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CRISTINA
PORTO
ilustrações
MICHELE
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Caderno é caderno, diário é diário. Já tive caderno-diário, caderno-caderno e diário-diário, com fechadurinha, cadeado e tudo. E, depois de reler alguns deles, cheguei a uma conclusão: daqui pra frente, vou fazer cadernos de anotações e diários de confissões. Não, não é bem isso. Assim fica parecendo coisa de repórter, de detetive... O que eu quero dizer é que vou usar o caderno para falar o que me der na cabeça e na vontade. E, através dele, vou fazer de conta que estou conversando com várias pessoas ao mesmo tempo. Agora, com o diário vai ser diferente. Para ele vou contar coisas íntimas, segredos, enfim, tudo o que eu não quiser que ninguém saiba. O diário vai ser meu confidente. E o caderno vai ser como... como um telefone de várias linhas. É. É mais ou menos isso. Um telefone de papel com muitas linhas. Pronto. Já comecei a escrever no meu caderno-telefone, o cadernofone. Agora vou discar um número para fazer a primeira ligação.
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Q uando eu pensava que não fosse mais ter ideias novas para fazer novas surpresas... Pimba! Lá vinha uma quentinha, cheirosa, macia, fofinha, feito pão assado em forno de lenha. Taí! A surpresa que eu resolvi preparar para comemorar a Páscoa com seu Nonô e os amigos mais chegados foi em forma de pão (sem forma). Sem forma, sim, pois eu fiz a mamãe coelha, o pai e os coelhinhos com as minhas mãos. A massa foi aquela que acerto sempre, pois já pratiquei muito. Deixei crescer lá no meu quarto, escuro e quentinho (cobri a massa com um pano de prato e um cobertor), durante uma hora, levei para a cozinha, amassei mais um pouco e comecei a fazer os bichinhos. Depois de assados e frios, arrumei todos em uma caixa de papelão forrada com papel-alumínio. Ah, e coloquei um lacinho de fita no pescoço de cada filhote. Usei fita amarela, verde, azul, branca e vermelha. Por último, embrulhei a caixa com um papel azul forte e amarrei com um laço de fita rosa, bem larga. Ficou lindo o pacote!
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Os pães-coelhos foram feitos no Sábado de Aleluia. Nós, a Rosalina, a Lucinha e a Liginha, o Tavico, o Serafim, o Tadeu, a Julinha e eu, já havíamos combinado de passar na casa do seu Nonô no domingo, logo cedo, para levar a ele nem que fosse um ovinho de chocolate. E eu, claro, não contei a ninguém que ia levar pão em vez de ovo. Mal o Domingo de Páscoa amanheceu, fui procurar o meu ovo. Estava atrás da porta que fica entre a sala e a cozinha. Abri rapidinho pra ver o que tinha dentro dele — eram quatro balas e quatro bombonzinhos —, fechei de novo, guardei, dei um beijo no pai e na mãe (a Severina ainda estava dormindo), peguei a caixa azul e saí de casa correndo. Ufa! Foi com essa pressa toda que cheguei à casa do meu amigo Nonô. E cheguei com o coração batendo na boca, coisa que acontece toda vez que preparo alguma surpresa pra alguém. Fui a última a chegar, apesar de achar que estava madrugando: — Feliz Páscoa, seu Nonô! Tome! Fiz especialmente pro senhor! Abra! Veja logo o que é! — Calma, Serafina, calma! Vamos por partes. Feliz Páscoa pra você também. Nessa altura, todos já estavam rodeando o seu Nonô,
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curiosos pra saber o que havia dentro da caixa azul. E dando palpites, claro. — Já sei! É um coelhinho de verdade! — Não, deve ser coelho, mas de pelúcia! — Não, acho que são ovos, mas de galinha! Este último comentário, mais cretino do que os outros, começou a me deixar enfezada. Ainda bem que o seu Nonô abriu logo a caixa e, como sempre, lacrimejou quando viu a coelhada com fitinha no pescoço. — Que beleza, Serafina! Foi você mesma que fez a família toda? — Nossa! Que legal! Você fez um para cada um, Serafina? Ou são todos do seu Nonô? — Calma, meninos, calma, calma! Tem pão-coelho pra todo mundo. E com chocolate bem quentinho que eu deixei pronto lá no fogão. A mesa da cozinha já está posta. Vamos comemorar o Domingo de Páscoa sem brigas nem discussões. Com muita harmonia, ouviram bem? E foi assim a nossa festa de Páscoa. Ou melhor, o nosso café da manhã de Páscoa. Que terminou com música, beijos e abraços. O abraço que recebi foi comprido e apertado. E o beijo, molhado... Seu Nonô está ficando cada dia mais chorão. (E eu também...)