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Giroldo Kaefer 2000

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Fernanda Giroldo

Luís Fernando Kaefer

FLEXÃO OBLÍQUA EM PILARES ISOLADOS

Seminário apresentado como parte


da avaliação da Disciplina PEF
5746 – Concreto Estrutural II
Prof. Ricardo L. e S. França

São Paulo
dezembro - 2000
2

1 Introdução

O objetivo deste trabalho é apresentar formas para o cálculo do efeito de 2a


ordem em pilares isolados de concreto armado.

Para um melhor entendimento do problema, no capítulo 2 estabeleceremos as


hipóteses básicas levadas em consideração. No terceiro capítulo discorreremos
um pouco sobre o problema da flexão oblíqua em pilares constituídos por
material elástico linear. Após o entendimento das características básicas do
problema tridimensional, no capítulo 4 apresentaremos métodos que
possibilitem a modelagem de pilares de concreto armado submetidos a
solicitações normais.

Consideramos este trabalho um texto introdutório para o assunto de flexão


oblíqua. Desta forma, nosso objetivo principal é ressaltar os aspectos básicos e
essenciais em uma análise espacial, que ao nosso ver podem ser melhor
compreendidos em problemas simples. Por isto, teremos sempre como objetivo
resolver um pilar isolado, engastado na base, com carga vertical de
compressão e momento ou força horizontal aplicados no seu topo.

2 Hipóteses Básicas

2.1 Esforços Solicitantes

Figura 1 – Esforços resistentes

Considerando-se o trecho de barra apresentado na Figura 1, os esforços


solicitantes em relação ao centro de esforços (CE) pode ser definido de duas
maneiras:
3

NS → força normal solicitante


M xS = ex ⋅ NS → componente do momento cujo traço é o eixo x (1)
MYS = ey ⋅ NS → componente do momento cujo traço é o eixo y

ou por

NS

M S = M xS + M yS = eθ ⋅ N S
2 2

(2)
eθ = e x + eY
2 2

θ = arctg(M xS M yS )

Serão considerados positivos:

• NS de compressão;
• MxS e MyS, quando comprimirem a seção na região do primeiro quadrante
dos eixos x e y;
• MS sempre ;
• θS medidos no sentido horário, a partir do eixo y, será adotado
(-180° < θS ≤180°)

2.2 Esforços Resistentes:

Os esforços resistentes NR, MxR e MyR são as resultantes das tensões normais
calculadas em relação ao CE da seção transversal, e dados por:

N R = ∫ σ Z ( x, y )dA
A

M xR = ∫ xσ Z ( x, y )dA (3)
A

MYR = ∫ yσ Z ( x, y )dA sendo A área da seção transversal.


A

Serão positivas as tensões e as forças de compressão, assim como os


momentos que comprimem o primeiro quadrante dos eixos x e y da seção
transversal.
4

2.3 Condições de Equilíbrio

As condições de equilíbrio entre os esforços solicitantes e resistentes são


dadas por:

NS = NR M xS = M xR M yS = M yR (4)

2.4 Condições de Compatibilidade

Supondo a hipótese da solidariedade entre os materiais, o campo de


deformações normais à seção transversal (ε Z) pode ser definido pela função
contínua:

ε z = ε z (x,y) (5)

Da hipótese da manutenção da seção plana e sem mudança de forma decorre


que a função ε z (x,y) é a equação de um plano, definido a partir de três
parâmetros ε 0, 1/rx e 1/ry (respectivamente a deformação longitudinal no centro
de esforços, e as curvaturas nas direções x e y).

Figura 2 – Deformação em um trecho dz da barra

Observando a Figura 2 vemos que este plano é definido pelas próximas


expressões:
5

no sistema CE, x, y
dφ X dφ
ε Z ( x, y ) = ε 0 + x+ Y y
dZ dZ (6)
1 1
ε Z ( x, y ) = ε0 + x+ y
rX rY

no sistema CE, u, v
1 (7)
ε Z (u.v) = ε 0 + v

onde,
u é o eixo passando por CE, paralelo à linha neutra da seção transversal;
v é o eixo perpendicular a u, passando para o CE, e dirigindo para a reta
AB, interseção da seção deformada com o plano CE, xy;
α é o ângulo entre a linha neutra e x, ou seja entre u e x, medido de u para
x, sendo adotado(-180°< α ≤180°)
1 é a curvatura do trecho dz em relação ao eixo v, sempre positiva no
α sentido indicado na Figura 2.

Definem-se ainda as relações entre as curvaturas 1/rx , 1/ry , 1/rα e a inclinação


da linha neutra α:

1 1
= sen α
rx rα
1 1
= cos α (8)
ry rα
α = arctg(1 rx 1 ry )

e as relações entre as coordenadas x, y, u e v (que serão úteis na integração


dos esforços resistentes ao longo da seção transversal):

u= x cos α - y sen α
(9)
v= x sen α + y cos α

2.5 Equações Constitutivas

A princípio, podem ser utilizadas quaisquer relações tensão-deformação para


os materiais. Entretanto, vale mencionar as relações utilizadas pela norma
brasileira de concreto para o concreto e para o aço.
6

2.6 Concreto

Para análises no estado limite último, pode ser empregado o diagrama tensão-
deformação idealizado mostrado na Figura 3, considerando nulas as tensões
de tração.
σc
Parábola do 2o grau Diagrama Característico
fck

σcd
Diagrama de Cálculo

εc1 = 2‰ εc
Figura 3 - Diagrama tensão-deformação para o concreto.

O diagrama é descrito por uma parábola, para deformações entre 0 e ε c1 e por


uma reta ( σc = σcd ) entre ε c1 e ε cu, sendo σcd dado pela expressão:

fck
σ cd = α ⋅ f cd = α ⋅ ( 10 )
γc

onde:
γc é o coeficiente de minoração da resistência do concreto, tendo
para os casos normais valor 1,4 definido pela NBR6118 e 1,5
pelo CEB/90.
α assume o valor 0,85 (consideração a deformação lenta do
concreto (Efeito Rüsch)) e é utilizado para o dimensionamento no
estado limite último ou 1,10 na análise não-linear física ([ABNT-2]
item 15.2).

As equações ( 11 ) e ( 12 ) fornecem a relação entre tensão e deformação para


o diagrama de cálculo.

 ε 2
σc = σcd ⋅  εc − c  (ε c em ‰) para 0 < εc < εc 1 ( 11 )
 4 

σc = σ cd para ε c 1 < εc < ε cu ( 12 )

2.7 Aço

Permite utilizar o diagrama tensão deformação abaixo para todos os tipos de


aço utilizados para armadura.
7

σs
Diagrama Característico
f yck
f ycd
Diagrama de Cálculo

Compressão
Es
εyu εyd
εycd εycu εs

Tração
fy k
fyd

Diagrama tensão-deformação para aços de dureza natural

O início do patamar de escoamento é dado pela equação (13).

f yd f yk
ε yd = ε ycd = ,onde f yd = ( 13 )
Es γs
γs é o coeficiente de minoração da resistência do aço, tendo o valor
1,15 definido tanto pela NBR6118 como pelo CEB/90.

As equações ( 14 ) e ( 15 ) fornecem a relação entre tensão e deformação para


o diagrama de cálculo.

 ε ≤ εs ≤ 0
σs = Es ⋅ εs para  yd ( 14 )
0 ≤ ε s ≤ εycd
(ε = 10 o oo ) ≤ εs ≤ ε yd
σ s = f yd para  yu
ε ycd ≤ εs ≤ (ε ycu = 3,5 oo )
o ( 15 )

3 Flexão oblíqua em pilares constituídos de material elástico linear

3.1 Equações de Compatibilidade

Da hipótese de manutenção da seção plana, as deformações longitudinais são


dadas por:
8

1 1
ε ( x, y ) = ε 0 + x+ y ( 16 )
rx ry

Para materiais elástico-lineares, vale a lei de Hooke, e as tensões valem:

σ ( x, y ) = E ( x, y ) ⋅ ε ( x, y) ( 17 )

Consideraremos que a seção transversal do pilar é constituída por apenas um


material com módulo de elasticidade E, tal que:

E (x , y ) = E ( 18 )
E E
logo, σ ( x, y ) = ε 0 E + x+ y ( 19 )
rx ry

Os esforços resistentes ao longo da seção transversal são dados por:

N = ∫ σ ( x , y) dA
A

M X = ∫ xσ ( x, y )dA ( 20 )
A

M Y = ∫ yσ ( x, y )dA
A

Substituindo ( 19 ) nas expressões dos esforços resistentes ( 20 ) temos:

E E 1 1
N = Eε 0 ∫ dA + ∫ xdA + ∫ ydA = ( EA)ε 0 + ( ES y ) + ( ES x )
A
rx A ry A
rx ry
E E 1 1
M x = Eε 0 ∫ xdA + ∫ x 2 dA + ∫ yxdA = ( ES y )ε 0 + ( EI y ) + ( EI xy ) ( 21 )
A rx A ry A rx ry
E E 1 1
M y = Eε 0 ∫ ydA + ∫ xydA + r ∫ y dA = (ES
2
x )ε 0 + ( EI xy ) + ( EIx )
A
rx A y A rx ry

Onde Sx e Sy são os momentos estáticos, Ix e Iy são os momentos de inércia e


Ixy é o momento centrífugo.

Utilizando notação matricial, podemos escrever as expressões ( 21 ) na forma:

N  A Sy Sx   ε0 
     
 M x  = E ⋅ S y Iy I xy  ⋅ 1 rx  ou {S} = E [G]{D} ( 22 )
M y  Sx I xy I x  1 ry 
  

observando ( 22 ) podemos ver que a relação inversa é dada por:


9

 ε0   N 
  1 −1  
1 rx  = E G  M x  ( 23 )
1 r y  M y 
   

aonde G-1 é:

 −( Iy ⋅Ix − Ixy ) 
2
( Sy⋅ Ix − Sx⋅Ixy) −( Sy⋅ Ixy − Sx⋅Iy )
 
 ( −A ⋅ Iy⋅Ix + A ⋅Ixy2 + Sy2⋅ Ix − 2⋅ Sy⋅Sx⋅ Ixy+ Sx2⋅ Iy) ( −A ⋅Iy⋅ Ix+ A ⋅ Ixy2 + Sy 2⋅Ix − 2⋅Sy⋅Sx⋅Ixy + Sx2⋅Iy) ( −A ⋅Iy⋅Ix + A ⋅Ixy2 + Sy2⋅Ix − 2⋅Sy ⋅Sx⋅Ixy + Sx2⋅Iy) 
 
 ( Sy⋅Ix − Sx⋅ Ixy) ( −A ⋅Ix + Sx2) −( −A ⋅Ixy + Sy⋅ Sx)  ( 24
 ( −A ⋅ Iy⋅Ix + A ⋅Ixy2 + Sy2⋅ Ix − 2⋅ Sy⋅Sx⋅ Ixy+ Sx2⋅ Iy) ( −A ⋅Iy⋅ Ix+ A ⋅ Ixy + Sy ⋅Ix − 2⋅Sy⋅Sx⋅Ixy + Sx ⋅Iy) ( −A ⋅Iy⋅Ix + A ⋅Ixy + Sy ⋅Ix − 2⋅Sy ⋅Sx⋅Ixy + Sx ⋅Iy) 

2 2 2 2 2 2
 )
 −( Sy ⋅Ixy − Sx⋅ Iy) −( − A⋅ Ixy + Sy⋅Sx) ( −A ⋅Iy + Sy2) 
(
 −A ⋅ Iy⋅Ix + A ⋅Ixy + Sy ⋅ Ix − 2⋅ Sy⋅Sx⋅ Ixy+ Sx ⋅ Iy) ( −A ⋅Iy⋅ Ix+ A ⋅ Ixy2 + Sy 2⋅Ix − 2⋅Sy⋅Sx⋅Ixy + Sx2⋅Iy) ( −A ⋅Iy⋅Ix + A ⋅Ixy2 + Sy2⋅Ix − 2⋅Sy ⋅Sx⋅Ixy + Sx2⋅Iy) 
2 2 2

As expressões ( 22 ) e ( 23 ) são gerais e servem para a resolução de


problemas, tendo como sistema de referência eixos quaisquer, com o centro de
esforços (CE) coincidente ou não com o centro geométrico da seção
transversal.

3.2 Expressões particulares

3.2.1 Centro de esforços (CE) coincidente com o centro geométrico (CG)

Fazendo o centro dos esforços coincidir com o centro geométrico da peça,


temos que Sy = Sx = 0. Desta forma, as equações ( 21 ) podem ser escritas na
forma abaixo para este caso particular:

N = EAε 0
1 1
M x = EI y + EI xy
rx ry ( 25 )
1 1
M y = EI xy + EI x
rx ry

ou, na forma matricial

N  A 0 0   ε0 
     
M x  = E ⋅  0 I y I xy  ⋅ 1 rx  ( 26 )
M y   0 I xy I x  1 r y 
  

As relações inversas são dadas por:

N
ε0 = ( 27 )
EA
10

1 1
= (M x I x − M y I y )
rx I x I y − I xy 2
1 1
= (M y I y − M x I x )
ry I x I y − I xy 2

sendo que a expressão geral das tensões normais torna-se:

N ( xI x − yI xy ) ( yI y − xI xy )
σ ( x, y ) = + Mx + M y ( 28 )
A ( I x I y − I xy 2 ) ( I x I y − I xy 2 )

3.2.2 CE ≡ CG, com eixos principais x e y

Deduzindo as equações em relação aos eixos principais, além de termos Sy =


Sx = 0 (CE ≡ CG), temos Ix y = 0. Temos então as expressões para os esforços
resistentes:

N = EA N = EA
1 1
M x = EI y M x = EI y sen α
rx ou rα ( 29 )
1 1
M y = EI x M y = EI x cos α
rx rα

e na forma matricial

N  A 0 0   ε0 
     
M x  = E ⋅  0 I y 0  ⋅ 1 rx  ( 30 )
M y   0 0 I x  1 ry 
 

com as relações inversas são dadas por:

N
ε0 =
EA
1 Mx
= ( 31 )
rx EI y
1 My
=
ry EI x

sendo a expressão geral das tensões normais:

N M My
σ ( x, y ) = +x x + y ( 32 )
A Iy Ix
11

3.3 Exemplo de Aplicação

P P
Mxs Mys

x,u y,v

Figura 4 – Geometria do Pilar

• Dados
l = 4,0 m
Nd = 531,1 kN
Mx = 60 kNm
My = 40 kNm
Seção transversal: 25x50
Concreto: fck = 15 MPa
E = 0,8 E c = 17531 MPa

E = 0,8 ⋅ 5600 fck = 17,351GPa


Ix =6,510x10-4 m4
Iy =2,604x10-3 m4

3.3.1 Sob linearidade geométrica

O sistema de referência escolhido permite que utilizemos as equações ( 31 )


para ε 0, 1/rx e 1/ry . Analisando estas equações vemos que a resposta é dada
pela resolução de dois problemas flexão normal nas direções x e y.

N P
ε0 = ε 0 (z) = = const . ( 33 )
EA EA
12

1 M 1 M (z)
= x → ( z) = x
rx EI y rx EI y
1 My 1 M y ( z)
= (z) =
ry EI x ry EI x

Utilizando a teoria de Bernoulli-Euler:

Para a direção x: Para a direção y:


1 1
( z ) ≅ u ′′ ( z ) ≅ v ′′ ( 34 )
rx ry
M xS ( z ) M yS ( z )
= u ′′( z ) = v ′′( z ) ( 35 )
EI y EI x
M xs M yS
u ′( z ) = z + c1 v ′( z ) = z + c3 ( 36 )
EI y EI x
M xs z 2 M yS z 2
u (z) = + c1 z + c 2 v (z) = + c3 z + c4 ( 37 )
EI y 2 EI x 2

Condições de contorno:

u (z) = 0 v (z) = 0
∴ c1 = c 2 = 0 ∴ c3 = c4 = 0 ( 38 )
u ′(0) = 0 v ′( 0) = 0

Desta forma, os deslocamentos ao longo do pilar são dados por:

M xs z 2 M ys z 2
u (z) = v (z) = ( 39 )
EI y 2 EI x 2

Substituindo os dados do exemplo nas expressões ( 39 ), obtemos:

u(l)=1,062 cm
v(l)=2,833 cm

3.3.2 Sob não-linearidade geométrica

Tendo em vista o desacoplamento do problema, nas direções x e y, utilizamos


os métodos do pilar padrão, pilar padrão melhorado e P-∆ aplicados às
direções x e y.
13

3.3.2.1 Pilar padrão

No processo do pilar padrão, o deslocamento no topo do pilar é dado por:

l 2e  1 
a=   ( 40 )
π 2  r  base

A curvatura da base pode ser obtida igualando-se as expressões do momento


interno e externo na base:

 1  Momento Interno
 M A,tot = EI  
  r  base ( 41 )
 M A,tot = M 1, base + P ⋅ a Momento Externo

Igualando as expressões ( 41 ) e substituindo 1/r por ( 40 ) obtemos a


expressão final para o deslocamento no topo do pilar:

M 1,base
a=
EI ( 42 )
−P
le π 2
2

3.3.2.2 Pilar padrão melhorado

As expressões consagradas do processo do pilar padrão melhorado são:


1 − α C ⋅α E
M tot = M 1,base ( 43 )
1−α E
l 2e
α E = Nd ( 44 )
10 ⋅ EI
α C = −0, 25 (Momento de 1 a ordem constante) ( 45 )

donde o deslocamento do topo do pilar em qualquer uma das direções é dado


por:

M tot − M 1, base
a= ( 46 )
Nd

3.3.2.3 Processo P-∆

Utilizamos o processo P-∆ junto com o programa Ftool, controlando os


deslocamentos no topo do pilar. A força horizontal aplicada a cada iteração i é
dada por:
14

P ⋅ ai−1
Fi = ( 47 )
l

3.3.2.4 ADINA

O programa de elementos finitos ADINA possui um elemento de viga


hermitiano para análise não-linear geométrica. Utilizam-se matrizes de rigidez
tangentes, cuja formulação permite a ocorrência de grandes deslocamentos,
mas não considera grandes deformações, nem o empenamento. Dos métodos
utilizados neste tópico, este é considerado o mais exato.

Nesta análise, o pilar foi dividido em quatro elementos e o carregamento foi


aplicado em 10 passos iguais. Foi utilizado o método iterativo de Newton-
Raphson Completo.

3.3.3 Confronto dos resultados

Linear PP PPM P-∆ ADINA


u(l) (cm) 1,062 0,932 1,149 1,133 1,151
v(l) (cm) 2,833 3,255 3,993 3,781 4,087
Mx,tot,base (kNm) 60 64,95 66,10 66,02 66,11
My,tot,base (kNm) 40 57,29 61,21 60,08 61,70

Adota-se a seguir novas inclinações α para alinha neutra e repete-se para cada
uma delas o processo descrito anteriormente, obtendo-se desse modo, por
pontos, o diagrama de interação.

A propriedade mais importante dessas superfície de interação é a sua


convexidade. Esta propriedade de convexidade permite o estabelecimento de
processos aproximados de cálculo a favor da segurança. A apresentação das
superfícies de interação é feita por meio de ábacos, par vezes chamado de
ábacos em rosetas, correspondentes a cortes da superfície de interação,
definidos por diferentes valores deν d. A seguir dar-se-á um exemplo numérico
utilizando o método exato com o uso dos diagramas de interação.
15

4 Flexão oblíqua em pilares de concreto armado

4.1 Introdução

Figura 5 – Pilar submetido à flexão oblíqua

Quando um pilar é constituído de material elástico-linear (e considerando


nossas hipóteses básicas), ao alterarmos o plano da solicitação (Mxa, Mya Mxb,
Myb), não há alteração relativa da rigidez nas direções x e y. Desta forma toda
alteração dos esforços solicitantes devido aos efeitos da não-linearidade
geométrica ocorre da mesma forma (proporcionalmente) nas duas direções,
como foi observado no exemplo do capítulo anterior.

Figura 6 – Notação e convenções utilizadas

No caso de um pilar de concreto, as relações entre tensão e deformação dos


materiais são não-lineares, o que faz com que a rigidez relativa em relação a
cada um dos eixos de referência se altere. A conseqüência deste fato é que ao
longo de um pilar, mesmo que o plano da solicitação seja constante (plano
definido por θ), ao variarmos o nível de solicitação (por exemplo, de Mxa = A,
Mya = B para Mxb = 2A, Myb = 2B), teremos uma alteração do ângulo da linha
neutra (a) ao longo do pilar, o que faz com que a deformada saia do plano
perpendicular à linha neutra da seção da base, tornando-se uma curva reversa
(Figura 7).
16

Figura 7 – Configuração deformada

Os problemas de instabilidade tridimensionais podem ser resolvidos de várias


maneiras. Para estruturas mais complexas, ao nosso ver, a solução mais
eficiente é o emprego de programas de elementos finitos que utilizam solvers
não-lineares que permitam a integração das tensões no concreto e no aço de
modo a obter matrizes tangentes para uma análise incremental.

Para problemas mais simples, como o de uma coluna isolada, existem diversos
métodos, com vários níveis de aproximação. Descreveremos alguns deles a
seguir.

4.2 Método geral

O método geral é considerado o mais exato e consiste da integração da


curvaturas obtidas de diagramas momento – curvatura para a flexão oblíqua.

Tendo em vista o problema do pilar engastado na base e livre no seu topo,


podemos considerar que o esforço normal ao longo de seu comprimento não
se altera. Observando a próxima figura, um esforço normal constante define um
plano interno (BOC) à superfície de interação.

N=cte.
Figura 8 – Superfície de interação para o concreto
17

A cada ponto N, Mx , My da superfície de interação estão relacionados pares


(1/rα, α), (1/rx ,1/ry ) ou ainda (κx , κy ) Ao retirarmos o plano genérico BOC da
superfície de interação, podemos traçar isolinhas destes valores para cada par
Mx , My , conforme pode ser visto nas próximas figuras.

Mx(kNm)
Figura 9 – Diagramas de interação (N = cte.)

É importante observar que possuindo apenas um ábaco, com as rigidezes


adimensionais (κ) ou com as curvaturas para cada ponto, podemos transformá-
las umas nas outras através das relações ( 8 ) e de:
18

Mx
EI y ,sec (h r ) y
κ ix,θ = =
hx3h y f cd hx2 h y f cd
( 48 )
My
EI x,sec (h r ) y
κ iy,θ = =
h 3y hx f cd h y2hx f cd

Desta forma o procedimento para aplicação do método geral é:


• Adota-se um número de divisões qualquer para o pilar;
• Dada uma solicitação qualquer, determinam-se N – Mx – My para cada
seção analisada. Para N = cte. adota-se apenas um diagrama de interação;
• Para cada seção analisada, devem ser extraídos os valores para a
curvatura 1/rx e 1/ry dos ábacos de interação. Pode acontecer de
precisarmos determinar estes valores indiretamente, a partir de ábacos de κ
ou 1/rα, α;
• Determinadas as curvaturas, devemos integrá-las duas vezes ao longo do
pilar de maneira a determinar a configuração deformada;
• Calculam-se os esforços para a nova configuração e repete-se o processo
até que obtenhamos uma configuração estável ou que se verifique a ruína
por instabilidade ou esgotamento da seção transversal (neste caso
precisamos redimensionar a coluna).

4.2.1 Exemplo de aplicação


Resolveremos o mesmo exemplo do capítulo anterior, alterando o
carregamento e o comprimento do pilar. O pilar foi dividido em quatro
elementos.

• Dados

l = 3,6 m (λx = 50 e λy = 100)


Nd = 531,1 kN
Fx = 20/3,6 kN
Fy = 10/3,6 kN

Seção transversal: hx = 25cm hy = 50cm


d’x d’y = 3,5cm

Concreto: fck = 15 MPa


α fc = 0,85 fcd

Aço CA50A: fy = fyd


19

Figura 10 - Diagrama de interação, com as rigidezes secantes


20

• Resultados

Iteração z x(z),inicial Mx(z) kx 1/rx(z) x(z),final y(z),inicial My(z) ky 1/ry(z) y(z),final


1 topo 3,6 0,00000 0,00 83 0 0,00336 0,00000 0,00 75 0 0,00725
2,7 0,00000 5,00 81,25 0,000184 0,00214 0,00000 2,50 74,5 0,000401 0,00462
1,8 0,00000 10,00 79 0,000378 0,00107 0,00000 5,00 74 0,000807 0,00231
0,9 0,00000 15,00 79 0,000567 0,00031 0,00000 7,50 73,5 0,001219 0,00066
base 0 0,00000 20,00 79 0,000756 0,00000 0,00000 10,00 73 0,001637 0,00000

x y(x),inicial M(x) kx 1/r(x) x(z),final y(z),inicial M(x) 1/r(x) y(z),final


2 topo 3,6 0,003364 0,00 83 0 0,00372 0,00725 0,00 75 0 0,01053
2,7 0,002144 5,65 80 0,000211 0,00236 0,00462 3,90 74,4 0,000626 0,00666
1,8 0,001072 11,22 79 0,000424 0,00118 0,00231 7,62 73,9 0,001232 0,00329
0,9 0,000306 16,62 79 0,000628 0,00033 0,00066 11,00 73,3 0,001792 0,00092
base 0 0 21,79 78,8 0,000826 0,00000 0,00000 13,85 72,9 0,002269 0,00000

x y(x),inicial M(x) kx 1/r(x) x(z),final y(z),inicial M(x) 1/r(x) y(z),final


3 topo 3,6 0,003723 0,00 83 0 0,00377 0,01053 0,00 75 0 0,01211
2,7 0,002365 5,72 80,4 0,000213 0,00240 0,00666 4,56 74,22 0,000734 0,00763
1,8 0,001178 11,35 79 0,000429 0,00120 0,00329 8,85 73,48 0,001438 0,00376
0,9 0,000334 16,80 78,87 0,000636 0,00034 0,00092 12,61 72,9 0,002066 0,00104
base 0 0 21,98 78,16 0,00084 0,00000 0,00000 15,59 72,48 0,00257 0,00000

x y(x),inicial M(x) kx 1/r(x) x(z),final y(z),inicial M(x) 1/r(x) y(z),final


4 topo 3,6 0,003774 0,00 83 0 0,00379 0,01211 0,00 75 0 0,01287
2,7 0,002399 5,73 80,32 0,000213 0,00241 0,00763 4,88 74,09 0,000786 0,00811
1,8 0,001196 11,37 79 0,00043 0,00120 0,00376 9,44 73,23 0,001539 0,00398
0,9 0,00034 16,82 78,65 0,000639 0,00034 0,00104 13,38 72,74 0,002197 0,00110
base 0 0 22,00 77,77 0,000845 0,00000 0,00000 16,43 72,22 0,002718 0,00000

x y(x),inicial M(x) 1/r(x) x(z),final y(z),inicial M(x) 1/r(x) y(z),final


5 topo 3,6 0,00379 0,00 83 0 0,00380 0,01287 0,00 75 0 0,01325
2,7 0,00241 5,73 80,29 0,000213 0,00241 0,00811 5,03 74,02 0,000812 0,00834
1,8 0,001202 11,37 79 0,00043 0,00120 0,00398 9,72 73,11 0,001589 0,00409
0,9 0,000342 16,83 78,54 0,00064 0,00034 0,00110 13,75 72,66 0,002261 0,00113
base 0 0 22,01 77,58 0,000847 0,00000 0,00000 16,84 72,1 0,00279 0,00000

6 x y(x),inicial M(x) kx 1/r(x) x(z),final y(z),inicial M(x) 1/r(x) y(z),final


topo 3,6 0,003798 0,00 83 0 0,00380 0,01325 0,00 75 0 0,01343
2,7 0,002415 5,73 80,3 0,000213 0,00242 0,00834 5,11 73,98 0,000824 0,00845
1,8 0,001205 11,38 79 0,00043 0,00121 0,00409 9,86 73 0,001614 0,00415
0,9 0,000343 16,83 78,5 0,000641 0,00034 0,00113 13,93 72,61 0,002293 0,00114
base 0 0 22,02 77,5 0,000848 0,00000 0,00000 17,03 72,02 0,002826 0,00000
21

1,4

1,2

0,8

0,6

0,4

Desl. Real
0,2
Desl. Lin.

0
0,0000 0,0500 0,1000 0,1500 0,2000 0,2500 0,3000 0,3500 0,4000

Figura 11 – Vista superior da configuração deformada do pilar (x,y em cm)

Observa-se na Figura 11 que é muito pequeno o efeito da rotação da linha


neutra no pilar.

• Verificação

Os resultados foram verificados utilizando o método do pilar padrão melhodo.


Conhecida a configuração final, utilizamos nos cálculos a rigidez secante
associada aos esforços solicitantes finais na base, fazendo o caminho inverso,
ou seja, dado o momento total na base, determinamos os momentos
disponíveis de 1 a ordem:

M y ,tot,base = 17,03 kNm → κ iyθ = 72,0


M x, tot,base = 22,02 kNm → κ iyθ = 77,6

α Ey = 0,461 e α Ey = 0,107

tal que,
22

M 1 y ,base = 9,94 kNm


M 1x ,base = 20,02 kNm

4.3 Utilização da rigidez secante κ

Estudos realizados por França em sua tese de doutorado [FRANÇA-1]


mostraram que a rigidez secante κcs pode ser utilizada com várias vantagens
no problema da flexão oblíqua.

Ao estudar seções retangulares de concreto, utilizando αfc = 1,1 fcd e γf3 = 1,1
para o traçado de diagramas de interação para a flexão oblíqua, o autor
observou que embora os diagramas momento curvatura fossem bastante
diferentes para cada nível de solicitação, as rigidezes κcsxθ e κcsyθ variavam
muito pouco para um θ constante, o que levou o autor a considerar esta rigidez
constante para cada θ e determinada para cada θ segundo esquema da Figura
12 e a traçar ábacos relacionando κcsxθ e κcsyθ ao ângulo θ (Figura 13).
23

Figura 12 - Diagrama momento-curvatura para θ constante com esquema da linearização


proposta
24

Figura 13 – Ábacos relacionando κ e θ

Analisando ábacos iguais aos da Figura 13, e observando que as rigidezes


κcsxθ e κcsyθ variam pouco em relação a θ, França propôs uma simplificação
adicional: considerar para cada seção apenas um κcsx e κcsy que podem ser
obtidos dos diagramas de interação para a flexão normal composta elaboradas
pelo autor. O autor sugere ainda um fator de correção, de maneira a garantir
uma rigidez a favor da segurança:

κ csy = β ayκ csy, y


( 49 )
κ csx = β axκ cxx
25

sendo β ay e β ax coeficientes de correção, menores ou iguais à unidade.

As rigidezes secantes aqui definidas podem ser utilizadas junto com o processo
do Pilar Padrão Melhorado, resultando sempre valores a favor da segurança,
pois este processo utiliza sempre a rigidez da base (seção mais solicitada) para
todo o pilar e também com outros processos, como o P-∆.

5 Conclusões

Concluímos que o processo geral é demasiadamente trabalhoso e impraticável


já para pequenas estruturas. Como alternativa apresentamos a utilização da
rigidez secante, que conduz a resultados precisos, com a utilização de muito
menos esforço.

Conclui-se ainda que a flexão oblíqua em estruturas de concreto é um assunto


bastante importante e vasto, com muitas questões a serem ainda resolvidas.

6 Bibliografia consultada

[ADINA-3]
ADINA R & D Inc.. ADINA - Automatic dynamic incremental
nonlinear analysis - Theory and modeling guide. Watertown, MA,
1996.

[FRANÇA-1]
FRANÇA, R. L. S.. Relações momento-curvatura em peças de
concreto armado submetidas à flexão oblíqua composta.
Dissertação (Mestrado). Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo. São Paulo, 1984.

[FRANÇA-2]
FRANÇA, R. L. S.. Contribuição ao estudo dos efeitos de
segunda ordem em pilares de concreto armado. Tese de
doutorado. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. São
Paulo, 1991.

[FUSCO-1]
FUSCO, P. B.. Estruturas de concreto – solicitações normais.
Rio de Janeiro. Ed. Guanabara Dois, 1981.

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