Fonte: Ibidem. p. 48.

82 RMB3oT/2013
A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A organização e os meios de combate (Parte I)

ao tráfego marítimo inimigo, escolta de


comboios de navios mercantes e de retrans-
missor de mensagens na linha de batalha.
Eram navios úteis, versáteis e velozes que
atuavam muitas vezes independentemente.
Muitos comandantes de fragatas bri-
tânicas tornaram-se famosos, tais como
Lorde Thomas Cochrane e Sir Philip
Bowes Vere Broke32, que ficaram ricos
pelos butins conquistados dos inimigos.
A fragata, com sua grande velocidade e
independência de ação, era muito dis-
putada pelos capitães que queriam obter
fama e recursos e pelos marinheiros que
queriam parte dos butins conquistados,
espaço em melhores acomodações e es-
ser designado comandante de um navio pírito de equipe – por serem em menor
de 3a classe, o HMS Agamemnon, de 64 número que os navios de linha. Um fato
canhões, declarando que “depois do tem- interessante é que as fragatas francesas
po ruim veio o Sol. O Almirantado sorriu eram superiores às inglesas, por possu-
para mim e estou tão surpreso quanto írem maiores velocidades e qualidades
compenetrado”.31 marinheiras. Isso não impediu, no entan-
O navio de linha de 4a classe com dois to, uma superioridade em combate dos
conveses podia ou não constar da linha de navios britânicos.
batalha, por decisão do almirante coman- As chalupas, os brigues e as escunas
dante da divisão, em razão do pequeno eram navios menores com até 28 canhões
número de canhões transportados, em e um convés, cujos comandos não eram de
especial os de 50 canhões. A partir de capitães, mas sim de tenentes e de alguns
1770, o navio de 4a classe com 50 canhões comandantes33. Alguns navios possuíam
passou a executar tarefas de patrulha e três mastros, outros dois mastros. Suas tare-
como capitânia em pequenos esquadrões fas eram similares às das fragatas, contudo
em tempo de paz. não tinham as vantagens marinheiras dessas
Os navios de 5a e 6a classes eram fra- últimas. Operavam basicamente no Canal
gatas com apenas um convés com 20 a 44 da Mancha, próximos da costa, no Caribe
canhões e não participavam da linha de e no Mediterrâneo, sempre em tarefas sub-
batalha. Geralmente executavam tarefas sidiárias. Eram o primeiro passo para um
de patrulha, de esclarecimento, de ataque capitão em potencial e excelentes escolas

31 LAVERY, Brian. Life in Nelson’s Navy. Gloucestershire: Sutton Publishing, 2007, p. 17.
32 Lorde Thomas Cochrane, Conde Dundonald, nasceu em 1775, foi promovido a capitão em 1801 e a contra-
almirante em 1832. Foi o primeiro-almirante e organizador da Marinha Imperial brasileira em 1823, contratado
por Dom Pedro I. Sir Philip Bowes Vere Broke nasceu em 1776, foi promovido a capitão em 1801 e a contra-
almirante em 1830. Ficou famoso por capturar o navio norte-americano USS Chesapeake em 1812, quando
comandava a Fragata HMS Shannon. Recebeu o pariato em 1813, com o título de barão. Fonte: TRACY,
Nicholas. Who is who in Nelson´s Navy. London: Chatham, 2006, p. 77 e 61.
33 Comandantes como posto hierárquico, em inglês commander. Será apresentada à frente a escala hierárquica
dos oficiais da RN.

RMB3oT/2013 83
A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A organização e os meios de combate (Parte I)

de marinharia e manobra para futuros co- tipos de canhões,


mandantes34 de navios de linha e fragatas. caronadas e munição dos
Existia um entendimento tácito e uma navios da RN
convenção obedecida por todas as Mari-
nhas do período de que uma fragata não Desde o século XVI os navios de com-
deveria engajar um navio de linha mais bate eram municiados por canhões, que
poderoso, pois sua destruição seria quase mudaram muito pouco nesses 200 anos. Eles
certa. Ao mesmo tempo, os navios de linha consistiam de um tubo de bronze em cuja
não abriam fogo sobre as fragatas, a não ser extremidade era colocada uma carga de pól-
que fossem atacados por elas. Tal ato seria vora negra acionada por uma espoleta fora
considerado desleal segundo a convenção do tubo37. O projétil esférico era colocado na
da guerra no mar35. Dessa forma, existem boca do tubo, e a explosão da pólvora lança-
poucos relatos na história naval de fragatas va o projétil contra o navio inimigo. A partir
engajando navios de linha mais poderosos, de 1780 o canhão passou a ser de ferro, mais
embora existam muitos relatos de ações resistente e confiável, com menores possibi-
independentes envolvendo combates entre lidades de provocar acidentes. Os canhões
fragatas adversárias. eram posicionados sobre carretas de madeira
A partir de 1793, com o início das Guer- que se colocavam nos conveses corridos e
ras da Revolução, a RN aumentou em muito deslizavam em rodas para manuseio e recuo
seus efetivos de navios de linha, fragatas e durante o tiro. Muitos marinheiros britâni-
navios auxiliares. De 304 meios de combate cos, inclusive, foram mortos ou feridos pelo
em 1793, seus efetivos foram aumentando recuo dos canhões durante o combate. Essas
paulatinamente, chegando a 534 navios em carretas eram fixadas à estrutura do navio de
1805, ano da morte de Nelson36. Pode-se modo a não deslizarem durante o balanço
perceber também que os navios de linha de em mares bravios.
3a classe e as fragatas de 5a classe foram os Os pesos dos projéteis esféricos deter-
que mais foram construídos nesse período, minavam o tipo de canhão disponível. Um
permanecendo quase estáveis os efetivos canhão de 24 pounders38 correspondia,
dos navios de linha de 1a e 2a classes, assim assim, ao peso do projétil lançado por ele
como os de 4a classe. Os brigues e escunas contra os inimigos. Os principais canhões do
também tiveram um incremento conside- período estão indicados no anexo B, no qual
rável, em razão das patrulhas realizadas são especificados o peso total do canhão, o
no Canal da Mancha a partir de 1799. Os alcance a tiro tenso, o alcance máximo e o
números variavam em razão dos períodos número de marinheiros que os guarneciam.
de paz e de guerra, estando muitos desses O peso do maior canhão do período, o 42
meios em reserva por ocasião dos períodos pounder, era de 3,25 toneladas para um
de paz, prontos para serem guarnecidos em alcance de tiro tenso de 400 jardas e alcance
caso de necessidade. máximo de 2.740 jardas, sendo necessária
34 Comandantes como função, em inglês commanding officer.
35 FREMONT-BARNES, Gregory. The Royal Navy 1793-1815. op. cit. p. 58.
36 Ver anexo A.
37 A pólvora negra era um composto de nitrato de potássio, enxofre e carvão, convertidos em grãos de diferentes
tamanhos estocados na forma de invólucros especificados para cada projétil a ser disparado. Como exemplo,
para se disparar um projétil de 32 libras eram necessárias 11 libras de pólvora. Fonte: FREMONT-BARNES,
Gregory. The Royal Navy 1793-1815. op. cit. p. 64.
38 Um pound ou uma libra, corresponde a 0,453 quilo.

84 RMB3oT/2013
A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A organização e os meios de combate (Parte I)

uma guarnição de 16 homens para efetuar correntes lançadas tanto dos canhões como
o tiro. O canhão mais utilizado na RN foi o de caronadas. Os franceses preferiam atirar
de 32 pounder. Os canhões se localizavam nos mastros de modo a diminuir a velocidade
nos conveses corridos, tanto a bombordo dos britânicos, enquanto os últimos preferiam
como a boreste do costado, em seteiras39 a atirar na linha ou abaixo da linha-d’água, de
serem abertas por ocasião do combate. Pela modo a afundar o navio adversário.41
localização dos canhões pode-se perceber É importante mencionar que existia uma
que a maior eficiência destes provinha grande probabilidade de acidentes quando se
exatamente em colocar-se lado a lado com trabalhava com pólvora negra a bordo dos
o navio adversário, de modo a descarregar navios. Era estritamente proibida a utilização
uma bordada de tiros contra o navio inimigo. de objetos metálicos próximos à munição, de
Outro canhão de menores dimensões era modo que não houvesse uma centelha que
a caronada, que foi inventada pelo General provocasse a explosão do paiol onde estava
Robert Melville em 1752 e primeiramente estocada a pólvora negra. Esse paiol42, por
usada na RN em 1779.40 Ele era menor e uma questão de segurança, ficava localizado
usava uma carga explosiva restrita, podendo ao centro e ao fundo do navio, de modo a se
disparar projéteis esféricos de até 64 libras. afastar dos tiros inimigos, de pontos de ilu-
Era o armamento disponível nos tombadilhos minação e de centelhas, ao mesmo tempo em
das fragatas e a principal artilharia nos brigues que era monitorado para impedir vazamentos
e nas chalupas e escunas. Tinha a vantagem de água salgada que inutilizariam a munição.
de causar grandes baixas entre os adversários Se fosse observado fogo no paiol de munição,
quando utilizado contra o madeirame do ini- as chances de explosão eram altíssimas, com
migo, pois provocava grande quantidade de a consequente destruição do navio.
lascas de madeira, que penetravam nos corpos Essa pólvora negra provocava grande
dos combatentes. Tais ferimentos eram os quantidade de fumaça, que poderia obscu-
mais críticos em combate, pois evoluíam, na recer tanto a pontaria dos canhões como a
maior parte das vezes, para infecções graves. visibilidade do inimigo. Com falta de vento
Deve-se lembrar que nesse período ainda no combate, a fumaça poderia demorar mi-
não existiam as sulfas e os antibióticos, que nutos para ser dispersada, e muitos combates
viriam a combater as infecções. Essas armas tiveram que ser interrompidos em virtude da
disparavam também outros tipos de projéteis falta de visibilidade. A expressão “nuvem
antipessoal de formas diversas, que provoca- de guerra”43 derivou-se exatamente desse
vam grandes baixas em adversários que se fenômeno, embora depois de 1815 tenha
encontravam a descoberto nos conveses. As alterado seu significado na teoria da guerra.44
caronadas normalmente se localizavam nos O efeito da pólvora negra sobre os artilhei-
castelos à vante. ros era perigoso, pois, além das queimaduras
Alguns projéteis tinham a função de nas mãos, braços e faces provocadas pelo ma-
avariar os mastros e o velame do inimigo, nuseio da munição, ela tinha o efeito colateral
geralmente duas bolas de ferro ligadas por de provocar sede, dores de cabeça e enjoos.

39 Portinholas de onde saiam os tubos dos canhões no costado.


40 BARNES, Gregory. The Royal Navy 1793-1815. op. cit. p. 61.
41 MASEFIELD, John. Sea Life in Nelson’s Time. 3a ed. Annapolis: Naval Institute Press, 1971, p. 16.
42 Em inglês, chamado de powder room – paiol de munição.
43 Em inglês, fog of war.
44 FREMONT-BARNES, Gregory. The Royal Navy 1793-1815. op. cit. p. 64.

RMB3oT/2013 85
A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A organização e os meios de combate (Parte I)

O armamento individual dos marinheiros e nas classes indicadas. A nau capitânia de


fuzileiros reais constava de mosquetes, pisto- Nelson em Trafalgar, o HMS Victory de 1a
las, machados, espadas, sabres de abordagem, classe, possuía 30 canhões de 32 pounder,
facas, baionetas e cutelos, normalmente utili- 28 canhões de 24 pounder, 32 canhões de 12
zados a curta distância ou em abordagens. Os pounder, 12 canhões de 6 pounder e, por fim,
mosquetes e as pistolas disparavam apenas um duas caronadas de 68 pounder, perfazendo
projétil de cada vez, assim a rapidez no muni- um total de 104 canhões e caronadas45.
ciamento e disparo da arma significava vida Desse modo, pode-se perceber que a
ou morte para os combatentes. As abordagens organização e a constituição da RN eram
eram comuns na guerra naval do período. eficientes e eficazes. No próximo número
Normalmente um navio de linha de 3a da RMB, serão discutidas a formação e a
classe possuía 74 canhões de 24 pounder preparação dos recursos humanos que guar-
ou mesmo 74 canhões de 18 pounder. As- neciam esses meios de combate e como era
sim, não existia uniformidade de calibres a carreira dos oficiais de Marinha da RN.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<HISTÓRIA>; História da Marinha da Inglaterra; Nelson, Horatio;

APÊNDICE

CLASSES DE NAVIOS DA MARINHA REAL NO SÉCULO XVIII

Classes Tipo Tonelagem Canhões Conveses Tripulação Comandante Custo (1)


1a Linha de 2.600 a 2.000 100 ou mais Três 950 Capitão 70.000 a
Batalha toneladas 100.000
2a Linha de 2.000 90 e 98 Três 750 Capitão 60.000
Batalha toneladas
3a Linha de 2.000 a 1.300 80, 74 e 64 Dois 720 a 490 Capitão 36.000 a
Batalha toneladas 54.000
4a Anexo a 1.100 50 e 60 Dois 350 Capitão 26.000
Linha toneladas
5a Fragata 900 a 700 32 a 44 Um 215 a 320 Capitão 21.500 a
toneladas 15.000
6a Fragata 650 a 550 20 a 28 Um 200 a 160 Capitão 10.000 a
toneladas 13.000
Chalupas s/classe 450 a 350 10 a 28 Um 120 a 135 Comandante Abaixo de
toneladas 8.000
Brigues s/classe 200 a 320 10 a 22 Um 80 a 120 Comandante Abaixo de
toneladas 6.000
Outros s/classe abaixo de 200 4 a 18 Um variável Tenentes Variável
toneladas

– Valores de 1750 em libras sem o armamento.

45 LONGRIDGE, op. cit. p. 20.

86 RMB3oT/2013
A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A organização e os meios de combate (Parte I)

ANEXO A

NAVIOS EM ATIVIDADE NA MARINHA REAL – 1793 A 1805

Classes 1793 1795 1797 1799 1801 1803 1805


1a 5 6 6 6 6 6 7
2a
16 17 16 17 16 15 14
3a 92 91 94 102 105 90 95
4a
12 12 16 14 13 11 13
5a 79 102 115 117 113 102 114
6a 35 35 40 42 34 22 25
Chalupa 40 62 91 98 104 78 121
Bombardeio 2 2 2 15 14 10 17
Brulotes 5 3 3 7 3 2 1
Brigues, 18 33 52 99 103 52 127
Escunas etc.
TOTAL 304 363 435 517 511 388 534

Fonte: FREMONT-BARNES, Gregory. The Royal Navy 1793-1805. Oxford: Osprey,


2007, p. 6 e 45.

RMB3oT/2013 87
A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: A organização e os meios de combate (Parte I)

ANEXO B

CANHÕES E CARONADAS E SUAS ESPECIFICAÇÕES NA


MARINHA REAL – SÉCULO XVIII

Tipo Peso Alcance (4) Alcance Máximo (5) Guarnição


42 pounder 3,25 t 400 jardas 2.740 jardas 16
32 pounder (1) 2,90 t 400 jardas 2.640 jardas 14
24 pounder (1) 2,69 t 400 jardas 1.980 jardas 12
18 pounder (1) 2,10 t 350 jardas 2.110 jardas 10
12 pounder (1) 1,92 t 375 jardas 1.320 jardas 10
9 pounder (1) 1,23 t 330 jardas 1.730 jardas 8
6 pounder (1) 1,10 t 320 jardas 1.555 jardas 4
4 pounder (1) 0,61 t 310 jardas 1.250 jardas 4
3 pounder 0,36 t 300 jardas 1.225 jardas 2a3
Caronada de 68 ~ 1,7 t (2) 450 jardas 1.280 jardas (3)
Caronada de 42 ~ 1,0 t (2) 400 jardas 1.170 jardas (3)
Caronada de 32 ~ 0,8 t (2) 330 jardas 1.087 jardas (3)
Caronada de 24 ~ 0,6 t (2) 300 jardas 1.050 jardas (3)
Caronada de 18 ~ 0,5 t (2) 270 jardas 1.000 jardas (3)
Caronada de 12 ~ 0,3 t (2) 230 jardas 870 jardas (3)

(1) – Existem diversos tipos de canhões com esses calibres; escolheu-se o de maior peso
e alcance.
(2) – Valores aproximados de peso.
(3) – Número variável de municiadores.
(4) – Alcance a tiro tenso.
(5) – Alcance máximo a 6 graus de elevação.

Fonte: FREMONT-BARNES, Gregory. The Royal Navy 1793-1815. Oxford: Osprey, 2007,
p.61 e LAVERY, Brian. Nelson’s Navy. The ships, men and organization, 1793-1815. An-
napolis: United States Naval Institute, 1989, p. 83 e 84.

88 RMB3oT/2013
O regime das águas na Amazônia*

RONALD dos Santos Santiago**


Capitão de Mar e Guerra (RM1)

A Bacia Amazônica, com seus 23 mil


km de vias navegáveis, oferece para
a região o transporte fluvial como principal
modo de vida adaptado aos eventos hidro-
lógicos e sofrem com o flagelo provocado
por momentos críticos.
meio de movimentação de cargas e de pes- Minha experiência na Amazônia e meu
soal. Este carregamento é afetado pela sazo- permanente interesse pela região fazem
nalidade das cheias e secas, assim como as com que eu pense neste assunto, princi-
populações ribeirinhas, que constroem um palmente quando os noticiários abordam o

* Publicado no Boletim Informativo da Soamar Campinas de julho de 2013.


** Serviu na Amazônia por cerca de 7 anos: NPaFlu Amapá (imediato); Comando da Flotilha do Amazonas (as-
sistente); Estação Naval do Rio Negro (chefe do Depto Industrial); Delegado Fluvial de Tabatinga; Comando
do 8oDN (chefe do Estado-Maior) e Comandante do Grupamento Naval do Norte.
O regime das águas na Amazônia

auge da cheia e da seca, pois os ribeirinhos


sofrem muito com estes momentos.
Leandro Tocantins escreveu um excelente
livro, O rio comanda a vida, referindo-se ao
rio no sentido genérico e no sistema hidrográ-
fico amazônico, que interfere na sociedade da
região. Em despacho com o Presidente Getúlio
Vargas em 1952, este lhe disse que gostaria que
no futuro pudesse escrever “A vida comanda
o rio”. Isto ainda não é possível.
É esta interferência no modo de vida do
caboclo ribeirinho que apresento nestas pou-
cas linhas, sem entrar no campo das razões
climáticas que provocam as cheias e secas. vai aumentando, chegando a baixar mais de
O Rio Solimões (Amazonas) entra no 50 centímetros num único dia.
Brasil por Tabatinga, que está a 65 metros As fotos da página seguinte indicam as
acima do nível do mar e deságua na foz variações que ocorrem na Estação Naval
(Amapá), a 3.151 km de distância. Isto do Rio Negro, onde aportam os navios do
demonstra que corre numa planície de gra- Comando da Flotilha do Amazonas, em
diente lento, sendo que todos os seus rios cais flutuante que é apoiado por passarela
tributários também transbordam, provocan- para pedestres e módulos flutuantes para
do grandes inundações em épocas distintas. acesso de viaturas e cargas. Quando a
Abaixo um quadro com medições regis- vazante estava muito rápida e noturna, ao
tradas por mim em Tabatinga: amanhecer encontrávamos o módulo flutu-
ante encalhado, o que dificultava bastante a
realização da faina para retirá-lo.
Nos períodos de cheia, normalmente
há declaração de calamidade pública em
função das áreas alagadas, agrícolas e
urbanas, motivada por perdas de culturas
e de vidas por afogamento. Neste período,
há poucos registros de doenças relaciona-
das à cheia.
Nos períodos de seca, a falta de água
influencia o transporte de carga geral e,
consequentemente, a geração de energia por
falta de óleo diesel para as usinas termoge-
A foto a seguir apresenta a região do radoras. Nesse período se registram muitos
porto de Tabatinga na cheia. casos de doenças, principalmente aquelas
O Rio Negro enche lentamente quando denominadas de “veiculação hídrica” como
começa a ser represado pela cheia do Rio diarreia, varíola, impaludismo, hepatite etc.
Solimões, que o intercepta na sua foz com É fato que as palafitas mostradas na pá-
bastante velocidade. Quando a velocidade gina seguinte não possuem água potável e
da água do Solimões começa a diminuir, a que os dejetos dos banheiros são lançados
velocidade de vazão da água do Rio Negro no próprio local.

90 RMB3oT/2013
O regime das águas na Amazônia

As três fotos nacionalidade e obtive grande satisfação


mostram a ponte cívica e profissional. Identifiquei-me com
em que a variação
do nível do rio é
a população ribeirinha que sofre as cheias
superior a 8 metros e secas do “rio-mar”, já que lá o rio con-
tinua a comandar a vida, e esta chega a
ser, até certo ponto, uma dádiva do rio, e
a água uma espécie de fiador dos destinos
humanos. Vi o quanto o ribeirinho sofrido e
solitário torna-se o mais solidário de todos
os homens, testemunhei o amor e a gratidão
que a Marinha do Brasil desperta no seu
coração, por apoiá-lo em suas necessidades
básicas de sobrevivência. Servir embarcado
Após muito navegar na Bacia Amazô- na Amazônia me permitiu acreditar ser o
nica em missões típicas da nossa Marinha mais importante dos homens, por ter conhe-
na região, contribuindo para a vivificação cido e contribuído de forma direta com a
do espaço amazônico e para a sua inte- população ribeirinha.
gração social à comunidade brasileira, Nas páginas seguintes estão fotografias
com certeza aumentou a minha noção de da região.

Igarapé de Educandos, em Manaus, na época da seca. Observa-se nas palafitas a marca da última cheia e o lixo
acumulado nas margens. Esta população utiliza a água do próprio igarapé para usos diversos

RMB3oT/2013 91
O regime das águas na Amazônia

As imagens acima mostram, no Rio Negro, o porto de Manaus e o cais flutuante do Rodway. Na foto à esquerda vemos,
na cheia, navios atracados no paredão, e, à direita, na seca, o paredão e a praia que se forma até o cais flutuante.
Estas fotos do cais do Rodway e do Igarapé de Educandos, que cortam Manaus, mostram que até a capital do
Estado é afetada pelos períodos de seca e cheia

Estas imagens são comuns e mostram o isolamento em que vivem os ribeirinhos. Uma choupana no meio de
grande área alagada a quilômetros de distância de alguma comunidade, ou mesmo cidade, onde poderiam obter
algum tipo de auxílio

Isto faz parte de um Brasil que poucos conhecem!

92 RMB3oT/2013
O regime das águas na Amazônia

Acima, fotos de uma casa isolada na margem do Rio Amazonas à jusante de Parintins, na cheia de maio de
1989. Na frente da casa, couro de pirarucu secando. Na choupana do lado direito, uma “maromba”, onde estão
os cães e pequenos animais para consumo, como porcos e galinhas

Na foto à esquerda, uma “maromba” para o gado, pertencente à casa anteriormente citada. O ribeirinho tenta
preservar as suas poucas cabeças de gado confinando-as sobre a maromba, visando proteger o casco do animal
da umidade e para que ele não se desgarre em busca de pasto.
Conforme já fiz referência, a Amazônia é uma planície que se alaga, e o ribeirinho, nesta situação, encontra muita
dificuldade para proteger o seu gado e conseguir capim para alimentá-lo. A foto da direita mostra o esforço do
caboclo, que muitas vezes tem que remar horas e horas para conseguir o alimento para o seu precioso animal

Uma família que se desloca em sua montaria em busca de auxílio do Navio-Patrulha Fluvial (NaPaFlu) Amapá

RMB3oT/2013 93
O regime das águas na Amazônia

NPaFlu Amapá atracado, em maio de 1989, no cais de Parintins, durante o período de cheia que assolou a
região. A atracação é sui generis, pois ele está atravessado ao cais, recebendo forte correntada. Observa-se a
água passando sobre a calçada do porto

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<ÁREAS>; Amazônia; Flotilha do Amazonas; Navio-Patrulha;

94 RMB3oT/2013
Modal Marítimo – um desafio

LUIZ PAULO GUIMARÃES*


Capitão de Mar e Guerra (Refo-IM)

SUMÁRIO

O Brasil e o transporte marítimo internacional


O Brasil e sua navegação de cabotagem
O Brasil e sua navegação interior
Em São Paulo
No Rio de Janeiro
A MB e o modal marítimo de abastecimento
O projeto modal marítimo
Fatos geradores do estudo
Desenvolvimento e conclusão do estudo
Estudo de viabilidade econômica do projeto
Fase atual do projeto
Considerações finais

O Brasil e o transporte internacionais brasileiras são transportadas


marítimo internacional pelo mar.
Embora os prejuízos por nossa incapaci-

O transporte marítimo é responsável


pela maior parte das trocas comer-
ciais internacionais do Brasil, conduzindo
dade de transporte próprio sejam de amplo
conhecimento, transcrevo, para quem não
teve a oportunidade de ler, alguns trechos
principalmente commodities agrominerais, do artigo “Brasil à mercê das multinacio-
veículos, máquinas e equipamentos de nais”, recentemente escrito por Washington
ponta. Cerca de 75% das trocas comerciais Barbeito de Vasconcellos:

* Gerente de Projetos Especiais da Secretaria Geral da Marinha.


Modal Marítimo – um desafio

“Após muitas décadas de vida, a gente Além do desbalanceamento, 70% da


se pergunta como é que certos absurdos carga transportada por modal marítimo es-
podem se perpetuar sem a devida reação tão concentrados em apenas três empresas.
da sociedade. É o caso do setor marítimo. Apenas para exemplificar, o modal ma-
O Brasil não tem sequer um navio porta- rítimo na União Europeia representa 37%
contêineres operando fora de suas costas. da matriz de transporte, e na China 48%.
Isso gera um déficit de fretes estimado em A propósito, transcrevemos alguns
US$ 20 bilhões anuais e deixa a Nação à trechos de um recente artigo de autoria de
mercê das multinacionais do mar.” João Guilherme Araújo, diretor do Instituto
“Por qualquer critério, o País é uma das de Logística e Supply Chain (Ilos):
maiores economias do planeta. E como se “Melhorar a movimentação e a dis-
pode pensar em uma potência sem navios? tribuição de bens e mercadorias no País
Após o auge dos anos 80, em que chegou a é condição primordial para um mercado
ter frota expressiva, dividindo com os es- que se pretenda competitivo. Não basta ao
trangeiros suas cargas, ombro a ombro, o País ser rico em recursos naturais e maté-
Brasil caiu para uma situação inaceitável.” rias-primas, perseguir menores custos de
“Com uma frota de energia, aumentar sua
pelo menos 12 navios, o capacidade industrial
Brasil poderia voltar ao O modal marítimo na União e desenvolver melho-
transporte internacio- Europeia representa 37% res processos produ-
nal de contêineres, sem da matriz de transporte, tivos. Há de haver um
subsídios, com imediata esforço direcionado
redução do déficit de na China 48%. No Brasil aos enormes desafios
fretes, gerando empre- apenas 14,9% – “gera déficit na oferta de mão de
go para marítimos e obra qualificada, e
metalúrgicos, raciona- de fretes estimado em US$ a destravar o nó da
lizando o serviço – ao 20 bilhões anuais” ausência de adequa-
se acoplar longo curso da infraestrutura de
e cabotagem – e, ainda, transportes e os en-
reduzindo o custo Brasil, pois haveria extra- traves de distribuição física de nossos
ordinário impulso à cabotagem, com enorme produtos.”
redução de custos na competição interna com “Nesse sentido, a matriz de transporte
o caminhão.” brasileira de cargas apresenta grandes
possibilidades de aperfeiçoamento e me-
O Brasil e sua navegação de lhor balanceamento entre seus diferentes
cabotagem modais. Especialmente se levarmos em
consideração a histórica concentração
O Brasil tem mais de 4 mil quilômetros rodoviária brasileira, as dimensões geo-
de costa atlântica navegável e milhares de gráficas e as vocações naturais de um país
quilômetros de rios. Entretanto, levantamento continental, com extensa costa navegável.
realizado em 2012 mostra o desbalanceamento Reforçamos, desde já, que não se trata de
dos modais utilizados na matriz de transporte uma disputa entre modais, mas, pelo con-
em relação à tonelagem de carga transportada: trário, gostaríamos de apresentar a opor-
modal rodoviário – 65,6%; modal ferroviário tunidade concreta de complementariedade
– 19,5%; modal marítimo – 14,9%. e colaboração multimodal.”

96 RMB3oT/2013
Modal Marítimo – um desafio

“A frota total de cabotagem brasileira integra o País através de seus recursos


apresenta 156 embarcações, com idade hídricos. Este tipo de transporte é dividido
média de 17,4 anos. Os maiores operado- nas modalidades fluvial e marítima.
res são a Petrobras/Transpetro, com 42 O transporte marítimo é o mais im-
embarcações; a Norsul e a Elcano. Juntas, portante, respondendo por quase 75%
essas três empresas operam por volta de do comércio internacional do Brasil. A
70% da TPB – tonelagem de porte bruto navegação fluvial no Brasil está numa
– da frota brasileira, notadamente nos posição inferior em relação aos outros
granéis líquidos e sólidos.” sistemas de transportes. É considerada o
Interessante notar que o desbalancea- sistema mais barato e limpo, contudo o
mento na matriz de transporte brasileira, de menor participação no transporte de
privilegiando o transporte terrestre, con- mercadoria no País.
trasta com os números apresentados no Isso ocorre devido a vários fatores.
quadro a seguir, que aponta as seguintes Muitos rios do Brasil são de planalto,
vantagens para o modal marítimo: apresentando-se encachoeirados e, portan-
– maior capacidade de transporte de to, dificultando a navegação. É o caso dos
carga; rios Tietê, Paraná, Tocantins e Araguaia.
– menor consumo de combustível; Outro motivo são os rios de planície, que,
– menos poluente; embora facilmente navegáveis (Amazonas,
– menor impacto ambiental; São Francisco e Paraguai), encontram-se
– menor custo operacional. afastados dos grandes centros econômicos
do Brasil.
O Brasil e sua navegação Algumas iniciativas existem para um
interior maior aproveitamento de nossa navegação
interior, seja para transporte de pessoal ou
O transporte hidroviário no Brasil é de carga. Com alguma surpresa, consta-
um setor de infraestrutura multimodal que tamos que, a despeito da fundamentação
Quadro comparativo entre os modais de transporte
(Fonte: Confederação Nacional do Transporte)

MODAIS MARÍTIMO FERROVIÁRIO TERRESTRE


Capacidade transporte 1 barcaça (900 t) 9 vagões (100 t cada) 35 carretas (26 t cada)
de carga
Consumo de combustíveis 4 litros 6 litros 15 litros
(transporte de 1.000 t por
distância de 1 km)
Emissões de gases (CO2) 74 gramas 104 gramas 219 gramas
(transporte de 1.000 t por
distância de 1 km)
Custos socioambientais US$ 0,20 US$ 0,80 US$ 3,20
(US$/100 t a cada 1 km)
Custos de frete (R$ para R$ 40,00 R$ 80,00 R$ 120,00
transporte de 1 t/1.000 km)

RMB3oT/2013 97
Modal Marítimo – um desafio

convincente, alguns desses projetos custam seria encaminhada a três triportos de des-
para sair do papel e se tornar realidade. tino: em Itaquaquecetuba, Carapicuíba e no
Nesse particular, vamos nos ater aos dique da Billings da Rodovia Anchieta, em
projetos existentes em São Paulo e no Rio São Bernardo do Campo. O nome triportos
de Janeiro. vem de trimodal, por conta da integração
prevista, nesses pontos, com o Rodoanel e
Em São Paulo o futuro Ferroanel.
De acordo com Alexandre Delijaicov,
Há muitos estudos mostrando a possibi- professor da FAU e coordenador do grupo
lidade de São Paulo se tornar uma cidade responsável pelo projeto, “a meta é acabar,
capaz de explorar o transporte fluvial em em até 30 anos, com os aterros sanitários e
seus dois principais rios: Pinheiros e Tietê. lixões da região metropolitana”.
Os estudos mais antigos têm 110 anos, e o No entanto, as embarcações devem
mais recente deles (2012), desenvolvido também transportar passageiros – mo-
no âmbito da Faculdade de Arquitetura e radores e turistas – e carga comercial,
Urbanismo da Universidade de São Paulo como hortifrutigranjeiros e material de
(FAU-USP), prevê a criação de um hidro- construção civil.
anel de 117 km de extensão que aliaria ao Com o hidroanel, estima-se, haveria
transporte hidroviário obras para tratamen- redução na quantidade de caminhões,
to de lixo, despoluição das águas, combate responsáveis por cerca de 440 mil viagens
a enchentes, criação de parques e aumento por dia na região metropolitana. Dessa
da capacidade do abastecimento de energia maneira, São Paulo conseguiria cumprir a
e de água em São Paulo. meta, prevista em lei estadual, de reduzir
Para interligar a rede fluvial seria neces- até 2020 as emissões de gás carbônico em
sária a construção de um canal com 17 km 20% em relação aos níveis de 2005.
de extensão. O estudo estima o custo da Até sair do papel, o projeto ainda tem
empreitada em cerca de R$ 3 bilhões, inves- pela frente pelo menos quatro etapas: es-
tidos ao longo de até 30 anos. Concluído, o tudo de viabilidade, anteprojeto, projeto
hidroanel teria a função de transportar lixo básico e projeto executivo. No estágio
e outros resíduos urbanos, como entulho atual, o orçamento de R$ 2,5 bilhões a R$
de construção, sedimento de dragagens, 3 bilhões inclui investimentos como cons-
terra de escavações e lodo das estações de trução do canal para conexão das represas,
tratamento de água e esgoto. Essa carga 20 eclusas, lagos e áreas de manobra.

Hidroanel de São Paulo

98 RMB3oT/2013
Modal Marítimo – um desafio

No Rio de Janeiro Os arquitetos Leonardo Lattavo e João


Pedro Backheuser desenvolveram um pro-
a) Projeto Instituto Alberto Luiz Coim- jeto aquaviário para a Lagoa, onde pequenos
bra de Pós-Graduação e Pesquisa de Enge- barcos, com capacidade de passageiros se-
nharia da Universidade Federal do Rio de melhante à dos ônibus urbanos, cruzariam
Janeiro (Coppe/UFRJ) – 2001 o espelho d’água. As embarcações fariam
Projeto de Transporte Marítimo de Carga as rotas entre diferentes pontos, como do
na Baía de Guanabara e praias adjacentes. viaduto que dá acesso ao Túnel Rebouças ao
Objetivos: desafogamento do trânsito; Corte do Cantagalo, ou dos bairros da Fonte
escoamento de cargas de forma mais efi- da Saudade e do Humaitá à Praia de Ipane-
ciente, atendendo ao crescimento comer- ma, através do Canal do Jardim de Alah.
cial, populacional e industrial no Estado “O projeto não vai resolver o problema
do Rio de Janeiro. do trânsito no entorno da Lagoa, mas será
Benefícios: redução do fluxo de trans- mais uma alternativa de transporte público”,
porte rodoviário, aumentando a eficiência ressalva o arquiteto Leonardo Lattavo, um
do transporte no Estado; aproveitamento dos idealizadores. “O transporte aquaviário
da infraestrutura portuária já existente é pouco explorado no Rio”, acrescenta. Ele
(exemplo: São Gonçalo e Caju – estaleiros ressalta que os barcos poderiam fazer a inte-
desativados); localização de terminais fora gração com ônibus em pontos no entorno da
da cidade; investimentos baixos e possíveis Lagoa. “Seria um transporte intermodal, em
de serem compartilhados com outras moda- que, por exemplo, a pessoa pegaria um barco
lidades (terminais mul-
timodais); possibilidade
de aproveitar navios
existentes, adaptando-
os para o transporte de
cargas, reduzindo o cus-
to de fabricação; trans-
porte de carga durante
todo o dia, evitando as
restrições de horário da
ponte; oferta de novos
empregos.
b) Projeto de trans-
porte público na Lagoa
Rodrigo de Freitas –
2010
Projeto feito em par-
ceria por dois escritórios
de arquitetura, pretende
utilizar a Lagoa Rodrigo
de Freitas, na Zona Sul,
como uma alternativa
para o caótico trânsito da
cidade do Rio de Janeiro. Projeto Lagoa Rodrigo de Freitas

RMB3oT/2013 99
Modal Marítimo – um desafio

em Ipanema rumo a um ponto de ônibus na Além de demandar equipamentos de


boca do Túnel Rebouças”, explica o arquiteto. manobra de peso para embarque e desem-
barque do material, o abastecimento não
A MB e o modal marítimo de atendia à premissa de distribuição “porta
abastecimento a porta”, o que deixou claro que o modal
marítimo não seria bem-sucedido da forma
A ideia de utilizar o modal marítimo como fora realizado (a figura ainda mostra
como forma alternativa de distribuição de o Depósito de Sobressalentes da Marinha no
material armazenado nos Órgãos de Dis- Rio de Janeiro (DepSMRJ) e o Depósito de
tribuição (OD) localizados no Complexo Material de Eletrônica da Marinha no Rio de
Naval de Abastecimento (CNAb) – Av. Janeiro (DepMEMRJ) como OM distintas.
Brasil, RJ –, é antiga na MB.
De 1985 a 1988 a Diretoria de Abas- O projeto modal marítimo
tecimento da Marinha (DAbM) envidou
esforços para a utilização do modal marí- Em 2008 foi iniciado o estudo de viabili-
timo, e em 2005 o Centro de Controle de dade do modal marítimo em bases científicas,
Inventário da Marinha (CCIM) efetuou visando a sua utilização de forma sistêmica
entregas não sistemáticas utilizando em- para abastecer as 166 OMC localizadas às
barcação do Centro de Munição da Ma- margens da Baía da Guanabara, em comple-
rinha (CMM). Os itens de material eram mento ao modal rodoviário. A realização do
colocados na embarcação em contêineres estudo foi determinada pela Secretaria-Geral
ou pallets e transportados até o cais onde da Marinha (SGM) e aprovada pelo Coman-
se localizava a Organização Militar Con- dante da Marinha (CM). Na SGM, a realiza-
sumidora (OMC). ção do estudo vem sendo coordenada, desde
seu início, pelo Capitão de
Mar e Guerra (Refo-IM) Ri-
cardo José Salgado de Mora-
es. Sua atuação, com o apoio
da SGM e da DAbM, vem
sendo preponderante para o
desenvolvimento do projeto
modal marítimo, motivo pelo
qual, por justiça, cito-o nomi-
nalmente neste artigo.

Fatos geradores
do estudo

Os fatos geradores do
estudo são similares aos de
projetos outros citados neste
artigo. Considerando a nossa
especificidade, destacamos:
a vulnerabilidade do abaste-
Toda a estrutura de abastecimento da MB no RJ se encontra às margens da Baía cimento, em razão da depen-

100 RMB3oT/2013
Modal Marítimo – um desafio

humanos existentes e ter re-


alizado o levantamento das
viaturas e dos equipamentos
de manobra de peso exis-
tentes nos OD e nas OMC,
a empresa contratada para
modelar o projeto chegou às
seguintes conclusões:
a) para otimizar a distri-
buição do material fornecido
pelos OD, há necessidade
de ser criada uma Central de
Operações Logísticas (COL),
com a finalidade de, em mol-
des sistêmicos: I) possibilitar
a unitização das cargas e a
elaboração de um cronograma
Cenário Geográfico ótimo de entrega de material;
II) otimizar o aproveitamento
dência exclusiva do modal terrestre; o alto dos meios de transporte, evitando o direciona-
custo operacional das viaturas; os óbices mento, para o mesmo local, de viaturas com
para abastecimento das OMC localizadas capacidade ociosa; III) tornar mais fácil geren-
em ilhas; a criticidade das vias terrestres, ciar as informações relativas à tarefa entrega;
por saturação e má conservação; restrição b) baseado no insucesso de experiências
ao trânsito de cargas por via rodoviária, anteriores, o modal marítimo não deve
principalmente na Ponte Rio-Niterói. privilegiar o transporte de cargas em con-
têineres ou pallets;
Desenvolvimento e c) as cargas devem ser acondicionadas
conclusão do estudo em caminhões, e estes embarcados e deslo-
cados via marítima até os Polos de Consu-
Após ter estudado a série histórica dos mo – PC (novo conceito criado de pontos
itens de material demandados de cada OD, de recebimento de material, concentrando
ter levantado o quantitativo de recursos uma ou mais OMC);

RMB3oT/2013 101
Modal Marítimo – um desafio

d) os caminhões desembarcam nos PC e marítimo. Por ser muito vasto, apresen-


abastecem as OMC, conforme grade ótima to apenas as principais conclusões do
de roteiro apresentada no estudo acima: estudo:
A grade de roteiros para atender aos oito a) considerando o tempo de vida útil
PC (166 OMC) será cumprida com duas do projeto (30 anos) e para atender a uma
embarcações, que possuem a capacidade de mesma grade de roteiros de transporte
carregar até quatro caminhões cada. (quadro anterior), o custo total do modal
Número de caminhões necessários para marítimo é menor do que o custo total do
cumprir a grade de roteiros: modal terrestre em R$ 21.946.256,00 (valor
– pelo modal terrestre = 61 caminhões presente);
– pelo modal marítimo = 38 caminhões b) até o 8o ano de vida útil do projeto, o
custo total do modal terrestre é menor do
Estudo de viabilidade econômica do que o custo total do modal marítimo – o
projeto projeto modal marítimo atinge o break-
even point entre o oitavo e o nono ano;
Em agosto de 2011, fui convidado a c) durante todos os anos de vida útil
assessorar o estudo de implantação da do projeto, o custo operacional do modal
COL e, em 2012, elaborei um estudo de marítimo é inferior ao custo operacional do
viabilidade econômica do projeto modal modal terrestre.

102 RMB3oT/2013
Modal Marítimo – um desafio

Fase atual do projeto Em junho de 2013, foi prontificado


pelo Centro de Projetos de Navios (CPN)
Em setembro de 2012, foi realizado com o projeto da embarcação a ser utilizada no
sucesso um exercício de abastecimento às modal marítimo – chata de emprego geral
OM do Complexo Naval de Mocanguê (Cege) – (o projeto está em fase final de re-
via modal marítimo (foi utilizada como visão pela Diretoria de Engenharia Naval).
embarcação uma EDVM). Em julho de 2013, foi prontificado e
Em maio de 2013, foi prontificada aprovado pela Diretoria de Obras Civis da
a concretagem da rampa de abicagem Marinha o projeto básico de retificação da
do Complexo Naval de Abastecimento rampa do Complexo Naval de Mocanguê,
(CNAb), indispensável ao embarque do o que permitirá, quando oportuno, que se
material dos OD. realize o processo licitatório de obras civis.

Exercício modal marítimo

Chata de emprego geral

RMB3oT/2013 103
Modal Marítimo – um desafio

Considerações finais – para a construção de uma primeira em-


barcação, o que permitirá a implementação
“Sonhar sempre, persistir muito, desistir parcial do projeto, possibilitando que seja
nunca.” regularmente iniciado o abastecimento via
Chegamos ao ponto crucial do pro- marítima às OMC localizadas no Complexo
jeto, qual seja o de viabilizar recursos, Naval de Mocanguê.
principalmente: Sabemos que os recursos são escassos,
– para as obras civis necessárias à reti- mas o desafio está aceito e não vamos esmo-
ficação da rampa do Complexo Naval de recer, pois todos que conhecem o projeto, não
Mocanguê (atualmente utiliza-se a rampa só os oficiais intendentes, mas especialmente
que está sendo cedida à Petrobras); os companheiros do Corpo da Armada, refor-
– para a construção de uma rampa na çam nosso entendimento de que o modal ma-
área do Comando do 1o DN, em local ainda rítimo representará um up grade no Sistema
a ser definido; de Abastecimento da Marinha.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<PODER MARÍTIMO>; Transporte marítimo; Navegação; Cabotagem; Navegação interior;
Abastecimento; Marinha do Brasil;

104 RMB3oT/2013
PIRATARIA MARÍTIMA FORA DE CONTROLE
NO GOLFO DA GUINÉ

HENRIQUE PEYROTEO PORTELA GUEDES*


Capitão de Fragata da Marinha de Portugal

SUMÁRIO

Introdução
A ONU e as organizações locais estão preocupadas com a presente situação
A Nigéria é o país do Golfo da Guiné mais afetado pela pirataria marítima
A pirataria está se expandindo para as águas do Benim e do Togo
É necessário agir para fazer face à pirataria marítima no Golfo da Guiné
A Marinha portuguesa volta pela sexta vez ao Corno da África

INTRODUÇÃO paulatinamente desde o início deste sécu-


lo, contudo não lhe tem sido atribuído um

A gora que o fenômeno da pirataria na


região da Somália começa a estar mais
controlado, depois de ter afetado substan-
destaque tão acentuado como aquele que
tem sido dado ao Corno da África, onde
a comunidade internacional tem feito um
cialmente, ao longo dos últimos seis anos, esforço permanente para controlar este tipo
a navegação no Golfo de Adem e na Bacia de prática ilícita.
da Somália, surge um novo foco de pirataria O Golfo da Guiné fica situado1 entre
a uns milhares de quilômetros de distância, a Costa do Marfim e o Gabão, e inclui,
mais precisamente na região do Golfo da além destes países, Gana, Togo, Benim,
Guiné. Aí, este fenômeno tem crescido Nigéria, Camarões e Guiné Equatorial.

* Colaborador costumeiro da Revista Marítima Brasileira, em especial sobre Pirataria Marítima (2o e 4o trim./2008;
3o trim./2010; e 3o trim./2011).
1 De acordo com a International Hydrographic Organization.
PIRATARIA MARÍTIMA FORA DE CONTROLE NO GOLFO DA GUINÉ

Países do Golfo da Guiné (Fonte: Google Maps)

Geograficamente, fica no cruzamento da e com os EUA). As recentes descobertas


linha do Equador com o meridiano de de novas reservas de hidrocarbonetos
Greenwich. Há também quem considere têm feito aumentar ainda mais o interes-
que este Golfo se estende desde o Senegal se geoestratégico por esta região, quer
até Angola, ou seja, por parte de algumas
que fica situado entre potências ocidentais –
os paralelos 15o 0’ 0” Admite-se que em 2020 EUA, Reino Unido e
N e 15o 0’ 0” S. Esta a produção de petróleo França – quer ainda por
região da costa oeste algumas das potências
da África tem tido um oriunda desta costa da emergentes – África
grande incremento da África possa mesmo do Sul, Brasil, China
navegação comercial e Índia. Admite-se que
entre a Europa/Esta- ultrapassar a produção em 2020 a produção de
dos Unidos da Amé- total dos países do Golfo petróleo oriunda desta
rica (EUA) e a África Pérsico costa da África possa
Ocidental, Central e mesmo ultrapassar a
Austral. Este aumento produção total dos paí-
está diretamente relacionado com a elevada ses do Golfo Pérsico. Só a Nigéria produz
produção de petróleo e de gás natural deste diariamente cerca de 2,5 milhões2 de barris
Golfo, assim como com a sua localização de petróleo, o que corresponde a cerca de
geográfica (proximidade com a Europa 13,4% do que os EUA consumiram por
2 Nigerian National Petroleum Corporations. Disponível em: <http://www.nnpcgroup.com/NNPCBusiness/Ups-
treamVentures/OilProduction.aspx> Acesso em: 13 mar. 2013.

106 RMB3oT/2013
PIRATARIA MARÍTIMA FORA DE CONTROLE NO GOLFO DA GUINÉ

dia em 2011 e a aproximadamente 18,5% Como consequência do aumento da peri-


do consumo diário de todos os países da culosidade dessas águas, que atualmente
União Europeia juntos, nesse mesmo ano. começam a ser comparadas às da Somália,
Os EUA importam atualmente da costa os seguros dos navios têm aumentando
oeste da África cerca de 15% do seu crude, substancialmente. Esta insegurança está
prevendo-se que este valor possa passar também levando os próprios marítimos a
para os 25% nos próximos cinco anos. optarem por não navegar para a região ou
Apesar de toda esta prosperidade, este então a pedirem salários muito superiores
Golfo é, atualmente, a zona marítima mais aos que são habitualmente praticados, assim
perigosa do mundo. Grande insegurança como indenizações bastante elevadas para o
regional aí se faz sentir, em muito devido caso de incapacidade ou morte. A presente
ao recrudescimento da pirataria marítima e situação tem tido um grande impacto na
dos assaltos a mão armada contra navios, os economia local, pois existem menos arma-
quais começam a afetar de forma permanente dores que querem praticar estes portos e,
a navegação mercante. consequentemente, o
Tendo em conta a custo das mercadorias
Convenção das Nações Os Estados do Golfo da em terra tem subido.
Unidas sobre o Direito Guiné não têm atualmente Na Nigéria, por exem-
do Mar, só podemos plo, a pesca local tem
considerar como sendo qualquer tipo de política sido muito afetada por
“pirataria marítima” os marítima, pois há décadas toda esta situação, co-
atos ilícitos3 cometidos
fora do mar territo-
que lutam para conseguir meçando até o próprio
pescado a ser um bem
rial4, sendo que todos manter a sua soberania e o escasso, pois a empresa
os outros do mesmo controle do seu território no Trawler Owners Asso-
gênero, cometidos den- ciation, com mais de
tro desse ou em águas continente 200 embarcações de
interiores, e de acordo pesca operando na costa
com Resolução da Organização Marítima deste país, tem evitado sair para o mar por
Internacional (IMO) A.1025(26) 5, são causa da pirataria. Este fato está colocando
classificados como “assaltos a mão armada em sério risco os cerca de 5 mil postos de
contra navios”. No entanto, neste artigo, por trabalho diretos e os 300 mil indiretos e fez
conveniência, será utilizada genericamente com que o preço do peixe aumentasse mais
a expressão “pirataria marítima”, ou apenas de 100% nos mercados locais.
“pirataria”, para ambas as situações. Os Estados deste Golfo não têm atualmen-
O crescimento do número de atos de pi- te qualquer tipo de política marítima, pois há
rataria na região do Golfo está influenciando décadas que lutam para conseguir manter a
negativamente quer o comércio marítimo sua soberania e o controle do seu território no
quer o investimento nos países ali situados. continente. Por isso, não têm dedicado muita
3 De violência e/ou de detenção e/ou de pilhagem cometidos, para fins privados, pela tripulação e/ou pelos passa-
geiros de um navio privado, e dirigidos contra um navio e/ou pessoas e/ou bens a bordo do mesmo.
4 O mar territorial consiste numa zona marítima sob soberania nacional que vai até as 12 milhas náuticas, contadas
a partir da “linha de costa” (linha de base reta ou normal) de um Estado. Uma milha náutica corresponde a
1.852 metros.
5 A resolução A.1025(26), “Código de prática para investigação de crimes de pirataria e assaltos a mão armada
contra navios”, foi adotada pela Assembleia da IMO em 2 de dezembro de 2009.

RMB3oT/2013 107
PIRATARIA MARÍTIMA FORA DE CONTROLE NO GOLFO DA GUINÉ

atenção ao seu mar. Como resultado, as suas turada, que inclua a troca de informações
forças navais estão mal equipadas, pouco e o desenvolvimento de mecanismos de
treinadas e subfinanciadas para poderem coordenação operacionais.
assegurar, nas suas águas, a autoridade do Em nível local, a apreensão também
Estado no mar. Na África Central e Ocidental existe, quer por parte dos Estados quer das
existem menos de 25 embarcações com mais organizações aí existentes. Essa preocupa-
de 25 metros para patrulhar o mar territorial ção com a insegurança na região levou à
dos países ali situados. Estas situações, entre realização de uma Conferência Ministerial
muitas outras, têm contribuído decisivamente com o apoio da ONU, no Benim, em 19 de
para a proliferação de um grande número de março de 2013. Esta contou com a presen-
redes criminosas, as quais começaram a se de- ça de representantes de três organizações
dicar também à pirataria marítima. Estas, nos sub-regionais – Comunidade Econômica
últimos anos, têm operado essencialmente na dos Estados da África Central6 (CEEAC),
costa da Nigéria, contudo têm gradualmente Comunidade Econômica dos Estados da
estendido a sua área de atuação às costas da África Ocidental7 (CEDEAO) e a Comissão
Costa do Marfim, do Benim, do Togo, dos do Golfo da Guiné8 (CGG) – que, juntas,
Camarões, da Guiné Equatorial e de São representam 25 Estados africanos. Desta
Tomé e Príncipe. Conferência resultaram três documentos,
cujo principal objetivo é o combate à pira-
A ONU e as organizações taria e ao crime organizado neste Golfo, os
locais estão preocupadas quais terão que ser submetidos à aprovação
com a presente situação dos chefes de Estado e de Governo dos
países da África Central e Ocidental.
O aumento da pirataria no Golfo de Mais recentemente, em 24 e 25 de junho,
Guiné fez com que a Organização das Na- realizou-se em Yaoundé, nos Camarões, a
ções Unidas (ONU) passasse a acompanhar Cimeira de Chefes de Estado e de Governo
regularmente, e com grande preocupação, da CEEAC, da CEDEAO e da CGG sobre a
esta situação. A comprová-lo está a apro- segurança marítima no Golfo da Guiné. Nesta
vação, pelo seu Conselho de Segurança, foi adotado um Código de Conduta para a pre-
de duas resoluções relacionadas com esta venção e a repressão de atos ilícitos, tais como
temática, a Resolução 2.018 (2011), de 31 a pirataria, os assaltos a mão armada contra
de outubro, e a Resolução 2.039 (2012), navios, o crime organizado transnacional ma-
de 29 de fevereiro, nas quais deixou bem rítimo, o terrorismo marítimo, a pesca ilegal,
clara a necessidade de uma ação concer- entre outros, quer na África Central, quer
tada dos países da região para lidar com a na Ocidental. Este Código, que incorporou
pirataria, por meio do desenvolvimento de elementos do Código de Conduta do Djibuti,
uma estratégia regional abrangente e estru- já está em vigor nos 22 países9 que o assina-

6 É constituída por dez países-membros: Burundi, Camarões, República Centro-Africana, Chade, Congo, Guiné
Equatorial, Gabão, São Tomé e Príncipe, República Democrática do Congo e Angola.
7 Os 15 países-membros são: Benim, Burkina Faso, Cabo Verde, Costa do Marfim, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-
Bissau, Libéria, Mali, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa e Togo.
8 É constituída por oito países: Angola, Camarões, República Democrática do Congo, Congo, Gabão, Guiné
Equatorial, Nigéria e São Tomé e Príncipe.
9 Os países são: Angola, Benim, Camarões, Cabo Verde, Chade, Congo, Costa do Marfim, República Democrática
do Congo, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Libéria, Mali, Níger, Nigéria,
Senegal, Serra Leoa, São Tomé e Príncipe e Togo.

108 RMB3oT/2013
PIRATARIA MARÍTIMA FORA DE CONTROLE NO GOLFO DA GUINÉ

ram. Foi redigido em conformidade com as vir a permitir ações de patrulha marítima
Resoluções 2.018 (2011) e 2.039 (2012) do conjuntas, assim como o direito de perse-
CSNU, as quais, como já foi mencionado, guição para além das fronteiras marítimas.
refletem uma grande preocupação com a A CGG é, de todas estas organizações,
pirataria e com os assaltos a mão armada no aquela cujo mandato lhe confere especial
Golfo da Guiné, atendendo ao fato de estes abertura para poder tratar especificamente
atos estarem-se tornando uma forte ameaça das questões marítimas. Esta Comissão
para a navegação, para a segurança em geral tem estado muito ativa. Da sua reunião em
e para o desenvolvimento econômico dos Luanda, em novembro do ano passado,
países da região. Foi assinado, durante esta resultou a assinatura de uma declaração
Cimeira, um Memorando de Entendimento para paz e segurança na região do Golfo
no qual está prevista a criação de um Centro da Guiné, na qual foi vertida a necessidade
de Coordenação Inter-Regional de segurança da existência de diálogos interestaduais
marítima para a África e de uma cooperação
Central e Ocidental, se- regional.
diado em Yaoundé. Os Uma boa colaboração Algumas das po-
Estados que estiveram tências ocidentais com
representados nesta Ci-
entre as comunidades da interesses na região
meira comprometeram- África Central e Ocidental têm-se mostrado dispo-
se também a elaborar e poderia, no futuro, vir a níveis para apoiar estas
implementar legislação iniciativas quer finan-
nacional para fazerem permitir ações de patrulha ceiramente quer com a
face a estas novas ame- marítima conjuntas, troca de conhecimentos
aças, assim como a criar
políticas nacionais de
assim como o direito de na área da segurança.
Todas as políticas de
luta contra elas. perseguição para além das cooperação adotadas
As várias organi- fronteiras marítimas estão ainda numa fase
zações sub-regionais muito embrionária e,
têm-se mostrado mui- se não forem acompa-
to disponíveis para ajudar a combater, de nhadas de perto por uma presença contí-
uma forma ou de outra, os vários tipos de nua no mar, não passarão de meras ações
atividades ilegais da região. A CEEAC está simbólicas.
receptiva a colaborar com os Estados deste
Golfo no sentido de estabelecer uma estra- A Nigéria é o país do Golfo
tégia de segurança marítima e de apoiar a da Guiné mais afetado pela
melhoria das suas Marinhas. A CEEAC está pirataria marítima
também disposta a auxiliar na organização
de alguns exercícios conjuntos, de forma a Esse país é, neste momento, o maior
poderem fazer face a esta nova realidade gigante econômico da África subsaariana,
nas suas costas. Por outro lado, a CEDEAO depois da África do Sul, e o mais populoso
também tem-se mostrado interessada em do continente africano, com 152 milhões
colaborar, contudo a sua ajuda é vista com de habitantes. Sua população é bastante
algumas reservas pelos Estados vizinhos jovem, com média de idade de 19 anos. A
da Nigéria. Uma boa colaboração entre a Nigéria tem desempenhado um papel vital
CEEAC e a CEDEAO poderia, no futuro, na manutenção da segurança regional, de-

RMB3oT/2013 109
PIRATARIA MARÍTIMA FORA DE CONTROLE NO GOLFO DA GUINÉ

vido ao seu poder militar e ao emprego das grupos étnicos – e religiosas, que se fazem
suas forças na cooperação regional e global. sentir há décadas, tem contribuído signifi-
É neste momento o maior produtor de pe- cativamente para a frequência e intensidade
tróleo da África e o 13o em nível mundial, dos conflitos no país.
sendo também o 29o maior produtor de gás Só na região do delta do Rio Níger vi-
natural do planeta. vem cerca de 30 milhões de pessoas, das
A exploração de petróleo nesse país quais cerca de 30% estão desempregadas,
começou em meados da década de 50 do a maioria jovens, o que, associado à gran-
século passado, quando a Shell descobriu de proliferação de armas ilegais existente
petróleo no Oloibiri, no delta do Rio Níger. neste país, faz com que a opção pelo crime
Essa descoberta transformou, desde então, organizado seja uma realidade muito ape-
a Nigéria num dos maiores produtores de tecível e de fácil recrutamento. Em agosto
petróleo do mundo. Paradoxalmente, o de 2009, com vistas a reduzir e melhor
ouro-negro que tem permitido a esse país controlar a atividade dos grupos rebeldes,
arrecadar largos mi- o Governo concedeu-
lhões de dólares, tem lhes uma anistia. Esta
sido também o princi- Paradoxalmente, o ouro- iniciativa fez com que
pal responsável pela negro que tem permitido cerca de 15 mil mili-
grande pobreza entre tantes depusessem as
sua gente. O petróleo à Nigéria arrecadar largos suas armas, munições e
representa atualmente milhões de dólares, tem muitos outros materiais
cerca de 80% da recei-
ta desse país; contudo,
sido também o principal bélico. Foram, assim,
entregues 10 cerca de
devido à corrupção responsável pela grande 2.760 armas e 287.445
existente e à precária pobreza entre sua gente munições de diferentes
gestão dos seus go- calibres. Apesar destes
vernantes, apenas uma números terem alguma
pequena minoria da população tem tirado expressão, são muito diminutos se tivermos
partido deste dinheiro. Essa situação tem em conta que poderão existir entre 8 e 10
feito crescer as tensões sociais ao longo dos milhões de armas ilegais na região do Golfo
últimos anos, assim como tem contribuído da Guiné, admitindo-se que só em território
para o aumento das atividades ilícitas. Entre nigeriano existam entre 5,6 e 7 milhões de
elas está o roubo de petróleo dos oleodutos, armas em circulação.
a criação de um mercado paralelo quer de A presença de tantos fatores de desta-
venda de combustível roubado quer de bilização na Nigéria contribuiu de forma
refinação clandestina e a pesca predatória, significativa para o crescimento da pirataria
que traz graves consequências para os marítima nas suas águas, principalmente
pescadores artesanais da região e para os na região do delta do Rio Níger, que tem
estoques de peixe. O governo ruim, que tem registrado, desde o início deste século, um
dado origem a altas taxas de desemprego e considerável número de atos de pirataria.
a muita pobreza, associado a um conjunto O ano de 2007, com 42 ilícitos desse gê-
de tensões étnicas – existem mais de 250 nero, foi o pior das últimas duas décadas.
10 Piracy and Maritime Security in the Gulf of Guinea. Disponível em: <http://webcache.googleusercontent.
com/search?q=cache:http://studies. aljazeera.net/en/reports/2012/06/2012612123210113333.htm&hl=pt-
PT&rlz=1T4ADSA_pt-PTPT457PT458&prmd=ivns&strip=0>. Acesso em: 13 mar. 2013.

110 RMB3oT/2013
PIRATARIA MARÍTIMA FORA DE CONTROLE NO GOLFO DA GUINÉ

Entre 2009 e 2011, houve um decréscimo ilícitos já ter alguma expressão, acredita-se
neste tipo de atividade devido ao processo que mais de 50% dos ataques não sejam
de anistia então em curso. O aumento do reportados às autoridades competentes,
número de ataques em 2012 pode em muito pelo fato de os armadores não quererem
estar relacionado com a renúncia à anistia, mostrar as fragilidades de segurança dos
em 2011, por parte de uma facção do Mend seus navios, assim como para não ficarem
(Movement for the Emancipation of the sujeitos a aumentos dos prêmios de seguro
Niger Delta), o maior e mais perigoso grupo ou mesmo para não sofrerem represálias em
rebelde a operar no país. futuros deslocamentos para a região.
Entre 2003 e 2012, Os piratas nigeria-
ocorreram 261 atos nos utilizam diversos
de pirataria marítima Entre 2003 e 2012, modus operandi, que
nas águas da Nigéria, vão desde ataques de
dos quais 131 em na-
ocorreram 261 atos de ocasião, perpetrados
vios fundeados, 102 pirataria marítima nas por um só elemento
em navios navegando águas da Nigéria, dos quais ou por pequenos gru-
e 28 em atracados. pos, em que empregam
Os piratas nigerianos 131 em navios fundeados, normalmente barcos
costumam atacar os 102 em navios navegando e de madeira, facas e
navios onde quer que bastões, e cuja tática
estejam, ou seja, junto
28 em atracados consiste em roubar e
à costa, nos rios, nos fugir, a ataques mais
fundeadouros ou nos portos, e roubam bem organizados que levam entre 30 e 40
essencialmente dinheiro, objetos de valor minutos para se consumarem, efetuados
do navio e/ou dos tripulantes, telemóveis, por elementos já equipados com barcos
carga, combustível, comida, roupa, che- rápidos, com armas de assalto e com
gando por vezes a sequestrar elementos Rocket Propelled Grenade (RPG). Os
da tripulação para depois obterem bons ataques costumam ser muito violentos
resgates. Apesar do quantitativo destes atos e frequentemente acabam com mortos e

Nigéria – Ataques ou tentativa destes na última década

RMB3oT/2013 111
PIRATARIA MARÍTIMA FORA DE CONTROLE NO GOLFO DA GUINÉ

feridos. Existem diversos grupos rebeldes Príncipe, Benim, Togo, Congo, Costa do
operando nestas águas, os quais não se Marfim, França, Espanha, Bélgica, Brasil,
dedicam com exclusividade à pirataria Holanda e EUA.
marítima. Desses, o Mend é o que se tem Nos últimos anos, os EUA têm estado
mantido mais ativo. Começou por fazer muito atentos aos problemas desta região,
os seus ataques junto a terra, na região tendo já gasto mais de US$ 35 milhões com
do delta do Rio Níger; no entanto, tem o treino do pessoal pertencente às Armadas
estendido seu raio de ação. Existe mesmo dos países deste Golfo, em especial com
um registro de um ataque seu, no dia 19 de os marinheiros da Nigéria. Têm também
julho de 2008, a uma plataforma holandesa participado, com as suas forças navais, em
da Shell, no campo petrolífero de Bonga, exercícios conjuntos com as Marinhas da
situado a 75 milhas de costa, que levou região.
à interrupção momentânea da produção.
O aumento da criminalidade marítima A pirataria está se
tem obrigado o governo nigeriano a tomar expandindo para as águas
diversas medidas para combater este surto. do Benim e do Togo
Salienta-se entre elas a substituição, em
janeiro de 2012, da Operação Restaurar a A criminalidade marítima na região do
Esperança (Restore Hope), cujo objetivo Golfo da Guiné esteve muitos anos confi-
principal era combater a militância do nada às águas da Nigéria; contudo, ultima-
delta do Rio Níger, pela operação Pulo mente, tem-se alastrado até as águas dos
Shield. Esta última, além de contar com países vizinhos, nomeadamente as do Togo
a participação de uma força conjunta, que e do Benim. Este último, situado entre a Ni-
integra militares da Marinha, do Exército, géria e o Togo, e com uma costa de apenas
da Força Aérea e, ainda, elementos da Po- 120 km, registrou 20 atos de pirataria em
lícia, tem uma área de atuação mais vasta 2011, dos quais 19 ocorreram junto à cidade
e um propósito diferente do da primeira. costeira de Cotonou, a maior deste país, o
Destina-se a proteger as instalações de que representou 5% da totalidade dos atos
petróleo e de gás, a combater o vandalis- registados em nível mundial. Existem fortes
mo nos gasodutos, o roubo de petróleo e indícios de que os piratas que atuaram nas
a pirataria marítima, assim como todas as águas do Benim em 2011 possam não ter
outras formas de crime no mar dentro da sido só de origem beninense, mas também
sua área de responsabilidade. nigeriana. Independentemente da sua na-
Com o objetivo de aumentar a capaci- cionalidade, esses piratas sequestraram, ao
dade de resposta à pirataria ou a qualquer longo do ano de 2011, um número consi-
outro tipo de criminalidade marítima por derável de tripulantes, mais precisamente
parte das Marinhas do Golfo da Guiné, por 140, o que representou 17,5% do total de
meio da melhoria da interoperabilidade das indivíduos sequestrados em todo o mundo.
comunicações e da partilha de informações, Já no que se refere ao ano de 2012, houve
realizou-se, em fevereiro de 2013, o exercí- uma redução drástica do número de ilícitos
cio anual Obangame Express. Este ano foi de pirataria nas águas deste país, existindo
organizado pelos Camarões e juntou forças apenas registro de dois atos, o que denota
navais africanas, europeias e dos EUA, uma certa redução neste tipo de crimes.
num total de 15 países: Nigéria, Camarões, Para isso poderá ter contribuído o sistema
Gabão, Guiné Equatorial, São Tomé e de patrulhas marítimas conjuntas, criado

112 RMB3oT/2013
PIRATARIA MARÍTIMA FORA DE CONTROLE NO GOLFO DA GUINÉ

em outubro de 2011, entre a Nigéria e o Be- as suas políticas sociais sejam de fato efe-
nim, designado por Operação Prosperidade tivas e permitam reduzir o desemprego e,
(Prosperity). Esta cooperação bilateral foi consequentemente, a pobreza, dificultando,
a primeira do gênero na região, e espera- assim, o aliciamento e o recrutamento de
se que futuramente, na sequência desta, jovens para a criminalidade. Torna-se tam-
as Marinhas de Togo e de Gana também bém necessário que os países deste Golfo
possam vir a se associar a estas patrulhas, assumam, desde já, que a luta contra a pira-
tendo em vista o aumento da vigilância e taria marítima tem que ser uma prioridade
da segurança nas suas costas. dos seus Estados. Para tal, têm que desen-
No que se refere à pirataria nas águas do volver e implementar estratégias marítimas
Togo, país com apenas 56 km de costa, lo- que permitam pelo menos, a curto prazo,
calizado entre o Gana e o Benim, há registro minimizar a ação dos grupos criminosos
de seis ocorrências durante o ano de 2011 e que atuam no mar. Para combater esses
de 15 no ano de 2012, o que representou 5% grupos de malfeitores, estes países têm que
do total mundial. Nes- edificar ou melhorar
te último ano, o porto as suas forças navais
e os fundeadouros da Torna-se também e as suas autoridades
cidade de Lomé, a ca- portuárias, equipan-
pital do país, foram necessário que os países do-as com meios que
os mais afetados com deste Golfo assumam, desde permitam dissuadir e
14 ilícitos deste gê- combater todo o tipo
nero. Foram também
já, que a luta contra a de atividade ilícita nas
sequestrados quatro pirataria marítima tem que águas desta região.
navios e 79 tripulantes ser uma prioridade dos seus De forma a ter a cri-
no Togo durante o ano minalidade marítima
de 2012. Estados controlada, é indispen-
sável a existência de um
É necessário patrulhamento naval
agir para fazer face à diário, com o possível auxílio do compo-
pirataria marítima no nente aéreo, com aeronaves tripuladas ou
Golfo da Guiné não, à semelhança do que já vem sendo
feito no Corno da África. Esta vigilância
Apesar do número de ataques já ter dificilmente será efetiva se não houver a
alguma expressão, a situação neste Golfo presença permanente de meios navais da
está ainda longe de poder ser considerada comunidade internacional.
crítica, contudo torna-se necessário agir Para repor a ordem, é também neces-
o quanto antes, para que esta não fique sário começar a deter e julgar, à luz dos
completamente descontrolada. Compete, instrumentos jurídicos internacionais, todos
sem dúvida, em primeira instância, aos os piratas que forem apanhados em flagran-
governos da região a definição e implemen- te, sendo de todo conveniente a existência
tação de medidas conducentes à redução de acordos interestaduais que venham a
das atividades ilícitas que vêm ocorrendo agilizar os processos.
nas suas águas. Essas medidas, entre outras Para dissuadir as atividades ilegais na
possíveis, passam pela aplicação de refor- região, é também indispensável que se as-
mas no seu modo de governação, para que segure uma boa cooperação inter-regional

RMB3oT/2013 113
PIRATARIA MARÍTIMA FORA DE CONTROLE NO GOLFO DA GUINÉ

entre a CEEAC e a CEDEAO no âmbito da março último da Base Naval de Lisboa para
segurança marítima regional, quer por meio participar da Operação Atalanta, da União
da definição de estratégias marítimas, quer Europeia. A cerimônia de transferência
na organização de patrulhas conjuntas, quer de comando realizou-se em 6 de abril, no
ainda na organização de exercícios navais Djibuti, tendo o comodoro português Novo
conjuntos. Palma, que se encontrava embarcado neste
navio, assumido o Comando da Força Na-
A Marinha portuguesa val da União Europeia – Eunavfor – por um
volta pela sexta vez ao período de quatro meses. A Álvares Cabral
Corno da África passou, desde então, a ser o capitânia desta
força. Esta é a terceira participação da
O combate à pirataria marítima no Corno Marinha portuguesa na Operação Atalanta,
da África continua a ser uma preocupação tendo já participado também por três vezes
da Marinha portuguesa. Esta sexta presença em operações da Organização do Tratado
nesta região foi assegurada pela Fragata do Atlântico Norte (Otan), nesta mesma
NRP Álvares Cabral, que largou dia 21 de região do globo.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<PODER MARÍTIMO>; Pirataria; Guiné;

REFERÊNCIAS

Piracy and Armed Robbery Against Ships: Annual Report 2011. United Kingdom: ICC International
Maritime Bureau [2012].
Piracy and Armed Robbery Against Ships: Annual Report 2012. United Kingdom: ICC International
Maritime Bureau [2013].
International Maritime Bureau. Disponível em: <http://www.icc-ccs.org>. Acesso em: 10 mar. 2013.

114 RMB3oT/2013
MODERNIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CARTAS
NÁUTICAS – BANCOs DE DADOS

ALUIZIO MACIEL DE OLIVEIRA JUNIOR*


Capitão de Fragata
SEBASTIÃO SIMÕES DE OLIVEIRA
Capitão de Fragata
ADRIANO VIEIRA DE SOUZA
Capitão de Corveta
FLÁVIA MANDARINO
Capitão de Corveta (EN)

SUMÁRIO

Introdução
Produção por meio de bancos de dados
Banco de dados batimétricos
Banco de dados cartográficos
Conclusão

INTRODUÇÃO tais como informações de obras sobre águas


(por exemplo: pontes, diques e píeres), áre-

O processo de construção das cartas


náuticas é realizado em várias etapas.
Tem origem nos levantamentos hidrográ-
as de fundeio e áreas de proteção ambien-
tal, além do balizamento existente. Esse
complexo amalgamado de informações é
ficos realizados por navios ou comissões recebido pela Diretoria de Hidrografia e
volantes, em que são coletados dados de Navegação (DHN), mais especificamente
batimetria, marés, geodésia, topografia, pelo Centro de Hidrografia da Marinha
correntes, entre outros. Somam-se aos (CHM), para sua validação e posterior
dados coletados no campo outros especifi- seleção e representação em cartas náuticas.
camente ligados à segurança da navegação, Destaca-se que essas cartas náuticas devem

* Os autores servem na Superintendência de Segurança da Navegação do Centro de Hidrografia da Marinha (CHM).


MODERNIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CARTAS NÁUTICAS – BANCOs DE DADOS

ser mantidas atualizadas. As modificações/ está sendo impulsionado pela necessária atu-
atualizações são divulgadas por Avisos aos alização dos documentos náuticos advinda
Navegantes. do aprofundamento dos canais de acesso aos
Até o ano de 2007, a DHN produzia portos promovido pelo Programa Nacional
somente cartas náuticas em papel. Porém, de Dragagem Portuária e Hidroviária (PND)
com a evolução da navegação exigindo do Governo Federal. Conforme apresenta-
maior precisão e dados em tempo real, a do na figura 2, enquanto, até o momento,
Organização Hidrográfica Internacional somente 15 portos foram contemplados
(OHI), órgão consultivo da Organização com recursos para dragagem, por meio do
Marítima Internacional (IMO) para carto- PND-1, a partir de 2014 espera-se que 35
grafia, passou a exigir de seus membros, portos públicos sejam beneficiados por essas
entre os quais a DHN, a confecção de car- obras, ocasionando aumento ainda maior da
tas digitais que atendessem aos modernos demanda de atualizações das cartas náuticas
sistemas de navegação especificados pela nos próximos anos. Somam-se a estes diver-
IMO e adotados por diversos tipos de em- sos portos e terminais privados que estão
barcações. Dessa forma, novas demandas sendo construídos no País.
surgiram e fez-se necessária a produção em Em face desses desafios, buscou-se
novos formatos raster e eletrônico (ENC). identificar possíveis melhorias dos proces-
Desde então, a quantidade das cartas do sos que permitissem atender ao aumento
portfólio da DHN praticamente dobrou, da demanda, garantindo-se que fossem
ocasionando um significativo aumento de mantidas a confiabilidade e a qualidade das
1.400% no número de confecções e atuali- informações de segurança da navegação.
zações de novas cartas, como pode ser visto Nesse escopo, foi necessário imple-
no gráfico da figura 1. mentar um amplo projeto de gestão de
Ressalta-se que esse incremento nas qualidade, que incluiu o mapeamento, a
atividades de produção cartográfica também reavaliação e a modernização dos processos

Figura 1 – Comparação do Portfólio de Cartas e Produção Cartográfica da DHN entre


os anos 2007 e 2013 (estimativa)

116 RMB3oT/2013
MODERNIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CARTAS NÁUTICAS – BANCOs DE DADOS

Figura 2 – Portos contemplados pelo Programa Nacional de Dragagem Portuária e Hidroviária (PND)

de trabalho que se encontravam em vigor, necessidade de se efetuarem correções


além de suas certificações (Qualidade ISO em todos os arquivos para cada uma das
9001:2008). Dentre as modificações pelo cartas nessas diferentes escalas. Assim,
qual seu sistema de produção cartográfica se tivéssemos uma boia representada em
passa, certamente a mais relevante é a pro- cinco cartas e a posição da mesma fosse
dução por meio de banco de dados. alterada, teríamos que compilar os dados
modificados em cinco arquivos, aumentan-
Produção por meio de Banco do a carga de trabalho e a probabilidade de
de Dados erros e inconsistências.
Além disso, os dados dos levantamentos
Até o ano de 2007, toda a produção car- hidrográficos que originavam essas car-
tográfica do CHM baseava-se na utilização tas também eram mantidos em arquivos
de arquivos de cartas isolados. Portanto, isolados, acarretando um longo processo
para cada carta náutica existiam dados de compilação dos dados dos diversos le-
específicos que eram selecionados e inclu- vantamentos, para comporem as cartas em
ídos em um arquivo digital. Esse processo diferentes escalas. Isso também é um fator
ocasionava a necessidade de replicação de extremamente negativo, em virtude de exi-
uma mesma informação em diversas car- gir um demorado processo de verificação
tas de um mesmo local, mas com escalas para se certificar que todas as informações
geográficas distintas, além da subsequente estão coerentes. Com o aumento da pro-

RMB3oT/2013 117
MODERNIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CARTAS NÁUTICAS – BANCOs DE DADOS

dução advindo das cartas raster e digital, A solução adotada para ambos os banco
vislumbrou-se que a continuidade desse de dados foi proposta pela empresa cana-
processo não suportaria, em questão de dense Caris, pois esta vem sendo empre-
anos, as necessidades vindouras. gada por outros serviços hidrográficos. Ela
A partir de 2009, buscou-se então uma permite a compatibilidade entre os bancos
solução em que os dados necessários à con- batimétrico e cartográfico, otimizando o
fecção da carta náutica estivessem centrali- esforço de produção. Neste caso, o formato
zados em uma base de dados. Dessa forma, dos dados mantém-se homogêneo durante
independentemente da escala da carta ou de todas as etapas, diminuindo a possibilidade
seu levantamento de origem, seria possível de erros. A seguir serão descritos, para
efetuar-se uma seleção mais rápida dos maior detalhamento, ambos os bancos de
dados, que estariam concentrados em uma dados: batimétrico e cartográfico.
única base, ao invés de os mesmos serem
feitos isoladamente para cada carta náutica. Banco de Dados
Nesse escopo, diante da complexidade Batimétricos
e da quantidade dos dados existentes, e
considerando-se as soluções adotadas por O Banco de Dados Batimétricos foi
outros países e os recursos computacionais a solução encontrada para administrar,
disponíveis no mercado, vislumbrou-se a armazenar e recuperar grandes massas de
utilização de dois bancos de dados: dados batimétricos.
– Banco de Dados Batimétricos – para Ao nível operacional, o banco possui
armazenar os dados de profundidade em ferramentas que permitem ao hidrógrafo
alta resolução; e realizar tarefas comuns à sua atividade,
– Banco de Dados Cartográficos – para tais como criar isóbatas, realizar seleção de
armazenar a base de dados necessária para a profundidades que deverão ser representa-
construção da carta náutica. Destacando-se das na carta náutica, combinar superfícies
aqui que os dados batimétricos deste banco, batimétricas, entre outras. Tudo isso em
que são representados nas cartas, são ape- conjunto com os metadados dos levanta-
nas uma amostragem do banco de dados mentos, ou seja, as informações sobre os
batimétricos de alta resolução. Neste ban- levantamentos que deram origem ao dado,
co também estão armazenados os demais possibilitando consultas futuras sobre o
componentes da carta náutica, tais como histórico e a qualidade dos levantamentos
tenças, cascos soçobrados e sinais náuticos. hidrográficos.
É possível trabalhar com dados prove-
Considerando-se a complexidade da nientes de vários sensores, tais como eco-
implementação dessa solução, uma vez que batímetros monofeixe e multifeixe, além de
demanda a revisão de todos os levantamen- levantamentos com aeronaves usando sen-
tos e informações antes de sua inserção de sores Lidar (Light Detection And Ranging).
forma confiável nos bancos de dados, e que Outra possibilidade, e destacadamente
a mesma poderia comprometer os proces- uma das mais importantes ferramentas do
sos e a produção em curso para garantir a banco, é a sua capacidade de combinar e
segurança do navegante, decidiu-se realizar comparar superfícies batimétricas prove-
este processo de forma paulatina, conforme nientes de diversas fontes, sendo possível
a necessidade de atualizações e a demanda usar simultaneamente batimetrias antigas
da navegação do País. e recentes. Como exemplo, é possível usar

118 RMB3oT/2013
MODERNIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CARTAS NÁUTICAS – BANCOs DE DADOS

dados batimétricos antigos, provenientes tricas, designação de perigos à navegação


da vetorização de folhas de bordo (FB) (por exemplo: rochas, cascos soçobrados
armazenadas em arquivo técnico, além de e obstruções) e seleção de sondagens na
modernos levantamentos hidrográficos, escala da carta náutica.
obtidos com ecobatímetros multifeixes de
alta resolução. Banco de Dados
Independentemente da origem do dado Cartográficos
batimétrico, este é transformado em uma
camada no formato CSAR (Caris Spatial O Banco de Dados Cartográficos tem
Archive). Logicamente, a densidade dos o propósito de centralizar as informações
dados terá impacto direto na resolução da cartográficas necessárias à produção das
superfície batimétrica final armazenada no cartas náuticas em papel, raster e eletrônicas
banco de dados. Por esse motivo, antigas (ENC), além de publicações náuticas. Os
folhas de bordo produzidas a partir de le- dados hidrográficos são armazenados em um
vantamentos com ecobatímetros monofeixe banco de dados Oracle, segundo a estrutura
apresentam os dados como uma nuvem de de dados para intercâmbio de informações
pontos, e os levantamentos multifeixe ou hidrográficas, normatizada pela publicação
Lidar de alta resolução originam superfícies S-57 (IHO Transfer Standard for Digital
batimétricas ensonificando todo o fundo Hydrographic Data) da OHI. Além disso,
submarino, conforme mostrado na figura 3. o modelo de dados pode ser estendido para
As informações batimétricas são arma- armazenar informações de interesse interno
zenadas juntamente com seus metadados da organização, como metadados que auxi-
no servidor de batimetria e poderão ser liarão na identificação, compilação e seleção
consultadas e utilizadas na geração de das informações a serem representadas nos
produtos cartográficos. São usadas variadas produtos cartográficos.
operações com os dados para a geração dos Como se trata de um banco de dados
produtos, dentre os quais podem-se citar as espacial, as informações são georrefe-
operações de geração de linhas isobatimé- renciadas e não se restringem a limites

Figura 3 – Exemplo de densidade de sondagem monofeixe e multifeixe

RMB3oT/2013 119
MODERNIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CARTAS NÁUTICAS – BANCOs DE DADOS

Figura 4 – Visualização de dados no Banco de Dados Cartográficos de trecho do Rio Amazonas

geográficos, ou seja, os dados das cartas Os módulos de produção do banco de da-


náuticas adjacentes são armazenados dos cartográficos podem acessar e manipular
continuamente, guardando suas relações informações geradas a partir do outro banco
espaciais. A figura 4 mostra a visualização de dados batimétrico, facilitando a compilação
apresentada pelo banco de dados num tre- de dados hidrográficos, particularmente em
cho do Rio Amazonas. relação à seleção de sondagens para as cartas
O emprego do banco de dados permite náuticas. Além disso, podem ser manipulados
que usuários com atividades diferentes no diversos outros formatos de arquivo, comu-
fluxo de produção acessem esses mesmos mente utilizados na área de geoprocessamento.
dados simultaneamente, sendo que cada Este banco de dados cartográficos também
usuário recebe privilégios próprios sobre possui um módulo específico para a publi-
um determinado conjunto de dados, con- cação dos avisos aos navegantes e outros
forme a sua área de atuação. documentos náuticos de auxílio à navegação,
Os módulos do banco de dados que tais como lista de faróis e lista de sinais cegos.
permitem a criação dos produtos (cartas em Este módulo, que se encontra atualmente em
papel, ENC, raster e publicações náuticas) fase de implementação, facilitará sobremanei-
compartilham as mesmas informações ra a edição dessas publicações, pois eliminará
armazenadas no banco de dados Oracle, diversas etapas atualmente empregadas de
conforme ilustrado na figura 5. Isso evita a edições manuais, além de garantir a coerência
inconsistência entre produtos, pois a mes- desses documentos com as cartas náuticas
ma informação é utilizada, sendo validada correspondentes, que foram construídas a
somente uma vez, evitando o retrabalho. partir de um mesmo banco de dados.

120 RMB3oT/2013
MODERNIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CARTAS NÁUTICAS – BANCOs DE DADOS

Figura 5 – Produção a partir do Banco de Dados Cartográficos

Conclusão linha de produção de cartas digitais,


pois a divulgações das informações de
A produção cartográfica náutica sofreu segurança à navegação não pode ser in-
relevante incremento de trabalho nos últimos terrompida. Porém esta solução apresenta
anos. Esse fato ocorreu porque os serviços deficiências relevantes e ocasiona grande
hidrográficos mundiais, incluindo-se a esforço de trabalho. Para solucionar este
DHN, foram requeridos a iniciar a produção problema, desde 2009 o CHM vem traba-
de cartas em formatos digitais (raster e ele- lhando na implementação de um sistema
trônico), o que gerou aumento do portfólio de produção baseado em bancos de dados
de cartas da DHN em aproximadamente geoespaciais, visando à otimização do
100%. Outro fato marcante foi o desenvol- fluxo de produção por meio da centra-
vimento do PND, contemplado no Programa lização das informações cartográficas.
de Aceleração do Crescimento (PAC) do A solução integrada proporcionará um
Governo Federal, que ocasionou expressi- fluxo de dados sem perdas de metadados
vo aumento do número de levantamentos e com rastreabilidade da informação, o
hidrográficos realizados nos portos brasi- que facilitará sobremaneira a compilação
leiros, provocando constante necessidade de de dados para produção e atualização das
atualização de documentos náuticos. cartas náuticas e produtos cartográficos,
A produção de cartas em papel foi que poderão ser confeccionados de forma
mantida concomitantemente com a nova mais célere e confiável.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<ATIVIDADES MARINHEIRAS>; Carta náutica; Hidrografia; Carta eletrônica; Cartografia;

RMB3oT/2013 121
FRETE MARÍTIMO E SEU IMPACTO NA ARRECADAÇÃO
TRIBUTÁRIA E NA INFLAÇÃO

Gilberto Luiz do Amaral*


Advogado
Isabel Vieira**
Advogada
Letícia Mary Fernandes do Amaral***
Advogada

O frete marítimo é a remuneração paga


ao armador, ou seja, ao dono do navio,
pelo serviço de transporte de mercadorias. Seu
alimentação, água potável, combustível,
manutenção e reparos da embarcação;
– custos portuários diretos: aqueles re-
valor é composto por várias parcelas e pode ser lacionados à utilização dos equipamentos
pago por meio de um preço único (lumpsum), e instalações portuárias terrestres e maríti-
o qual consiga cobrir todos os gastos com o mas, embarque e desembarque de cargas;
transporte. Alternativamente, pode ser cobrado – custos portuários indiretos: são aque-
um valor de frete básico, sendo acrescidos les relacionados à contratação dos serviços
adicionais sobre situações específicas. de praticagem, rebocadores etc.;
Com relação às parcelas, o frete maríti- – margem de lucro: compreende a con-
mo é composto por: tribuição marginal que o serviço de frete
– custos fixos: amortização de capital, ju- contratado irá oferecer ao armador.
ros, depreciação, impostos e seguros. Em sua
maioria, são cotados em dólar americano; O custo do frete marítimo tem relevante
– custos variáveis da operação do importância sobre o valor pago nas im-
navio: incluem os gastos com tripulação, portações de mercadorias no Brasil. Isso

* Advogado tributarista, contador, consultor, presidente do Instituto de Governança Tributária, coordenador de


estudos do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) e sócio da Amaral, Yazbek Advogados.
** Advogada do IBPT.
*** Advogada tributarista e internacional, vice-presidente do IBPT e sócia da Amaral, Yazbek Advogados.
porque, para fins de Imposto de Importação, o patamar de R$ 5.998.207.747.114,30
utiliza-se como base de cálculo o valor (cinco trilhões, novecentos e noventa e oito
aduaneiro. Este, por sua vez, engloba não bilhões, duzentos e sete milhões, setecen-
só o valor da mercadoria importada em si, tos e quarenta e sete mil, cento e quatorze
mas também todas as demais despesas com reais e trinta centavos), sendo analisada a
a operação de transporte e importação da proporção pelo gráfico 1.
mercadoria, incluindo-se, por-
tanto, o valor do frete marítimo.
Arrecadação Tributária
O aumento do frete maríti- (entre 2009 e abril 2013)
mo gera o aumento da base de
cálculo do Imposto de Impor-
tação e, consequentemente, au-
menta a arrecadação tributária.
No entanto, em contrapartida,
aumenta-se também o custo
da importação, já que o con-
tribuinte tem um valor maior a
pagar a título de tributo e acaba
por repassar tal valor ao consu-
midor, gerando a oneração do
valor dos produtos/mercadorias
importadas.
Além do Imposto de Impor-
tação, as operações de impor-
Gráfico 1
tações são tributadas com IPI
(Imposto sobre Produtos Industrializados) Ainda com relação à arrecadação fiscal,
Importação, PIS (Programa de Importação entre os anos de 2010 e abril de 2013, a base
Social) e COFINS (Contribuição para de cálculo dos tributos incidentes sobre
o Financiamento de Seguridade Social) as importações foi majorada em 2,42%,
Importação, AFRMM (Adicional de Frete ou seja, o excessivo aumento no custo do
para a Renovação da Marinha Mercante) frete marítimo foi prejudicial para os im-
e ICMS (Imposto sobre Circulação de portadores, que, no total, tiveram seu custo
Mercadorias e Serviços). Por informações tributário majorado em aproximadamente
disponibilizadas pela Receita Federal do R$10,55 bilhões, valor que foi revertido
Brasil, entre o ano de 2009 e abril de 2013, em arrecadação tributária. Dessa forma, um
foi possível verificar que a arrecadação dos motivos para o aumento da arrecadação
fiscal desses tributos alcançou o valor de tributária foi a elevação do preço do frete
R$ 435,43 bilhões (aproximadamente US$ marítimo, conforme gráfico 2.
226,15 bilhões). Ademais, quando se fala em custo
Conforme informações obtidas pelo de importação, o frete marítimo tem um
Impostômetro1, entre os dias 1o de janeiro significante papel em tal despesa, visto
de 2009 e 30 de abril de 2013, a arreca- que somente entre os meses de janeiro e
dação tributária total no Brasil alcançou abril de 2013, o custo do frete marítimo

1 Disponível em http://www.impostometro.com.br/#. Acesso em 19 ago 2013.


FRETE MARÍTIMO E SEU IMPACTO NA ARRECADAÇÃO TRIBUTÁRIA E NA INFLAÇÃO

Arrecadação Tributária

Gráfico 2

na importação de mercadorias no Brasil por tonelada, em US$, aumentou 11,75%


representou US$ 77,09 por tonelada. Entre em 2010, 32,82% em 2011, 66,78% em
os anos de 2009 e abril 2012 e, entre janeiro e
de 2013, houve um
aumento de 82,11%
Entre os anos de 2009 e abril de 2013, aumen-
tou 82,11%.
no custo do frete ma- abril de 2013, houve um Se analisado o cus-
rítimo na importação, aumento de 82,11% no to pecuniário do frete
sendo que, em 2009, marítimo, chega-se ao
o custo representava custo do frete marítimo na espantoso resultado de
US$ 42,33 por tonela- importação US$ 3.776.046.778,36
da (gráfico 3). no ano de 2009 e de
Tomando por base US$ 8.953.004.837,09
o ano de 2009, o custo do frete marítimo em 2012, conforme gráfico 4.

Custo do Frete Marítimo por tonelada (em US$)

Gráfico 3

124 RMB3oT/2013
FRETE MARÍTIMO E SEU IMPACTO NA ARRECADAÇÃO TRIBUTÁRIA E NA INFLAÇÃO

Frete Marítimo (em US$)

Gráfico 4

Verifica-se que somente até o mês de total de operações dessa natureza no País,
abril do presente ano os valores pagos a o que demanda certo cuidado e atenção
título de frete marítimo quase alcançaram das autoridades, pois é um fator que pode
o total pago no ano de 2009. significar progresso e desenvolvimento ou
Segundo os valores acima demons- prejuízo nacional.
trados, verifica-se que o frete marítimo Ainda nesse viés, há de se ressaltar que
representou o montante aproximado de as importações brasileiras totalizaram US$
US$29,5 bilhões, entre o ano de 2009 e 620,76 bilhões entre 2009 e abril de 2013,
abril de 2013. correspondentes a 515,60 milhões de to-
Em dados obtidos pelo Sistema Ali- neladas de mercadorias, a um preço médio
ceWeb2, do Ministério do Desenvolvi- de mercadoria importada por tonelada de
mento, Indústria e Comércio Exterior US$ 1.203,96.
(MDIC), percebe-se que as importações A fim de demonstrar o exposto nesta
por via marítima representam 95% do página, têm-se os dados da tabela abaixo.

RMB3oT/2013 125
FRETE MARÍTIMO E SEU IMPACTO NA ARRECADAÇÃO TRIBUTÁRIA E NA INFLAÇÃO

Conforme já mencionado anteriormente, Note-se que houve variação entre 0,11 e


o aumento do custo do frete marítimo onera 0,75, totalizando 1,82 em ponto porcentual,
o valor a ser pago de tributos e, havendo o da diferença entre o IPCA, levando em
encarecimento das importações, o preço fi- consideração o aumento do custo do frete
nal da mercadoria será também encarecido, marítimo e se este não fosse contabilizado
restando o ônus ao próprio consumidor, de (gráfico 5).
tal forma que o impacto financeiro acaba no Em suma, o que se pode afirmar é que o
orçamento das famílias brasileiras. frete marítimo na importação teve aumento
Pelo aumento dos preços de mercadorias de 82,11%, em dólar americano, tendo por
e serviços essenciais é que são calculados os base o ano de 2009 a abril de 2013, sendo
índices de inflação, sendo que, para fins de que o valor médio do frete marítimo por
medição, são utilizados grupos de despesas tonelada importada passou de US$ 42,33
das famílias, tais como: alimentação e bebi- em 2009 para US$ 77,09 em abril de 2013.
das, habitação, artigos de residência, vestu- O Brasil pagou, entre o ano de 2009 e
ário, transportes, saúde e cuidados pessoais, abril de 2013, o montante de US$ 29,5 bi-
despesas pessoais, educação e comunicação. lhões em frete marítimo sobre importações,
A inflação tem sua principal medição sendo que, no mesmo período, importou
feita pelo IPCA – Índice Nacional de Preço 515,6 milhões de toneladas, ao valor de
ao Consumidor Amplo (Instituto Brasileiro US$ 620,76 bilhões.
de Geografia e Estatística – IBGE) e de- Já de arrecadação tributária, relacionada
monstrou que, cada vez mais, os produtos a importações, no período averiguado fo-
e insumos importados estão presentes no ram arrecadados US$ 226,15 bilhões, ou
cotidiano familiar brasileiro, tendo uma seja, aproximadamente R$ 435,43 bilhões.
representatividade de 15% nos orçamentos Em decorrência do aumento do custo do
familiares. frete marítimo, a arrecadação de tributos

Gráfico 5

126 RMB3oT/2013
FRETE MARÍTIMO E SEU IMPACTO NA ARRECADAÇÃO TRIBUTÁRIA E NA INFLAÇÃO

sobre importações foi majorada em US$ este gera na arrecadação fiscal nacional e
5,51 bilhões, ou R$ 10,55 bilhões. Assim, na inflação.
aumentando-se o cus- Portanto, conclui-se
to do frete, consequen- que a atividade portuá-
temente aumenta-se a De 2009 a 2012, o IPCA ria deve ser vista com
base de cálculo dos significativa atenção,
tributos incidentes nas subiu 1,82% devido ao pois, tendo relevan-
importações e também aumento do frete marítimo te importância no co-
o preço dos produ- mércio internacional
tos, mercadorias e/ou
sobre importações. As e, principalmente, no
serviços prestados ao operações nos portos têm desenvolvimento na-
consumidor. o condão de sucesso ou cional, as operações ali
Desta forma, entre realizadas têm o condão
2009 e 2012, o IPCA fracasso para a população de interferir positiva
subiu 1,82 ponto por- ou negativamente na
centual, em virtude do economia brasileira,
aumento do frete marítimo sobre importa- podendo ser fator de sucesso ou de fracasso
ções, demonstrando o nítido impacto que à população.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<ECONOMIA>; Inflação; Administração governamental; Afretamento; Transporte marí-
timo; Política nacional;

RMB3oT/2013 127
Aspectos Gerais dos Afretamentos de
Embarcações Estrangeiras na Marinha
Mercante

Jonas Soares dos Santos Filho*


Advogado

SUMÁRIO

Disposições iniciais
Da Constituição Federal
Da ordenação infraconstitucional do transporte aquaviário
Sobre o órgão competente para autorizar o afretamento de embarcações estrangeiras no Brasil
Dos diplomas regulatórios
Do instituto da Circularização e do instituto do Bloqueio
Elementos Gerais do Afretamento, disposto por regimes de navegação
Navegação de Longo Curso
Navegação de Cabotagem
Navegação de Apoio Marítimo
Navegação de Apoio Portuário
Conclusão

Disposições Iniciais aproximadamente 95% do comércio exterior


brasileiro passam pelo transporte aquaviário,

P odemos afirmar que, nos últimos anos,


a atividade de navegação no Brasil
vem sofrendo um grande avanço, impul-
constituindo-se então como uma das princi-
pais atividades econômicas do País.
Dada a importância do assunto, nosso
sionado principalmente pelas atividades objetivo é desenvolver algumas ideias
de exploração de petróleo offshore. Além sobre o afretamento de embarcações es-
desse fato, devemos destacar, ainda, que trangeiras no Brasil.
* Especialista em Regulação de Serviços de Transportes Aquaviários.
Da Constituição Federal terços, pelo menos, dos tripulantes de
embarcações nacionais.
A nossa Carta Magna de 1988 esta- §3o A navegação de cabotagem e a
belece, logo em seu Art. 21, que entre as interior são privativas de embarcações
competências da União está a exploração nacionais, salvo caso de necessidade
– diretamente ou mediante autorização, pública, segundo dispuser a lei.
concessão ou permissão – dos serviços
de transporte aquaviário “entre portos Este artigo traz como princípio básico,
brasileiros e fronteiras nacionais, ou que que deve ser obrigatoriamente observado
transponham os limites de Estado ou Ter- pela regulação do setor, a predominância
ritório”1. Nossa Constituição também trata, de armadores e embarcações de bandeira
em seu Art. 22, da competência privativa da nacional. Inclusive, a própria navegação
União em legislar sobre Direito Marítimo de cabotagem e a navegação interior são,
e navegação marítima2. em sede constitucional (ou seja, citados
Mas, em todo caso, torna-se ímpar a expressamente em nossa Carta Magna),
análise do Art. 178 da Lei Maior. Esse privativos de embarcações nacionais.
artigo faz parte do Título VII (da ordem Devemos, por isso, admitir que os
econômica e financeira), especificamente nossos constituintes originários quiseram
do Capítulo I – dos princípios gerais da proteger o mercado de navegação brasi-
atividade econômica. Trazemo-lo, ipsis leiro para os “nacionais”, criando uma
litteris, logo abaixo: barreira de entrada ao mercado de trans-
porte aquaviário brasileiro às embarcações
CF/88, Art 178 – A lei disporá sobre: estrangeiras.
I – A ordenação dos transportes aéreo,
marítimo e terrestre; Da Ordenação
II – A predominância dos armadores Infraconstitucional do
nacionais e navios de bandeira e regis- Transporte Aquaviário
tros brasileiros e do país exportador ou
importador; Por conseguinte, em 8 de janeiro de
III – O transporte de granéis; 1997 surgiu a Lei no 9.432, que dispõe sobre
IV – A utilização de embarcações de a ordenação do transporte aquaviário (e dá
pesca e outras. outras providências). Nessa lei, temos a
§1o A ordenação do transporte interna- regra geral para o afretamento de embar-
cional cumprirá os acordos firmados cações estrangeiras no País.
pela União, atendido o princípio da Restaram estabelecidas, como regimes
reciprocidade. da navegação, a navegação de longo curso,
§2o Serão brasileiros os armadores, os a navegação de cabotagem, a navegação
proprietários, os comandantes e dois de apoio marítimo, a navegação de apoio

1 Constituição Federal de 1988, Art. 21, XII, d – Os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos
brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de Estado ou Território.
2 Constituição Federal de 1988, Art. 22 – Compete privativamente à União legislar sobre: (grifo nosso)
I – Direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho

X – Regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e aeroespacial.
Aspectos Gerais dos Afretamentos de Embarcações Estrangeiras na Marinha Mercante

portuário e a navegação interior. Apenas editou resoluções – que serão devidamente


a navegação de longo curso (e também a analisadas neste artigo logo nos parágrafos
navegação interior de percurso internacio- posteriores – que fazem a regulação técnica
nal) é aberta aos armadores, às empresas da matéria em questão, qual seja os requi-
de navegação e às embarcações de todos sitos para afretamento de embarcações
os países – mas observados os acordos estrangeiras para atuar no mercado de
firmados pela União, atendido o princípio navegação marítima do Brasil.
da reciprocidade. A Autorização de Afretamento é o ato
Nos outros regimes da navegação, as pelo qual a Antaq autoriza a empresa de
embarcações estrangeiras somente poderão navegação a realizar o afretamento de uma
participar quando afretadas por empresas embarcação estrangeira apta a operar no
brasileiras de navegação3. E esse afreta- regime de navegação pretendido, e o do-
mento (por viagem ou por tempo4) depende cumento que formaliza a autorização para
de autorização do órgão competente, tendo o afretamento de embarcação estrangeira,
como principais condições de autorização emitido pela Antaq, é chamado de Certifica-
a inexistência ou indisponibilidade de do de Autorização de Afretamento (CAA).
embarcação brasileira, o interesse público Interessante destacar que, na verdade,
(devidamente justificado), ou em substi- ainda não se esclareceu de forma cristalina
tuição à embarcação em construção em a tênue linha que separa os atos tipicamente
estaleiro brasileiro. legislativos dos atos administrativos de
caráter normativo (como é, por exemplo, o
Sobre o Órgão Competente caso das resoluções normativas das agên-
para Autorizar o cias reguladoras em geral).
Afretamento de Mas seguimos os ensinamentos de José
Embarcações Estrangeiras dos Santos Carvalho Filho, pois o poder
no Brasil normativo das agências reguladoras “trata
do exercício da função administrativa, e
Atualmente, por força da Lei no 10.233, não legislativa, ainda que seja genérica
de 5 de junho de 2001, o órgão público sua carga de aplicabilidade. Não há total
competente para autorizar o afretamento inovação na ordem jurídica com a edição
de embarcações estrangeiras no nosso dos atos regulatórios das agências. Na ver-
país é a Agência Nacional de Transportes dade, foram as próprias leis disciplinadoras
Aquaviários, a Antaq, conforme previsto da regulação que, como visto, transferiram
no Art. 27, inciso XXVI5, da lei retrocitada. alguns vetores, de ordem técnica, para
Dentro dessa competência normativa normatização pelas entidades especiais –
própria das agências reguladoras, a Antaq fato que os especialistas têm denominado

3 Empresa Brasileira de Navegação – pessoa jurídica constituída segundo as leis brasileiras, com sede no País, que
tenha por objeto o transporte aquaviário, autorizada a operar pelo órgão competente.
4 No caso de afretamento a casco nu, a embarcação tem o direito de arvorar a Bandeira brasileira (condicionado
à suspensão provisória de bandeira no país de origem).
5 Lei no 10.233/2001, Art. 27: Cabe à Antaq, em sua esfera de atuação:
...
XXIV – autorizar as empresas brasileiras de navegação de longo curso, de cabotagem, de apoio marítimo,
de apoio portuário, fluvial e lacustre o afretamento de embarcações estrangeiras para o transporte de carga,
conforme disposto na Lei no 9.432, de 8 de janeiro de 1997 (incluído pela Medida Provisória no 2.217-3, de
4/9/2001).

130 RMB3oT/2013
Aspectos Gerais dos Afretamentos de Embarcações Estrangeiras na Marinha Mercante

de ‘delegalização’, com fundamento no o interesse público devidamente justifi-


direito francês (‘domaine de l’ordonnance’, cado ou em substituição a embarcação
diverso do clássico ‘domaine de la loi’). em construção em estaleiro brasileiro.
Resulta, pois, que tal atividade não retrata ● Independe de autorização o afre-
qualquer vestígio de usurpação da função tamento de embarcação de bandeira
legislativa pela administração”. brasileira. Mas, em que pese não haver
nenhuma obrigação expressa na Lei no
Dos Diplomas Regulatórios 10.233/01, a Antaq exige o registro do
afretamento de embarcações nacionais,
Dentro da competência de regular e respaldada na sua competência de regu-
fiscalizar a exploração dos serviços de lar e supervisionar o mercado regulado.
transporte aquaviário, a Antaq editou as
normas pertinentes à questão – chamadas Do Instituto da
de Resoluções de Afretamento. Circularização e do
São, conforme tabela abaixo, normas INSTITUTO DO Bloqueio
para afretamento de embarcação estran-
geira por empresa brasileira de navegação: De fundamental importância para a con-
Dentro do espectro normativo da Antaq, tinuação da análise da questão é o estudo
no que tange a afretamento, dois detalhes de dois institutos ímpares para a análise da
interessantes devem ser preliminarmente autorização de afretamento de embarcações
destacados: estrangeiras: o instituto da Circularização
● Não é objetivo deste trabalho o es- e o instituto do Bloqueio.
tudo do afretamento de embarcações Circularização é o procedimento reali-
estrangeiras na navegação interior. Em zado para consulta, por empresa brasileira
todo caso, para um estudo aprofundado, de navegação, que pretenda a autorização
sugerimos uma leitura atenta da Reso- de afretamento de embarcação estrangeira
lução no 1.864-Antaq, de 4/11/2010 (al- para o transporte aquaviário na navegação
terada pela Resolução no 2.160-Antaq, pretendida. Ou seja, a empresa brasileira
de 22/7/2011). Mas, em todo caso, as de navegação postulante à autorização
principais condições para o afretamen- de afretamento deverá circularizar uma
to são as mesmas: indisponibilidade/ consulta a todas as empresas brasileiras de
inexistência de embarcação brasileira e navegação autorizadas a operar no mesmo

Regime de Navegação Resolução da Antaq


Resolução no 195-Antaq, de 16/2/2004 (alterada pela
Longo Curso
Resolução no 493-Antaq, de 13/9/2005)
Resolução no 193-Antaq, de 16/2/2004 (alterada pela
Cabotagem
Resolução no 496-Antaq, de 13/9/2005)
Resolução no 192-Antaq, de 16/2/2004 (alterada pela
Apoio Marítimo
Resolução no 495-Antaq, de 13/9/2005)
Resolução no 191-Antaq, de 16/2/2004 (alterada pela
Apoio Portuário
Resolução no 494-Antaq, de 13/9/2005)

RMB3oT/2013 131
Aspectos Gerais dos Afretamentos de Embarcações Estrangeiras na Marinha Mercante

regime de navegação, devendo informar, curso é aberta aos armadores, às empresas


entre outros itens (dependendo da navega- de navegação e às embarcações de todos os
ção pretendida), o tipo de embarcação (com países, observados os acordos firmados pela
suas principais características), duração do União, atendido o princípio da reciprocida-
período do afretamento, local do início do de, por força do Art. 5o da Lei no 9.432/97,
afretamento etc. o que nos permite afirmar que independe de
Já quando uma empresa brasileira de autorização o afretamento de embarcação
navegação, consultada na Circularização, estrangeira por tempo, viagem ou a casco nu.
tenha uma embarcação que atenda ao ob- Mas, no caso da navegação de longo curso,
jeto da consulta e tenha interesse em fretar surge a figura da chamada “carga prescrita”.
sua embarcação, poderá opor o instituto Existem algumas cargas que são reservadas
do Bloqueio ao pedido de manifestação a embarcações de bandeira brasileira. Pelo
junto à consulente, de forma a preservar a Decreto-Lei no 666, de 2/7/1969, são elas: as
reserva de mercado estipulada por lei para importadas por qualquer órgão da adminis-
as embarcações de bandeira nacional. tração pública (seja ela federal, estadual ou
O bloqueio do pedido de afretamento municipal – e inclusive as empresas públicas e
será decidido pela Antaq – quando concluída sociedades de economia mista) e as importadas
a troca de informações entre as empresas com quaisquer favores governamentais (tais
envolvidas decide sobre a matéria – e será como benefícios de ordem fiscal, cambial ou
sempre aceito o bloqueio quando reconhe- financeiro concedidos pelo Governo) ou com
cida a existência de oferta de embarcação de financiamento de estabelecimento oficial de
bandeira brasileira disponível que atenda aos crédito (por exemplo BNDES).
requisitos aplicáveis aos serviços descritos na Então, a carga prescrita é aquela carga de
consulta formulada pela empresa postulante. importação – que seja reservada a embar-
Portanto, observamos nesse quesito cações de bandeira nacional – proveniente
a utilização do instituto da Arbitragem, de países que pratiquem – diretamente ou
justamente conforme previsto no Art. 20, por intermédio de qualquer benefício, sub-
inciso II, alínea b, da Lei no 10.233/20116. sídio ou favor governamental – prescrição
de carga em favor de embarcação de sua
Elementos Gerais do bandeira. Tal fato é oriundo da necessidade
Afretamento, disposto por de se respeitar o Princípio da Reciprocidade
regimes de navegação previsto no Art. 2o do Decreto-Lei no 666.
Assim sendo, temos duas soluções para
Navegação de Longo Curso o transporte de carga prescrita: a Antaq
pode (por intermédio do Certificado de
A operação ou exploração do transporte Liberação de Carga Prescrita (CLCP)
de mercadorias na navegação de longo liberar o transporte de carga prescrita por

6 Art. 20. São objetivos das Agências Nacionais de Regulação dos Transportes Terrestre e Aquaviário:
(...)
II – regular ou supervisionar, em suas respectivas esferas e atribuições, as atividades de prestação de serviços
e de exploração da infraestrutura de transportes, exercidas por terceiros, com vistas a:
(...)
b) harmonizar, preservado o interesse público, os objetivos dos usuários, das empresas concessionárias,
permissionárias, autorizadas e arrendatárias, e de entidades delegadas, arbitrando conflitos de interesses e
impedindo situações que configurem competição imperfeita ou infração da ordem econômica. (grifo nosso)

132 RMB3oT/2013
Aspectos Gerais dos Afretamentos de Embarcações Estrangeiras na Marinha Mercante

empresa de navegação estrangeira ou pode embarcação de bandeira estrangeira – após os


liberar o transporte de carga prescrita em procedimentos de Circularização e, se for o
embarcação estrangeira, afretada por em- caso, Bloqueio – para uma única viagem, sem
presa brasileira de navegação. suspensão temporária da bandeira de origem.

Navegação de Cabotagem Navegação de Apoio Marítimo

A cabotagem brasileira vem continua- Independe de autorização – basicamente


mente demonstrando crescimento na sua da mesma forma que na navegação de cabo-
utilização, apesar dos entraves que ainda tagem – o afretamento de embarcação de ban-
existem. Por exemplo, segundo a Antaq, deira brasileira ou de embarcação de bandeira
na carga geral conteinerizada houve um estrangeira a casco nu, mas com a respectiva
crescimento de 16% na utilização da ca- suspensão de bandeira e atendendo ao critério
botagem entre 2011 e 2012.7 de Tonelagem de Porte Bruto (TPB) estabele-
Na navegação de cabotagem, independe cido na Resolução correspondente9.
de autorização o afretamento de embarcação Mas se a empresa brasileira de nave-
de bandeira brasileira ou de embarcação de gação de apoio marítimo quiser afretar
bandeira estrangeira a casco nu, mas com a por tempo, por viagem ou a casco nu sem
respectiva suspensão de bandeira e atendendo suspensão de bandeira de origem uma
ao critério de Tonelagem de Porte Bruto (TPB) embarcação estrangeira, é absolutamente
estabelecido na Resolução correspondente8. necessário o CAA, observada uma das
Mas depende de autorização, com a seguintes condições:
plena observância da circularização e do ● constatada a inexistência ou indispo-
bloqueio, o afretamento de embarcação nibilidade de embarcações de bandeira
estrangeira na modalidade por viagem, brasileira de tipo e porte adequados para
por tempo ou a casco nu, para uma única o apoio pretendido;
viagem e também em substituição a embar- ● verificado que as ofertas para o apoio
cação em construção no País, mas limitado marítimo pretendido não atendem aos
por um período de 36 meses e até o limite prazos estabelecidos na Circularização;
da Tonelagem de Porte Bruto contratada. ● em substituição a embarcação em
Logo, por exemplo, podemos afirmar construção no País, em estaleiro bra-
que uma empresa brasileira de navegação sileiro, com contrato em eficácia – e
pode, sem ter que circularizar, afretar uma enquanto durar a construção, até o limite
embarcação estrangeira, desde que a casco da arqueação bruta contratada.
nu, com suspensão provisória de bandeira
e observados os limites de TPB. E também A Empresa Brasileira de Navegação
que é permitido, por exemplo, a uma em- (EBN) que requer o afretamento de em-
presa brasileira de navegação afretar uma barcação estrangeira deve circularizar a

7 Considerando o indicador Tonelada por Quilômetro Útil (TKU), que corresponde ao peso transportado multi-
plicado pela distância percorrida pelo modal.
8 É limitado ao dobro da TPB das embarcações de tipo semelhante, encomendadas a estaleiro brasileiro (com
contrato de construção em eficácia) pela interessada no afretamento – adicionado de metade da TPB das
embarcações brasileiras de sua propriedade. Ressalvado o afretamento de, pelo menos, uma embarcação de
porte equivalente.
9 Vide nota 8.

RMB3oT/2013 133
Aspectos Gerais dos Afretamentos de Embarcações Estrangeiras na Marinha Mercante

todas as outras EBN autorizadas a operar na estrangeira – nos termos da Circularização


navegação de apoio marítimo, devendo, no – dentro do prazo de sete dias corridos11,
caso do apoio marítimo, respeitar o prazo enquanto que na navegação de apoio portu-
de mobilização da embarcação, que não ário, uma EBN pode “opor” seu bloqueio
poderá ser inferior a 60 dias10. ao pedido de afretamento de embarcação
de bandeira estrangeira – nos termos da
Navegação de Apoio Portuário Circularização – dentro do prazo de seis
horas úteis12, 13.
As regras para a autorização de afretamen-
to de embarcação de bandeira estrangeira na Conclusão
navegação de apoio portuário são bastante
semelhantes às regras para a autorização A proteção às embarcações de bandeira
de afretamento de embarcação de bandeira brasileira, preconizada pela nossa Carta
estrangeira na navegação de apoio marítimo, Magna e, por conseguinte, pela nossa le-
tanto em relação às condições quanto em rela- gislação infraconstitucional (em especial
ção à utilização do instituto da Circularização. as Leis no 9.432/97 e no 10.233/2001), é de
Uma diferença que podemos citar entre fundamental importância para o desenvol-
os dois regimes de navegação – apoio ma- vimento da Marinha Mercante brasileira.
rítimo e apoio portuário – é relacionada ao A não observância dessas disposições,
tempo que a EBN que deseja utilizar-se inclusive, sujeita os infratores a penalidades
do instituto do Bloqueio tem para fazê-lo. administrativas aplicadas pelo órgão compe-
Na navegação de apoio marítimo, uma tente – no caso, a Antaq –, sendo possível,
EBN pode “opor” seu bloqueio ao pedido entre outras sanções, desde uma multa14 até
de afretamento de embarcação de bandeira a cassação e a declaração de inidoneidade.

10 Art. 5o – A empresa de navegação de apoio marítimo postulante de autorização de afretamento deverá circularizar
consulta a todas as empresas brasileiras de navegação de apoio marítimo.
(…)
§5o O prazo de mobilização da embarcação não poderá ser inferior a 60 dias corridos, podendo o início de sua
operação ser antecipado caso não haja embarcação de bandeira brasileira apta a atender ao apoio pretendido
ou a empresa de navegação de apoio marítimo declinar do prazo.
11 Resolução no 192-Antaq (alterada pela Resolução no 495-Antaq, de 13/9/2005), em seu Art. 7o: “A empresa
de navegação interessada em fretar a embarcação, que atenda ao objeto da consulta, poderá opor bloqueio
ao pedido de afretamento mediante manifestação junto à consulente, com cópia à Antaq, dentro do prazo
de sete dias corridos...”.
12 Resolução no 191-Antaq (alterada pela Resolução no 494-Antaq, de 13/9/2005), em seu Art. 6o: “A empresa de
navegação de apoio portuário interessada em fretar a embarcação que atenda ao objeto da consulta poderá
opor bloqueio ao pedido de afretamento mediante manifestação junto à consulente, com cópia à Antaq,
dentro do prazo de seis horas úteis...”.
13 Para efeitos do prazo para oposição de bloqueios aos pedidos de afretamento de embarcações estrangeiras na
navegação de apoio portuário, considera-se “hora útil” a hora compreendida entre 8h00min às 18h00min, de
segunda-feira a sexta-feira – excetuados os dias em que não haja expediente nas repartições públicas federais.
14 Nesse sentido, embora não muito utilizado, temos o que consta do Capítulo VIII (Art. 15) da Lei no 9.432/97,
in verbis logo abaixo:
Capítulo VIII
Das Infrações e Sanções
Art. 15. A inobservância do disposto nesta lei sujeita o infrator às seguintes sanções:
I – multa, no valor de até R$ 10,00 (dez reais) por tonelada de arqueação bruta da embarcação;
II – suspensão da autorização para operar, por prazo de até seis meses.

134 RMB3oT/2013
Aspectos Gerais dos Afretamentos de Embarcações Estrangeiras na Marinha Mercante

Citamos um exemplo de tipificação de desburocratizar o processo de pedido de


conduta infracional, que ocasiona inclusive afretamento, que será automatizado com
a obrigação de que seja acionada a Diretoria notificações realizadas entre as partes por
de Portos e Costas (DPC) da Marinha do intermédio de mensagens eletrônicas (e-
Brasil visando à imediata interdição da mails) previamente cadastradas no sistema.
operação irregular, até, se for o caso, com Para Fernando Fonseca, ocupante do cargo
apreensão da embarcação: de diretor interino da Antaq, “o Sama
desburocratiza o processo de afretamento
Resolução no 192-Antaq (alterada pela de embarcações pelas empresas brasileiras
Resolução no 495-Antaq, de 13/9/2005), de navegação, eliminando uma quantidade
em seu Art. 21, inciso XI: “São infrações: significativa de papéis”.
(…) De certo que todos os requisitos e condi-
Afretar embarcação sem a necessária ções tratados no presente artigo continuam
autorização da Antaq, conforme o caso plenamente em vigor, mas o Sama vem
(Multa: de até 10.000.000,00)”. garantir maior transparência, celeridade e
impessoalidade nos assuntos inerentes ao
Chama a atenção o valor da multa: de afretamento de embarcações de bandeira
até 10 milhões de reais. O que não significa estrangeira.
que será esse valor, pois a multa deve ser Portanto, salientamos a importância de
deliberada utilizando-se do critério discri- trazer para o debate tão vasto e fascinante
cionário da diretoria da Antaq. assunto, visando principalmente ao inter-
Além disso, desde o mês de junho de câmbio de conhecimentos, no sentido de
2013 está em operação o chamado Sistema contribuir para a melhoria real da qualidade
de Afretamento da Navegação Marítima da regulação desta fundamental atividade
e de Apoio, o “Sama”. Esse sistema vem econômica do nosso país.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<PODER MARÍTIMO>; Marinha Mercante; Navegação; Legislação da Marinha Mercante;
Afretamento; Bandeira de conveniência

Referências

BRASIL. Constituição de República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.


planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 19/12/2012.
BRASIL. Lei no 9.432, de 08 de Janeiro de 1997. Dispõe sobre a ordenação do transporte aquaviário
e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9432.
htm>. Acesso em: 12/1/2013.
BRASIL. Decreto-Lei no 666, de 2 de Julho de 1969. Institui a obrigatoriedade do transporte em navio
de bandeira brasileira e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto-lei/del0666.htm>. Acesso em: 12/1/2013.
BRASIL. Resolução no 493-Antaq, de 13 de setembro de 2005. Aprova alterações da norma para o
afretamento de embarcação por empresa brasileira de navegação para o transporte de carga no
tráfego de longo curso e para a liberação do transporte de carga prescrita à bandeira brasileira
por empresa de navegação estrangeira. Disponível em: <http://www.antaq.gov.br/Portal/pdf-
Sistema/Publicacao/PublicacoesAntigas/Resolucao493.pdf>. Acesso em: 20/1/2013.

RMB3oT/2013 135
Aspectos Gerais dos Afretamentos de Embarcações Estrangeiras na Marinha Mercante

BRASIL. Resolução no 494-Antaq, de 13 de setembro de 2005. Aprova alterações da norma para o afre-
tamento de embarcação por empresa brasileira de navegação na navegação de apoio portuário.
Disponível em: <http://www.antaq.gov.br/Portal/pdfSistema/Publicacao/PublicacoesAntigas/
Resolucao494.pdf>. Acesso em: 20/1/2013.
BRASIL. Resolução no 495-Antaq, de 13 de setembro de 2005. Aprova alterações da norma para o afre-
tamento de embarcação por empresa brasileira de navegação na navegação de apoio marítimo.
Disponível em: <http://www.antaq.gov.br/Portal/pdfSistema/Publicacao/PublicacoesAntigas/
Resolucao495.pdf>. Acesso em: 20/1/2013.
BRASIL. Resolução no 496-Antaq, de 13 de setembro de 2005. Aprova alterações da norma para o
afretamento de embarcação por empresa brasileira de navegação na navegação de cabotagem.
Disponível em: <http://www.antaq.gov.br/Portal/pdfSistema/Publicacao/PublicacoesAntigas/
Resolucao496.pdf>. Acesso em: 21/1/2013.
BRASIL. Agência Nacional de Transportes Aquaviários. Revista Navegando a Notícia. Ano V, no
21. Brasília, Maio/Junho 2013.
BIOLCHINI, Monique Calmon de Almeida. Regulação do Transporte Aquaviário, 1a ed., Lumen
Juris: Rio de Janeiro, 2005.
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Agências Reguladoras e Poder Normativo. Revista Eletrônica
de Direito Administrativo Econômico (Redae), Salvador, Instituto Brasileiro de Direito Público,
no 9, Fev/Mar/Abr, 2007. Disponível em: <http://www.direitodoestado.com/revista/REDAE-9-
FEVEREIRO-2007-JOSE%20CARVALHO.pdf>. Acesso em: 19/1/2013.
FERNANDES, Paulo Campos; LEITÃO, Walter de Sá. Contratos de Afretamento à Luz dos Direitos
Inglês e Brasileiro. 1a Ed., Ed. Renovar: Rio de Janeiro, 2007.
SOUTO, Marcos Juruena Villela. Direito Administrativo Regulatório, 2a ed., Lumen Juris: Rio de
Janeiro, 2005.

136 RMB3oT/2013
A NAVAMAER E O ESPORTE NO MEIO MILITAR
PROMOVENDO FORMAÇÃO, CONSCIENTIZAÇÃO,
INTEGRAÇÃO E CULTURA DE PAZ

FERNANDO ANTONIO CARDOSO GARRIDO*


Professor Doutor
MARCELO PEREIRA MARUJO**
Suboficial (FN-MU)

SUMÁRIO

Introdução
Propósito
Metodologia
O advento da Navamaer
As dimensões do esporte e da Navamaer
A Navamaer e as Ciências
A Navamaer e os esportes militares
A Navamaer e as tendências
Conclusão

INTRODUÇÃO (MB) por intermédio da Academia Real


de Guardas Marinha (atual Escola Naval),

A cultura física, entendida como ginástica


e práticas de caráter esportivo, teve o
seu desenvolvimento na Marinha do Brasil
criada em 1782, em Portugal, e, ainda, com
a criação do Corpo de Fuzileiros Navais
(CFN) no Brasil, a partir de 1808. O apa-

* Doutorado pela Escola de Guerra Naval (EGN, 2004). Mestrado em Educação Física (UGF, 1996). Pós-graduação
Lato sensu em Treinamento Desportivo (UGF, 1980). MBA em Gestão Internacional pela (UFRJ-Coppead,
2004). Graduado em Licenciatura Plena em Educação Física (UGF, 1978). Professor de Educação Física da
Escola Naval desde 1980.
** Pós-Doutorado em Educação, Sustentabilidade e Responsabilidade Socioambiental pela Universidade Federal
Fluminense – UFF (2012). Doutor em Educação e Sustentabilidade pela Universidade Federal do Rio Grande
do Norte – UFRN (2011). Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
(2004). MBA em Gestão com Impactos Ambientais pela Universidade Plínio Leite – Unipli (2007). Atual-
mente é Instrutor de Educação Física na Escola Naval.
A NAVAMAER E O ESPORTE NO MEIO MILITAR PROMOVENDO FORMAÇÃO, CONSCIENTIZAÇÃO,
INTEGRAÇÃO E CULTURA DE PAZ

recimento da Liga de Sports em 1915 e


da Escola de Educação Física em 1925,
instituições criadas por oficiais da Armada,
consolida a tese da presença de militares da
MB ao longo de mais de 200 anos de história
da Educação Física e do esporte no Brasil.
A essa altura, a Educação Física e o es-
porte na Marinha já representavam o “resul-
tado de mantermos no Serviço Naval gente
robusta e idônea que possa, na plenitude da
sua saúde e da sua inteligência, defender Torcida nos anos 40
os mares da nossa Pátria e engrandecer o
nome do Brasil” (VILLAR, 1959, p. 136). porcionam uma capacitação profissional
Há tempos, o esporte, nas suas dimen- generalista capaz de promover uma cultura
sões socioambientais, integra-se às diversas de paz.
instituições de natureza pública e privada,
entre elas as organizações militares. Assim, METODOLOGIA
transcende-as como integrante de uma
educação permanente que busca levar o O desenho metodológico inter-relacio-
ser humano à melhor compreensão das nou, estrategicamente, a fim de empreender
necessidades do mundo contemporâneo. as necessidades específicas do objeto de
Nesse sentido, devemos primar pelo estudo, o método histórico e a pesquisa
esporte como uma necessidade permanente participativa (VERGARA, 2009).
ao processo formativo e também ao lazer Ademais, tais proposições buscam clari-
e, em especial, à evolução da performance ficar o entendimento sobre a historicização
biopsicossocial voltada para a melhoria das integrada à vivência praxiológica intrínseca
condições físicas e cognitivas tão necessá- às atividades durante os seus variados e
rias para o desenvolvimento das atividades efetivos momentos, propiciando, assim,
profissionais militares. maior condição e inter-relação à materia-
lização de teorias e conceitos a partir da
PROPÓSITO prática, sempre com a intenção de favorecer
e redimensionar as investigações.
O propósito deste artigo compreende
evidenciar o quanto as competições pro- O ADVENTO DA NAVAMAER

Foi sob o foco do aperfeiçoamento téc-


nico, físico e moral da juventude militar e
da aproximação entre aspirantes e cadetes,
em uma disputa esportiva semelhante aos
Jogos Olímpicos, que teve origem a Taça
Lage, em 1938, mesmo ano da instalação da
Escola Naval na Ilha de Villegagnon – Rio
de Janeiro, RJ. A primeira edição da Taça
Lage, mais tarde conhecida por Navamaer,
Atleta em competição, 1943 aconteceu entre a Escola Naval (EN) e a

138 RMB3oT/2013
A NAVAMAER E O ESPORTE NO MEIO MILITAR PROMOVENDO FORMAÇÃO, CONSCIENTIZAÇÃO,
INTEGRAÇÃO E CULTURA DE PAZ

Escola Militar de Realengo (atual Acade- formação da juventude ao favorecer a


mia Militar das Agulhas Negras – Aman), coesão, a convivência social, a correção
Instituições de Ensino Superior (IES) de valores e a valorização da Pátria (visão
formadoras dos futuros oficiais das Forças nacionalista) aos futuros oficiais das FA.
Armadas (FA). No rol das modalidades em Outra visão do esporte na época pôde ser
disputa estavam o atletismo, o basquetebol, evidenciada pelas expressivas obras ineren-
o water-polo, o futebol e a natação. tes às atividades militares que propiciavam
Henrique Lage, o idealizador da Taça o seguinte entendimento: quase sempre os
Lage e um dos grandes empresários pio- praticantes de atividades esportivas não o
neiros da construção naval, transcreve em praticavam por diletantismo ou por terem
carta endereçada ao general-comandante da em mente o embelezamento futuro da sua
Escola Militar, em 22 de junho de 1938, o raça, mas, sim, praticavam-no geralmente
motivo pelo qual acreditava ser importante com determinado rito – ou para ser melhor
a criação de um evento esportivo entre as entre os melhores, ou pelo record, ou pela
Escolas Militares: “medalha” (GALERA, 1943).
Levado pela especial simpatia que sem- A competição entre escolas militares
pre me mereceu o também podia ser vis-
garboso Corpo de ta sob a perspectiva
Cadetes e com a in- Henrique Lage entendia ser da grande presença e
tenção de estimular vibração da torcida
o espírito de tena- o esporte uma ferramenta nos eventos esportivos.
cidade dos jovens de valor na formação da Naquela altura, o es-
e o amor à luta para
a vitória, tomei a
juventude ao favorecer a porte já representava,
como lazer, a liberação
liberdade de ofe- coesão, a convivência social, de tensão-excitação e
recer uma “Taça” a correção de valores e a prazer, auxiliando na
para constituir prê- regulação da conduta
mio aos vencedores valorização da Pátria (visão (o autocontrole). Isto
dos jogos anuais de nacionalista) aos futuros significa dizer que o
foot-ball, realizados esporte vem no auxílio
por cadetes ou entre
oficiais das FA da adaptação de todos
cadetes e alunos da os envolvidos em uma
Escola Naval nas condições estabelecidas sociedade moderna capitalista, urbana, or-
por V. Exa. Esperando que V. Exa. se ganizada socialmente, altamente regulada
digne de aprovar esse meu ato, rogo a V. e fortemente controlada pelo Estado, con-
Exa. a gentileza de dar ciência ao D. Cor- forme aconteceu na época. No momento,
po de Cadetes a que tenho a honra de me a Educação Física e o esporte, em especial
considerar integrado. Reitero a V. Exa. a o futebol, ganham penetração entre a ju-
segurança da minha alta consideração e ventude; na educação e como atividade
particular estima de subscrever-me, de V. profissional, gerava negócios e se fortalecia
Exa. Amigo grato – (a) Henrique Lage. em parceria com a mídia.
(GALERA, 1941, p. 11) A Taça Lage transcorria no cotidiano
da cidade do Rio de Janeiro, com grande
Percebe-se que Henrique Lage entendia rivalidade entre escolas, principalmente
ser o esporte uma ferramenta de valor na de 1941 em diante, com a presença da Es-

RMB3oT/2013 139
A NAVAMAER E O ESPORTE NO MEIO MILITAR PROMOVENDO FORMAÇÃO, CONSCIENTIZAÇÃO,
INTEGRAÇÃO E CULTURA DE PAZ

cola de Aeronáutica (Academia da Força das Forças Armadas. Os melhores atletas


Aérea – AFA). Nos grandes clubes civis, das escolas militares ganhavam destaque ao
acontecia a competição esportiva diante representar o Brasil internacionalmente nos
de elegante torcida e marcante presença Jogos Olímpicos, em campeonatos e Jogos
feminina, elogiada pelos militares. Entre Sul-Americanos e Pan-Americanos, em
os clubes estavam o Tijuca Tênis Clube, o campeonatos mundiais e, principalmente,
Clube de Regatas Vasco da Gama e o Flu- nos Festivais Sul-Americanos de Cadetes,
minense Futebol Clube. Um grande público iniciados em 1961.
superlotava as dependências dos clubes
civis, todos ávidos por AS DIMENSÕES
entretenimentos nos DO ESPORTE E DA
momentos de lazer, já A melhoria da condição NAVAMAER
proporcionados pelas física integral do
equipes militares. Tais A melhoria da con-
fatos contribuíram
militar torna-se fator dição física integral do
para a presença mar- preponderante, com o militar torna-se fator
cante de militares atle- acompanhamento do preponderante, com
tas integrando equipes o acompanhamento
civis, além de promo- treinamento físico, das do treinamento físico,
ver maior visibilidade habilidades técnicas, da das habilidades técni-
às escolas militares
na sociedade, o que,
alimentação, do repouso cas, da alimentação,
do repouso regular e
consequentemente, regular e de controle de controle médico.
pode ter gerado maior médico Isso gerou o aumento
ingresso de jovens na da busca por índices
carreira militar. mais expressivos e de
Ao longo dos anos, a Taça Lage teve as recordes pela MB. A oferta ao militar de
seguintes denominações: Torneio das Três treinamento desportivo de bases cientí-
Escolas, Jogos Interescolas Militares e, ficas, por equipes integradas por outros
principalmente, Competição Desportiva en- profissionais, garantiam a convocação
tre as Escolas Militares. A vitória garantia para representações brasileiras civis em
o direito à escola militar vencedora de os- eventos internacionais desde as décadas de
tentar o troféu de campeã do Estado-Maior 20 e 30. Nessa perspectiva, são inúmeros e

Grande presença de público nas competições na


década de 40 Abertura das competições no estádio do Fluminense

140 RMB3oT/2013
A NAVAMAER E O ESPORTE NO MEIO MILITAR PROMOVENDO FORMAÇÃO, CONSCIENTIZAÇÃO,
INTEGRAÇÃO E CULTURA DE PAZ

legítimos os militares-atletas da Marinha, relacionadas às atividades do esporte no


em todas as épocas que se tornaram exem- meio civil. Entre eles estão os pentatlo
plos, disputando competições por clubes militar (1946), pentatlo aeronáutico (1948)
civis e em agremiações militares no meio e pentatlo naval (1949), que consolidaram,
civil, influenciando gerações e gerações de assim, a presença do militar na Educação
militares e civis, transformando simples Física, logo a diferenciando daquela reali-
espectadores em praticantes. zada no meio civil.
Sob outro prisma, o cenário esportivo Diante disso, o treinamento físico-espor-
internacional crescia influenciado pelas tivo, como atividade inerente da carreira mi-
políticas estratégicas norte-americanas do litar, tornou-se cada vez mais voltado para a
pós-Primeira Guerra Mundial e, principal- melhoria das condições físicas indispensáveis
mente, da Segunda Guerra Mundial até fins e obrigatórias à preparação profissional, quer
do século XX. Surgia o mundo bipolar. utilizado na formação, no desempenho ou
O modelo capitalista, contrapondo-se ao no lazer. Nessas condições surgia o primeiro
comunista, progres- manual de treinamen-
sivamente passava a to físico de orientação
ser determinante na O desgaste físico e mental (norte-americano), tra-
economia industrial, duzido e implantado
na produção, na cul- dos militares nas frentes pelo Primeiro-Tenente
tura de massa e como de batalhas, diante das Médico Heriberto Paiva,
credor do mundo. Isso
trouxe consequências
informações e observações em 1946, e também a
primeira Olimpíada Mi-
à Educação Física e oriundas da Segunda litar, em 1945, na MB.
ao esporte, ao pro- Guerra Mundial, fez A consequência na-
mover mudanças no tural foi a ampliação da
treinamento físico do surgir novos esportes de organização do esporte
militar, pelo emprego característica militar no meio militar, com
da ginástica calistêni- as criações da entida-
ca nas FA brasileiras de esportiva em nível
e na sociedade civil. Os conflitos bélicos mundial, o Conseil International du Sport
demonstraram que existia a necessidade de Militaire (Cism), e, em nível nacional, do
se atender às árduas atribuições relaciona- então Conselho Desportivo das Forças
das aos novos equipamentos e métodos de Armadas (CDFA), em 1951. Esse fato
guerra, pois somente os indivíduos fortes, produziu o aumento da cadeia de interde-
física e moralmente, teriam condições de pendência, o que trouxe maior seriedade
suportar as adversidades das operações ao esporte no meio militar desde o início
de guerra. da Guerra Fria. Em 1956, o CDFA passou
O desgaste físico e mental dos militares a ser denominado Comissão Desportiva
nas frentes de batalhas, diante das informa- das Forças Armadas (CDFA). De 1976
ções e observações oriundas da Segunda em diante, a CDFA passou a ser conhe-
Guerra Mundial, fez surgir novos esportes cida por Comissão Desportiva Militar do
de característica militar. Esses passaram a Brasil (CDMB). A CDMB, instituição
servir de treinamento funcional na prepa- coordenadora da Navamaer, tem comissões
ração das tropas, precipuamente, em razão desportivas subordinadas em cada uma das
das peculiaridades das tarefas militares FA: CDA, CDE e CDM.

RMB3oT/2013 141
A NAVAMAER E O ESPORTE NO MEIO MILITAR PROMOVENDO FORMAÇÃO, CONSCIENTIZAÇÃO,
INTEGRAÇÃO E CULTURA DE PAZ

Por conseguinte, o esporte no meio militar Educação, Moral, Cívica, Social e Militar
adquire maior relevância e visibilidade no de 1959 e pode ser compreendida pelo
meio civil, o que proporcionou o aumento das seguinte pensamento:
competições de caráter nacional e internacional Na época hodierna não se pode pensar
e, ainda, a formação de representações mili- em valorização e em seleção sem se
tares nacionais disputando eventos mundiais considerarem as qualidades físicas
programados pelo Cism. A melhoria constante e espirituais. É a cultura física que
da performance física proporcionou resultados desenvolve essas qualidades, cria, em
satisfatórios e novos recordes que se tornaram verdade, o ambiente espiritual e moral
recorrentes, o que garantiu ao esporte militar para a educação integral da juventude,
maior visibilidade na sociedade civil. para o completo desenvolvimento do
Num verdadeiro culto olímpico, atletas homem, do cidadão, da personalidade
expõem suas forças, habilidades e técni- humana. Não prepara o homem apenas
cas, defendendo com garra e dedicação para atividades técnico-profissionais,
o estandarte de sua Escola, tendo como mas para a vida na sua mais completa e
fundo um clima de profundo respeito e infinita complexidade. Cultivemos, pois,
cordialidade. Constata-se que o preparo a Educação Física, tão salutar, principal-
físico e a competitividade devem estar mente na conservação e no preparo de
a serviço da defesa das cores da nossa uma prole sadia e no aperfeiçoamento
Escola. (GALERA, 1988, p. 62) da raça. (VILLAR, 1959, p. 135)

O desenvolvimento do esporte no meio Essa visão, por sinal, permeia (o século


militar, em especial entre as escolas milita- XIX e meados do século XX no que con-
res de nível superior, suscita o surgimento cerne) a história da Educação Física e do
de nova sigla que vem caracterizar efetiva- esporte no Brasil entre o final do século
mente o evento e, sobretudo, proporcionar XIX e meados do século XX.
maior prospecção ao mesmo. Desse modo, A Navamaer, no cenário esportivo
o então presidente da Comissão de Des- nacional, interrompida entre 1968 e 1973,
portos das Forças Armadas, o General de somente reapareceu em 1974, com disputas
Brigada Floriano Machado, por meio de de esportes de característica individual,
comunicado de 26 de dezembro de 1962, como atletismo, natação, pentatlo militar
oficializava aos comandantes das escolas e tiro, sem contar também com a presença
que, a partir daquela data, estava adotada de plateia. Os esportes coletivos com bola
a sigla Navamaer, formada com as abrevia- somente voltaram a ser disputados em
ções de: NAV – Escola Naval (EN); AM 1977, realizados dentro das escolas milita-
– Academia Militar das Agulhas Negras res. Além disso, a Navamaer, desde a sua
(Aman) e AER – Escola de Aeronáutica criação até 2011, sofreu interrupção nos
(atual Academia da Força Aérea – AFA). anos de 1963, 1981 e de 1984.
Na primeira competição da Navamaer, em Nas décadas 70 e 80, a Navamaer e o
1963, aconteceram disputas nas seguintes esporte nas FA, caracterizados pela cons-
modalidades: pentatlo militar, tiro, xadrez, tante busca da melhoria da performance do
futebol, natação, esgrima, voleibol, basque- treinamento físico, técnico e tático especia-
tebol, atletismo e polo aquático. lizado, promovem o aumento de recordes
A visão da Educação Física, nesse e de alcance de resultados expressivos. A
momento, era retratada pelo Breviário de formação de grandes atletas pelas FA e o

142 RMB3oT/2013
A NAVAMAER E O ESPORTE NO MEIO MILITAR PROMOVENDO FORMAÇÃO, CONSCIENTIZAÇÃO,
INTEGRAÇÃO E CULTURA DE PAZ

ingresso de atletas do meio civil nas escolas jogos universitários e na Navamaer. Alguns
de formação de oficiais vieram favorecer o dos novos métodos passaram a contribuir
aumento da frequência na quebra de recor- de forma decisiva na constante melhoria
des nos esportes individuais. da condição física, entre eles o Teste de
No período entre 1985 e 1987, a Na- Cooper – um dos mais conhecidos em nível
vamaer, até então realizada no eixo Rio/ mundial –, circuit-training e o interval-
São Paulo, adquire visibilidade nacional training.
com sua nova sede em Brasília, DF. As Ademais, a primeira Organização
competições acontecem no Colégio Militar, Militar a implantar o Teste de Cooper de
Ginásio Cláudio Coutinho e Estádio Mané proveniência norte-americana foi a MB. O
Garrincha. Nesse momento, o espírito es- Teste de Cooper, criado para acompanhar
portivo da Navamaer vinha se prospectando a saúde do militar americano, apoiado
de forma a evidenciar a importância e o sobre o controle da frequência cardíaca,
desenvolvimento do esporte (GALERA, foi aplicado pela primeira vez no Brasil
1988). nos aspirantes da Escola Naval, em 1970.
Com a redemocratização do País, o es- A criação de centros de treinamento
porte alcança o status constitucional, o que físico-esportivo militares, como o Centro
lhe assegurou o renovado conceito de direi- de Educação Física Almirante Adalberto
to de todos, sob o respaldo de estudiosos e Nunes (Cefan), em 1972, determinava o de-
de documentos internacionais e, ainda, so- senvolvimento do esporte na sociedade bra-
fre a imediata diminuição das competições sileira e na MB. Uma série de iniciativas da
esportivas das FA e entre escolas militares MB e do Ministério da Educação e Cultura
no meio civil (GARRIDO, 2004). (MEC) contribuía para o desenvolvimento
do esporte, entre elas a vinda de estudiosos
A NAVAMAER E AS CIÊNCIAS e palestrantes estrangeiros e nacionais para
realizar cursos e congressos de promoção
A adoção de treinamento desportivo e da difusão dos saberes da área. Concor-
de bases científicas para os militares, que ria, ainda, para a valorização do esporte a
aconteceram desde a década de 30 com utilização do Cefan, referência no cenário
atletas da natação, consolidava o pioneiris- esportivo nacional, para hospedagens e
mo da MB na área. Na década seguinte, a treinamentos de delegações nacionais e
difusão de testes físicos de caráter científico internacionais e a implantação de convê-
aplicados de forma periódica permitiu a ca- nios de iniciação esportiva ofertados aos
talogação, o acompanhamento e a confron- alunos das escolas públicas. Daí advinha
tação dos efeitos do treinamento dos atletas o aumento das publicações nacionais, a
da MB e de aspirantes da Escola Naval. tradução de livros estrangeiros e a criação
A chegada de novos métodos de treina- de cursos de nível superior na área.
mentos desportivos no Brasil, fundamen- Além disso, o esporte nas FA passava a
tados sobre bases científicas no final dos servir de contraponto aos males (aspectos
anos de 1960 em diante, contemplou uma negativos) do esporte moderno e da socie-
realidade mundial por implantar-se no meio dade atual: doping, racismo, suborno e in-
militar e ser aplicada na MB. Garantia-se clusão social. De forma decisiva, o esporte
um melhor condicionamento físico aos atuava no ajustamento do comportamento
atletas e às equipes militares nos eventos humano, em especial do militar, adaptando-
esportivos civis, como campeonatos locais, o ao meio social e entre seus pares, em

RMB3oT/2013 143
A NAVAMAER E O ESPORTE NO MEIO MILITAR PROMOVENDO FORMAÇÃO, CONSCIENTIZAÇÃO,
INTEGRAÇÃO E CULTURA DE PAZ

razão da internalização de princípios mo- Uma das explicações sobre a compre-


rais, éticos e sociais. E é em razão disto ensão do esporte praticado nos momentos
que não cabe, aqui, deter-se numa visão de lazer e de sua relação com o trabalho
reducionista do esporte como rendimento/ e tantas outras atividades compreendidas
alto desempenho. como tal vem de Elias (1992, p. 141), quan-
do afirma que o esporte é “um fenômeno
A NAVAMAER E OS ESPORTES social por direito próprio, interdependente
MILITARES de atividades de não lazer (como no caso do
trabalho), mas, do ponto de vista funcional,
Com a diminuição das competições es- de valor não inferior e não subordinadas a
portivas militares realizadas no meio civil elas”. Na mesma dimensão, De Masi (2000)
nos anos de 1990 em diante, os esportes esclarece:
de características militares ganham força A plenitude da atividade humana somen-
dentro das FA, entre eles: pentatlo militar, te é alcançada quando nela coincidem,
tiro e esgrima. Isso traz como consequência se acumulam, se exaltam e se mesclam
a diminuição da visibilidade das escolas o trabalho, o estudo e o jogo; isto é,
superiores militares na sociedade brasilei- quando trabalhamos, aprendemos e nos
ra e pode ter contribuído para a perda do divertimos, tudo ao mesmo tempo. É o
interesse de jovens pela carreira militar, que ele chama de ócio criativo. (p. 148)
diferentemente das épocas passadas, de
ingresso nas FA incentivadas pelo esporte. O entendimento que deve prevalecer é
As dificuldades econômicas enfrentadas que o TFM, a exigência da aferição de Teste
pelo País na época, por sua vez, levaram à de Avaliação Física (TAF), a realização de
execução de um rodízio de esportes dispu- campeonatos regionais, a participação em
tados nas instalações das três escolas milita- competições militares como a Navamaer e o
res, de forma que as competições esportivas atendimento às convocações para compor as
pudessem ser realizadas anualmente. representações brasileiras em competições
A exigência do trabalho profissional- nacionais e internacionais devem ser consi-
militar, somada ao quadro de restrições derados atividades peculiares do militar. A
orçamentárias, nas duas últimas décadas do profissão requer um elevado nível de saúde
século XX, também provoca a diminuição física, mental (higidez) e psicossocial, seja
da participação, da convocação e de trei- em tempo de paz ou de guerra, assegurada
namento de atletas da MB integrantes de por uma formação permanente, integral e
delegações esportivas, principalmente vi- que, consequentemente, leva à melhoria
sando atender competições nacionais e in- constante do desempenho de suas atribuições
ternacionais. A prática de atividades físicas constitucionais e à ascensão na carreira naval.
em geral passa a se contrapor à exigência Em reforço à supracitada assertiva, o
do trabalho profissional-militar compreen- Treinamento Físico Militar, abrangendo as
dida como lazer. Essa afirmação reforça a atividades físicas em geral, especialmente
assertiva do trabalho ser considerado mais o esporte e sua busca pela melhoria da
importante quando relacionado às ativida- aptidão física, da saúde e do desempenho
des físicas no momento de Treinamento profissional para a maior funcionalidade
Físico Militar (TFM)/Esporte defendidas, no combate, passa a ser fator essencial à
principalmente, por aqueles que não gostam carreira militar, condição que ratifica a
de praticá-las (GARRIDO, 2004). estreita relação com a guerra. Nesse senti-

144 RMB3oT/2013
A NAVAMAER E O ESPORTE NO MEIO MILITAR PROMOVENDO FORMAÇÃO, CONSCIENTIZAÇÃO,
INTEGRAÇÃO E CULTURA DE PAZ

do, reportamo-nos a Norbert Elias (1992, micos, mentais e sociais que, relacionados,
p. 16), que afirma serem “o esporte e a demonstrem a melhoria dos níveis de
guerra formas de conflito que se encontram aptidão física para a saúde, a qualidade de
entrelaçadas de maneira sutil, com formas vida, o desempenho profissional e o bem-
de interdependência, de cooperação e com a estar geral, de acordo com atributos de cada
formação do nosso grupo e do grupo deles”. corpo e quadros militares.
Ainda, tanto o esporte quanto a guerra apre- Entre o final do século XX e o início do
sentam características teóricas comuns ao século XXI aparecem grandes transforma-
serem compreendidos como um confronto ções promovidas pelos avanços da ciência,
entre dois oponentes ou dois grupos com da tecnologia, da economia globalizada e
o objetivo de um sobrepujar o outro. Um das mídias, gerando em alta velocidade
ou outro desencadeiam quer emoções de mudanças em variados setores. Esse quadro
prazer quer de sofrimento, misturas de concorre para o desmonte do estado do
comportamentos racionais e irracionais. bem-estar social e da liberalização total dos
O mesmo autor sinaliza a existência de mercados determinado por um capitalismo
ideologias diametral- avançado, pela valo-
mente opostas, poden- rização das empresas
do o esporte se consti- A importância do teste de multinacionais e pela
tuir em um substituto avaliação passa a ser um elevação do consumo.
da guerra e, por isso, Essas mudanças que
num veículo ideal de pré-requisito à ascensão na ocorrem, principal-
treino militar, devido à carreira militar e deveria mente, nas áreas de
dureza e à agressivida- comércio, transporte,
de demonstradas pelos
ser acompanhado de meio ambiente e de
que dele participam, pesquisa científica comunicação levam à
daí o caráter homólogo saturação das informa-
e da inter-relação das ções, de diversões e de
duas esferas. Não obstante, o objetivo da serviços programados no dia a dia das pes-
guerra é vencer o oponente, que é conside- soas, tornando-as mais sedentárias e obesas
rado inimigo, dominá-lo, prendê-lo e até e favorecendo a degradação ambiental e o
mesmo feri-lo ou matá-lo, caso seja neces- aumento do custo social de empresas pri-
sário. Entretanto, no esporte o oponente é vadas, organizações públicas e governos.
considerado o adversário a ser combatido
e vencido, devendo ser dominado sem que A NAVAMAER E AS TENDÊNCIAS
o mesmo tenha que ser ferido ou morto no
confronto. O surgimento de novas tendências,
Daí a importância do teste de avaliação necessidades, consumos, estilos de vida,
física, que, por essa época, passa a ser um gostos e prazeres orienta os rumos da nova
pré-requisito à ascensão na carreira militar economia, focada na grande quantidade de
e deveria ser acompanhado de pesquisa produtos, e de serviços com preços redu-
científica. Objetivava-se traçar o perfil zidos numa sociedade caracterizada pelas
físico dos militares. E, neste sentido, a tecnologias da informação.
Navamaer e o TFM servem de objetos de A vida social, agora em sintonia com
estudos e de pesquisas científicas apoiados as viagens, as imagens, as mídias, os
sobre parâmetros físicos, orgânicos, bioquí- comportamentos e as atitudes diversas,

RMB3oT/2013 145
A NAVAMAER E O ESPORTE NO MEIO MILITAR PROMOVENDO FORMAÇÃO, CONSCIENTIZAÇÃO,
INTEGRAÇÃO E CULTURA DE PAZ

subordina-se ao consumo, o que provoca impactos negativos na saúde púbica e


uma crise nas relações humanas, sociais, na gestão da saúde. (p. 59)
ideológicas, políticas e de valores e afeta a
convivência social, fortalecendo o indivi- A essa altura, uma série de questões
dualismo (subjetividade). centrais torna-se alvo de discussão em foros
A Educação Física e o esporte, em mundiais, entre elas a preservação ambien-
nível internacional, como componentes tal gerando maior visibilidade aos esportes
da educação permanente, holística e de da natureza e aqueles derivados de outros
convivência humana, traduzidos por esportes, ambos de caráter individual, uma
conhecimentos, habilidades, tradições, tendência na sociedade pós-industrial e nas
atitudes, valores e comportamentos, FA. Os serviços e as funções intelectuais
passam a ser reorientados para os males ganham relevância, o que requer a ele-
detectados na sociedade moderna. O vação do nível de educação. As pessoas
apelo de estudiosos, passam a ser a chave
de pesquisas cientí- da criação de valor e da
ficas e de organiza- A Navamaer e o TFM resolução de problemas
ções internacionais, podem fornecer respostas complexos em um mun-
como a Organização do com exigência de
das Nações Unidas vindas de investigações colaboração, confiança
(ONU), e a divulga- científicas, uma necessidade e liderança.
ção das mídias em Nessa perspectiva, a
geral alertam sobre
ao progresso social, de Navamaer, assim como
novos eventos em forma que contribua para o TFM, estabelece
escala mundial, entre uma cultura de paz e para maior entendimento
eles conflitos sociais, sobre a importância da
terrorismo e doenças a melhoria do desempenho preservação do meio
hipocinéticas causa- profissional e das condições ambiente ao listar no
das pelo avanço da rol dos esportes dispu-
tecnologia, como a
de vida tados pelos militares
obesidade e o diabe- como desempenho/alto
tes, entre outras. rendimento e, mesmo na formação e no
É nesse sentido que a Navamaer e o lazer, aqueles ligados à natureza. Nessa
TFM podem fornecer respostas vindas de direção, aparecem no cenário militar as
investigações científicas, uma necessidade modalidades de triathlon, ultramaratona,
ao progresso social, de forma que contribua canoagem e orientação, a partir de 2000.
para uma cultura de paz e para a melhoria A busca da preservação do meio ambiente
do desempenho profissional e das condi- pela MB e, em especial, pela Escola Naval
ções de vida. Em referência a essa assertiva, ganha considerável contribuição na construção
Tubino (2002) nos esclarece que de uma consciência ecológica na formação dos
o esporte e a Educação Física, incorpo- futuros oficiais a partir das criações de eventos
rados nos currículos no processo educa- esportivos ligados à natureza e abertos à socie-
cional, são uma prioridade natural, um dade civil, como o Raid Naval, em 1992, e a
componente de qualidade na formação Regata Ecológica, em 1999.
dos jovens e na escola para a vida, que, O emprego do esporte em ações de
ao serem negligenciados, provocam responsabilidade socioambiental fortalece

146 RMB3oT/2013
A NAVAMAER E O ESPORTE NO MEIO MILITAR PROMOVENDO FORMAÇÃO, CONSCIENTIZAÇÃO,
INTEGRAÇÃO E CULTURA DE PAZ

e empresas privadas favorecem a inclusão


social pelo esporte como direito de todos,
conforme estabelecido na Constituição
Federal (BRASIL, 1988), no Art. 217. Sob
esse foco, as FA atuam assumindo a sua
responsabilidade socioambiental em prol
da realização do destino coletivo.
Os fatos elencados demonstram que a
cultura física representada pelo TFM, pelo
A marcante presença feminina nas competições esporte e por competições como a Navama-
er deve ser referenciada desde a formação
o entendimento do militar sobre a importân- do militar, em especial dos futuros oficiais
cia de conservação, preservação e proteção das FA, levando-os à compreensão sobre
do meio ambiente e, consequentemente, os benefícios ao corpo humano (parâmetros
dos nossos recursos naturais, objeto de anatômicos, fisiológicos, bioquímicos e
reflexão em nível nacional (flora, fauna e sociais, entre outros). Isso, consequente-
riquezas naturais) das FA e, portanto, de mente, levará o militar a ter maior conscien-
toda a sociedade brasileira, em especial tização da necessidade de manter um perfil
das fronteiras secas, da Amazônia Azul e físico e mental adequado às exigências da
da Amazônia Verde. profissão, com repercussão sobre a família
Uma das mais significativas mudan- naval e o custo social.
ças ocorridas em ní- Ademais, uma visão
vel internacional, a
maior participação
Independentemente dos maior sobre a melhoria
da aptidão física, da
feminina no mercado resultados esportivos saúde, do desempe-
de trabalho, ainda em alcançados, há grandiosa nho profissional e da
1977, também acon- qualidade de vida deve
tece no meio militar contribuição proporcionada estar referenciada sob a
e na Navamaer, fato pela Navamaer para os orientação multidisci-
que reforça sua maior
abrangência nacio-
cadetes e aspirantes, que plinar, interdisciplinar
e transinterdisciplinar.
nal da 31a edição em devem ser bem preparados Por conseguinte, o mi-
diante. Atualmente, as na defesa dos interesses de litar, ao comandar, terá
mulheres disputam as pleno conhecimento e
modalidades de esgri- nossa nação plena competência para
ma, atletismo, pentatlo responder à altura às
militar, orientação e tiro. necessidades, responsabilidades e exigên-
Outro fator de destaque é a atuação cias e aos comprometimentos e anseios de
social das FA de norte a sul, um dos seus comandados.
principais agentes de fomento do esporte, De 2004 em diante, a Navamaer volta a
em eventos como a Navamaer, o TFM e acontecer em sistema de rodízio em cada
de promoção da cidadania. A entrada de uma das escolas militares, sendo realizada
jovens no serviço militar voluntário nas a sua 45a edição em 2011, nas dependências
FA e a implantação de convênios e/ou de da EN. Neste mesmo ano, a Escola Naval
parcerias entre as FA e instituições públicas teve a oportunidade de sediar as competi-

RMB3oT/2013 147
A NAVAMAER E O ESPORTE NO MEIO MILITAR PROMOVENDO FORMAÇÃO, CONSCIENTIZAÇÃO,
INTEGRAÇÃO E CULTURA DE PAZ

ções de vela dos 5o Jogos Mundiais Mili- perseverança, espírito de equipe, coopera-
tares – Cism 2011, o qual teve como lema: ção, superação, solidariedade, controle da
“Promover, por intermédio do esporte, a violência, tolerância, respeito mútuo, ética,
paz entre as nações”. prazer, liderança e justiça.
O que se constata é que a Navamaer Para tanto, tais atributos convergem-se
amplia sua abrangência a partir de 1998, para consolidar a cultura de paz tão ne-
independentemente da supremacia dos cessária à sociedade contemporânea, cada
resultados esportivos de uma escola sobre vez mais competitiva, embora não peculiar
as demais ao longo dos seus 73 anos, e desta cultura, mas extremamente necessá-
que acontece, princi- ria para se demandar
palmente, em razão de estratégias na busca
orientação de cunho No lema da Navamaer – de melhor convivência
filosófico adotada na “Amizade pelo Esporte” diante das adversidades
Educação Física e no oriundas do mundo glo-
esporte, do grande nú-
– a tese do esporte, um balizado.
mero de militares e de dos maiores fenômenos da
atletas que ingressam sociedade contemporânea, CONCLUSÃO
nas instituições.
A visão do esporte ser um expressivo Portanto, a Navama-
se fortalece em decisão instrumento que se er, assim como o TFM
soberana do Cism sob nas escolas militares,
o slogan “Amizade
relaciona com diversas vem reforçar a tese do
pelo Desporto”. Nesse áreas de conhecimentos uso do esporte, simu-
sentido, a não realiza- e setores da atividade lacro da guerra, como
ção de contagem de ferramenta estratégica
pontos para determinar humana, sempre de valor à preparação
o vencedor no esporte empreendendo habilidades, integral e permanente
militar em nível mun-
dial passa a ser uma
atitudes, valores e ética do militar, indepen-
dentemente do empre-
referência na Nava- go cada vez maior de
maer ao nortear a conduta esportiva. Isso tecnologias avançadas aplicadas à arte
determina a valorização, acima de tudo, da da guerra. Atuando, ainda, como fator de
celebração e da confraternização no esporte mudança de hábitos e de comportamen-
para todos, pois, independentemente dos re- tos, a Navamaer pode servir no auxílio ao
sultados esportivos alcançados, há grandiosa diálogo e na construção de processos de
contribuição proporcionada pela Navamaer cooperação, antes de se tornarem guerras e
para os cadetes e aspirantes, que devem ser destruições, contribuindo para a paz.
bem preparados na defesa dos interesses de Por conseguinte, o emprego do esporte
nossa nação. se fortalece, utilizado quer na formação, no
A Navamaer, no limiar do século XXI, desempenho ou no lazer, com foco na pre-
de acordo com princípios positivos orienta- paração do militar para atuar nas missões
dores do esporte contemporâneo, contribui e intervenções militares (humanitárias, de
para o enfrentamento de desafios diante garantia da lei e da ordem [GLO] das For-
da nova visão de vida, por constituir-se ças Armadas brasileiras, de fazer e manter
em uma escola de atributos como honra, a paz, iniciadas desde a década de 1950),

148 RMB3oT/2013
A NAVAMAER E O ESPORTE NO MEIO MILITAR PROMOVENDO FORMAÇÃO, CONSCIENTIZAÇÃO,
INTEGRAÇÃO E CULTURA DE PAZ

sob a égide da ONU e da Organização dos tese do esporte, um dos maiores fenômenos
Estados Americanos (OEA). da sociedade contemporânea, ser um ex-
O que deve se compreender é que a pressivo instrumento que se relaciona com
Navamaer, ao contemplar variada gama diversas áreas de conhecimentos e setores
de modalidades, se converte numa es- da atividade humana, sempre empreenden-
tratégia de promoção sustentável para se do habilidades, atitudes, valores e ética. Por
repensar os conceitos de atividade física isso, ele contribui na formação integrada
e performance física, mental e intelectual, do militar por seus atributos referenciarem
sempre com a intenção de prover maior o desenvolvimento da cultura de paz, da
responsabilidade socioambiental a partir saúde, do desempenho profissional e da
do esporte. qualidade de vida, favorecendo-o no aten-
Finalmente, evidencia-se no lema da dimento de seus iminentes enfrentamentos
Navamaer – “Amizade pelo Esporte” – a e futuros desafios do século XXI.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<educação>; Escola Naval; Escola Militar; Academia da Força Aérea; Esporte; Preparo
do Homem; Educação física;

BIBLIOGRAFIA

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado,
1998.
DE MASSI, D. O Ócio Criativo. 2. ed, Rio de Janeiro: Sextante, 2000.
ELIAS, N; DUNNING, E. A Busca da Excitação. São Paulo: Difel, 1992.
GARRIDO, F. A. C. As Práticas Físicas na Marinha do Brasil. Doutorado da Escola de Guerra Naval.
Monografia de Final de Curso. Rio de Janeiro, 2004.
GARRIDO, F. A. C.; TUBINO, F.; TUBINO. M. J. G. Dicionário Enciclopédico Tubino do Esporte.
Rio de Janeiro: Senac, 2007.
GUILHEM, H. A. Conselho aos Jovens Oficiais. 2. ed. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação
da Marinha, 1981.
MARINHA DO BRASIL. O Almirante Harold R. Cox: um notável oficial da Marinha do Brasil
(1892-1967). Rio de Janeiro, 1973.
REVISTA A GALERA. Escola Naval. Ano XVI, 1941.
______. Escola Naval. Ano, 1943.
______. Escola Naval. Ano, 1988.
REVISTA CONFEF. “5o Jogos Mundiais Militares Rio 2011”. Rio de Janeiro, Ano IX, no 35 mar
2010, p. 5.
TUBINO, M. J. G.; SILVA, K. M. Esporte e Cultura de Paz. Rio de Janeiro: Shape, 2006.
VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 10. ed. – São Paulo: Atlas, 2009.
VILLAR, F. Breviário da Educação Moral, Cívica, Social e Militar. Rio de Janeiro: Ministério da
Marinha, 1959.

RMB3oT/2013 149
A COMPETÊNCIA DO JULGAMENTO DE CRIMES
DOLOSOS CONTRA A VIDA DE CIVIS QUANDO
COMETIDOS NA DEFESA DA LEI E DA ORDEM

GABRIELA ALARCON GUILHERME FERNANDES


Advogada*

SUMÁRIO

Introdução
Da Justiça Militar
Da Divisão da Justiça Militar
Da Lei nº 9.299, de 7 de agosto de 1996
Do emprego das Forças Armadas na Defesa da Lei e da Ordem
Da Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999
Da garantia da lei e da ordem em sentido estrito
Do Decreto nº 3.897, de 24 de agosto de 2001
Instrumentalização da decisão do Presidente da República no emprego das
Forças Armadas na Defesa da Lei e da Ordem
Lei Complementar nº 136, de 25 de agosto de 2010, evolução legal e
aparente conflito de normas
Conclusão

Introdução Federativa do Brasil de 1988 (CRFB),


foi amplamente regulamentado pela Lei

O emprego das Forças Armadas na


defesa da lei e da ordem, previsto
no art. 142 da Constituição da República
Complementar nº 97, de 9 de junho de
1999 (LC 97/99), que, originariamente,
previa a competência do julgamento de
* Advogada militante no Rio de Janeiro. Especialista em Direito Militar pela Universidade Estácio de Sá – Rio
de Janeiro, em 2013.
crimes cometidos em tais ações, de acordo lei, sejam eles praticados por militares
com o disposto no art. 9º do Código Penal das Forças Armadas ou por civis. Por sua
Militar (CPM). Assim, os crimes dolosos vez, a Justiça Militar Estadual tem seu
contra a vida de civis, quando praticados fundamento constitucional no art. 125,
por militares das Forças Armadas, seriam § 3º, que autoriza sua criação por lei
julgados pelo Tribunal do Júri. estadual mediante proposta do Tribunal
A Lei Complementar nº 136, de 25 de de Justiça.
agosto de 2010 (LC 136/2010), trouxe O art. 125, § 4º, da CRFB, estabelece
significativas alterações à LC 97/99, que a competência da Justiça Militar
sendo a que ocorreu no art. 15, § 7º, o Estadual restringe-se a processar e julgar
objeto deste estudo. Nesse ponto, como militares do Estado, nos crimes militares
será demonstrado, passou-se a prever definidos em lei, e as ações judiciais contra
que a competência dos crimes cometidos atos disciplinares militares, ressalvada a
em tais operações é, agora, da Justiça competência do Tribunal do Júri quando
Militar da União e não mais do Tribunal a vítima for civil, cabendo ao tribunal
do Júri. competente decidir sobre a perda do posto
Analisar-se-á essa alteração legal, a fim e da patente dos oficiais e da graduação
de se verificar a competência jurisdicional das praças.
nesses casos e demonstrar-se-á as diversas
correntes doutrinárias e jurisprudenciais Da Lei nº 9.299, de 7 de agosto
que versam sobre o tema, buscando-se de 1996
adequá-las à nova realidade do ordena-
mento jurídico. A Lei nº 9.299, de 7 de agosto de 1996
(Lei 9.299/96), transferiu a competência
Da Justiça Militar jurisdicional do julgamento dos crimes
dolosos contra a vida de civis, quando
A Justiça Militar teve sua primeira praticados por militares, nas hipóteses do
previsão constitucional em 1891 (art. 77), art. 9º do CPM, da Justiça Militar para a
mantendo-se presente nas Constituições Justiça Comum (Tribunal do Júri).
de 1934 (art. 63, c), de 1937 (art. 90, c), de A referida lei teve como objetos os arts.
1946 (art. 94, III), de 1967 (art. 112, III). 9º do CPM e 82 do Código de Processo
Atualmente, a Justiça Militar está prevista Penal Militar (CPPM). Na época, não ha-
no artigo 92, VI, da CRFB. “Art. 92. São via a previsão no art. 125, § 4º, da CRFB,
órgãos do Poder Judiciário: ... VI – os Tri- que, atualmente, ao tratar da Justiça Militar
bunais e Juízes Militares;” Estadual, prevê a competência da justiça
comum para crimes dolosos contra a vida
Da divisão da Justiça de civis. De acordo com a Doutrina, capi-
Militar taneada por Célio Lobão (2006:138), isso
representava uma flagrante inconstitucio-
A Justiça Militar divide-se em Fe- nalidade que os tribunais recusaram-se a
deral (da União) e Estadual. A Justiça reconhecer.
Militar da União (JMU) tem previsão no Em 2001, antes da Emenda Constitu-
art. 122 da CRFB. Segundo o art. 124 cional 45, de 30 de dezembro de 2004 (EC
da CRFB, compete à JMU processar e 45/2004), que instituiu a reforma do Poder
julgar os crimes militares definidos em Judiciário, o Supremo Tribunal Federal
A COMPETÊNCIA DO JULGAMENTO DE CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA DE CIVIS QUANDO COMETIDOS
NA DEFESA DA LEI E DA ORDEM

(STF) declarou constitucional o parágrafo julgar militares federais. Trata-se de


único do art. 9º do CPM introduzido pela entendimento combatido pelo Superior
Lei 9.299/961. Tribunal Militar (STM), tendo em vista
De qualquer forma, com a EC que a previsão constitucional é expressa
45/2004, o texto constitucional passou e restrita apenas para a justiça estadual
a prever a ressalva quanto aos crimes (Recurso em Sentido Estrito 0000249-
dolosos praticados contra a vida de civis 56.2010.7.05.0005 Paraná. Relator: Min.
no que tange à Justiça Militar Estadual. Fernando Sérgio Galvão. Julgamento:
É importante lembrar que a referida lei, 15/9/2011).
ainda enquanto projeto de lei, tinha por O STM defende que não existe previsão
objetivo combater os inúmeros abusos constitucional para retirar da JMU a com-
cometidos pelas Polícias Militares petência jurisdicional nessas hipóteses e,
estaduais; entretanto, a aplicação, que em sentido contrário, o STF defende que
deveria ser apenas para os militares es- a própria CRFB, em seu art. 124, deixa a
taduais, foi estendida aos militares das cargo da lei a definição dos crimes milita-
Forças Armadas. res e, dessa forma, haveria a exclusão da
Pode-se notar que, ainda hoje, a competência da justiça castrense tanto na
previsão para a competência do júri esfera estadual quanto na federal.
consta apenas no art. 125 da CRFB, não
havendo nenhuma alusão ao Tribunal do Do emprego das Forças
Júri no que tange à JMU. Porém, como Armadas na Defesa da Lei e
houve a alteração do art. 9 do CPM, que da Ordem
é um instrumento de aplicação tanto da
JMU quanto da Justiça Militar Estadual, A CRFB, em seu artigo 142, dispõe
acredita-se que o júri é competente para sobre a destinação das Forças Armadas. Na

1 EMENTA: Recurso extraordinário. Alegação de inconstitucionalidade do parágrafo único do artigo 9º do Código


Penal Militar introduzido pela Lei 9.299, de 7 de agosto de 1996. Improcedência. No artigo 9º do Código
Penal Militar, que define quais são os crimes que, em tempo de paz, se consideram como militares, foi inserido
pela Lei 9.299, de 7 de agosto de 1996, um parágrafo único que determina que “os crimes de que trata este
artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil, serão da competência da justiça comum”. Ora,
tendo sido inserido esse parágrafo único em artigo do Código Penal Militar que define os crimes militares em
tempo de paz, e sendo preceito de exegese (assim, CARLOS MAXIMILIANO, Hermenêutica e Aplicação do
Direito, 9a ed., nº 367, ps. 308/309, Forense, Rio de Janeiro, 1979, invocando o apoio de WILLOUGHBY)
o de que “sempre que for possível sem fazer demasiada violência às palavras, interprete-se a linguagem da
lei com reservas tais que se torne constitucional a medida que ela institui, ou disciplina”, não há demasia
alguma em se interpretar, não obstante sua forma imperfeita, que ele, ao declarar, em caráter de exceção,
que todos os crimes de que trata o artigo 9º do Código Penal Militar, quando dolosos contra a vida pratica-
dos contra civil, são da competência da justiça comum, os teve, implicitamente, como excluídos do rol dos
crimes considerados como militares por esse dispositivo penal, compatibilizando-se assim com o disposto
no caput do artigo 124 da Constituição Federal. Corrobora essa interpretação a circunstância de que, nessa
mesma Lei 9.299/96, em seu artigo 2º, se modifica o caput do artigo 82 do Código de Processo Penal Militar
e se acrescenta a ele um § 2º, excetuando-se do foro militar, que é especial, as pessoas a ele sujeitas quando
se tratar de crime doloso contra a vida em que a vítima seja civil, e estabelecendo-se que nesses crimes “a
Justiça Militar encaminhará os autos do inquérito policial militar à justiça comum”. Não é admissível que se
tenha pretendido, na mesma lei, estabelecer a mesma competência em dispositivo de um Código – o Penal
Militar – que não é o próprio para isso e noutro de outro Código – o de Processo Penal Militar – que para isso
é o adequado. Recurso extraordinário não conhecido. (Recurso Extraordinário 260404-6 MINAS GERAIS.
Relator: Min. Moreira Alves. Julgamento: 22/3/2001. Órgão Julgador: Tribunal Pleno)

152 RMB3oT/2013
A COMPETÊNCIA DO JULGAMENTO DE CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA DE CIVIS QUANDO COMETIDOS
NA DEFESA DA LEI E DA ORDEM

lição de José Afonso da Silva2 (2002:748), 2) Atuação contra delitos transfrontei-


as Forças Armadas destinam-se à defesa da riços e ambientais, na faixa de fronteira
Pátria, à garantia dos poderes constitucio- terrestre, no mar e em águas interiores
nais e à defesa da lei e da ordem. (art. 16-A, da LC 97/99, cuja diretriz de
Ao prever a “defesa da lei e da ordem”, o emprego encontra-se no Decreto nº 7.496,
art. 142, em sua parte final, estabelece uma de 8 de junho de 2011);
destinação secundária às Forças Armadas, 3) Patrulha Naval (art. 17, inciso IV,
haja vista que aos órgãos responsáveis pela da LC 97/99, cuja diretriz de emprego
segurança pública, previstos no art. 144 da encontra-se no Decreto nº 5.129, de 6 de
CRFB, cabe a atribuição primária da defesa julho de 2004); e
da lei e da ordem. Esta atribuição secundá- 4) Medidas de controle aéreo (art. 18,
ria das Forças Armadas refere-se às ativida- inciso VII, da LC 97/99, cuja diretriz de
des preventivas e repressivas de imposição emprego se encontra no Decreto 5.144, de
do ordenamento jurídico pátrio, a fim de 16 de julho de 2004).
manter a ordem pública caracterizada pela Haja vista a atribuição primária dos
pacífica convivência social. Ressalta-se a órgãos de segurança pública e a atribuição
iniciativa dos representantes dos poderes secundária das Forças Armadas, na defe-
constitucionais e a determinação do empre- sa da lei e da ordem, e que não existem
go pelo Presidente da República, conforme normas constitucionais inconstitucionais,
previsto no art. 84, inciso XIII, da CRFB. quando oriundas do poder constituinte
originário, deve o intérprete compatibilizar
Da lei complementar nº 97, estas normas aparentemente contraditórias,
de 9 de junho de 1999 reconhecendo às Forças Armadas esta
atribuição secundária de Defesa da Lei e
A LC 97/99, dando cumprimento à da Ordem, ou Garantia da Lei e da Ordem
disposição constitucional do § 1º do artigo em seu sentido amplo, que seria gênero das
142, regulamenta o emprego das Forças Ar- espécies elencadas a partir do § 1º, do art.
madas, a partir do seu art. 15. A referida lei 15 da LC 97/99.
complementar prevê o emprego das Forças
Armadas na defesa da lei e da ordem, em Da garantia da lei e da
várias hipóteses. Citam-se, entre outras: ordem em sentido estrito
1) Garantia da Lei e da Ordem em sen-
tido estrito (§§ 1º ao 6º, do art. 15, da LC Tendo em vista que o emprego das Forças
97/99, cuja diretriz de emprego encontra- Armadas na garantia da lei e da ordem em
se no Decreto nº 3.897, de 24 de agosto sentido estrito aproxima-se da atuação das
de 2001); Polícias Militares estaduais, é importante

2 A Constituição vigente abre a elas um capítulo do Título V sobre a defesa do Estado e das instituições democráticas
com a destinação acima referida, de tal sorte que sua missão essencial é a da defesa da Pátria e a garantia dos
poderes constitucionais, o que vale dizer defesa, por um lado, contra agressões estrangeiras em caso de guerra
externa e, por outro lado, defesa das instituições democráticas, pois a isso corresponde a garantia dos poderes
constitucionais, que, nos termos da Constituição, emanam do povo (art. 1º, parágrafo único). Só subsidiária
e eventualmente lhes incumbe a defesa da lei e da ordem, porque essa defesa é de competência primária das
forças de segurança pública, que compreendem a Polícia Federal e as Polícias Civil e Militar dos Estados
e do Distrito Federal. Sua interferência na defesa da lei e da ordem depende, além do mais, de convocação
dos legítimos representantes de qualquer dos poderes federais: presidente da Mesa do Congresso Nacional,
Presidente da República ou presidente do Supremo Tribunal Federal (grifos do autor).

RMB3oT/2013 153
A COMPETÊNCIA DO JULGAMENTO DE CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA DE CIVIS QUANDO COMETIDOS
NA DEFESA DA LEI E DA ORDEM

que se faça a análise desta hipótese de em- da operação, prevista nos parágrafos 5º e 6º,
prego, pois tal situação ocasiona um maior só ocorrerá quando necessária.
risco de que os militares federais venham a
responder judicialmente por cometimento de Do Decreto nº 3.897, de 24 de
crimes dolosos contra a vida de civis. agosto de 2001
No que tange ao emprego das Forças
Armadas na Garantia da Lei e da Ordem As diretrizes baixadas em ato do Presi-
em sentido estrito, doravante denominada dente da República, previstas no parágrafo
Garantia da Lei e da Ordem (GLO), a LC 2º, estão no Decreto nº 3.897, de 24 de agosto
97/99, elaborada com fundamento no art. de 2001 (Decreto 3.897/2001), que trata da
142, § 1º, da CRFB, em seu art. 15, do § 1º GLO. Assim, a análise dos dispositivos mais
ao § 6º, regulamenta esse emprego. importantes do referido decreto deve ser
A LC 97/99, em seu art. 15, parágrafos realizada, haja vista que o mesmo detalha a
1º ao 3º, dispõe que, quando os órgãos de aplicação das normas previstas na LC 97/99.
segurança pública encontrarem-se esgota- O parágrafo 2º, artigo 2º, do Decreto
dos (indisponíveis, inexistentes ou insu- 3.897/2001 prevê a hipótese de solicita-
ficientes), o emprego ção de governador de
das Forças Armadas Estado para o emprego
na GLO dar-se-á por Um mito que deve ser das Forças Armadas
determinação do Pre- expurgado é o de que, para em GLO. Tal solicita-
sidente da República, ção ficou clara tanto na
por iniciativa própria configurar emprego na operação realizada nos
ou em atendimento a GLO, as Forças Armadas Complexos da Penha
pedido dos represen- e do Alemão (Diretriz
tantes legítimos dos deverão desenvolver Ministerial nº 14/2010)
outros poderes cons- atividades de polícia quanto na do Morro de
titucionais. Ressalta- ostensiva São Carlos (Diretriz
se que o legislador Ministerial nº 02/2011),
infraconstitucional ambas realizadas no
considera como representantes do Poder Estado do Rio de Janeiro.
Legislativo tanto o presidente da Câmara Um mito que deve ser expurgado é o
dos Deputados quanto o presidente do de que, para configurar emprego na GLO,
Senado Federal. as Forças Armadas deverão desenvolver
O parágrafo 4º estabelece que as ações de atividades de polícia ostensiva. Estas só
caráter preventivo e repressivo das Forças irão atuar desta forma quando for neces-
Armadas ocorrerão de forma episódica, em sário, conforme previsto no art. 3º do Dec.
área previamente estabelecida e por tempo 3.897/2001. Desse modo, uma mera coo-
limitado; porém, curiosamente, não estabelece peração já configuraria atuação das Forças
um limite máximo de tempo. Não se vislumbra Armadas em GLO. O art. 7º, I, f, do Dec.
nenhuma inconstitucionalidade, pois as insti- 3.897/2001 explicita esta hipótese.
tuições democráticas não foram atingidas e não Esta possibilidade de cooperação previs-
há restrição ou suspensão de nenhuma garantia ta no Decreto de GLO é a solução jurídica
constitucional. Observa-se que a transferência aplicável às Forças Armadas para que co-
do controle operacional dos órgãos de segu- operem com órgãos de todas as esferas da
rança pública para a autoridade encarregada administração pública envolvidos.

154 RMB3oT/2013
A COMPETÊNCIA DO JULGAMENTO DE CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA DE CIVIS QUANDO COMETIDOS
NA DEFESA DA LEI E DA ORDEM

Instrumentalização da O antigo § 7o dispunha:


decisão do Presidente da Art. 15 (...)
República no emprego das § 7o O emprego e o preparo das Forças
Forças Armadas na Defesa Armadas na garantia da lei e da ordem
da Lei e da Ordem são considerados atividade militar para
fins de aplicação do art. 9o, inciso II,
Como forma de facilitar a caracterização alínea c, do Decreto-Lei no 1.001, de
do emprego das Forças Armadas por deci- 21 de outubro de 1969 – Código Penal
são do Presidente da República, o Decreto Militar (destaque nosso).
3.897/2001, em seus arts. 6º e 7º, explicita A LC 136/2010 deu nova redação ao §
o procedimento. 7o, qual seja:
Observa-se que a decisão presidencial § 7o A atuação do militar nos casos
é instrumentalizada em documento oficial, previstos nos arts. 13, 14, 15, 16-A, nos
elaborado pelo Gabinete de Segurança incisos IV e V do art. 17, no inciso III
Institucional da Presidência da República, do art. 17-A, nos incisos VI e VII do
e comunicada ao ministro de Estado da art. 18, nas atividades de defesa civil a
Defesa, que, por sua vez, irá empregar as que se refere o art. 16 desta Lei Com-
Forças Armadas em operações decorrentes plementar e no inciso XIV do art. 23
desta decisão. A determinação do efetivo da Lei no 4.737, de 15 de julho de 1965
emprego é feita pelo ministro de Estado da (Código Eleitoral), é considerada ativi-
Defesa por meio de Diretrizes Ministeriais. dade militar para os fins do art. 124 da
Constituição Federal (destaque nosso).
Lei complementar nº 136,
de 25 de agosto de 2010, Apesar da alteração do texto, de acordo
evolução legal e aparente com a promotora de Justiça Militar Ângela
conflito de normas Montenegro Taveira3 (2011:57-58), não
houve modificações significativas em sua
A LC 136/2010 trouxe significativas aplicação.
mudanças na LC 97/99, entre elas a que Ousa-se discordar do entendimento da
consta do art. 15, § 7o. Observa-se que o representante do Parquet, que interpretou
objetivo foi deixar explícita a competência a nova norma na mesma esteira da norma
da JMU para a persecução penal militar de revogada. Observa-se que o legislador
fatos decorrentes dos casos previstos no re- buscou uma aproximação ao entendimento
ferido parágrafo. Para fins de comparação, do egrégio STM ao colocar, sem exceção,
demonstra-se a evolução da norma. todas as ações decorrentes de operações
3 A principal consequência dessa nova disposição legal contida no § 7° do art. 15 da LC n° 97/99 é que as autoridades
militares no comando das operações, assim como seus subordinados, ficam submetidas ao controle externo
do Ministério Público Militar, titular da ação penal e destinatário final de qualquer investigação criminal
decorrente dessas atividades. Igualmente, o processo criminal eventualmente deflagrado será processado e
julgado perante a Justiça Militar da União com recurso para o Superior Tribunal Militar.
(...)
Há que considerar que todos os militares federais, no cumprimento de missões atinentes à garantia dos poderes
constitucionais e à garantia da lei e da ordem, mormente em atuação subsidiária à das atribuições da Polícia
Militar e Federal, estão sujeitos aos ditames da Lei 9.299/96. Na hipótese de seus componentes cometerem
um crime tipificado como homicídio doloso, serão julgados na justiça comum, perante um júri popular. A
única exceção a essa regra está no próprio enunciado do parágrafo único do artigo 9° do CPM e diz respeito
à ação militar realizada pela Força Aérea Brasileira na defesa e no controle do espaço aéreo, já comentado.

RMB3oT/2013 155
A COMPETÊNCIA DO JULGAMENTO DE CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA DE CIVIS QUANDO COMETIDOS
NA DEFESA DA LEI E DA ORDEM

previstas no parágrafo 7o, do art. 15 da LC contra civil serão da competência da justiça


97/99 sob o véu da competência da JMU. comum” não prevalecerão quando se estiver
Diferentemente da norma antiga, a com- diante das hipóteses previstas pelo § 7º, do art.
petência jurisdicional decorre de expressa 15, da LC 97/99, alterada pela LC 136/2010,
remissão ao artigo 124 da CRFB, tornando ou seja, na hipótese de “atuação do militar
desnecessária a adequação ao art. 9º do nos casos previstos nos arts. 13, 14, 15, 16-
CPM, inclusive para os crimes dolosos A, nos incisos IV e V do art. 17, no inciso III
contra a vida de civis. do art. 17-A, nos incisos VI e VII do art. 18,
Em relação à exceção feita à atuação da nas atividades de defesa civil a que se refere
Força Aérea durante operações de defesa o art. 16 desta Lei Complementar e no inci-
e controle do espaço aéreo, citada pela so XIV do art. 23 da Lei no 4.737, de 15 de
promotora, entende-se ser esta desneces- julho de 1965 (Código Eleitoral)”, que será
sária, haja vista o disposto no art. 15, § 7º, “considerada atividade militar para os fins do
LC 97/99. art. 124 da Constituição Federal”.
Em relação ao aparente conflito entre as Para corroborar este raciocínio, analisar-
normas previstas no art. 9º, parágrafo único, se-á a norma prevista na parte final do
primeira parte, “os crimes de que trata este parágrafo único do art. 9º do CPM, inserida
artigo quando dolosos contra a vida e co- pela Lei nº 12.342, de 29 de junho de 20114.
metidos contra civil serão da competência Verifica-se que, tanto na alteração do
da justiça comum,” e no art. 15, § 7º, da CPM realizada pela Lei 12.432/2011, quan-
LC 97/99, Norberto Bobbio (1999:92-93) to na alteração realizada pela LC 136/2010,
leciona que o critério cronológico prevê que o Poder Legislativo encontrou-se diante
lei posterior revoga lei anterior. da necessidade de afastar determinadas
O art. 9º, parágrafo único, primeira par- hipóteses que envolvessem militares da
te, trata-se de norma inserida no CPM pela União da competência da Justiça Comum.
Lei 9.299/96, que sofreu recente alteração Ao observar as datas dos referidos proje-
e, como será demonstrado adiante, desne- tos de lei, verifica-se que esta necessidade
cessário acréscimo pela Lei nº 12.432, de apresentou-se no mesmo ano, com um
29 de junho de 2011 (Lei 12.432/2011). Já a lapso temporal de menos de sete meses. A
norma prevista no art. 15, § 7º, da LC 97/99, lei ordinária teve seu Projeto de Lei apre-
foi inserida pela LC 136/2010, alterando sentado no Senado em 26 de maio de 2009,
significantemente norma anterior prevista enquanto a Lei Complementar teve seu
no mesmo dispositivo legal. Projeto de Lei Complementar, na Câmara,
Assim, a partir de uma simples análise, em 8 de dezembro de 2009.
verifica-se um lapso temporal de quase 15 Porém a diferença cabal reside no âmbi-
anos entre as duas normas (Lei 9.299/96 e LC to de aplicação da exceção à competência
136/2010), demonstrando que os crimes de da Justiça Comum. Na norma inserida
que trata o artigo 9º do Código Penal Militar diretamente no parágrafo único do art. 9º
“quando dolosos contra a vida e cometidos do Código Penal Militar, apenas os milita-

4 Art. 9º Consideram-se crimes militares em tempo de paz:


(...)
Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil,
serão da competência da justiça comum, salvo quando praticados no contexto de ação militar realizada
na forma do art. 303 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 – Código Brasileiro de Aeronáutica”.
(destaque nosso)

156 RMB3oT/2013
A COMPETÊNCIA DO JULGAMENTO DE CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA DE CIVIS QUANDO COMETIDOS
NA DEFESA DA LEI E DA ORDEM

res da Força Aérea Brasileira, quando em analisar-se-á a natureza jurídica das ati-
atuação na atribuição subsidiária particular, vidades de polícia acima explicitadas.
prevista no art. 18, inciso VII, da LC 97/99, Neste ponto é relevante trazer ao estudo a
não estão sujeitos a serem processados pela brilhante e didática lição de José Afonso
Justiça Comum. Já na norma inserida no § da Silva (2002:754-755):
7º, do art. 15, da LC 97/99, os militares da A palavra polícia correlaciona-se com
União envolvidos em situações de preparo e a segurança. Vem do grego polis, que
situações de emprego das Forças Armadas, significava o ordenamento político do
exceto nas ações de cooperar com o desen- Estado. ‘Aos poucos [lembra Hélio
volvimento nacional, não estão sujeitos à Tornaghi], polícia passa a significar
competência da Justiça Comum. a atividade administrativa tendente a
Quando houve a opção de alterar o texto assegurar a ordem, a paz interna, a har-
do § 7º, do art. 15, da LC 97/99, de “para monia e, mais tarde, o órgão do Estado
fins de aplicação do art. 9o, inciso II” por que zela pela segurança dos cidadãos.’
“para os fins do art. 124 da Constituição Acrescenta que polícia, sem qualificati-
Federal”, o operador do Direito ficou li- vo, ‘designa hoje em dia o órgão a que
berado de analisar a adequação ao art. 9º se atribui, exclusivamente, a função
do CPM para verificar a competência da negativa, a função de evitar a alteração
JMU. O objetivo atual é complementar o da ordem jurídica’.
mandamento constitucional previsto no art. A atividade de polícia realiza-se de vá-
124 da CRFB diretamente pela LC 97/99. rios modos, pelo que a polícia se distin-
Soluciona-se também a questão por meio gue em administrativa e de segurança,
da hermenêutica jurídica, pela utilização esta compreende a polícia ostensiva e a
dos métodos de interpretação teleológico polícia judiciária. A polícia adminis-
e sistemático, tendo em vista as lições de trativa tem ‘por objeto as limitações
Luís Roberto Barroso (2001:135, 137-138). impostas a bens jurídicos individuais’
Em relação ao primeiro, observa-se que o (liberdade e propriedade). A polícia de
fim buscado pela norma foi o de, conforme segurança, que, em sentido estrito, é a
demonstrado acima, englobar, sem exceção, polícia ostensiva, tem por objetivos a
todas as hipóteses previstas no art. 15, § 7º, preservação da ordem pública e, pois,
LC 97/99. Em relação ao método de intepre- ‘as medidas preventivas que em sua
tação sistemático, é teratológico imaginar prudência julga necessárias para evitar o
que um militar da Força Aérea Brasileira dano ou o perigo para as pessoas’. Mas,
(FAB) que vier a cometer um crime contra apesar de toda vigilância, não é possível
a vida de civil numa operação de medidas evitar o crime, sendo, pois, necessária a
de controle aéreo seja julgado pela JMU e existência de um sistema que apure os
o mesmo tratamento não seja conferido ao fatos delituosos e cuide da perseguição
militar da Marinha do Brasil envolvido em aos seus agentes. Esse sistema envolve
situação semelhante, durante uma operação as atividades de investigação, de apu-
de implementação e fiscalização de leis ração das infrações penais, a indicação
e regulamentos no mar (Patrulha Naval), de sua autoria, assim como o processo
quando ambas as hipóteses estão previstas judicial pertinente à punição do agente.
como sendo objeto da competência da JMU. É aí que entra a polícia judiciária, que
Visando tornar o raciocínio mais claro, tem por objetivo precisamente aquelas
sob o viés da interpretação sistemática, atividades de investigação, de apuração

RMB3oT/2013 157
A COMPETÊNCIA DO JULGAMENTO DE CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA DE CIVIS QUANDO COMETIDOS
NA DEFESA DA LEI E DA ORDEM

das infrações penais e de indicação de Verificou-se que, após as recentes alte-


sua autoria, a fim de fornecer os elemen- rações no ordenamento jurídico aplicável
tos necessários ao Ministério Público em ao preparo e emprego das Forças Armadas,
sua função repressiva das condutas cri- esse posicionamento do STM, alvo de
minosas, por via de ação penal pública. diversas revisões pelo STF, é agora expli-
citamente amparado, ou seja, há expressa
Observa-se que tanto as medidas de disposição legal que fixa a competência da
controle aéreo quanto as de Patrulha Naval Justiça Militar da União quando da prática
nada mais são do que concretizações da desses crimes por militares federais, em
atribuição de exercer a atividade de polícia hipóteses específicas.
de segurança ostensiva por estas forças Por força constitucional, as Forças
singulares, nos seus ambientes de vocação Armadas, sob a autoridade suprema do
originários, na defesa da lei e da ordem. Presidente da República, destinam-se pri-
Percebe-se que a natureza do poder de meiramente à defesa da Pátria e à garantia
polícia utilizado nas medidas de controle dos poderes constitucionais. De forma
aéreo é a mesma da Patrulha Naval. Assim, subsidiária e eventualmente, cabe àquelas
seria uma incongruência aplicar a justiça a defesa da lei e da ordem. Observou-se
comum para os crimes cometidos por que lei complementar regulamentou o
militares da MB, e a JMU para os crimes preparo e emprego das Forças Armadas e
cometidos por militares da FAB, tendo que, por meio de alterações recentes, esse
em vista que ambas estariam exercendo instrumento legal passou a estabelecer, di-
a mesma função de polícia de segurança retamente, as hipóteses sob a competência
ostensiva. da Justiça Militar da União.
A única maneira de acabar com esse dis- Tendo em vista que as normas devem
parate jurídico é aplicar o raciocínio acima ser interpretadas atendendo ao seu espírito
apresentado, sendo desnecessária a criação e à sua finalidade, e o dispositivo legal deve
de uma nova exceção no art. 9º, parágrafo ser interpretado dentro de um contexto
único, do CPM, tendo em vista o já previsto normativo, demonstrou-se que a atuação
pela norma do art. 15, § 7º, da LC 97/99. do militar federal, nas hipóteses trazidas
pela lei complementar supracitada, é con-
Conclusão siderada atividade militar para os fins da
aplicação da competência da Justiça Militar
A Justiça Militar é dividida em Justiça da União, inclusive no caso de crime doloso
Militar da União e Justiça Militar Estadu- contra a vida de civil.
al, caracterizando duas esferas distintas. Observou-se que outra premissa a ser
Demonstrou-se a divergência jurispru- utilizada é a impessoalidade, que deve ser
dencial afeta à fixação de competência deferida aos militares das Forças Armadas
jurisdicional para o crime doloso contra que se encontrem em situações semelhan-
a vida de civil praticado por militar. Para tes, caracterizadoras do emprego das Forças
o STM, por expressa disposição constitu- Armadas na defesa da lei e da ordem. Se as
cional, esse fato deixou de ser objeto da atividades desenvolvidas possuem a mesma
competência da Justiça Militar somente natureza jurídica, os crimes dolosos contra
na esfera estadual. Já para o STF, esta é a a vida de civil ocorridos, por exemplo, tanto
realidade tanto na esfera estadual quanto na área de controle aéreo, expressamente
na esfera federal. excepcionada na legislação que define os

158 RMB3oT/2013
A COMPETÊNCIA DO JULGAMENTO DE CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA DE CIVIS QUANDO COMETIDOS
NA DEFESA DA LEI E DA ORDEM

crimes militares, quanto na de patrulha os militares federais que venham a cometer


naval, devem ser objeto da competência crime doloso contra a vida de civil, em situ-
da JMU. ações específicas de preparo e emprego das
Assim, buscou-se demonstrar que, supe- Forças Armadas, estarão no exercício de
rando todas as divergências doutrinárias e atividade militar e sujeitos a serem julgados
jurisprudenciais que versam sobre o tema, pela Justiça Militar da União.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<POLÍTICA>; Justiça; Segurança Nacional; Lei; Polícia; Atividade subsidiária;

REFERÊNCIAS

BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição: fundamentos de uma dogmática


constitucional transformadora. 4a ed. São Paulo: Saraiva, 2001.
BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. 10a ed. Brasília: Editora Universidade de
Brasília, 1999.
______. Supremo Tribunal Federal. Tribunal Pleno. Recurso Extraordinário nº 260.404-6 Minas
Gerais. Recorrente: José Felicio da Silva e Tadeu do Espírito Santo. Recorrido: Ministério
Público Estadual. Relator: Ministro Moreira Alves. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/
paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=258778>. Acesso em 17 abr. 2013, 16:17:47.
______. Superior Tribunal Militar. Recurso em Sentido Estrito nº 0000249-45.2010.7.05.0005-PR.
Relator: Ministro Sérgio Galvão. Disponível em: <http://www.stm.gov.br/pesquisa/acor-
dao/2011/310/10001384/10001384.pdf>. Acesso em 17 abr. 2013, 16:23:32.
LOBÃO, Célio. Direito Penal Militar. 3a ed. Brasília: Brasília Jurídica, 2006.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 20ª ed, São Paulo, Malheiros, 2002.
TAVEIRA, Ângela Montenegro. O Poder de Polícia dos membros das Forças Armadas nas operações
de patrulhamento de fronteiras: limites e implicações com a segurança e o desenvolvimento
nacionais. Promotora da Justiça Militar Ângela Montenegro Taveira – Rio de Janeiro: ESG,
2011. Disponível em: <http://www.esg.br/uploads/2012/03/TAVEIRAAngela.pdf>. Acesso
em 17 abr. 2013, 16:11:43.

RMB3oT/2013 159
Moral e Ética:
apresentação e consolidação desses conceitos nas atividades
que envolvem a liderança militar no Colégio Naval

Rodrigo Monteiro Lázaro*


Capitão de Corveta

sumário

Introdução
Desenvolvimento
Conclusão

Introdução A liderança, no meio militar, exige daque-


les que exercem a função de chefia algumas

C onforme descrito na Doutrina de Li-


derança da Marinha – EMA-137, a
Marinha do Brasil (MB) caracteriza-se por
características intrínsecas ao perfil do líder.
Essas características podem ser denominadas
por atributos, sendo estes representados, de
ser uma instituição em que há o predomínio forma menos abstrata, por meio de compor-
de ações envolvendo o relacionamento tamentos ou ações que devem ser praticados
humano, visando ao cumprimento das e desenvolvidos ao longo do processo de
mais diferentes missões. Nesta complexa formação. Além da necessidade de possuir
realidade da prática do relacionamento uma competência técnica, o líder militar deve
interpessoal, destaca-se a eminente impor- ser detentor de uma capacitação pessoal, de-
tância do exercício da liderança, a fim de se monstrando caráter, valores e ética em todas
alcançarem altos índices de operabilidade, as suas ações e comportamentos, buscando
coesão e lealdade entre os nossos militares. angariar a confiança dos seus subordinados.
* Serve atualmente na Estação Radiogoniométrica de Rio Grande. Na ocasião em que escreveu este artigo era
imediato do Corpo de Alunos do Colégio Naval.
Moral e Ética: apresentação e consolidação desses conceitos nas atividades que envolvem a liderança militar no Colégio Naval

Inserido dentro da disciplina de Ins- termo grego ethos, apresentando-se inicial-


trução Militar-Naval, ministrada nos mente como sinônimo de costume, e que, a
três anos do Curso de Preparação de partir de um determinado momento, passou
Aspirantes do Colégio Naval (CN), o a representar o caráter de uma pessoa ou de
tema liderança vem sendo abordado a um grupo social.
fim de proporcionar a apresentação dos De acordo com a observação de Váz-
diversos conceitos teóricos envolvidos no ques2, o homem é “um ser que transforma
assunto e a sua consequente aplicação em conscientemente o mundo que o rodeia;
atividades práticas relacionadas ao Corpo que faz da natureza externa um mundo
de Alunos. à medida humana e que, desta maneira,
Este artigo propõe-se, então, a apre- transforma a sua própria natureza. Por
sentar uma exposição de pensamentos, conseguinte, o comportamento moral
decorrentes da observação do autor, não é a manifestação de uma natureza
sobre a importância da consolidação dos humana eterna e imutável dada de uma
conceitos de moral e ética, apresentados vez para sempre, mas de uma natureza
no CN, por meio do exercício da lideran- que está sempre sujeita ao processo de
ça aqui praticado, inserido no processo transformação que constitui precisamente
de formação de cidadãos e dos futuros a história da humanidade” (VÁZQUES,
oficiais. 1982, p. 17).
Tavares 3 (2009) ressalta que, em
Desenvolvimento função dessa dinâmica, as normas es-
tabelecidas devem ser constantemente
Algumas definições avaliadas. Em outras palavras, é preciso
fazer uma análise crítica a respeito das
Faz-se mister iniciarmos o presente ar- ações que estão mediando as relações
tigo apresentando as definições existentes entre os indivíduos, e desses com o grupo
de ética e moral, inseridas no contexto da social. A esse conjunto (normas, costumes
liderança militar. e experiências somadas) é dado o nome de
Definir ética não representa uma tarefa ethos, e a reflexão crítica a seu respeito
fácil, uma vez que as variantes que a cercam denomina-se ética.
são muitas. Celso Cândido1, ao falar sobre Ao falar da origem desses dois ter-
ética, afirma que essa expressão vem do mos – ética e ethos, Lima Vaz4 apresenta
1 Celso Cândido Azambuja possui graduação em Filosofia Bacharelado pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (1992), graduação em Filosofia Licenciatura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1990),
mestrado em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1997) e doutorado em Psicologia
(Psicologia Clínica) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2003). Atualmente é Professor
Adjunto II da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em
Ética, atuando principalmente nos seguintes temas: Hipermídia, Subjetividade, Ética, Política, Linguagem
e Conhecimento.
2 Adolfo Sánchez Vázques foi um filósofo, professor e escritor espanhol. Viveu exilado no México. Estudou
Filosofia na Universidade de Madrid. Foi para o México, em 1939, pois a Espanha enfrentava uma guerra
civil, durante a segunda república. Na Universidade Nacional Autônoma do México, obteve o doutorado em
Filosofia, conceituando-se em professor emérito da instituição.
3 Kleber da Silva Tavares é militar do Exército Brasileiro e Mestre em História Social das Relações Políticas.
4 Henrique Cláudio de Lima Vaz foi um padre jesuíta, professor, filósofo e humanista brasileiro. Fez seus estudos
filosóficos no antigo escolasticado dos jesuítas, em Nova Friburgo. Em 1945, foi para Roma estudar teologia
na Pontifícia Universidade Gregoriana e, em 1953, obteve o doutorado em Filosofia, na mesma universidade.
Trabalhou no magistério filosófico universitário durante quase 50 anos.

RMB3oT/2013 161
Moral e Ética: apresentação e consolidação desses conceitos nas atividades que envolvem a liderança militar no Colégio Naval

algumas questões pertinentes que mere- uma via de mão dupla que permite uma
cem ser mencionadas. Para ele, o termo permanente comunicação. Nesse caso, a
ethos, quando analisado em sua origem ética funcionaria como base de avaliação
semântica, apresenta duas acepções que de um determinado comportamento social.
o definem. Assim, a primeira acepção Como expõe Vázques, “a ética é uma te-
seria ethos, como costume: “O ethos oria de investigação ou explicação de um
designa a morada do homem. Ethos é a tipo de experiência humana ou forma de
casa do homem. O homem habita sobre comportamento dos homens, o da moral,
a terra acolhendo-se ao recesso seguro considerando, porém na sua totalidade,
[...]. Este sentido de um lugar de estada diversidade e variedade” (VÁZQUES,
permanente e habitual de um abrigo 1982, p. 11).
protetor [...] que dá Em síntese, pode-
origem à significação se dizer que a ética
do ethos como cos- A ética investiga, explica, investiga, explica, re-
tume” (VAZ, 1988,
p.12 e 13).
recomenda e prescreve; comenda e prescreve;
porém não determina,
Na segunda acep- porém não determina, não pretende apresen-
ção, o autor carac- não pretende apresentar tar soluções objetivas
teriza ethos como o dos problemas da prá-
comportamento que soluções objetivas dos tica moral, tampouco
resulta de uma cons- problemas da prática propõe conceitos uni-
tante repetição dos
mesmos atos. Dessa
moral, ela dá forma, orienta versais e absolutos,
no entanto pode ser
forma, o ethos se es- e gera hábitos que podem se usada para justificar
trutura em um movi- tornar costumes uma ação social. Ela
mento circular, entre dá forma, orienta e gera
o costume e o hábito, hábitos que podem se
desembocando numa práxis. Em sua defi- tornar costumes, identificados como o
nição, ethos aparece como a experiência ethos/moral do grupo.
vivida na concretude. Observa-se, ainda, no EMA-137, que a
Paralelo à discussão conceitual dos ter- ética militar naval consolida o conjunto dos
mos ética e ethos, também aparece o termo princípios, valores, costumes, tradições,
moral, que vem do vocábulo latino mores5, normas estatutárias e regulamentos que
como o julgamento que o homem faz das regem o juízo de conduta do militar da
ações que ocorrem no mundo concreto; Marinha. Enquanto que a moral trata-se
por isso, às vezes, o termo se confunde de um atributo do líder que se relaciona ao
com ethos. cumprimento das regras de conduta compa-
Na análise de Vázques, utilizada neste tíveis com o comportamento militar naval
trabalho, ética é a teoria reflexiva da rea- desejado, balizado pela ética.
lidade concreta. O ethos, e/ou moral, é o Vale mencionar, ainda, que se encon-
campo das realizações concretas. Entre tram inseridos, nesse conjunto de princípios
a ética e o ethos/moral estabelece-se amalgamados pela ética militar, o código de

5 MORAL (lat. Moralia; in. Morals; fr. Morales, al. Moral; it. Morale) – objeto da ética, conduta dirigida ou
disciplinada por normas, conjunto de mores.

162 RMB3oT/2013
Moral e Ética: apresentação e consolidação desses conceitos nas atividades que envolvem a liderança militar no Colégio Naval

honra da “Rosa das Virtudes”6 e os dizeres lidade, sendo mais flexível e amigável a
do juramento à Bandeira7. mudanças. Assim, a absorção dos valores
basilares àqueles que se lançam à profissão
Aspectos inerentes à transmissão das armas, destacando-se os conceitos en-
dos conceitos de ética e de moral na volvidos da ética militar-naval e da moral,
formação do cidadão e do futuro oficial ocorre com significativa aceitação. Dessa
forma, o trabalho realizado em valorizar
O CN é um estabelecimento de ensino e exigir tais conceitos éticos e as condutas
cujo propósito é selecionar alunos para o morais para a formação do futuro oficial,
Curso de Graduação de Oficiais da Escola inserido no exercício da liderança entre
Naval (EN). O curso conduzido é desti- as turmas, encontra, na estrutura do CN,
nado ao ensino básico em nível médio, as ferramentas necessárias para que o
além do ensino militar-naval (no qual futuro aspirante possa ser orientado com
encontra-se inserida a disciplina de Ins- princípios que o nortearão, indubitavel-
trução Militar-Naval). A missão do CN é mente, ao longo dos próximos 30 anos de
assegurar aos alunos o preparo intelectual, serviço ativo.
físico, psicológico, moral e militar-naval Ademais, nota-se que, na faixa etária
e incentivá-los para a carreira naval, a dos alunos, as peculiaridades envolvendo
fim de prepará-los e selecioná-los para o a rigidez no cumprimento de rotinas e
ingresso na EN. tarefas; a distância dos familiares, em
Dentre as condições exigidas para a consequência do regime de internato; e
inscrição no Concurso Público de Admis- o ritmo intenso das atividades do dia a
são ao CN (CPACN), ressalta-se que o dia são superadas de maneira gradual,
canditado deve possuir 15 anos completos tornando possível o costume a elas. Essas
e menos de 18 anos de idade no primeiro peculiaridades serão vivenciadas pelo fu-
dia do mês de janeiro do ano da matrícula, turo oficial, pois fazem parte do cotidiano
caso aprovado. Nesse aspecto, identifica- de indivíduos que serão submetidos a
se uma das consideráveis responsabilida- situações de pressão, em que as decisões,
des que o referido Ensino Médio da MB incontestavelmente, deverão ser tomadas
possui e que muito irá contribuir para a diante da responsabilidade da manutenção
formação dos nossos futuros oficiais: a de vidas humanas e de material. Ressalta-
de apresentar conceitos e valores para se que, imerso nesse universo de conceitos
indivíduos que possuem uma faixa etária apresentados na rotina do CN, o jovem
entre 15 e 19 anos. Nessa idade, o jovem aluno é apresentado à necessidade de
ainda consolida seus traços de persona- possuir uma conduta moral e profissional

6 Trata-se a Rosa das Virtudes de uma analogia à Rosa que possui as orientações dos Sinais Cardinais (Norte, Sul,
Leste e Oeste). Da mesma forma que eles fornecem a referência de direção ao navegante, a Rosa das Virtudes
baliza os atributos que devem ser presentes nas ações dos militares da MB. São eles: Honra, Lealdade, Ini-
ciativa, Cooperação, Espírito de Sacrifício, Zelo, Coragem, Ordem, Fidelidade, Fogo Sagrado, Tenacidade,
Decisão, Abnegação, Espírito Militar, Disciplina e Patriotismo.
7 Juramento prestado pelos brasileiros incorporados, por ocasião da prestação do compromisso do serviço mi-
litar, de acordo com a Lei no 4.375 de 17 de agosto de 1964 (Lei do Serviço Militar). Tem como dizeres:
“Incorporando-me à Marinha do Brasil, prometo cumprir rigorosamente as ordens das autoridades a que
estiver subordinado, respeitar meus superiores hierárquicos, tratar com afeição meus irmãos de armas e
com bondade meus subordinados e dedicar-me inteiramente ao serviço da Pátria, cujas honra, integridade e
instituições defenderei com o sacrifício da própria vida”.

RMB3oT/2013 163
Moral e Ética: apresentação e consolidação desses conceitos nas atividades que envolvem a liderança militar no Colégio Naval

irrepreensível, imposta pelo sentimento sobre a carreira naval. Assim, faz-se mister
do dever, honra pessoal, pundonor militar que, cada vez mais cedo na carreira, eles
e pelo decoro da classe (Estatuto dos Mi- sejam apresentados ao que a Marinha pode
litares, 1980, Art. 28). Essas orientações lhes reservar em termos de oportunidades
são praticadas diariamente, de forma in- e experiências. Ou seja, na atualidade, o
consciente, diante do ambiente hierárquico CN possui também o importante papel
que envolve as turmas, forçando o aluno a de divulgar os nossos Planos de Carreira,
perceber a importância da observação dos fazendo uma propaganda positiva da MB
conceitos morais no ato de liderar. no que tange às excelentes oportunidades
Nesse complexo espectro que o conceito oferecidas àqueles que a ela se dedicam.
de ética possui, envolvendo as normas, os Essa propaganda precisa ser disseminada,
costumes e as experiências somados pelos diante da magnitude de informações sobre
indivíduos em um grupo social, percebe- outras profissões disponíveis em um mundo
se a vultosa necessidade que os jovens de globalizado, a fim de garantir o ingresso e
hoje, integrantes da chamada “geração Z”8, a manutenção da matrícula de uma elite
apresentam em relação à prática do relacio- acadêmica, que será forjada para enfrentar
namento interpessoal. Essa geração, que os desafios inerentes a uma Marinha que
cresce “mergulhada” se propõe detentora de
no ambiente virtual, inúmeras tecnologias.
acostumada com um No CN, a geração Z, que No escopo de agir
convívio baseado em cresce mergulhada no com o sentimento do
sítios de relaciona- dever, um dos precei-
mento social, é, de ambiente virtual, é exposta tos da ética militar já
certa forma, carente de a um novo cenário de mencionado, insere-se
experiências vividas o preparo intelectual,
em situações nas quais relacionamento moral e físico do futuro
as fluências verbais, oficial. Desse modo,
corporais (gestos e expressões) e emocio- com um adequado planejamento, esse cur-
nais apresentarão um forte peso para que so prévio à EN busca garantir ao jovem a
suas expectativas sejam atendidas. Essa assimilação de conteúdos acadêmicos que
prática de interação social é fundamental serão exigidos, indiretamente, no exercício
ao exercício da liderança, em conformidade dos cargos e das funções de um oficial.
com os códigos de ética impostos pela MB, Ressalta-se que, como representante de um
forçando-nos a expor os jovens a um novo segmento formador de opinião da socieda-
cenário de relacionamento, justificando, de, o oficial externará inúmeras vezes suas
assim, uma importante contribuição do opiniões e argumentos sobre os assuntos
CN no forjar do cidadão e do futuro oficial. da atualidade e do passado histórico em
Em consonância com o imediatismo consonância com os interesses da Marinha,
e por conta da facilidade que possuem ou seja, regulamentado pela ética militar
de acesso à informação via internet e da naval, em que a necessidade de uma “cul-
familiarização com recursos ligados à in- tura geral” absorvida, proporcionada pelo
formática, esses alunos detêm uma intensa professar em um alto nível de qualidade
necessidade de obter mais e mais dados das matérias do Ensino Médio, será algo

8 Pessoas nascidas desde a segunda metade da década de 90 até os dias de hoje.

164 RMB3oT/2013
Moral e Ética: apresentação e consolidação desses conceitos nas atividades que envolvem a liderança militar no Colégio Naval

compulsório para o respaldo e a aceitação ética militar. No conteúdo, destaca-se uma


das suas observações. vez mais o desenvolvimento da prática da
Com relação ao preparo físico, possuin- liderança e do relacionamento interpessoal
do o peso de uma disciplina acadêmica, o no ambiente naval, já que os alunos exer-
Treinamento Físico-Militar (TFM) incen- cem diversas funções e encargos colaterais
tiva o aluno, desde cedo, a possuir o gosto que lhes permitem ter a oportunidade e o
pela prática da atividade física, desenvol- espaço necessários para exercitarem os
vendo a higidez e o preparo necessários diversos atributos de um líder. O conteúdo
para o despertar de um condicionamento da disciplina de Instrução Militar-Naval
que será exigido do futuro oficial, seja a prevê que o escolar embarque em navios
bordo dos navios, quartéis de fuzileiros ou da MB, por oportunidade, e suspenda
Organizações Militares de Intendência. No em avisos de instrução (embarcações
universo do CN, a manutenção das equi- utilizadas para o exercício do conteúdo
pes esportivas repre- teórico de navegação,
sentativas (atletismo, ministrado em salas de
basquete, canoagem, As Forças Armadas sempre aula), representando
esgrima, futebol, judô, se preocuparam com o esses embarques uma
natação, orientação, poderosa ferramenta
polo aquático, remo, desenvolvimento daqueles motivacional, já que é
vela, vôlei, tiro, tria- que exercerão a liderança permitido ao aluno o
tlo e xadrez) permite em suas fileiras... primeiro contato com
a prática dos valores os aspectos da vida
de camaradagem, ho- Buscam aperfeiçoar o no mar.
nestidade, correção processo de capacitação de A referida disci-
de atitudes, lealdade, plina inclui, ainda, o
espírito de cooperação líderes, contribuindo para aprendizado de noções
e inteligência emocio- a atração e retenção de sobre a manobra de
nal, inerentes àqueles talentos individuais embarcações a vela.
que, periodicamente, Assim, o aluno co-
participam de compe- meça, mesmo que in-
tições e são submetidos a avaliações. Vale tuitivamente, a notar como as forças da
destacar também a relevância do aprendi- natureza (ventos, marés e correntes) in-
zado que o trabalho em equipe proporciona, fluenciam no comportamento de uma em-
corroborando ao exercício da liderança e barcação, o que lhe permite desenvolver,
à demonstração do conjunto de atitudes e desde cedo, o sentimento e as referências
reações que um indivíduo deve possuir em que um marinheiro precisa possuir, em
face de um meio social envolvendo seus consonância com as normas emanadas
integrantes, tendo sempre como referência pela ética, a fim de exercer a liderança,
a já mencionada ética militar naval. com o despertar da capacidade individual
Adicionalmente às matérias compreen- em influenciar e inspirar subordinados,
didas em um currículo de Ensino Médio, quando embarcado, nos primeiros anos da
o CN apresenta àqueles que recebem a carreira. Cabe salientar, ainda, o preen-
instrução, a Formação Militar-Naval, mos- chimento de tempo alocado às atividades
trando-lhe as características e informações extracurriculares, por meio da Sociedade
da carreira naval, incluindo os preceitos da Acadêmica Greenhalgh (SAG), na qual

RMB3oT/2013 165
Moral e Ética: apresentação e consolidação desses conceitos nas atividades que envolvem a liderança militar no Colégio Naval

o futuro aspirante tem a possibilidade daqueles que exercerão a liderança em


de interagir com demais integrantes da suas fileiras. A partir da percepção da
sociedade em diversos eventos externos, necessidade de maior valorização do seu
buscando ser um indivíduo mais atuante pessoal, buscam aperfeiçoar o processo
e presente. de capacitação de líderes, contribuindo
Na presença das elevadas exigências para a atração e retenção de talentos
às quais os alunos são apresentados, individuais.
sejam de cunho intelectual, físico ou Diante das definições elencadas de
moral, ou da adapta- moral e ética, pode-se,
ção à rotina, alguns de maneira resumida,
jovens não comple- O CN dá a oportunidade afirmar que a última
tam esse curso prévio
à EN. Assim sendo,
de prática, assimilação e consolida um aglo-
merado de princípios,
proporcionam, uma consolidação de conceitos, valores, tradições, nor-
valiosa contribuição pessoais e profissionais; e mas e regulamentos
do CN na formação que recomendam o
de cidadãos que, ao de despertar o gosto pelas juízo de conduta de
viverem a experiên- coisas do mar que exige um indivíduo, gerando
cia de aqui estudar e
serem apresentados
exercício do relacionamento hábitos e costumes que
se identificam com o
aos conceitos ante- interpessoal ético, por meio moral de um grupo.
riormente descritos, do uso das fluências verbal, De acordo com a
encontrar-se-ão aptos Capitão de Corveta
para chegar ao ápice corporal e emocional (T) Marilene9, “o de-
de quaisquer profis- senvolvimento dos
sões no mercado de líderes militares, em
trabalho e para representar, de maneira consonância com as diretrizes estratégicas,
digna, um importante segmento da so- deve atender aos anseios dos liderados, que
ciedade brasileira, formador de opinião e esperam encontrar uma liderança ética que
decisor, devido à consolidação, em suas lhes proporcione motivação e orgulho por
personalidades, dos valores basilares pertencer à instituição[...]” (RMB, 2012,
éticos e da conduta moral no exercício Jan/Mar, p. 211, destaque nosso).
da prática da liderança. Fazendo referência ao Coronel Jarbas
Passarinho10, “a necessidade de não deixar
Conclusão que os jovens tenentes e os graduados dos
primeiros postos saiam das escolas ou dos
As Forças Armadas, por conta da cursos de formação despreparados para a
essência de suas missões, sempre se missão relevante de chefiar pessoas que
preocuparam com o desenvolvimento lhes ficarão subordinadas, por força regula-
9 A CC (T) Marilene Lima Ferreira Espíndola é formada pela Universidade Federal Fluminense e pelas Univer-
sidades Integradas Maria Thereza e pós-graduada em Educação e Psicologia. Na Fundação Getúlio Vargas,
fez o curso MBA em Gestão de Pessoas. Serve na Diretoria de Ensino da Marinha.
10 Jarbas Gonçalves Passarinho é militar e político. Em 1964, foi governador do Pará. Foi eleito senador em 1966
e nomeado ministro do Trabalho e Previdência Social no governo do Presidente Costa e Silva. Foi, ainda,
ministro da Educação no governo do Presidente Médici, ministro da Previdência Social no governo do Pre-
sidente João Figueiredo e ministro da Justiça no governo do Presidente Fernando Collor.

166 RMB3oT/2013
Moral e Ética: apresentação e consolidação desses conceitos nas atividades que envolvem a liderança militar no Colégio Naval

mentar [...]” (PASSARINHO, 1987, p. 23). físico e militar-naval do futuro aspirante,


Assim, percebe-se que todo o arcabouço possibilitando o forjar de um indivíduo
teórico envolvido na ética e na moral, possuidor de atributos que balizarão sua
diante da observação e prática constante da conduta moral de maneira contínua, algo
correção de atitudes, por parte dos alunos, obrigatório para aqueles que liderarão
encontra, nos bancos das salas de aula do homens.
CN, estabelecimento de Ensino Médio da Identifica-se, dessa forma, nos “pátios”
MB, o ambiente perfeito para a sua absor- do CN, a formação de cidadãos e de futu-
ção. Nesse aspecto, destaca-se a faixa etária ros líderes também nas lides mais variadas
do corpo discente, em que a apresentação do meio civil, já que alguns alunos, ao
desses valores é mais facilmente consoli- longo do curso, optam por outras oportuni-
dada e aceita, já que o jovem ainda constrói dades, garantindo a esse Colégio um fun-
os traços da sua personalidade, norteando-o damental papel de instituição educadora,
durante toda a sua carreira. prestando uma relevante contribuição ao
Acentua-se, ainda, o fato de que o líder País, atendendo ao fomento da sociedade
deve possuir atributos diretamente rela- por indivíduos capazes e formadores de
cionados aos preceitos da ética, que, de opinião.
maneira mais didática, são materializados Vislumbrando a importância que o
por meio de ações ou comportamentos. CN possui na formação de cidadãos e das
A ética orienta esses comportamentos, próximas gerações de oficiais, no cenário
gerando o hábito que se tornará, mais emoldurado pela Enseada Batista das
adiante, um costume correlacionado ao Neves, em Angra dos Reis – RJ, faz-se
moral desse grupo social que compõem mister a busca continuada do aprimora-
os alunos do CN. Entende-se, assim, a mento da qualificação profissional dos
elevada importância que essa instituição “atores” envolvidos nesse processo e da
de ensino possui no que tange a dispensar melhoria das instalações. Para isso, torna-
aos futuros oficiais a oportunidade ímpar se imprescindível o investimento em duas
da prática, assimilação e consolidação de áreas básicas da administração: material e
conceitos, pessoais e profissionais, com pessoal. As diversas obras de melhoria e de
um direcionamento para o despertar do infraestrutura já concluídas, além daquelas
gosto pelo mar e pelas coisas marinheiras, em andamento, como o novo rancho dos
em que será compulsório o importante alunos, o projeto do novo auditório, a
exercício do relacionamento interpessoal modernização de laboratórios e salas de
ético, por meio do uso das fluências ver- aula, entre outras incluídas no Programa de
bal, corporal e emocional, que pouco são Modernização, atendem, a médio prazo, às
utilizadas no mundo da internet, reduto da principais necessidades. Quanto ao pessoal,
chamada “geração Z”. a seleção dos oficiais do setor do Comando
Adicionando-se à necessidade de apre- do Corpo de Alunos, que são designados
sentar ao jovem, cada vez mais cedo, as pelo diretor-geral do Pessoal da Marinha,
oportunidades eventualmente oferecidas e das praças, levando em consideração não
aos oficiais que se dedicam à carreira na- somente dados de carreira, mas também o
val, surge outro destacado papel do CN, levantamento de um perfil adequado para
relacionado ao preparo intelectual (levan- o cumprimento da função, vem proporcio-
do em consideração o respeitável nível nando resultados positivos no processo de
da qualidade do ensino básico), moral, formação. Esse conjunto de ações materia-

RMB3oT/2013 167
Moral e Ética: apresentação e consolidação desses conceitos nas atividades que envolvem a liderança militar no Colégio Naval

liza a importância e a prioridade renovadas tando que o CN, “berço” da maior parte da
pela Alta Administração Naval com essa oficialidade da MB, continue cumprindo a
histórica Organização Militar, possibili- sua nobre missão.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<educação>; Colégio Naval; Preparo do homem; Ética; Princípios militares; Vocação;
Disciplina; Liderança; Moral;

Referências

BRASIL. Lei no 6.880, de 9 de dezembro de 1980. Dispõe sobre o Estatuto dos Militares. Diário
Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 11 dez. 1988.
ESPÍNDOLA, Marilene Lima Ferreira. “O desenvolvimento de líderes militares com foco no cenário
atual”. Revista Marítima Brasileira (RMB): V. 132 n. 01/03 – jan./mar. 2012.
ESTADO-MAIOR DA ARMADA. Marinha do Brasil. Doutrina de Liderança da Marinha – EMA
137, 1a ed. 2004.
PASSARINHO, Jarbas. Liderança Militar. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1987.
TAVARES, Kleber da Silva. A ética castrense e a intervenção militar como recurso de manutenção
da ordem institucional. Disponível em: http://www.historia.ufes.br/sites/www.historia.ufes.br/
files/Kleber_da_Silva_Tavares.pdf. Acesso em: 03 ago. 2012.
VAZ, Henrique C. de Lima. Escritos de Filosofia II: ética e cultura. São Paulo: Loyola, 1988.
VÁZQUES, Adolfo Sánchez. Ética. 15. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995.

168 RMB3oT/2013
HEGEMONIA E CONFLITO NO PÓS-GUERRA FRIA:
A construção do inimigo e a
perpetuação da guerra1

“Nós vamos lhes fazer o pior dos favores, privá-los


de inimigos!”
Alexander Arbatov2

CHARLES PACHECO PIÑON


Capitão de Corveta (FN)

A pós a Segunda Guerra Mundial (1939-


1945), o mundo pôde contar com a paz
imposta pelo medo nuclear. A certeza de
antagonicamente ficou conhecido como a
Guerra Fria[1] (1947-1989).
Com o término da Guerra Fria, a esta-
que haveria uma destruição mútua dos con- bilidade mundial dá origem a uma série
tendores fazia com que norte-americanos, de conflitos locais, tais como a guerra na
soviéticos e respectivos aliados evitassem Iugoslávia, a crise da Somália, a luta pela
resolver disputas políticas por meio da guer- independência do Timor-Leste, a deses-
ra. A possibilidade de um conflito regional tabilização do Haiti, entre outros, em que
transformar-se em uma guerra nuclear global os atores, anteriormente contidos pelas
fazia com que os Estados Unidos da América superpotências, passam a encontrar auto-
(EUA) e a União das Repúblicas Socialistas nomia para reivindicarem, pelas armas, as
Soviéticas (URSS) cuidassem de conter seus demandas que há muito estavam contidas
respectivos aliados e limitar a escalada das pelo medo da guerra nuclear[2].
disputas no interior de suas áreas de influ- Tal cenário foi possível graças à dis-
ência. Era a paz propiciada por aquilo que solução da URSS, que criou um vazio de

1 Adaptação de trabalho acadêmico apresentado à Escola de Guerra Naval como requisito parcial para a conclusão
do Curso de Estado-Maior para Oficiais Superiores.
2 Diplomata soviético referindo-se aos EUA após a queda do Muro de Berlim. Ver em CONESA, Pierre. “O
pensamento estratégico europeu.” Disponível em:<http://www.diplomatique.org.br/artigo.phd?id=570>
HEGEMONIA E CONFLITO NO PÓS-GUERRA FRIA: A construção do inimigo e a perpetuação da guerra

poder no cenário internacional, permitindo amplo emprego dos meios bélicos dispo-
o surgimento de novos atores, tais como: níveis, os EUA levam a cabo uma política
grupos criminosos transfronteiriços, ter- internacional que oscila entre “ações de
roristas e os chamados “Estados falidos”, segurança” do próprio território e a su-
que são aqueles que se prestam, por meio posta “punição” de tiranos não alinhados
do uso da violência (inclusive da ameaça com seus interesses. Sempre na tentativa
nuclear), a confrontar e desafiar a política de legitimar suas ações militares por meio
intervencionista norte-americana[3]. das resoluções e dos mandatos emitidos
Nesse mesmo contexto, os EUA ocupam pelo Conselho de Segurança da Organi-
a posição de potência hegemônica, fazen- zação das Nações Unidas (ONU) ou pela
do prevalecer seus interesses por meio do Organização do Tratado do Atlântico Norte
emprego da força bélica e da retórica da (Otan), os EUA passam a exercer aquilo
“segurança nacional”. Com isso, tentam que Philipe Leymarie chamou de “guerra
justificar, em uma era de múltiplas trans- por procuração”.[6]
formações, a inevita- Outra necessidade
bilidade dos conflitos surge da ausência do
para a consecução dos Com a afirmação da inimigo soviético: é a
seus objetivos políti- hegemonia norte- criação de um inimi-
cos e econômicos. go que justifique um
Segundo o General
americana e o término sistema de defesa já
francês Eric de La da disputa nuclear com existente, minuciosa-
Maisonneuve[4], a a URSS, inclusive com mente delineado por
URSS possuía todas uma meticulosa análise
as qualidades de um a dissolução desta, o de riscos. Assim, os
bom inimigo: sólido, mundo se fragmentou norte-americanos fo-
constante, coerente. ram ao Iraque em 1991
Além do mais, era
ideologicamente e libertaram o Kwait.
militarmente parecida Parecia que a questão
com os países do ocidente (EUA e seus já estava resolvida: a ameaça viria do
aliados europeus), uma vez que seguia Oriente Médio, em substituição àquela que
o modelo clausewitziano[5] de guerra. antes vinha do leste europeu. Uma simples
Portanto, apesar de imprevisível, era um reorientação geográfica parecia permitir
inimigo conhecido. É dessa forma que eram a manutenção de um quadro estratégico
vistos os soviéticos e seus aliados durante e de meios idênticos ao anterior. Porém,
a Guerra Fria. a grande diversidade cultural existente
Com a afirmação da hegemonia norte- naquela região, inclusive com a presença
americana e o término da disputa nuclear de alguns aliados dos EUA, como a Arábia
com a URSS, inclusive com a dissolução Saudita, mostrou que a criação do inimigo
desta, o mundo se fragmentou ideologica- pelo simples posicionamento geográfico
mente. Os EUA surgiram então como uma não era tarefa tão simples assim. Portanto,
potência única, hegemônica, com capaci- aquilo que Samuel Huntington chamou de
dade militar e econômica para intervir em “choque de civilizações” não se sustentava
qualquer parte do planeta. Desse momento como a única justificativa plausível para
em diante, a potência norte-americana o emprego do poderio bélico norte-ame-
impõe uma nova ordem mundial. Com o ricano. A substituição da URSS no papel

170 RMB3oT/2013
HEGEMONIA E CONFLITO NO PÓS-GUERRA FRIA: A construção do inimigo e a perpetuação da guerra

de inimigo prioritário mostrava-se muito aprenderam a arte náutica e a construção


mais complexa. naval para combater contra Cartago; da
Foram os atentados de 11 de setembro mesma forma, os pele-vermelha adota-
de 2001, nos EUA, que trouxeram a certeza ram a criação de cavalos. Nos dias de
para aquele país da existência de um inimigo hoje, todas as nações se empenham em
bem diferente daquele que estavam acostu- seguir a corrente dominante das técnicas
mados a confrontar, de um inimigo móvel, e dos meios de destruição, e se copiam
transnacional ou infranacional, um inimigo sem nenhum melindre.
que não está conformado por um Estado-
nação, mas que pode ser uma ideologia, uma Diante dessas e de outras características
religião ou um grupo criminoso. Marwan que buscam apresentar uma aparente utili-
Bishara[7] nos explica que esses grupos dade para as guerras, os Estados enfrentam
não estatais possuem uma fluidez que lhes o desafio de identificar qual tipo de guerra
garante o emprego dos modernos meios de deve ser travada, de modo a justificar a
comunicação, da mídia e da internet. Utili- existência de um inimigo que lhes seja útil
zam armas sem nenhuma sofisticação, como e, ao mesmo tempo, legítimo.
barcos de pesca, bombas caseiras e aviões Entre as teorias que tentam explicar as
civis, tudo de forma eficaz e de difícil de- possíveis causas do surgimento das guerras
tecção. Utilizam-se amplamente do mundo está o pensamento “realista”. O cientista
globalizado e, por não serem Estados, não político norte-americano J. Levy afirma
estão vinculados a nenhum organismo inter- que, de acordo com essa teoria, o sistema
nacional representativo, o que faz com que internacional é anárquico e as guerras sur-
eles possuam uma margem de manobra que gem quando há alterações significativas na
os Estados-nação não possuem. distribuição de forças dentro desse sistema.
Ainda segundo Bishara, além dos grupos Segundo Levy, o problema está na lógica
terroristas ou criminosos, os EUA se veem de transferência de poder, em que potências
ameaçados pela existência daquilo que decaem e Estados que antes eram secun-
George W. Bush chamou de Estados delin- dários passam a exercer um papel central
quentes, que são aqueles Estados capazes no sistema. Todas essas alterações acabam
de usar vetores balísticos com cargas nucle- também por influenciar a dinâmica das
ares, químicas ou bacteriológicas contra o alianças, que, ao se modificarem, perturbam
território ou os interesses norte-americanos, o equilíbrio de forças.[9]
ou ainda, devido a sua ingovernabilidade, No contexto de distribuição de forças
podem servir de base de apoio a grupos nessa nova ordem mundial, surgem os EUA
criminosos transnacionais. Tudo para jus- como potência hegemônica e sem limites
tificar as subvenções dadas ao setor militar, para a consecução dos objetivos de sua
e que tinham por propósito a criação de um política externa.
escudo de defesa antimísseis destinado a se As teorias econômicas a respeito das
opor às ameaças desses Estados. vantagens da guerra impulsionam ainda
Sobre a utilidade da guerra, Bouthol[8] mais o projeto norte-americano para o
nos ensina que ela pode ser um importante mundo. Nessa mesma linha de raciocínio,
elemento impulsionador da tecnologia. Bueno Mesquita apresenta uma teoria
Assim escreve: utilitarista para a guerra, segundo a qual
A guerra também tem um papel difusor calcula-se a vantagem de se entrar em
dos pontos de vista técnicos. Os romanos guerra sob a perspectiva das vantagens

RMB3oT/2013 171
HEGEMONIA E CONFLITO NO PÓS-GUERRA FRIA: A construção do inimigo e a perpetuação da guerra

econômicas mediatas que podem ser nela que chamam de santa (Jihad) e que vê na
obtidas. Porém não se pode alegar como política externa norte-americana a maior
justa uma guerra fundamentada na apro- expressão do mal na vida terrena.
priação de riquezas alheias. Então surgem Não importa o quanto o mundo mude ou
os dilemas de segurança, da necessidade da seja interligado por redes de informação e
democracia como elemento pacificador do comércio. A evolução das sociedades altera
mundo[10], da luta pelo respeito aos direi- todo o tempo as dinâmicas de poder no
tos humanos etc. Tenta-se de toda forma contexto mundial. Da disputa pelo controle
fundamentar o início de uma guerra com de um país, surgem dois novos Estados; é
base nos princípios e nos valores aceitos da garantia do abastecimento de energia
pelo direito internacional, vistos como que surge a intervenção em nome da de-
legítimos para o emprego da força. mocracia ou dos direitos humanos; é das
Tanto os grupos infranacionais crimi- nações sem governo e deixadas à margem
nosos quanto os Estados delinquentes têm da comunidade internacional que surgem
um objetivo em comum, que é enfraquecer os grupos criminosos, as armas nucleares
a soberania dos Estados e a hegemonia glo- ou químicas sem controle e, com elas, a
bal dos EUA, inclusive destruindo-o[11]. ameaça à ordem mundial vigente. São essas
Isso pode ser entendido como uma das mudanças no contexto global pós-Guerra
consequências do fim da Guerra Fria. Os Fria, tendo guerra e conflito como suas
países que pertenciam ao bloco soviético, inevitáveis consequências, que nos fazem
ao se encontrarem fora do controle da afirmar a perenidade dos conflitos, pois
URSS, viram a possibilidade de reavivarem como bem nos ensina Marwan Bishara, ao
antigas disputas que não eram passíveis de referir-se aos atentados de 11 de setembro
demanda no âmbito da bipolaridade. Si- de 2001, não são os conflitos que mudam
multaneamente, grupos religiosos radicais o mundo, eles apenas “refletem as trans-
assumem o desígnio de lutar, por todos os formações de um mundo que muda e que
meios possíveis e imagináveis, uma guerra é preciso tentar entender”.[12]

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<GUERRA>; Guerra Fria; Crise;

172 RMB3oT/2013
HEGEMONIA E CONFLITO NO PÓS-GUERRA FRIA: A construção do inimigo e a perpetuação da guerra

REFERÊNCIAS

[1] Cf. Glossário das Forças Armadas – define-se a Guerra Fria como a situação de confrontação
aberta entre duas nações ou grupos de nações, não caracterizada como guerra limitada, guerra geral
ou total, mas como a adoção de medidas de hostilidades (restritivas, punitivas e coativas) em todos
os campos do poder, exceto no poder militar. Pode ser usada na luta pela hegemonia entre Estados
ou coligações de Estados.
[2] CONESA, Pierre. “La fabrication de l’ennemi. Manière de voir”. Le Monde diplomatique.
Paris, no 126, dez. 2012 – jan. 2013.
[3] BISHARA, Marwan. “Um inimigo difuso”. Le Monde diplomatique. Brasil, São Paulo, out.
2001. Disponível em: <www.diplomatique.org.br>. Acesso em: 22 mar. 2013.
[4] CONESA, Op. cit., p. 48.
[5] Luigi Bonanate conceitua a guerra clausewitziana como sendo um ato de violência com o qual
se pretende obrigar o nosso oponente a obedecer a nossa vontade. BONANATE, Luigi. A guerra. São
Paulo: Estação Liberdade, 2001, p. 30.
[6] LEYMARIE, Philippe. “Par procuration. Manière de voir”. Le Monde diplomatique. Paris, no
126, dez. 2012 – jan. 2013.
[7] BISHARA, Op. cit., p. 2.
[8] BOUTHOL, Gaston. Tratado de Polemologia. Madrid: Ediciones Ejército, 1984. p. 65.
[9] BONANATE, Luigi. A guerra. São Paulo: Estação Liberdade, 2001. p. 106.
[10] Ibidem, p. 145-148.
[11] BISHARA, Op. cit., p. 3.
[12] Ibidem, p. 5.

RMB3oT/2013 173
Reflexões acerca da Fertilização dos Oceanos

MARIA CECILIA TRINDADE DE CASTRO*


Capitão de Corveta (T)

SUMÁRIO

Introdução e comentários
Princípio da precaução e princípio da prevenção
Conclusão

Introdução e comentários los a fim de demonstrar o sequestro e


documentar os efeitos a jusante sobre
“A fertilização dos oceanos como a produtividade do ecossistema – ‘o
ferramenta para mitigar as mudanças roubo de nutrientes’, conforme descri-
climáticas deveria ocorrer de forma to no relatório da Royal Society – e a
ampla e ao longo de décadas. Dessa depleção de oxigênio. Tal experimento
forma, avaliações ‘de campo’ adequadas seria realizado em um oceano dinâmico
poderiam verificar o potencial da geo- que permanece exposto a mudanças
engenharia e implicariam a ‘adubação’ climáticas sem precedentes, fazendo
e a amostragem de uma enorme faixa com que os impactos decorrentes da
de oceano. Seria necessário realizar o fertilização sejam difíceis de se avaliar
experimento por décadas ou por sécu- separadamente dos outros efeitos já em
* Bacharel em Oceanografia (UERJ); Mestrado em Engenharia Ambiental (UERJ); Candidata selecionada pelo
Programa da Nippon-Foundation/ONU na área de Oceanos e Direito do Mar. Serve na Diretoria de Portos e
Costas, sendo coordenadora dos assuntos da Organização Marítima Internacional (IMO).
curso. Em um experimento de tal ordem 22 de dezembro de 2007, o assunto foi
(global), poderia não haver ‘controle’.” introduzido, e em seu parágrafo 98 é
(Strong et al., 2009) “incentivado que os Estados apoiem a
(Tradução livre da autora) continuação de pesquisa e melhorem
a compreensão sobre a fertilização do
Conforme descrito no parágrafo anterior oceano com ferro”.
por Strong e colaboradores, em 2009, a No ano seguinte, a Convenção sobre
assim chamada fertilização dos oceanos a Diversidade Biológica (CBD) manteve
não deve ser uma solução ou mesmo uma o princípio da precaução, declarando que
verdadeira ferramenta para a mitigação nenhum experimento de fertilização do
do aquecimento climático, uma vez que oceano deveria ser realizado em grande
os resultados deste tipo de interferência escala, até que um mecanismo regulatório
exigiriam muito tempo e a amostragem de global fornecesse uma justificativa robus-
uma ampla faixa do oceano a fim de que ta, com exceção dos projetos de pequena
seus resultados pudessem ser realmente escala com fins científicos. A decisão foi
avaliados. Além do fato que as previsões tomada em 30 de maio de 2008, durante
para esse tipo de experimento apontam a 9a Reunião da Conferência das Partes da
como evidentes a depleção do oxigênio e Convenção sobre Diversidade Biológica, e
o esgotamento de nutrientes nos oceanos, é reproduzida a seguir:
causando um desajuste ecológico de con- Decisão IX/16: “Solicita às Partes e insta
sequências não previsíveis. Além disso, a outros Governos, de acordo com o prin-
eficácia pela qual a fertilização do oceano cípio da precaução, que garantam que
sequestra dióxido de carbono (CO2) at- atividades de fertilização dos oceanos
mosférico para o fundo do mar permanece não ocorram até que haja conhecimento
pouco entendida, da mesma forma que a científico suficiente que justifique tais
compreensão dos impactos biogeoquímicos atividades, incluindo a avaliação dos
e ecológicos resultantes não é clara (Bues- riscos associados, um controle global,
seler et al., 2008). transparente e eficaz e um mecanismo
De acordo com o relatório da Royal regulatório em vigor para tais atividades,
Society (2009), a geoengenharia é uma com exceção dos estudos de investiga-
manipulação calculada em larga escala ção científica de pequena escala realiza-
do meio ambiente, e as primeiras pro- do em águas costeiras”.
postas documentais a este respeito datam
de 1830, quando foi sugerido semear as Durante a 10a reunião da Conferência
nuvens para estimular a chuva e, mais das Partes da CDB (COP 10), realizada
tarde, mudar o caminho de furacões em Nagoia, Japão, em outubro de 2010,
semeando-os com iodeto de prata. Hoje em foi reconhecido o trabalho em curso no
dia, a geoengenharia está sendo proposta âmbito da Convenção de Londres e seu
como uma possível maneira de remover da Protocolo 1996 (LC/LP), com vistas a
atmosfera o CO2 decorrente de atividades desenvolver um mecanismo regulamentar
antropogênicas e, assim, minimizar os para a fertilização dos oceanos e conheci-
efeitos das mudanças climáticas. mento sobre o tema. Além disso, a COP,
Na resolução da Assembleia-Geral na sua decisão sobre Biodiversidade e
das Nações Unidas 62/215, sobre “Oce- Mudanças Climáticas, reiterou que nenhu-
anos e Direito do Mar”, aprovada em ma atividade de geoengenharia que possa
Reflexões acerca da Fertilização dos Oceanos

afetar a biodiversidade deverá ocorrer até apoiar as partes interessadas e os proponen-


que haja base científica suficiente para tes nesse sentido.
justificar tais atividades, assim como te- Também em curso entre as PC da LC/
nham sido considerados adequadamente LP partes, existe um grupo de trabalho em
os riscos associados1. fertilização do oceano criado para continuar
Estudos sobre a fertilização dos oceanos o trabalho no sentido de proporcionar um
no âmbito da LC/LP começaram em 2006. controle global e um mecanismo regulató-
Na reunião dos grupos científicos no ano rio transparente e eficaz para o mar – ati-
seguinte, foi emitida uma declaração de vidades de fertilização e outras atividades
preocupação (statement of concern) na que estejam no âmbito da Convenção e do
qual se afirma que o conhecimento então Protocolo de Londres e têm o potencial
existente sobre a eficácia e os possíveis para provocar danos ao ambiente marinho.
impactos ambientais no meio ambiente Durante a última Conferência das Partes
marinho era insuficiente para justificar ope- da Convenção sobre Diversidade Biológi-
rações em grande escala, as quais poderiam ca, realizada na Índia em outubro de 2012,
gerar impactos negativos no meio ambiente a decisão XI/20 fez importantes considera-
marinho e na saúde humana. Com base no ções sobre a geoengenharia ou engenharia
princípio geral de proteção/preservação do clima, algumas relacionadas a seguir:
do mar, as partes da LC/LP tomaram para • (4) enfatiza que a mudança climática
si a responsabilidade de regular a matéria, deveria ser prioritariamente tratada a
apesar do assunto “fertilização dos ocea- partir da redução das fontes de emissões
nos” (OF) ser considerado uma forma de antrópicas e por meio do aumento das
colocação e não necessariamente alijamen- remoções por sumidouros de gases de
to, assunto principal dos referidos instru- efeito estufa no âmbito da Convenção-
mentos2, e, em 2008, a reunião das Partes Quadro das Nações Unidas sobre Mu-
da LC/LP aprovou a resolução LC-LP.1 dança do Clima, destacando também a
(2008), permitindo apenas a realização de importância da Convenção sobre Diver-
“investigação científica legítima (LSR)” sidade Biológica e outros instrumentos;
sobre a matéria. • (6) nota a conclusão do documento
Dois anos depois, em 2010, a LC 33/ Unep/CBD/SBSTTA/16/INF/28 de que
LP 53 adotou uma nova resolução sobre o não há uma única abordagem de geo-
assunto, a LC-LP.2 (2010), estabelecendo engenharia que atualmente atenda aos
“uma estrutura para a avaliação de propos- critérios básicos de eficácia, segurança
tas direcionadas à pesquisa científica sobre e acessibilidade, e que tais abordagens
a fertilização dos oceanos” que orienta podem ser difíceis de implementar ou
as Partes Contratantes (PC) na avaliação governar;
das propostas recebidas, apresentando um • (7) também observa que permanecem
passo a passo e critérios como análise e lacunas significativas na compreensão
monitoramento de risco, entre outros, a dos impactos da geoengenharia na bio-
fim de fornecer requisitos uniformes para diversidade (...);

1 LC 33/4: Report of the 3rd Meeting of the Intersessional Working Group on Ocean Fertilization.
2 As Partes Contratantes da LC e do LP concordam que atividades como a fertilização dos oceanos estão no escopo
do Protocolo 1996 e têm potencial de causar danos ao meio ambiente marinho.
3 33a Reunião das Partes Contratantes da Convenção de Londres e 5a Reunião das Partes Contratantes do Protocolo
1996.

176 RMB3oT/2013
Reflexões acerca da Fertilização dos Oceanos

• (8) constata a falta de um controle volvimento (1992). Dessa forma, o princípio


global transparente e eficaz baseado em de precaução deve ser entendido como:
pesquisa científica e de mecanismos de Princípio 15 – “A fim de proteger o meio
regulação para a geoengenharia, assim ambiente, o princípio da precaução deve
como da necessidade de uma abordagem ser amplamente observado pelos Estados,
preventiva, e que tais mecanismos são de acordo com suas capacidades. Quando
ainda mais necessários quando se trata houver ameaça de danos sérios ou irrever-
de atividades de geoengenharia que síveis, a falta de plena certeza científica
podem potencialmente causar efeitos não deve ser utilizada como razão para o
transfronteiriços adversos e daquelas adiamento de medidas economicamente
implementadas em áreas fora da jurisdi- viáveis ​​para prevenir a degradação am-
ção nacional e na atmosfera, observando biental.” Ou, ainda, como a garantia contra
que não há consenso sobre onde tais os riscos potenciais que, de acordo com o
mecanismos deveriam ser colocados, e estado atual do conhecimento, não podem
• (10) reafirmando o princípio da prevenção ser ainda identificados5.
ou abordagem preventiva4, observa as re- Recentemente foram propostas emendas
soluções relevantes da Reunião das Partes ao LP 1996 por meio da Carta-Circular da
Contratantes da Convenção sobre Preven- Organização Marítima Internacional (IMO)
ção da Poluição Marinha por Alijamento no 3.359 de 11/4/2013 a fim de regular a
de Resíduos e Outras Matérias, de 1972 matéria. O documento proposto é de autoria
(Convenção de Londres) e seu Protocolo de Austrália, Nigéria e República da Coreia
de 1996, e relembra a decisão IX/16 C da e visa fornecer o tão necessário instrumento
Conferência das Partes sobre fertilização regulatório global, transparente e eficaz
dos oceanos, e também as decisões IX/30 para atividades de fertilização dos oceanos
e X/33, e parágrafo 167 do documento final e de geoengenharia.
da Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável (Rio+20: “O Princípio da Precaução e
Futuro que queremos”). Princípio da Prevenção

Em face da menção no item 10 do ter- A primeira ideia que surge quando se


mo princípio da prevenção ou abordagem tenta definir essas duas expressões é dizer
preventiva, faz-se mister saber o que está que o princípio da precaução é mais rígido
contemplado na definição do termo. Outro e conservador e que não permite nenhuma
aspecto de interesse é a diferenciação entre ação quando o impacto resultante de uma
o princípio da precaução e o da prevenção, ação é imprevisível ou, eventualmente, traz
tão em uso quando se fala em meio ambiente. qualquer risco de dano ao meio ambiente
De fato, tais termos ganharam notoriedade e – normalmente é chamado de “cuidado
passaram a ser amplamente utilizados após com antecedência”. Diz-se também que o
a Declaração do Rio da Conferência das Na- princípio of no harm é um método proativo
ções Unidas sobre Meio Ambiente e Desen- de lidar com o ambiente que coloca o ônus

4 Do inglês precautionary approach.


5 Uma outra forma de interpretação do Princípio da Precaução foi dada durante a Bergen Conference, realizada
em 1990 nos Estados Unidos: “É melhor ser grosseiramente certo no tempo devido, tendo em mente as
consequências de estar sendo errado, do que ser completamente errado muito tarde”. http://www.mma.gov.
br/biodiversidade/biosseguranca/organismos-geneticamente-modificados/item/7512. Acesso em 26/4/2013.

RMB3oT/2013 177
Reflexões acerca da Fertilização dos Oceanos

da prova sobre aqueles cujas atividades No entanto, também é mencionado no


podem gerar qualquer dano, ou seja, os relatório da EEA que os primeiros relatos
proponentes. É como a inversão do ônus de lesões resultantes da radiação datam de
da prova; por isso, se existe uma suspeita 1896, sendo que apenas dois anos depois
de risco de causar danos à saúde pública ou houve o primeiro sinal claro e credível
ao meio ambiente, na ausência de consenso sobre o amianto, enquanto que sinais se-
científico a este respeito, o ônus da prova melhantes relacionados à ação dos CFCs
deve recair sobre aqueles que tomam a ação vieram em 1974 (EEA, 2001).
ou a propõem. A partir de tais exemplos, pode-se co-
Conforme descrito por Nodari (2005), meçar a questionar: O que é necessário para
o princípio da precaução tem quatro com- proibir ou permitir uma atividade/ação?
ponentes básicos: Quem é o responsável por criar evidências
(i) a incerteza passa a ser considerada para apoiar decisões como essa? Como
na avaliação de risco; essas evidências devem ser utilizadas a fim
(ii) o ônus da prova cabe ao proponente de apoiar tais decisões? Como prever seus
da atividade; impactos na saúde pública/meio ambiente?
(iii) na avaliação de risco, um número E outras questões relacionadas.
razoável de alternativas ao produto ou Como demonstrado, com base no prin-
processo deve ser estudado e comparado; cípio da precaução, um risco mínimo, ou
(iv) para ser precaucionária, a decisão mesmo uma suspeita de risco, pode ser
deve ser democrática, transparente e ter a considerado suficiente para não seguir
participação dos interessados no produto adiante. Sendo assim, caso o princípio
ou processo. da precaução tivesse sido adotado como
De acordo com o Relatório no 22/2001 principal abordagem para os casos men-
da Agência Europeia de Meio Ambiente cionados no relatório da agência europeia,
(EEA)6, até cerca de 2050 vamos ver al- seus efeitos provavelmente não estariam
guns milhares de cânceres de pele a mais, sendo observados.
uma vez que as crianças de hoje crescem Ao falar sobre a abordagem preventiva,
expostas a níveis mais altos de radiação ou princípio da prevenção, considerada
ultravioleta, devido ao “buraco” na camada mais branda, é possível dizer que esta é ge-
de ozônio causado pelo uso de cloroflu- ralmente adotada a fim de evitar as versões
orocarbonetos (CFCs) e outros produtos mais severas do princípio da precaução, que
químicos sintéticos. No mesmo período, demanda absoluta proteção ambiental (Thi-
milhares de europeus morrerão de meso- ratangsathira, 2010). Neste caso, podemos
telioma, um tipo muito doloroso de câncer dizer que, dependendo dos impactos previs-
causado pela inalação de poeiras de amian- tos de uma ação e considerando que todas
to. Em ambos os casos, pode-se argumentar as ações podem gerar impactos, muitos são
que os riscos destas tecnologias não eram reversíveis e trazem ganho econômico, o
bem conhecidos até que fosse tarde demais princípio da prevenção pode ser evocado
para impedir impactos irreversíveis, uma para permitir que uma ação ou atividade
vez que tais consequências tiveram longos possa ocorrer.
períodos de latência entre a exposição e os A aplicação do princípio da prevenção
efeitos decorrentes das mesmas. pode ser claramente demonstrada quando

6 Late lessons from early warnings: the precautionary principle 1896-2000.

178 RMB3oT/2013
Reflexões acerca da Fertilização dos Oceanos

se discute a pesca, uma vez que a gestão do acúmulo de emissões de CO2 de origem
dos estoques pesqueiros leva em conta tal antropogênica absorvidas pelos oceanos,
abordagem. Conforme explicado pelo do- representando por si só uma ameaça que
cumento técnico da Food and Agriculture também decorre das mudanças climáticas.
Organization (FAO), de 19967: Mais importante: essa ameaça não pode ser
“(...) A necessidade de precaução na mitigada por meio de alguns dos sistemas
gestão tem-se refletido no princípio da pre- de geoengenharia que buscam reduzir os
caução e no princípio da prevenção, dois efeitos sem, no entanto, diminuir a emissão
conceitos por vezes difíceis de distinguir de gases de efeito estufa8.
perfeitamente. O princípio da precaução Nesse sentido, podemos deduzir sem
tem sofrido com a falta de definição e inter- dificuldade que, mais uma vez, estamos
pretações extremas que levam à moratória pensando em soluções para minimizar
e à falta de consideração dos custos eco- os impactos e não para parar ou reduzir a
nômicos e sociais decorrentes de sua apli- causa/fonte, e mais uma vez estamos diante
cação. O princípio da prevenção foi mais de uma ameaça aos oceanos e à sua com-
intimamente associado com o conceito de posição química já alterada. O oceano não
desenvolvimento sustentável e uso susten- pode ser mais visto como um “poço sem
tável, reconhecendo que a diversidade de fundo” de emissões de CO2. O Interacade-
situações ecológicas e socioeconômicas my Panel on International Issues destacou
de cada atividade pode exigir estratégias recentemente que a acidez dos oceanos
diferentes. Este conceito tem, portanto, aumentou 30% nos últimos 200 anos.
uma ‘imagem’ mais aceitável nos vários O fato é que os custos de ações preven-
setores de desenvolvimento e gestão e é tivas são geralmente tangíveis, claramente
considerado mais facilmente aplicável à identificados e frequentemente em curto
gestão da pesca (...)”. prazo, ao passo que os custos de não agir
são menos tangíveis, menos claros e, ge-
Conclusão ralmente, de longo prazo, apresentando
problemas específicos de governança. Sem
O documento da UN-Desa no 26, de esquecer que é difícil conciliar todos os
dezembro de 2009, aborda a acidificação aspectos relacionados com os prós e contras
dos oceanos, assunto este relacionado da ação, ou omissão, e há considerações
com a fertilização e que ilustra o que de sociais, econômicas e éticas importantes
fato já acontece nos oceanos em função envolvidas na matéria (EEA, 2001).

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<MeIO AMBIENTE>; Oceano; Meio ambiente; Ecologia; Poluição; Conferência;

7 FAO FISHERIES TECHNICAL PAPER 350/2 (SWEDISH NATIONAL BOARD OF FISHERIES – Food and
Agriculture Organization of the United Nations Rome, 1996© FAO).
8 UN-DESA Policy Brief no 26. United Nations Department of Economic and Social Affairs.

RMB3oT/2013 179
Reflexões acerca da Fertilização dos Oceanos

Referências

Buesseler, K.O et al. (2008). Ocean Iron Fertilization—Moving Forward in a Sea of Uncertainty.
Science, Vol 319. Downloaded from www.sciencemag.org on January 7, 2013.
European Environment Agency (EEA). (2001). Late lessons from early warnings: the precautionary
principle 1896–2000. Luxembourg: Office for Official Publications of the European Communities.
Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO). FAO FISHERIES TECHNICAL
PAPER 350/2. Disponível em <http://www.fao.org/docrep/003/W1238E/W1238E03.htm>
Acesso em 3/1/2013.
Nodari, R.O. (2005). Pertinência da Ciência Precaucionária na identificação dos riscos associados aos
produtos das novas tecnologias. Disponível em < http://www.ghente.org/etica/principio_da_pre-
caucao.pdf>. Acesso em 26/4/2013.
Strong, A.L; Cullen, J.J; Chisholm, S.W. (2009). Ocean Fertilization: Science, Policy, and Com-
merce. Oceanography. Vol.22, no 3. http://www.tos.org/oceanography/issues/issue_archive/
issue_pdfs/22_3/22-3_strong.pdf. Accessed on 2/1/2013.
The Royal Society. (2009). Geoengineering the climate: science, governance and uncertainty. London:
The Royal Society, 2009.
Thiratangsathira, U. (2010). The Precautionary Principle in International Environmental Law (with a
Special Focus on the Marine Environment of Thailand). PhD Thesis. Queen Mary, University
of London.

180 RMB3oT/2013
Armas Químicas, uma Breve Revisão para um
Assunto Atual

Fabio Triachini Codagnone*


Primeiro-Tenente (S)
Stanley de Souza Guedes**
Primeiro-Tenente (S-RM2)

SUMÁRIO

Introdução
Histórico
Definição
Classificação
Considerações finais

Introdução O Manual de Defesa Química, Biológica


e Nuclear do Corpo de Fuzileiros Navais

A Primeira Guerra Mundial foi um mar-


co na área militar, pela forma como
ela se desenvolveu, com o uso dos carros
do Brasil define arma química como “toda
substância que, por sua atividade química,
produz, quando empregada para fins mili-
de combate, as táticas adotadas, a utilização tares, um efeito tóxico”.
das aeronaves como armas bélicas e pela As armas químicas, de forma geral, são
introdução de uma arma até então inima- baratas, podem ser empregadas contra um
ginada: a arma química. único indivíduo ou vários, são relativamen-

* Farmacêutico-bioquímico. Mestre em Farmacologia/Neurociências pela Universidade Federal do Paraná. Realizou


o Curso de Aperfeiçoamento em Análises Clínicas pela Escola de Saúde do Hospital Naval Marcílio Dias.
** Farmacêutico-bioquímico.
Armas Químicas, uma Breve Revisão para um Assunto Atual

te fáceis de produzir, inclusive por nações Alemanha, no ano de 1915, lançou o gás
pouco desenvolvidas economicamente ou mostarda sobre as tropas aliadas na cidade
até mesmo por grupos paramilitares (EVI- de Ypres, na Bélgica, durante a Primeira
SON ET AL. 2002). Diante dos eventos de Guerra Mundial.
grande porte que estão a se realizar no País A partir daquele momento houve uma
e da maior participação brasileira no cená- série de esforços na produção de agentes
rio mundial, inclusive com operações de químicos para fins bélicos, principalmente
paz como as do Haiti e do Líbano, o assunto os agentes asfixiantes neurotóxicos. Na
defesa química/biológica/nuclear passa a década de 30, na Alemanha, foram desen-
ser de grande importância, o que pode ser volvidos estudos que resultaram nos agentes
observado no item “Segurança Nacional” neurotóxicos do tipo G (pouco persistentes).
da Estratégia Nacional de Defesa: Curiosamente, não há relato de uso de
“Todas as instâncias do Estado deverão arma química no campo de batalha durante
contribuir para o incremento do nível de a Segunda Guerra Mundial.
Segurança Nacio- Na década de 50,
nal, com particular foram desenvolvidos
ênfase sobre: Em 13 de janeiro de 1993, compostos de toxici-
– as medidas de 170 países, entre eles o dade mais elevada e de
defesa química,
bacteriológica e
Brasil, assinaram em Paris grande persistência no
ambiente, denominados
nuclear, a cargo a Convenção Internacional agentes do tipo V. A
da Casa Civil da Mundial sobre a Proibição maioria desses agentes
Presidência da Re- são ésteres fosfóricos
pública; dos Minis- do Desenvolvimento, e possuem estruturas
térios da Defesa, da Produção, Armazenamento e mecanismos de ação
Saúde, da Integra-
ção Nacional, das
e Uso de Armas Químicas similares aos inseticidas
e pesticidas. (DOMIN-
Minas e Energia e GOS E COLS., 2003).
da Ciência e Tecnologia; e do GSI-PR, O agente laranja foi usado como desfo-
para as ações de proteção à população lhante pelo Exército dos Estados Unidos da
e às instalações em território nacional, América (EUA) na Guerra do Vietnã, entre
decorrentes de possíveis efeitos do em- 1962 e 1971. Os constituintes do agente la-
prego de armas dessa natureza.” ranja eram utilizados na agricultura, porém
durante a Guerra do Vietnã foi produzido com
O presente artigo faz uma revisão das inadequada purificação, apresentando teores
principais armas químicas utilizadas até o elevados de um subproduto cancerígeno, e
momento, dos seus efeitos e das medidas seu uso deixou sequelas terríveis na popu-
disponíveis no enfretamento das mesmas. lação daquele país e nos próprios soldados
norte-americanos. Esta arma química alterava
Histórico o habitat natural e provocou enfermidades
irreversíveis, sobretudo malformações con-
Dados históricos indicam que o primei- gênitas, câncer e síndromes neurológicas em
ro uso de arma química se deu quando a crianças, mulheres e homens do país1.

1 (http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/08/vietna-e-eua-iniciam-enfim-descontaminacao-de-agente-laranja-1.html)

182 RMB3oT/2013
Armas Químicas, uma Breve Revisão para um Assunto Atual

Em 1988, cerca de 5 mil pessoas de Classificação


etnia curda foram mortas em ataques
com o gás sarin, na cidade de Halabja, Classificação dos Agentes Químicos
no norte do Iraque, por ordem de Saddam Baseada no Emprego Tático
Husseim2.
Em 13 de janeiro de 1993, 170 países, Podem ser classificados em: causadores
entre eles o Brasil, assinaram em Paris a de baixa ou incapacitantes.
Convenção Internacional Mundial sobre a Os causadores de baixa provocam morte
Proibição do Desenvolvimento, Produção, ou incapacidade prolongada, e seu uso
Armazenamento e Uso de Armas Químicas, tem o objetivo de interdição do terreno ou
que entrou em vigor no dia 29 de abril de material.
1997. Os incapacitantes agem nas funções
neuropsíquicas do homem, incapacitando-o
Definição para o combate.

A Organização do Tratado do Atlântico Classificação dos Agentes Químicos


Norte (Otan) define arma química como Baseada nos Efeitos Sobre o Organismo
sendo “qualquer substância química uti- Humano (Classificação Fisiológica)
lizada em operações militares para matar,
ferir ou incapacitar indivíduos em decor- Agentes neurotóxicos ou tóxicos dos
rência de seus efeitos tóxicos” (EVISON nervos
E COLS., 2002). Devemos acrescentar a
essa definição que a utilização das armas Esses agentes, extremamente tóxicos,
químicas não se limita atualmente ao uso são compostos organofosforados, sinteti-
estritamente militar, sendo empregadas zados primeiramente na Alemanha antes
por organizações paramilitares, seitas etc. da Segunda Guerra Mundial. São líquidos
Como exemplo, podemos citar o ataque em temperatura ambiente e produzem
terrorista ao metrô de Tóquio, em 1995, vapores capazes de penetrar na pele, no
em que doze pessoas morreram e 3.796 trato respiratório e na córnea. O líquido
ficaram feridas em decorrência dos efeitos pode ser absorvido através da pele íntegra
deletérios do agente sarin. e do intestino após a ingestão de alimentos
Segundo Colasso e Azevedo (2012), contaminados. Fazem parte desse grupo
os agentes químicos devem apresentar os seguintes agentes: sarin, soman, tabun
algumas características para que se- e XV.
jam considerados agentes químicos de Todos agem por meio da inibição da
guerra. Dentre essas, as principais são: enzima acetilcolinesterase, a qual degra-
serem efetivos em baixas concentrações; da o neurotransmissor acetilcolina; por
possuírem volatilidade; terem estado de conseguinte, aumentam o tempo de ação
agregação apropriado; terem estabilidade da acetilcolina na fenda sináptica, pro-
à estocagem; e penetrarem no organismo movendo uma estimulação sustentada dos
por várias vias, como respiratória, dérmica receptores parassimpáticos. Como efeitos
e ocular. clínicos observáveis, temos aumento das

2 (http://www.alunosonline.com.br/geografia/oscurdos.html)
(http://news.bbc.co.uk/onthisday/hi/dates/stories/march/16/newsid_4304000/4304853.stm)

RMB3oT/2013 183
Armas Químicas, uma Breve Revisão para um Assunto Atual

salivações, lacrimejamento, sudorese, uma resposta clínica satisfatória. Não há


diminuição da visão/miose e cefaleia, um limite de dose de atropina em caso de
isso em doses moderadas. Em doses altas exposição aos diferentes agentes.
provocam broncoespasmo/dispneia, fasci- Os sintomas nicotínicos não respondem
culações musculares, convulsões e morte à atropina, sendo necessária a adminis-
decorrente de anóxia (EVISON E COLS. tração de pralidoxima na dose de 1 a 2 g
2002; KOENIG, 2009). durante 20 a 30 minutos, em infusão intra-
Agentes colinérgicos têm um efeito venosa. A administração rápida pode causar
cronotrópico negativo sobre o coração, hipertensão e, posteriormente, fraqueza
levando à bradicardia. Interessantemente, muscular. A pralidoxima é capaz de rever-
é a taquicardia comumente verificada após ter a ligação covalente das drogas sobre o
a exposição a esses agentes. Esse efeito sítio ativo da enzima acetilcolinestarase
paradoxal pode ser explicado pela ação da antes que ela se torne permanente.
acetilcolina sobre os receptores nicotínicos, Um agente profilático para uma poten-
tendo como efeito a liberação de adrenalina, cial exposição ao soman foi desenvolvido.
a qual causa taquicardia. Outra explica- A piridostigmine é utilizada no tratamento
ção seria uma resposta secundária a uma da miastenia gravis, mas desde 2003 tem
diminuição do débito cardíaco e hipóxia, seu uso aprovado pelo FDA (Food and
levando a um estímulo para liberação de Drug Administration dos EUA) como pré-
renina, posteriormente angiotensina II, tratamento a exposição a agentes químicos
resultando num aumento da liberação de com ação no sistema nervoso. Comandan-
noradrenalina. tes militares têm ordenado que suas tropas
No ataque com sarin ao metrô de façam uso do medicamento quando em
Tóquio, em 1995, 640 pacientes foram situações de risco a exposição ao soman.
levados ao Saint Luke’s Hospital, e destes Acredita-se que seu uso aumente a sobrevi-
somente quatro apresentaram bradicardia vência à exposição. A piridostigmine é um
(ANDERSON, 2011). inibidor reversível da enzima aceticolines-
O tratamento dos sintomas decorrentes terase e, para que tenha efetividade, deverá
da exposição a esses agentes inclui a atro- ser ingerida previamente à exposição ao
pina – 2 mg administradas a cada período soman, aumentando a efetividade da prali-
de cinco a dez minutos, até a melhora do doxima. O uso único da piridostigmine não
quadro respiratório. Frequentemente, uma é efetivo a exposição ao soman.
dose acumulada de 10 a 20 mg de atropina A piridostigmine teve seu primeiro teste
em duas a três horas é necessária para na Guerra do Golfo, como “tratamento

Tabela comparativa de volatilidade, persistência e


toxicidade dos principais agentes neurotóxicos

hh hh
iiii h
ii hhh
h hhhh
hhhhh hhhhh

FONTE: Dados adaptados de Anderson, P. D. (2012). Emergency management of chemical weapons injuries.
Journal of pharmacy practice, 25(1), 61-8. doi:10.1177/0897190011420677

184 RMB3oT/2013
Armas Químicas, uma Breve Revisão para um Assunto Atual

sob investigação” do FDA. A concen- instáveis (radicais livres) que agem com
tração é de 30 mg a cada oito horas, ini- moléculas biológicas, como proteínas e
ciada horas antes à exposição ao soman. ácidos nucleicos.
Forças militares americanas a utilizam nos Em conflitos, foram utilizados para in-
kits Mark 1 destinados a algumas tropas. capacitar um grande número de soldados,
Esses kits incluem autoinjeções de atro- o que decorre da formação de feridas. Sua
pina intramuscular e pralidoxima. Alguns mortalidade é baixa, embora o efeito psi-
serviços médicos de emergência também cológico seja devastador.
utilizam kits similares ao Mark 1. Sinais e sintomas clínicos decorrentes
da exposição incluem eritema, formação
FIGURA KIT MARK 1 de vesículas (bolhas) na pele, possíveis
AUTO – INJECTOURS USED BY danos à córnea, vômitos e supressão medu-
THE U.S. ARMED:
lar (resultando em discrasias sanguíneas).
Deve-se ressaltar que os sintomas não
se manifestam imediatamente, podendo
TRAINING DEVICES ocorrer em até oito horas após a exposição
INJECTOURS
(ANDERSON, 2012).
Kehe e Cols. descreveram 12 casos de
pacientes iranianos expostos a mostarda
de enxofre em 1984 a 1985. Os primeiros
sintomas relatados foram oculares. Ou-
tras manifestações comuns foram lesões
MARK I NERVE AGENT ANTIDOTE
no trato respiratório (brônquios) e pele.
NERVE AGENT AMTIDOTE KIT TRAINIG KIT. MARK I Os sintomas oculares específicos foram
ardência e lacrimejamento. Sinais na
FONTE: http://en.wikipedia.org/wiki/Mark_I_NAAK
derme incluíam ulcerações e edema. Um
paciente apresentou hiperpigmentação.
Metade dos pacientes apresentou hipó-
Agentes vesicantes xia. Um paciente morreu em decorrência
de septicemia, secundária à supressão
Os principais representantes desta classe medular.
são: gás mostarda, mostarda de enxofre, Medidas de controle devem ser adotadas
levisita e fosgênio oxima (ANDERSON, no sentido de promover uma rápida des-
2012). São assim chamados pela sua contaminação dos indivíduos e remoção
propriedade em formar bolhas (vesículas) do local de exposição. Não há nenhum
após o contato com a pele (COLASSO E antídoto específico para o gás mostarda.
AZEVEDO, 2012). Tratamento de suporte deve ser realiza-
O gás mostarda é um líquido oleoso do de forma a evitar complicações, sendo
amarelo em temperatura ambiente, com indicados o uso de antibióticos oftálmicos e
odor característico de mostarda ou alho. Em tópicos e a lavagem com solução fisiológica
recipientes fechados permanece líquido, dos locais afetados. Em caso de sintomas
porém em ambientes abertos volatiliza-se respiratórios, o uso de oxigênio, ventilação
rapidamente. mecânica e fisoterapia respiratória estão
Seu mecanismo de ação se dá principal- prescritos (ANDERSON, 2012; EVISON
mente por meio da formação de compostos ET. COLS; 2002).

RMB3oT/2013 185
Armas Químicas, uma Breve Revisão para um Assunto Atual

Agentes sanguíneos A hidroxicobalamina é um tratamento


alternativo, já aprovado pelo FDA (Food
São substâncias químicas que agem and Drug Administration) na concentra-
sobre o metabolismo de células sanguí- ção de 5 g através de infusão intravenosa
neas, levando a um quadro de hipóxia durante dez minutos (ANDERSON, 2012,
(diminuição da oxigenação). Podem agir COLASSO E AZEVEDO, 2012).
por meio de deslocamento do oxigênio
(competição), como o metano e o nitro- Agentes asfixiantes
gênio, ou por interferência no transporte
de oxigênio, como o cloreto de cianogênio Agentes asfixiantes, ou sufocantes, são
e o cianeto de hidrogênio. Estes últimos assim denominados pela sua capacidade
são os mais empregados como agentes de de irritar o tecido pulmonar, causando o
guerra. acúmulo de líquidos
Durante a Segun- nos pulmões (edema)
da Guerra Mundial, Na ausência de especialistas e podendo resultar em
os nazistas empre- em descontaminação, o morte. Os principais
garam o cianeto de agentes sufocantes
hidrogênio (Zyklon hipoclorito de sódio (água são: fosgênio, cloro
B) para exterminar sanitária) deverá ser e cloropicrina (AN-
milhões de civis e DERSON, 2012, CO-
militares nas câma- utilizado. Este é efetivo LASSO E AZEVEDO,
ras de gás. Também contra agentes com ação 2012).
há rumores de que te- no sistema nervoso, A Alemanha foi o
nha sido usado pelo primeiro país a empre-
Japão contra a Chi- agentes vesicantes e armas gar o cloro durante a
na antes e durante a biológicas. Esse simples Primeira Guerra Mun-
guerra e relatos de dial, devido à falta de
utilização durante a procedimento pode salvar munição (COLASSO
Guerra Irã-Iraque vidas E AZEVEDO, 2012).
(COLASSO E AZE- Estes compostos
VEDO, 2012). (cloro, fosgênio e clo-
Sinais e sintomas da exposição ao ropicrina) podem produzir efeitos a
cianeto incluem taquicardia seguida de longo prazo, tais como: fibrose, bron-
bradicardia, hipotensão, cianose, acidose quiolite, doença pulmonar obstrutiva,
metabólica e convulsões (ANDERSON, alveolite e outras anormalidades na
2012). função pulmonar.
Em casos de intoxicação aguda ao O tratamento inclui ventilação mecâni-
cloreto de cianogênio, administram-se ca, reposição de fluidos e diuréticos. O uso
nitrato de sódio ou tiossulfato de sódio profilático de corticosteroides é controverso
(nitratos), edetato de dicobalto e hidro- (ANDERSON, 2012).
xicobalamina. Primeiramente é usado o
nitrato de sódio na concentração de 300 Respostas contra agentes químicos
mg; em seguida, o tiosulfato de sódio
na concentração de 12 g durante dez Uma resposta efetiva a agentes quími-
minutos. cos requer sistemas de monitoramento ou

186 RMB3oT/2013
Armas Químicas, uma Breve Revisão para um Assunto Atual

detecção, antídotos apropriados, rápida de Bombeiros e de hospitais da região


descontaminação e garantia de que as pes- foram responsáveis pelo atendimento
soas expostas não consumam alimentos e de todas as exposições secundárias; 5)
águas contaminadas. não houve descontaminação e tampouco
É de extrema importância uma rápida utilização de equipamentos de proteção
descontaminação. Na ausência de espe- apropriados (KOEING, 2009).
cialistas em descontaminação, o hipoclo-
rito de sódio (água sanitária) deverá ser Considerações Finais
utilizado. Este é efetivo contra agentes
com ação no sistema nervoso, agentes ve- Pela análise da História, desde a Primei-
sicantes e armas biológicas. É necessário ra Guerra Mundial até o uso no Iraque, as
que se faça a diluição medidas de defesa se
1/10, ou seja, 1 litro justificam.
de água sanitária em O assunto é atual e, diante Recentemente, a
9 litros de água. Esse Síria admitiu a pos-
simples procedimen- de um cenário mundial sibilidade de utilizar
to pode salvar vidas, cada vez mais assimétrico suas armas químicas
principalmente diante
de agentes químicos
e incerto, é necessário que em caso de agressão
externa, o que causou
de ação rápida e alta- tenhamos o conhecimento preocupação imedia-
mente tóxicos, como atualizado sobre a doutrina ta de diversos países
o agente XV. Em Ha- pelo mundo. Essa foi
labja, Iraque, milhares de defesa química/biológica/ a primeira vez que o
de indivíduos morre- nuclear referido país admitiu
ram imediatamente e possuir esse tipo de
muitos sobreviventes armamento. As últi-
tiveram problemas a longo prazo, pela mas estimativas apontam que o regime de
falta de descontaminação (GOSDEN AND Assad dispõe de milhares de tonéis de gás
GARDENER, 2005). mostarda, além de grandes quantidades de
Pesquisadores realizaram diversas sarin e, provavelmente, VX3.
observações após analisarem as respostas Como podemos observar, o assunto é
ao ataque de gás sarin em Tóquio. As atual e, diante de um cenário mundial cada
principais foram as seguintes: 1) muitas vez mais assimétrico e incerto, é necessário
das vítimas foram transportadas para o que tenhamos o conhecimento atualizado
hospital mais próximo, em vez de serem sobre a doutrina de defesa química/bioló-
dispersas em múltiplas instalações dis- gica/nuclear.
poníveis na região; 2) a equipe médica É de extrema importância que militares
do primeiro hospital a prestar socorro do Corpo de Saúde da Marinha – CSM
não havia sido adequadamente educada e (principalmente farmacêuticos e médicos)
treinada para situações decorrentes da ex- aprofundem seus conhecimentos sobre as
posição a armas químicas; 3) os hospitais técnicas de DQBN ou se especializem ao
falharam na detecção e identificação dos longo de suas carreiras, uma vez que a
casos; 4) somente 110 médicos do Corpo Marinha do Brasil deverá estar preparada

3 http://oglobo.globo.com/mundo/qual-tamanho-do-arsenal-quimico-de-bashar-al-assad-5517850#ixzz241MAthFI

RMB3oT/2013 187
Armas Químicas, uma Breve Revisão para um Assunto Atual

para defender os interesses nacionais em Em decorrência dos fatores supracitados,


sua Amazônia Azul, e também para atuar é de se esperar um aumento das demandas
em operações com a Organização das das atividades operativas em todo âmbito da
Nações Unidas (ONU) em diversas áreas MB, e o enfrentamento a ameaças anterior-
do globo. mente “inimaginadas” se fará necessário.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<CIÊNCIA & TECNOLOGIA>; Armamento; Guerra biológica; Guerra nuclear; Guerra
química; Estudo;

REFERÊNCIAS

Anderson, P. D. (2012). “Emergency management of chemical weapons injuries”. Journal of


pharmacy practice, 25(1), 61-8. doi:10.1177/0897190011420677
Colasso, C., & Azevedo, F. A. de. (2012). “Risco da utilização de armas químicas. Parte II – Aspec-
tos Tóxicológicos”. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, 5(1), 7-47.
Domingos, J. B., Longhinotti, E., Gageiro, V., et al. (2003). Divulgação. Quim. Nova, 26(5),
745-753.
Estratégia Nacional de Defesa. (2008). Retrieved August 21, 2012, from http://www.defesa.gov.
br/projetosweb/estrategia/arquivos/estrategia_defesa_nacional_portugues.pdf
Evison, D., Hinsley, D., & Rice, P. (2002). “Chemical weapons”. British Medical Journal, 324(Fe-
bruary), 332-335.
Gosden, C., & Gardener, D. (2005). “Weapons of mass destruction — threats and responses”.
British Medical Journal, 331(August), 397-400.
Koenig, K. L. (2009). Preparedness for terrorism: managing nuclear, biological and chemical
threats. Annals of the Academy of Medicine, Singapore, 38(12), 1026-30. Retrieved from http://www.
ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20052435

188 RMB3oT/2013
DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E POLÍTICAS
PÚBLICAS*

THALITA MAYAN ESQUERDO ANDRADE**


Estagiária de Serviço Social

sumário

Introdução
Direitos humanos e os novos paradigmas
Acessibilidade como direito
Avanços das políticas públicas
Conclusão

INTRODUÇÃO segurança e autonomia as edificações, o


transporte e o espaço urbano.

A o longo da história percebemos que


as pessoas com deficiência têm sus-
tentado uma luta pelo reconhecimento de
A partir desses direitos garantidos, sur-
ge uma nova forma de pensar a deficiência,
tanto pelos familiares como pelos próprios
seus direitos fundamentais como cidadãos, deficientes, passando-se a construir uma
que perpassa por educação, trabalho, saú- consciência de que o problema não é ape-
de, assistência, habilitação, reabilitação nas do indivíduo, mas de toda a sociedade,
e acessibilidade, que é a possibilidade e e de que o Estado deverá manter serviços
a condição de a pessoa com deficiência que propiciem melhor qualidade de vida
ou com mobilidade reduzida utilizar com a essas pessoas, respeitando suas neces-
*Artigo publicado na “VI Jornada Internacional de Políticas Públicas: o desenvolvimento da crise capitalista e a
atualização das lutas contra a exploração, a dominação e a humilhação”.
**Graduanda do curso de Serviço Social da Universidade Federal do Pará e estagiária do Núcleo do Serviço de
Assistência Integrada ao Pessoal da Marinha (NSAIPM), sob jurisdição do Com4oDN (Belém – PA).
DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E POLÍTICAS PÚBLICAS

sidades específicas e permitindo pleno normal para um ser humano; e c) desvan-


exercício de sua cidadania. tagem como uma situação prejudicial para
Surge então uma pressão pela inclusão um determinado indivíduo, em consequ-
social possibilitando a eliminação de toda ência de uma deficiência ou incapacidade,
prática discriminatória e acesso igualitário que limita ou impede o desempenho de um
a bens e serviços às pessoas com deficiên- papel que é normal em seu caso (em função
cia, por meio de seu direito à equiparação de idade, sexo e fatores sociais e culturais).
de oportunidades. Já em 1997, a OMS reformulou a Clas-
Esses direitos estão referenciados em sificação Internacional, sendo denominada
normas, leis e decretos que estão susten- Classificação Internacional das Deficiên-
tados nos direitos humanos corroborados cias, Atividades e Participação, um manual
na Constituição Federal (CF) de 1988, que da dimensão das incapacidades e da saúde,
define como um dos seus fundamentos, no enfatizando os contextos ambientais e as
artigo 1o, inciso III, a dignidade da pes- potencialidades.
soa humana, cabendo Com a nova conceitu-
ao Ministério Público ação, deficiência passa a
a fiscalização para o A abordagem da deficiência ser uma perda ou anor-
cumprimento das leis. sofreu grandes e rápidas malidade de uma parte
do corpo (estrutura) ou
DIREITOS
transformações no seu função corporal (fisioló-
HUMANOS aspecto conceitual, devido gica), incluindo funções
E OS NOVOS às mudanças ocorridas na mentais. A atividade está
PARADIGMAS relacionada com o que as
sociedade e às conquistas pessoas fazem de mais
Na Constituição de alcançadas pelas pessoas simples, até as habili-
1988, estão assegura- dades e condutas mais
dos os direitos das pes-
com deficiência complexas. A limitação
soas com deficiência das atividades não é mais
nos mais diferentes aspectos e campos. No considerada como incapacidade, pois esse
artigo 23, capítulo II, a CF determina que é termo pode ser tomado como uma desquali-
competência comum da União, do estados, ficação social. Essas limitações passam a ser
do Distrito Federal e dos municípios cuidar entendidas como uma dificuldade no desem-
da saúde e assistência pública, de proteção penho pessoal, e esta Classificação Interna-
e garantia das pessoas com deficiência. cional inclui a participação que estabelece a
Conceitualmente, em 1989 a Clas- interação entre a pessoa portadora, a limitação
sificação Internacional de Deficiências, de atividades e o contexto socioambiental.
Incapacidades e Desvantagens (Cidid), Já a partir dos anos 70, inicia-se um
elaborada pela Organização Mundial movimento de “vida independente”, su-
de Saúde (OMS), definiu: a) deficiência pondo eliminar a dependência e ressaltar
como toda perda ou anormalidade de uma o direito das pessoas com deficiência em
estrutura ou função psicológica, fisiológica construir sua autonomia, deixando de ser
ou anatômica; b) incapacidade como toda objeto e passando a ser sujeito, tomando
restrição ou falta, devida a uma deficiência suas próprias decisões.
da capacidade de realizar uma atividade na Nas últimas décadas, a abordagem
forma ou na medida em que se considerada da deficiência sofreu grandes e rápidas

190 RMB3oT/2013
DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E POLÍTICAS PÚBLICAS

transformações no seu aspecto conceitual, Reabilitação (1976) e em outras organiza-


devido às mudanças ocorridas na sociedade ções que desenvolvem políticas, programas
e às conquistas alcançadas pelas pessoas e ações que lutam por proteção e defesa
com deficiência, mas para essas mudanças dessas pessoas.
muito contribuíram as práticas de atuação Esse novo enfoque da deficiência incor-
das pessoas com deficiência de vários paí- pora uma nova dimensão, sustentada nos
ses e algumas organizações, dentre as quais direitos humanos, baseada na valorização
estão a Organização das Nações Unidas da pessoa, no fortalecimento do indivíduo
e suas agências especializadas, como a e da sua família e em sua plena integração
Organização Internacional do Trabalho à sociedade, sendo reconhecida a impor-
(OIT) e a OMS. tância da pessoa com deficiência enquanto
Com esse novo conceito, baseado na cidadão em pleno direito, como consagrado
relação entre deficiência, incapacidade na CF de 1988, no Estatuto da Criança e do
e desvantagem, foi Adolescente (ECA) por
introduzida uma di- meio da Lei 8.068/1990
mensão sociopolítica, Cabe ao governo a tarefa e, principalmente, pela
fazendo com que surja de garantir a formulação Lei 7.853/1989.
uma “nova maneira de de políticas e administração Apesar de esses di-
pensar a deficiência”, reitos estarem expres-
tanto para as pessoas que garantam acesso e sos na Constituição,
portadoras de defici- ingresso das pessoas com os novos paradigmas
ências e suas famí- requerem a intervenção
lias como pelos seus deficiência aos bens e do poder público e da
representantes. Estas serviços oferecidos pelo sociedade civil, pois as
pessoas passaram a setor público opções políticas devem
reivindicar seus di- traduzir as aspirações e
reitos de cidadãos e a os interesses coletivos.
participar da sociedade em igualdade de Cabe ao governo a tarefa de garantir a
condições como as demais pessoas. Desse formulação de políticas e administração
modo, o Estado e a sociedade passaram que garantam acesso e ingresso das pes-
a modificar seus comportamentos e suas soas com deficiência aos bens e serviços
atitudes em relação às suas necessidades oferecidos pelo setor público e sua perma-
específicas. nência em todos os recursos disponíveis
Essa nova abordagem da deficiência está na sociedade, em comum com os demais
caracterizada em instrumentos normativos cidadãos. À sociedade civil cabe a mobili-
internacionais como a Declaração dos Di- zação do setor público e privado para que
reitos dos Impedidos (1975), o Programa estes atuem efetivamente na execução das
de Ação das Nações Unidas (1982), as políticas que conduzam as pessoas com
Normas Internacionais do Trabalho sobre deficiência ao seu pleno direito de exercer
a Readaptação Profissional – publicada em a cidadania.
1984 pela OIT, entre outros. Todas essas Mesmo com esses direitos garantidos,
normas têm base filosófica na Declaração percebemos a falta de liberdade, de controle
Universal dos Direitos Humanos (1948), de decisão sobre suas vidas, de oportu-
nas Resoluções da Organização Mundial nidades educacionais e de emprego e as
de Saúde para Prevenção de Deficiências e limitações do seu direito à acessibilidade,

RMB3oT/2013 191
DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E POLÍTICAS PÚBLICAS

surgindo, assim, o conceito de “Normali- o acesso aos serviços públicos, aos bens
zação”, que não significa tornar a pessoa culturais e aos avanços políticos, econô-
“normal” ou forçar as práticas de “coisas micos e tecnológicos da sociedade, o que
normais” e sim contribuir para a valoriza- efetivamente significa a equiparação de
ção dessas pessoas e para que os serviços oportunidades para todos.
prestados tragam respeito e dignidade, fa-
zendo com que as pessoas com deficiência Acessibilidade como direito
sejam valorizadas pela sociedade.
De acordo com Canziani (2006), com a O ano de 1981 foi declarado pelas Na-
normalização confere-se ênfase aos direi- ções Unidas como o Ano Internacional das
tos das pessoas com deficiência, como: o Pessoas com Deficiência, e em 1982 foi
direito de viver em condições normais, o aprovada a Resolução 37/82 da Assembleia
direito à educação e ao trabalho, o direito Geral das Nações Unidas, o Programa de
de tomar suas próprias decisões e o direito Ação Mundial para Pessoas com Deficiên-
à dignidade. cia, que ressalta seus direitos de terem as
A nova maneira de “pensar a deficiên- suas necessidades atendidas como qual-
cia” inclui um novo conceito de “reabi- quer cidadão. Inicia-se então a luta pela
litação”, com medidas que levam a uma acessibilidade em espaços construídos sem
redução do impacto da deficiência sobre barreiras, ou seja, uma luta com o meio.
o indivíduo, capacitando-o a conseguir Um dos conceitos definidos pela OMS
independência e melhor qualidade de vida, é a equiparação de oportunidades, em que
e levando em conta sua opinião, suas esco- o sistema geral da sociedade deve ser aces-
lhas e suas decisões, reduzindo, assim, as sível a todos. É então que se verifica que o
desigualdades sociais. E essa nova forma impedimento está no meio e não na pessoa,
de pensar a deficiência afasta a ótica da pois, ao não se proporcionar acesso, não
patologia e da etiologia e, assim, leva-se lhes é permitida essa equiparação.
em conta que a incapacidade causada por De acordo com Prado (2006), o objetivo
uma deficiência é agravada ou minimizada da acessibilidade é permitir ganho de auto-
conforme sua relação com a sociedade. nomia e de mobilidade a um número maior
Esta deve oferecer apoios facilitadores para de pessoas, até mesmo àquelas que tenham
que as pessoas com deficiência tenham as reduzida a sua mobilidade ou que tenham
mesmas oportunidades que qualquer outro dificuldades em se comunicar, para que
cidadão. usufruam os espaços com mais segurança,
Sendo assim, nessa nova abordagem confiança e comodidade.
vem sendo substituída a prática da integra- No Brasil, a acessibilidade é prevista
ção pelo termo inclusão social, pois assim nos artigos 227 e 244 da CF, os quais ga-
parte-se do princípio que a sociedade deve rantem acesso adequado às pessoas com
ser modificada para atender às necessidades deficiência, com adaptações de edifícios,
de todos os seus membros. Uma sociedade transportes, sinalização, sistemas de co-
inclusiva não aceita preconceitos, discri- municação, circulação de pedestres e até
minações, barreiras sociais, culturais ou mesmo habitação.
pessoais. Para implantar um processo de democra-
A inclusão das pessoas com deficiência tização da sociedade brasileira que priorize
significa possibilitar a elas, respeitando a inclusão de pessoas, principalmente as
as necessidades próprias de sua condição, com deficiências, é necessário pensar em

192 RMB3oT/2013
DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E POLÍTICAS PÚBLICAS

ambientes acessíveis. É preciso desenvol- das partes e que indivíduos, instituições,


ver objetos ou espaços de acordo com o interações, ideologia e interesses contam,
conceito de desenho universal, em que os mesmo que existam diferenças sobre a
ambientes deverão ser construídos para que importância relativa destes fatores.
qualquer indivíduo possa adaptar-se a eles, As políticas públicas repercutem na
visando atender ao maior número possível economia e nas sociedades, daí porque
de pessoas. qualquer teoria da política pública precisa
Segundo Prado (2006), os seguintes também explicar as inter-relações entre
princípios deverão ser seguidos no desenho Estado, política, economia e sociedade.
universal: conter um desenho equitativo; Atualmente, no Brasil, 45 milhões de
permitir flexibilidade de uso; ser simples e pessoas declaram possuir algum tipo de
de uso intuitivo; ter informação perceptível; deficiência, segundo o Censo IBGE/2010. O
ser tolerante a erros; exigir pouco esforço acompanhamento e a participação ativa da
físico; e garantir tamanho e espaço para população na política são uma segurança de
aproximação, alcance, manipulação e uso. que as ações do Governo serão voltadas para
É importante res- os interesses exclusivos
saltar que, para se ter da população. Além do
uma cidade acessível, é Atualmente, no Brasil, mais, a possibilidade
necessário desenvolver 45 milhões de pessoas de o cidadão opinar na
um plano municipal de formulação de políticas
acessibilidade com a declaram possuir algum públicas torna o governo
participação de vários tipo de deficiência, segundo mais próximo da socie-
profissionais, como dade e ciente de quais
arquitetos, urbanistas,
o Censo IBGE/2010 prioridades devem ser
engenheiros e desig- executadas, segundo a
ners, com atribuições permanentes, defi- visão de quem será o beneficiado.
nições de metas e prioridades e programas A participação efetiva de pessoas com
para a eliminação de barreiras. deficiência na definição de políticas públi-
cas denota um aumento na maturidade bra-
Avanços das políticas públicas sileira em torno desta temática. É singular
constatar que ações, planos e programas
De acordo com Cáritas (2006), política que vêm sendo desenhados pelo Governo
pública é um conjunto de ações permanen- Federal têm se orientado pelo resultado
tes que asseguraram e ampliaram direitos dessa participação, com destaque para as
civis, econômicos, sociais e coletivos de deliberações das I e II Conferências Na-
todos, que devem ser amparados em lei, de cionais sobre os Direitos da Pessoa com
responsabilidade do Estado (financiamento Deficiência, realizadas, respectivamente,
e gestão), e com controle e participação da em 2006 e em 2008. E o lançamento do
sociedade civil. Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com
Souza (2006), ao discutir sobre as diver- Deficiência – Viver sem Limite, por meio
sas definições, defende que, apesar de optar do Decreto 7.612, de 17 de novembro de
por abordagens diferentes, as definições de 2011, visando a ações de acesso à educação,
políticas públicas assumem, em geral, uma inclusão social, acessibilidade e atenção a
visão holística do tema, uma perspectiva de saúde, que prevê um investimento total no
que o todo é mais importante do que a soma valor de R$ 7,6 bilhões até 2014.

RMB3oT/2013 193
DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E POLÍTICAS PÚBLICAS

Se é um consenso que as pessoas com com deficiência e à precária fiscalização


deficiência devem ter seus direitos assegu- dos órgãos competentes. É necessário que
rados, ampliados e efetivados, é certo que a população se conscientize em relação aos
esses direitos só podem ser detalhados, benefícios que uma sociedade inclusiva
ter seu conteúdo e efetividade estabeleci- traz às pessoas com deficiência em todas as
dos, por meio de uma esferas da vida social,
ampla e democráti- econômica e política.
ca discussão com a É necessário que a É imprescindível,
sociedade, e de ma- população se conscientize no entanto, que a inclu-
neira especial com as são seja autêntica, de
próprias pessoas com em relação aos benefícios maneira que haja uma
deficiência. que uma sociedade conscientização tanto

CONCLUSÃO
inclusiva traz às pessoas do Estado quanto da
sociedade, baseando-se
com deficiência em todas no princípio da igual-
Apesar de todas as esferas da vida social, dade e pautando-se no
as medidas garanti- exercício da cidadania e
das pela CF, ainda econômica e política na dignidade da pessoa
persistem fatores que humana. A real inclu-
dificultam melhores resultados devido à são acontece quando há a união dos dois
desinformação da sociedade, à visão li- processos, em que o Estado viabiliza a
mitada dos serviços voltados para pessoas integração e a sociedade aceita a inclusão.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<psicossocial>; Assistência; Assistência social; Filantropia; Sociologia; Administração
pública;

REFERÊNCIAS

BRASIL, Constituição da República Federativa do. Texto constitucional promulgado em 5 de outubro


de 1988, com as alterações adotadas pelas emendas Constitucionais no 1/92 a 56/2007 e pelas
Emendas Constitucionais de Revisão no 1 a 6/94 . Senado Federal. Subsecretaria de Edições
Técnicas. Brasília. 2008.
CANZIANI, Maria de Lourdes. “Direitos Humanos e os novos paradigmas das pessoas com defi-
ciência”. In: Araújo, Luiz Alberto David. Defesa dos Direitos das Pessoas Portadoras de
Deficiência. Ed. Revista dos Tribunais. São Paulo. 2006.
CARITÁS, Brasileira. Políticas Públicas: controle social e mobilizações cidadãs. Brasília, 2006.
Lei Orgânica de Assistência Social. Secretaria Nacional de Assistência Social. Lei no 8.742 de 7 de
dezembro de 1993.
Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Viver sem Limite. Conselho Nacional dos
Direitos da Pessoa com Deficiência. Decreto No 7.612 de 17 de novembro de 2011.
PRADO, Adriana Romeiro de Almeida. “Acessibilidade na Gestão da Cidade”. In: ARAÚJO, Luiz
Alberto David. Defesa dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência. Editora Revista
dos Tribunais. São Paulo. 2006.
SOUZA, C.; NETO, P. F. D. (orgs.). Governo, políticas públicas e elites políticas nos estados brasi-
leiros. Ed. Revan, Rio de Janeiro, 2006.

194 RMB3oT/2013
VIAGEM À ANTÁRTICA*

LOHAN FARIAS MOLINA LOPES


Aspirante
ALMIR FREIRE PEREIRA
Aspirante

SUMÁRIO

Introdução
Continente Antártico: breve comentário
A viagem
Punta Arenas
Antártica
Atividades no Navio Polar Almirante Maximiano
Conclusão

INTRODUÇÃO Escola Naval e a Secretaria da Comissão


Interministerial para os Recursos do Mar

C omo não se surpreender no Continente


Gelado? O continente mais frio, mais
seco, com a maior média de altitudes (cerca
(Secirm) proporcionam aos aspirantes.
Estar a bordo do Navio Polar Almirante
Maximiano, acompanhar as atividades de
de 2 mil metros) e de maior índice de ven- pesquisa da Estação Antártica Comandante
tos fortes do planeta convive com as mais Ferraz (EACF) e visitar as demais estações
contrastantes e inusitadas formas de gelo e e bases de outros países na Antártica foram
suas diversificadas tonalidades. Foi neste experiências que enriqueceram nosso co-
contexto que, entre os dias 1o de janeiro e nhecimento a respeito do apoio da Marinha
1o de fevereiro de 2012, pudemos participar do Brasil às atividades de pesquisa cientí-
de um dos intercâmbios singulares que a fica. Quão nobre é apoiar as atividades de

* Publicado na Revista Villegagnon de 2012.


VIAGEM À ANTÁRTICA

Estação Antártica Comandante Ferraz, início de 2012

pesquisa científica por uma instituição cuja fauna de marsupiais. Há 40 milhões de anos,
finalidade é a defesa nacional. a Austrália, unida à Nova Guiné, separou-se
Indubitavelmente, as experiências por da Antártica e o gelo começou a aparecer.
que passamos nos agregaram uma série de Por volta de 23 milhões de anos atrás, o
valores profissionais, culturais e morais surgimento da Passagem de Drake, entre
difíceis de serem expostos e descritos em a Antártica e a América do Sul, resultou
palavras. Neste artigo, o objetivo é transmi- no aparecimento da Corrente Circumpolar
tir um pouco do que, com grande prazer e Antártica. O gelo propagou-se, substituindo
satisfação, foi aprendido e vivenciado nesse as florestas que cobriam o continente. O
período peculiar de nossas vidas. continente está coberto de gelo desde 15
milhões de anos atrás.
CONTINENTE ANTÁRTICO: Possui uma extensão de 14 milhões de
BREVE COMENTÁRIO quilômetros, dos quais cerca de 98% do
território permanece congelado, e no inver-
A formação geológica da Antártica este- no sua extensão chega a aumentar até mil
ve em geral ligada à dos continentes ou das quilômetros de largura por causa do gelo.
porções continentais situadas no Hemisfério As calotas de gelo possuem uma espessura
Sul do globo terrestre, com seus primeiros de até 4 mil metros e um volume estimado
desdobramentos resultantes da formação da em 25 milhões de km³, equivalente a 70%
massa continental original e unificada, mais das reservas de água doce do planeta.
conhecida como Pangeia. A África separou- Devido às baixas temperaturas regis-
se da Antártica por volta de 160 milhões de tradas (a temperatura média varia de 0°C
anos atrás, seguida pela Índia no início do no verão no litoral a -65ºC no inverno no
Cretáceo (aproximadamente 125 milhões de interior), a Antártica é o continente mais
anos). Há 65 milhões de anos, a Antártica inóspito, frio e seco do planeta e, por isso,
(ainda conectada à Austrália) tinha um clima possui muitas regiões ainda não exploradas
entre tropical e subtropical, somado a uma pelo homem. Em 21 de julho de 1983, foi

196 RMB3oT/2013
VIAGEM À ANTÁRTICA

registrada a mais baixa temperatura de afirmação do poder de países que se haviam


todos os tempos, mais especificamente na consagrado vencedores no conflito. Assim,
Base Russa de Vostok. teve início um intenso processo de instala-
Mesmo com montanhas que atingem ção de bases que oficialmente se dispunham
em média 2 mil metros de altura (é o con- a projetos científicos, mas que de fato
tinente com a maior média de altitude), os buscavam estabelecer posições políticas
ventos fortíssimos (a velocidade máxima já e até militares nos longínquos territórios.
registrada foi de 192 km/h) no continente Em 1959, surge o Tratado da Antártica,
Antártico fazem com que o tempo mude que determina o uso do continente para
constantemente e bastante rápido e, embora fins pacíficos, estabelece o intercâmbio
possua mais de 2/3 da água doce do planeta, de informações científicas e proíbe no-
é um dos locais mais secos do mundo, pois vas reivindicações territoriais. O Tratado
toda a água por lá está congelada. A precipi- determinou que até 1991 a Antártica não
tação anual é de apenas 140 mm, o que faz pertenceria a nenhum país em especial,
do continente um verdadeiro deserto polar. embora todos tivessem o direito de instalar
Os fortes ventos, a curta espessura do solo ali bases de estudos científicos. Na reunião
e a limitada quantidade de luz solar durante internacional de 1991, os países signatários
o inverno são as grandes dificuldades para o do Tratado resolveram prorrogá-lo por mais
crescimento dos vegetais na Antártica. Por 50 anos, isto é, até 2041 a Antártida será um
isso, a variedade de espécies de plantas na patrimônio de toda a Humanidade.
superfície é limitada a plantas “inferiores”, No ano de 1975, o Brasil aderiu ao
como musgos e hepáticas. Além disso, há Tratado da Antártica e sete anos depois rea-
uma comunidade autotrófica, formada por lizou sua primeira expedição ao Continente
protistas. A flora continental consiste em Antártico, entre os verões de 1982/1983.
liquens, briófitas, algas e fungos. Faziam parte desta expedição os navios
Já a fauna se caracteriza, de modo geral, Barão de Teffé, da Marinha do Brasil, e
pela variedade pequena de espécies animais Professor Wladimir Besnard, do Instituto
e pelo alto número de indivíduos, sendo rica Oceanográfico da Universidade de São
em aves, peixes e mamíferos. As aves mais Paulo. Dessa maneira, em janeiro de 1982
comuns são os pinguins, os albatrozes, os foi instituído pelo governo do Brasil o Pro-
petréis e as skuas. Existem também lulas, grama Antártico Brasileiro (Proantar), com
baleias, golfinhos, focas e leões-marinhos. propósitos científicos e políticos referentes
Um aspecto natural relevante da Antár- à Antártica. Ambos os propósitos foram
tica, já citado, é o fato de que o gelo que atingidos com a instalação da Estação
cobre seu território equivale a 70% das Antártica Comandante Ferraz, na Baía do
reservas de água doce do planeta. Outro é Almirantado, na Ilha do Rei George, a 130
que o continente abriga presumivelmente km da ponta da Península Antártica.
grandes reservas minerais, inclusive aque-
las de evidente interesse energético, como A VIAGEM
petróleo e carvão. Tais reservas encontram-
se intocadas, protegidas pela camada de Punta Arenas
gelo e por norma internacional.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, Partimos do Rio de Janeiro no dia 1o de
a Antártica ganhou uma dimensão renovada janeiro de 2012, por volta de 16h15, horário
enquanto palco de estratégias visando à de Brasília, no voo com escala em Santiago,

RMB3oT/2013 197
VIAGEM À ANTÁRTICA

onde a chegada se deu por volta de 19h55,


horário local. Em seguida, partimos de San-
tiago no dia 2 de janeiro, por volta de 1h20,
horário local, no voo com destino a Punta
Arenas, onde a chegada se deu por volta de
4h45, horário local. Chegamos ao aeroporto
de Punta Arenas na hora prevista. Lá, fomos
recebidos pelo oficial de Relações Públicas
do Navio Polar Almirante Maximiano. Fo-
mos conduzidos ao navio e nos alojamos.
Recebemos uma instrução inicial e ficamos Aspirantes no Continente Antártico
cientes acerca dos procedimentos básicos No dia da chegada, visitamos a EACF
que deveríamos adotar. e permanecemos lá até o dia 10. Acom-
Ficamos a bordo do navio, estando ele panhamos a rotina e o trabalho diário e
atracado nos dias 3, 30 e 31 de janeiro. No fizemos uma caminhada na parte externa
período em que o Almirante Maximiano da estação até o refúgio 2. O médico da
ficou atracado em Punta Arenas, tivemos a Estação nos acompanhou, além de dois
oportunidade de conhecer a cidade. Com- militares. A caminhada durou quatro ho-
pramos roupas e eletrônicos na zona franca, ras, sendo duas horas para ir e duas horas
fomos ao shopping e fizemos um passeio para voltar. Nessa caminhada, tiramos
turístico pelo centro. Vale ressaltar que todo bastantes fotos, filmamos e aprendemos
deslocamento que fazíamos era de táxi, pois mais a respeito da Antártica e da Estação
valia mais a pena, uma vez que custava 350 brasileira nas conversas com o médico,
pesos chilenos (na época, 1 real valia 260 militar já experiente naquela região. Foi
pesos chilenos) e funcionava da mesma nesse passeio que vimos de perto, pela
forma que um ônibus, tendo itinerário cer- primeira vez, a extraordinária beleza da
to. Esse era o táxi preto. Existia também o Antártica, suas geleiras e os pinguins.
táxi amarelo, que funcionava por corridas, No dia 10, participamos da cerimônia de
como no Brasil. comemoração dos 30 anos do Proantar,
na qual estavam presentes o ministro da
Antártica Defesa; o comandante da Marinha; o co-
mandante da Aeronáutica; e o presidente
Às 11 horas do dia 3 de janero, tocou da Vale Soluções e Energia.
Detalhe Especial para o Mar (DEM) e Em seu discurso, o ministro da Defesa
suspendemos. Acompanhamos o briefing e bem resumiu o que sentíamos ao ver as
a desatracação. Após o almoço, assistimos primeiras geleiras: “A Antártica tem uma
à palestra de boas-vindas. No dia 4 pela beleza que, ao mesmo tempo que encanta,
manhã, corremos o navio com o chefe assusta”.
do Departamento de Operações (Cheop) Ainda no dia 10, começamos a deman-
e pegamos nossas vestimentas de frio dar a base chilena Presidente Eduardo Frei.
oferecidas pela Secretaria da Comissão No dia seguinte pela manhã, chegamos
Interministerial para os Recursos do Mar às suas proximidades e seguimos de bote
(Secirm). Passamos pelos canais chilenos e até lá. Fomos recebidos pelos chilenos e,
pelo Estreito de Drake e, no dia 7 de janeiro, como a base é muito grande (possui hotel,
chegamos à Antártica. aeroporto e até uma vila), tivemos que nos

198 RMB3oT/2013
VIAGEM À ANTÁRTICA

deslocar de carro. Essa base apoia a EACF, ATIVIDADES NO NAVIO POLAR


permitindo pousos e decolagens do avião ALMIRANTE MAXIMIANO
Hércules, da Força Aérea Brasileira, que
faz o transporte de pessoal e material. Durante nossa estadia no navio, acom-
No dia 15, chegamos à Ilha Deception, panhamos o serviço no passadiço. Essa
famosa pela passagem de Schackleton em experiência foi bastante relevante, uma
sua aventura pela Antártica. Essa ilha tem vez que aprendemos na prática as atri-
a característica de possuir lagos de águas buições e responsabilidades do oficial de
quentes, apesar do clima frio, pois é um Quarto, além de termos a oportunidade de
grande vulcão ainda ativo. Na mesma ilha, conversar sobre a carreira e tirar dúvidas.
há ruínas de uma antiga empresa noruegue- Na passagem pelos canais chilenos, pra-
sa que caçava focas e baleias na região para ticamos a navegação indexada, assunto
a obtenção de óleo, e que ali funcionou de aprendido no 2o ano da Escola Naval. Na
1911 a 1931. Há também construções aban- Antártica, pudemos praticar a navegação
donadas de uma estação científica inglesa, nas regiões polares, assunto aprendido
operada continuamente de 1944 a 1967. também no 2o ano. Ficávamos o tempo
Nesse ano, uma erupção vulcânica inter- todo prestando muita atenção no radar e
rompeu sua operação, e outra, em 1969, deu no visual, pois pelo caminho havia muitos
fim à ocupação. Lá encontramos turistas de icebergs, groolers e campos de gelo. Voa-
um cruzeiro de bandeira francesa. Eles nos mos duas vezes no helicóptero Esquilo, do
disseram que vieram parando e visitando Esquadrão HU-1, que vai embarcado para
várias ilhas, que o passeio teria a duração prestar apoio no transporte de material e
de aproximadamente três semanas e custou pessoal. Na primeira vez sobrevoamos a
13 mil dólares. Estação Antártica Comandante Ferraz;
No dia 19, chegamos à Ilha Paulet. Essa na segunda, a Ilha Deception. Além
ilha conta com a presença estimada de 100 disso, presenciamos a sondagem com
mil casais de pinguins (sem contar os filho- ecobatímetro multifeixe para atualização
tes). O número impressiona. Paulet possui de carta náutica, o lançamento do CTD
uma grande área de reprodução dessas aves, Rosset, o funcionamento do posiciona-
conhecida como pinguineira, além de gai- mento dinâmico (DP) que o navio possui
votas, skuas, leões marinhos e focas, entre e operações aéreas. Conhecemos também
outros animais antárticos. O lugar é muito pesquisadores de diversas áreas: geólogos,
belo (apesar do forte odor característico das arqueólogos, antropólogos, alpinistas, bió-
pinguineiras), isolado e cheio de vida. logos e oceanógrafos, entre outros.

Navio Polar Almirante Maximiano

RMB3oT/2013 199
VIAGEM À ANTÁRTICA

CONCLUSÃO conhecimento e crescimento profissio-


nais, nossas amizades e nossa formação.
Nesse período, acompanhamos inú- Sem dúvida, este intercâmbio ficará
meras atividades que, além de pro- marcado em nossas memórias tanto pela
porcionar experiências únicas, muito riqueza da paisagem natural quanto pelas
engrandeceram nossa cultura, nossos experiências vividas.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<ÁREAS>; Antártica;

200 RMB3oT/2013
SUBMARINO NUCLEAR: PODER DE DISSUASÃO NO MAR*

“Os submarinos de propulsão nuclear são fundamentais para a de-


fesa das águas oceânicas. Por possuírem fonte inesgotável de energia e
desenvolver altas velocidades, são empregados segundo uma estratégia
de movimento. Em face dessas características, podem chegar a qualquer
lugar em pouco tempo, o que, na equação do oponente, significa poder
estar em todos os lugares ao mesmo tempo. O submarino nuclear é sim-
plesmente o senhor dos mares.”
Almirante de Esquadra Julio Soares de Moura Neto
Comandante da Marinha

DANIEL THEBERGE DE VIVEIROS


Aspirante
DIEGO DA SILVA CESPES
Aspirante

SUMÁRIO

Introdução
Histórico
Funcionamento da planta de propulsão e vantagens em
relação aos convencionais
Programa Nuclear da Marinha (PNM)
Benefícios
Conclusão

INTRODUÇÃO energia nuclear, na qual se inclui um reator.


Vale ressaltar, desde já, que a MB domina

D esde 1979, quando se iniciou o Pro-


grama Nuclear da Marinha (PNM), a
Marinha do Brasil (MB) nutre o sonho de
o ciclo do combustível nuclear e vem bus-
cando conhecimento técnico para também
obter sucesso na segunda fase do projeto.
construir submarinos de propulsão nuclear. O PNM, desde sua criação, enfrentou
De acordo com o planejamento inicial, o períodos de estagnação devido a conten-
projeto seria constituído de duas partes: ções orçamentárias feitas por governos
uma em que o objetivo seria dominar o ci- sucessivos, fazendo com que a verba para
clo do combustível e outra que diz respeito financiar o projeto viesse exclusivamente
à construção de uma planta geradora de da cota reservada anualmente à Marinha.

* Publicado na Revista de Villegagnon de 2012.


SUBMARINO NUCLEAR: PODER DE DISSUASÃO NO MAR

submarinos nucle-
ares, com enfoque
no futuro submarino
brasileiro, enfatizan-
do o valor agregado
que tal empreitada
bem-sucedida con-
cederia ao Brasil no
cenário mundial.
Dessa forma,
primeiramente será
apresentado um bre-
ve histórico sobre o
submarino de propul-
são nuclear.
Em seguida, será
descrito o funcio-
namento da planta
Entretanto, é importante ressaltar que, nuclear e serão relacionadas as vantagens
mesmo com todas as dificuldades en- dos submarinos de propulsão nuclear em
frentadas até o momento para levar este relação aos convencionais.
projeto adiante, as autoridades navais não Será apresentado também um resumido
hesitaram na manutenção da essência do histórico do PNM, no qual serão apontados
projeto original, visto que sempre houve um os estágios necessários para que a construção
consenso de que se tratava de um assunto do submarino nuclear se concretize, assim
de suma importância para a defesa do País. como as etapas concluídas até os dias atuais.
Em 2008, os cofres públicos puderam Serão expostos, ainda, os benefícios de
realimentar as expectativas com a aprova- um submarino nuclear no âmbito político,
ção do Programa Nacional de Defesa e com tecnológico e econômico.
o anúncio da parceria
tecnológica e estraté-
gica com a França, na
qual este país se com-
prometeria a fabricar
quatro submarinos
de tipo Scorpène e a
dar auxílio no desen-
volvimento no que
se refere à parte não
nuclear do projeto de
submarino a propul-
são nuclear brasileiro.
O objetivo deste
artigo é apresentar
Fonte: http://www.defenseindustrydaily.com/Scorpenes-Sting-Liberation-
informações sobre Publishes-Expose-re-Malaysias-Bribery-Murder-Scandal-05347/

202 RMB3oT/2013
SUBMARINO NUCLEAR: PODER DE DISSUASÃO NO MAR

Finalmente, concluiremos com argu- Países que dominam a tecnologia de


mentos que indicam a importância da incor- construção de submarinos nucleares (Po-
poração à Força de Submarinos (ForSub) sição, Primeira Embarcação e Data de
do primeiro submarino nuclear brasileiro, Lançamento):
assim como reforçam a ideia de que se trata
de um programa não da Marinha do Brasil, 1) USS Nautilus - 21 de janeiro
mas de toda Nação. de 1954

HISTÓRICO 2) K-3 Leninsky Komsomol - 9


de agosto de 1957
Devido à necessidade de se reduzir
a exposição dos submarinos a possíveis 3) HMS Dreadnought (S101) -
ameaças enquanto carregam suas baterias, 21 de outubro de 1960
pesquisas foram desenvolvidas a fim de
manter o navio a maior quantidade de 4) Redoutable (S 611) - 29 de
tempo possível submergido, diminuindo março de 1967
sua vulnerabilidade e tornando o submarino
uma arma ainda mais letal. Isso só seria 5) Changzheng 1 (401) - 1970
possível por meio de uma fonte de energia
que não utilizasse o oxigênio para gerar 6) INS Arihant - 26 de julho
calor, como acontecia com os combustí- de 2009
veis de origem fóssil (diesel e gás). Então,
a linha de ação encontrada foi utilizar a Primeiros Submarinos Nucleares
energia nuclear.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Submarino_
Os EUA foram o primeiro país a al- nuclear
cançar tal sonho, com o USS Nautilus, o
precursor de uma linhagem vitoriosa, e que Hoje, a Marinha dos EUA possui quatro
foi lançado dia 21 de janeiro de 1954. Seus tipos de submarinos: classe Los Angeles,
tripulantes foram os primeiros a atravessar classe Seawolf e classe Virginia, e ainda o
o Mar Ártico por sob a calota de gelo, e submarino lançador de mísseis balísticos
também os primeiros a se postarem sob o classe Ohio. Já a Marinha russa conta com
polo norte geográfico. o submarino de caça Shchuka, o submarino
Como se pode observar no quadro ao lançador de mísseis balísticos da classe
lado, outros países seguiram os EUA e Akula e o mais recente, o da classe Borei.
envidaram esforços de modo a obter a Na França, o representante é o Triomphant; e
tecnologia necessária para poder lançar os na Inglaterra, o Vanguard. A China, por sua
seus próprios submarinos nucleares. A his- vez, possui os 09-I, 09-II, 09-III e o 09-IV
tória dos submarinos nucleares é, portanto, e, em 2009, a Índia lançou o INS Arihand.
recente e não está ao alcance de todos, mas
a tendência é que cada vez mais nações FUNCIONAMENTO DA PLANTA DE
invistam nesse tipo de meio militar, visto PROPULSÃO E VANTAGENS EM
que os países que já os possuem provaram RELAÇÃO AOS CONVENCIONAIS
que se trata de uma arma de enorme poderio
e de uma flexibilidade extremamente útil a Uma pergunta natural que prova-
qualquer Marinha do mundo. velmente pode surgir na mente de uma

RMB3oT/2013 203
SUBMARINO NUCLEAR: PODER DE DISSUASÃO NO MAR

grande parte da população é: quais são secundário. A parte secundária é uma ins-
as diferenças do submarino nuclear para talação de propulsão de turbina a vapor,
o convencional que justifiquem tanto na qual o vapor faz as turbinas girarem,
entusiasmo despendido num projeto tão produzindo a energia elétrica para que os
oneroso para os cofres públicos? É justa- motores elétricos funcionem, assim como
mente essa questão que iremos tratar nesta toda a aparelhagem eletrônica que está
seção deste artigo. instalada a bordo.
De acordo com a definição1, o termo É importante fazer um esclarecimento
submarino nuclear significa “embarcação pertinente neste momento, que diz respeito
movida pela energia gerada por um reator à verdadeira capacidade de submersão do
nuclear capaz de emergir e submergir submarino nuclear, sob o ponto de vista
quando desejado”. Como se pode perceber, do tempo. A mídia divulgou, em várias
a diferença principal reside no sistema oportunidades, que esse tipo de meio de
de propulsão dos submarinos. Na figura guerra só precisaria emergir após períodos
abaixo, está representada uma planta de maiores que um ano, o que não é verdade.
propulsão que seria implantada no pri- De fato, o submarino nuclear tem um adi-
meiro submarino nuclear brasileiro. Ela cional de tempo submerso em relação aos
é composta de dois circuitos: primário e submarinos convencionais; porém, em vir-
secundário. O processo de obtenção de tude da saúde psicológica dos tripulantes,
energia para os fins da embarcação co- eles ficam no máximo cinco ou seis meses
meçam no circuito primário, com a fissão em comissão.
do combustível formado por isótopos do De qualquer forma, impressiona pelo
Urânio-235 nos reatores, provocando o tempo que fica operativo. Isso se deve a um
aquecimento da água que entra na rede. fator preponderante justamente no reator
Após isso, essa água é mantida pressurizada nuclear, o qual cria uma reação em cadeia,
para não vaporizar até passar pelo trocador que produz calor em grande quantidade,
de calor, que nada mais é do que o gerador sem fazer uso do oxigênio. Uma vez que
do vapor que é encaminhado para o circuito não carece de oxigênio, não necessita

Fonte:http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/submarino/submarino-5.php

1 http://pt.wikipedia.org/wiki/Submarino_nuclear

204 RMB3oT/2013
SUBMARINO NUCLEAR: PODER DE DISSUASÃO NO MAR

emergir em busca do ar atmosférico para por meio da ultracentrifugação, que demons-


que possa passar mais tempo imerso. Além trou ser mais eficiente do que o método a jato
disso, esse calor gerado em abundância centrífugo. Devido a esse primeiro sucesso,
permite que o submarino possa cumprir a Confederação Nacional de Energia Nucle-
suas tarefas em velocidades mais altas, ar (CNEN) passou a apoiar o projeto, que
possibilitando o rastreamento e a cobertura ganhou mais força com a fundação do que
de uma larga extensão de área. Portanto, viria a se tornar o atual Centro Tecnológico
percebe-se a importância para a Marinha da Marinha em São Paulo (CTMSP). Nessa
do Brasil, responsável pela Amazônia época também foram construídas usinas de
Azul2, da existência de um meio militar enriquecimento isotópico de urânio e foi tra-
desta natureza. çado um cronograma para desenvolvimento
Dessa forma, é fácil notar que o uso do primeiro reator.
da energia nuclear para a propulsão do Porém não bastava apenas uma expan-
submarino faz uma são do projeto da edi-
grande diferença, ficação de uma usina
porque proporcio- Em 1982, a primeira nuclear, mas também
na maior tempo de vitória foi alcançada com o um local em que fos-
submersão, maiores
velocidades, melhor
sucesso no enriquecimento sem possíveis a pro-
dução do combustível
qualidade de vida a de urânio por meio da nuclear, o teste de pro-
bordo, além de ou- ultracentrifugação tótipos e equipamen-
tros benefícios que, tos e a capacitação das
agregados, permitem futuras guarnições.
melhor contribuição da MB para a segu- No âmbito dessa questão, surge o Centro
rança e a defesa nacionais. Experimental Aramar (CEA), situado no
município de Iperó (SP).
PROGRAMA NUCLEAR DA A expressão Programa Nuclear da
MARINHA (PNM) Marinha surge nessa época, pela primei-
ra vez, para substituir o nome anterior
O PNM teve início em 1979 com o Chalana. O Programa divide-se em dois
programa Chalana, com o objetivo de projetos: Projeto do Ciclo do Combustí-
construir um submarino de ataque de pro- vel e Projeto do Laboratório de Geração
pulsão nuclear. Este projeto foi dividido em Núcleo-Elétrica (Labgene). Segundo
dois: Projeto Ciclone e Projeto Remo. O o Vice-Almirante (EN) Carlos Passos
primeiro tinha como objetivo desenvolver Bezerril, o objetivo do recém-batizado
ultracentrífugas para o ciclo do combustível PNM seria “o desenvolvimento de capa-
nuclear, enquanto o segundo visava desen- citação tecnológica nacional na produção
volver o reator nuclear e os seus sistemas de combustível nuclear e no projeto, na
complementares. construção, no comissionamento, na
Em 1982, a primeira vitória foi alcançada operação e na manutenção de reatores
com o sucesso no enriquecimento de urânio nucleoelétricos tipo PWR”3.

2 Os espaços marítimos brasileiros atingem aproximadamente 3,5 milhões de km² e são denominados Amazônia
Azul.
3 Apresentado nos slides da palestra ministrada pelo próprio vice-almirante (EN) Bezerril na inauguração do
Grêmio de Engenharia, na Escola Naval, em 3 de agosto de 2010.

RMB3oT/2013 205
SUBMARINO NUCLEAR: PODER DE DISSUASÃO NO MAR

A primeira etapa está concluída e consistiu já ocorreu no passado, ser mais difícil,
no controle completo do ciclo do combus- visto que isso acarretaria a quebra de uma
tível extremamente instável como esse em espécie de contrato internacional, trazendo
questão. O ciclo de combustível se inicia uma imagem que nenhuma nação busca
com a prospecção da matéria-prima, urânio. perante a comunidade internacional. Além
O concentrado de urânio, conhecido como disso, as tecnologias que estão sendo ali
yellow cake, sofre a conversão para o gás he- desenvolvidas transcendem a aplicação
xafluoreto de urânio, que é o insumo utilizado puramente militar.
nas ultracentrífugas. Uma vez enriquecido, ou
seja, tendo atingido a marca de 4% de U235, BENEFÍCIOS
o gás é reconvertido ao estado sólido em
forma de pastilhas que serão introduzidas em Não há dúvida de que o submarino nu-
varetas chamadas de zircalloy. Estas varetas clear irá trazer benefícios no âmbito militar,
formarão o elemento combustível que será já que, além de outras vantagens, serviria de
queimado no reator, finalizando a etapa do inspiração para uma possível revitalização
ciclo combustível. É importante comentar da indústria bélica no Brasil. Entretanto,
sobre a instalação da Unidade Piloto para é importante expor as consequências po-
Produção de Hexafluoreto de Urânio (Usexa), sitivas que não dizem respeito somente
mostrado na figura abaixo, que permite pro- ao setor militar, de modo que o PNM
duzir 40 toneladas do hexafluoreto de urânio ganhe um contexto de projeto nacional, o
necessário para abastecer as usinas e o reator. que sempre foi o intuito da MB. Portanto,
serão apresentadas nesta seção as virtudes
principais do PNM nos campos da política,
tecnologia e economia.
Atualmente, o poder político é exercido
por aqueles com experiência em dissolução
de conflitos, em nome de um bem comum,
por meio de sua força coercitiva. Esta
tem como um de seus componentes mais
Fonte: http://www.mar.mil.br/menu_h/noticias/ eficazes o Poder Naval, o qual é de valia
dia_marinheiro/13dez2005/exposicoes.htm inimaginável para política internacional.
Nenhum país do mundo poderá exercer
A segunda etapa busca o desenvol- posição de destaque no cenário mundial
vimento e a construção, com tecnologia sem ter uma Marinha forte, vide Estados
própria, de uma planta nuclear de geração Unidos da América, Inglaterra e outros.
de energia elétrica, incluindo um reator Um submarino nuclear contribuiria de tal
nuclear. Essa instalação servirá para a maneira para a confirmação e eficácia desse
formação de centrais energéticas espalha- poder que se tornaria, consequentemente,
das pelo País, além de suprir as demandas meio de dissuasão para impor os objetivos
estratégicas na área de defesa. fundamentais do Estado brasileiro.
É importante enfatizar que esse projeto O Brasil sempre foi um país pacífico e
é caro e exige, para a sua finalização, cons- sempre priorizou bastante o uso do recurso
tante fluxo de caixa. O acordo Brasil-França diplomático, adotando postura apenas dis-
trouxe novas expectativas devido ao fato da suasória. Entretanto, não se pode afirmar
interrupção de recursos financeiros, como que isso permanecerá para dias vindouros.

206 RMB3oT/2013
SUBMARINO NUCLEAR: PODER DE DISSUASÃO NO MAR

Tanto na vertente preventiva quanto Para se ter uma noção do significado do co-
na ofensiva, o submarino nuclear emana mércio através do mar, basta dizer que cerca
incerteza para seus inimigos devido a sua de 95% de todo o montante comercial que
capacidade de ocultação e superioridade entra ou sai do País ocorre pelo mar, e que
militar. Sua autonomia e velocidade o o País lucra mais de 200 bilhões de dólares
tornariam, dentre todos os nossos meios, anualmente com essa atividade. O Brasil é
inclusive o Navio-Aeródromo São Paulo, extremamente dependente do seu comércio
nosso maior poder de dissuasão e de ataque, exterior, exigindo, para que não entre em co-
já que poderia permanecer operativo, de- lapso, uma força naval à altura, uma vez que
fendendo a nossa costa por longos períodos. o meio em que atua é estratégico para o País.
No âmbito tecnológico, podemos citar Com relação ao petróleo, sabemos que
as parcerias com instituições federais e os navios mercantes utilizam como com-
privadas, que permitiram ganho no que diz bustível os derivados do petróleo, e este
respeito à capacitação técnica, contribuindo produto é considerado um royalty do qual
para o amadurecimento nuclear do Brasil, muitos países usufruem. Portanto, consi-
tais como a Universidade de São Paulo derando as extensas áreas de extração de
(USP), o Instituto Alberto Luiz Coimbra de petróleo no Brasil e ainda unindo-se isso à
Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia descoberta do pré-sal, este produto coloca
da Universidade Federal do Rio de Janeiro o País na condição de um grande produtor,
(Coppe-UFRJ), o Instituto de Engenharia além de gerar riquezas por meio das ex-
Nuclear (IEN) e tantas outras instituições. portações. Para que o uso e a exploração
Além disso, vale ressaltar que já domina- ilegais de nosso petróleo não ocorram, é
mos o ciclo de combustível, o que permite, imprescindível a sensação da presença da
por meio deste conhecimento técnico, Marinha do Brasil, algo que seria conse-
sua aplicação como fonte alternativa de guido com maior facilidade com uma força
energia, diversificando a matriz energética dotada de um submarino nuclear. Sob um
brasileira, extremamente dependente de ponto de vista futuro, pode-se comentar que
usinas hidrelétricas. O mais importante aqui o petróleo eventualmente irá se esgotar e
é comentar os desenvolvimentos alcança- se tornará muito caro mesmo antes de este
dos durante o projeto que incorporam valor fato chegar a se consumar; logo, novas
agregado, permitindo ao Brasil obter uma alternativas de obtenção de energia deve-
crescente independência tecnológica em rão ser estudadas. O projeto do submarino
relação do exterior, abrindo novos espaços nuclear poderia proporcionar o domínio
e perspectivas para a indústria nacional. da tecnologia nuclear, permitindo, caso
Sob a égide econômica, auxilia começar fosse necessário, a adaptação da mesma
apresentando alguns dados importantes para navios mercantes e também para o
sobre a vasta área marítima brasileira. O fornecimento básico civil no futuro.
Brasil possui jurisdição sobre uma extensão Por fim, pode-se comentar a matéria
marítima de aproximadamente 4.451.766 “Superbélicas verde-amarelas”, recente-
km², o que corresponde a 52% do território mente divulgada pelo jornal O Globo, a
brasileiro. Nesta região, encontra-se uma qual discorre sobre uma parceria, entre
grande parte das atividades econômicas muitas previstas por um projeto do governo,
geradoras de divisas para o País, entre as da MB com grandes empresas da área de
quais podemos citar: o comércio exterior, a construção civil (Andrade Gutierrez, Ca-
pesca, a exploração de petróleo e o turismo. margo Corrêa, Odebrecht) na participação

RMB3oT/2013 207
SUBMARINO NUCLEAR: PODER DE DISSUASÃO NO MAR

da construção da base de submarinos em surpresa, imprescindível quando o assunto


Itaguaí. Isso resulta em geração de em- tratado é a guerra no mar.
pregos e é uma demonstração do impulso Atualmente a MB é dotada apenas de
resultante dos esforços para a construção submarinos convencionais, que, embora
do submarino nuclear. desempenhem suas atividades de maneira
eficaz, apresentam uma grande desvanta-
gem no que diz respeito à dependência do
ar atmosférico, o que restringe a sua opera-
bilidade, reduzindo a área por ele coberta e,
em consequência, a defesa do País.
Em contrapartida, o submarino nuclear
dispõe de um sistema de propulsão que
não necessita de ar atmosférico para se
movimentar, além de produzir um adicional
de energia, permitindo o desenvolvimento
de maiores velocidades. Dessa forma,
esse tipo de meio pode permanecer um
prolongado tempo submerso, assim como
Fonte:http://www.estadao.com.br/noticias/ percorrer grandes distâncias com rapidez.
nacional,submarinos-brasileiros--comecam-a-sair-
do-papel,545654,0.htm Em busca desse sonho, a MB já conseguiu
dominar o ciclo de combustível e não está lon-
ge de concluir a segunda etapa, a de construir
a planta de um reator nuclear. Concluída essa
etapa, faltarão apenas alguns detalhes para o
lançamento do primeiro submarino nuclear
do Brasil e sua inserção no rol dos países
dotados de capacitação tecnológica invejável
e respeitada em todo mundo.
Vale realçar, mais uma vez, as consequên-
cias benéficas advindas da construção de
Fonte:http://www.naval.com.br/blog/tag/submarino-
um submarino de propulsão nuclear no País.
nuclear/#axzz24yc5LRli Sob o aspecto político, citamos o maior
poder de dissuasão. Nota-se que muitas
Portanto, torna-se claro que o Brasil disputas no âmbito internacional acabaram
deve dispor de meios navais à altura dessa em vitória para os países detentores de
estatura econômica e dos interesses marí- tecnologias vistas como reflexo de um país
timos que pretende preservar. de primeiro mundo. O domínio da energia
do tipo nuclear é uma daquelas que eleva o
CONCLUSÃO status de nações perante a sociedade mun-
dial. Portanto, para que o Brasil consiga
O submarino é um instrumento bélico galgar voos mais altos, é importante que
que possui uma grande vantagem estraté- mostre ao mundo que é capaz de construir
gica em relação a outros meios de combate um submarino nuclear.
devido a sua principal característica de Já sob a perspectiva tecnológica, pode-
submersão, que lhe confere o elemento mos ressaltar o estímulo ao desenvolvimento

208 RMB3oT/2013
SUBMARINO NUCLEAR: PODER DE DISSUASÃO NO MAR

de novas tecnologias, assim como a institui- naturais exploráveis presentes no mar. Por isso,
ções de pesquisa. O projeto do submarino torna-se conveniente uma arma para defender
nuclear utilizou a atuação de várias empresas essas riquezas, e nada melhor do que o subma-
governamentais e particulares de modo a rino a propulsão nuclear, cuja área de atuação
conseguir conquistar seus objetivos. Isso impressiona até mesmo aqueles adeptos de
gerou empregos indireta e diretamente, fato conceitos de meios submarinos futuristas.
observado também com a inserção cada vez Não há dúvidas de que o Programa de
maior de engenheiros na Marinha. Desenvolvimento de Submarinos (Prosub)
E, finalmente, sob o escopo econômico, é um projeto nacional que exige apoio de
é interessante comentar que o Brasil possui todos brasileiros, porque o submarino não
atualmente uma economia altamente robusta, representa apenas um meio extraordinário
fruto, em grande parte, do vigoroso fluxo de guerra, mas também é uma amostra da
comercial que depende do mar. Além disso, capacidade técnica do País. Ele é um sím-
foram descobertas novas jazidas de petróleo e bolo, um estandarte de um país. Por isso,
do pré-sal, aumentando ainda mais as riquezas que venha o “Senhor dos Mares”.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<forças armadas>; Submarino nuclear; Marinha do Brasil;

referências

ARTHOU, Alan Paes Leme. “Cenário Energético Brasileiro”. Revista Marítima Brasileira, Rio de
Janeiro, v. 126, n. 10/12, p. 93-107, out./dez. 2006.
BEZERRIL, Carlos Passos. Apresentação CPEM 2007. Palestra proferida pelo diretor do Centro
Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP) no Centro Experimental Aramar, em 27 de
junho de 2007.1 CD-ROM.
______. Inauguração do Grêmio de Engenharia da Escola Naval. Palestra proferida pelo diretor do
Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP) no Auditório Amazônia Azul, na
Escola Naval, em 3 de agosto de 2010.
CARVALHO, Roberto de Guimarães. “Submarinos: a visão da Marinha”. Revista Marítima Brasileira,
Rio de Janeiro, v. 127, n. 1/3, p. 31-34, jan./mar. 2007.
HECHT, Luís Antônio Rodrigues. A importância estratégica da construção de um submarino nuclear
para o Brasil. 2007. Monografia apresentada à Escola de Guerra Naval como requisito parcial
para a conclusão do Curso de Política e Estratégia Marítimas.
MARINHO, Antônio. “A vez do submarino: Marinha planeja impulsionar projeto nuclear, hoje quase
parado em Aramar”. O Globo, Rio de Janeiro, 24 jun. 2007. Seção Ciência, p. 44.
Ministério da Defesa. Política de Defesa Nacional. Brasília: Ministério da Defesa, 2005. 21 p.
“Prospectivas e Estratégias para o Desenvolvimento da Energia Nuclear no Brasil – Parte II”. Revista
Marítima Brasileira, Rio de Janeiro, v. 120, n. 1/3, p. 173-195, jan./mar. 2000.
SILVA, Othon Luiz Pinheiro da. Os Interesses e a Participação da Marinha no Desenvolvimento
Nuclear Brasileiro. In: CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DO ALMIRANTE ÁLVARO
ALBERTO, 1., 1989, Rio de Janeiro.
Revista Marítima Brasileira. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação Geral da Marinha, v. 109, n.
7/9, jul./set. 1989. p. 13-26.
Submarinos Nucleares: Sonho ou Solução. Revista Marítima Brasileira, Rio de Janeiro, v. 123, n.
4/6, p. 115-120, abr./jun. 2003.

RMB3oT/2013 209
necrológio

A RMB expressa o pesar às famílias pelo falecimento dos seguintes colaboradores e assinantes:
Ministro das Comunicações Euclides Quandt de Oliveira  16/01/1924 † 18/05/2013
VA Dilmar de Vasconcellos Rosa  02/12/1923 † 28/05/2013
VA (IM) Flávio Lúcio Cortez de Barros  09/05/1941 † 05/05/2013
CA Roberto Gama e Silva  01/01/1932 † 08/05/2013
CA Antônio Eduardo Cezar de Andrade  12/02/1934 † 08/06/2013
CA Roberto de Lorenzi Filho  18/12/1936 † 06/06/2013
CMG Aécio Pereira de Souza  23/11/1919 † 19/07/2013
CMG (EN) José Luiz Lunas de Mello Massa  15/09/1936 † 09/06/2013
CMG (IM) José Alves Fernandes Netto  01/05/1938 † 20/07/2013
CMG Armando de Oliveira Filho  11/06/1939 † 09/06/2013
CMG José Duarte de Figueiredo Filho  10/04/1940 † 27/04/2013
CMG (CD) Helcio José Moreira  21/02/1942 † 25/06/2013
CMG Manoel Cotta da Silva Filho  29/07/1942 † 03/08/2013
CMG (IM) Antônio Carlos Teixeira Martins  15/01/1942 † 25/05/2013
CF (MD) Almir José de Sales  29/07/1925 † 18/06/2013
CC (T) Francisco de Sales Souza  22/05/1942 † 12/05/2013

Nascido no Rio de Janeiro, filho de


Ignácio Francisco de Oliveira e de Ida
Quandt de Oliveira. Promoções: a segun-
do-tenente em 16/10/1942; a primeiro-
tenente em 30/07/1944; a capitão-tenente
em 09/05/1946; a capitão de corveta
em 15/12/1952; a capitão de fragata em
24/06/1958; a capitão de mar e guerra em
16/06/1965. Foi transferido para a reserva
em 21/02/1969.
Em sua carreira exerceu três comandos:
Contratorpedeiro Bracuí; Força de Patru-
lha Costeira do Sul; e Navio-Aeródromo
Ligeiro Minas Gerais.
Comissões: Navio-Escola Almirante Sal-
danha; Tênder Belmonte; Navio-Hidrográfi-
co Rio Branco; Comando da Força Naval do
Nordeste; Base Naval de Recife; Diretoria
EUCLIDES QUANDT DE OLIVEIRA de Navegação; Diretoria de Comunicações
Ministro das Comunicações da Marinha; Centro de Instrução Almirante
Capitão de Mar e Guerra Wandenkolk; Encouraçado Minas Gerais;
NECROLÓGIO

Contratorpedeiro Mariz e Barros; Contra- Em reconhecimento aos seus serviços,


torpedeiro Marcílio Dias; Comando da 1a recebeu inúmeras referências elogiosas
Flotilha de Contratorpedeiros; Navio-Apoio e as seguintes condecorações: MNMG4
Duque de Caxias; Cruzador Tamandaré; Medalha Naval do Mérito de Guerra –
Diretoria de Eletrônica da Marinha; Gabi- Serviços Guerra 2 Estrelas; Medalha
nete do Comandante da Marinha; Comissão da Força Naval do Nordeste; Ordem do
Fiscal de Construção de Navios na Europa; Mérito Naval – Oficial; Ordem do Mé-
Escola da Marinha Mercante do Pará (di- rito Militar – Oficial; Medalha Militar e
retor); Escola de Guerra Naval; Estado- Passador Ouro – 3o Decênio; Medalha do
Maior da Armada; Comando em Chefe da Mérito Santos Dumont; MVEXC Medalha
Esquadra; Gabinete Militar da Presidência da Vitória; US-LM Estados Unidos da
da República; Comando Naval de Brasília. América – Legião do Mérito.

Após a passagem do comando do NAeL Minas Gerais, o Comandante Quandt foi


conduzido para terra por oficiais remando em escaler. A formalidade marinheira
constitui honra prestada pela tripulação ao comandante que desembarca

UM EXEMPLO AO PAÍS
Reprodução parcial de texto obtido na internet a respeito do Ministro das
Comunicações, Comandante Euclides Quandt de Oliveira, de autoria do
Vice-Almirante (Refo) Luiz Sérgio Silveira Costa.

Euclides Quandt de Oliveira, nascido em Após passar para a Reserva, exerceu, de


23 de novembro de 1919, faleceu há dois 1965 a 1967, no Governo Castelo Branco,
dias, aos 93 anos. Foi oficial de Marinha, o cargo de presidente do Conselho Na-
alcançando o posto de capitão de mar e cional de Telecomunicações (Contel); de
guerra e tendo sido comandante do Navio- 1972 a 1974, foi o primeiro presidente da
Aeródromo Minas Gerais. Especialista em Telebras; e, de março de 1974 a março de
eletrônica, durante seu tempo na Marinha 1979, foi ministro das Comunicações do
fez vários cursos nessa área, no Brasil e nos Governo Geisel. É autor dos dois volumes
Estados Unidos. do livro Renascem as Telecomunicações,

RMB3oT/2013 211
NECROLÓGIO

que narram os acontecimentos a partir de Por isso, o que ressalta na vida de


1967, tendo como tema principal a criação Quandt, especialmente em comparação
do Sistema Telebras. com os tempos de hoje, é que, bem for-
Bem poucos no Brasil sabem o que mado pela Marinha – essa instituição de
o Comandante Quandt de Oliveira re- excelência e a indiscutível reserva moral
presentou para o desenvolvimento das do País –, e tendo exercido importantes
telecomunicações no País. Se hoje temos cargos públicos, lidando com empresas e
a facilidade de comunicação em computa- empresários, licitações e contratos, pro-
dores, telefones e celulares, muito a ele se curas e ofertas no ambiente do “é dando
deve, pela reestruturação da telefonia no que se recebe”, nunca se corrompeu ou
Brasil, então dominada pelas concessioná- usou desses cargos para proveito próprio
rias estrangeiras. Em depoimento, Quandt e enriquecimento. Sua vida espartana,
dissera que “deviam existir cerca de mil voltada para servir ao País, e não se servir
empresas no Brasil, mas empresinhas isola- dele, contrasta com o que se vê hoje de
das. Havia um sistema telefônico na cidade nossos políticos.
X que só falava dentro daquela cidade X, Quandt, pelo contrário, foi a própria
não falava nem com a cidade vizinha”. Por essência do espírito republicano, um bra-
isso, quem viveu aquela época sabe como sileiro com a estatura moral do tamanho do
era difícil e demorada uma simples ligação País, gigante pela própria natureza!
interestadual. Deus, na sua infinita bondade, reco-
O atual ministro das Comunicações, nhecendo a sua vida digna e dedicada
Paulo Bernardo, afirmou que a sua morte ao bem comum, resolveu homenageá-lo
é uma perda para o setor das telecomunica- ao enviar o Papa Francisco para cá no
ções. “O ex-ministro Quandt deu grandes momento que o leva para a vida eterna.
contribuições para a organização desse Certamente descansará em paz, embalado
setor, hoje tão importante para o Brasil. pelo sublime sentimento de satisfação do
Nós nos encontramos no fim de 2011, em dever cumprido.
um evento da Associação Comercial do Rio E nós, por aqui, com esse triste senti-
de Janeiro. E ele estava bastante lúcido, mento de perda, reverenciamos o nosso
analisando e comentando os acontecimen- velho e competente marinheiro, esse
tos da área.” brasileiro altaneiro e exemplar, que pro-
Tudo isso pode ser obtido nos sites de fessou e exaltou a profundidade do recado
busca. O que bem poucos no Brasil sabem, de Roosevelt de um político do passado
porém, é que Quandt, ao morrer, morava em para os de hoje, via telecomunicações:
um pequeno apartamento em Petrópolis e que “É melhor morrer de pé do que viver
seu carro era um velho e deficiente Santana. de joelhos”.

AINDA UM EXEMPLO AO PAÍS


Texto de autoria dos filhos Pedro e Margarida, lido na missa de sétimo dia
pelo Capelão Naval, Capitão de Fragata José Paulo Barbosa,
do 1o Distrito Naval
Nasceu em 1919, no subúrbio do Anda- no Encantado. Perdeu o pai aos 13 anos, e
raí, na cidade do Rio de Janeiro, e pouco a família passou a enfrentar grandes difi-
tempo depois foi morar na Rua Angelina, culdades financeiras. Conseguiu terminar

212 RMB3oT/2013
NECROLÓGIO

o curso secundário graças a uma bolsa de da Transit, presidente do Conselho Diretor


estudos, mas não teve recursos para estudar da Editel e consultor do Grupo Splice e da
Medicina, como era seu desejo. TV Bandeirantes.
Entrou para a Marinha em 1937 e saiu Chefiou a missão que representou o
em 1968, no posto de capitão de mar e Governo brasileiro no funeral do Papa
guerra. Fatos marcantes de seu período João Paulo I.
na Marinha: atuou na escolta a comboios Casou em 1945 com Maria de Lourdes,
na costa brasileira durante a Segunda na Igreja de Nossa Senhora da Paz, em
Guerra Mundial, foi membro da primei- Ipanema, e teve seis filhos, 11 netos e dez
ra tripulação do Cruzador Tamandaré, bisnetos.
comandou o Contratorpedeiro Bracuí, Em 1997, mudou-se para Petrópolis,
trabalhou na implantação do Serviço de onde participou ativamente de grupos
Comunicações da Marinha, participou da comunitários e de atividades religiosas.
comissão que efetuou a compra e reforma Sempre compareceu às missas de domingo,
do porta-aviões Minas Gerais e depois foi primeiramente com sua esposa e, após ficar
seu comandante. viúvo, em 2004, sozinho. Manteve esse
No setor de telecomunicações, foi hábito até o seu último domingo de vida.
presidente do Conselho Nacional de Te- Era um homem de hábitos simples, que
lecomunicações (Contel), primeiro presi- gostava de fazer longas caminhadas e ler,
dente da Telebras e depois ministro das foi um marido maravilhoso e pai e avô
Comunicações do Governo Geisel. No setor exemplar. A família toda está muito sentida
privado, foi diretor da Siemens, presidente com seu falecimento.

MEU PAI EUCLIDES


Se não fosse pelos cuidados do meu pai, Nunca ouvi meu pai reclamar ou se
minha mãe teria falecido muito mais cedo. queixar das dificuldades que ele tinha que
Ela sofria de arteriosclerose e quase não enfrentar. Depois que ficou mais velho,
reconhecia mais ninguém. quando perguntavam como
Meu pai a levava para ca- ele estava passando, res-
minhar em volta do prédio pondia: “Vou resistindo às
todos os dias, para jantar intempéries da vida”. Mas
fora pelo menos uma vez dizia isso com um sorriso
por semana, à missa todos nos lábios. Nas horas mais
os domingos e a todas as difíceis, quando perguntado
festas e reuniões da família. sobre o seu ânimo, respon-
Quando sugeríamos que ele dia: “A guarda morre, mas
contratasse uma enfermeira não se rende”.
para ajudar nos cuidados, Papai sempre tratou com
ele respondia: “Sua mãe especial bondade as pessoas
gosta que só eu cuide dela”. que o serviam (emprega-
Depois que ela faleceu, per- das domésticas, motoristas
maneceu por mais de um ano indo todos etc.). Gostava muito de jantar fora, aceitava
os dias ao cemitério. Mandou escrever no todos os convites de amigos para ir às suas
jazigo: “Saudades, muitas saudades”. casas e nunca faltou a uma festa ou reunião

RMB3oT/2013 213
NECROLÓGIO

de família, mesmo depois do falecimento de Escreveu três livros usando o aplicativo


minha mãe. Tomava pelo menos uma taça Word. Gostava de ler e de fazer palavras
de vinho em cada refeição e adorava caipi- cruzadas. E ainda dirigia, apesar dos pro-
rinha. Acho que sua comida preferida era testos da família.
pato, pois a pedia sempre nos restaurantes. Toda segunda-feira ia à reunião do
Quando lhe perguntavam que espécie de Rotary de Petrópolis, e às terças-feiras
peixe preferia, respondia: “Peixe fresco”. jogava boliche com uma turma de amigos.
Tinha o hábito de contar passos. Sabia Até pouco tempo atrás era síndico do seu
quantos passos tinha ao redor do prédio onde prédio. Descia com frequência ao Rio para
morava e também quantos passos precisava participar de encontros de ex-combatentes,
dar dentro do apartamento para percorrer ex-tripulantes do Tamandaré e do Minas
todos os cômodos. Usava essa última infor- Gerais etc. Viajava sozinho de avião para
mação para calcular quantas voltas precisava ir a reuniões em outras cidades. Encarava
dar em sua caminhada diária quando chovia. com bom humor o fato de estar ficando
Certa vez perguntei a ele como tinha feito esquecido. Contou-me, rindo, que certa vez
para ir à casa de um amigo, em local difícil esqueceu o nome pizza e teve que pedir ao
de estacionar. Respondeu-me que tinha ido a garçom do Luiggi “aquela comida redonda”.
pé. “Pai, não é muito longe?”, perguntei. Ele Deixou cinco filhos, 11 netos, nove bis-
respondeu: “Não, são apenas 2.568 passos”. netos, inúmeros amigos e muitas saudades.
Tinha conta no Facebook e no Twiter, Vai fazer muita falta.
e usava planilhas Excel para controlar
suas despesas e as do prédio onde morava. Pedro Góes

Nascido no Rio de Janeiro, filho de


Demerval de Vasconcellos Rosa e de
Dejanira de Vasconcellos Rosa. Promo-
ções: a segundo-tenente em 26/01/1947;
a primeiro-tenente em 05/02/1949; a
capitão-tenente em 22/03/1952; a capitão
de corveta em 28/02/1956; a capitão de
fragata em 21/09/1962; a capitão de mar e
guerra em 28/10/1967; a contra-almirante
em 31/07/1974 e a vice-almirante em
25/11/1977. Foi transferido para a reserva
em 14/03/1983.
Em sua carreira exerceu três comandos:
Corveta Ipiranga; Cruzador Tamandaré e
2o Distrito Naval.
Comissões: Navio-Apoio José Bonifácio;
Navio-Escola Almirante Saldanha; Encou-
raçado Minas Gerais; Contratorpedeiro
dILMAR de VASCONCELLOS ROSa Bracuí; Comando da 2a Flotilha de Con-
Vice-Almirante tratorpedeiros; Contratorpedeiro de Escolta

214 RMB3oT/2013
NECROLÓGIO

Benevente; Quartel de Marinheiros; Dire- da Marinha (chefe); Centro de Inteligência


toria do Pessoal da Marinha; Escritório do da Marinha (diretor interino) e Diretoria de
Adido Naval em Washington; Comando do Obras Civis da Marinha (diretor).
2o Esquadrão de Contratorpedeiros; Contra- Em reconhecimento aos seus serviços,
torpedeiro de Escolta Bocaina; Contratorpe- recebeu inúmeras referências elogiosas
deiro Ajuricaba; Contratorpedeiro Marcílio e as seguintes condecorações: Ordem do
Dias; Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro; Mérito Naval – Grande-Oficial; Ordem do
Grupo de Recebimento do Navio-Escola Mérito Militar – Grande-Oficial; Ordem do
Duque de Caxias; Contratorpedeiro Paraí- Mérito Aeronáutico – Comendador; Ordem
ba; Comando da Força de Patrulha Costeira de Rio Branco – Grande-Oficial; Medalha
do Nordeste; Estado-Maior da Armada; Militar e Passador Platina – 4o Decênio;
Capitania dos Portos da Bahia (capitão Medalha do Mérito Tamandaré; Medalha
dos portos); Diretoria de Aeronáutica da do Pacificador; Medalha do Mérito Santos
Marinha (vice-diretor); Adido Naval no Dumont; e AR-MN Argentina – Ordem de
Panamá (adido); Gabinete do Comandante Maio no Mérito Naval.

a capitão de corveta em 25/12/1977; a capitão


de fragata em 30/04/1984; a capitão de mar
e guerra em 31/08/1988; a contra-almirante
em 31/03/1997 e a vice-almirante em
31/03/2002. Foi transferido para a reserva
em 16/05/2005.
Em sua carreira exerceu quatro dire-
ções: Caixa de Construção de Casas para
o Pessoal da Marinha; Centro de Controle
de Inventários da Marinha; Diretoria de
Abastecimento da Marinha e Diretoria de
Administração da Marinha.
Comissões: Navio-Transporte de Tro-
pa Custódio de Mello, Contratorpedeiro
Paraná; Depósito de Subsistência da
Marinha no Rio de Janeiro; Depósito de
Sobressalentes da Marinha no Rio de Ja-
neiro; Colégio Naval; Hospital Central da
FLÁVIO LÚCIO CORTEZ DE Marinha; Comando do 1o Distrito Naval;
BARROS Depósito de Combustível da Marinha no
Vice-Almirante (IM) Rio de Janeiro; Comissão Gerencial de
Projetos Especiais; Diretoria-Geral do
Nascido no Rio de Janeiro, filho de Material da Marinha; Diretoria de Abas-
Waldemar de Barros e de Maria Cortez tecimento da Marinha; Serviço de Reem-
de Barros. Promoções: a segundo-tenente bolsáveis da Marinha; Escola Superior
em 14/05/1965; a primeiro-tenente em de Guerra; Comando do 1o Distrito Naval
13/06/1967; a capitão-tenente em 01/12/1970; e Comissão Naval Brasileira na Europa.

RMB3oT/2013 215
NECROLÓGIO

Em reconhecimento aos seus serviços, do Mérito Aeronáutico – Comendador;


recebeu inúmeras referências elogiosas Medalha Militar e Passador Platina – 4o
e as seguintes condecorações: Ordem do Decênio; Medalha do Mérito Tamandaré;
Mérito da Defesa – Comendador; Ordem Medalha do Pacificador; Medalha do Mé-
do Mérito Naval – Grande-Oficial; Ordem rito Santos Dumont e Medalha Naval de
do Mérito Militar – Comendador; Ordem Serviços Distintos.

O PREZADO ALMIRANTE BARROS


A carreira naval do Vice-Almirante que rendeu passarmos ambos a tratar-nos
(IM) Barros foi brilhante. Atingiu o mais sempre pelo apelido de “Chico”. Quando
alto posto de seu amado Corpo de Inten- entrei para o Colégio Naval, em 1975, ele
dentes da Marinha. Dirigiu OMs das mais já tinha desembarcado, mas incumbiu seu
importantes desse setor, tendo transcritos fiel Cabo Juracy, da cantina, de “ficar de
em seus apontamentos diversos elogios olho” em mim.
pela excelência de seus serviços distintos. Ao longo dos meus primeiros anos na
Em resumo, um marinheiro apaixonado, de Marinha, seu conselho e sua orientação em
garra e de fibra tecida da melhor manilha, momentos críticos sempre foram muito im-
e um chefe naval impecável, que inspirou portantes. Houve uma ocasião em que sua
profundo respeito, admiração e amizade orientação foi especialmente crucial para
nos seus superiores, pares e subordinados. minha vida. Tendo passado no concurso
Mas neste momento, passados alguns para o Corpo de Engenheiros, estive na sua
meses da grande dor provocada pela sua casa para tomar uns “suquinhos de malte”
perda, gostaria de falar sobre o homem (que ambos gostávamos muito) na noite de
Flávio Lúcio, primo querido, filho da tia véspera da reunião em que os aprovados
Mariinha, também tão querida irmã de escolheriam o curso que fariam. Eu estava
minha avó. Ele foi para mim um grande firmemente decidido a optar por Enge-
mestre, amigo e companheiro. Lembro-me nharia de Armamento no Instituto Militar
dele ainda dos primeiros anos de minha de Engenharia (IME) para não ter que me
infância, de jaquetão e espadim da Escola mudar para São Paulo. Ele me disse: “Não
Naval e, pouco depois, já tenente e noivo faça isso. Engenheiro na Marinha tem que
da minha igualmente querida prima Magali, ser engenheiro naval. Vá para São Paulo,
que me mimava muito – lembro-me até do são somente três anos lá”. Segui o conselho
“carrinho de ferro Matchbox”, um Jaguar, e passei não só o período do curso, mas
objeto de desejo dos garotos do final dos toda minha carreira naval, como engenheiro
anos 60, que ela me deu um dia. em São Paulo, e até hoje sou muitíssimo
Já da adolescência, guardo as férias agradecido a ele por isso.
inesquecíveis que passei em Angra dos Lembro ainda do dia em que ele assumiu
Reis quando ele servia no Colégio Naval; a presidência da Comissão Naval Brasileira
as experiências de vida transmitidas em na Europa (CNBE), em Londres, quando
longas conversas que tínhamos então; as um acidente causou o fechamento, pela
“guerras de fruta-pão” que travávamos polícia, da rua onde fica o prédio da Co-
no quintal da casa, apesar das broncas da missão, provocando um grande transtorno
Magali; e as muitas gozações que fazíamos à cerimônia, e da “fleugma britânica” que
com as maluquices de nosso tio Chico, o ele teve que ter para enfrentar a situação.

216 RMB3oT/2013
NECROLÓGIO

E nossas gostosas conversas regadas a O Almirante Barros se foi, mas deixou


“suquinhos de malte e cevada” nos pubs para todos nós um exemplo de amor incon-
londrinos, permeadas pelo carinho dele e dicional pela Marinha e de plena dedicação
de Magali com meus filhos pequenos. Isso nos seus mais de 40 anos de serviço, farol
sem falar naqueles maravilhosos churrascos que nos auxilia a navegar com segurança
bem regados e bem papeados no “Refúgio nas noites escuras que muitas vezes temos
do Passarinho”, sua casa na Serra da Cane- que enfrentar. Meu primo Chico se foi, mas
ca Fina, em Guapimirim, no Rio de Janeiro. me deixa um legado de experiência de vida
Não posso esquecer-me do orgulho e de carinho que também me tem ajudado
que senti participando de suas posses, muito a navegar nos mares da vida, e que
primeiro como diretor de Abastecimento tento transmitir a todos que comigo convi-
e depois como diretor de Administração vem, de forma que todos nós cheguemos ao
da Marinha – era o meu primo Chico che- porto seguro no qual ele já está, certamente
gando aonde ele sempre fez do seu melhor rindo de alguma piada que ele mesmo
para chegar! E também de como fiquei contou, tomando um belíssimo escocês
comovido ao vê-lo, junto com Magali, legítimo. Que a paz esteja com todos nós!
se afastar de lancha do cais da Base da
Avenida Brasil, após a cerimônia em que Leonam dos Santos Guimarães
ele passou para a reserva. Capitão de Mar e Guerra (RM1)

tenente em 30/03/1954; a primeiro-tenente


em 25/10/1955; a capitão-tenente em
21/11/1958; a capitão de corveta em
18/03/1963; a capitão de fragata em
05/09/1967; a capitão de mar e guerra
em 31/08/1973 e a contra-almirante em
31/03/1980. Foi transferido para a reserva
em 24/05/1984.
Em sua carreira exerceu dois coman-
dos: Navio de Desembarque de Carros de
Combate Duque de Caxias e Comando do
Controle do Tráfego Marítimo.
Comissões: Diretoria do Pessoal da
Marinha; Centro de Instrução Almirante
Wandenkolk; Estado-Maior da Armada;
Contratorpedeiro Paraíba; Comando em
Chefe da Esquadra; Secretaria-Geral da
Marinha; Gabinete do Ministro da Mari-
ROBERTO GAMA E SILVA nha; Capitania dos Portos de Pernambuco
Contra-Almirante (capitão dos portos); Escola de Guerra
Naval; Comissão Naval Brasileira em
Nascido no Amazonas, filho de Ruy Washington; Capitania dos Portos da
Gama e Silva e de Renee Gunzburger Amazonas, Acre e Tocantins; Comando
Gama e Silva. Promoções: a segundo- Naval de Brasília; Secretaria-Geral do

RMB3oT/2013 217
NECROLÓGIO

Conselho de Segurança Nacional e Co- – Comendador; Ordem de Rio Branco – Co-


mando do 1o Distrito Naval. mendador; Medalha Militar e Passador Ouro
Em reconhecimento aos seus serviços, – 3o Decênio; Medalha do Mérito Tamandaré;
recebeu inúmeras referências elogiosas e as Medalha do Pacificador; Medalha do Mérito
seguintes condecorações: Ordem do Mérito Santos Dumont; Medalha Naval de Serviços
Naval – Oficial; Ordem do Mérito Militar – Distintos; PF Prêmio Faraday; e PT-M2 Portu-
Comendador; Ordem do Mérito Aeronáutico gal – Medalha do Mérito Militar de 2a Classe.

GAMA E SILVA – Articulista, conferencista, escritor, político


Ter o privilégio de conhecer Gama e pelas pessoas que praticaram verdadeiros
Silva foi especial e gratificante. Conhecer “crimes de lesa-pátria”. Assim, alguns
seus pensamentos e suas ideias, assimilar poucos exemplares ficaram com ele, e pou-
seu discurso e apreciar seus livros só me cas pessoas conseguiram adquirir a obra.
enriqueceram. Resgatei alguns em sebos, e se constata
Nos últimos anos recebi – como editor que há muita semelhança com O escândalo
da Revista Marítima, como oficial de Ma- do petróleo. A grande diferença reside no
rinha e como brasileiro – informações e que foi possível vender, como escreveu
contribuições de toda ordem. Lobato (pág. 136): “Escrito e publicado
Ele era culto, inteligente, fluente quando em 1936, venderam-se quatro edições,
discorria sobre matérias que conhecia com num total de 18 mil exemplares – e, no ano
profundidade – e não eram seguinte, o livro desapareceu
poucas; exasperava-se, por nas trevas da supressão de
vezes, ao reconhecer que todas as nossas liberdades.
suas reflexões nos nume- Hoje ressurge – agora que,
rosos artigos, conferências com o esmagamento do fas-
e livros não eram compre- cismo na Europa, os nossos
endidas e nem aproveitadas escravizadores não tiveram
para corrigir questões exis- remédio senão afivelar no
tentes no cenário político rosto a velha máscara da
nacional. democracia. E O escândalo
Quando jovem, eu tive do petróleo volta a mostrar
o privilégio de ler Mon- ao povo a imensa patifaria
teiro Lobato. Um pouco que desde os começos vem
mais maduro, absorvi O sendo o caso do petróleo no
escândalo do petróleo, que Brasil”.
ficou no meu subconsciente. Lobato relata Com Gama e Silva não aconteceu o
os absurdos cometidos pelas autoridades ressurgimento, pois nem houve aquelas
da época e que muito se assemelharam ao edições iniciais...
que Gama e Silva denuncia em seus livros A patifaria ocorrida com o petróleo en-
em relação a outras questões de interesse riqueceu, sem sombra de dúvida, alguns do
da Nação. governo da época e das empresas envolvidas.
Contou-me que, ao ser lançado O entre- Por semelhança e obviamente, o mesmo ocor-
guismo dos minérios (1988), a editora e pra- reu com os minérios e tantos outros minerais
ticamente toda a edição foram compradas que Gama e Silva especificou em seu livro.

218 RMB3oT/2013
NECROLÓGIO

Antes, em 1985, já havia publicado São artifícios e engodos para a obtenção de


mesmo nossos os minerais não energéti- vantagens, usurpando direitos.
cos?, mostrando ao País a potencialidade A Revista Marítima teve o privilégio de
não aproveitada. Transcrevo do prefácio publicar artigos de sua lavra, abordando
do empresário e senador Antônio Ermírio temas diversos, conforme o quadro abaixo.
de Morais: “O trabalho apresentado é rico Sobre o último artigo, cabe a menção de
em dados, todos confiáveis. Poder-se-á que o almirante o remeteu para a RMB es-
discordar de alguma solução, de alguma clarecendo tratar-se de programa de partido
diretriz, mas depois dele não mais poder- político que pretendeu ou pretendia formar.
se-á alegar que a Nação não foi despertada Mas ele me orientou: “Tire as colocações
para a questão que, não se pode negar, é de político-partidárias e utilize o que existe de
magna importância”. útil para a Nação, se você julgar correto e
Nascido em Manaus, não podia deixar conveniente”. A humildade deste homem
passar o que lhe cabia oferecer em Olho e a deferência comigo me sobrecarregaram
grande na Amazônia Brasileira, em 1991. de responsabilidade. O esforço do Corpo
Neste mostra, sempre com dados e registros Editorial foi dirigido para não desmerecer
públicos e confiáveis, a cobiça estrangeira tal confiança e, deste modo, tentamos
e dos nacionais na busca de lucros, em cumprir a tarefa que julgamos de máxima
detrimento do que cabe ao País. Denuncia importância: modificamos, onde cabia, o
Ano Trimestre Artigos/Matérias
1993 4 Possíveis ameaças aos países da América do Sul
1995 1 Seca no Nordeste, chuva de ouro para os marajás
2000 1 Amazônia Brasileira
2000 3 Descobrimento do Brasil
2000 3 Aquecimento contemporâneo da atmosfera
2000 4 Conservação dos ecossistemas amazônicos
2001 1 Antártica ou Antártida
2001 2 Planeta Água
2001 3 Braz de Aguiar, o bandeirante das fronteiras remotas
2001 4 Amazônia – invasão, desmatamento, queimadas
2001 4 As salvaguardas tecnológicas em Alcântara
2002 2 MercoBrasil
2003 2 Amazônia para quem não conhece – usufruir sem depredar
2003 4 O nióbio e a Open
2004 2 A epopeia do Acre
2004 3 A Amazônia, o Brasil e a dissuasão necessária
2004 4 Brasil e a Nova Ordem Mundial
2007 4 Variações climáticas
2008 2 A Amazônia e a cobiça internacional
2008 3 Commodities e minerais
2009 2 Estratégia de Defesa da Amazônia Brasileira
2009 3 Eureka! Eureka! (hidrovias, mentalidade marítima)
2010 4 Mudanças climáticas. Oceanos – pulmões do mundo
2013 1 Tsunami verde-amarelo – uma visão nacionalista

RMB3oT/2013 219
NECROLÓGIO

texto para conservar a Tese Principal, alte- literatura brasileira e contribuiu de modo
ramos e criamos o título, com o “Tsunami invulgar para disseminar teses de variado
Verde-Amarelo”, mantendo a “Visão Na- teor. Prestigiou a Marinha do Brasil, com
cionalista”. Esforçamo-nos para ficar à altu- seu raro e perspicaz intelecto. Enriqueceu
ra de Gama e Silva, pois esta foi a intenção a intelligentsia nacional, e – sorte minha
dos quatro que se dedicaram à tarefa. Em – tive o prazer de conhecê-lo e de com ele
verdade, não era possível perder a oportu- conviver.
nidade de divulgar texto tão significativo, Gama e Silva! Que suas ideias persistam
quiçá dos mais importantes já publicados ajudando o País.
pela nossa sesquicentenária revista.
Por fim, considero que o Almirante Milton Sergio Silva Corrêa
Gama e Silva enriqueceu as páginas da Capitão de Mar e Guerra (Refo)

em 31/03/1984. Foi transferido para a reserva


em 06/05/1988.
Em sua carreira exerceu três comandos:
Contratorpedeiro Pernambuco; Contrator-
pedeiro Rio Grande do Norte e Comando
da Força de Apoio.
Comissões: Comando do 2o Esquadrão
de Caça Submarinos; Base Naval de Natal;
Contratorpedeiro Apa; Contratorpedeiro
Araguari; Comissão Naval Brasileira em
Washington; Comissão de Recebimen-
to de Navios em Norfolk; Diretoria de
Hidrografia e Navegação; Comando em
Chefe da Esquadra; Cruzador Barroso;
Navio-Aeródromo Ligeiro Minas Gerais;
Cruzador-Ligeiro Tamandaré; Centro
de Instrução Almirante Wandenkolk;
ANTÔNIO EDUARDO CEZAR DE Centro de Adestramento Marques de
ANDRADE Leão; Diretoria do Pessoal da Marinha;
Contra-Almirante Escola de Aprendizes-Marinheiros do
Nascido no Rio de Janeiro, filho de An- Espírito Santo; Escola de Guerra Naval;
tônio Cezar de Andrade e de Lizzy Cezar Gabinete do Ministro da Marinha; Centro
de Andrade. Promoções: a segundo-tenente de Informações da Marinha; Capitania
em 10/01/1956; a primeiro-tenente em dos Portos em São Paulo; Diretoria de
13/02/1957; a capitão-tenente em 10/07/1959; Ensino da Marinha; Diretoria de Portos
a capitão de corveta em 25/07/1964; a capitão e Costas; Comissão Naval em São Paulo;
de fragata em 26/05/1969; a capitão de mar Escola Superior de Guerra e Comando de
e guerra em 30/04/1977 e a contra-almirante Operações Navais.

220 RMB3oT/2013
NECROLÓGIO

Em reconhecimento aos seus serviços, náutico – Grande-Oficial; Medalha Militar


recebeu inúmeras referências elogiosas e as e Passador Ouro – 3o Decênio; Medalha do
seguintes condecorações: Ordem do Mérito Mérito Tamandaré; Medalha do Mérito Ma-
Naval – Comendador; Ordem do Mérito rinheiro – 1 âncora; Medalha do Pacificador;
Militar – Oficial; Ordem do Mérito Aero- Medalha do Mérito Santos Dumont.

CONTRA-ALMIRANTE ANTÔNIO EDUARDO


CEZAR DE ANDRADE
Referir-me ao Almirante Cezar de An- Serviu, ainda, como oficial de estado-maior
drade faz-me, em síntese, memorizar duas da Esquadra (Comando em Chefe da Esquadra
vidas, eis que ele era meu irmão gêmeo. – Comemch), a bordo de navios capitânias e,
Entramos juntos para a Escola Naval posteriormente, em instalações de terra.
nos idos de 1951, ali cursando até o final Entre as funções e os cargos administra-
de 1954, quando, então, fomos declarados tivos, destacam-se os de capitão do porto
guardas-marinha. de Santos, já como capitão de mar e guerra,
Desde cedo, Antônio demonstrou, na e presidente da Comissão Naval em São
carreira, seu pendor profissional para o Paulo, como contra-almirante.
exercício de funções próprias dos setores Novamente a bordo de navios, exerceu
operativos dos navios da Esquadra, nos o cargo de comandante da então Força de
quais serviu embarcado por cerca de 17 Apoio da Esquadra, setor este responsável
anos. Nesse período, exerceu sua primeira pela realização e pelo desempenho de ope-
função como oficial do antigo Contratorpe- rações anfíbias e de apoio logístico aos mais
deiro (CT) Mariz e Barros e, ainda tenente, diversos navios, inclusive o Navio-Escola
sentiu-se inclinado para o manejo preciso Custódio de Mello.
do sextante, revelando-se já àquela época A par de sua carreira naval e de seu amor
exímio navegador. à Armada brasileira, meu irmão Antônio
Posteriormente, fez parte da primeira fez-se um ser humano na expressão mais
tripulação do CT Pernambuco (D-30), vívida de seu significado, uma vez que,
quando de sua entrega pela Marinha norte- quer nos passadiços quer nos embates da
americana. Era, então, oficial do Centro vida, sempre buscou com determinação o
de Informações de Combate (CIC) do exercício da justiça, da fraternidade e da
navio. Voltou ao D-30, como capitão de camaradagem com aqueles que com ele
corveta, para ser seu imediato e também serviram ou conviveram.
seu comandante interino por breve período, Meu irmão Antônio singra agora outras
cargo este exercido devido a uma grave águas e, nesse contexto, vejo-o, mais uma
enfermidade contraída pelo comandante vez, navegando com precisão e assim, após
efetivo e ocorrida no transcorrer de uma das preparar o céu do crepúsculo vespertino,
muitas Operações Unitas de que participou. escolher entre as estrelas a mais brilhante
Mais tarde, e novamente, foi servir em para auxiliá-lo no traçado de uma nova rota,
contratorpedeiro, designado para receber, em meio a bons ventos e mares tranquilos.
nos Estados Unidos da América, como seu
primeiro comandante, o CT Rio Grande do Carlos Eduardo Cezar de Andrade
Norte (D-37). Almirante de Esquadra (Refo)

RMB3oT/2013 221
NECROLÓGIO

Em sua carreira exerceu dois comandos:


Contratorpedeiro Sergipe e 1o Esquadrão de
Contratorpedeiros.
Comissões: Navio-Escola Duque de
Caxias; Centro de Instrução Almirante
Wandenkolk; Cruzador Tamandaré; Con-
tratorpedeiro de Escolta Beberibe; Navio-
Hidrográfico Argus; Corveta Caboclo; Na-
vio-Patrulha Piraju; Base Naval de Natal;
Navio-Aeródromo Ligeiro Minas Gerais;
Comando do Esquadrão de Avisos Oceâ-
nicos; Comando do Grupamento Naval do
Sul; Estado-Maior da Armada; Diretoria de
Portos e Costas; Escola de Guerra Naval;
Comando Naval de Brasília; Diretoria do
Pessoal Militar da Marinha; Adido Naval
da Itália; Comando de Operações Navais;
Estado-Maior da Armada; Escola Superior
de Guerra e Diretoria do Pessoal Civil da
ROBERTO DE LORENZI FILHO Marinha.
Contra-Almirante Em reconhecimento aos seus serviços,
recebeu inúmeras referências elogiosas
Nascido no Estado de São Paulo, filho e as seguintes condecorações: Ordem do
de Roberto de Lorenzi e de Maria Anto- Mérito da Defesa – Comendador; Ordem
nieta de Lorenzi. Promoções: a segundo- do Mérito Naval – Comendador; Ordem do
tenente em 29/12/1957; a primeiro-tenente Mérito Militar – Comendador; Ordem do
em 13/02/1959; a capitão-tenente em Mérito Aeronáutico – Comendador; Meda-
13/02/1961; a capitão de corveta em lha Militar e Passador Ouro – 3o Decênio;
02/09/1966; a capitão de fragata em Medalha do Mérito Tamandaré; Medalha
13/09/1971; a capitão de mar e guerra do Mérito Marinheiro – 1 âncora; Medalha
em 30/04/1979 e a contra-almirante em do Pacificador; Medalha do Mérito Santos
25/11/1986. Foi transferido para a reserva Dumont; e IT-RI Itália – Ordem do Mérito
em 15/05/1990. da República Italiana.

CARO AMIGO LORENZI

Quando chegamos ao Colégio Naval experiência de levar trotes. Mas ouviram


(CN), em 1952, éramos adolescentes na falar dessa tradição execrável. Uns pou-
faixa dos 17/18 anos. Alguns, mais novos, cos a conheceram no Colégio Militar, de
como o Lorenzi, que tinha apenas 15 anos. onde vinham. Mas para a maioria era uma
Os nossos veteranos, por serem da “brincadeira” nova. E, como projetos de
primeira turma do CN, não passaram pela machões, os veteranos não tinham noção

222 RMB3oT/2013
NECROLÓGIO

de medida. Alguns foram de uma enorme pedido dos pais do Lorenzi – que vieram
brutalidade (reveladora de recalques). Ou- de Mogi para a cerimônia – aos pais da
tros apenas buscavam diversão conosco, os Jude, que moravam no Grajaú, foi feito
calouros assustados. na casa da Tivó. Uma festa modesta, mas
Alguém descobriu que, passando a pal- inesquecível.
ma da mão aberta sobre a ponta do nariz do Estreitamos mais ainda nossa amizade,
Lorenzi, ele espirrava. Fizeram isso tantas agora de Lysette e eu com Jude e Lorenzi.
vezes que o Lorenzi passou mal e teve que Lysette e ele tinham em comum uma fer-
baixar à enfermaria. vorosa militância católica. Ele sagrou-se
Os colegas paulistas usavam um sota- ministro da Eucaristia.
que diferente dos demais. Na época a TV Lysette morreu há dois anos, numa
engatinhava, e a Globo ainda não divulgara Sexta-Feira Santa. Não se conseguia um
um modo de falar e de pronunciar meio padre para a bênção final, e eu não queria
uniforme. O sotaque dos paulistas con- que ela, tão piedosa, recebesse essa bênção
trastava com o da maioria, cariocas. Os de um padre que não a conhecesse e não
do interior, como Lorenzi, que vinha de soubesse como ela era especial. Convidei
Mogi das Cruzes, tinham o sotaque ainda Lorenzi para a espinhosa missão. Ele de-
mais carregado. Mais que colegas de turma, clinou, dizendo que ia se emocionar muito,
ficamos amigos. que não conseguiria falar. Mas acabou
Os aspirantes que não tinham familiares aceitando e nos comoveu com belas e
no Rio às vezes ficavam na Escola Naval apropriadas palavras diante do corpo de
(EN) nos fins de semana. Mas, frequente- minha inesquecível companheira, com
mente, os “locais” convidavam os “laran- quem convivi por 60 anos.
jeiras” (gíria antiga da EN para esses “de Neste julho, Lorenzi sofreu um fulmi-
fora”) para irem às suas casas. Foi assim nante infarto. Jude pediu socorro ao filho
que os pais do Sieberth, numa atitude in- médico (o Capitão de Mar e Guerra André)
comum de generosa hospitalidade, abriam e ainda tentou reanimá-lo com massagens
sua casa para alguns “laranjeiras”, Lorenzi no tórax. Não conseguiu, e quando o socor-
inclusive. Quando a adorável Esther, tia- ro chegou não havia nada a fazer. Meia hora
avó do Sieberth, a saudosa Tivó, resolveu depois do trágico acontecimento, Judith me
alugar um apartamento no Grajaú, fomos liga. Fiquei estarrecido.
todos pra lá, transformando a casa dela em Não consegui, nessas toscas lembranças,
uma alegre república. dar uma imagem sequer pálida de quem era
Nessa época alguns de nós já ficávamos nosso querido Lorenzi.
noivos. Quando conheceu a bela norma-
lista Judith, Lorenzi ficou “com os quatro Luiz Antônio de Queiroz Mattoso
pneus arriados”. Queriam ficar noivos. O Capitão de Fragata (IM-Refo)

RMB3oT/2013 223
NECROLÓGIO

22/03/1954; a capitão de fragata em


03/04/1959; a capitão de mar e guerra em
02/09/1961. Foi transferido para a reserva
em 02/09/1961.
Em sua carreira exerceu três comandos:
Navio-Tanque Garcia D’Ávila; Corveta
Cananeia e Corveta Angostura.
Comissões: Encouraçado São Paulo;
Caça-Submarino Grajaú; Base Naval de
Natal; Caça-Submarino Guaporé; Encou-
raçado Minas Gerais; Corveta Carioca;
Comando do 4o Distrito Naval; Escola da
Marinha Mercante do Pará; Comando da
Flotilha do Amazonas; Agência da Capita-
nia dos Portos em Guajará-Mirim; Centro
de Instrução Almirante Wandenkolk;
Navio de Transporte de Tropa Barroso
Pereira; Navio-Escola Duque de Caxias;
Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro;
Escola de Guerra Naval; Diretoria de Ar-
AÉCIO PEREIRA DE SOUZA mamento da Marinha; Centro de Munição
Capitão de Mar e Guerra da Marinha; Comando Naval de Brasília e
Diretoria do Pessoal da Marinha.
Nascido no Rio Grande do Norte, filho Em reconhecimento aos seus serviços,
de Francisco Bruno Pereira e de Luiza de recebeu inúmeras referências elogiosas e as
Souza Pereira. Promoções: a segundo- seguintes condecorações: MNMG4 Meda-
tenente em 11/08/1944; a primeiro-tenente lha Naval do Mérito de Guerra – Serviços
em 24/08/1945; a capitão-tenente em de Guerra 2 Estrelas; Medalha Militar e
30/09/1949; a capitão de corveta em Passador Bronze – 1o Decênio.

O MARINHEIRO E ESCRITOR AÉCIO


O Almirante Max Justo Guedes e eu anos percorreu rios da Bacia Amazônica e
éramos antigos conhecidos do Cruzador resolveu levar para o papel vários aconte-
Barroso. Ele sabia que eu havia servido na cimentos e histórias ouvidas e conhecidas
Flotilha do Amazonas, por isso me pediu pelas populações ribeirinhas.
que opinasse sobre o livro Nas fronteiras O livro é excelente e surpreendente. É
da Amazônia – uma guerra silenciosa, de dividido em capítulos, cada um contando
Aécio Pereira de Souza. episódios e casos, em ótimo português
O Comandante Aécio era da Turma de e, por vezes, transcrevendo o linguajar
1940 e, como tenente, havia embarcado no dos nordestinos que migraram para a
Navio-Tanque Garcia D’Ávila. Por cinco Amazônia.

224 RMB3oT/2013
NECROLÓGIO

Entre os episódios narrados, ressalta 2003 – 2 o trimestre – Incidentes na


como mais importante, na minha opinião, Amazônia em 1949, com acréscimos do
o massacre ocorrido no Rio Solimões, autor do livro citado;
entre as cidades de São Paulo de Olivença 2004 – 4o trimestre – Enfrentando um Ci-
e Benjamin Constant. Uma canhoneira co- clone no Atlântico Sul, no Caça-Submarino
lombiana, na noite de 4 de julho de 1949, Guaporé. Antes de prosseguir viagem, aten-
sem ter autorização prévia para trafegar deu ao pedido de socorro do Navio Magda-
pelos rios do Brasil, conforme tratado lena, da Mala Real Inglesa, encalhado nas
entre países limítrofes, passou em frente proximidades da Barra da Tijuca. Foram
ao Pelotão do Exército de Tabatinga, para retiradas de bordo cerca de mil pessoas em
surpresa de seu comandante. Descendo 25 de abril de 1949. Posteriormente, o Mag-
o Solimões, encontrou o Navio-Gaiola dalena veio a afundar na entrada da Barra do
Ajudante, do Serviço de Navegação da Rio de Janeiro, onde era assinalado, na carta
Amazônia e Administração do Porto do náutica, como casco soçobrado – bastante
Pará (SNAAP) e, sem motivo e absur- conhecido pelos navegantes.
damente, abriu fogo. Contaram-se 112 Compareci à residência de Aécio há
mortos ou desaparecidos e o afundamento poucos anos, quando já perdera a visão.
do navio, partido em dois. Sobreviveram Declarou-me então que sua tentativa de
apenas oito pessoas. mostrar à Nação o quanto era importante a
Conhecido o episódio em Manaus, o Amazônia e seu povo não tinha sido em vão
povo revoltado ameaçou destruir a sede e que seus modestos escritos alcançaram
do Consulado boliviano e linchar o cônsul alguma notoriedade, pelas manifestações
e sua família. O Exército fez a proteção, que recebeu ao longo da vida.
evitando mal maior. Canais diplomáticos Recentemente recebi de sua viúva – D.
trataram da questão, sem grandes conse- Domitila Noronha Pereira – alguns escritos
quências reais. e documentos com fatos que merecem ser
Foi constatado que a tripulação era com- divulgados:
posta de oficiais e soldados bolivianos do – Recebeu o Prêmio Veríssimo de Melo –
Exército, da arma de cavalaria, e que esta- Especial do Juri da União Brasileira de Escrito-
vam embriagados. Nesse dia comemorara- res em 2002, no Centro Cultural da Academia
se a Semana da Pátria daquele País, com Brasileira de Letras, pelo livro Fronteiras da
farta distribuição de bebida. Amazônia – Uma Guerra Silenciosa.
Vários outros capítulos do livro trouxe- – Foi fundador do Grêmio de Vela da
ram aos leitores matérias de boa qualidade Escola Naval, recebendo o título de Asso-
literária e histórica, mostrando ao Brasil ciado Fundador.
aspectos que deveriam ser amplamente – Na Segunda Guerra Mundial, em-
conhecidos. barcou no Contratorpedeiro Benevente e
Colaborou com a Revista Marítima, no Caça-Submarino Grajaú, em missões
apresentando artigos de ótima qualidade: de comboio e patrulhamento, entre portos
RMB – 2001 – 2o trimestre – Notícia do brasileiros e Trinidad-Tobago.
lançamento do livro Fronteiras da Ama- – Foi assistente do Presidente da Re-
zônia, em 30/11/2000, com alguns trechos pública Juscelino Kubitschek de Oliveira.
selecionados; – Outros livros publicados:
2001 – 3o trimestre – três episódios – Em 2003, Giramundo – sobre sua
selecionados do livro citado; infância na Fazenda Ferreira Torto. Do

RMB3oT/2013 225
NECROLÓGIO

prefácio do acadêmico Murilo Melo Filho: vida interior e à produção de depoimentos


“O relato de Aécio conduz-nos de volta gerados por uma prodigiosa memória. Ele
aos tempos da meninice de muitos de nós produziu um texto leve, agradável, mas
mesmos, dos irresponsáveis foguedos”. também importante, um pouco ao estilo
Compara às Aventuras de Alice no País das dos Journal, de Gide e de Mauriac, e do
Maravilhas, de Lewis Caroll, ou a Serões Baú de Ossos, de Pedro Nava”.
de Dona Benta, de Monteiro Lobato. Aécio, simples, humilde e talentoso, me-
– Em 2007, Memórias de um Marinhei- rece esta manifestação de agradecimento,
ro. Também o prefácio é de Murilo Melo reconhecimento e respeito.
Filho: “Bem haja o memorialista Aécio,
com os olhos quase fechados à luz do dia, Milton Sergio Silva Corrêa
mas bem abertos à contemplação de sua Capitão de Mar e Guerra (Refo)

226 RMB3oT/2013
O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL

As histórias aqui contadas reproduzem, com respeitoso humor, o


que se conta nas conversas alegres das praças-d’armas e dos conveses.
Guardadas certas liberdades, todas elas, na sua essência, são verídicas
e por isso caracterizam várias fases da vida na Marinha.
São válidas, também, histórias vividas em outras Marinhas.
Contamos com sua colaboração. Se desejar, apenas apresente o caso
por carta, ou por e-mail ([email protected]).

A IMPORTÂNCIA E CRIAÇÃO DE UM SÍMBOLO

Transcrevemos na íntegra o texto do Capi- A partir desta ideia, buscamos auxílio


tão de Mar e Guerra (RM1) Ronald dos Santos profissional de um desenhista para bem
Santiago, publicado no Boletim Informativo executá-la.
do Soamar Campinas no 40, junho/2013.
“O símbolo é um elemento essencial no
processo motivacional e de comunicação. Na
Marinha do Brasil é tradição os comandos
operativos utilizá-los em suas bandeiras de
fainas justamente para marcar a atuação da OM
e gerar na tripulação um sentimento de iden-
tidade e orgulho no cumprimento da missão.
Em 2001, assumi o Comando do Gru-
pamento Naval do Norte (GNN), onde
identifiquei a necessidade da criação de
um símbolo que transmitisse uma imagem
positiva da OM e o espírito da tripulação.
Para tanto, criamos um concurso no âmbito
do GNN para que todos, praças e oficiais,
pudessem colaborar na criação da nossa Símbolo criado em 2001
identidade visual. No entanto, no decorrer
inicial do concurso, tive uma ideia que Após alguns aperfeiçoamentos, adota-
foi bem recebida pelo meu Estado-Maior. mos o símbolo mediante a expedição de
O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL

portaria e registro no Livro do Estabeleci- magnífico exemplar Bruthus of Real Gri-


mento. Em síntese, na portaria em que apro- ffen, o qual foi a fonte da minha inspiração.
vei o símbolo, descrevi o seu significado: Ressalto que, quando houve a criação do
– a frase ‘Sentinela do Portal Amazô- Arraiá do Bruthus, eu já não era coman-
nico’, que bem representa a sua responsa- dante do GNN. A ideia foi daqueles que
bilidade em função da posição geográfica; permaneceram lá servindo e que tinham
– o mapa representa a sua área de sido meus subordinados. Quando tomei
responsabilidade, enfatizando o ‘Portal conhecimento e recebi uma camiseta do
Amazônico’; evento com a figura do Bruthus vestido de
– os oito navios sobre o mar do ‘Portal caipira, fiquei muito satisfeito; não só pela
Amazônico’ simbolizam a sua constituição, homenagem, mas por ter conseguido gerar
a Força-Pronta e o fato de estar de sentinela; naquela tripulação o verdadeiro espírito de
– a figura central, um capitão de fragata, corpo de uma unidade militar.
posto do comandante superior dos navios, Com o tempo, o Comando do Grupa-
empunhando a sua espada, símbolo da mento Naval do Norte passou por várias
autoridade do oficial, personificado na transformações. O comandante passou a ser
face de um cão da raça bulldog inglês, que um capitão de mar e guerra; navios foram
representa nobreza, dignidade e lealdade desincorporados e outros foram incorpora-
de atitudes e que, na sua postura tal qual dos; e o nome da OM passou a ser Comando
sentinela sempre atenta, infunde precaução do Grupamento de Patrulha Naval do Norte.
aos possíveis agentes ameaçadores. Mas, mesmo após tantas modificações,
Após a referida portaria, este símbolo algumas coisas não mudaram, como o seu
foi aplicado em adesivos, banners e painéis sentimento de identidade e o orgulho no
– meios de comunicação os quais propor- cumprimento da missão. Hoje, o símbolo
cionaram a ampliação do espírito de corpo é representado na figura abaixo.”
que deve existir nas unidades militares.
Este símbolo intensificou a relação da
tripulação a ponto de ser incluído nas fu-
turas montagens da tradicional barraca de
festa junina do GNN, em festa promovida
no Centro Esportivo e Recreativo Espa-
darte, com a criação do Arraiá do Bruthus,
sendo a figura do bulldog inglês vestida
com a tradicional roupa caipira.
A ideia do símbolo não veio por aca-
so. Desde criança sou um admirador e
apaixonado pela raça bulldog inglês, e, na
ocasião que exercia o Comando, possuía o Símbolo como é hoje

228 RMB3oT/2013
DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDoS

DOAÇÕES À DPHDM
ABRIL A JUNHO DE 2013
DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECA DA MARINHA

DOADORES

Construtora Odebrecht
FEMAR
Editora da Universidade Federal da Bahia
UNIFA
José Bechara
Diretoria de Saúde da Marinha

LIVROS E PERIÓDICOS RECEBIDOS

CHILE
Revista de Marina (Armada de Chile) – v. 98, no 6, nov./dez. 1982; v. 98, no 1, jan./
fev. 1983; v. 99, no 1, jan./fev. 1984; v. 99, no 2, mar./abr. 1984; v. 100, no 4, jul./ago.
1984; v. 100, no 5, set./out. 2 ex. 1984; v. 100, no 6, nov./dez. 2 ex. 1984; v. 100, no 2,
mar./abr. 1985; v. 100, no 4, jul./ago. 1985; v. 100, no 6, nov./dez. 1985; v. 101, no 1,
jan./fev. 1986; v. 107, no 5, set./out. 2 ex. 1991; v. 110, no 5, set./out. 1994;

CUBA
Revista Bimestre Cubana – no 37, jul./dez 2012

FRANÇA
Études Marines – L’Histoire D,Une Révolution – no 4, 2013

BRASIL
A Defesa Nacional – v. 75, no 729, 1987; v. 75, no 730, 1987;
Arquivos Brasileiros de Medicina Naval – vol. 49, no 3, 1996; vol. 69, no 1, jan/dez, 2
ex. 2008; vol. 70, jan/dez, 2009; vol. 72 jan/dez, 2011;
Cadernos do CHDD – v. 11, no 20, primeiro semestre, 2012; v. 2, no 21, segundo
semestre, 2012; v. 2, no especial segundo semestre;
Ideias em Destaque – no 38, mai/ago, 2012, 2 ex.; no 39, set/dez, 2012, 2 ex; no 40, jan/
abr, 2013;
Informativo Marítimo – v. 20, no 2, abr/jun, 2012; v. 20, no 3, jul/set, 2012; v. 20, no 4,
out/dez, 2012;
Mar Vela Motor – A. 9, no 101; A. 9, no 105; A. 10, no 107; A. 9, no 111;
Navio Tanque Almirante Gastão Motta
Revista Científica FAESA – v. 8, no 1;

RMB3oT/2013 229
DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDoS

Revista da Armada – v. 42, no 470, jan;


Revista do Clube Naval – v. 121, no 365, jan/fev/mar, 2013;
Revista Suma Economia (Consultoria e Publicações) – no 48/abr. 2012;
Yachting Brasileiro – nos 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25 e 26 de 1946; nos 39,
40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49 e 50 de 1948; nos 51, 52, 53, 55, 59, 60 e 61 de
1949; nos 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73 e 74 de 1950; nos 76, 77, 78, 79, 82,
83, 84, 85e 86 de 1951; nos 87, 88, 89, 92, 96, 97 e 98 de 1952; nos 99, 101, 102, 103,
104, 105, 106, 107, 108, 109 e 110 de 1953; nos 123 e 124 de 1955; nos 135, 136, 142,
143 e 144 de 1956; nos 150, 151, 152, 155 e 156 de 1957; nos 166, 168 e 169 de 1958;
nos 172, 175, 176 e 178 de 1959; nos 183, 184, 185, 186, 187, 188, 192 e 193 de 1960;
no 199 de 1961; no 208 de 1962;

230 RMB3oT/2013
ACONTECEU HÁ 100 ANOS

Esta seção tem o propósito de trazer aos leitores lembranças e


notícias do que sucedia em nossa Marinha, no País e noutras partes do
mundo há um século. Serão sempre fatos devidamente reportados pela
Revista Marítima Brasileira.
Com vistas à preservação da originalidade dos artigos, observaremos
a grafia então utilizada.

UMA EXCURSÃO PROVEITOSA


(RMB, ago./1913, p. 167-201)

Relatorio apresentado pelo dr. Theophilo pois diz respeito áquelles que vestem uniforme
Nolasco de Almeida, lente da Escola Naval militar e disto se orgulham, sem melindrar nin-
guem, porém, vaidosos do que são e não do que
Exmo. Sr. contra-almirante Adelino Mar- podem parecer. É assim que, durante o trajecto,
tins, director da Escola Naval. fui confundido nas estações com os conductores
de trem, por não levar divisas e sim dolman, que
Cumprindo o gratissimo dever de referir a v. mais se apropriava á viagem; e, ao chegarmos a
ex. o que de mais importante occorreu e obser- S. Paulo, os srs. Aspirantes foram julgados guar-
vei na viagem de estudos que fiz á capital de S. das civis, evidenciando-se que o Brazil é assaz
Paulo e á Fabrica de Polvora sem Fumaça do grande e já em S. Paulo esta distancia se mani-
Piquete com a turma de aspirantes do 2o anno de festa. Assim os seus distinctivos carecem de um
ambos os cursos, que me foi confiada, consinta fundo destaque marinheiro, o que não exprimem
v. ex. inicie este relatorio com assumpto estra- nem o dolman nem a singelesa do bonet.
nho aos mesmos fins, mas de opportunidade, (...)
ACONTECEU HÁ CEM ANOS

REVISTA DE REVISTAS

SETEMBRO – 1913 Comquanto traga serios inconvenientes


o facto de andarem desfalcados os navios,
PROJECTIL ILLUMINATIVO – todavia não justifica o abandono da instruc-
Encontrámos ainda no mesmo jornal 1: ção de artilharia. Si uma torre exige quaren-
Acaba de ser adoptado pela marinha ta homens para sua efficacia, um numero
allemã um novo projectil, que se espera ser inferior, de certo, acarretaria lamentavel
de grande utilidade para repellir os ataques confusão, visto uns se occuparem dos deve-
nocturnos dos torpedeiros. res de outros, quando em combate, fim exclu-
Trata-se de uma granada especial, cheia sivo para que são traçados os “battleships”,
de carbureto de calcio, que se lança com os cada qual attenderia ao seu proprio.
projectis ordinarios e tem o mesmo alcance Fosse possivel a previsão mathematica
que elles. Ao cahir nagua, submerge a pe- do momento de contacto com o inimigo e de
quena profundidade, voltando rapidamente algum modo estariamos a salvo de surpresas
á superficie pela flutuabilidade produzida dolorosas, pois desde já iniciariamos o ensino
pelos gazes que se formam ao entrar a agua dos nossos apontadores. Infelizmente ainda
por pequenos orificios. não chegámos a uma tal perfeição, nem nos é
Inflammados os gazes por um appare- dado aguardar o antagonista de zona anti-
lho especial, um projectil de grande calibre poda, de fórma a vel-o alguns mezes depois
produz uma luz de 3.000 velas durante da declaração de rompimento, o que daria
uma hora. tempo para recuperarmos o perdido.
É evidente que se póde disparar certo nu- Ao contrario, seremos atacados dentro de
mero desses projectis em diversas direcções, quarenta e oito horas e bem triste se apre-
formando uma zona illuminada, ao redor de sentará a situação para nós outros, si não
um navio ou de uma esquadra, tornando- dispuzermos de gente exercitada, de canhões
se quasi impossivel passar inadvertido sem e de munições de reserva.
ataque pelos torpedeiros. Dest’arte saibamos cuidar dos homens
Esta vantagem dos projectos illumina- entregues á nossa competencia e boa vonta-
tivos usados pela artilharia de campanha, de, supprindo as lacunas que forem appare-
acredita-se que será de grande utilidade nas cendo para que a responsabilidade que pesa
operações nocturnas de um combate naval sobre nossos ombros seja minima.
contra os torpedeiros inimigos. Uma guarnição deficiente implica indu-
Essa condição satisfeita traz a vanta- bitavelmente uma serie enorme de contra-
gem de conservar folgadamente o material, riedades, taes como accumulo de encargos,
ao mesmo tempo que permitte o preparo de falta de estimulo, irregularidade na instruc-
pessoal sem soluções de continuidade, mo- ção, abandono do material, etc., além do que
vimentando-se regularmente os complicados decorre para o serviço interno de bordo. Mas
apparelhos que dizem respeito ao armamento. um navio sem preparo para a guerra não

1 N.R.: Revista General de Marina.

232 RMB3oT/2013
ACONTECEU HÁ CEM ANOS

passa de um simples paquete, porquanto o mo da tarefa que nos incumbe, de fórma a


que o caracterisa militarmente é o gráo de enviarmos para o mar, quando isso for preci-
efficiencia do pessoal que o tripula. so, um nucleo capaz e homogeneo.
Na impossibilidade, pois, de pormos em (...)
acção toda a nossa artilharia, procuremos Luiz Autran de Alencastro Graça – Ca-
guarnecer o maior numero de canhões e as- pitão-tenente, encarregado da artilharia do
sim nos desobrigamos com rigor e patriotis- couraçado São Paulo.

NOTICIARIO MARITIMO

JULHO – 1913 aos de metralhadoras, que correram igual-


mente bem.
MARINHA NACIONAL Findos estes, o sr. presidente da Repú-
blica e comitiva voltaram á residencia do
VISITA AO CORPO DE MARINHEI- commandante, capitão de mar e guerra La-
ROS NACIONAES – O sr. marechal Her- menha Lins, onde foi servido ligeiro “lunch”.
mes da Fonseca, presidente da Republica, Ás 6 horas da tarde o chefe da nação
no dia 24 de julho visitou o Corpo de Mari- deixou a fortaleza, tendo antes felicitado o
nheiros Nacionaes, na ilha de Willegaignon, commandante e officialidade do Corpo pelo
assistindo alli a varios exercicios. resultado satisfatorio dos exercicios a que
Recebido pelo capitão de mar e guerra assistiu.
Lamenha Lins, commandante e officialida-
de do referido corpo, foram a s. ex. prestadas MARINHAS ESTRANGEIRAS
as continencias devidas ao seu alto posto.
Depois de alguns minutos de demora na HESPANHA
residencia do commandante, o sr. presidente
da Republica assistiu da varanda do predio TRISTE OCCURRENCIA – Na ma-
ao desfilar do batalhão, em continencia, ten- nhã do dia 11 de junho findo, devido ao
do formado 1.200 homens. denso nevoeiro reinante, encalhou na praia
Em seguida os clarins tocaram a postos de Busicu, nas costas da Hespanha, onde o
de combate. O batalhão dividiu-se então em contrabando de armas é feito largamente, a
dois corpos, dando-se inicio aos exercicios de canhoneira General Concha.
ataque e escalada á fortaleza por parte da Pouco depois do encalhe, foi o navio
força embarcada em escaleres, e os de defesa cercado e atacado pelos mouros, que fize-
daquella praça de guerra pela força que ahi ram grande baixa na população, perecendo
permaneceu. na luta o proprio commandante, capitão de
A destreza e garbo com que se condu- corveta, d. Emiliano Castanos Hernandez e
ziram os marinheiros impressionou muito sendo feridos outros officiaes.
agradavelmente a s. ex. Pedido socorro por meio da telegraphia
Logo depois s. ex. assistiu aos exercicios sem fio, acudiu horas depois a canhoneira
de manobras do batalhão e companhias, e Lauria que cruzava por aquellas aguas.
RMB3oT/2013 233
ACONTECEU HÁ CEM ANOS

Os mouros de Bocaya, notando a difficil A elle devemos a nossa moderna es-


e embaraçosa contingencia em que se viam os quadra, cujas formidaveis unidades os-
naufragos, iniciaram logo contra elles vivissi- tentam orgulhosas o pavilhão nacional,
ma e cerrada fuzilaria, dominando as alturas quer a balouçar-se nas placidas aguas da
da costa, e acercando-se do navio encalhado. magestosa Guanabara, quer singrando
A tripolação bateu-se corajosamente mares tempestuosos, quer visitando os
contra o numeroso bando de mouros, não os portos das grandes potencias que até bem
podendo vencer, porém, e perdendo alguns pouco só viam tremular a bandeira brazi-
homens, sendo feridos, entre outros, os dois leira na pôpa de navios de typo obsoleto
alferes de navio dd. Raphael Ramos Izquier- e de nenhum valor militar.
do e Luis Felipe Lazaga. Quanto á reorganisação das vetustas
O General Concha foi socorrido, além do repartições que ainda se regiam por anti-
Lauria pelos cruzadores Extremadura e Rei- quados regulamentos de mais de meio seculo
na Regente e canhoneiras Recalde e Bomfáz. de existencia, repartições onde os funccio-
narios viviam assoberbados pelo papelorio
AGOSTO – 1913 e ignorando as attribuições e deveres dos
respectivos cargos, por mal definidos ou
MARINHA NACIONAL mal interpretados, força é confessar que a
remodelação effectuada em 1907 produziu
REORGANISAÇÃO DA ADMINIS- tão bons resultados na pratica que, sendo
TRAÇÃO NAVAL – No Senado foi apre- completamente alterada – depois de quatro
sentado um projecto de lei, elaborado pela annos de perfeito funccionamento – pelo
commissão de Marinha e Guerra, autorisan- ministro que succedeu ao autor na remodela-
do o governo a remodelar a administração da ção, deu isto logar a que por sua vez o minis-
Marinha. O relator, senador Barão de Teffé, tro Belfort (cuja perda o paiz e a corporação
precedeu o projecto, que publicámos adiante, lamentam) propuzesse ao chefe da Nação
das seguintes considerações: a expedição da mensagem de 29 de maio
“Em 1907, assumindo o elevado car- do anno passado, solicitando do Congresso
go de ministro da Marinha um almirante a necessaria autorisação para novamente
cujo amor ardente pela classe nem mesmo voltar a vigorar a remodelação da Marinha,
a adversidade conseguira arrefecer, vimol-o elaborada e posta em pratica pelo almirante
desde logo empenhado com rara actividade Alexandrino de Alencar.
e animo esforçado em realisar o plano arro- Essa ultima mensagem foi brilhantemen-
jado, mas altamente patriotico – que desde te defendida na Camara, em 24 de outubro
muito concebera e estudara – de revivificar de 1912, pelo illustrado relator da commis-
a nossa outr’óra brilhante Marinha, então são de Marinha e Guerra, dr. Vespucio de
em decadencia, desanimada, desorganisada Abreu e Silva, mas o projecto não teve an-
e reduzida pelo pessimismo que a invadira a damento por motivos que não vêm ao caso
um estado de condemnavel apathia. deslindar.
O que foi a administração desse ministro, É chegada, porém, a opportunidade de
não ha brazileiro que o ignore. tratar o Congresso deste assumpto de vital

234 RMB3oT/2013
ACONTECEU HÁ CEM ANOS

interesse para o bom funccionamento da descentralisação sem razão de ser em uma


administração da nossa marinha de guerra, pequena Marinha como a nossa;
tanto mais quanto se acha de novo á testa Considerando, finalmente, que a confu-
de tão importante repartição o seu remodela- são originada pela alteração desorganisado-
dor, de cujo zelo, criterio e competencia não ra de 1911 nos diversos serviços aconselhou,
é licito duvidar. ou antes, forçou o ministro Belfort a requisi-
Assim, pois, a Commissão de Marinha e tar uma nova reforma de administração, ou
Guerra: melhor, a volta ao estado de cousas estabele-
Considerando ter estado em vigor duran- cidas em junho de 1907;
te mais de tres annos com os mais vantajosos A Commissão offerece á consideração do
resultados e regulamentação das repartições Senado o seguinte projecto:
da Marinha, de conformidade com o que foi O Congresso Nacional resolve:
decretado em 5 e 11 de junho de 1907; Artigo 1o Fica o Poder Executivo au-
Considerando que a radical transforma- torisado a remodelar a administração da
ção feita em 1911 acarretou um desenvolvi- Marinha de Guerra Nacional, creando e
mento excessivo de processos burocraticos, supprimindo as repartições e os cargos, de
prejudiciaes á rapidez na resolução de todos conformidade com as exigencias e necessida-
os assumptos, circumstancia, sem duvida, de des dessa reforma; a rever os regulamentos
maior gravidade em questões de serviço mi- existentes no sentido de tornal-os bem claros,
litar, que requerem a mais prompta solução; segundo os moldes da reorganisação de 1907,
Considerando que a alteração de 1911 tudo, porém, sem augmento do total voltado
augmentou exageradamente o numero de para o orçamento vigente, podendo, entretan-
empregos em terra para os jovens officiaes to, fazer o estorno de verbas que fôr preciso.
de Marinha, que, ainda, sem tirocinio da Art. 2o Revogam-se as disposições em
vida do mar, abandonam os navios, trans- contrario.”
formando-se em amanuenses de repartições,
sem preverem as consequencias desastrosas SETEMBRO – 1913
para o futuro da carreira;
Considerando que a solução dos papeis do MARINHA NACIONAL
ministerio da Marinha, no periodo de 1907
a 1910 – segundo informações fidedignas VISITA AO “KANGUROO” – Esteve
– era dada poucos dias depois da entrada ancorado em nosso porto, de passagem para
da Directoria do Expediente, ao passo que Callao, transportando o submarino Palacios,
hoje, accumulado ás vezes durante mais de construido para o governo peruano, pela
um mez, são despachados sem passarem pela casa Schneider & Comp. o navio Kanguroo,
indispensavel fiscalisação ministerial; especialmente destinado ao transporte de
Considerando que pela actual organisa- submarinos, torpedeiros e navios analogos.
ção o Ministro está afastado das reparti- O Kanguroo foi construido nos estaleiros de
ções, isolado e sem meios que lhe facultem La Gironde, propriedade da firma referida, e
uma rapida e decisiva intervenção nos as- tem sido continuamente empregado em viagens
sumptos de mais importancia, devido a uma de transporte dos submersiveis, typo Laubeuf,

RMB3oT/2013 235
ACONTECEU HÁ CEM ANOS

cujos unicos constructores são os mesmos srs. 3.300 metros cubicos: é construido de um
Schneider & C., em Chalons sur Marne. duplo casco em fórma de U, fechado em sua
O casco do navio é composto de tres par- parte superior por série de paineis moveis.
tes principaes: O espaço comprehendido entre os cascos é
1a – A parte posterior, contendo machi- constituido de tanques dagua na parte infe-
nas, bombas, alojamentos, etc., cujo aspecto rior e caixas de ar nas lateraes.
é identico aos dos navios communs; Por effeito de um jogo de valvulas e bom-
2a – A parte central, verdadeiramente um bas póde-se encher ou esvasiar esses compar-
dique fluctuante, destinada a receber o sub- timentos.
mersivel; Na parte anterior
3a – A parte ante- encontra-se o tunel por
rior, munida de dispo- onde é introduzido o
sitivos especiaes, em submersivel, fechado
parte, para introduzir internamente por uma
o submersivel, e em porta estanque e exter-
parte, para o equili- namente pelas chapas
brio do navio. desmontaveis cravadas
O Kanguroo tem em cavernas de aço que
um comprimento total constituem a proa do
de 94 metros; bocca de Um submersivel entrando no Kanguroo navio.
12 metros; calado de Por uma manobra
5,m95, correspondente a um deslocamento muito interessante e semelhante a de um
de 5.540 toneladas. dique fluctuante, faz-se o embarque e o de-
Construido inteiramente de aço, é movido sembarque do submersivel sem a minima di-
por machina alternativa de triplice expan- fficuldade e com toda segurança.
são de 850 cavallos, com uma velocidade de Pela sua disposição especial, presta-se
cerca de 10 nós, e podendo conter um peso elle ao transporte de quaesquer outros objec-
util de 3.830 toneladas. tos de grande volume, taes como: locomoti-
A parte onde é alojado o submersivel tem vas, caldeiras, turbinas, etc.
58 metros de comprimento e capacidade de (...)

236 RMB3oT/2013
REVISTA DE REVISTAS

Esta seção tem por propósito levar ao conhecimento dos leitores


matérias que tratam de assuntos de interesse marítimo, contidas
em publicações recebidas pela Revista Marítima Brasileira e pela
Biblioteca da Marinha.
As publicações, do Brasil e do exterior, são incorporadas ao
acervo da Biblioteca, situada na Rua Mayrink Veiga, 28 – Centro
– RJ, para eventuais consultas.

SUMÁRIO
(Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)

ARTES MILITARES
ESTRATÉGIA
Para a terra ou para o mar – O trem de alta velocidade e a estratégia da China (238)
Defesa naval contra mísseis (239)

ATIVIDADES MARINHEIRAS
SALVAMENTO
Ainda o Costa Concórdia (240)

FORÇAS ARMADAS
ARMAMENTO
Armamentos navais – Parte II: Sistemas de canhões navais (242)

INFORMAÇÃO
ESPIONAGEM
O flagelo da espionagem cibernética (243)

PESSOAL
RECURSOS HUMANOS
Agressão sexual: Um problema para a prontidão da Esquadra (244)

PODER MARÍTIMO
DIREITO
O incidente da Flotilha de Gaza e a lei de bloqueio contemporânea (245)
REVISTA DE REVISTAS

Para a terra ou para o mar –


O trem de alta velocidade e a estratégia da China
Wu Zhengyu*
(Naval War College Review, Verão 2013, Vol. 66, Número 3. p. 53-66)

Segundo o autor, pressões e desafios gração com as economias da Eurásia,


de anos recentes para o desenvolvimento mas também o de prevenir a reversão
marítimo da China fizeram emergir o con- da globalização, ganhando tempo para
ceito de “hedging estratégico” (adoção de a reestruturação doméstica da economia
políticas que protejam a nação dos efeitos da China, advoga o Professor Gao. Aduz
de incertezas geopolíticas e econômicas). que ela poderia também representar uma
Um dos mais importantes defensores dessa estratégia de hedging, “colocando a China
política é Gao Bai, pro- em posição mais favo-
fessor de Sociologia rável na arena global”:
na Universidade Duke se surgirem problemas
(Carolina do Norte, no front marítimo, o
EUA) e autor do artigo país pode se desen-
“A Ferrovia de Alta volver em direção ao
Velocidade e a Grande oeste, integrando-se às
Estratégia Chinesa do economias da Eurásia.
Século XXI”. Para o autor, essa
De acordo com estratégia é sedutora
Zhengyu, o Professor por representar o me-
Gao crê que a crise lhor de dois mundos
global financeira de – o marítimo e o ter-
2008, com o conse- restre – nos ambientes
quente retorno dos político e econômico
EUA, por seu próprio globais. No entanto,
reajustamento estra- em sua opinião, ela
tégico, à região Ásia- se baseia na premissa
Pacífico, representou inexequível de que
o fim da estratégia a ferrovia proverá a
de “Águas Azuis” da integração terrestre.
China. Esse retorno Para ele, mesmo que
americano à região complicou a situação pudesse ser obtida, ela não contribuiria
chinesa em sua própria vizinhança e tornou para tirar a China da encruzilhada atual.
mais difícil de se obter a integração econô- Sua argumentação se baseia no fato de
mica da região. Para o Professor Gao, afir- que ferrovias existem no país há mais
ma Zhengyu, a ferrovia de alta velocidade de cem anos e a heartland (do conceito
pode romper o impasse corrente no país. de Halford Kinder) chinesa segue como
O desenvolvimento da ferrovia tem uma região atrasada. Assim, considera
o potencial não só de promover a inte- improvável que a adoção do trem de alta
* Professor associado na Escola de Estudos Internacionais da Universidade Renmin da China, em Pequim. Lecio-
nou em universidades estrangeiras em diferentes épocas. Recebeu seu Ph.D. em História na Universidade de
Nanjing e realizou pós-doutorado na London School of Economics. É autor de livros e de inúmeros artigos.

238 RMB2oT/2013
REVISTA DE REVISTAS

velocidade possa vir a promover a inte- lisadas ao longo do artigo de Wu Zhengyu e


gração propalada por Gao. podem remeter a reflexões de estrategistas
Essa e outras questões estratégicas chine- de outros países, contribuindo para a busca
sas a ela associadas são detalhadamente ana- do desenvolvimento marítimo e terrestre.

Defesa naval contra mísseis


Dr. Milan Vego*
(Naval Forces, No IV/2013, Vol. XXXIV, p. 44-46)

O espectro de ameaças para navios de nos, russos, indianos, franceses, norue-


superfície e submarinos de hoje é mais gueses etc. – e suas diversas formas de
diversificado do que há 20 anos, especial- lançamento. Indica também a dificuldade
mente nos litorais, afirma Milan Vego. A de detecção dos ASCM supersônicos
capacidade antiacesso e de negação de avançados devido ao seu pequeno ta-
uso de área empregada nessas faixas é manho, perfil baixo de voo e seção reta
representada por avia- radar reduzida, além
ção baseada em terra, do complicador im-
aeronaves não tripu- posto pela presença
ladas, submarinos usual de não comba-
convencionais, cor- tentes no ambiente
vetas multipropósito, operacional. Devido à
lanchas com mísseis, proximidade de terra
baterias costeiras de e à possibilidade de
canhões e de mísseis, ocultação dos meios
minas avançadas e lançadores, ele alerta
mísseis táticos balísti- também para a quase
cos. A maioria dessas impossibilidade de se
ameaças se localiza obter o alarme anteci-
em faixas litorâneas pado, o que diminui
próximas aos estreitos sobremaneira o tempo
internacionais, segun- de reação.
do o autor. Como meios de
Dentro desse contraposição, Vego
tema, Vego identi- inclui a diminuição
fica que a principal da seção reta do na-
ameaça existente ao vio e das assinaturas
ambiente operacional naval são os mís- infravermelho e visual e apresenta os
seis de cruzeiro (ASCM/LACM) e indica méritos dos sistemas de defesa de ponto
medidas adequadas à sua contraposição. tradicionais, como o Phalanx Mk 15 e o
Ele analisa detalhadamente os principais Goalkeeper Ciws, detalhando as suas for-
tipos de mísseis disponíveis – america- mas de emprego. Alerta, porém, que eles
* Professor de Operações no Naval War College desde 1991. Serviu por 12 anos como oficial da Marinha da ex-
Yugoslávia e por três anos e meio na Marinha alemã. É Ph.D. em História Moderna pela Universidade George
Washington. É autor de oito livros e de numerosos artigos para publicações profissionais .

RMB2oT/2013 239
REVISTA DE REVISTAS

não serão suficientes para impedir que o distâncias maiores, na faixa de 5 km (2,7
navio seja atingido por estilhaços resultan- milhas náuticas) e analisa diversos tipos
tes do engajamento dessas armas. Por isso, existentes – RAM, Barak etc. –, ressaltando
aborda a necessidade de sistemas de defesa a necessidade de sua integração com os
antimísseis com capacidade de engajar em sistemas de Guerra Eletrônica.

Ainda o Costa Concórdia


O.T.O.*
(Revista de Marinha, junho/agosto 2013, p. 56-57)

Neste artigo, o autor aborda a operação de e aborda a dificuldade existente em todos


retirada do Costa Concórdia de sua posição para abandono dos navios em caso de
de encalhe na Cala de Lazareto, na Ilha de emergências. Segundo ele, a arquitetura
Giglio, Itália, e mais duas questões que, no predominante privilegia a instalação de
seu entendimento, ainda não foram até hoje camarotes voltados para o interior do navio
enfocadas: a construção dos navios de cru- ao longo de corredores que podem ter cen-
zeiro e a constituição de suas tripulações1. tenas de metros e estarem a vários andares
Sobre a reflutuação de conveses por onde
do navio, o autor indica se possa acessar algum
que a tentativa está local para abandono.
orçada em cerca de 400 “O navio de cruzei-
milhões de dólares2 e ro assemelha-se a um
que deve ser realizada centro comercial. Se,
ainda em 2013, sen- em situação de emer-
do levada a efeito por gência, esvaziar um
meio da instalação de centro comercial não é
caixas de flutuabilida- fácil, então certamente
de no costado do navio O Costa Concórdia o abandono de milhares
e de enormes gruas que de pessoas de um navio
o levarão à posição vertical. Após sua flutua- de cruzeiro não estará facilitado, ainda mais
ção, o Costa Concórdia será rebocado a fim sendo obrigatório concentrá-las todas em
de ser desmantelado. Segundo o articulista, um só convés”, afirma. O Costa Concórdia
“com esta operação, com o julgamento do transportava, por ocasião do acidente, 4.229
comandante do navio e pagas as indenizações pessoas. Imagine-se como teria sido o aban-
devidas, estará encerrado o assunto!”. dono desse navio se estivesse afastado da
Sobre as preocupações levantadas pelo costa, pondera o autor. “Certamente que as
autor, a primeira diz respeito à construção mortes não teriam sido 30 e os desaparecidos
de navios de passageiros de maneira geral dois, mas muito mais.”

* [email protected].
N.R.1: O naufrágio ocorreu em janeiro de 2012. A manobra de sua recolocação sobre sua quilha, fundamental
para a retirada total da embarcação da água, aconteceu com um ano de atraso (o previsto era para setembro
de 2012). O Costa Concórdia, de 290 m de comprimento e 114,5 mil toneladas, foi apoiado em plataformas
submarinas de 18 mil toneladas de cimento, em 17 de setembro último.
N.R.2: Há fontes que estimam o valor da reflutuação em aproximadamente US$ 632 milhões.

240 RMB2oT/2013
REVISTA DE REVISTAS

A reflutuação do Costa Concórdia

A segunda questão é relativa à tripula- se ocupa com a hotelaria, mas é também


ção desses navios. Verificou-se que todo o esperado que cumpram papel relevante
normativo relativo a cruzeiros foi cumprido, em emergências e abandonos. Com tantas
possuindo o navio os certificados obrigató- nacionalidades presentes, quer de passagei-
rios. Assim, conclui-se que a tripulação tinha, ros quer de tripulantes, “estaremos perante
formalmente, conhecimento da língua ingle- uma verdadeira Torre de Babel”. Agrava
sa, estabelecida como língua oficial a bordo, saber que, no caso em questão, o timonei-
em consonância com a Convenção STCW. ro não tinha a mesma nacionalidade do
Dos presentes na ocasião do acidente, comandante e que, por duas vezes, repetiu
3.206 eram passageiros e 1.023 tripulantes. incorretamente as ordens recebidas, tendo
Os passageiros estavam distribuídos por sido corrigido por um oficial presente.
62 nacionalidades, 2.954 eram adultos, Segundo o articulista, “só quem nunca
200 crianças e 52 eram bebês menores comandou um navio acredita que, em
de 3 anos. Cabe, desde logo, a dúvida de emergência ou em situações graves, não é
que, se instalada a confusão, a difusão de indispensável uma natural e genuína com-
instruções em inglês seria compreendida preensão entre os elementos que operam
pela maioria dos passageiros. o navio e que tal só será possível com a
Entre os tripulantes encontravam-se mesma língua-mãe”.
integrantes de 38 nacionalidades, dos Em conclusão, o autor reconhece a exis-
quais a maioria filipinos, 294. Havia 202 tência da globalização e as facilidades autori-
indianos, 169 indonésios e 149 italianos. É zadas para constituição de tripulações. E, ain-
sabido que a maior parte desses tripulantes da, que a correção dessas questões não evitará

RMB2oT/2013 241
REVISTA DE REVISTAS

definitivamente outros
acidentes, mas afirma
que elas os potenciali-
zam e que a “flexibili-
dade” deve ser evitada.
Afinal, assevera, a ren-
tabilidade do negócio
deve ser buscada sim,
mas tendo-se em conta
que “o lucro não pode
ser obtido a qualquer
preço, nomeadamente
quando estão em causa
vidas humanas”. A reflutuação do Costa Concórdia

Armamentos navais – Parte II: Sistemas de canhões navais


E. R. Hooton*
(Naval Forces, No IV/2013, Vol. XXXIV, p. 18-24)

Nesta era em que a guerra de superfície dos mísseis. Entretanto, argumenta que,
é dominada por mísseis ou torpedos, o para a operação do míssil, ele deve so-
autor observa que o mercado de canhões frer um processo de programação antes
navais permanece ativo e que navios das de ser lançado, enquanto que o canhão
Marinhas do mundo possuem canhões possui rapidez de reação maior, bastando
em vez de mísseis.
Diante dessa consta-
tação, Hooton, neste
artigo, se propõe a
responder por que
este aparente anacro-
nismo segue prospe-
rando e é encontrado
nos mais sofisticados
navios de guerra das
maiores Marinhas.
Em sua aborda-
gem, o autor reco-
nhece que canhões
não podem pretender
obter a letalidade e
Canhão naval Oto Melara 127mm. Com o uso do Vulcano
os mesmos alcances poderá atingir alvos a mais de 100 km

* Colaborador regular do Mönch Publishing Group em assuntos variados. É também historiador militar especia-
lizado em Operações Aéreas.

242 RMB2oT/2013
REVISTA DE REVISTAS

Ademais, para curto alcance, o desempe-


nho do canhão é superior, já que o míssil
só se ativa após um período inicial de
voo e os projetis são eficazes ao saírem
do tubo alma.
Hooton prossegue o artigo apresen-
Projetil Vulcano, com estabilização e alcance tando detalhadamente diversos sistemas
estendido, usado pelo Oto Melara de armas com canhões dentre os mais
modernos existentes, além de analisar a
apenas ser apontado em direção ao alvo busca tecnológica por armas mais eficien-
para iniciar sua operação, provendo fogo tes e com alcances e cadências de tiro cada
sustentável e preciso por longos períodos. vez mais rápidas.

O flagelo da espionagem cibernética


Norman Friedman*
(Proceedings, junho 2013, p. 90-91)

Por meio da exploração de casos recen-


tes de invasões de sistemas informatizados,
Friedman busca neste seu artigo explicitar a
vulnerabilidade de quaisquer informações
ligadas à internet. Para ele, a espionagem
cibernética é semelhante às outras formas
de interceptações de comunicações, mas é,
entretanto, muito mais ativa, como a espio-
nagem convencional, e muito mais segura:
“Ninguém sentado em um computador em
Xangai se arrisca a ter o FBI arrombando
sua porta”.
Segundo o autor, presumivelmente, os
Estados Unidos da América (EUA) também
realizam tentativas de penetrar sistemas de
segurança de outros países, mas, em sua
opinião, eles têm muito menos a ser rou-
bado. Os EUA são os líderes em desenvol-
vimento de sistemas de defesa e, por isso,
serão o alvo preferido para espionagem
* Autor do Naval Institute Guide to World Naval Weapons, Fifth Edition (Guia de Sistemas de Armas
Navais do Instituto Naval, Quinta Edição) e do Network-centric warfare: How Navies Learned to
Fight Smarter Through Three World Wars (Guerra centrada em rede: como as Marinhas aprende-
ram a lutar mais inteligentemente por meio das três guerras mundiais). Entre seus outros livros,
encontram-se The U.S. Maritime Strategy – 1988 (A Estratégia Marítima dos EUA) e Seapower
as Strategy: Navies and National Interests – 2001 (Poder Naval como Estratégia: Marinhas e
Interesses Nacionais).

RMB2oT/2013 243
REVISTA DE REVISTAS

cibernética, afirma. Os investimentos são real contra esses ataques é a dissuasão: “De-
feitos para incrementar a segurança, mas a vemos tratar um ataque cibernético como
corrupção de indivíduos e o acesso a seus tratamos um ataque físico, retaliando pelos
computadores são formas eficazes de se mesmos meios”. O cerne dessa defesa será
romper a segurança, alerta ele. Executivos a habilidade em identificar o atacante para
em viagens e seus computadores portáteis, que possa ser responsabilizado.
por exemplo, são portas abertas a dados Ao finalizar, Friedman afirma que nunca
confidenciais de suas companhias, poden- ocorrerá retaliação contra a espionagem
do afetar acordos, segredos comerciais e cibernética simplesmente porque os EUA já
também dados de defesa. estarão nela engajados tanto quanto seus ini-
A vulnerabilidade é um fato, conclui migos. Para ele, a questão passa então a ser
Norman Friedman, aduzindo que a defesa se conseguirão ser mais eficazes do que eles.

Agressão sexual: Um problema para a prontidão da esquadra


Contra-Almirantes (EUA) Martha Herb e Tony Kurta*
(Proceedings, julho/2013, p. 48-52)

“A Marinha [dos Estados Unidos da ou outros militares. E mais: os relatórios


América, EUA] necessita urgentemente de oficiais indicam que esses quantitativos
um novo modelo de comportamento que permanecem constantes.
conecte melhor a alta administração com os Segundo Herb e Kurta, o tema agres-
marinheiros mais jovens e que transforme são e assédio sexual e a publicidade a ele
perspectivas culturais.” Essa frase sintetiza atrelada têm colocado a Marinha de seu
as conclusões deste artigo de lavra de dois país e a sua alta administração em posição
almirantes da ativa da Marinha mais avan- insustentável perante o público que a ela
çada do mundo e na qual a diversidade de confia seus filhos. Afinal, para manter seu
gêneros está solidamente implementada. tamanho atual, a Marinha dos EUA preci-
Nele, os autores abordam abertamente sa recrutar anualmente entre 35 e 40 mil
os problemas existentes, como, por exem- jovens recém-formados no Ensino Médio.
plo, o fato de que nos últimos 12 meses O artigo apresenta dados estatísticos e
mais de 10 mil adultos foram vítimas de al- gráficos relativos aos acompanhamentos
gum contato sexual não desejado. Desses, a feitos por organismos existentes para lidar
maioria são mulheres de 18 a 24 anos. Eles com o problema e analisa algumas iniciati-
ressalvam, entretanto, que o problema não vas que se encontram em vigor. Entre elas,
é somente feminino. Tanto homens como citam o intenso treinamento pelo qual todos
mulheres são vitimados e, na maior parte os oficiais e marinheiros passaram, em espe-
das vezes, os agressores foram marinheiros cial os integrantes da “tríade da liderança”

* A Contra-Almirante Herb é qualificada em Superfície. Foi diretora da Prontidão do Marinheiro e Família,


Opnav N135, de julho de 2011 a maio de 2013. Essa seção inclui o Programa Naval de Agressão Sexual e
de Prevenção. Antes de ser promovida a almirante, trabalhou por 15 anos no aconselhamento de vítimas de
agressões e abusos sexuais.
O Contra-Almirante Kurta é qualificado em Guerra de Superfície. Nos últimos três anos exerceu o cargo de di-
retor de Planejamentos Militares e Política, Opnav N13, que inclui programas de prevenção e de reação a
agressões e assédios sexuais.

244 RMB2oT/2013
REVISTA DE REVISTAS

O comandante de Operações Navais (EUA), Almirante de Esquadra Greenert,


aborda o desafio do assédio sexual para plateia de militares da Marinha

– comandante, imediato e command master pessoas de forma diferente e possuem


chief (não há correspondente na MB; seria padrões diferentes de comportamento
o suboficial mais antigo da organização). daqueles que ocupam altos cargos de lide-
Um dos maiores desafios identificados rança, especialmente no que diz respeito
pelos almirantes é a falta de entendimento à conduta sexual.
pleno pela alta administração da socieda- Os almirantes concluem que as ações
de de onde vêm os jovens marinheiros. já tomadas por sua Marinha não são sufi-
Para Herb e Kurta, esses marinheiros se cientes diante do desafio que vislumbram e
comunicam de forma diferente, veem as indicam caminhos para enfrentá-lo.

O incidente da flotilha de Gaza e


a lei de bloqueio contemporânea
Capitão de Corveta (Inglaterra) James Farrant*
(Naval War College Review, Verão 2013, Vol. 66, Número 3. p. 81-98)

Este artigo realiza estudo de caso abor- os que participam de operações marítimas
dando tema legal internacional que tem de manutenção da paz.
desdobramento em vários níveis e que No nível da estratégia, debate a questão
pode ser de interesse para a comunidade do limite da tolerância da comunidade
naval de países com interesses marítimos internacional à imposição de bloqueios e à
além de suas fronteiras, em especial para interferência com o direito de livre navega-

* Oficial de Logística da Marinha Real inglesa, desde 1998. Serviu embarcado em operações antipirataria, de
patrulha no Golfo Arábico e em três evacuações de civis na Líbia, em 2011. Especializou-se na lei do mar
e na lei do conflito armado.

RMB2oT/2013 245
REVISTA DE REVISTAS

ção. No aspecto operacional, levanta a


questão da distância da costa a partir
da qual o comandante deve impor o
bloqueio. E, no nível tático, investiga
a proporcionalidade da força a ser
empregada por indivíduos integrantes
dos grupos de abordagem.
Farrant busca neste trabalho, à luz
de incidente ocorrido no bloqueio
marítimo contra o Grupo Hamas em
Gaza, em 2010, propor princípios
que poderão orientar doutrinas navais
para estabelecimento e imposição de
Mavi Marmara
bloqueios.
Aquele bloqueio havia sido imposto legal de estabelecer aquele bloqueio; de
por Israel, a partir de 2009, para impedir a en- que, mesmo que ele pudesse ter sido impos-
trada de armas e outros materiais destinados to em conformidade com as leis, seria ilegal
ao Hamas, com o propósito de prevenir ata- de fato, pelo sofrimento desproporcional
ques de foguetes ao seu território. Em maio de infligido aos habitantes de Gaza; e, além
2010, uma flotilha composta por seis navios de tudo, de que os grupos de abordagem
foi organizada no Mediterrâneo com o propó- das Forças de Defesa israelenses haviam
sito, publicamente declarado, de furar aquele empregado excesso de força.
bloqueio. Segundo o autor, o Mavi Marmara Foram abertos três inquéritos para inves-
era o maior navio e transportava ativistas do tigar detalhadamente o episódio, e os fatos
Movimento de Libertação de Gaza e do gru- e as conclusões a que chegaram variaram
po Direitos Humanos e Liberdades e Ajuda sobremaneira, na opinião do autor. O isra-
Humanitária (IHH, da sigla em inglês), além elense concluiu que o bloqueio foi legal e
de outros simpatizantes da causa e inúmeros que a imposição pela força foi executada,
jornalistas. Em 30 de maio de 2010, ocorreu no geral, dentro da lei. A comissão turca
uma série de comunicações determinando concluiu pela ilegalidade e pelo excesso de
que os navios se dirigissem a Ashdod, cidade força. E a ONU, munida desses resultados,
israelense ao norte de Gaza, para inspeção e nomeou sua própria comissão de inquérito,
distribuição supervisionada de sua carga, sob que concluiu ter sido o bloqueio legal, mas
pena de, diante do não cumprimento, serem que, aparentemente, houve excesso de força
abordados pelas Forças de Defesa de Israel. nas ações junto a passageiros e à tripulação
A flotilha não obedeceu e foi intercepta- do Mavi Marmara.
da e abordada a 64 milhas náuticas fora da Diante desses resultados contrastantes,
zona de bloqueio. Em cinco dos navios, o este artigo do Comandante Farrant se torna
apresamento ocorreu sem incidentes fatais. relevante por investigar e analisar com de-
No entanto, no Mavi Marmara foi diferen- talhes os elementos do Direito usados por
te: nove ativistas civis de nacionalidade Israel para estabelecimento do bloqueio, a
turca foram mortos. conduta na sua execução e os seus efeitos
Segundo Farrant, posteriormente ao na população de Gaza. Ao final, são apre-
incidente, as críticas se concentraram nas sentadas lições que podem contribuir para
afirmativas de que Israel não tinha o direito a análise e a condução de bloqueios futuros.

246 RMB2oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Esta seção destina-se a registrar e divulgar eventos impor-


tantes da Marinha do Brasil e de outras Marinhas, incluída a
Mercante, dar aos leitores informações sobre a atualidade e permitir
a pesquisadores visualizarem peculiaridades da Marinha.
Colaborações serão bem-vindas, se possível ilustradas com
fotografias.

SUMÁRIO
(Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)

ADMINISTRAÇÃO
ATIVAÇÃO
Amazul é ativada (251)
BATISMO
Batismo, Mostra de Armamento e Transferência para o Setor Operativo do AvHoFlu
Rio Negro (252)
CONTRATO
DEN assina contrato de construção de embarcações de apoio (253)
HOMENAGEM
NAsH Soares de Meirelles e NPaFlu Raposo Tavares homenageiam componentes
do Projeto Rondon (254)
INAUGURAÇÃO
Cooperação MB-Coppe/UFRJ – Inaugurado Laboratório de Tecnologia Sonar (254)
Inauguração do Salão de Leitura Almirante Max Justo Guedes da Biblioteca da
Marinha (255)
INCORPORAÇÃO
AvHoFlu Rio Solimões é incorporado à Armada (256)
NPaOc Araguari é incorporado à MB (257)
LANÇAMENTO AO MAR
França lança maior cargueiro de contêineres do mundo (258)
POSSE
Assunção de cargos por almirantes (258)
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Transmissão de cargo da Diretoria-Geral do Material da Marinha (259)


Transmissão do cargo de Secretário-Geral da Marinha (265)
PRÊMIO
XXIV entrega de prêmios Controle Naval do Tráfego Marítimo (269)
CCCPM, Ceimspa e CMAM recebem Prêmio Qualidade Rio (270)
CCCPM recebe prêmio do Programa Netuno (271)
Corveta Caboclo é o Navio de Socorro do Ano (272)
SIPM conquista prêmio de excelência em sustentabilidade e inovação do Programa
Netuno (272)
PROMOÇÃO
Promoção de almirantes (273)
VISITAÇÃO
Comandante do 8o Distrito Naval visita a Atech (273)
Conselheiros da ACRJ embarcam no Rebocador Laurindo Pitta (274)

APOIO
ABASTECIMENTO
Translado de combustível para helicópteros da MB no Rio Solimões (274)
MODERNIZAÇÃO
CTecCFN entrega Viaturas Blindadas Especiais modernizadas à FFE (275)

ÁREAS
ANTÁRTICA
Marinha contrata avaliação do impacto ambiental da EACF (276)

ATIVIDADES MARINHEIRAS
BUSCA E SALVAMENTO
Capitania Fluvial do Pantanal resgata ribeirinhos (277)
NPaFlu Rondônia reboca iate à deriva (277)
NPa Macaé resgata pessoas no mar (278)
Resgatado tripulante de navio das Bahamas (278)
Ribeirinho é resgatado no Pantanal (279)
Salvamar Norte presta apoio de saúde a navio (279)
HIDROGRAFIA
Assinado termo para levantamento hidrográfico de Santos (280)
AvHoFlu Rio Tocantins realiza levantamento hidrográfico no Rio Amazonas (281)
Levantamento hidrográfico na Amazônia (281)

CIÊNCIA E TECNOLOGIA (C&T)


ENERGIA
Barco solar para transporte escolar e atividades na Amazônia (282)
ENERGIA NUCLEAR
“Vitória na derrota: Álvaro Alberto e as origens da Política Nuclear Brasileira” (283)
LUBRIFICANTES
Solução sustentável em lubrificação para a indústria naval (284)
PESQUISA
Barco movido a energia solar será usado em pesquisas climáticas (284)
PROPULSÃO
Ferryboat mais rápido do mundo é movido a GNL e a jato d’água (285)

248 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

CONGRESSOS
CONFERÊNCIA
IV Conferência Naval Interamericana Especializada em Interoperabilidade (286)
CONGRESSO
VI Congresso Internacional de Software Livre e Governo Eletrônico (287)
ENCONTRO
X Encontro de Bioincrustação, Ecologia Bêntica e Biocorrosão (287)
EXPOSIÇÃO
Exposição “Missões de Paz” (288)
FEIRA
Brasil Offshore 2013 (288)
InfraPortos South America – Investimentos em novos terminais privados (289)
Navalshore 2013 (290)
REUNIÃO
Marinha participa da 65a Reunião Anual da SBPC (291)
Reunião de diretores-gerais de pessoal e ensino das Forças Armadas (292)
SEMINÁRIO
Seminário Brasil Portugal (292)
SIMPÓSIO
1o Workshop de Sensoriamento Remoto para Inteligência & Defesa (293)
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação promove III Simpósio CT&I (294)
PALESTRA
CIAW recebe o diretor da RMB (294)

EDUCAÇÃO
CURSO
Criação do Programa de Pós-Graduação em Estudos Marítimos (295)
Curso Gestão Arquivística de Documentos (295)
Marinha ministra curso especial para o Bope (296)
ESPORTE
Marinheira Sarah Menezes é bronze em Mundial de Judô (296)
Resultados esportivos (297)

FORÇAS ARMADAS
AVIAÇÃO NAVAL
Comandante da Marinha acompanha voo experimental do Skyhawk AF-1B
modernizado (297)
Encerrada a qualificação das aeronaves MH-16 (298)
Primeiro pouso de aeronave MH-16 Seahawk a bordo do NAe São Paulo (299)
EMBARCAÇÃO
AMRJ entrega a terceira EDVM (299)
Entrega da EDVM Comandatuba (300)
MB transporta cruz da Jornada Mundial da Juventude (300)
SAbM incorpora a CTOC Garça (301)
EXERCÍCIO MILITAR
Batalhão de Controle Aerotático e Defesa Antiaérea realiza exercício operativo (301)
Submarino Tapajó lança torpedos em águas americanas (302)
FORÇA DE PAZ
Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil conduz Curso de Proteção de
Civis (302)

RMB3oT/2013 249
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Estágio de Preparação para Missões de Paz (303)


Fragata União é o novo capitânia da FTM-Unifil (303)
OPERAÇÃO
4o DN realiza grande operação na região dos estreitos (304)
Comissão Fraterno Anfíbia 2013 (305)
Operação Albacora Azul contribui para proteger ZEE (306)
Operação conjunta MB/PF/PM Ambiental do Ceará (307)
Tikuna participa da Operação Braper 2013 (307)
SUBMARINO NUCLEAR
Cerimônia marca início da construção de submarino do Prosub (308)

HISTÓRIA
GUERRA DO PARAGUAI
Programa Memória do Mundo da Unesco – Guerra da Tríplice Aliança concorre (308)

INFORMÁTICA
INTERNET
DHN lança novo sistema de comercialização de documentos náuticos pela
internet (309)

PODER MARÍTIMO
APRESAMENTO
NPa Gravataí apresa embarcação pesqueira (310)
CONTRABANDO
Embarcação apresada com contrabando no Amazonas (311)
HIDROVIA
60o Comitê Técnico da Hidrovia do Tietê-Paraná (311)
PORTO
Portonave bate recorde de movimentação (312)
Portos precisarão aumentar capacidade em 40% (313)
TCP atinge a marca de terminal de contêineres mais produtivo do Brasil (313)
SEGURANÇA DA NAVEGAÇÃO
DPC e Prefeitura Naval Argentina assinam Memorando de Entendimentos (315)
TRÁFEGO MARÍTIMO
Bell Buoy 2013 – Exercício de Controle Naval do Tráfego Marítimo (315)

PSICOSSOCIAL
AJUDA HUMANITÁRIA
Marinha apoia vítimas da enchente em Careiro da Várzea (AM) (316)
ASSISTÊNCIA SOCIAL
NAsH Doutor Montenegro atende a comunidades no Amazonas (317)
NAsH Soares de Meirelles realiza Asshop no Pará e Amapá (318)
LANÇAMENTO DE LIVRO
Lançamento de livro – Competitividade e a Indústria Brasileira (318)
RELIGIÃO
Diversidade religiosa na Escola Naval (319)

250 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

AMAZUL É ATIVADA

A empresa Amazônia Azul Tecnologias Maria da Glória Felgueiras Nicolau, re-


de Defesa S.A. (Amazul) foi ativada em 16 presentante do Ministério da Fazenda; e
de agosto último, na cidade de São Paulo. A o Contra-Almirante (RM1-IM) Francisco
Amazul, fruto da cisão parcial da Empresa Jose de Araujo. Declarada a constituição
Gerencial de Projetos Navais (Emgepron), da Amazul, foi encerrada a Assembleia
traduz-se em importante marco na con- Geral, tendo início, então, a reunião do
dução do Programa Nuclear da Marinha Conselho de Administração, que deu posse
(PNM) e do Programa de Desenvolvimento à Diretoria-Executiva, composta pelo seu
de Submarinos (Prosub), cuja meta princi- diretor-presidente; pelo diretor de Admi-
pal é a construção do primeiro submarino nistração e Finanças, o Contra-Almirante
brasileiro com propulsão nuclear. (IM) Agostinho Santos do Couto; e pelo
A cerimônia de diretor técnico, o Ca-
ativação da empresa, pitão de Mar e Guerra
realizada no auditório (RM1-EN) Leonam
do Centro Tecnoló- dos Santos Guimarães.
gico da Marinha em Encerrada a reunião
São Paulo, na Univer- do Conselho de Admi-
sidade de São Paulo nistração, o diretor-
(USP), teve início presidente da Amazul
com a convocação fez uso da palavra para
de Assembleia Geral, suas considerações ini-
por ordem da Procu- ciais. Posteriormente,
radoria-Geral da Fazenda Nacional, re- o comandante da Marinha, Almirante de
presentada pela presidente da Assembleia, Esquadra Julio Soares de Moura Neto,
Kátia Aparecida Zanetti de Lima. Seguiu-se lembrou o longo caminho percorrido e
a aprovação da constituição do capital da enalteceu a importância da Amazul para o
Amazul e de seu Estatuto Social. Na se- Programa de Desenvolvimento de Subma-
quência da cerimônia, tomaram posse os rinos e o Programa Nuclear da Marinha.
membros do Conselho de Administração: Finalizando, o Ministro Marco Antônio
Marco Antônio Raupp, ministro da Ciên-
cia, Tecnologia e Inovação, representante
daquele Ministério no Conselho; Ari Matos
Cardoso, representante do Ministério da
Defesa; Idervânio da Silva Costa, repre-
sentante do Ministério do Planejamento
e Gestão; Almirante de Esquadra Wilson
Barbosa Guerra, representante do Coman-
do da Marinha e presidente do Conselho;
e o Vice-Almirante (RM1) Ney Zanella
dos Santos, diretor-presidente designado
para a Amazul. Para o Conselho Fiscal,
foram investidos Marco Antônio Alves, Solenidade realizada no
representante do Ministério da Defesa; Centro Tecnológico da Marinha

RMB3oT/2013 251
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Raupp ressaltou que a sua presença no Brasil e do Programa Nuclear Brasileiro


Conselho de Administração da Amazul – PNB;
simboliza o reconhecimento de seu Mi- II - promover, desenvolver, absorver,
nistério à parceria de longa data com a transferir e manter as tecnologias neces-
Marinha do Brasil e a importância da nova sárias à elaboração de projetos e ao acom-
empresa no desenvolvimento e na retenção panhamento e à fiscalização da construção
de conhecimentos vitais em tecnologias de submarinos para a Marinha do Brasil; e
nucleares para a MB e para o País. III - gerenciar ou cooperar para o desen-
A ideia inicial de criação da Amazul volvimento de projetos integrantes de progra-
surgiu há quatro anos, e sua autorização mas aprovados pelo comandante da Marinha,
legal foi obtida por meio da Lei no 12.706, especialmente os que se refiram à construção
de 8 de agosto de 2012. e à manutenção de submarinos, promovendo
São objetivos da empresa: o desenvolvimento da indústria militar naval
I- promover, desenvolver, absorver, brasileira e atividades correlatas.
transferir e manter tecnologias necessárias (Fonte: www.mar.mil.br e Bono no 574,
às atividades nucleares da Marinha do de 16/8/2013)

BATISMO, MOSTRA DE ARMAMENTO E TRANSFERÊNCIA


PARA O SETOR OPERATIVO DO AvHoFlu RIO NEGRO

Foi realizada em 15 de agosto último, na vitais para o monitoramento regional e para


Estação Naval do Rio Negro, em Manaus a segurança nacional, com especial ênfase
(AM), a cerimônia de Batismo, Mostra de na faixa de fronteira, além do desenvolvi-
Armamento e Transferência para o Setor mento da região, e contempla as áreas de
Operativo do Aviso Hidroceanográfico Cartografia Terrestre, Geológica e Náu-
Fluvial Rio Negro. tica”. Realizado em
Assumiu o comando parceria com o Exér-
do navio o Capitão- cito, a Aeronáutica e o
Tenente Fábio Barbo- Serviço Geológico do
sa Louza. Brasil, o projeto é co-
Na ocasião, o che- ordenado pelo Centro
fe do Estado-Maior Gestor e Operacional
da Armada (Cema), do Sistema de Proteção
Almirante de Esqua- da Amazônia, subordi-
dra Eduardo Monteiro nado ao Ministério da
Lopes, destacou a im- AvHoFlu Rio Negro Defesa.
portância do Projeto Entre as diversas
Cartografia na Amazônia na incorporação ações previstas no projeto, estavam a
do novo meio: “O projeto possibilita o construção (pelo estaleiro Inace – Indústria
aprofundamento do conhecimento sobre a Naval do Ceará) e a incorporação de quatro
Amazônia brasileira, bem como o suporte avisos hidroceanográficos fluviais da classe
a projetos de infraestrutura que ali serão Tocantins (o Rio Negro foi o último), “que
implantados. Prevê geração de informações ampliam a capacidade de execução dos le-

252 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

vantamentos hidrográficos na Amazônia”, Amorim; o comandante da Marinha, Almi-


conforme destacou o Cema. rante de Esquadra Júlio Soares de Moura
Para o diretor-geral do Material da Neto; o ministro de Defesa da Colômbia,
Marinha, Almirante de Esquadra Arthur Juan Carlos Pinzón; a ministra da Defesa
Pires Ramos, o navio é de fundamental im- do Equador, María Fernanda Espinosa
portância para o navegante, pois permitirá Garcés; o governador do Estado do Ama-
o “conhecimento preciso e atualizado do zonas, Omar José Abdel Aziz; o prefeito de
canal de navegação dos rios amazônicos, Manaus, Arthur Virgilio do Carmo Ribeiro
o que possibilitará a contínua melhoria na Neto, entre outras autoridades.
segurança da navegação”. (Fontes: Bono no 565, de 13/8/2012,
Estiveram presente à cerimônia, ainda, e Bonos Especiais n os 569 e 570, de
o ministro de Estado da Defesa, Celso 15/8/2013)

DEN ASSINA CONTRATO DE CONSTRUÇÃO


DE EMBARCAÇÕES DE APOIO
O diretor de Engenharia Naval, Vice- e quatro tripulantes. A esta embarcação serão
Almirante (EN) Francisco Roberto Portella atribuídas tarefas de transporte de cargas ge-
Deiana, e o diretor executivo do Estaleiro rais em atividades de apoio administrativo ao
B3 Boat, Danilton Camilo, assinaram, em Centro de Instrução Almirante Wandenkolk
12 de julho último, os contratos para a cons- (CIAW), na Ilha das Enxadas (RJ). A LEG-M
trução de uma Lancha de Emprego Geral será dotada de moderno sistema de propulsão,
Média (LEG-M) e de três Embarcações para terá grande mobilidade e manobrabilidade
Transporte de Pessoal e elevados requisitos
Médias (ETP-M). O de segurança para a
evento foi realizado navegação na Baía de
na sede da Diretoria Guanabara. O prazo
de Engenharia Naval estimado para a constru-
(DEN), na cidade do ção é de 270 dias.
Rio de Janeiro. As três ETP-M têm
Os contratos têm o as seguintes caracterís-
propósito de obtenção ticas básicas: compri-
das embarcações por mento de 25 metros,
construção, inclusive boca moldada máxima
com o desenvolvi- Assinatura do contrato
de 7,5 metros, calado
mento do projeto de máximo de 1,2 metro,
concepção e engenharia, o que estimula o comportando 200 passageiros e quatro
desenvolvimento tecnológico nacional. A tripulantes. Estas embarcações, destinadas
ação insere-se no Plano Plurianual de Ob- ao CIAW e ao Centro de Avaliação da Ilha
tenção de Embarcações de Apoio (PPOEA). da Marambaia (Cadim), serão empregadas
A LEG-M tem como características bá- no transporte do pessoal administrativo e
sicas: comprimento total de 12 metros, boca de alunos e, no caso do Cadim, no apoio
moldada máxima de 5 metros e calado máxi- à atuação em Ações Cívico-Sociais rela-
mo de 0,7 metro, comportando 40 passageiros cionadas aos residentes na Ilha da Maram-
RMB3oT/2013 253
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

baia. As ETP-M constituem-se importante mais modernos requisitos de segurança e


instrumento para a consecução das tarefas salvaguarda da vida humana previstos para
delegadas a estes Centros. Elas serão embarcações desse tipo. O prazo estimado
dotadas de modernos equipamentos de para a construção das embarcações é de
comunicações, equipamentos de navegação 420 dias (primeira ETP-M) até 630 dias
eletroeletrônica, sistemas de propulsão e (terceira ETP-M).
geração de energia, além de atender aos (Fonte: www.mar.mil.br)

NAsH SOARES DE MEIRELLES E NPaFlu RAPOSO TAVARES


HOMENAGEIAM COMPONENTES DO PROJETO RONDON
O Navio de Assistência Hospitalar grar para não entregar”, expressando um
(NAsH) Soares de Meirelles e o Navio- ideário desenvolvimentista articulado
Patrulha Fluvial (NPaFlu) Raposo Tavares, à doutrina de segurança nacional. O
subordinados ao Co- Projeto, cujo nome é
mando da Flotilha do inspirado no trabalho
Amazonas, prestaram do humanista Mare-
homenagem aos par- chal Cândido da Silva
ticipantes do Projeto Rondon, é coordena-
Rondon pelo transcur- do pelo Ministério da
so do 46o aniversário Defesa, em parceria
de criação do projeto. com outros ministé-
O evento aconteceu em rios. Ele tem como
11 de julho último, data propósito contribuir
Participantes do Projeto Rondon reunidos na
chamada de Dia do comemoração do Dia do Rondonista
para o desenvolvi-
Rondonista, no NAsH mento sustentável e
Soares de Meirelles, com a presença de aumentar o bem-estar das comunidades
todos os rondonistas embarcados nos navios. nos municípios mais isolados e carentes
Criado em 11 de julho de 1967, o do Brasil.
Projeto Rondon tinha como lema “inte- (Fonte: www.mar.mil.br)

COOPERAÇÃO MB-COPPE/UFRJ – INAUGURADO


LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA SONAR

Foi inaugurado, em 30 de julho último, tares e civis, bem como de professores e


no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós- pesquisadores.
Graduação e Pesquisa de Engenharia da O secretário de Ciência, Tecnologia e
Universidade Federal do Rio de Janeiro Inovação da Marinha, Almirante de Esquadra
(Coppe/UFRJ), o Laboratório de Tecno- Wilson Barbosa Guerra, destacou, em seu dis-
logia Sonar (LabSonar). A cerimônia foi curso de abertura, a importância estratégica da
realizada no auditório do Coppe e contou cooperação entre a Marinha do Brasil (MB) e
com a participação de autoridades mili- o meio acadêmico para a independência tec-

254 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

nológica do País e para garantia da soberania o LabSonar tem o propósito de fortalecer


nacional nas águas jurisdicionais brasileiras. a integração existente entre as instituições
O diretor do Instituto de Pesquisa da Marinha científicas e tecnológicas da MB e o Coppe,
(IPqM), Contra-Almirante (EN) Humberto além de aumentar o interesse de professo-
Moraes Ruivo, apresentou os principais res, pesquisadores e alunos em pesquisas na
projetos de acústica submarina da Marinha, área de sistemas Sonar e fomentar projetos
enfatizando o Programa de Desenvolvi- inovadores de interesse da Marinha e da
mento de Submarinos sociedade civil. O La-
(Prosub). Ele ressaltou bSonar disponibilizará
também o potencial bolsas de mestrado,
do LabSonar para a doutorado e pós-dou-
nacionalização de tec- torado na área, por
nologias empregadas meio da Coordenação
nos sistemas Sonar dos de Aperfeiçoamento
futuros submarinos de Pessoal de Nível
com propulsão nuclear. Superior (Capes).
Em seguida, todos O evento contou,
se dirigiram ao Lab- ainda, com a partici-
Sonar para o descerra- AE Guerra com o diretor do Coppe
pação do vice-reitor
mento da fita inaugu- e o vice-reitor da UFRJ da UFRJ, Antônio José
ral pelas autoridades e Ledo Alves da Cunha;
visita às instalações. Na ocasião, foi feita do diretor do Coppe, Luiz Pinguelli Rosa;
uma breve exposição do Sistema de De- do diretor de Ciência, Tecnologia e Ino-
tecção, Acompanhamento e Classificação vação do Coppe, Segen Farid Estefen; do
de Contatos (SDAC-SUB), desenvolvido ex-vice-diretor do Coppe, Aquilino Senra
pelo IPqM. Martinez; e dos coordenadores do LabSo-
Criado a partir do termo de cooperação nar, os professores José Manoel de Seixas
firmado entre a Secretaria de Ciência, e Carlos Eduardo Parente Ribeiro.
Tecnologia e Inovação da MB e o Coppe, (Fonte: www.mar.mil.br)

INAUGURAÇÃO DO SALÃO DE LEITURA ALMIRANTE


MAX JUSTO GUEDES DA BIBLIOTECA DA MARINHA

A Diretoria do Patrimônio Histórico Itamaraty, filho do homenageado; o Vice-


e Documentação da Marinha (DPHDM) Almirante (Refo) Helio Leoncio Martins;
inaugurou, em 23 de agosto último, o novo e militares e civis que trabalharam com o
Salão de Leitura da Biblioteca da Marinha, Almirante Max no antigo Serviço de Do-
que leva o nome de seu ex-diretor, Almi- cumentação da Marinha (SDM).
rante Max Justo Guedes, em homenagem à Durante o discurso de abertura, o diretor
sua memória. A cerimônia de inauguração do Patrimônio Histórico e Documentação
reuniu o Ministro Carlos Eduardo de Ribas da Marinha, Vice-Almirante Armando de
Guedes, da Assessoria Especial de Assun- Senna Bittencourt, destacou a importância
tos Federativos e Parlamentares (Afepa) do legado deixado pelo Almirante Max
do Ministério das Relações Exteriores do para a DPHDM e para a Marinha do Brasil.

RMB3oT/2013 255
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

O evento contou, ainda, com a apre-


sentação do sistema de gerenciamento de
acervos de bibliotecas da Rede de Biblio-
tecas Integradas da Marinha (Rede BIM).
Este projeto está implementando livros e
revistas digitais, como a Revista Marítima
Brasileira (RMB), e já possui cadastrados
16 mil usuários e 45 bibliotecas da Mari-
nha. Em breve, serão disponibilizados tam-
bém 3 mil títulos de uma biblioteca digital,

Algumas das 4 mil obras raras disponibilizadas para


consulta (por agendamento) na
Biblioteca da Marinha

abrangendo ciências jurídicas, humanas,


exatas e biológicas, que serão úteis para
facilitar pesquisas e consultas e aprimorar
os conhecimentos do pessoal da Marinha.
A inauguração terminou com a visita
a raridades do acervo da Biblioteca da
Marinha, na Seção de Obras Raras e na
VA Bittencourt e o Ministro Carlos Eduardo de Mapoteca.
Ribas Guedes, durante a cerimônia (Fonte: DPHDM)

AvHoFlu RIO SOLIMÕES É INCORPORADO À ARMADA

Foi realizada em 4 de junho último, na 27 de julho de 2012; o segundo, AvHoFlu


Estação Naval do Rio Negro (Manaus- Xingu, em 29 de janeiro de 2013. O Rio Ne-
AM), a cerimônia de gro será incorporado
Batismo, Mostra de no segundo semestre
Armamento e Trans- deste ano.
ferência para o Setor Presidida pelo chefe
Operativo do Aviso do Estado-Maior da Ar-
Hidroceanográfico mada, Almirante de Es-
Fluvial (AvHoFlu) quadra Eduardo Mon-
Rio Solimões. teiro Lopes, a cerimônia
Agora incorporado contou com as presen-
à Marinha do Brasil ças do diretor-geral do
(MB), este é o terceiro Autoridades a bordo do AvHoFlu Rio Solimões
Material da Marinha,
de uma série de quatro Almirante de Esquadra
navios da classe Rio Tocantins. O primeiro, Arthur Pires Ramos; do comandante de Ope-
que dá nome à classe, foi entregue à MB em rações Navais, Almirante de Esquadra Luiz
256 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Fernando Palmer Fonseca; do comandante do do 9o Distrito Naval e o comandante do


9o Distrito Naval, Vice-Almirante Domingos navio, Capitão-Tenente Alexandre Fonseca
Sávio Almeida Nogueira; e do diretor-geral de Azeredo, assinaram, a bordo, o Termo de
do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Armamento. Na ocasião, as autoridades pre-
Proteção da Amazônia (Censipam), Rogério sentes também assinaram o Livro do Navio.
Guedes, entre outras autoridades. O AvHoFlu Rio Solimões destina-se à
A tradicional quebra do champanhe no execução dos levantamentos hidroceano-
casco do navio foi o ponto alto da cerimônia, gráficos em águas interiores da Bacia Ama-
simbolizando seu batismo pela madrinha, zônica, com a finalidade de atualização
Vera Lucia Afonso Ramos. Durante o even- contínua da cartografia náutica das princi-
to, o diretor-geral do Material da Marinha, o pais hidrovias da região, o que possibilitará
chefe do Estado-Maior da Armada, o coman- melhoria na segurança da navegação.
dante de Operações Navais, o comandante (Fonte: www.mar.mil.br)

NPaOc ARAGUARI É INCORPORADO À MB

O Navio-Patrulha Oceânico (NPaOc) Como parte do Programa de Obtenção


Araguari foi batizado e incorporado à de Meios, esta incorporação do último dos
Marinha do Brasil (MB) em 21 de ju- três navios-patrulha oceânicos de 1.800
nho último, nas dependências da Base toneladas, construídos pela BAE Systems
Naval de Portsmouth, no Reino Unido, Maritime – Naval Ships, marca um im-
em cerimônia presi- portante incremento
dida pelo chefe do para a segurança e a
Estado-Maior da Ar- proteção das riquezas
mada, Almirante de da “Amazônia Azul”.
Esquadra Eduardo O primeiro, o NPaOc
Monteiro Lopes. O Amazonas, foi entre-
evento contou com a gue à Marinha em 29
presença do embaixa- de junho de 2012, e
dor do Brasil no Rei- o segundo, o NPaOc
Navio-Patrulha Oceânico Araguari
no Unido, Roberto Apa, foi incorporado
Jaguaribe; do primeiro lorde do Almiran- em 30 de novembro do mesmo ano.
tado da Marinha Real britânica, Almirante A principal característica desses meios
George Zambellas; do ex-ministro da é a flexibilidade, que torna possível serem
Marinha Almirante de Esquadra Alfredo utilizados em diversas tarefas, tais como:
Karam; e da madrinha do navio, Elisabeth patrulha naval, assistência humanitária,
Pinto Heluey. busca e salvamento, fiscalização, repressão
A cerimônia de batismo foi marcada a atividades ilícitas e prevenção contra a
pelo tradicional banho de champanhe, poluição hídrica.
após o acionamento do dispositivo por sua O Araguari é o quarto navio a ostentar
madrinha, simbolizando o momento em esse nome na Marinha, uma homenagem
que o navio passou a ter alma e as virtudes a um rio de Minas Gerais que atravessa a
de honra, coragem e abnegação, inerentes região do Triângulo Mineiro.
aos nautas. (Fonte: www.mar.mil.br)

RMB3oT/2013 257
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

FRANÇA LANÇA MAIOR CARGUEIRO


DE CONTÊINERES DO MUNDO

O navio francês Jules Verne é hoje o de transportar de uma só vez 16 mil contê-
maior cargueiro de contêineres do mundo. A ineres de 20 pés cada. Como comparação,
embarcação foi lançada ao mar em junho últi- para se ter uma ideia do seu gigantismo,
mo, em comemoração aos 35 anos do grupo o navio de passageiros Titanic tinha 269
francês CMA CGM. A cerimônia aconteceu metros de comprimento, o Vale Brasil (o
em Marselha, sul da França, com a presença maior navio de transporte de minério do
do presidente francês, François Hollande. mundo) tem 362 metros e a Torre Eiffel
O Jules Verne tem 396 metros de com- mede 324 metros.
primento e 54 metros de largura e é capaz (Fonte: economia.terra.com.br)

Jules Verne

ASSUNÇÃO DE CARGOS POR ALMIRANTES

– Vice-Almirante Bento Costa Lima – Vice-Almirante Alipio Jorge Rodri-


Leite de Albuquerque Junior, diretor-geral gues da Silva, diretor de Sistemas de Armas
da Secretaria da Junta Interamericana de da Marinha, em 1/8;
Defesa, em 27/6; – Vice-Almirante Antonio Reginaldo
– Contra-Almirante Gilberto Cezar Lou- Pontes Lima Junior, diretor de Hidrografia
renço, subchefe de Operações do Comando e Navegação, em 2/8;
de Operações Navais, em 1/7; – Vice-Almirante Marcos Nunes de Miran-
– Contra-Almirante Wilson Pereira de da, comandante do 3o Distrito Naval, em 5/8;
Lima Filho, chefe do Estado-Maior do – Almirante de Esquadra Airton Teixeira Pi-
Comando de Operações Navais, em 9/7; nho Filho, secretário-geral da Marinha, em 7/8;

258 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

– Almirante de Esquadra (RM1) Fernan- – Contra-Almirante José Renato de Oli-


do Eduardo Studart Wiemer, conselheiro mi- veira, comandante da Força de Superfície,
litar da Missão Permanente do Brasil junto em 14/8;
à Organização das Nações Unidas, em 12/8; – Contra-Almirante Jorge Henri-
– Contra-Almirante Alfredo Martins que Machado, subchefe de Organi-
Muradas, diretor de Comunicações e Tec- zação do Estado-Maior da Armada,
nologia da Informação da Marinha, em 12/8; em 26/8;
– Contra-Almirante Luís Antônio Ro- – Almirante de Esquadra Luiz Guilher-
drigues Hecht, diretor de Obras Civis da me Sá de Gusmão, diretor-geral do Material
Marinha, em 13/8; da Marinha, em 30/8.

TRANSMISSÃO DE CARGO DA
DIRETORIA-GERAL DO MATERIAL DA MARINHA

Foi realizada, em 29 de julho, a cerimô- um grupo em que o impossível é feito, com


nia de Transmissão de Cargo de diretor- eficiência, para o mesmo dia; quando o de-
geral do Material da Marinha. Assumiu lineamento exige milagre, demora mais um
o Almirante de Esquadra Luiz Guilherme pouco. Não há obstáculo que os impeça de
Sá de Gusmão, em substituição ao Almi- encontrar as soluções apropriadas, sempre
rante de Esquadra Arthur Pires Ramos. A buscando preço, prazo e qualidade.
cerimônia foi presidida pelo comandante – As Diretorias Especializadas, que são
da Marinha, Almirante de Esquadra Julio a Diretoria de Aeronáutica, a Diretoria
Soares de Moura Neto. de Comunicações e Tecnologia da Infor-
mação, a Diretoria de Engenharia Naval,
REFLEXÕES E AGRADECIMENTOS a Diretoria de Obras Civis e a Diretoria
DO ALMIRANTE PIRES RAMOS de Sistemas de Armas, abrigam pessoal
altamente qualificado e especializado nas
“Hoje, ao deixar o cargo de diretor-geral suas áreas de atuação.
do Material da Marinha e, ao mesmo tempo, No bojo da audácia e da ousadia do
ser transferido para a Reserva de 1a Classe comandante da Marinha e com o aval dos
da Marinha, percebo com maior intensidade membros do Almirantado, entregamos ao
como sou privilegiado por pertencer a esta utilizador final mais de 20 meios novos,
maravilhosa instituição. sendo:
Foi uma honra e um doce desafio dirigir – quatro chatas de transporte de óleo
o Setor do Material da Marinha por fugazes combustível com capacidade de 400 mil
três anos. litros;
Desejo, portanto, enaltecer a dedicação – quatro embarcações de desembarque
e a competência das minhas tripulações: de viaturas e material;
– As Organizações Militares Prestadoras – três avisos de patrulha da classe
de Serviços integradas pelo Arsenal de Marlim;
Marinha do Rio de Janeiro, pelo Centro de – quatro avisos hidroceonagráficos
Manutenção de Sistemas, pelo Centro de classe Rio Tocantins;
Projetos de Navios e pelo Centro Tecnoló- – dois navios-patrulha de 500 toneladas (t)
gico da Marinha em São Paulo compõem classe Macaé;

RMB3oT/2013 259
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

– três navios-patrulha oceânicos de além de gerenciar nossa vitoriosa equipe


1.800 t classe Amazonas; feminina de remo em escaler.
– quatro helicópteros multiemprego Manifesto, ainda, meu reconhecimento
SeaHawk; e pela eficácia e a lealdade do meu gabinete
– dois helicópteros de emprego geral pessoal no atendimento de minhas deman-
Super Cougar. das e no incansável apoio nas tarefas do
As Coordenadorias tiveram atuação dia a dia.
marcante: Esta pálida descrição da minha querida
– a do Programa de Reaparelhamento da DGMM mostra como estou fechando com
Marinha gerenciou, entre outras, a obtenção chave de ouro os 47 anos em que permaneci
dos navios-patrulha oceânicos de 1.800 t, no Serviço Ativo da Marinha.
além do navio de pesquisa hidroceanográ- Embarquei no Colégio Naval em 9 de
fico de 3.500 t; março de 1966. Durante minha inesquecí-
– a de Manutenção de Meios contri- vel carreira, naveguei, comandei, dirigi,
buiu, entre várias outras atividades, para assessorei; enfim, cumpri todas as tarefas
o rejuvenescimento das fragatas União e inerentes ao oficial da Marinha do Brasil.
Rademaker; Ainda tenente, tive a felicidade de for-
– a de Submarinos permitiu um salto mar minha bela família. Vera Lucia, esposa
estratégico ao equacionar a utilização do há 40 anos, é a companheira de todas as ho-
mais moderno torpedo do mundo nos nos- ras. Tenho duas filhas lindas e carinhosas,
sos submarinos; e Ana Paula e Ana Claudia, genros mais que
– a Coordenadoria-Geral do Programa amigos, Antonio Carlos e Anderson, e netos
de Obtenção do Submarino com Propulsão iluminados, Fernando e Felipe.
Nuclear gerencia o mais ambicioso projeto Relembro, ainda, os conselhos dos meus
da Marinha e do Brasil – a inauguração da pais, o apoio dos meus sogros e a presen-
Unidade de Fabricação de Estruturas Me- ça amiga de irmãos, cunhados, primos e
tálicas tornou irreversível o caminho para sobrinhos.
o submarino nuclear. Tal moldura familiar permitiu o exer-
Registro, ainda, a criação da Diretoria cício profissional com total tranquilidade.
de Gestão de Projetos Estratégicos, que Ao encerrar o período no Serviço Ativo
deverá gerenciar o Programa de Obtenção é tempo de agradecer:
de Meios de Superfície, o Programa de – a Deus, pela proteção constante; e
Obtenção do Navio-Aeródromo, o Progra- – aos antigos chefes navais e aos meus
ma de Obtenção de Navios Anfíbios e a comandantes, superiores, pares e subordi-
implantação do Sistema de Gerenciamento nados, que contribuíram para a formação da
da Amazônia Azul, entre outros. minha bagagem profissional. A eles minha
A Assessoria do Plano Diretor realizou gratidão pelo exemplo e os conhecimentos
trabalho primoroso no gerenciamento das transmitidos. Relembro dois grandes chefes
incertezas econômico-financeiras. navais que marcaram de forma permanente
A Chefia do Gabinete, com suas divisões a minha carreira, o Almirante de Esqua-
e assessorias Jurídica, de Organização, do dra Ivan da Silveira Serpa, meu primeiro
Pessoal, de Intendência, de Serviços Gerais, comandante, a bordo do Contratorpedeiro
de Comunicação Social e de Relações Ins- Piauí, e o Almirante de Esquadra Sergio
titucionais, deu a tranquilidade necessária Gitirana Florêncio Chagasteles, do qual fui
ao desenvolvimento das tarefas da DGMM, oficial de Gabinete. Entre as praças, recordo

260 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

com carinho o Cabo (HN) Xavier, meu fiel Que Deus abençoe a todos!
auxiliar de Navegação. ‘Material da Marinha: nossa soberania
Ao comandante da Marinha, Almirante em talento, aço e tecnologia’.”
de Esquadra Julio Soares de Moura Neto,
agradeço pela confiança com que sempre AGRADECIMENTO E BOAS-VINDAS
me distinguiu, pela liberdade de manobra DO COMANDANTE DA MARINHA
que me proporcionou, pela honra que me
concede ao presidir esta cerimônia e, es- “Hoje, temos a oportunidade de home-
pecialmente, por permitir que eu continue nagear o Almirante de Esquadra Arthur
trabalhando em prol da Marinha. Pires Ramos, que está passando o timão da
Aos membros do Almirantado, agradeço Diretoria-Geral do Material da Marinha,
o apoio com que trataram os assuntos do após um período de aproximadamente três
Setor do Material, assim como a convivên- anos de profícuos e intensos trabalhos. Além
cia fidalga e amiga. disso, esta data envolve um algo a mais, pelo
Aos chefes navais aqui presentes, fato de ele estar também deixando o Serviço
Almirante de Esquadra Alfredo Karam e Ativo, após 47 anos e meio de notórias con-
Almirante de Esquadra Mauro Cesar Ro- tribuições à Marinha e ao Brasil.
drigues Pereira, ex-ministros da Marinha; Momentos como este são sempre re-
Almirante de Esquadra Arnaldo Leite Pe- vestidos de grande emoção, pois trazem à
reira, ex-ministro-chefe do Estado-Maior lembrança as incontáveis alegrias vividas
das Forças Armadas, e Almirante de Es- em diversas praças-d’armas, o espírito de
quadra Roberto de Guimarães Carvalho, camaradagem, as ocasiões felizes, os desafios
ex-comandante da Marinha, pelo prestígio superados, a satisfação pelo serviço bem exe-
que trazem a esta cerimônia. cutado, as amizades conquistadas, as lições
Aos companheiros da Turma Visconde aprendidas e o reconhecimento e o respeito
de Ouro Preto, agradeço a amizade e o dos superiores, pares e subordinados.
incentivo constante. Para nós, que tivemos o prazer de sua
Aos empresários e aos representantes companhia, resta apresentar-lhe as despe-
das empresas, agradeço a convivência amis- didas, rememorando um pouco da sua bri-
tosa e o salutar relacionamento profissional. lhante trajetória, iniciada em 1966, quando
Enalteço em especial o relacionamento com cruzou os portões do Colégio Naval.
os parceiros franceses, pelo elevado nível Pouco depois, colocou em prática os
de confiança desenvolvido no âmbito do ensinamentos colhidos nos bancos escolares
Comitê de Cooperação Conjunto. de Angra dos Reis e de Villegagnon e nos
Agradeço, enfim, a todos os amigos aqui conveses do Navio-Escola Custódio de Mello,
presentes, em especial às senhoras que em- principiando a sua singradura, como oficial,
prestam brilho especial à nossa cerimônia. no Contratorpedeiro Piauí, tendo cumprido
Ao Almirante de Esquadra Gusmão, todos os requisitos atinentes aos diversos
parabenizo pelo desafiante cargo que ora postos, cabendo ressaltar os comandos do
assume, desejando sucesso e grandes re- Navio-Varredor Albardão, do Navio-Patrulha
alizações, e formulo votos de felicidades Fluvial Pedro Teixeira e da Escola de Apren-
pessoais, extensivos à digníssima família. dizes-Marinheiros de Santa Catarina, além
Ao meu vigilante Anjo da Guarda e à mi- da direção da Capitania dos Portos de Santa
nha talentosa Fada Madrinha, atribuo a sorte Catarina, comissões nas quais pôde aprimorar
de levar a sensação da missão cumprida. as suas qualidades de líder.

RMB3oT/2013 261
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Em 31 de julho de 2001, fruto da exce- na França e recebidas no último dia 31 de


lência de seu desempenho profissional, foi maio; e o prosseguimento, no ritmo plane-
promovido a almirante, tendo o seu pavi- jado, das obras de implantação do Estaleiro
lhão tremulado nos mastros da 1a Divisão e da Base Naval, naquela mesma região.
da Esquadra, da Diretoria de Telecomuni- – No âmbito do Programa Nuclear da
cações da Marinha, do 5o Distrito Naval, da Marinha, em Aramar, a prontificação das duas
Diretoria do Pessoal Militar da Marinha e, primeiras Unidades de Produção da Usina de
por fim, já como almirante de esquadra, da Hexafluoreto de Urânio, a Usexa, e a continui-
Diretoria-Geral do Material da Marinha, da dade das obras de construção do Laboratório
qual está se afastando. de Geração Nucleoelétrica, o Labgene.
No atual cargo, valendo-se de seus – A incorporação de diversos meios
incontestáveis atributos, dentre os quais navais, entre eles o Navio de Assistência
destaco lealdade, inteligência, objetivida- Hospitalar Soares de Meirelles, três navios-
de, tranquilidade, perspicácia e apurado patrulha oceânicos de 1.800 toneladas da
senso de responsabilidade, soube condu- classe Amazonas; dois navios-patrulha de
zir de forma irretocável as complexas e 500 toneladas da classe Macaé, sendo que
diversificadas atividades desse importante outros cinco encontram-se em construção;
Órgão de Direção Setorial, contribuindo e quatro avisos hidroceanográficos fluviais
sobremaneira para o preparo e a aplicação da classe Rio Tocantins.
do Poder Naval. – Quanto aos meios aeronavais, o re-
Seu assessoramento sempre seguro na cebimento de quatro helicópteros MH-16
formulação das diretrizes concernentes ao Sea Hawk, de um total de seis contratados,
Setor do Material, em especial na supervi- e de dois UH-15 Super Cougar, de um
são dos projetos e na construção, aquisição conjunto de 1, e a modernização de 12
e reparo dos meios navais e aeronavais, aeronaves AF-1/1A, tendo sido realizado
colaborou significativamente para impor- o voo inaugural da primeira delas no dia
tantes tomadas de decisão pelo comandante 13 de agosto último.
da Marinha. – O prosseguimento das tratativas re-
Por uma questão de justiça, apraz-me lacionadas a diversas iniciativas de reapa-
apontar algumas de suas principais realizações: relhamento, como os seguintes Programas
– A condução do Programa de Desen- de Obtenção:
volvimento de Submarinos (Prosub), inicia- . de Navios de Superfície, o Prosuper,
do em 2010 e que objetiva a construção, no com vistas à construção, no País, de cinco
País, de quatro submarinos convencionais fragatas, cinco navios-patrulha oceânicos
(S-BR) e do tão almejado submarino com e um navio de apoio logístico;
propulsão nuclear (SN-BR), tendo alcan- . de navios-aeródromos, o Pronae,
çado marcos significativos, como o corte visando à substituição, até 2028, do NAe
da primeira chapa do S-BR1, na Nuclep, São Paulo; e
em 16 de julho de 2011; o início do projeto . de navios anfíbios, o Pronanf.
do SN-BR, em 6 de julho de 2012; a inau- – A prontificação da arquitetura do
guração, em 1o de março do corrente ano, Sistema de Gerenciamento da ‘Amazônia
da Unidade de Fabricação de Estruturas Azul’, o SisGAAz.
Metálicas (Ufem), em Itaguaí, RJ, em cujas – O prosseguimento do projeto de
instalações já foi iniciada a preparação desenvolvimento do Míssil Antinavio de
das Seções 3 e 4 do S-BR1, construídas Superfície (MAN-SUP).

262 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Prezado Almirante Pires Ramos! Ao é a confiança na competência e qualidade


presenciar o encerramento de sua meritória profissional de nosso pessoal. Posso fazer
carreira, tenho a plena convicção de que a esta afirmativa com toda tranquilidade
breve menção a algumas de suas numerosas apenas citando alguns fatos que bem a
conquistas não é suficiente para retratar demonstram.
todo o histórico de quase meio século de Os quatro navios em que servi após
dedicação exclusiva à nossa instituição. concluir o Curso de Aperfeiçoamento de
No entanto, pela sua significância, elas Eletrônica foram – todos eles – construídos
permitem afiançar-lhe a certeza do dever em nosso país, no Arsenal de Marinha do
bem cumprido, o que o faz merecedor do Rio de Janeiro: Fragata União, Embarcação
nosso Bravo Zulu. de Desembarque de Carga Geral Tambaú,
Manifesto os mais sinceros votos de Corveta Inhaúma e Navio-Escola Brasil
felicidades na nova fase de vida que ora se – dois deles, União e Tambaú, a partir de
inicia, extensivos à sua esposa D. Vera e projetos britânico e norte-americano, res-
família, bem como os agradecimentos por pectivamente; um inteiramente projetado
tudo que V. Exa. realizou em prol da Força. e fabricado por nós (a Inhaúma) e, por
Bons ventos e mares tranquilos, e que fim, o Navio-Escola Brasil, que, mantido
Deus o acompanhe! Seja muito feliz! apenas o casco da fragata classe Niterói,
Ao Almirante de Esquadra Luiz Gui- foi por nós completamente reprojetado para
lherme Sá de Gusmão, dou as boas-vindas operar como navio-escola, dotado de um
à Diretoria-Geral do Material da Marinha sistema de simulação tática e treinamento
e apresento os meus cumprimentos pela nacional, salas de aula, auditório com 200
recente promoção ao último posto da car- lugares e de outras facilidades e de conforto
reira, o que bem demonstra o conceito que adequado, em projeto de enorme sucesso,
desfruta no seio da nossa instituição. Estou como bem demonstram as suas 26 viagens
seguro de que os seus sólidos conhecimen- de instrução já realizadas, com mais de
tos, aliados às suas reconhecidas qualida- 820 mil milhas navegadas e 2.826 dias de
des, garantirão o pleno êxito na missão que mar. Ontem o navio atracou em Barcelona,
lhe está sendo confiada.” dando prosseguimento a sua 27a viagem.
Também alcançamos a capacidade de
PALAVRAS INICIAIS DO projetar, construir e integrar sistemas de
ALMIRANTE GUSMÃO combate, os quais foram instalados em
nossas fragatas classe Niterói, durante a
“Assumo hoje o cargo de diretor-geral modernização dos navios, o que represen-
do Material da Marinha com renovado en- tou um marco significativo pela inegável
tusiasmo pela amplitude das atividades re- conquista tecnológica, aliada à feliz parce-
lacionadas ao Setor do Material, o que não ria com a indústria nacional em seu projeto
é pouco, especialmente considerando os ex- e fabricação.
traordinários desafios que nos apresentam Nesse breve resumo, em que são omi-
os programas de expansão da Marinha do tidos muitos projetos e conquistas impor-
Brasil, ora em curso. A consecução desses tantes, é imprescindível mencionar que o
programas envolve a superação de novos Programa Nuclear da Marinha e o Progra-
paradigmas estabelecidos pela evolução ma de Desenvolvimento de Submarino de
tecnológica. Contudo, se as atribuições e Propulsão Nuclear têm se caracterizado por
as responsabilidades são grandes, maior enormes e sucessivos saltos tecnológicos,

RMB3oT/2013 263
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

com a ampliação de conhecimentos em trabalham 95 engenheiros da Marinha – mi-


áreas que poucos países dominam. litares e civis das áreas da engenharia naval,
A decisão de estabelecer o nosso centro mecânica, elétrica e eletrônica –, número
de desenvolvimento de tecnologia nucle- que se elevará, na fase de detalhamento do
ar, no início da década de 80 do século projeto, a aproximadamente 500.
passado, ao lado do Instituto de Pesquisas Dessa forma, vemos que é inegável
Energéticas e Nucleares, em terreno den- a contribuição da Marinha para o de-
tro do campus da Universidade de São senvolvimento nacional, seja no campo
Paulo, comprova a visão que se tinha da científico-tecnológico seja diretamente
necessidade do somatório de capacidades por encomendas ao setor industrial, com a
intelectuais para superar os grandes desa- geração de empregos e agregação de tec-
fios que se apresentavam para se obter o nologia e inovação e, além do mais, com
enriquecimento de urânio e se projetar um forte atuação como indutora da ampliação
reator nuclear. Desde o início, contamos de conhecimentos em áreas sensíveis.
com a participação da indústria nacional e, Por fim, manifesto a satisfação que
hoje, temos cerca de 300 delas – pequenas, sinto nesta cerimônia, misto de alegria e
médias e grandes – contratadas pelo Centro orgulho, pela promoção ao posto de al-
Tecnológico da Marinha em São Paulo, mirante de esquadra e a designação para
realizando serviços, produzindo insumos e assumir a Diretoria-Geral do Material da
equipamentos, em um ciclo dinâmico que Marinha. Tendo em vista a importância
alimenta o Centro Experimental de Aramar, pessoal deste momento de minha carreira,
em Iperó (SP), local onde se encontram as a ocasião é propícia para formular alguns
oficinas, se enriquece urânio e se constrói agradecimentos.
um reator nuclear. Ao Almirante de Esquadra Julio Soares
Dentro do escopo de parceria estratégi- de Moura Neto, comandante da Marinha,
ca com a França, estão sendo construídos agradeço pela indicação de meu nome para
em Itaguaí, Rio de Janeiro, um Estaleiro e tão nobre e desafiante cargo da Marinha.
Base Naval, empreendimento dos maiores Aos membros do Almirantado, agradeço
que estão sendo conduzidos no Brasil as presenças nesta cerimônia e a distinção
atualmente, projetado por equipe de 230 e a honra em passar a integrar esse digno
engenheiros e erguido por 4.500 pessoas colegiado.
(homens e mulheres – operários, técnicos Aos antigos chefes navais e aos meus
e engenheiros). No auge das obras, esse superiores, pares e subordinados, civis e
número dobrará, gerando 9 mil empregos militares, muitos dos quais aqui presentes,
diretos e 32 mil indiretos. que de alguma forma influenciaram a minha
Lá serão construídos quatro submarinos carreira, tornando possível este momento,
convencionais e um primeiro nuclear, com agradeço pelos exemplos e ensinamentos
assistência técnica da parte francesa no transmitidos.
que se refere ao casco, aos sistemas e à Aos ex-ministros da Marinha, Almiran-
propulsão, exceto a parte nuclear. Neste tes de Esquadra Alfredo Karam e Mauro
momento, dentro das instalações do Centro Cesar Rodrigues Pereira; ao ex-ministro
Tecnológico da Marinha em São Paulo e chefe do Estado-Maior das Forças Arma-
sob coordenação da Coordenadoria-Geral das, Almirante de Esquadra Arnaldo Leite
do Programa de Desenvolvimento do Sub- Pereira; ao ex-comandante da Marinha,
marino de Propulsão Nuclear (Cogesn), Almirante de Esquadra Roberto de Guima-

264 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

rães Carvalho; aos ex-diretores-gerais do esposa Vera, desejamos, Maria Teresa e eu,
Material da Marinha; senhores almirantes; muitas felicidades e bons ventos.
oficiais; amigos; senhoras e senhores, A minha esposa Maria Teresa e aos
agradeço pelas presenças que fazem esta nossos filhos Diego, Daniela e Débora,
cerimônia ter um brilho especial. agradeço o permanente incentivo à minha
Aos amigos e companheiros de jor- profissão, o carinho e o apoio, sempre
nada na Marinha, por mais de 43 anos, presentes em todas as ocasiões de nossas
da Turma Aspirante Cesar Henriques, vidas e que sempre me revitalizaram nos
sinto-me lisonjeado por suas presenças momentos difíceis.
e amizades. Aos integrantes da Diretoria-Geral
Ao Almirante de Esquadra Arthur Pires do Material da Marinha, transmito uma
Ramos, agradeço as gentilezas e a recepção mensagem de otimismo e confiança, que
dispensada a mim e aos meus familiares, todos continuaremos a transpor obstáculos,
assim como o esforço para transmitir-me transformar óbices em desafios e superá-
todos os assuntos afetos à nossa Diretoria- los, contribuindo para o lema do Material
Geral de modo completo e detalhado. Ao da Marinha: Nossa soberania em talento,
casal amigo Almirante Pires Ramos e sua aço e tecnologia. Muito obrigado.”

TRANSMISSÃO DO CARGO DE
SECRETÁRIO-GERAL DA MARINHA

Assumiu, em 7 de agosto último, o cargo que serve de alicerce para o cumprimento


de secretário-geral da Marinha o Almirante da missão da Marinha.
de Esquadra Airton Teixeira Pinho Filho, Nesse período, naveguei por águas nem
em substituição ao Almirante de Esquadra sempre tranquilas, às vezes tive que enfren-
Eduardo Monteiro Lopes. A cerimônia de tar mau tempo ou até sem muita água para
Transmissão de Cargo foi presidida pelo manobrar. Por isso, faço de minhas palavras
comandante da Marinha, Almirante de de despedida, primeiramente, um manifesto
Esquadra Julio Soares de Moura Neto. público de agradecimento ao comandante
da Marinha, Almirante de Esquadra Julio
DESPEDIDA DO ALMIRANTE Soares de Moura Neto, pelas orientações
MONTEIRO LOPES seguras, pelo fino e fácil trato e por ter me
indicado para o exercício de tão honroso
“Que sejam minhas primeiras palavras cargo, demonstrando confiança no meu
para saudar o Excelentíssimo Senhor Mi- trabalho. Aos membros do Almirantado,
nistro de Estado da Defesa, Embaixador sou grato pelo convívio fidalgo, na busca
Celso Amorim, que muito prestigia a Ma- de um trabalho em equipe que, por muitas
rinha do Brasil com sua presença a este ato. vezes, me fez lembrar o ambiente de uma
Senhor ministro, muito obrigado. praça-d’armas de navio.
Há pouco mais de dois anos e oito me- Aos meus pares correspondentes das
ses, em igual cerimônia, assumi o timão demais Forças, o secretário de Economia
da Secretaria-Geral da Marinha, ciente e Finanças da Aeronáutica, Tenente-Bri-
dos desafios profissionais de um Órgão de gadeiro Franciscangelis, e o secretário de
Direção Setorial e da importância do setor, Economia de Finanças do Exército, General
RMB3oT/2013 265
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

de Exército Araken, e
seus assessores, agra-
deço pela integração
institucional sempre
buscada. Consegui-
mos defender com
ardor as nossas po-
sições e os interesses
de cada Força, mas
mantivemos um trato
amigo e respeitoso. Tansmissão do cargo de SGM
Como já tive opor-
tunidade de fazê-lo em outras ocasiões çamentária da estrutura interna da DAdM,
menos formais, não posso deixar de apre- evidenciando, também, a segregação da
sentar formalmente meus sinceros agrade- área orçamentária e de abastecimento,
cimentos ao secretário-geral do Ministério com dois vice-almirantes intendentes da
da Defesa, Dr. Ari Matos, e à secretária do Marinha à frente destas áreas.
Orçamento Federal, Dra. Célia Corrêa, pela Manifesto meu reconhecimento a todos
amizade, pelo convívio e pela atenção aos os integrantes do Corpo de Intendentes
diversos assuntos afetos à Força. Estendo da Marinha, que, com extremo profissio-
esses agradecimentos formais aos demais nalismo, capacidade técnica e trabalho
membros da área orçamentária e financeira silencioso, dão suporte à consecução dos
do Ministério da Defesa e da Secretaria do objetivos da Marinha, através das ativida-
Orçamento Federal, pelo atencioso relacio- des logística, administrativa, orçamentária
namento técnico-funcional. e financeira.
Aos membros do Tribunal de Contas da Dirijo-me, agora, aos integrantes da
União, o meu muito obrigado pelas orien- Secretaria-Geral, que, com a integral de-
tações pontuais e precisas, que permitem à dicação de fazer bem feito, fizeram com
Marinha trilhar o caminho de transparência que o trabalho que vislumbrava difícil, ao
e regularidade. início da jornada, na verdade tenha se tor-
Aos membros da Advocacia-Geral da nado mais fácil e prazeroso, pela maneira
União, agradeço o auxílio na busca de profissional com que as senhoras e os se-
soluções jurídicas, que vêm atender às nhores se comportaram, reagindo pronta e
demandas dos processos considerados positivamente às minhas ordens. Sou-lhes
estratégicos à Força. grato pela amizade, que tenho a pretensão
Aos meus almirantes subordinados de ter cultivado, e pela assessoria sempre
e demais almirantes intendentes, que segura e precisa.
interagiram comigo, apresento a todos Por fim, aos integrantes de meu gabi-
minha profunda gratidão pela diuturna nete, oficiais e praças, que, com lealdade,
busca da qualidade nos trabalhos e estudos dedicação e entusiasmo, conduziram a
conduzidos, pela assessoria leal e franca execução de suas tarefas, peço que recebam
prestada, que possibilitaram superarmos minha gratidão.
as adversidades e, ainda, alcançarmos E foi assim, apoiado e ajudado por
aprimoramentos, como a reestruturação chefes, pares, amigos e subordinados, que
no setor SGM, desvinculando a área or- procurei honrar as tradições e o comporta-

266 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

mento correto que me foram legados pelos anos e oito meses como titular desse impor-
ex-secretários-gerais e chefes navais que, tante Órgão de Direção Setorial.
no passado, me ensinaram a usar a régua Graças à sua capacidade administrativa
e o compasso com os quais procurei traçar e à sua liderança, superou os desafios ine-
os meus rumos. rentes ao cargo, cujas dimensão, complexi-
É hora de atracar e desembarcar, após dade e responsabilidade são indiscutíveis,
um intenso e desafiador período. Levo tendo em vista os múltiplos e diversificados
comigo apenas as lembranças dos bons mo- compromissos que a nossa instituição tem
mentos e a certeza de ter cumprido a missão assumido nestes últimos tempos.
e trazido o navio de volta com segurança, Mercê de sua atuação segura, a Força
contando com a ajuda e a indispensável logrou alcançar patamares orçamentários
companhia de todos os que fizeram este que permitiram atender às suas necessi-
barco navegar, flutuar e combater. dades prioritárias, dando continuidade a
Ao Almirante de Esquadra Airton, diversos projetos estratégicos, cabendo
meu sucessor, apresento as boas-vindas citar o Programa de Desenvolvimento de
e manifesto os meus sinceros votos de Submarinos (Prosub) e o Programa Nuclear
sucesso e felicidade ao assumir o cargo de da Marinha, ambos inseridos no Programa
secretário-geral da Marinha, na certeza de de Aceleração do Crescimento (PAC), o
que seus meritórios atributos garantirão a que lhes proporciona a preservação dos re-
continuidade e o aperfeiçoamento das ativi- cursos alocados na Lei Orçamentária Anu-
dades desenvolvidas pela SGM. A tristeza al, evitando eventuais contingenciamentos.
da despedida é largamente compensada Seus incontestáveis atributos, dentre
pela alegria de deixar a manobra com o os quais destaco lealdade, competência,
competente e velho amigo, companheiro do perspicácia, inteligência e objetividade,
solo sagrado de Villegagnon. Bons mares nortearam o seu posicionamento, sempre
e bons ventos. ponderado e correto, proporcionando uma
Despeço-me, neste exato momento, adequada assessoria ao comandante da Ma-
desta prazerosa singradura, contando com rinha, o que facilitou importantes tomadas
o apoio de minha inestimável família, em de decisão.
especial da minha querida esposa Neilda, Dessa forma, e sem a pretensão de
e com a proteção da Virgem de Nazaré. abranger o muito que foi feito, gostaria
Continuo seguindo, agora, a desafiante de ressaltar algumas de suas principais
jornada como chefe do Estado-Maior da realizações:
Armada. Espero continuar contando com – a internalização das práticas de Par-
a ajuda e a amizade de todos. ceria Público-Privada (PPP) como nova
Muito obrigado!” ferramenta de gestão, elaborando a primeira
norma interna sobre o assunto e logrando a
AGRADECIMENTO E BOAS- aprovação inicial de três grandes projetos,
VINDAS DO COMANDANTE DA que permanecem em discussão;
MARINHA – a busca por um novo modelo de fi-
nanciamento, por meio do Banco Nacional
“O Almirante de Esquadra Eduardo de Desenvolvimento Econômico e Social
Monteiro Lopes despede-se, na presente (BNDES), de caráter inovador no âmbito do
data, da Secretaria-Geral da Marinha, após Ministério da Defesa, visando à construção
um profícuo período de pouco mais de dois e à manutenção de vinte navios-patrulha de

RMB3oT/2013 267
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

500 toneladas, o que poderá ser aplicado em – a assinatura do Acordo de Cooperação


benefício de outros setores; com a Caixa Econômica Federal, permitin-
– a adequação da Sistemática do Pla- do a ampliação da oferta de produtos pela
no Diretor às alterações conduzidas no Caixa de Construção de Casas para o Pes-
Sistema de Planejamento Orçamentário soal da Marinha, objetivando a aquisição
e Financeiro do Governo, ampliando a da moradia própria; e
abordagem do Orçamento por Resultados – a ampliação das tarefas do Centro de
na Administração Pública Federal, gerando Adestramento Almirante Newton Braga,
diversos aprimoramentos nas atividades com a inclusão daquelas relativas ao ensino,
de controle orçamentário e de execução com o retorno do Curso de Aperfeiçoamen-
de metas; to de Intendência para Oficiais ao Setor da
– a implantação, juntamente com a SGM, sendo alterada a denominação da-
Diretoria de Saúde da Marinha, da nova quela Organização para Centro de Instrução
Política Nutricional, utilizando, como Almirante Newton Braga.
projeto-piloto, a Escola Naval, e com pre- Prezado Almirante Monteiro Lopes!
visão de expansão para as demais OM de No momento em que V. Exa. transmite o
formação de pessoal; honroso cargo, cabe-me registrar o meu
– a unificação dos Depósitos de Sobres- reconhecimento e os meus agradecimentos
salentes e de Material de Eletrônica, sendo pelo esforço empreendido e pelas metas
mantido o nome do primeiro, proporcio- atingidas.
nando a otimização de recursos humanos e Desejo-lhe continuados sucesso, ale-
financeiros e contribuindo para a elevação grias e realizações como chefe do Estado-
contínua do nível de prontidão do Sistema Maior da Armada, cargo que assumiu no
de Abastecimento da Marinha; último dia 7 de maio, extensivos à Senhora
– a ativação dos Escritórios de Ligação Neilda e digníssima família.
do Abastecimento junto à Esquadra e junto Seja muito feliz, e que Deus continue
à Força de Fuzileiros da Esquadra, estabe- iluminando o seu caminho!
lecendo uma interface objetiva com o Setor Ao Almirante Airton Teixeira Pinho
Operativo, identificando prioridades, agre- Filho, que ora assume o seu primeiro cargo
gando informações gerenciais importantes como almirante de esquadra, apresento as
ao processo decisório e reduzindo o tempo boas-vindas, seguro de que os seus sólidos
de espera no fornecimento de sobressalen- conhecimentos, aliados às suas reconheci-
tes e materiais; das qualidades, garantirão a continuidade
– a implantação do Núcleo de Cataloga- dos trabalhos conduzidos na SGM, ao
ção do Material da Marinha, com vistas a mesmo tempo em que formulo votos de
incrementar as atividades de catalogação, pleno êxito na missão que lhe está sendo
priorizando o Prosub e os novos meios confiada.”
navais incorporados à Armada;
– o incentivo à presença dos públicos PALAVRAS INICIAIS DO
externo e interno em nosso Complexo Cul- ALMIRANTE AIRTON
tural, no Rio de Janeiro, e à participação nos
projetos educativos, tais como ‘Uma Aula “Cônscio da responsabilidade que ora
no Museu’ e ‘Uma Viagem pelo Mundo da assumo e dos desafios inerentes ao cargo
História’, proporcionando um acréscimo de secretário-geral da Marinha, sinto-me
contínuo no número de visitantes; envaidecido pela distinção a mim conferida

268 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

pelo Exmo. Sr. Comandante da Marinha, Aos Excelentíssimos Senhores membros


Almirante de Esquadra Julio Soares De do Almirantado, externo minha gratidão
Moura Neto, a quem manifesto, mais uma pela presença e pela honra que tenho em
vez, meu apreço e agradeço pela confiança passar a fazer parte de tão seleto grupo de
e pelo irrestrito apoio. Tenha a certeza da assessoramento do comandante da Marinha
minha plena dedicação e lealdade. na condução da nossa instituição.
A Secretaria-Geral, por suas caracterís- Aos estimados chefes navais, almirantes,
ticas peculiares, onde os diversos assuntos, autoridades civis e militares, familiares
em sua maioria sensíveis e da mais alta e amigos que de longe vieram para me
relevância, necessitam ser tratados com prestigiar, amigos da Turma Esperança e
dinamismo e ponderação, tem que primar às senhoras, todos corresponsáveis por este
pela constante busca de recursos e melhor momento de felicidade e realização, meus
assessoria para a racionalização do seu em- efusivos agradecimentos pela honrosa pre-
prego e otimização da sua alocação pelos sença, trazendo singular apreço a este evento
diversos programas, projetos e metas, de que se reveste de profundo significado.
modo a nos permitir alcançar a Marinha Agradeço às autoridades presentes ou
que todos almejamos. representantes dos Ministérios da Defesa;
Assim, exorto todos aqueles que com- da Fazenda; do Planejamento, Orçamento e
põem esta valorosa equipe, que a partir de Gestão; da Casa Civil; do Tribunal de Contas
agora tenho a honra de integrar, a continu- da União; da Advocacia-Geral da União e
arem a labutar com afinco, sem esmorecer, aos amigos e companheiros do Exército Bra-
dando prosseguimento ao profícuo e harmo- sileiro e da Força Aérea Brasileira, convicto
nioso trabalho desenvolvido com eficiência de que a convivência franca e sadia e a von-
e maestria pelo Almirante de Esquadra tade de mantê-la em alto nível possibilitarão
Eduardo Monteiro Lopes, que ora deixa o a continuidade do relacionamento amigável,
nosso convívio para se dedicar exclusiva- produtivo e profissional.
mente ao Estado-Maior da Armada. Seu Finalmente, enalteço minha gratidão
exemplo será seguido. ao meu pai, aqui presente, e à minha mãe
Neste momento, faço menção especial pela sólida formação, pelas orientações e
ao ministro da Defesa, Embaixador Celso pelo incondicional apoio ao longo da vida,
Amorim, e ao ministro chefe do Gabinete primordiais para que este momento se tor-
de Segurança Institucional da Presidência nasse realidade. À Silvia, querida esposa,
da República, General de Exército José e a André e César, meus filhos, meu amor
Elito Carvalho Siqueira, pela distinção do e minha eterna gratidão por tudo o que
comparecimento a esta cerimônia. representam na vida deste ‘marinheiro’.”

XXIV ENTREGA DE PRÊMIOS CONTROLE NAVAL DO


TRÁFEGO MARÍTIMO
Foi realizada, em 18 de julho último, a Fernando Palmer Fonseca. Os prêmios
XXIV Cerimônia de Entrega dos Prêmios são concedidos pelo Comando do Controle
Controle Naval do Tráfego Marítimo Naval do Tráfego Marítimo (Comcontram).
2012/2013, presidida pelo comandante O evento ocorreu no Museu Naval, na
de Operações Navais e diretor-geral de cidade do Rio de Janeiro, e contou com a
Navegação, Almirante de Esquadra Luiz presença de representantes da Comunidade

RMB3oT/2013 269
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Marítima, da Força Aérea Brasileira e da Distrito Naval (Navio-Patrulha Guaratuba),


Marinha do Brasil. Na ocasião, prestou-se o 3o Distrito Naval (Navio-Patrulha Goiana),
reconhecimento aos agraciados pelo apoio 4o Distrito Naval (Navio-Auxiliar Pará), 5o
ao Sistema de Informações Sobre o Tráfego Distrito Naval (Navio-Patrulha Babitonga)
Marítimo (Sistram) no período de 1o de maio e 9o Distrito Naval (Navio-Patrulha Fluvial
de 2012 a 30 de abril de 2013, contribuindo Raposo Tavares); com o Contato-DHN, o
para a segurança da navegação e para a sal- Grupamento de Navios Hidroceanográficos
vaguarda da vida humana no mar. (Navio Hidroceanográfico Cruzeiro do Sul;
Foram concedidos os seguintes prêmios: com o “Contato-Esquadrão de Helicópte-
– Prêmio Orgacon- ros”, o Comando da
tram – à Delegacia da Força Aeronaval (1o
Capitania dos Portos Esquadrão de Helicóp-
em Itajaí, por ter ob- teros de Esclarecimen-
tido o melhor desem- to e Ataque); e com o
penho nos Exercícios “Contato-Força Aérea
de Controle Naval do Brasileira”, a II Força
Tráfego Marítimo, em Aérea (1o Esquadrão/7o
âmbitos nacional, re- Grupo de Aviação).
gional e internacional. – Prêmio Segu-
– Prêmio Contato rança no Mar – aos
– aos navios, esqua- VA Ilques Barbosa Junior (E) e AE Palmer (D) seguintes navios mer-
drões de helicópteros durante a entrega dos Prêmios Controle Naval do cantes, por terem se
da Marinha do Brasil Tráfego Marítimo 2012/2013 destacado no envio de
e esquadrões de aeronaves da Força Aérea dados ao Sistram: Aliança Maracanã, da
Brasileira que encaminharam ao Sistram Companhia Aliança Navegação e Logís-
o maior número de partes de contato com tica; Norsul Caravelas, da Companhia de
navios mercantes situados na área marítima Navegação Norsul; Frisia Wismar, da Log-
de busca e salvamento de responsabilidade In Logística Intermodal; Ocean Spirit, da
brasileira. Dentro desta categoria, foram Pancoast Navegação; e CSAV Loncomilla,
agraciados com o prêmio “Contato-Esqua- da Companhia Libra de Navegação.
dra” o Comando da Força de Superfície – Prêmio Segurança no Mar – Especial
(Navio-Escola Brasil), o Comando do 1o – aos seguintes navios mercantes (NM) e
Esquadrão de Escolta (Fragata Niterói), o barcos pesqueiros (B/P) pela participação
Comando do 2o Esquadrão de Escolta (Fra- efetiva em eventos de busca e salvamento:
gata Greenhalgh) e o Comando do 1o Esqua- NM Guarujá, da Petrobras Transporte;
drão de Apoio (Navio de Desembarque de NM Ocean Emerald, da Agência Marítima
Carros de Combate Almirante Saboia); com Faroship S.R.L.; B/P Quebra-Mar, e B/P
o “Contato-Distrital”, os Comandos do 1o Silva Mar.
Distrito Naval (Navio-Patrulha Gurupi), 2o (Fonte: www.mar.mil.br)

CCCPM, CeIMSPA E CMAM RECEBEM


PRÊMIO QUALIDADE RIO
A Caixa de Construções de Casas para de Intendência da Marinha em São Pedro
o Pessoal da Marinha (CCCPM), o Centro da Aldeia (Ceimspa) e o Centro Médico

270 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Assistencial da Marinha (CMAM) recebe- Econômico, Energia, Indústria e Serviços


ram, em 6 de junho último, em cerimônia (Sedeis-RJ), é um reconhecimento do Go-
no auditório da Caixa Econômica Federal, verno do Estado pelo esforço empreendido
na cidade do Rio de Janeiro, o Prêmio Qua- pelas organizações na busca da excelência
lidade Rio (PQRio), ciclo 2012. A CCCPM de seus modelos de gestão, tendo como
e o Ceimspa tiveram o reconhecimento principais práticas a racionalidade do
na categoria Prata, processo produtivo e a
e o CMAM recebeu melhoria dos níveis de
Menção Honrosa. qualidade do serviço
O PQRio, inspi- prestado, resultando
rado no Prêmio Na- em maior satisfação da
cional de Qualidade clientela.
(PNQ), consiste em Esta foi a primeira
uma metodologia para participação do
diagnosticar a matu- Ceimspa e do CMAM
ridade gerencial das no PQRio. Já a CCCPM
empresas, permitindo Prêmio Qualidade Rio tem investido desde
estabelecer planos de 2008 na condução da
melhoria contínua do desempenho organi- melhoria de processos tanto para sua
zacional das instituições públicas e priva- força de trabalho como em prol de seus
das com sede no Estado do Rio de Janeiro, beneficiários, e durante esse período vem
de acordo com os conceitos e princípios da logrando êxitos e reconhecimentos por
Gestão pela Qualidade Total. parte da Sedeis-RJ e do Programa Netuno.
A premiação, sob coordenação da Se- (Fontes: Bonos nos 403, 419 e 421, de
cretaria de Estado de Desenvolvimento 10/6/2013, 14/6/2013 e 17/6/2013)

CCCPM RECEBE PRÊMIO DO PROGRAMA NETUNO

O comandante da Marinha, Almirante por ocasião das inspeções administrativo-


de Esquadra Julio Soares de Moura Neto, militares e com base nas boas práticas de
entregou ao presidente da Caixa de Cons- gestão nas Organizações Militares.
trução de Casas para o Pessoal da Marinha (Fonte: Assessoria de Marketing da
(CCCPM), Contra-Almirante (IM) Sérgio CCCPM)
Luiz de Andrade, o Prêmio do Programa
Netuno, na categoria Gestão em Excelên-
cia. A cerimônia ocorreu em 17 de julho
último, no auditório da Escola Naval, na
cidade do Rio de Janeiro, durante a realiza-
ção do IV Simpósio de Práticas de Gestão.
O prêmio Excelência em Gestão distin-
gue as Organizações Militares que praticam
e comprovam um alto grau de desempenho
institucional com qualidade em gestão, a
partir do resultado da validação realizada Prêmio recebido pela CCCPM

RMB3oT/2013 271
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

CORVETA CABOCLO É O NAVIO DE SOCORRO DO ANO

A Corveta (Cv) Caboclo, navio do do País, a Cv Caboclo, juntamente com os


Grupamento de Patrulha Naval do Leste, demais navios, atua na patrulha das águas
subordinado ao Comando do 2o Distrito jurisdicionais brasileiras, contribuindo para
Naval (Salvador-BA), recebeu o título de a proteção dos valiosos recursos da “Ama-
Navio de Socorro do zônia Azul”, por onde
Ano, por ter se desta- trafegam mais de 95%
cado entre os navios do comércio exterior
de socorro distritais brasileiro e de onde
da Marinha do Brasil são extraídos mais de
em 2012. Em 2o lugar 90% da produção na-
ficou o Rebocador de cional de petróleo.
Alto-Mar (RebAM) Destacaram-se
Triunfo e em 3o o Na- também os seguin-
vio-Patrulha (NPa) tes Navios de Socorro
Goiana. Distritais por Área de
O título foi entre- Cv Caboclo Jurisdição SAR: Sal-
gue pelo comandante vamar Sul – RbAM
de Operações Navais, Almirante de Es- Tritão, Salvamar Norte – NPa Guanabara,
quadra Luiz Fernando Palmer Fonseca, em Salvamar Sueste – NPa Guajará, Salvamar
cerimônia realizada em 23 de julho último. Nordeste – RbAM Triunfo, Salvamar Leste
No ano passado, o navio navegou 17.415 – Cv Caboclo, Salvamar Noroeste – Navio-
milhas, em 114 dias de mar. Patrulha Fluvial Roraima, e Salvamar
Além das missões de busca, socorro Oeste – NPa Pirajá.
e salvamento, visando à salvaguarda da (Fontes: www.mar.mil.br e Bono Espe-
vida humana na área de responsabilidade cial no 474, de 3/7/2013)

SIPM CONQUISTA PRÊMIO DE EXCELÊNCIA EM


SUSTENTABILIDADE E INOVAÇÃO DO PROGRAMA NETUNO

O Serviço de Inativos e Pensionistas aconteceu durante o IV Simpósio de


da Marinha (SIPM) foi agraciado com o Práticas de Gestão, realizado nos dias 17
Prêmio Especial de Excelência em Sus- e 18 de julho último na Escola Naval, no
tentabilidade e Inovação do Programa Rio de Janeiro.
Netuno, entregue pelo comandante da Esta foi a primeira edição do Prêmio
Marinha, Almirante de Esquadra Julio Especial, que se destinou a destacar o pro-
Soares de Moura Neto, e pelo chefe do cedimento ou conjunto de procedimentos
Estado-Maior da Armada, Almirante administrativos que apresentassem um
de Esquadra Eduardo Monteiro Lopes, caráter inovador na aplicação dos concei-
ao diretor daquela Organização Militar tos preconizados na excelência da gestão,
(OM), Capitão de Mar e Guerra (IM) servindo de modelo e/ou referência para
Sergio Miranda Brandão. A premiação outras iniciativas.

272 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

O SIPM foi premiado pelo pioneirismo


na elaboração da Carta de Serviços ao Ci-
dadão, tendo sido reconhecido, inclusive,
pelo Programa GesPública, do Governo
Federal, pela iniciativa. A Carta de Serviços
do SIPM está fundamentada nos princípios
da informação e transparência na prestação
dos serviços ao cliente, das formas de aces-
so a esses serviços e dos compromissos e
padrões de qualidade de atendimento. AE Moura Neto e AE Monteiro Lopes agraciando
A Carta é uma importante e necessária o CMG Miranda Brandão com o Prêmio Especial
de Excelência em Sustentabilidade e Inovação do
ferramenta da Gestão do Pessoal Inativo e Programa Netuno
Pensionista da Marinha, que, desde a rees-
truturação estabelecida em 2008 pela Alta serviço com alto padrão de qualidade, como
Administração Naval, busca a atualização resultado da gestão de processos eficazes e
e a melhoria contínua dos seus processos, a eficientes para produzi-los.
fim de oferecer ao inativo e pensionista um (Fonte: www.mar.mil.br)

PROMOÇÃO DE ALMIRANTES

Foram promovidos por Decreto Presi- Antonio Reginaldo Pontes Lima Junior e
dencial, contando antiguidade a partir de Glauco Castilho Dall’Antonia;
31 de julho de 2013, os seguintes oficiais – ao posto de Contra-Almirante, os
do Corpo da Armada: Capitães de Mar e Guerra Alfredo Martins
– ao posto de Almirante de Esquadra, Muradas, Gilberto Cezar Lourenço, Marcos
os Vice-Almirantes Airton Teixeira Pinho Lourenço de Almeida, Jorge Henrique Ma-
Filho e Luiz Guilherme Sá de Gusmão; chado e André Luiz Silva Lima de Santana
– ao posto de Vice-Almirante, os Mendes.
Contra-Almirantes Alipio Jorge Rodrigues (Fonte: Bono Especial n o 540, de
da Silva, Wilson Pereira de Lima Filho, 31/7/2013)

COMANDANTE DO 8o DISTRITO NAVAL VISITA A ATECH

O comandante do 8o Distrito Naval


(São Paulo-SP), Vice-Almirante Liseo
Zampronio, visitou, em 20 de agosto últi-
mo, a Atech, empresa integrante do Grupo
Embraer voltada para o desenvolvimento
de soluções tecnológicas aplicadas ao co-
nhecimento. Na ocasião, foram realizadas
palestras e demonstrações dos projetos em
desenvolvimento, com destaque para o
Sistema Tático de Missão Naval. Comandante do 8o DN na Atech

RMB3oT/2013 273
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Este sistema está sendo desenvolvido Sistema de Vigilância e Proteção da


pela Atech em conjunto com a empresa Amazônia; do Sistema Integrado de Mo-
europeia Cassidian, integrante do Grupo nitoramento de Fronteiras; dos Sistemas
EADS (Corporação Europeia do Ramo de Controle e Gerenciamento do Espaço
Aeroespacial). Os projetos integrarão oito Aéreo e de Defesa Aérea; do Programa
dos 16 helicópteros EC-725 em aquisição Nuclear da Marinha; e do Programa de
pela Marinha do Brasil. Desenvolvimento de Submarino de Pro-
Na área da Defesa, a Atech tem par- pulsão Nuclear.
ticipação, entre outros, nos projetos do (Fonte: www.mar.mil.br)

CONSELHEIROS DA ACRJ EMBARCAM NO


REBOCADOR LAURINDO PITTA

O Rebocador Laurindo Pitta, embarca- (Refo-EN) Armando de Senna Bittencourt,


ção histórica da Marinha do Brasil que faz o com o apoio da pedagoga Capitão-Tenente
Passeio Marítimo pela Baía de Guanabara, Mara Soares, do historiador Primeiro-
na cidade do Rio de Janeiro, foi o local da Tenente Renato Restier e do assessor
reunião mensal do Conselho Empresarial de Comunicação e gerente de Visitação,
de Cultura da Associação Comercial do Rio Capitão de Fragata (RM1-T) José Marques
de Janeiro (ACRJ), em 16 de maio último. da Silva Filho.
A viagem começou no cais do Espaço (Fonte: Revista do Empresário, no 1412
Cultural da Marinha e percorreu, durante – ano 72, página 44)
cerca de uma hora, a
Baía, permitindo que
os membros da ACRJ
apreciassem vários
pontos turísticos da
cidade.
O grupo foi con-
duzido pelo diretor do
Patrimônio Histórico
e Documentação da
Marinha (DPHDM),
Vice-Almirante Membros do Conselho Empresarial de Cultura da ACRJ e da DPHDM

TRANSLADO DE COMBUSTÍVEL PARA


HELICÓPTEROS DA MB NO RIO SOLIMÕES

O Navio-Patrulha Fluvial Pedro Tei- Operação Bracolper, o translado de tambo-


xeira e o Navio de Assistência Hospitalar res contendo Querosene de Aviação (QAV-
Oswaldo Cruz, subordinados ao Comando 1) para as localidades Santo Antônio do Içá e
da Flotilha do Amazonas, fizeram, durante a São Paulo de Olivença, situadas às margens

274 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

O translado foi realizado por meio de


Vertrep (reabastecimento vertical), no qual
os tambores de combustível são presos a
uma rede suspensa, sem necessidade de
pouso da aeronave. Trata-se de um proce-
dimento importante para a Marinha, pois
a logística na Amazônia é complicada,
devido às grandes distâncias envolvidas,
só sendo possível o abastecimento por
via aérea ou fluvial. Nesse contexto, esta
Translado de tambor de QAV-1
por aeronave do ESqHU-3 ação permite maior raio de ação para as
aeronaves empregadas na extensa bacia
do Rio Solimões, a 670 milhas náuticas de amazônica em diversas missões, inclusive
Manaus (AM). Para tal, foi empregada uma as de Busca e Salvamento e as de auxílio
aeronave do 3o Esquadrão de Helicópteros humanitário.
de Emprego Geral (ESqHU-3). (Fonte: www.mar.mil.br)

CTecCFN ENTREGA VIATURAS BLINDADAS ESPECIAIS


MODERNIZADAS À FFE
O Comando do Material de Fuzileiros cionárias – vocação do Corpo de Fuzileiros
Navais entregou à Força de Fuzileiros da Navais –, como também nos momentos em
Esquadra (FFE) sete Viaturas Blindadas que são necessárias a demonstração de for-
Especiais Sobre Lagartas M113MB1, ça e a dissuasão, a exemplo da Segurança
modernizadas no Brasil. A entrega acon- da Conferência Rio +20.
teceu em 14 de ju- Os sete blindados
nho último, no Cen- fazem parte de um
tro Tecnológico do primeiro lote de 30
Corpo de Fuzileiros Viaturas M113MB1
Navais (CTecCFN), que estão sendo mo-
na cidade do Rio de dernizadas pelo Corpo
Janeiro. As viaturas de Fuzileiros Navais
conferem elevada utilizando tecnologia
mobilidade aos Gru- israelense. O projeto
pamentos Operativos de modernização inclui
de Fuzileiros Navais, uma nova configuração
além de proverem de seus sistemas, a par-
Viaturas Blindadas Especiais Sobre Lagartas
proteção por meio de M113MB1 tir da substituição dos
sua blindagem. antigos componentes
Decisivas nos processos de pacificação por outros mais modernos, eletrônicos e
de comunidades do Rio de Janeiro, como o automatizados, com tecnologia de ponta.
Complexo do Alemão e a Rocinha, as Via- O relevante incremento em seus índices de
turas M113MB1 estão prontas para serem desempenho, aferidos durante os testes rea-
empregadas em apoio às operações expedi- lizados no Centro de Avaliação do Exército

RMB3oT/2013 275
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Brasileiro, capacitará o M113MB1 moder- Navais, por uma equipe composta de téc-
nizado a cumprir suas tarefas em melhores nicos da empresa israelense, militares do
condições de emprego. A viatura-protótipo CTecCFN e do Batalhão de Blindados de
foi montada e testada pela empresa Israel Fuzileiros Navais, e prevê a transferência
Military Industries (IMI), em Israel, e a via- de tecnologia para a Marinha do Brasil. O
tura-piloto, quase que simultaneamente, foi processo de modernização também propor-
modernizada nas instalações do CTecCFN. ciona aos militares da Marinha ganho de
A entrega técnica prosseguirá pelos conhecimento e experiência, principalmen-
próximos meses, lote por lote, até ser con- te nos assuntos relacionados a soldagem,
cluída em julho de 2014, quando o Corpo manutenção e mecânica.
de Fuzileiros Navais contará com todas Após a cerimônia de entrega, os pre-
as suas Viaturas M113MB1 operacionais, sentes visitaram o mostruário exposto,
em condições de pleno emprego pelas participaram do deslocamento embarcado
próximas duas décadas. A sua execução e assistiram a uma demonstração das
está sendo desenvolvida nas instalações do M113MB1.
Centro Tecnológico do Corpo de Fuzileiros (Fonte: www.mar.mil.br)

MARINHA CONTRATA AVALIAÇÃO DO


IMPACTO AMBIENTAL DA EACF

A Marinha do Brasil (MB) assinou, em Biodiversidade Aquática, Oceano e Antártica,


8 de agosto último, com a empresa gaúcha Paulo Rogério Gonçalves.
Ardea Consultoria Ambiental, contrato A avaliação ambiental, que deverá estar
para a elaboração da avaliação de impacto pronta em cinco meses, será fundamental
ambiental relativa à reconstrução e operação para o início da construção da nova Estação
das novas edificações Antártica Comandan-
da Estação Antártica te Ferraz, incendiada
Comandante Ferraz parcialmente em um in-
(EACF), na Antártica. cidente, em 25 de feve-
Estiveram presentes ao reiro de 2012. O estudo,
ato de assinatura, em baseado em bibliogra-
Porto Alegre (RS), o fia, servirá de guia para
secretário da Secretaria o Instituto Brasileiro
da Comissão Intermi- de Meio Ambiente e
nisterial para os Recur- Assinatura do contrato dos Recursos Naturais
sos do Mar (Secirm), Renováveis (Ibama) e
Contra-Almirante Marcos Silva Rodrigues; o para o Comitê Internacional da Antártica
secretário-adjunto da Secirm, Capitão de Mar avaliarem e aprovarem a construção da
e Guerra Marcello Melo da Gama; o coorde- nova Estação, cujas obras de fundações
nador do Projeto de Reconstrução da Estação estão previstas para começar em fevereiro/
Antártica Comandante Ferraz, Capitão de março de 2014. A efetiva construção da nova
Mar e Guerra Geraldo Juaçaba; e o diretor Estação está programada para ter início no
do Ministério do Meio Ambiente/Secretaria verão antártico de 2014/2015, com um custo
Biodiversidade e Florestas – Departamento estimado de 110 milhões de reais.

276 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A cada nova etapa, o projeto de recons- A Estação será construída no mesmo


trução passa por um complexo e detalhado local ocupado pela anterior, com capaci-
processo de avaliação, sob a responsabili- dade para abrigar, no máximo, 64 pessoas.
dade de uma Comissão Técnica instituída O edifício principal terá uma área total de
pela Secirm, com a participação dos Minis- aproximadamente 4.500 m2. Os materiais
térios da Ciência, Tecnologia e Inovação adotados no projeto buscam a máxima efici-
(MCTI) e do Meio Ambiente (MMA); e ência, tanto no que se refere ao desempenho
de representantes de diversas organizações ambiental como na reduzida necessidade
da Marinha do Brasil e da Universidade de manutenção e facilidade de operação.
Federal do Espírito Santo (Ufes). (Fonte: www.defesanet.com.br)

CAPITANIA FLUVIAL DO PANTANAL RESGATA RIBEIRINHOS

Militares da Capitania Fluvial do Panta-


nal, subordinada ao Comando do 6o Distrito
Naval (Ladário-MS), resgataram, em 14 de
agosto último, uma família de ribeirinhos
à deriva no Rio Paraguai. Os ribeirinhos
desciam o rio a bordo de uma embarcação
de madeira de pequeno porte (cinco metros
de comprimento) com propulsão a motor
tipo rabeta. Por volta de 18h, o grupo foi
surpreendido por uma mudança repentina
de tempo com fortes rajadas de vento, o que
deixou a água agitada e a embarcação sob Militar resgatando criança
risco de emborcar.
A Capitania Fluvial do Pantanal foi pequena embarcação, foi encontrada no
acionada na manhã do dia 14 e pronta- km 1.547 e levada até o Porto Geral de
mente atendeu ao chamado de resgate. Corumbá (MS).
A família, que passara a noite dentro da (Fonte: www.mar.mil.br)

NPaFlu RONDÔNIA REBOCA IATE À DERIVA

O Navio-Patrulha Fluvial (NPaFlu)


Rondônia rebocou, durante a Operação
Parintins 2013, o Iate Lady Amazônia, que
se encontrava à deriva, com avaria nas má-
quinas. O reboque ocorreu em 28 de junho
último e evitou que o navio se tornasse
um risco à navegação e que colocasse em
perigo os passageiros e tripulantes.
NPaFlu Rondônia rebocando o Após a execução da faina mari-
Iate Lady Amazônia, a contrabordo nheira, com a embarcação em segu-

RMB3oT/2013 277
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

rança e amarrada a uma boia, foram presteza e pelo profissionalismo da


apresentados os agradecimentos pelos Marinha do Brasil.
passageiros e tripulantes do iate, pela (Fonte: www.mar.mil.br)

NPa MACAÉ RESGATA PESSOAS NO MAR

O Navio-Patrulha Macaé realizou, na agitado, temperatura baixa e visibilidade


madrugada do dia 26 para 27 de julho reduzida, a embarcação foi avistada e
último, duas operações de socorro e sal- procedeu-se o reboque até a Enseada do
vamento nas proximi- Abraão, na Baía da
dades da Restinga da Ilha Grande, local se-
Marambaia, litoral do guro e capaz de prover
Rio de Janeiro. condições de reparo.
Inicialmente en- Quando realizava o
volvido na segurança reboque da embarca-
marítima da Jornada ção Cláudia the Eagle
Mundial da Juventude, I, o Macaé recebeu a
o navio foi acionado informação de que o
no início da noite do Veleiro Parru encon-
dia 26 pelo Salvamar trava-se nas proximi-
Sueste, a fim de prestar Náufragos a bordo do NPa Macaé dades, com grande
apoio à embarcação alagamento e com sua
Cláudia the Eagle I, que se encontrava à tripulação embarcada em balsa salva-vidas.
deriva próximo às pedras da Ilha Rasa de Após novas buscas, foram encontrados os
Guaratiba, com quatro tripulantes. Embora cinco náufragos, que foram resgatados e
as condições meteorológicas estivessem depois assistidos pelo médico do navio.
degradadas, com ventos de 40 nós, mar (Fonte: www.mar.mil.br)

RESGATADO TRIPULANTE DE NAVIO DAS BAHAMAS

O Comando do 5o Distrito Naval (Rio


Grande-RS), em conjunto com a Pra-
ticagem da Barra do Rio Grande (RG
Pilots), realizou, em 16 de julho último, o
resgate médico de um tripulante enfermo
do Navio Mercante Celestine River, de
bandeira das Bahamas.
O navio estava em trânsito entre a Ar-
gentina e as Bahamas, com destino ao Porto
de Point Fortin, em Trinidad e Tobago. A
aproximadamente 460 quilômetros da costa
brasileira na Região Sul, solicitou socorro

278 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

ao Serviço de Busca e Salvamento da Ma- minhado com urgência ao Hospital Santa


rinha (Salvamar). Casa do Rio Grande, onde foi submetido
O tripulante enfermo foi resgatado a cirurgia.
apresentando sinais de apendicite e enca- (Fonte: www.mar.mil.br)

ribeirinho é resgatado no pantanal

Durante a realização de levantamento


operacional do Rio Paraguai, em 21 de
agosto último, militares do Comando do
6 o Distrito Naval (Ladário-MS) foram
acionados para socorrer um idoso que se
encontrava em Porto Mato Grande, próxi-
mo da região de Jatobazinho, cerca de 110
km de Corumbá (MS).
A Capitania Fluvial do Pantanal foi
contactada, via rádio, por um funcionário
de uma fazenda próxima. Quando os mi-
litares chegaram ao local, um enfermeiro Ribeirinho a bordo da Agência Escola Flutuante
Esperança do Pantanal
constatou que José Salvador de Oliveira
apresentava uma fratura no ombro direito
e também a pressão arterial alta. O aciden- Móvel de Urgência (Samu), que o trans-
tado foi levado imediatamente a Corumbá portou para o hospital da cidade.
e encaminhado ao Serviço de Atendimento (Fonte: www.mar.mil.br)

SALVAMAR NORTE PRESTA APOIO DE SAÚDE A NAVIO

Em 31 de maio último, o Comando do Busca e Salvamento da Marinha (Salva-


4o Distrito Naval (Com4oDN), localizado mar) Norte, recebeu solicitação do Navio
em Belém (PA), por meio do Serviço de de Pesquisa Ocean Stalwart para evacuação
aérea de dois tripulantes que apresentavam
problemas de saúde.
Marcelo Maia Figueira, 46 anos, diabé-
tico, apresentava quadro de hiperglicemia e
necrose em um dos dedos do pé. A ausência
de insulina a bordo agravou seu estado de
saúde. A outra tripulante, Gabriela Oliveira,
26 anos, apresentava quadro de hipotensão,
desidratação, desmaio e anemia.
Em virtude da localização do navio, dis-
tante cerca de 1.700 km de São Luís (MA),
Navio de Pesquisa Ocean Stalwart o Com4oDN disponibilizou um médico da

RMB3oT/2013 279
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Marinha, que, por via telefônica, passou tes, após serem medicados, apresentaram
orientações à profissional técnica em en- melhora e tiveram seus quadros de saúde
fermagem que se encontrava a bordo. Até estabilizados.
então, o estado de saúde dos tripulantes era Em terra, a Capitania dos Portos do
estável. Em 2 de junho, contudo, houve Maranhão e a Agência Oceanus, agente
agravamento do quadro. Por isso, a Mari- marítimo do Ocean Stalwart, viabilizaram
nha do Brasil, por meio do Hospital Naval a atracação do navio no porto de Itaqui
de Belém, providenciou medicamentos e (MA). Todo o aporte médico de emergência
materiais adequados ao restabelecimento também foi ali montado para a chegada
dos tripulantes adoentados a bordo do do navio.
Ocean Stalwart. A Marinha do Brasil, por intermédio do
Com o apoio do Salvaero Amazônico, Salvamar, recebe rotineiramente solicitações
na manhã do dia 3 de junho, uma aeronave- de resgate (SAR – Search and Rescue) e
patrulha do I Comando Aéreo Regional sempre empenha meios, homens e recursos
(I Comar) partiu de São Luís ao encontro para o cumprimento de suas atribuições e
do navio, que estava a cerca de 500 km competências constitucionais no que tange
daquela cidade, realizando com sucesso à segurança da navegação e à salvaguarda
o lançamento dos medicamentos ao mar, da vida humana nas vias navegáveis.
próximo ao navio. A bordo, os tripulan- (Fonte: www.mar.mil.br)

ASSINADO TERMO PARA LEVANTAMENTO


HIDROGRÁFICO DE SANTOS

A Marinha do Brasil, por meio da Dire- entre a Força e a SEP. O Termo foi assinado
toria de Hidrografia e Navegação, e a Secre- pelo chefe da Secretaria Especial de Portos
taria Especial de Portos (SEP) assinaram, da Presidência da República, Ministro José
em 9 de julho último, Leônidas de Menezes
Termo de Coopera- Cristino; pelo diretor
ção que viabilizará a de Hidrografia e Nave-
execução de um com- gação, Vice-Almirante
pleto levantamento Marcos Nunes de Mi-
hidrográfico no canal randa; e pelo diretor
de acesso ao Porto presidente da Compa-
de Santos. O traba- nhia Docas do Estado
lho visa atualizar os de São Paulo, Renato
documentos náuticos Ferreira Barco.  
pertinentes e reali- Na ocasião, foi en-
zar um projeto para Cerimônia de assinatura do Termo de Cooperação fatizada a relevância
a implantação de um do porto de Santos,
moderno sistema de sinalização náutica. considerado o maior e mais importante porto
A cerimônia de assinatura foi presidida da América Latina, que movimenta mais de
pelo diretor-geral de Navegação, Almirante 60 milhões de toneladas de cargas diversas
de Esquadra Luiz Fernando Palmer Fonse- por ano. Desde sua inauguração, em 1892, o
ca, que enfatizou a importância da parceria porto de Santos já ultrapassou a cifra de um

280 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

bilhão de toneladas de cargas movimenta- Após a assinatura do Termo de Coope-


das. O presente acordo tem como propósito ração, as autoridades visitaram o Centro de
principal dar continuidade às ações gover- Hidrografia da Marinha e puderam observar
namentais que visam prover uma navegação as atividades desenvolvidas pela Divisão de
cada vez mais segura, com uma sinalização Cartografia daquele Centro.
náutica de alta confiabilidade. (Fonte: www.mar.mil.br)

AvHoFlu RIO TOCANTINS REALIZA LEVANTAMENTO


HIDROGRÁFICO NO RIO AMAZONAS
O Aviso Hidroceanográfico Fluvial O levantamento contou com o apoio logísti-
(AvHoFlu) Rio Tocantins realizou, de 27 co da Capitania dos Portos do Amapá e do
de fevereiro a 6 de maio, levantamento Navio-Balizador Tenente Castelo.
hidrográfico no trecho do Rio Amazonas Construído pelo Estaleiro Inace, em For-
compreendido entre a cidade de Macapá taleza (CE), o Rio Tocantins é o primeiro de
(AP) e a Ponta do uma classe de quatro
Céu, nas proximida- navios. Foi incorpora-
des da foz. do em 27 de julho de
Como parte inte- 2012, passando a ser
grante do Plano de subordinado ao Servi-
Atualização Cartográ- ço de Sinalização Náu-
fica da Bacia Amazô- tica do Norte (SSN-4).
nica (PACBA), du- É destinado à execu-
rante os 69 dias de ção de levantamentos
comissão foi levanta- hidroceanográficos
da uma extensão de em águas interiores
aproximadamente 70 AvHoFlu Rio Tocantins da Bacia Amazônica,
milhas náuticas em com a finalidade da
área de grande importância estratégica e atualização contínua da cartografia náutica
econômica, por onde passam todos os navios das principais hidrovias da região.
mercantes que navegam pelo Rio Amazonas. (Fonte: www.mar.mil.br)

LEVANTAMENTO HIDROGRÁFICO NA AMAZÔNIA

O Navio Hidroceanográfico Garnier Pará. Esta é a primeira comissão de longa


Sampaio e o Aviso Hidroceanográfico Flu- duração do AvHoFlu Rio Xingu, construído
vial (AvHoFlu) Rio Xingu, subordinados ao pelo estaleiro da Indústria Naval do Ceará
Serviço de Sinalização Náutica do Norte, (Inace), em Fortaleza (CE), e incorporado
sediado em Belém (PA), realizaram de 17 à Armada em 29 de janeiro de 2013.
de abril a 13 de junho levantamento hidro- Devido às peculiaridades da área hidro-
gráfico no Rio Amazonas, entre as cidades grafada, que sofre influências tanto da di-
de Gurupá e Santarém, ambas no Estado do nâmica das águas do Rio Amazonas quanto

RMB3oT/2013 281
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

da maré do Oceano Atlântico, observou-se, zados nas cidades de Gurupá, Almeirim,


para a realização do levantamento hidrográ- Prainha, Monte Alegre e Santarém.
fico, o comportamento da maré em cinco Por meio do trabalho feito pelos na-
pontos estrategicamente definidos, locali- vios, a Marinha do Brasil produzirá novas
cartas náuticas que terão formatos dife-
rentes das até então produzidas, visando
facilitar ainda mais o uso pelo navegante,
com notável incremento da segurança da
navegação no Rio Amazonas. Além disso,
será possível aprofundar o conhecimento
a respeito do complexo comportamento
da maré nessa área.
Ao todo foram levantadas 240 milhas
náuticas de extensão de rio e 2.030 km2 de
águas interiores navegáveis.
AvHoFlu Rio Xingu (Fonte: www.mar.mil.br)

BARCO SOLAR PARA TRANSPORTE ESCOLAR


E ATIVIDADES NA AMAZÔNIA

O barco solar inaugurado em 5 de julho Ali, o barco solar será utilizado principal-
último, na Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio mente para buscar crianças em suas casas
de Janeiro (RJ), é uma alternativa para o e levá-las à escola que atende à localidade.
transporte escolar na Amazônia com baixo Ao fim das aulas, também levará os alunos
custo de operação. O projeto foi concebido de volta para casa. Concomitantemente, po-
e desenvolvido pelo Grupo Fotovoltaica- derá ser usada para transportar a produção
UFSC (Grupo de Pesquisa Estratégica em local (como pescado e outros alimentos
Energia Solar da Universidade Federal de perecíveis). Quando necessário, este trans-
Santa Catarina) e financiado pelo Minis- porte fluvial poderá também se deslocar até
tério da Ciência Tecnologia e Inovação e Belém, levando apenas 30 minutos.
pelo Conselho Nacional de Desenvolvi- A comunidade de Santa Rosa localiza-
mento Científico e Tecnológico (CNPq). se no Furo do Nazário, Ilha das Onças,
Conta, ainda, com o apoio institucional município paraense de Barcarena, a apro-
e/ou técnico das seguintes instituições: ximadamente 12 km da sede municipal e a
Eletrobras, Instituto Ideal, Weg, Holos, 4 km de Belém.
Instituto Nacional de Ciência e Tecnolo- Os alunos que estudam na escola da
gia de Energias Renováveis e Eficiência comunidade cursam da 1a à 9a série do
Energética da Amazônia (INCT-Ereea) e Ensino Fundamental, nos turnos matutino
Grupo de Estudos e Desenvolvimento de e vespertino. Atualmente, o trajeto escola-
Alternativas Energéticas da Universidade casa-escola tem sido realizado por cerca de
Federal do Pará (Gedae-UFPA). 40 pequenas embarcações a diesel contra-
Após a inauguração, a embarcação se- tadas pela Prefeitura local.
guiu para a comunidade ribeirinha de Santa O barco solar tem as seguintes carac-
Rosa, nas proximidades de Belém (PA). terísticas:

282 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

– capacidade para 22 pessoas sentadas; agregar valor e acondicionar de forma apro-


– potência de 4 kWp de módulos solares priada produtos como pescado e outros ali-
fotovoltaicos; mentos perecíveis. Será também instalado
– banco de baterias no próprio barco (au- um sistema de purificação de água por luz
tonomia para cinco horas de navegação), para UV, além de ferramentas elétricas básicas.
armazenar a energia gerada pelos módulos; Quando o barco solar atracar, ele poderá
– dois conversores de corrente contínua complementar o carregamento de suas ba-
para corrente alternada (para acionar os terias conectando sua “tomada” ao terminal
motores elétricos); e elétrico da oficina solar. Ou seja, a embar-
– dois motores elé- cação terá um banco
tricos (2 x 9,5 HP) extra de armazenagem
responsáveis pelo sis- de energia, que per-
tema de propulsão, mitirá que possa ser
com sistema de refri- recarregada mesmo
geração a água (30% nos períodos de vários
mais leves do que os dias de chuva, comuns
similares com refrige- na região.
ração a ar), especial- Evitando o uso de
mente desenvolvidos embarcações com mo-
para este barco solar. Barco solar para a Amazônia tores a combustão, a
Além dos módulos utilização do barco so-
solares fotovoltaicos na cobertura do barco, lar permitirá tanto a redução na poluição por
no atracadouro junto à escola será construí- diesel nos leitos dos rios quanto a redução
da uma oficina solar com potência instalada no estresse dos animais da região pela polui-
16 kWp, junto a um banco de baterias. Nela ção sonora, já que os motores elétricos são
serão incorporados equipamentos elétricos extremamente silenciosos, enquanto que os
para a fabricação de gelo, com o objetivo motores a combustão são bastante ruidosos.
de proporcionar à comunidade um meio de (Fonte: Eletronuclear)

“VITÓRIA NA DERROTA: ÁLVARO ALBERTO E AS


ORIGENS DA POLÍTICA NUCLEAR BRASILEIRA”

Os primeiros anos da política nuclear Em seu texto, o autor procura compre-


brasileira, entre 1945 e 1956, é o assunto abor- ender as razões por trás da vitória do Vice-
dado em “Vitória na derrota: Álvaro Alberto Almirante Álvaro Alberto da Mota e Silva
e as origens da Política Nuclear Brasileira”, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)
do historiador Leandro Batista Pereira. O da Questão Nuclear de 1956, na qual as suas
trabalho é a dissertação de mestrado acadê- propostas para o setor foram valorizadas
mico em História, Política e Bens Culturais e restabelecidas. Anteriormente, durante
apresentada, em 27 de agosto último, ao o governo Café Filho (1954-55), o militar
Centro de Pesquisa e Documentação de His- e cientista havia sofrido derrotas, quando
tória Contemporânea do Brasil da Fundação foi exonerado da presidência do Conselho
Getúlio Vargas, como requisito parcial para Nacional de Desenvolvimento Científico e
a obtenção do grau de mestre em História. Tecnológico (CNPq) e teve a sua política para
RMB3oT/2013 283
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

o setor suspensa. O Almirante Álvaro Alberto os recursos naturais e de um desenvolvimento


foi o representante do Brasil na Comissão de científico e tecnológico em bases autônomas;
Energia Atômica da Organização das Nações além de uma conjuntura política excepcional
Unidas (ONU), e sua contribuição principal no início do governo de Juscelino Kubitschek,
na área de energia do País foi a implementa- marcado por forte polarização política, na qual
ção do Programa Nuclear Brasileiro. o assunto nuclear ganhou projeção nacional”.
O trabalho de Leandro Batista Pereira con- Com a sua vitória na CPI de 1956, Álvaro
clui que a vitória foi possível “graças ao fato de Alberto conseguiu definir os termos do debate
as suas diretrizes para a área nuclear terem res- sobre a política a ser adotada na área pelos anos
sonância junto a diversos setores da sociedade e décadas seguintes.
brasileira adeptos do monopólio estatal sobre (Fonte: Eletrobras/Eletronuclear)

SOLUÇÃO SUSTENTÁVEL EM LUBRIFICAÇÃO


PARA A INDÚSTRIA NAVAL

Óleos sintéticos biodegradáveis, que de com o novo Vessel General Permit


não agridem o meio ambiente. Esta é a (VGP), que entrará em vigor nos Estados
solução sustentável lançada recentemente Unidos a partir de dezembro de 2013.
pela Klüber Lubrication para a indústria Dessa forma, eles atendem não somente
naval. A empresa, especialista global em aos requisitos de rápida biodegradabi-
lubrificação, amplia, assim, sua linha de lidade, mas também aos referentes a
produtos para este setor, conhecida pela toxicidade e bioacumulação.
lubrificação de engrenagens abertas de Na indústria naval, as soluções susten-
guinchos e guindastes. táveis na área de lubrificação são muito
Os dois novos produtos são lubrifi- importantes na medida em que um pro-
cantes sintéticos (ambos nas viscosida- pulsor novo, naturalmente, pode derramar
des 100 cSt 1 e 150 cSt), rapidamente por dia cinco litros de óleos lubrificantes
biodegradáveis e compatíveis com óleos no oceano; e propulsores antigos podem
minerais normalmente utilizados nestas derramar ainda mais.
aplicações. Estas duas linhas de produtos (Fonte: ADS Assessoria de Comuni-
foram desenvolvidas em conformida- cações)

BARCO MOVIDO A ENERGIA SOLAR SERÁ USADO EM


PESQUISAS CLIMÁTICAS

O primeiro barco a energia solar a científica, pelo menos durante este verão do
circundar o globo, o Turanor Planetsolar, Hemisfério Norte. Com seus 510 metros
está se transformando em uma embarcação quadrados de células fotovoltaicas e oito

1 N.R.: Centistokes (cSt). Expressa a unidade física da viscosidade cinemática no Sistema CGS, cujo nome provém
de George Gabriel Stokes, físico irlandês que se distinguiu pelas suas contribuições na dinâmica de fluidos.
(Fonte: http://pt.wikipedia.org)

284 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

toneladas de baterias de íon-lítio, o barco, emissões de dióxido de carbono ou


um catamarã de 100 pés e US$17 milhões outros gases que possam contaminar
que foi projetado por um aventureiro suíço amostras do ar. Além disso, pode nave-
e financiado por um empresário alemão, gar lentamente, se necessário, enquanto
cruzará a Corrente do Golfo estudando o coleta amostras da água – a velocidade
papel dos aerossóis atmosféricos e do fito- média é de 5 nós.
plâncton na regulação do clima. O comando Embora a Corrente do Golfo seja
da expedição está a uma das correntes
cargo de Martin Be- oceânicas mais estu-
niston, um climatolo- dadas do mundo, o
gista da Universidade plano do ecologista
de Genebra (Suíça). microbiano Bastiaan
O cruzeiro de Beniston, da Univer-
pesquisa, com cinco sidade de Genebra,
tripulantes e quatro é examinar algumas
pesquisadores a bor- de suas estruturas em
do, começou em Mia- menor escala.
mi, em junho último, Barco Solar Turanor Planetsolar As modificações
com previsão de uma implementadas no ca-
parada em Terra Nova e na Islândia, para tamarã – que também incluíram novas héli-
monitorar a corrente do nordeste. A viagem ces e o remodelamento dos aposentos para
estava programada para terminar em Ber- oferecer espaço de trabalho aos pesquisa-
gen, na Noruega, em agosto. Em julho, a dores – foram realizadas em um estaleiro
embarcação, de fibra de carbono e com seu francês depois que o barco terminou sua
grande deque dominado pelo conjunto fo- circunavegação de 19 meses e 60 mil qui-
tovoltaico, parou na cidade de Nova York. lômetros, em maio de 2012. Essa viagem
O barco é totalmente alimentado pelo pretendia demonstrar mais as capacidades
Sol – as células solares de alta potência gerais da energia solar do que a praticidade
carregam as baterias que alimentam de barcos movidos a este tipo de energia.
motores elétricos conectados às duas (Fonte: The New York Times, em www.
hélices da embarcação – e não produz utimosegundo.ig.com.br)

FERRYBOAT MAIS RÁPIDO DO MUNDO É


MOVIDO A GNL E A JATO D’ÁGUA

O ferryboat Francisco de alta velocida- As provas de mar foram completadas com


de, o mais rápido do mundo, será a primeira sucesso, com o catamarã de 99 metros
embarcação deste tipo movida a gás natural alcançando uma velocidade de 58,1 nós
liquefeito (GNL). Além disso, é equipado (107,6 km/h), em condição de navio leve,
com propulsores a jatos d’água axiais. estando, assim, pronto para iniciar a fase
O Francisco será o maior catamarã de operação comercial. O ferryboat terá
operado pela empresa argentina/uruguaia capacidade de levar mil passageiros e 150
Buquebus e transportará passageiros e carros, com uma velocidade operacional
veículos entre o Uruguai e a Argentina. de 50 nós.

RMB3oT/2013 285
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A embarcação foi construída pelo esta-


leiro australiano Incat Tasmania Pty Ltd.
Os dois propulsores a jato d’água axial do
modelo LJX1720SR e, ainda, o avançado
sistema de controle de propulsão foram
fornecidos pela Wärtsilä, líder global em
soluções e serviços para a indústria naval.
(Fonte: Approach Comunicação
Integrada) Ferryboat Francisco

IV CONFERÊNCIA NAVAL INTERAMERICANA


ESPECIALIZADA EM INTEROPERABILIDADE
Foi realizada de 26 a 30 de agos- Participaram delegações das Marinhas
to último, na Escola de Guerra Naval dos seguintes países, além do Brasil: Ar-
(EGN), na cidade do Rio de Janeiro, a gentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equa-
IV Conferência Naval Interamericana dor, Estados Unidos da América, México,
Especializada em Interoperabilidade (IV Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. O
CNIE-I). O evento teve como tema cen- evento também contou com a presença de
tral “A interoperabilidade das Marinhas representantes da Junta Interamericana da
das Américas em prol da Segurança Ma- Defesa (JID) e da Rede Naval Interame-
rítima e da Consciência ricana de Telecomunica-
Situacional Marítima”. ções (RNIT).
Durante a IV CNIE-I, A Secretaria da IV
foi elaborado o Manual CNIE-I ficou a cargo
do Sistema Cooperativo do comandante da 1 a
de Segurança e Ajuda Divisão da Esquadra,
Humanitária Interameri- Contra-Almirante Flávio
cana, onde são estabele- Soares Ferreira.    
cidos os processos para a A CNIE-I foi criada
participação coordenada por decisão da XXI
de Forças Navais dos paí- Conferência Naval In-
ses componentes da Con- teramericana (CNI),
ferência em operações de ocorrida em 2004, em
ajuda humanitária, bem San Diego, nos Es-
como a definição da doutrina para a organi- tados Unidos da América (EUA). A
zação de uma Força-Tarefa Multinacional de partir de então, houve três edições, a
Ajuda Humanitária caso venha a ser formada. primeira em 2005, em Mayport (EUA);
Também foram delimitados o conceito, as a segunda em 2006, em Lima (Peru); e
normas e os procedimentos para fundamentar a terceira em 2010, em Puerto Belgrano
o conhecimento da Consciência Situacional (Argentina).
Marítima nas Marinhas e guardas costeiras (Fontes: Bono no 551, de 6/8/2013, e
do hemisfério. www.mar.mil.br)

286 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

VI CONGRESSO INTERNACIONAL DE
SOFTWARE LIVRE E GOVERNO ELETRÔNICO

A Marinha do Brasil, por meio da Se- tação da formação dos oficiais da Marinha
cretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Corpo da Armada.
(SECCTM), participou, de 13 a 15 de O Consegi teve como tema “Portabili-
agosto último, do Congresso Internacional dade, Colaboração e Integração”. Este é o
de Software Livre e Governo Eletrônico maior evento de tecnologia do Governo Fe-
(Consegi) 2013, realizado na Escola de deral, cujo foco é o seu avanço tecnológico e
Administração Fazendária (Esaf), em o da sociedade, com integração e cooperação
Brasília (DF). a partir do uso do software livre. O evento
Na ocasião, a SECCTM apresentou um apresentou à sociedade as soluções desen-
de seus mais recentes desenvolvimentos: volvidas, que poderão ser copiadas, alteradas
um Simulador de Navegação, desenvol- e distribuídas gratuitamente, por meio dos
vido pelo Centro de Análises de Sistemas princípios básicos de software livre.
Navais (Casnav), destinado à complemen- (Fonte: www.mar.mil.br)

X ENCONTRO DE BIOINCRUSTAÇÃO,
ECOLOGIA BÊNTICA E BIOCORROSÃO

O Instituto de Estudos do Mar Almirante Suécia; Observatoire du Milieu Marin Mar-


Paulo Moreira (IEAPM) promoveu, entre tiniquais (OMMM), de Martinica-França;
os dias 29 de julho e 2 de agosto, no Hotel Rhodes University, da África do Sul; e Scho-
A Ressurgência, em Arraial do Cabo (RJ), ol of Oceans Sciences, Bangor University,
o X Encontro de Bioincrustação, Ecolo- do País de Gales. Foram apresentadas nove
gia Bêntica e Biocorrosão (X Bioinc). O conferências representando o estado da arte
evento, bianual e de caráter internacional, em biotecnologia marinha relacionada ao
reúne pesquisadores de várias instituições estudo da bioincrustação.
de pesquisa que são referência no assunto Dez alunos concorreram ao Prêmio
e, este ano, abordou o tema “Perspectivas Almirante Paulo Moreira que contempla
biotecnológicas no controle da bioincrus- os três melhores trabalhos apresentados
tação e biocorrosão”. por estudantes universitários brasileiros.
O seminário con-
tou com a presença
de 135 participantes
pertencentes a 46 ins-
tituições, sendo seis
estrangeiras: Sultan
Qaboos University,
de Omã; University
of Portsmouth, da In-
glaterra; SP Technical
Research Institute, da Evento internacional reuniu pesquisadores de diversos países em Arraial do Cabo

RMB3oT/2013 287
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Além das conferências e da apresentação de Rede Nacional de Monitoramento de Ha-


trabalhos, foi realizada uma mesa-redonda bitats Bentônicos Costeiros.
sobre bioinvasão e um workshop sobre a (Fonte: Bono no 560, de 9/8/2013)

EXPOSIÇÃO “MISSÕES DE PAZ”

Foi inaugurada, em 22 de julho último, Paraguai e Uruguai; militares do CCOPAB;


a exposição “Missões de Paz”, nas instala- e integrantes do Conjunto Som da Paz.
ções do Espaço Cultural Sergio Vieira de A inauguração oficial foi procedida
Mello, localizado na Vila Militar, Rio de pelo comandante do CCOPAB, Coronel
Janeiro (RJ). A expo- Baganha, acompanha-
sição, patrocinada pela do dos proprietários
empresa Oi, retrata as da empresa Memó-
atividades desenvolvi- ria Civelli Produções
das pelos militares do Culturais, Mário Cé-
Centro Conjunto de sar Cabral e Patrícia
Operações de Paz do Civelli, curadores da
Brasil (CCOPAB) e exposição. A mostra
os cursos ministrados está aberta ao público
para a preparação de de terças a quintas-
militares, policiais e feiras, das 10 às 16h,
civis brasileiros e de Exposição “Missões de Paz” com entrada gratui-
nações amigas para as ta. No mesmo local
missões de paz e de desminagem humanitária. também é possível visitar as exposições
O evento foi prestigiado pelos alunos do “Rondon, Marechal da Paz” e “Esporte,
Curso de Proteção de Civis e por militares e Desenvolvimento e Paz”.
civis de Argentina, Brasil, Chile, Equador, (Fonte: www.mar.mil.br)

BRASIL OFFSHORE 2013

Foi realizada em Macaé (RJ), de 11 a 14 fornecedores (a feira é bianual, e em 2011


de junho último, a sétima edição da Brasil foram realizados 320 encontros). A con-
Offshore – Feira e Conferência da Indústria ferência da Brasil Offshore 2013 reuniu,
de Petróleo e Gás, o principal evento do ainda, 1.035 congressistas.
setor do País. A feira reuniu 720 expositores Organizada pelo Instituto Brasileiro
e atraiu 51 mil pessoas. Foram mil marcas de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP)
expostas, com mais de R$ 300 milhões em e pela SPE (Society of Petroleum Engi-
negócios fechados durante o evento. neers), a Brasil Offshore contou com 44
Nas rodadas de negócios, segundo a palestrantes, 25 por cento internacionais.
Organização Nacional da Indústria do Pe- Em três plenárias e oito sessões técnicas,
tróleo (Onip), neste ano foram realizados o pilar dessa edição foi o tema “Integrida-
550 encontros com a participação de 98 de: Quando você deve se preocupar?”. As

288 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

palestras trouxeram conhecimento técnico para embarcações, apresentou sua tecnolo-


em perfuração, completação e reservatório. gia Gas Reformer, que utiliza gases deriva-
Entre as novidades apresentadas durante dos da exploração de petróleo como fonte
a exposição, a ABB, líder em tecnologias de energia autossustentável para a operação
de energia e automação, exibiu um sis- offshore. A empresa recebeu prêmio na
tema interativo para demonstração, em OTC, conferência realizada no início de
360 graus, do sistema de propulsão diesel maio, em Houston (EUA), como um dos
elétrico. Os participantes puderam, assim, destaques do ano (Spotlight Award).
conhecer o funcionamento interno de cada A primeira plataforma equipada com a
tipo de navio, como, por exemplo, navios- solução começou a ser construída em 2012,
sonda e cruzeiro e um barco de apoio. Outra na China. A multinacional finlandesa, que
novidade da empre- atua no Brasil há 23
sa foi um kit portátil anos, tem no País uma
de demonstração das base instalada com
funcionalidades de capacidade superior
um sistema de auto- a 800 MW, em mais
mação elétrica e ge- de 200 navios e em-
renciamento de cargas barcações. A empresa
(PMS). Com auxílio anunciou, em março, a
dessa ferramenta, foi construção de uma fá-
possível explicar aos brica no Superporto do
visitantes os principais benefícios desse Açu (RJ), para acompanhar as exigências de
sistema, como a biblioteca especialmente conteúdo local e atender à crescente deman-
desenvolvida para PMS, que realiza o da do setor, sobretudo na indústria offshore.
controle dedicado para descarte de cargas, A próxima edição da Brasil Offshore,
controle de geração e controle de potência em 2015, também será realizada em Macaé.
ativa e reativa. (Fontes: Kreab Gavina Anderson Worl-
Já a Wärtsilä, líder global no forneci- dwide, Approach Comunicação Integrada
mento de motores e prestação de serviços e www.g1.globo.com)

InfraPortos South America –


INVESTIMENTOS EM NOVOS TERMINAIS PRIVADOS

Os recentes aportes financeiros anun- do Sul dedicada a tecnologia e equipamen-


ciados pelo governo federal e a aprovação tos para portos e terminais, que acontecerá
da Lei dos Portos caminham no sentido de entre 22 e 24 de outubro, em Santos (SP).
integrar os modais ferroviário, rodoviário O pesquisador Carlos Campos, do
e aquaviário em torno de um propósito co- Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
mum: o ganho de fluência no transporte de (Ipea), participará do painel de abertura da
cargas. Esta e outras questões do universo InfraPortos, no qual debaterá os “Novos
da infraestrutura e operação portuárias Investimentos e Planos de Expansão dos
estarão em discussão durante a InfraPortos Terminais”. Conforme sua análise, a ten-
South America, primeira feira na América dência é que a fronteira portuária agrícola

RMB3oT/2013 289
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

do País caminhe para a Região Norte com e legislação e eficiência portuária. Também
a conclusão da BR-163, distribuindo me- serão discutidas a nova Lei – MP 612, as
lhor a demanda proveniente dos estados novas concessões, segurança e automação.
produtores de soja, milho e açúcar, que A InfraPortos South America conta com
atualmente escoam a produção pelos portos o apoio da Associação Brasileira de Ter-
de Santos (SP) e de Paranaguá (PR). minais e Recintos Alfandegados (Abtra),
A primeira edição da InfraPortos South da Associação Brasileira dos Terminais
America – Feira e Conferência Internacio- Retroportuários e das Empresas Transpor-
nal sobre Tecnologia e Equipamentos para tadoras de Contêineres (ABTTC), da Asso-
Portos e Terminais reunirá cerca de 50 ciação Brasileira dos Terminais Portuários
empresas dedicadas a desenvolver soluções (ABTP), do Sindicato Nacional das Em-
em equipamentos e serviços para a ativida- presas de Transporte e Movimentação de
de portuária em geral. Em paralelo à feira, a Cargas Pesadas e Excepcionais (Sindipesa)
UBM Brazil também organiza conferências e da Associação Brasileira da Indústria de
para os profissionais do setor, que aborda- Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
rão temáticas relacionadas a infraestrutura, (Fonte: Conteúdo Empresarial – Comu-
construção e investimentos, meio ambiente nicação Integrada)

NAVALSHORE 2013

Um público de 17.314 pessoas e mais de das estratégias de gestão e produção na


350 marcas de 16 países reuniram-se durante área e a 2a Conferência WorkBoat South
três dias (de 13 a 15 de agosto último) no America, com a descrição de casos práticos
Centro de Exposições SulAmérica, no Rio sobre setor de apoio marítimo.
de Janeiro (RJ), na 10a edição da Naval- Conforme o balanço da Navalshore
shore (Marintec South America) – Feira e 2013, a indústria naval e offshore brasileira
Conferência da Indústria Naval e Offshore quer ocupar um novo espaço no mapa-
2013. Durante o evento, foram apresentadas múndi do setor. A retomada dos investi-
as novidades em produtos e serviços para mentos, impulsionada pelas encomendas
construção e reparo naval, equipamentos e da Petrobras previstas até 2020, criou um
suprimentos para estaleiros, além de solu- cenário promissor para os estaleiros e para
ções para o setor de petróleo e gás. a cadeia de serviços e suprimentos. A meta
Paralelamente à Feira, aconteceram a 2a agora é concretizar um mercado sustentável
Série de Workshops Técnicos, ministrados a longo prazo e fortalecer a competitividade
por experts do setor, para aprimoramento global das empresas nacionais.

290 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Para o diretor da UBM Brazil (promo- principais fabricantes de especialidades


tora da Feira), Joris Van Wijk, o próprio químicas, também esteve presente ao
perfil da Navalshore reflete este ambiente evento, por meio de sua marca Interna-
positivo do segmento: “O interesse do tional Paint. A empresa apresentou ao
mercado internacional na indústria naval público soluções sustentáveis e produtos
brasileira vem crescendo, visto que tivemos que não agridem o meio ambiente da nova
11 pavilhões internacionais (Argentina, Ja- linha de produtos “Eco Premium”, como
pão, China, Espanha, Suécia, Coreia do Sul, as tintas anticorrosivas de proteção ma-
EUA, Itália, Noruega, Canadá e Holanda) rítima. Um dos produtos foi o Intersleek
no evento. Além disso, é importante des- 1100SR, revestimento de controle de
tacar a participação de pequenos, médios e incrustações, isento de biocidas, ou seja,
grandes estaleiros brasileiros, o que mostra sem a necessidade de liberação de mate-
o desenvolvimento do setor”. rial químico ao meio ambiente marinho
Entre as novidades apresentadas na Na- e que proporciona redução na emissão de
valshore, estava o portifólio de sistemas de dióxido de carbono. O produto também
propulsão da ZF Propulsão Marítima, capaz permite uma economia de até 9% no con-
de atender às exigências das operações do sumo de combustível e dura até dez anos
setor, com destaque para os reversores marí- mais do que os produtos convencionais.
timos que podem ser utilizados em conjunto A próxima edição da Navalshore, em
com sistema de posicionamento dinâmico 2014, acontecerá nos dias 12, 13 e 14 de
(GPS), uma característica essencial para as agosto, também no Centro de Convenções
operações offshore na costa brasileira. SulAmérica.
A AkzoNobel, maior empresa do mun- (Fontes: www.ubmnavalshore.com.br,
do em tintas e revestimentos e uma das MM Editorial e Paula Pedroso Comunicação)

MARINHA PARTICIPA DA 65a REUNIÃO ANUAL DA SBPC

A Marinha do Brasil (MB) esteve presente, nambuco (UFPE), em Recife. O evento tem
em 21 de julho último, na abertura da 65a Reu- como propósito mostrar aos participantes o
nião da Sociedade Brasileira para o Progresso panorama atual da ciência no Brasil.
da Ciência (SBPC), realizada no Centro de Coordenada pela professora doutora He-
Convenções da Universidade Federal de Per- lena Nader, a SPBC contou com expressiva
participação de autoridades da comunidade
científica brasileira, entre elas o ministro de
Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação,
Marco Antonio Raupp; o secretário de Ci-
ência, Tecnologia e Inovação da Marinha,
Almirante de Esquadra Wilson Barbosa
Guerra; e o presidente do Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnoló-
gico (CNPQ), Glaucius Oliva.
Na ocasião, o Ministro Raupp ressaltou
a importância da parceria com a Marinha e
Autoridades na SBPC
destacou que a ciência é o caminho para o

RMB3oT/2013 291
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

desenvolvimento sustentável do País, com da que é visível que a sociedade tenha uma
parcerias não só entre as instituições públicas grande expectativa com relação ao desenvol-
e centros de pesquisa, mas também com as vimento científico e tecnológico do Brasil.
organizações privadas. O ministro disse ain- (Fonte: www.mar.mil.br)

REUNIÃO DE DIRETORES-GERAIS DE PESSOAL E


ENSINO DAS FORÇAS ARMADAS

Os diretores-gerais das áreas de Pessoal Navais, Almirante de Esquadra (FN) Fer-


e Ensino das Forças Armadas reuniram- nando Antônio de Siqueira Ribeiro.
se, em 22 de maio último, na Diretoria Do Exército Brasileiro, estiveram pre-
do Pessoal Civil da Marinha, em evento sentes o chefe do Departamento de Ciência
semestral, com o objetivo de dar sequ- e Tecnologia, General de Exército Sinclair
ência aos assuntos James Mayer; o chefe
tratados e abrir novas do Departamento de
discussões correlatas Educação e Cultura,
às áreas em questão. General de Exército
A reunião foi pre- Ueliton José Monte-
sidida pelo secretário zano Vaz; e o chefe do
de Pessoal, Ensino, Departamento-Geral
Saúde e Desporto do do Pessoal, General de
Ministério da Defesa, Exército Sergio Wes-
Almirante de Esqua- tphalen Etchegoyen.
dra (Refo) Julio Sa- Reunião de diretores-gerais Representaram a
boya de Araújo Jor- Força Aérea Brasi-
ge. Na pauta, foram abordados assuntos leira o diretor-geral do Departamento
atinentes às áreas de Pessoal e Ensino das de Ciência e Tecnologia Aeroespacial,
Forças Armadas. Tenente-Brigadeiro do Ar Ailton dos
Representando a Marinha do Brasil, Santos Pohlmann; o comandante-geral do
participaram o comandante da Escola Pessoal, Tenente-Brigadeiro do Ar Luiz
Superior de Guerra, Almirante de Es- Carlos Terciotti; e o diretor-geral do De-
quadra Eduardo Bacellar Leal Ferreira; o partamento de Ensino, Tenente-Brigadeiro
diretor-geral do Pessoal da Marinha, Almi- do Ar Dirceu Tondolo Nôro.
rante de Esquadra Elis Treidler Öberg; e o (Fonte: Diretoria do Pessoal Civil da
comandante-geral do Corpo de Fuzileiros Marinha)

SEMINÁRIO BRASIL PORTUGAL

Foi realizado de 2 a 4 de abril último, no de Letras (ABL) e professores universitários,


Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro que discutiram temas históricos e literários
(IHGB), na cidade do Rio de Janeiro, o ligados aos dois países em questão.
Seminário Brasil Portugal. Participaram O evento foi aberto pela presidente da
membros do IHGB e da Academia Brasileira Academia Portuguesa da História, Manuela

292 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Mendonça, que proferiu a conferência “Pervivência do direito português no Brasil”,


“Pero Vaz de Caminha – o primeiro portu- por Ricardo Fonseca; “A Língua Portuguesa
guês que escreveu sobre o Brasil”. Os temas no Brasil: permanências e mudanças”, por
foram apresentados divididos Evanildo Bechara; “A realidade
em duas sessões diárias, nos três linguageira no Brasil nos tempos
dias de trabalho. coloniais”, por Domício Proença
Foram as seguintes confe- Filho; “José de Alencar e um pro-
rências apresentadas, seguidas jeto de Brasil”, por João Cezar
de debates: “Mareantes e car- de Castro Rocha; “Os lusodes-
tógrafos: o Brasil nos mapas cendentes de Antonio Sérgio”,
portugueses do século XVI”, por por Alberto da Costa e Silva;
Fernando Lourenço Fernandes; “Professores portugueses na
“O poder naval português como Bahia”, por Edivaldo M. Boaven-
origem da Marinha do Brasil”, tura; “Relações luso-brasileiras:
pelo Vice-Almirante Armando 1889-1928”, por Antonio Celso
de Senna Bittencourt; “A ação A. Pereira; “Brasil e Portugal:
militar de Portugal na preser- distanciamentos e aproximações.
vação das terras do Brasil”, por O fim do Império e a promessa da
Guilherme de Andrea Frota; “O Europa”, por Marcos Castrioto
espírito militar português na Azambuja; “Brasileiros nos ex-
formação histórica do Exército tremos orientais do Império”, por
Brasileiro”, por Jonas de M. Seminário Brasil Portugal Carlos F. Moura; “Por uma nova
Correia Neto; “Estruturas agrá- Lusitânia: o projeto da revista
rias Portugal e Brasil século XIX”, por José Atlântida (1915-1920)”, por Lucia M. P.
Arthur Rios; “Os portugueses e os ‘outros’ Guimarães; “A música no Rio de Janeiro no
no Rio de Janeiro – relações socieconômi- tempo de D. João”, por Vasco Mariz; “Li-
cas dos lusos com os nacionais e demais vreiros portugueses e brasileiros: relações
imigrantes – (1890-1920)”, por Ismenia atlânticas através de impressos”, por Tânia
Martins; “Linguagens do Liberalismo em Bessone; “Profissionais portugueses na
Portugal e no Brasil”, por Lucia Bastos; “Da arquitetura religiosa do Brasil setecentista”,
Casa da Suplicação ao Supremo Tribunal de por Myriam Ribeiro; “Azulejos e espaços
Justiça – continuidade e ruptura da justiça religiosos portugueses em terras brasileiras”,
portuguesa no Brasil”, por Arno Wehling; por Dora Alcântara.

1o WORKSHOP DE SENSORIAMENTO REMOTO


PARA INTELIGÊNCIA & DEFESA
A Subchefia de Inteligência Operacio- to reuniu representantes do Ministério da
nal, da Chefia de Operações Conjuntas Defesa, das Forças Singulares, da Agência
do Ministério da Defesa, promoveu em Brasileira de Inteligência, do Instituto
2 e 3 de julho, em Brasília (DF), o 1o Nacional de Pesquisas Espaciais e do
Workshop de Sensoriamento Remoto para Conselho Gestor e Operacional do Sistema
Inteligência & Defesa, em parceria com as de Proteção da Amazônia (Censipam) para
empresas Astrium e Space Image. O even- debater a importância de se buscar formas

RMB3oT/2013 293
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

seguras e oportunas na obtenção de ima- qualquer parte da superfície terrestre. Essa


gens para utilização como conhecimento atividade vem crescendo em importância
na área de inteligência. no meio militar, particularmente em apoio
O imageamento da Terra por meio de às atividades de inteligência.
sensores orbitais possibilita a obtenção de O workshop constituiu-se em oportu-
informações sobre alvos de interesse, em nidade singular de reunir, em um único
fórum, os principais especialistas dos
diversos órgãos do Estado brasileiro
voltados para o setor, que tiveram
contato com as mais novas tecnologias
para sensoriamento remoto, gerando
expectativa para o desenvolvimento da
atividade de inteligência de imagens no
âmbito da defesa.
Autoridades participantes do workshop (Fonte: www.mar.mil.br)

SECRETARIA DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO


PROMOVE III SIMPÓSIO CT&I
Sob organização e coordenação da
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ino-
vação da Marinha, foi realizado, de 25 a
27 de setembro, o III Simpósio de Ciência,
Tecnologia e Inovação da Marinha, com o
tema “A Fronteira do Conhecimento para
a Conquista do Mar”. O evento aconteceu
na Expansão do Centro de Pesquisas da Pe-
trobras (Cenpes), no Centro de Convenções navegações a serem realizadas com o propó-
Antônio Seabra Moggi, Rio de Janeiro (RJ). sito de assegurar as riquezas da “Amazônia
O simpósio teve como propósitos apro- Azul” para as futuras gerações de brasileiros.
fundar e ampliar os debates sobre áreas de Além de cinco painéis com palestras, o
conhecimento ligadas às ciências do mar, evento contou com debates acerca de assun-
apresentar o estado da arte no desenvolvi- tos relacionados à ciência e à tecnologia.
mento científico-tecnológico e sinalizar as (Fonte: www.mar.mil.br)

CIAW RECEBE O DIRETOR DA RMB


Os oficiais-alunos do Curso de Forma- (CIAW), Rio de Janeiro (RJ). Em palestra
ção de Oficiais (CFO) foram apresentados ministrada pelo diretor da publicação, fo-
à Revista Marítima Brasileira (RMB) em ram expostas as características da revista,
28 de maio último, no Auditório do Cen- além de edições anteriores, suas seções e
tro de Instrução Almirante Wandenkolk a logística de distribuição.

294 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A palestra faz parte das apresentações desde 1851, sendo editada trimestralmente
que são feitas anualmente na Escola Naval, pela Diretoria do Patrimônio Histórico e
para os aspirantes do 1o ano, e no CIAW, Documentação da Marinha (DPHDM).
para os oficiais-alunos dos cursos de Escritos por colaboradores, os artigos
formação. Todos que assistem à palestra enviados podem ser de autoria de civis
recebem um exemplar e, gratuitamente, as ou militares e, para publicação, precisam
edições do ano. tratar de assuntos de interesse marítimo e
A Revista Marítima Brasileira é uma ser aprovados pelo Corpo Editorial.
publicação oficial da Marinha do Brasil (Fonte: www.mar.mil.br)

CRIAÇÃO DO PROGRAMA DE
PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS MARÍTIMOS
O Conselho Técnico-Científico do Ensino homem com os espaços marítimos e as
Superior (CTC), órgão máximo de avaliação águas interiores. O Programa criado se
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pes- estrutura em torno da área de concentração
soal de Nível Superior do Ministério da Edu- “Segurança, Defesa e Estratégia Marítima”,
cação (Capes-MEC), homologou, em 16 de contando com três Linhas de Pesquisa:
julho último, a criação do Programa de Pós- I – Política e Estratégia Marítimas; II –
Graduação em Estudos Marítimos (PPGEM), Regulação do uso do mar e Cenarização;
em nível de Mestrado Profissional (stricto e III – Ciência, Tecnologia & Inovação e
sensu), a ser ministrado na Escola de Guerra Poder Marítimo.
Naval (EGN). O novo curso passa a integrar o Assim como os demais cursos de pós-
Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG), graduação ministrados em instituições civis
a ser regularmente acompanhado e avaliado (extra-MB), o PPGEM terá duração de dois
por aquela Coordenação. anos letivos, para civis e militares. O ano
Os Estudos Marítimos conformam um letivo do novo programa terá início em
campo acadêmico interdisciplinar que 2014, ano do centenário da EGN.
abrange as relações políticas e sociais do (Fonte: Bono no 608, de 27/8/2013)

CURSO GESTÃO ARQUIVÍSTICA DE DOCUMENTOS

A Diretoria do Patrimônio Histórico e para identificar e empregar os conceitos


Documentação da Marinha (DPHDM) rea- de Gestão Arquivística (um conjunto
lizou, de 22 a 24 de maio último, no Centro de medidas e rotinas em criação, manu-
de Adestramento Almirante Newton Braga tenção, uso, avaliação e destinação final
(CAANB), na cidade do Rio de Janeiro, o dos documentos de arquivo). No Brasil,
curso Gestão Arquivística de Documentos. tais procedimentos são regidos pela Lei
Participaram oficiais, praças e servidores no 8.159, de 8 de janeiro de 1991, e, na
civis da Marinha e do Ministério da Defesa. Marinha, pelo Capítulo VI da SGM-105
O curso teve por propósito a capa- (Nodam).
citação de militares e servidores civis (Fonte: Bono no 494, de 10/7/2013)

RMB3oT/2013 295
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

MARINHA MINISTRA CURSO ESPECIAL PARA O BOPE


A Capitania dos Portos Rio de Janeiro do Estado na navegação interior, de acordo
encerrou, em 24 de maio último, o Curso com as Normas da Autoridade Marítima.
para Tripulação de Embarcações de Estado (Fonte: www.mar.mil.br)
no Serviço Público (ETSP), ministrado
para 30 policiais militares do Batalhão de
Operações Especiais do Estado do Rio de
Janeiro (Bope-RJ).
Durante o curso, os alunos tiveram aulas
de marinharia básica, estabilidade e nave-
gação, noções de legislação aquaviária,
meteorologia, sobrevivência no mar, ma-
nutenção de motores, sinalização náutica
e comunicações navais, além de exercícios
de condução de embarcações. Com a con-
clusão do ETSP, os militares ficaram habi- Turma de policiais militares recém-formada,
litados a conduzir ou tripular embarcações com o instrutor, Suboficial Cristian

MARINHEIRA SARAH MENEZES


É BRONZE EM MUNDIAL DE JUDÔ

Com um ippon no último segundo, a mundial de judô os seguintes militares da


Marinheira (MN) (RM2-EP) Sarah Menezes MB (todos MN–RM2-EP) como compo-
conquistou medalha de bronze no 1o dia do nentes da equipe brasileira:
Campeonato Mundial de Judô Rio-2013, – Categoria individual feminina
após vencer a norte- 52 kg - MN Erika
coreana Sol Mi Kim, na de Souza Miranda;
categoria até 48 kg. A 57 kg - MN Ke-
competição, realizada tleyn Lima Quadros;
no Rio de Janeiro (RJ) 63 kg - MN Kathe-
de 26 de agosto a 1o rine Stephanie Cam-
de setembro, no Giná- pos de Morais;
sio do Maracanãzinho, 70 kg - MN Maria
foi o ponto de largada de Lourdes Mazzoleni
olímpico dos grandes Portela;
MN Sarah Menezes: primeira judoca do Brasil a
eventos no Brasil rumo conquistar uma medalha no Mundial de Judô Rio-2013 78 kg - MN Mayra
aos Jogos Rio-2016. Aguiar da Silva; e
A Marinha do Brasil (MB), por meio +78 kg - MN Maria Suelen Altheman.
do Centro de Educação Física Almirante – Categoria individual masculina
Adalberto Nunes (Cefan) e do Projeto 73 kg - MN Bruno Mendonça Silva.
Olímpico Marinha-Odebrecht, apoia atletas – Categoria equipe feminina
brasileiros de alto desempenho. Além da 70 kg - MN Barbara Chianca Timo.
MN Sarah Menezes, participaram deste (Fonte: www.mar.mil.br)

296 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

RESULTADOS ESPORTIVOS

9 o CAMPEONATO MUNDIAL DE e Cabo (FN-IF) Alexsandro Barreto – me-


PENTATLO NAVAL DO CONSELHO lhor marca mundial na prova de Habilida-
INTERNACIONAL DO DESPORTO de Naval (tempo de 3, 17 seg).
MILITAR (CISM) Resultados oficiais da competição:
A competição, realizada no Centro de – Individuais: Feminino – 1o lugar - MN
Educação Física Almirante Adalberto Nu- Simone Lima; 2o - CB Cecilia Sjöholm, da
nes (Cefan) na cidade do Rio de Janeiro, de Suécia (6.038); e 3o - SG Jenna Säkkinen,
11 a 15 de julho, contou com a participação da Finlândia (5.985). Masculino – 1o lugar
de delegações de 12 países. - SO Matthias Weseman, da Alemanha
Destacaram-se os seguintes atletas da (6.237 pontos); 2o - Aspirante Lars Ekman,
Marinha do Brasil: Marinheira (RM2-EP) da Suécia (6.204); e 3o - SO Giacomo Gel-
Simone Lima – melhor marca mundial na lert, da Alemanha (6.176).
prova de Natação de Salvamento (tempo – Por equipe: Feminina – 1o lugar - Bra-
de 54,7 seg), melhor marca mundial na sil (12.142 pontos); 2o - Finlândia (11.947);
prova de Natação Utilitária (50,7 seg) e 3o - Suécia (11.711). Masculina – 1o lugar
e melhor pontuação geral no Individual - Polônia (24.564 pontos); 2o - Alemanha
Feminino, com a marca de 6.227 pontos; (24.472); e 3o - Brasil (24.166).

COMANDANTE DA MARINHA ACOMPANHA VOO


EXPERIMENTAL DO SKYHAWK AF-1B MODERNIZADO
O comandante da Marinha, Almirante Zampronio; do chefe do Gabinete do
de Esquadra Julio Soares de Moura Neto, Comandante da Marinha, Vice-Almirante
acompanhou, em 13 de agosto último, o Celso Luiz Nazareth; do comandante da
primeiro voo experimental da aeronave Força Aeronaval, Contra-Almirante Car-
Skyhawk AF-1B mo- los Alberto Matias; do
dernizada. O evento diretor de Aeronáutica
foi realizado nas ins- da Marinha, Contra-
talações da Embraer Almirante Carlos Fre-
Defesa & Segurança, derico Carneiro Primo;
na cidade de Gavião e do coordenador do
Peixoto, interior de Programa de Reapare-
São Paulo. lhamento da Marinha,
A cerimônia, que Contra-Almirante Pe-
foi presidida pelo pre- Protótipo modernizado Skyhawk AF-1B
tronio Augusto Siquei-
sidente da Embraer, ra de Aguiar; entre
Luiz Carlos Aguiar, contou também com outras autoridades.
a presença do comandante em chefe da A aeronave AF-1B é classificada como
Esquadra, Vice-Almirante Sérgio Roberto de interceptação e ataque e foi desenvolvida
Fernandes dos Santos; do comandante do para operação a partir de navio-aeródromo.
8o Distrito Naval, Vice-Almirante Liseo Com o processo de modernização execu-

RMB3oT/2013 297
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

tado pela Embraer, as aeronaves receberão seus meios integrados aos últimos avanços
novos sistemas de navegação e de geração tecnológicos.
de energia, armamentos, computadores e Este programa é resultado da parceria en-
sensores. Tais equi- tre Marinha e Embraer
pamentos, aliados à e vem sendo conduzi-
verificação estrutural do desde abril de 2009,
realizada, possibilita- visando contribuir para
rão ao AF-1B operar o desenvolvimento da
até o ano de 2025. Indústria Nacional de
O AF-1B moderni- Defesa. A entrega das
zado passou por uma primeiras aeronaves
série de testes em voo, modernizadas está pre-
iniciada em 17 de julho vista para março de
último nas instalações 2014, e o recebimen-
Comandante da Marinha (em pé, ao centro)
da Embraer, visando acompanhado de civis e militares to dos novos meios
à sua prontificação. O agregará significativo
Programa de Modernização das Aeronaves incremento na capacidade operativa do
é um dos muitos projetos realizados pela Poder Naval.
Marinha do Brasil com intuito de manter (Fonte: www.mar.mil.br)

ENCERRADA A QUALIFICAÇÃO DAS AERONAVES MH-16

Foi encerrado, em 5 de junho último, horas de voo, sendo estas divididas em voos
o período de qualificação das novas ae- de familiarização, IV, PTM, carga externa,
ronaves MH-16, conduzido pela empresa missões anti-submarinos (ASW) noturno e
Sikorsky e iniciado em 7 de agosto de diurno, pouso a bordo, exercício de reabas-
2012. Com o término desta etapa, aviadores tecimento em voo (HIFR) e atividade de
navais, operadores de sensores e mecânicos busca e salvamento (SAR) diurna e noturna.
tornaram-se capacitados a operar e realizar (Fonte: www.mar.mil.br)
a manutenção dos novos meios, dando
continuidade ao processo de aquisição de
experiência e transmissão dos conhecimen-
tos aos demais militares do 1o Esquadrão de
Helicópteros Anti-Submarinos.
Durante o período de qualificação,
foram realizados adestramentos teóricos
e práticos para oito aviadores navais, 55
mecânicos e oito operadores de sensores.
Foram qualificados oito oficiais como Pilo-
tos Qualificados no Modelo (PQM), sendo
que os quatro aviadores mais experientes
também se qualificaram em Instrutores de
Voo (IV) e Pilotos de Teste de Manutenção
(PTM). Foi cumprido um total de 577,2 Aeronave MH-16

298 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

PRIMEIRO POUSO DE AERONAVE MH-16 SEAHAWK A


BORDO DO NAe SÃO PAULO

Foi realizado, em 10 de julho último, ficativa evolução às capacidades operati-


o primeiro pouso da aeronave MH-16 vas da Marinha do Brasil (MB). A bordo
Seahawk no convoo do Navio-Aeródro- do NAe São Paulo, os MH-16 poderão
mo São Paulo. A ser empregados em
aeronave Guerrei- tarefas de detecção,
ro N-3034 realizou localização, acom-
adestramentos de panhamento e ata-
Qualificação e Re- que a submarinos e
qualificação de Pou- alvos de superfície,
sos a Bordo (QRPB) ou em outras tarefas,
e contribuiu para o como transporte de
exercício Atraquex, tropas, evacuação
que estava ocor- aeromédica, busca e
rendo no NAe São salvamento, huma-
Paulo, com toda a tripulação em regime nitárias e espotagem de tiro torpédico ou
de viagem, para adestramentos internos. de foguetes, contribuindo para a defesa da
As aeronaves MH-16 Seahawk, pelas “Amazônia Azul”.
suas características, conferem uma signi- (Fonte: www.mar.mil.br)

AMRJ ENTREGA A TERCEIRA EDVM

O Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro calado carregado de 1,4 m; e capacidade


(AMRJ) entregou ao Setor Operativo, em para transportar 72 t de carga, podendo ser
28 de março último, a Embarcação de De- também aplicada no transporte de até 80
sembarque de Viaturas e Material (EDVM) homens e 32 t de carga.
Cataguazes. A cerimônia de entrega (Fonte: Bono no 370, de 28/5/2003)
aconteceu no Cais Sul
Interno do AMRJ.
A EDVM Catagua-
zes, terceira embarca-
ção de uma série de
cinco, representa mais
uma etapa do processo
de implantação da tec-
nologia de construção
orientada à produção,
no âmbito da Marinha.
Possui 21,81metros
de comprimento; 6,39
m de boca moldada; EDVM Cataguazes

RMB3oT/2013 299
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

ENTREGA DA EDVM COMANDATUBA

Foi realizada, em 26 de agosto último, no também aplicada no transporte de até 80


Cais Sul Interno do Arsenal de Marinha do homens e 32 t de carga.
Rio de Janeiro, a Cerimônia de Entrega da (Fonte: Bono no 603, de 26/8/13)
Embarcação de Desembarque de Viaturas e
Material (EDVM) Comandatuba ao Setor
Operativo. A Comandatuba, quarta em-
barcação de uma série de cinco, representa
mais uma etapa do processo de implantação
da tecnologia de construção orientada à
produção, no âmbito da Marinha.
A nova EDVM possui 21,81 m de com-
primento; 6,39 m de boca moldada; calado
carregado de 1,4 m e capacidade para trans-
portar 72 toneladas de carga, podendo ser EDVM Comandatuba

MB TRANSPORTA CRUZ DA
JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

A Marinha do Brasil realizou, em 14 de


julho último, o transporte da cruz da Jornada
Mundial da Juventude (JMJ), do ícone de
Nossa Senhora e do arcebispo do Rio de
Janeiro, Dom Orani João Tempesta, além de
outros sacerdotes da Arquidiocese do Rio de
Janeiro, na preparação para a JMJ – realizada
de 23 a 28 do mesmo mês, com a presença EDVM apoia a peregrinação do ícone de Nossa
do Papa Francisco. A representação, com Senhora e da cruz da JMJ
destino à Igreja Senhor do Bom Jesus do
Naval (RJ) e seguiu em duas Embarcações
Monte, saiu do Comando do 1o Distrito
de Desembarque de Viaturas e Materiais
(EDVM) até a Rua dos Tamoios, na Ilha
de Paquetá, onde o arcebispo celebrou uma
missa. Logo após, o ícone de Nossa Senhora
e a cruz saíram em procissão.
As EDVM são normalmente empregadas
na transferência de tropas e equipamentos
entre navio e terra, em operações com mer-
gulhadores de combate, recolhimento de
náufragos, reparo de outras embarcações e no
apoio a navios em operações de salvamento.
Dom Orani Tempesta e a cruz da JMJ (Fonte: www.mar.mil.br)

300 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

SAbM INCORPORA A CTOC GARÇA


Foi recebida pelo Depósito de Combus- (SAbM) possibilitará o incremento da
tíveis da Marinha no Rio de Janeiro (Dep- capacidade operativa do DepCMRJ nas
CMRJ), em 27 de junho último, a Chata para fainas de abastecimento de combustível
Transporte de Óleo Combustível (CTOC) aos meios navais, com maior rapidez,
Garça. Esta é a terceira de uma série de quatro segurança operacional e preservação do
embarcações contratadas pela Diretoria de meio ambiente.
Engenharia Naval (DEN) junto ao Estaleiro (Fonte: Bono no 460, de 28/6/2013)
B3 Boat Indústria de Embarcações Ltda.
Construída em Salvador (BA) a partir
de requisitos técnicos de projeto e de de-
sempenho elaborados pela DEN, a nova
embarcação, que possui casco duplo, em
atendimento às normas ambientais, trans-
porta até 400.000 litros de combustível
e tem comprimento de 36 metros e boca
moldada de 10 metros.
A incorporação da CTOC Garça ao
Sistema de Abastecimento da Marinha CTOC Garça

BATALHÃO DE CONTROLE AEROTÁTICO E DEFESA


ANTIAÉREA REALIZA EXERCÍCIO OPERATIVO

O Batalhão de Controle Aerotático e Defe- da Força de Fuzileiros da Esquadra, é reali-


sa Antiaérea realizou, entre os dias 13 e 17 de zado anualmente e tem o propósito de veri-
maio último, em Arraial do Cabo e São Pedro ficar o desempenho do Míssil Superfície-Ar
da Aldeia (RJ), Exercício Operativo de Veri- Mistral e do Canhão Automático Antiaéreo
ficação das Armas Antiaéreas (Exop-AAe). 40 mm L/70 BOFI-R.
O exercício, que faz parte do Programa O evento contou com a participação de
Integrado de Adestramento e Monitoração três aeronaves – um helicóptero UH-14
do Desempenho e Aprestamento (Piama) Super Puma e um helicóptero UH-15 Super
Cougar, ambas do 2o Esquadrão de Heli-
cópteros de Emprego Geral (EsqdHU-2), e
um avião AF-1A do 1o Esquadrão de Avi-
ões de Interceptação e Ataque (EsqdVF-1)
–, além do apoio do Instituto de Estudos do
Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM).
O exercício contribuiu, ainda, para o ades-
tramento para a Companhia de Controle
Aerotático (CiaCtAetat), na medida em
que os militares realizaram o controle das
Batalhão de Controle Aerotático e Defesa Antiaérea aeronaves durante o voo.
em exercício operativo (Fonte: www.mar.mil.br)

RMB3oT/2013 301
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

SUBMARINO TAPAJÓ LANÇA TORPEDOS


EM ÁGUAS AMERICANAS

O Submarino Tapajó esteve em águas acompanhamento cinemático dos meios


americanas realizando a Operação De- e do torpedo.
ployment, juntamente com a Marinha Esta foi a primeira vez que a Marinha do
dos Estados Unidos, no período de 25 Brasil participou de um exercício com lan-
de fevereiro a 18 de setembro último. çamento de torpedos MK-48 em águas inter-
Valendo-se da oportunidade, em 5 de nacionais, em uma operação que congregou
maio, o Tapajó realizou com sucesso dois esforços da Força de Submarinos, dos Setores
lançamentos de torpedos de exercício do Abastecimento e do Material, contribuindo
MK-48 Mod 6AT na raia da Marinha para aperfeiçoar o aprestamento no emprego
norte-americana localizada em Andros dessa arma e de seu respectivo Sistema de
Island, Bahamas (Atlantic Undersea Combate (AN BYG 501 Mod 1D).
Test & Evaluation Center – Autec), com (Fonte: Bono no 459, de 27 de junho
monitoração completa dos lançamentos e de 2013)

CENTRO CONJUNTO DE OPERAÇÕES DE PAZ DO BRASIL


CONDUZ CURSO DE PROTEÇÃO DE CIVIS

O Centro Conjunto de Operações de passado. Na ocasião, ficou estabelecido, entre


Paz do Brasil (CCOPAB) conduziu, de outras coisas, que cada país faria um curso
22 a 26 de julho, o Curso de Proteção de Proteção de Civis, seguindo-se a ordem
de Civis (POC), nas alfabética. Atendendo
instalações do Espa- a essa determinação, a
ço Cultural Sergio Argentina organizou
Vieira de Mello, no e conduziu o primeiro
Rio de Janeiro (RJ). curso, no ano de 2012,
O curso teve como ficando o Brasil com a
propósito difundir o incumbência de organi-
material disponibili- zar o segundo, em 2013.
zado pelo Serviço de Participam inte-
Treinamento Integra- grantes dos países-
do (ITS), bem como membros da Alcopaz
promover melhor Participantes do curso – Argentina, Brasil,
conscientização da Chile, Equador, Para-
necessidade de proteger civis e desenvolver guai e Uruguai. No primeiro dia do curso,
e proporcionar discussões sobre as manei- o comandante do CCOPAB, Coronel Ba-
ras de como atingir essa meta. ganha, fez a abertura oficial, apresentando
A operacionalização do POC foi determi- as atividades desenvolvidas pelo Centro.
nada na reunião anual da La Asociación La- Foram os seguintes os temas abordados
tinoamericana de Centros de Entrenamiento no primeiro dia do evento: “Introdução às
para Operaciones de Paz (Alcopaz), no ano Operações de Manutenção da Paz (OMP)
302 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

e das Nações Unidas”, “Princípios Funda- os Direitos Humanos em OMP”, “Mulher,


mentais das OMP”, “O Estabelecimento da Paz e Segurança e Proteção das Crianças”,
Implementação do Mandato”, “O funciona- e “Conduta e Disciplina”.
mento das OMP”, “As Leis Internacionais e (Fonte: www.mar.mil.br)

ESTÁGIO DE PREPARAÇÃO PARA MISSÕES DE PAZ

Foi realizada, de 27 de maio a 21 de adjacências, ambos localizados no Rio de


junho últimos, a terceira fase do Estágio Janeiro (RJ).
de Preparação para Missões de Paz 2013- Com participação de três instrutores
2 (EPMP), no Centro de Nações Amigas, a
Conjunto de Opera- 3a fase contou com 26
ções de Paz do Brasil estagiários, sendo 20
(CCOPAB). O EPMP militares das Forças
capacita militares Armadas, cinco das Po-
para desempenhar as lícias Militares e um
missões de Oficiais de Angola. Eles foram
de Estado-Maior, Ob- distribuídos em três gru-
servadores Militares e pos: um constituído por
Policiais das Nações militares que desempe-
Alunos do Estágio de Preparação
Unidas (Unpol) nas para Missões de Paz 2013-2 nharão missões de staff
Operações de Manu- officer, outro integrado
tenção da Paz das Nações Unidas. O estágio por Observadores Militares e o último por po-
é ministrado em inglês e nele os alunos têm liciais militares que desempenharão a função
instruções teóricas e práticas no CCOPAB de policiais das Nações Unidas.
e no Campo de Instrução de Gericinó e (Fonte: www.mar.mil.br)

FRAGATA UNIÃO É O NOVO CAPITÂNIA DA FTM-UNIFIL

A Fragata União (F45) assumiu como


navio capitânia da Força-Tarefa Marítima
da Força Interina das Nações Unidas no
Líbano (FTM-Unifil), em 17 de julho últi-
mo. A cerimônia que marcou a substituição
da Fragata Constituição (F42) pela União
ocorreu no porto de Beirute, no Líbano. Na
mesma cerimônia, os militares que servi-
ram no Líbano nos últimos seis meses fo-
ram condecorados com a medalha da Unifil.
O evento contou com a participação de
representantes do Brasil no Líbano, como CF Garriga recebendo a bandeira da ONU das mãos
o Embaixador Affonso Emílio Alencastro do CA Leandro

RMB3oT/2013 303
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Massot; o deputy force commander da Uni- A F45 foi o primeiro navio a compor a
fil, General Patrick Phelan; e o comandante FTM-Unifil, em 2011. Sua missão será ba-
da Força-Tarefa Marítima da Força Interina seada em dois pilares: fomentar o adestra-
das Nações Unidas no Líbano, Contra- mento da Marinha libanesa e desenvolver
Almirante Joése de Andrade Bandeira ações marítimas que impeçam a entrada de
Leandro. Também estiveram presentes ofi- materiais relacionados a armamentos não
ciais do Ministério da Defesa, como o che- autorizados pelo governo daquele país. O
fe do Estado-Maior comandante da Fragata
Conjunto das Forças União, Capitão de Fra-
Armadas (EMCFA), gata Gustavo Calero
General de Exército Garriga Pires, revelou
José Carlos de Nardi; que 100% da tripula-
o chefe de Gabine- ção foi voluntária para
te do Estado-Maior servir no Líbano.
Conjunto, General de A Unifil foi criada
Divisão Roberto Se- pela Organização das
vero Ramos; o vice- Nações Unidas em
chefe de Operações 1978, com o objetivo
Bandeiras do Líbano, da ONU e do Brasil,
Conjuntas, General de respectivamente de manter a estabili-
Divisão Eduardo Jose dade durante a reti-
Barbosa; e o vice-chefe de Logística, Vice- rada das tropas israelenses do território
Almirante Paulo Mauricio Farias Alves. libanês, além de trabalhar na garantia da
Das Organizações Militares da Marinha paz internacional. Atualmente, possui
do Brasil (MB), estiveram presentes o um contingente de aproximadamente
comandante em chefe da Esquadra, Vice- 13.500 pessoas, entre militares e civis de
Almirante Sergio Roberto Fernandes dos mais de 30 países, inclusive o Brasil. A
Santos; o diretor do Centro de Comunica- FTM-Unifil, estabelecida em 2006, é a
ção Social da Marinha, Contra-Almirante primeira Força-Tarefa Marítima, criada
José Roberto Bueno Junior; e o subchefe para integrar uma Missão de Manutenção
do Comando de Operações Navais, Contra- de Paz da ONU.
Almirante Renato Batista de Melo. (Fonte: www.mar.mil.br)

4o DN REALIZA GRANDE OPERAÇÃO


NA REGIÃO DOS ESTREITOS

Foi realizada de 7 a 21 de julho último, Pará; e pelo Aviso de Patrulha Tucunaré,


no Rio Amazonas, a Operação Tucunaré V, subordinados ao Grupamento de Patrulha
que abrangeu a área entre Almeirim (PA) Naval do Norte.
e Santana (AP) e também a região dos es- Durante a operação, foram realizados
treitos, entre os municípios de Portel (PA) e levantamentos hidrográficos expeditos;
Melgaço (PA). Os trabalhos ficaram a cargo patrulha e inspeção naval; adestramentos
de um Grupo-Tarefa (GT) composto pelos com embarcações de transporte de tropa
Navios-Patrulha (NPa) Bocaina, Guana- de Fuzileiros Navais; Ações Cívico-Sociais
bara e Parati; pelo Navio-Auxiliar (NA) (Aciso); coberturas de eixo, em atenção à

304 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Campanha Nacional de Combate ao Escal- (Lesta); e 68 coberturas de eixo foram ins-


pelamento; e apoio ao Projeto Rondon, do taladas, como parte da Campanha Nacional
Ministério da Defesa. de Combate ao Escalpelamento. Foram reali-
Pela primeira vez, cerca de 2.500 pesso- zados também 1.746 atendimentos médicos,
as de aproximadamente 40 pequenas comu- 293 exames laboratoriais, 165 preventivos,
nidades situadas às margens dos rios Ana- 139 mamografias, 3.702 atendimentos
pu, Pacajá, Camaraipi odontológicos, e cerca
e Laguna receberam a de 600 atendimentos
visita e o atendimento referentes a serviços da
médico-odontológico Previdência Social, por
da Marinha do Brasil servidores do INSS. Fo-
(MB). Todas essas ram ainda distribuídos
comunidades são de 33.671 medicamentos
difícil acesso e com para 1.958 pessoas.
condições de precária Na ocasião, foram
saúde de suas popu- feitos levantamentos
lações. Balsa sendo abordada por hidrográficos expe-
Ao final da opera- navio da Marinha do Brasil ditos nos rios Anapu
ção, os seguintes re- e Camaraipi e confir-
sultados foram alcançados: 323 embarcações mados os levantamentos nos rios Pacajá
inspecionadas; quatro embarcações apreen- e Laguna, no Pará. Em decorrência desses
didas, das quais duas balsas, por transporte levantamentos, o NA Pará pôde adentrar
de madeira extraída ilegalmente; 16 embar- nos rios Camaraipi e Pacajá, nunca antes
cações notificadas, por descumprimento da navegados por navios da MB.
Lei de Segurança do Tráfego Aquaviário (Fonte: www.mar.mil.br)

COMISSÃO FRATERNO ANFÍBIA 2013

O Navio de Desembarque de Carros de de Marina da ARA. Nesse período, mili-


Combate (NDCC) Garcia d’Avila parti- tares do 2o Esquadrão de Helicópteros de
cipou, de 19 a 23 de agosto, da Comissão Emprego Geral, componentes do Desta-
Fraterno Anfíbia 2013, operação combina- camento Aéreo Embarcado (DAE) e uma
da entre a Marinha do Brasil (MB) e a Ar- aeronave UH-14 Super Puma da Marinha
mada da República Argentina (ARA) com o do Brasil foram desdobrados para a Base
propósito de promover a interoperabilidade Aeronaval Comandante Espora, onde tam-
entre as Forças Navais dos dois países, bem bém aconteceram adestramentos e inter-
como estreitar os laços de amizade com câmbios sobre doutrinas e procedimentos
aquela Marinha amiga. entre as Marinhas.
A comissão foi precedida por cinco dias Durante os quatro dias de mar da ope-
de atividades de porto na Base Naval de ração, o NDCC Garcia d’Avila realizou
Puerto Belgrano, onde o planejamento da diversos lançamentos e recolhimentos de
operação foi finalizado e diversas ativida- Carro-Lagarta Anfíbio (Clanf) e, pela pri-
des de intercâmbio foram realizadas entre meira vez, teve a oportunidade de operar
os Fuzileiros Navais da MB e a Infanteria com Veículos Anfíbios (VAO) da ARA,

RMB3oT/2013 305
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

desembarcando com sucesso na cabeça o Navio-Transporte Bahía San Blas, o


de praia. Na oportunidade, a aeronave Contratorpedeiro La Argentina, o Navio
UH-14, juntamente Multipróposito Punta
com um H-3 (ARA), Alta e as Corvetas
desempenhou papel Paker e Robinson,
decisivo no movimen- todos da ARA.
to navio-para-terra e na Os 1.554 militares
incursão de militares envolvidos na Fra-
de forças especiais. terno Anfíbia 2013
Além do Garcia tiveram a oportunida-
d’Avila, de sua aero- de de presenciar uma
nave orgânica e de operação anfíbia em
Fraterno Anfíbia 2013
viaturas diversas do toda a sua plenitude
Corpo de Fuzileiros Navais da MB, outros e complexidade, além de conhecer os pro-
meios estiveram presentes na operação: cedimentos operativos utilizados por uma
o Navio-Transporte Rápido Multipropó- Marinha amiga.
sito Hercules (com uma aeronave H-3), (Fonte: www.mar.mil.br)

OPERAÇÃO ALBACORA AZUL


CONTRIBUI PARA PROTEGER ZEE
Deflagrada na primeira quinzena de ju-
lho, a Operação Albacora Azul comprovou
a importância cada vez maior de a Marinha
do Brasil fiscalizar as Águas Jurisdicionais
Brasileiras (AJB). Embarcações estrangeiras
suspeitas sem autorização para navegar em
águas brasileiras foram avistadas próximo à
Zona Econômica Exclusiva (ZEE) nacional. Navio pesqueiro espanhol vistoriado por Grupo de
Acuado, um navio francês teve que se conten- Vistoria e Inspeção (GVI)
tar com a pesca em alto-mar, diferentemente de
Região de grande riqueza natural, o
um barco de bandeira espanhola, que na ZEE
entorno do Atol das Rocas, Fernando de
foi localizado, vistoriado e liberado para seguir
Noronha e os arredores do arquipélago
em liberdade de navegação rumo à Espanha.
de São Pedro e São Paulo foram alvos de
intenso monitoramento durante dez dias.
Para isso, a Marinha do Brasil empregou 11
navios e dois helicópteros Esquilo, além de
978 militares. A Operação Albacora Azul
contou com o apoio da Força Aérea Brasi-
leira, que forneceu duas aeronaves P3AM
para realizar o esclarecimento de pontos de
Corveta Barroso em patrulha naval durante a interesse nessa região.
Operação Albacora Azul (Fonte: www.mar.mil.br)

306 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

OPERAÇÃO CONJUNTA MB/PF/PM AMBIENTAL DO CEARÁ

A Marinha do Brasil (MB) realizou Na ocasião, a bordo da Lancha Pargo,


operação conjunta com a Polícia Federal da Capitania dos Portos do Ceará (CPCE),
(PF) e o Batalhão de Polícia Ambiental do embarcaram inspetores navais da CPCE, dois
Ceará/PMCE, em 1o de agosto. A operação agentes da Polícia Federal e dois policiais da
aconteceu em uma PMCE pertencentes ao
área marítima a cerca Batalhão de Polícia Mili-
de 30 milhas náuticas tar Ambiental do Estado.
ao norte do porto de O propósito das
Fortaleza (CE). operações conjuntas
Já nas primeiras com os órgãos fede-
horas, uma embar- rais e estaduais tem
cação foi apreendi- sido a fiscalização e a
da com petrechos de identificação das áreas
pesca predatória de marítimas onde possa
lagosta, marambaias estar ocorrendo pesca
e materiais relaciona- predatória, bem como
dos à pesca com com- Fiscalização conjunta a localização e a apre-
pressor. Os infratores ensão de embarcações
foram encaminhados à Superintendência que estejam fora das exigências contidas nas
da Polícia Federal no Ceará para os proce- Normas da Autoridade Marítima (Normam),
dimentos decorrentes do crime ambiental na Legislação Ambiental e nas leis em vigor.
constatado. (Fonte: www.mar.mil.br)

TIKUNA PARTICIPA DA OPERAÇÃO BRAPER 2013

O Submarino Tikuna participou, de 27 por meio de ações simuladas de combate


a 31 de maio último, da Operação Braper na área marítima adjacente a Natal (RN).
2013, em conjunto Durante a Braper
com navios e aero- 2013, o Tikuna
naves da Marinha do integrou o Grupo-
Brasil (MB) e da Ma- Tarefa constituído
rinha de Guerra do pela Fragata Niterói,
Peru. pelo Navio-Tanque
A operação, cujo Marajó, por duas
nome representa a aeronaves AF-1, por
junção das iniciais de um helicóptero UH-12
Brasil (Bra) e Peru Submarino Tikuna na Braper 2013 Esquilo e um UH-13
(Per), teve sua pri- Esquilo Bi-Turbina,
meira edição em 2011 e envolveu meios bem como por um avião P-95, da Força
navais e aeronavais desses países em uma Aérea Brasileira, e, ainda, pela Fragata
série de exercícios no mar, programados Villavisencio, da Marinha de Guerra do

RMB3oT/2013 307
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Peru. Dentre os adestramentos de que o aeroespacial, com o propósito de elevar o


submarino participou, destacaram-se o nível de adestramento dos participantes e
de guerra antissubmarino e a execução de contribuir para o incremento da cooperação
manobras de ataque e esclarecimento. Além e estreitamento dos laços de amizade entre
disso, ocorreram operações simuladas de a MB e a Marinha do Peru.
apoio logístico móvel e de ações de defesa (Fonte: www.mar.mil.br)

CERIMÔNIA MARCA INÍCIO DA CONSTRUÇÃO DE


SUBMARINO DO PROSUB

O comandante da Marinha, Almirante Na ocasião, estava presente o diretor-


de Esquadra Julio Soares de Moura Neto, geral do Material da Marinha, Almirante de
presidiu, em 4 de setembro último, a Esquadra Luiz Guilherme Sá de Gusmão; o
cerimônia do corte da primeira chapa do coordenador-geral do Programa de Desen-
segundo submarino convencional (SBR- volvimento de Submarino com Propulsão
2), que se chamará Humaitá. O SBR-2 faz Nuclear, Almirante de Esquadra (RM1)
parte do Programa de Gilberto Max Roffé
Desenvolvimento de Hirschfeld; o assessor
Submarinos (Prosub). especial do comandante
O evento, que da Marinha, Almirante
ocorreu nas depen- de Esquadra Arthur Pi-
dências da Nuclebrás res Ramos; o presidente
Equipamentos Pesa- da Nuclep, Jayme Car-
dos (Nuclep), em Ita- doso; o diretor-superin-
guaí (RJ), marcou o Cerimônia na Nuclep, em Itaguaí (RJ) tendente da Odebrecht,
início da construção Fabio Gandolfo; o dire-
do meio naval. Na cerimônia, equivalente tor industrial da Itaguaí Construções Navais,
ao batimento de quilha dos meios de super- Antonio Luiz Costa; e o presidente da DCNS
fície, o comandante da Marinha acionou a Brasil, Eric Berthelot, além de dois grupos de
máquina de corte hidrojato Flow, iniciando operários, representando a Nuclep e a Itaguaí
o corte do primeiro elemento de alma da Construções Navais – empresas participantes
caverna no 72, da subseção no 10 da seção do Prosub na área de construção.
2B do SBR-2. (Fonte: www.mar.mil.br)

programa MEMÓRIA DO MUNDO DA UNESCO –


GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA CONCORRE

Estimuladas pelo crescente número de cas do País candidataram conjuntamente


trabalhos baseados nas imagens da Guerra seus acervos iconográficos e cartográficos
da Tríplice Aliança, nove das mais relevan- para o Registro da Memória do Mundo para
tes instituições arquivísticas e museológi- a América Latina e o Caribe, comitê vincu-

308 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

lado à Organização das Nações Unidas para ções, planos de operações e mapas, como
Educação, Ciência e Cultura (Unesco). O elementos essenciais para o entendimento
Programa Memória do Mundo da Unesco do maior conflito travado entre nações no
premia anualmente acervos documentais continente americano e que se aproxima
e bibliográficos de relevância cultural nos dos seus 150 anos.
âmbitos nacional, regional (América Latina Durante muito tempo, especialistas que
e Caribe) e mundial, se debruçaram sobre
nominação que con- a história da Guerra
corre para a preser- da Tríplice Aliança
vação e a divulgação contra o Paraguai
desses patrimônios. utilizaram documen-
A candidatura do tos iconográficos e
Brasil em 2013 re- cartográficos como
úne a Diretoria do mera ilustração, pois
Patrimônio Histórico seus estudos vinham
e Documentação da apoiados na docu-
Marinha (DPHDM), mentação es cr ita.
o Arquivo Históri- Contudo, nos dias de
co do Exército, o Arquivo e Mapoteca hoje, a imagem vem ganhando nova signi-
do Itamaraty, o Arquivo Nacional, a ficação nos textos históricos por meio de
Fundação Biblioteca Nacional, o Museu métodos analíticos específicos, desenvol-
Histórico Nacional, o Museu Imperial, o vidos para alcançar informações inéditas
Museu Nacional de Belas Artes e o Ins- sobre os fatos históricos na análise de
tituto Histórico e Geográfico Brasileiro. fotografias, desenhos e mapas.
Foram elencados 402 documentos, entre (Fonte: Divisão de História Marítima e
fotografias, desenhos, plantas de fortifica- Naval da DPHDM)

DHN LANÇA NOVO SISTEMA DE COMERCIALIZAÇÃO


DE DOCUMENTOS NÁUTICOS PELA INTERNET

A Diretoria de Hidrografia e Navegação segurança à navegação. A comercialização


(DHN), em parceria com a Empresa Geren- na página da internet será realizada por
cial de Projetos Navais (Emgepron), realizou, meio do endereço www.cartasnauticasbra-
em 30 de julho último, a cerimônia de lan- sil.com.br, desenvolvido pela Emgepron.
çamento da nova sistemática de comerciali- O novo sistema facilita a aquisição de
zação de documentos náuticos pela internet. documentos náuticos, com acesso 24 ho-
Durante o evento, a Emgepron realizou ras. É necessário que o interessado tenha
uma apresentação do site, demonstrando cadastro com os dados de pessoa jurídica
aos presentes suas principais funciona- ou física, endereço de entrega, entre outras
lidades e facilidades. A iniciativa tem o informações para a emissão da nota fiscal.
propósito de disponibilizar aos navegantes, O internauta tem a possibilidade de efetuar
de forma rápida, prática e segura e a qual- o pagamento por cartão de crédito, boleto
quer hora, cartas náuticas e publicações de bancário e depósito em conta-corrente. As

RMB3oT/2013 309
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

entregas serão realizadas pelos Correios ou da Emgepron, Vice-Almirante (RM1)


no Posto de Vendas da Base de Hidrografia Marcelio Carmo de Castro Pereira; do
da Marinha, em Niterói (RJ). comandante da Base de Hidrografia da Ma-
A cerimônia foi presidida pelo diretor- rinha em Niterói, Capitão de Mar e Guerra
geral de Navegação, Almirante de Esquadra Pedro Teixeira; e do diretor do Centro de
Luiz Fernando Palmer Fonseca, e contou Hidrografia da Marinha, Capitão de Mar e
com a participação do diretor de Hidrogra- Guerra Edson Carlos Furtado Magno, entre
fia e Navegação, Vice-Almirante Marcos outras autoridades.
Nunes de Miranda; do diretor-presidente (Fonte: www.mar.mil.br)

NPA GRAVATAÍ APRESA EMBARCAÇÃO PESQUEIRA


O Navio-Patrulha (NPa) Gravataí, inte- A abordagem do pesqueiro contou com
grante do Grupamento de Patrulha Naval o apoio de dois fiscais do Instituto Brasi-
do Leste, efetuou, em 15 de agosto último, leiro do Meio Ambiente e dos Recursos
o apresamento da embarcação pesqueira Naturais Renováveis (Ibama) e foi realizada
Kinsai Maru No 58, de nacionalidade ja- a 115 milhas da costa, em área marítima
ponesa, por esta não possuir documento entre Aracaju (SE) e Maceió (AL).
válido para pesca e por não dispor da linha Após o apresamento, a embarcação foi
espanta-pássaro (toriline). escoltada pelo NPa Gravataí até o porto de

310 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Salvador, onde militares da Capitania dos


Portos da Bahia e representantes da Polícia
Federal, do Ibama, da Receita Federal e da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) procederam a novas averiguações.
Em razão das irregularidades consta-
tadas, a embarcação foi apreendida pela
Polícia Federal, e sua carga e seus petrechos
de pesca foram apreendidos pelo Ibama. O
comandante foi preso pela Polícia Federal
por crime ambiental, porém foi solto após
o pagamento de fiança. O Kinsai Maru No 58,
(Fonte: www.mar.mil.br) apresado pelo NPa Gravataí, ao fundo

EMBARCAÇÃO APRESADA COM


CONTRABANDO NO AMAZONAS

Em 17 de julho úl- A embarcação, jun-


timo, durante a Opera- tamente com seus tri-
ção Bracolper-2013, o pulantes (um cidadão
Navio-Patrulha Fluvial brasileiro e outro pe-
(NPaFlu) Amapá apresou ruano), foi escoltada e
uma embarcação regional entregue às autoridades
no Amazonas transpor- policiais da cidade de
tando 3.500 cartuchos de Amaturá (AM).
munição. (Fonte: www.mar.mil.br)
Cartuchos apreendidos

60o COMITÊ TÉCNICO DA HIDROVIA DO TIETÊ-PARANÁ

Foi realizado, em 8 de agosto último, o


60o Comitê Técnico da Hidrovia do Tietê-
Paraná. O evento aconteceu no auditório
da Empresa AES Tietê, responsável pela
operação da Usina de Produção de Ener-
gia (Hidrelétrica) e das Eclusas de Nova
Avanhandava, em São Paulo.
O Comitê, coordenado pela Capitania
Fluvial do Tietê-Paraná, tem o propósito
de disseminar normas e procedimentos para
o uso da hidrovia, bem como apresentar e
discutir temas de interesse dos que a utili-
Comitê Técnico da Hidrovia Tietê-Paraná
zam e das cidades ribeirinhas.

RMB3oT/2013 311
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Participaram do evento o comandante sidente Epitácio, Capitão de Corveta (T)


do 8o Distrito Naval, Vice-Almirante Liseo Marcelo da Silva Sibelino; e representantes
Zampronio; o presidente do Comitê, Capi- da Transpetro, do Estaleiro Rio Tietê, da
tão de Mar e Guerra (RM1) Paulo Roberto AES Tietê, do Departamento Hidroviário
Oliveira Mesquita Spranger; o Capitão dos (SP), dos sindicatos e de empresas que
Portos do Tietê-Paraná, Capitão de Fragata atuam na hidrovia e órgãos públicos.
Márcio Costa Lima; o delegado em Pre- (Fonte: www.mar.mil.br)

PORTONAVE BATE RECORDE DE MOVIMENTAÇÃO

A Portonave – Terminal Portuário de O Terminal Portuário de Navegantes,


Navegantes bateu recorde de movimentação em Santa Catarina, é o primeiro terminal
de contêineres no mês de maio. A empresa privado do País e hoje responde por 47%
movimentou 62.943 TEUs (unidade de me- do market share do Estado, na movi-
dida equivalente a um contêiner de 20 pés). mentação de contêineres. A expectativa
Este foi o melhor mês desde o início das é de aumentar ainda mais esta movi-
operações do Terminal, em outubro de 2007. mentação, já que nos últimos meses a
O recorde anterior era de setembro Portonave adquiriu novos equipamentos
de 2012 (60.570 TEUs). Na comparação (três portêineres e cinco transtêineres) e
com o mês de abril deste ano, a empresa um scanner móvel com capacidade para
movimentou 26,7% a mais de TEUs. O inspeção de 150 caminhões por hora.
crescimento da movimentação de cargas na Além disso, está em andamento o projeto
Portonave se deve a vários fatores como o para a construção de uma nova bacia de
início do serviço Ipanema (com destino à evolução, que permitirá ao Complexo
Ásia), o aumento no tamanho das embarca- Portuário de Itajaí e Navegantes receber
ções e a ampliação de acordos comerciais. navios maiores, com mais capacidade
No acumulado do ano até agora, o Termi- de carga.
nal Portuário de Navegantes movimentou (Fonte: Assessoria de Imprensa da
269.269 TEUs, contra 230.288 TEUs em Portonave)
2012 – um crescimento de
16,9% no período.
Em maio a operação com
carga reefer também superou
os números já registrados. Fo-
ram exportados 9.200 TEUs
de carga congelada ou refrige-
rada no mês passado. Os prin-
cipais produtos movimenta-
dos foram carnes congeladas,
com destaque para a de frango
(carro-chefe das exportações
da Portonave), e maçã. Entre
as cargas secas (dry), destaque
para tabaco e madeira. Terminal Portuário de Navegantes

312 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

PORTOS PRECISARÃO AUMENTAR CAPACIDADE EM 40%

Se mantidas as taxas de crescimento de (retirada da areia excedente, que provoca


5% dos últimos anos, os portos brasileiros o assoreamento) são necessárias. O assunto
terão que aumentar sua capacidade de aten- foi tratado pelo diretor do Departamento
dimento de 650 milhões de toneladas por de Desempenho Operacional da Secretaria
ano, em 2012, para 900 milhões em 2017. Especial de Portos do governo federal,
O alerta foi feito pelo presidente da auto- Marcelo Werner Sales, que apresentou o
ridade portuária de São Francisco do Sul Plano de Dragagem dos Portos Brasileiros.
(SC), Paulo César Corsi, durante reunião Nele estão previstos investimentos de R$
da Câmara de Transporte e Logística da 477 milhões para ações de manutenção do
Federação das Indústrias de Santa Catarina, calado dos três portos públicos ou híbridos
a Fiesc, realizada em 29 de maio último, na de Santa Catarina (Itajaí, Imbituba e São
capital catarinense. O acréscimo de 40%, Francisco do Sul), nos próximos dez anos.
ou 32 milhões de toneladas por ano, equi- O processo, no entanto, exigirá esfor-
vale a um porto de Santos a cada triênio. ços extras devido a um problema global
“A solução passa pelo maior investimento, do setor: a falta de padrões estáveis do
mas não apenas em portos. É preciso aprimo- tamanho médio dos navios. A dificuldade
rar toda a cadeia logística, incluindo vias de reside no fato de as empresas armadoras
acesso e armazéns”, defendeu Corsi, durante preferirem embarcações cada vez maiores
sua apresentação sobre eficiência portuária. como forma de reduzir custos. Mas os
O presidente ainda enfatizou o fato de o setor projetos não conseguem acompanhar as
portuário ser responsável por 95% do volume rápidas mudanças de parâmetros. “Há dez
do comércio exterior do Brasil. anos, Itajaí embarcava 18 mil contêineres
Para garantir a qualidade do serviço, por mês. Hoje, um só navio já tem essa
um dos grandes desafios é manter a pro- capacidade”, explicou Sales.
fundidade adequada ao calado dos navios. (Fonte: Assessoria de Imprensa do
Para isso, ações constantes de dragagem Sistema Fiesc)

TCP ATINGE A MARCA DE TERMINAL DE CONTÊINERES


MAIS PRODUTIVO DO BRASIL

O Terminal de Contêineres de Parana- projeto de reestruturação operacional e


guá (TCP), no Paraná, atingiu, em junho melhoria de gestão.
último, recorde nacional de produtividade A maior produtividade no atendimento de
(velocidade de atendimento de navios), navios no TCP – o terceiro maior terminal
tornando-se o mais produtivo do Brasil, portuário de contêineres do Brasil – permi-
com a média de 86 mph (movimentos tiu uma redução substancial do período de
por hora) nos 61 navios atendidos. O permanência dos navios no porto. “Apesar
índice foi obtido após dois anos de in- de recebermos navios cada vez maiores, o
vestimentos massivos em modernização e tempo médio de permanência deles foi di-
ampliação de sua capacidade operacional, minuído em mais de 50% nos últimos dois
bem como na implantação de um amplo anos. Considerando que os custos estimados

RMB3oT/2013 313
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

desses navios são de aproximadamente US$


6 mil por hora, conseguimos reduzir milhões
em custos de transportes para nossos clientes
importadores e exportadores”, afirma Char-
les Serique, superintendente Operacional
do Terminal.
A marca atingida coloca o TCP no topo
do ranking entre os terminais de contêineres
em portos públicos e terminais privados no
País, e em linha com os melhores do mundo.
O Terminal de Contêineres de Paranaguá
O TCP é o único terminal da América Latina
já autorizado a receber navios de até 368 me- e R$ 185 milhões nas obras do novo cais
tros de comprimento por 51 metros de boca. de atracação, atualmente em construção. A
Com valor de aproximadamente R$ 365 obra deve ser concluída em novembro deste
milhões até o final de 2013, o pacote de ano, adicionando mais 315 metros ao cais
investimentos realizados pelo TCP é um do terminal e aumentando sua capacidade
dos maiores do setor portuário privado no do atual 1,2 milhão de TEUs/ano1 para 1,5
Brasil. São aproximadamente R$ 180 mi- milhão de TEUs/ano.
lhões na aquisição de novos equipamentos (Fonte: Medialink Comunicação)

1 N.R.: Unidade equivalente a um contêiner de 20 pés.

314 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

DPC E PREFEITURA NAVAL ARGENTINA ASSINAM


MEMORANDO DE ENTENDIMENTOS

Foi realizada, em 3 de julho último, a espaços aquáticos. Entre as ações previstas


cerimônia de assinatura do Memorando de no MoU estão a prevenção e o combate à
Entendimentos (MoU) entre a Diretoria de poluição hídrica por embarcações, a inves-
Portos e Costas (DPC), representada pelo tigação de acidentes marítimos e a proteção
seu diretor, Vice-Almirante Cláudio Por- aos navios e instalações portuárias.
tugal de Viveiros, e a Prefeitura Naval Ar- A vigência inicial do Memorando é de
gentina (PNA), repre- cinco anos. Durante
sentada pelo Prefeito esse período, espera-
Luis Alberto Heiler. se a troca de experi-
O evento ocorreu no ências e informações
Centro de Formação entre duas organiza-
da Prefeitura Naval ções centenárias, para
Argentina, localizado que haja melhorias no
na cidade de Zárate, trato dos assuntos de
na província de Bue- suas responsabilida-
nos Aires. des. Brasil e Argentina
A cerimônia fez trocarão experiências
parte do programa co- Autoridades na assinatura do memorando sobre mergulho profis-
memorativo do 203o sional, esportes náuti-
aniversário da Prefeitura e foi prestigiado cos, programas de intercâmbio e capaci-
pelas autoridades marítimas da Bolívia, do tação de pessoal, programas de formação
Chile, do Peru e do Uruguai, além dos pre- de marítimos e fluviários, intercâmbio
feitos integrantes do alto-comando da PNA. eletrônico de dados de posicionamento
O documento estabelece que as partes de navios mercantes, Sistema de Iden-
trabalhem coordenadamente no intercâm- tificação Automática e sobre o Sistema
bio de capacitação e conhecimentos nas de Identificação e Acompanhamento de
áreas de segurança e proteção do tráfego Navios a longa distância.
marítimo e na promoção e preservação dos (Fonte: www.mar.mil.br)

BELL BUOY 2013 – EXERCÍCIO DE CONTROLE NAVAL DO


TRÁFEGO MARÍTIMO

A Marinha do Brasil (MB) participou, o tráfego marítimo e, consequentemente, a


de 13 a 24 de maio último, do exercício Bell economia de um país.
Buoy 2013. Foi conduzido pela Marinha Participaram, além do representante do
Real da Nova Zelândia, que atuou como Brasil, os dos outros países-membros do
Oficial Condutor do Exercício (OCE), e Grupo de Trabalho sobre Tráfego Maríti-
teve como propósito testar as capacidades mo dos Oceanos Pacífico e Índico (Pacific
dos participantes em responder a uma série and Indian Oceans Shipping Working
de eventos significativos que possam afetar Group – Pacioswg): Austrália, Canadá,

RMB3oT/2013 315
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Chile, Cingapura, Coreia do Sul, Estados Entre os eventos realizados estão: de-
Unidos da América (EUA), Nova Zelândia sastre natural, encalhe de navio, ações de
e Reino Unido. Também esteve presente, na pirataria, distúrbios civis em portos e inci-
qualidade de observador, um oficial repre- dentes de navegação, todos focados para o
sentando o coordenador da Área Marítima planejamento de operações de emergência
do Atlântico Sul. de ajuda humanitária, a emissão de Avisos
A MB iniciou as tratativas para parti- aos Navegantes e a orientação à navegação
cipar do Grupo no final da década de 90 comercial e militar. Cabe salientar que foi
e, em janeiro de 2012, foi nomeada como criado um grupo que atuou como oficial
seu 10 o membro permanente. A parte orientador, visitando navios mercantes nos
prática desse grupo portos para esclarecer o
de trabalho é testada propósito do exercício.
durante o exercício A participação de
anual Bell Buoy, em um representante da
que se emprega a dou- MB nesse evento, em
trina Naval Coopera- especial de um oficial
tion and Guidance for do Comando do Con-
Shipping (NCAGS). trole Naval do Tráfego
A Marinha Real Marítimo, foi impor-
da Nova Zelândia, tante por permitir o
aproveitando a sua Cerimônia de Abertura do Bell Buoy 2013
adestramento e a aqui-
localização geográ- sição de experiência
fica e a responsabilidade por uma grande na aplicabilidade da doutrina NCAGS,
área marítima no Pacífico, criou um cená- que poderá ser empregada nos exercícios
rio fictício em uma área situada a sudoeste de Controle Naval de Tráfego Marítimo
desse oceano. Os eventos conduzidos du- conduzidos no âmbito da Área Marítima
rante o exercício foram, em grande parte, do Atlântico Sul (Amas).
baseados em acontecimentos recentes em A Marinha, por compromisso assumido
diferentes partes do mundo, o que possi- pelo País ao se tornar Membro Permanente do
bilitou a definição realista dos desafios Pacioswg, sediará a reunião desse Grupo de
e obstáculos enfrentados para manter as Trabalho e a execução do Exercício Bell Buoy
linhas de comunicação marítimas seguras em 2017, seguindo o rodízio estabelecido.
naquela área. (Fonte: www.mar.mil.br)

MARINHA APOIA VíTIMAS DA ENCHENTE


EM CAREIRO DA VÁRZEA (AM)

O Navio de Assistência Hospitalar de prestar apoio às vítimas de enchente


(NAsH) Soares de Meirelles, subordinado ocorrida na localidade.
ao Comando da Flotilha do Amazonas, A chegada de um navio da Marinha
abarrancou, em 3 de junho último, na em lugares como este, onde as enchentes
comunidade de Careiro da Várzea, dis- são constantes nessa época do ano, tem
tante seis milhas de Manaus (AM), a fim especial importância na medida em que,

316 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

com os alagamentos, os moradores não


conseguem chegar aos postos de saúde. O
NAsH tem capacidade para realizar atendi-
mentos médicos e odontológicos, além de
distribuir remédios e promover vacinação
contra diversas doenças.
(Fonte: www.mar.mil.br) NAsH Soares de Meirelles em Careiro da Várzea

NAsH DOUTOR MONTENEGRO ATENDE A


COMUNIDADEs NO AMAZONAS

O Navio de Assistência Hospitalar


(NAsH) Doutor Montenegro, subordinado
ao Comando da Flotilha do Amazonas, per-
correu, durante a última quinzena de julho,
o Rio Amazonas, prestando atendimentos
médicos e odontológicos às comunidades
ribeirinhas em sua calha. Entre as comu-
nidades visitadas estiveram a de Maguari
(PA), Barreira de Andirá (AM) e Barrei-
rinhas (AM), na foz do Paraná do Ramos,
onde cerca de 700 pessoas foram atendidas,
totalizando mais de 3 mil procedimentos Lancha de atendimento hospitalar abarranca na
realizados. praia para atendimento

Durante a Asshop em Careiro da Várzea,


o secretário executivo de Ações de Defesa
Civil do Estado do Amazonas, Coronel
Roberto Rocha Guimarães da Silva, e a
secretária de Saúde do município, Maria de
Nazaré da Silva Rocha, visitaram o NAsH.

NAsH Doutor Montenegro

O navio também realizou, em 15 de


junho, Assistência Hospitalar à População
(Asshop) em Careiro da Várzea (AM). A
ação foi promovida com o propósito de
amenizar os reflexos causados pelo regime
das águas na região. Na ocasião, foram
atendidas 232 pessoas, totalizando 855 pro-
cedimentos médicos e odontológicos, além
de exames laboratoriais e de mamografia. Cidade alagada devido às enchentes dos rios

RMB3oT/2013 317
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

O Doutor Montenegro, um dos conheci- nais de saúde. Por suas características estru-
dos como “Navios da Esperança”, conta com turais, como o baixo calado, o navio possui
uma equipe de saúde embarcada composta versatilidade para abarrancar em águas rasas
por oficiais médicos, cirurgiões-dentistas e e, com isso, alcançar as comunidades mais
farmacêuticos; praças enfermeiros; e técni- remotas da bacia amazônica.
cos em Radiologia, totalizando 16 profissio- (Fonte: www.mar.mil.br)

NAsH SOARES DE MEIRELLES


REALIZA ASSHOP NO PARÁ E AMAPÁ

O Navio de Assistência Hospitalar de 1.100 pessoas e realizados quase 6 mil


(NAsH) Soares de Meirelles, subordinado procedimentos.
ao Comando da Flotilha do Amazonas, (Fonte: www.mar.mil.br)
realizou, em agosto e setembro últimos,
Assistência Hospitalar (Asshop) nas co-
munidades ribeirinhas dos rios Xingu, Jari,
Tocantins e Marajó, localizadas no estados
do Pará e do Amapá.
A comissão durou 32 dias, contando
com equipe de três médicos, três cirurgiões-
dentista, um farmacêutico-bioquímico e
cinco praças enfermeiros para atendimento
médico e odontológico. Entre as várias lo-
calidades atendidas estiveram as de Porto
de Moz (PA), Breves (PA), Cametá (AP) População ribeirinha de Cametá aguardando
e Jarilândia (AP). Foram atendidas mais atendimento médico e odontológico

LANÇAMENTO DE LIVRO – COMPETITIVIDADE E A


INDÚSTRIA BRASILEIRA

Foi lançado em agosto últi- cos, industriais, empresariais e


mo, pela Editora Jaguatirica Di- legislativos resultantes da sua
gital, o livro Competitividade e experiência vivida durante os
a Indústria Brasileira – Por que últimos 60 anos.
o Brasil não é competitivo?, do No primeiro capítulo, “For-
Capitão de Mar e Guerra (Refo- mação Científica Tecnológica
EN) Antonio Didier Vianna. A e Industrial”, o autor, que é
obra registra as análises e os Ph.D. em Engenharia Nuclear
pensamentos do autor sobre tó- (foi o primeiro engenheiro
picos da administração do Bra- nuclear da Marinha), relata sua
sil, focalizando especialmente vida até passar para a Reserva.
aspectos educacionais, científi- Nos capítulos seguintes, são
318 RMB3oT/2013
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

relatadas a atuação e as experiências Antonio Didier Vianna opina que “os re-
industriais em setores-chave de nossa sultados econômicos brasileiros não estão
economia, de modo a explicitar o que indo mal apenas por sofrerem o efeito das
é possível realizar no País. “Este livro crises mundiais”. Em sua análise, procura
detalha as razões por que o Brasil está comprovar que o cenário atual do País “é
deixando de ser competitivo, embora o resultado de diversas decisões e atitudes
muitos setores ainda sejam excepcio- equivocadas e cuja solução – talvez por sua
nais”, explica, na Introdução à obra. impopularidade – é continuamente adiada”.

DIVERSIDADE RELIGIOSA NA ESCOLA NAVAL

De 9 de julho a 7 de agosto último foi ce- na Ilha de Villegagnon, no Rio de Janeiro


lebrado o Ramadã, o nono mês do calendário (RJ), apoiou, por intermédio da assistência
islâmico. No Islamismo, acredita-se que foi religiosa de sua capelania, a condução do
neste período que o evento, levando ao co-
Profeta Maomé recebeu nhecimento dos demais
a revelação, por parte aspirantes as principais
de Alá, dos primeiros características das re-
versos do Alcorão, e, ligiões praticadas na
para celebrar, os mul- escola, com vistas ao
çumanos praticam o seu respeito mútuo.
jejum ritual. Atualmente, con-
Três aspirantes da vivem em harmonia
Escola Naval (EN) na EN os aspirantes
– dois do Senegal e brasileiros católicos,
um do Líbano – cele- Aspirantes muçulmanos em sua refeição, após o evangélicos, espíritas
braram o Ramadã na término do jejum diário e umbandistas, bem
instituição, servindo- como os estrangeiros
se de alimentos e água ao nascer e ao por muçulmanos (xiitas, sunitas e drusos) e
do sol. A EN, estabelecimento de ensino cristãos maronitas.
superior mais antigo do Brasil, localizado (Fonte: www.mar.mil.br)

RMB3oT/2013 319

Você também pode gostar