VIEIRA, Kalyne de Souza - NUNES, Maíra Fernandes Martins. Ciberespaço e Educomunicação
VIEIRA, Kalyne de Souza - NUNES, Maíra Fernandes Martins. Ciberespaço e Educomunicação
VIEIRA, Kalyne de Souza - NUNES, Maíra Fernandes Martins. Ciberespaço e Educomunicação
RESUMO
Este artigo versa sobre participação cívica dos jovens na internet. O objetivo é
compreender a importância do ciberespaço como local para a atuação cidadã de crianças
e adolescentes. Neste sentido, a partir dos referenciais teóricos e pesquisas já existentes
sobre a temática proposta, foram analisados alguns aspectos referentes à utilização que
hoje os jovens fazem do ciberespaço. O artigo traz ainda a relação entre democracia e
comunicação ao longo da história, analisando a importância da educomunicação para a
construção da cidadania. Para contextualizar a temática, foi apresentado o caso da
estudante Isadora Faber, 13 anos, que criou a fanpage Diário de Classe para denunciar a
precariedade da Escola Estadual Maria Tomázia Coelho.
PALAVRAS-CHAVE
Ciberespaço; Educomunicação; Democracia; Cidadania; Criança e Adolescente.
Introdução
Este artigo versa sobre participação cívica dos jovens na internet. O objetivo é
compreender a importância do ciberespaço como local para a atuação cidadã de crianças
e adolescentes. Neste sentido, a partir dos referenciais teóricos e pesquisas já existentes
sobre a temática proposta, serão analisados alguns aspectos referentes à utilização que
hoje os jovens fazem do ciberespaço, em seguida será abordada a relação, ao longo da
história, entre democracia e comunicação, analisando-se a importância hoje da
educomunicação para a construção da cidadania.
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Trabalho apresentado no DT07 – Comunicação, Espaço e Cidadania do XV Congresso de Ciências da Comunicação
na Região Nordeste realizado de 12 a 14 de junho de 2013.
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Aluna especial do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPB, e-mail: [email protected]
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Orientadora do trabalho. Professora do curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Campina Grande,
e-mail: [email protected]
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Na estrutura de comunicação massiva, o conteúdo é controlado por um polo – veículos de massa – que envia
informações para os receptores. Já o modelo de comunicação pós-massivo permite o surgimento de diversos polos de
emissão – a liberação da emissão. (LEMOS; LÉVY 2010, p.10).
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É essa atuação que confere uma participação ativa desse grupo na vida social.
Soares (2011) reforça essa ideia apontando uma pesquisa realizada pela MacArthur
Foundation sobre Juventude Digital. O estudo revelou que, nos Estados Unidos, “os
jovens estão se voltando para as redes on-line não apenas para se divertir, mas também
para participar de várias atividades públicas e desenvolver normas sociais.” (SOARES,
2011, p.28).
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Esse arsenal de possibilidades traz algumas preocupações. Será que esses jovens
tão familiarizados com as novas ferramentas de comunicação estão preparados para
atuar de maneira correta, com segurança e prudência na web? Será que os jovens sabem
como gerenciar os diálogos produzidos neste meio, de modo que impactos negativos de
grande difusão na mídia não repercutam de maneira desastrosa em suas vidas? Os
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jovens sabem utilizar as redes sociais para garantir seus direitos? Como os jovens
exercem a sua cidadania através das redes sociais?
Ampliar o potencial comunicacional dos jovens a partir do uso das redes sociais
pode garantir que esses cidadãos possam atuar de maneira mais crítica e engajada nas
questões sociais. Assim como ocorre em vários países do mundo, o governo brasileiro
reconhece a importância da educação para os meios de comunicação e algumas ações já
são desenvolvidas neste âmbito. Além disso, organizações não-governamentais,
universidades e empresas privadas também atuam na promoção da educomunicação.
Desde 2007, a educomunicação foi legitimada pelo Ministério da Educação, através do
Programa Mais Educação5. Além disso, em 2010, o Ministério da Educação publicou
um documento que apresenta parâmetros curriculares para o ensino médio,
evidenciando a relevância do domínio dos processos e procedimentos comunicativos
para uma participação ativa na vida social.
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Criado pela Portaria Interministerial nº 17/2007, o Programa Mais Educação aumenta a oferta educativa nas escolas
públicas por meio de atividades optativas que foram agrupadas em macrocampos como acompanhamento
pedagógico, meio ambiente, esporte e lazer, direitos humanos, cultura e artes, cultura digital, prevenção e promoção
da saúde, educomunicação, educação científica e educação econômica. Fonte: portal.mec.gov.br
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A ágora grega dá lugar à esfera pública burguesa. Esta última, no século XVIII,
era formada por indivíduos que se reuniam privativamente para discutir as normas da
sociedade civil e da condução do estado. Para Habermas (apud THOMPSON, 2011,
p.104), o surgimento da imprensa periódica foi essencial para o estabelecimento da
esfera pública burguesa. Isto porque os jornais foram utilizados para debater questões
críticas sobre sociedade e a política da época. Apesar de autores questionarem as
afirmações de Habermas quanto à Esfera Pública, como o próprio Thompson, eles
reconhecem a importância da imprensa no processo de democratização de países da
Europa.
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Mas não foi apenas o avanço da microinformática que criou este novo cenário.
A cibercultura foi influenciada pela contracultura americana e pela pesquisa militar.
Apesar de possíveis oposições, a cibercultura nasceu com (re)configurações importantes
para o seu estabelecimento. Os investimentos em ciência e tecnologia só foram
viabilizados a partir da Segunda Guerra Mundial, quando a segurança nacional dos
EUA foi “ameaçada” com o programa espacial soviético. (CASTELLS, 2003, p.22).
Instituições governamentais, universidades e centros de pesquisa reuniram esforços para
desenvolver uma tecnologia de ponta capaz de atender às exigências militares. Ao
mesmo tempo, a contracultura americana reivindicava a liberdade individual, o
pensamento independente, a solidariedade e a cooperação. (CASTELLS, 2003, p.26).
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Grupos que até então eram “controlados” pelos meios de comunicação de massa,
ganharam espaço para expor suas ideias e opiniões. “A computação social aumenta as
possibilidades da inteligência coletiva e, por sua vez, a potência do ‘povo’” (LEMOS;
LÉVY 2010, p.14). Quando o individuo deixa de ser apenas consumidor de informações
e passa a produzir, reconfigurar e compartilhar conteúdo no ciberespaço, abre-se a
oportunidade de agir política, social e culturalmente. “Quanto mais podemos livremente
produzir, distribuir e compartilhar informação, mais inteligente e politicamente
consciente uma sociedade deve ficar.” (LEMOS; LÉVY 2010, p.27).
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Tanto Isadora Faber quanto a comunidade escolar tiveram suas vidas afetadas
com a repercussão da página. Segundo a aluna, poucos pais e alunos “curtiram” a
iniciativa da aluna. E nenhum professor ou gestor da escola aprovam a atitude, apesar
do respaldo dos mais de 500 mil curtidores de sua fanpage. Entre várias situações
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Endereço eletrônico da Fanpage Diário de Classe: https://www.facebook.com/DiariodeClasseSC.
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vivenciadas por Isadora, estão o apedrejamento de sua casa e a acusação de calúnia feita
por uma professora que levou a garota a ser intimida a prestar depoimento.
Torna-se preocupante que muitas escolas ainda não percebem que seus alunos
estão conectados, que estão participando das redes sociais e que se sentem à vontade
para expressar opiniões. Se a escola é um local onde os estudantes deveriam ser
incentivados e apoiados a exercer a sua cidadania e utilizar seu senso crítico e liberdade
de expressão, porque não apoiar iniciativas como a de Isadora? Por que é preciso
silenciá-la? Para Paulo Freire (2011), a educação democrática precisa incentivar a
capacidade crítica do educando. O autor complementa:
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Considerações Finais
Manuel Castells (2003, p.135) procura deixar evidente que a internet não oferece
a libertação nem a dominação unilateral. O autor lembra que a luta pela liberdade é
contínua e que precisa se redefinir a cada contexto social e tecnológico. O ciberespaço
torna-se a ágora pública da cibercultura. O povo precisa estar no controle desta nova
esfera pública. (CASTELLS, 2003, p.135)
REFERÊNCIAS
BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade; por uma teoria geral da política. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1987.
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CGI.br. TIC Kids Online Brasil 2012. São Paulo, 2012. Disponível em
http://www.cetic.br/usuarios/kidsonline/2012/index.htm. Acesso em: 20 nov. 2012.
MATOS, Maurílio Castro de, LEAL, Maria Cristina (org.). Política Social, Família e Juventude.
4.ed. São Paulo: Cortez, 209. p. 147-164.
LEMOS, André; LÉVY, Pierre. O Futuro da internet: em direção a uma ciberdemocria. São
Paulo: Paulus, 2010.
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