A Terra Goytacá Digitada - Alberto Lamego

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Alberto Lamego

A TERRA GOYTACÁ
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TERRA GOYTACÁ
A’ LUZ DE DOCUMENTOS INÉDITOS
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IMAGEM
Benza Sra de Souza
(Da Penacotéca dos Airises)
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ALBERTO LAMEGO

A TERRA GOYTACÁ

Á LUZ DE DOCUMENTOS INÉDITOS

TOMO QUINTO
PÁGINAS AVULSAS

DIÁRIO OFICIAL
NITERÓI – 1942
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Do mesmo autor: A TERRA GOYTACÁ – à


luz de documentos inéditos – 1º, 2º, 3º
e 4º tomos.
__________

AUTOBIOGRAFIA E INÉDITOS de Cláudio


Manuel da Costa – (Tiragem 300 exemplares)
__________

PAPÉIS INÉDITOS, sobre João Fernandes


Vieira.
__________

APARECIMENTO da milagrosa imagem de N.


S. da Conceição, que se venera em Cabo
Frio.
__________

A ACADEMIA BRAZILICA DOS RENASCIDOS


– Sua fundação e trabalhos inéditos.
__________
MENTIRAS HISTÓRICAS
__________

VERDADEIRA NOTÍCIA da Fundação da Matriz


de S. Salvador e seus Parocos de 1652 a 1925.
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5.º VOLUME

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PÁGINAS AVULSAS
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CAPÍTULO 1
Creação dos Terços de Auxiliares de Ordenança. Regimento de Melicia.
Embarcações que conduziam açucar e madeira. As lutas com os portuguêses e
nacionais. Os partido exaltado, Caramurú e moderados. Assassinato do Dr.
Alipio. Juizes de Fóra da Capitania do Paraíba do Sul. Cessa a jurisdição dos
juizes Ordinários. O distrito é constituido em Comarca. O 1.º juiz de Direito e
Promotor Público. O estado da vila de Campos, quando elevada à cidade. A
iluminação pública, cadeia, hospital, cemitério e curral do Açougue.
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Findára o século XVIII de tão tristes recordações para os campistas e
abrira as portas o seculo XIX.
Nessa época era Mestre de Campo do distrito dos Goitacás José
Caetano Barcelos Coutinho.
Quando era Vice-Rei do Estado do Brasil, o Conde de Azambuja em
1768, todos os moradores de Campos foram distribuidos nos dois Terços,
então, creados, um de Auxiliares, outro de Ordenanças. O primeiro foi
organisado em 14 Companhias e déstas duas eram de cavalaria, oito de
infantaria de homens brancos e quatro de pardos.
O número de alistados orçava em dois mil homens e o seu primeiro
mestre de Campo foi o alcaide-mór João José de Barcelos Coutinho.
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O Terço da Ordenança, tinha, dez Companhias e uma de forasteiros e


foi o seu primeiro capitão-mór Tomé Alvares Pessanha.
Em 1797, o Terço Auxiliar foi transformado em Regimento de Milicias,
sendo o seu primeiro Coronel, o Mestre de Campo José Caetano Barcelos
Coutinho, que havia sucedido a seu pae falecido em 1779.
Os moradores da vila de S. Salvador não excediam de cinco mil e as
suas casas eram quase todas de taipa, pois não se utilisavam de pedras na
construção delas, que só mais tarde foram descobertas no interior do sertão.
A população rural era quase toda, composta de lavradores que eram
obrigados a comparecer de oito em oito dias, para o serviço militar, na vila,
quando não iam para o Rio de Janeiro, servir nas fortalezas, e isto causava
grandes danos ás lavouras, principalmente, de canas de açucar que ficavam
abandonadas e entregues á voragem dos animais.
Por outro lado, o comércio da vila estava em mãos dos portuguêses, que
faizam largos empréstimos aos lavradores e destes recebiam todo açucar, com
grandes lucros, e quando, ausentes em serviço real, não saldavam os
empréstimos, eram executados em seus bens.
O açucar era geralmente exportado para Portugal e segundo dizia o
Marquês de Lavradio, ao Secretario do Reino, Conselheiro Martinho de Melo
Coutinho, era "era em maior abundancia que o dos engenhos da Capital e seus
reconcavos e servia para a carga da maior parte dos navios, que do porto do
Rio de Janeiro, seguiam para Lisbôa.
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Era exportado, bem como a aguardente, madeiras de lei, (principalmente


jacarandá) e outros generos por via maritima. Só o gado, para abastecimento
do Rio, ia por terra, em longos caminhos pela costa do atlantico.
Os barcos empregados no transporte dêsses generos, eram de fundo
raso, com cêrca de 50 toneladas, e feitos nos estaleiros de São João da Barra.
O povo denominava essas embarcações "lánchas de orêlha de mula e
sumaguinhas de cú de galinha".
Em 1801, devido ás guerras com os espanhóis do que resultou a
conquista dos Sete Povos das Missões, com receio dos piratas que infestavam
os mares, os barcos que faziam a carreira de S. João da Barra ao Rio, eram
comboiados por duas barcas, chamadas "artilheiras". Déssa fórma navegavam
os brigues Balão e Real João, carregados de açucar e jacarandá.
Como a entrada e saida da barra oferecia perigo á navegação foi creado
o lugar de patrão-mór, sendo o primeiro nomeado, Miguel Gonçalves Vitoria,
que tomára posse em 5 de Setembro de 1807, sendo-lhe permitido cobrar
5$000 rs. pela entrada e saida das embarcações. Mais tarde, em 1815, foi
substituido por Joaquim Tomás de Faria.
Os moradores de Campos foram sempre dados á festas religiosas,
naquele tempo, celebradas com grande pompa nas oito igrejas que levantaram
na vila.
Tambem os missionarios por ali passavam constantemente, pregando a
palavra de Cristo.
Quando D. João VI chegou ao Rio de Janeiro em 7 de Janeiro de 1808 a
vila cobriu-se de galas durante
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três dias e foram ruidosos os festejos, que se repetiram por ocasião do


casamento de D. Pedro e em todas datas nacionais.
Em visita pastoral esteve na vila duas vezes, em 1812 e 1819 o bispo
diocesano D. José Caetano da Silva Coutinho. Da primeira vez, em 11 de
Setembro, quando visitou a igreja de N. S. Mãe dos Homens, com jurisdição
ordinaria, houve serio incidente entre ele e o Provedor da Santa Casa,
Custodio José Nunes, já por nós referido (4.º Vol. da Terra Goytacá, Cap. VIII
pgs. 179).
Os graves acontecimentos desenrolados em Portugal, em Agosto de
1820, com a revolução chefiada por Manoel Fernandes Tomás e outros, que
tinha por fim estabelecer uma constituição, foi apoiada por muitos portuguêses
que residiam em Campos e em S. João a Barra.
Partidarios dos revoltosos do Porto eram os tres majores dos Córpos
Milicianos de Campos, Pedro Augusto, da cavalaria; Prestes, da infantaria, e
Rolão Torrezão, de Caçadores, que chegaram a simular uma insurreição de
escravos.
Tambem, o Ouvidor José de Azevedo Cabral, que fôra juiz de Fóra, em
audiência pública, deu vivas à dinastia de Bragança e á lei portuguêsa
constitucional.
Tanto na vila de S. João da Barra como na de Campos, os habitantes se
dividiram em dois partidos, pró e contra a futura constituição e defendiam os
seus ideais, pelas armas, dando origem a graves conflitos.
Já não se achando no Brasil D. João VI, que se retirára para Lisboa em
26 de Abril de 1821, o príncipe
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regente D. Pedro, que ficára, enviou á Campos, o Brigadeiro José


Manuel de Morais para sossegar os animos, e prender os cabeças de motins,
major Rolão e um tal Manuel Alves de Jesús, que ás redeas soltas, entrára na
vila de S. Salvador e espalhára o boato que uma forte coluna de escravos das
fazendas do "Visconde" e do "Colégio", se aproximavam para atacar a vila".
Ambos foram presos e a ordem foi restabelecida, mas por poucos dias.
Tendo as Côrtes de Lisbôa, em Abril de 1821, declarado independentes
do Rio de Janeiro, todos os governos provinciais, ficando estes só sujeitos a
Portugal, os brasileiros se insurgiram contra esses atos despoticos.
Mais se exasperaram, quando souberam que tinham sido abolidos os
tribunais mais importantes do Rio de Janeiro e que D. Pedro havia recebido
ordem para se recolher ao Reino.
A Camara da vila de S. Salvador recebeu da do Rio de Janeiro um
convite para promover uma representação pedindo ao principe para ficar no
Brasil.
Em comicio, o Ouvidor José Libanio de Sousa, arengou ao povo,
secundando o pedido da Camara do Rio de Janeiro e a representação foi
coberta de assinaturas.
Depois da Independencia do Brasil, em 7 de Setembro de 1822, os
partidarios de Portugal procuraram, por todos os meios, auxiliar as tropas
portuguesas que na Baía, comandadas pelo General Madeira, continuavam
fieis a D. João VI, enviando-lhe generos alimenticios. O ministro do reino José
Bonifácio de Andrada
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e Silva, tendo conhecimento do que ocorria, enviou à Câmara Municipal


de Campos, em 23 de Setembro de 1822, o seguinte oficio:
"Constando a S. A. R., o Príncipe Regente, que se tem concedido
despachos de saida de embarcações carergadas de mantimentos paar o porto
da Bahia, cujo procedimento, é nas atuais circunstancias, o mais estranho e
criminoso, por aumentar ou conservar por meio delas, as forças inimigas da
causa do Brasil, que oprime aquela cidade e se denuncia o precioso fim da
segurança e tranquilidade publicas; Manda o mesmo Augusto Senhor pelo
Secretario de Estado dos Negocios do Reino, que a Camara da vila de S.
Salvador dos Campos Goitacazes, tenha toda vigilancia em obstar a saida das
embarcações carregadas de mantimentos, não só para o porto da Bahia, mas,
ainda, para quaisquer outros, onde existiam tropas européas, com a pena de
se proceder criminalmente, contra os proprietarios e carregadores das
embarcações, como réos de lesa traição, ficando a mesma Câmara na mais
rigorosa responsabilidade pela fiel execução da presente lei:".
Em virtude das revoluções em diversas provincias, principalmente, na
Baía, onde os portuguêses se opunham á Independencia do Brasil, teve o
governo de combatê-los e devido a esses sucessos, começaram a escassear
os generos na capital do Imperio.
A Câmara do Rio de Janeiro, em 5 de Julho de 1823, três dias depois de
terem as tropas portuguêsas evacuado a Bahia, se dirigiu a de Campos,
pedindo que enviasse a maior quantidade de generos que pudesse, afim
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de serem adquiridos pelos seus habitantes, pelo menor preço possivel.


Ao mesmo tempo enviou uma tabela de preços correntes que não
deviam ser aumentados. Essa tabela era a seguinte: – arroz de Santos, 8$300
réis o saco, de 6 arrobas; açucar redondo, 2$000 réis a arroba; açucar
mascavo, 1$000 réis a arroba; café de 1. a qualidade, 3$400 réis a arroba; carne
seca, 1$300 réis a arroba; feijão preto, 4$000 réis o saco; farinha, 4$000 réis o
saco; milho, 2$000 réis o saco; e, farinha americana, 14$000 réis a barrica.
Ao chegar D. Pedro de Minas em 11 de Março de 1831, onde não fora
acolhido, como esperava, teve uma manifestação dos portuguêses, o que
provocou um conflito sanguinolento com o "partido exaltado", conflito que teve
lugar na noite de 13 para 14 do mesmo mês e é conhecido pelo nome, "noite
das garrafadas".
Nomeou então, um novo ministerio composto de 6 titulares que não
eram do agrado do povo, que pediu a reintegração do que havia sido demitido,
o que não acedeu D. Pedro, abdicando em 7 de Abril seguinte em seu filho D.
Pedro que tinha apenas 5 anos e nomeou-lhe tutor José Bonifacio de Andrada
e Silva. Partiu depois para Europa no dia 13 de Abril, na fragata inglêsa
"Volage".
Os acontecimentos de 7 de Abril, provocaram uma insurreição na vila de
S. Salvador e na praça Principal houve encontros sangrentos entre os
nacionais e "papeletas", como eram chamados os portuguêses.
A Regencia ciente dos disturbios, em 12 de Outubro de 1833, pelo
Ministro da Justiça, Aureliano de Sousa
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e Oliveira Coutinho, enviou à Câmara da vila de Campos, o seguinte


oficio:
"Achando-se nessa Provincia entrados no Imperio, muitos portuguêses,
vulgarmente chamados "Papeletas", algum dos quais esquecendo-se dos seus
deveres, como estrangeiros em um paiz que os acolhe benignamente, tem
intervido nos negocios publicos do mesmo paiz, já envolvendo-se neles, já
insultando os seus naturais, perturbando com semelhante procedimento a
ordem e tranquilidade publicas, chamando contra si, a indignação dos mesmos
naturais, a Regencia em nome do Imperador D. Pedro II, a quem compete dar
todas as providencias, para que se mantenham a dita ordem e tranquilidade,
removendo todas as causas que a possam alterar. Manda pela Secretaria do
Estado dos Negócios de Justiça, que a Câmara da vila de S. Salvador dos
Campos, ordene aos juizes de Paz do seu municipio, que remetam com
brevidade possivel á esta Secretaria, uma relação de tais individuos,
moradores nos seus distritos, e de qualquer outros estrangeiros que estejam
nestas circunstancias, afim do governo os mandar imediatamente, para fora do
Imperio, ficando os referidos juizes, responsaveis por qualquer omissão sobre
este objeto". Começaram as lutas politicas entre os dois partidos: – o "exaltado"
e o "caramurú"; aquele promovêra a revolução e este queria a restauração de
D. Pedro. Surgiu depois o partido "moderado", que dominou até a maioridade
de D. Pedro II, no qual se filiaram todos os que queriam o engrandecimento do
Brasil.
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Em Campo fundou-se

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