Recomendacao - Parque Nacional Dos Campos Amazonicos

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PR-RO-00037507/2024

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Assinado com login e senha por GABRIEL DE AMORIM SILVA FERREIRA, em 17/09/2024 21:04. Para verificar a autenticidade acesse
PP Nº 1.31.000.001541/2024-17

RECOMENDAÇÃO Nº 02/2024/MPF/PR-RO/GAB8

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O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da República
signatário, no regular exercício de suas atribuições institucionais, com base nos artigos 127,
129, incisos II e III, e 225, caput e § 3º, da Constituição Federal, nos artigos 5º, inciso III,
alínea d, e 6º, incisos VII, alínea b, e XX, da Lei Complementar 75/1993, bem como com
fundamento no disposto na Lei Federal 7.347/1985, e

CONSIDERANDO que ao Ministério Público incumbe a defesa da ordem


jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, e que o
Ministério Público tem como funções institucionais a promoção do inquérito civil e da ação
civil pública para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros
interesses difusos e coletivos, de conformidade com a Constituição Federal, artigos 127,
caput, e 129, incisos II e VI, e Lei Complementar 75/93, artigos 5º e 6º;

CONSIDERANDO que dispõe o art. 129, inciso II, da Constituição Federal


ser função institucional do Ministério Público “zelar pelo efetivo respeito dos Poderes
Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição,
promovendo as medidas necessárias a sua garantia”;

CONSIDERANDO que o meio ambiente é bem de uso comum do povo e


essencial à qualidade de vida, sendo direito de todos o meio ambiente ecologicamente
equilibrado e também dever de todos a defesa e preservação deste para as gerações presentes
e futuras (art. 225 da CF/88);

CONSIDERANDO que o Parque Nacional dos Campos Amazônicos é uma


Unidade de Conservação Federal de Proteção Integral localizada nos Estados de Rondônia,
Amazonas e Mato Grosso, com área total de 961.317,77 hectares, criada por Decreto em
21/06/2006, com o objetivo de “proteger a diversidade biológica e os processos ecológicos
da região entre os rios Machado, Branco, Roosevelt e Guaribas, suas paisagens e valores
abióticos associados”.

CONSIDERANDO que o PARNA dos Campos Amazônicos possui imenso

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potencial científico e para ecoturismo, por sua rica diversidade e pela existência da fauna e
flora características do Cerrado em um trecho típico de Floresta Amazônica;

CONSIDERANDO a proximidade da Unidade de Conservação com as Terra


Indígenas Tenharim-Marmelos e Tenharim do Igarapé Preto, que abrigam cerca de 741 e 113
indígenas, respectivamente (IBGE, 2022)1, havendo, ainda, registros de presença de povos
isolados, sendo, portanto, evidente a necessidade de proteção à integridade desses povos;

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CONSIDERANDO que, em visita institucional conjunta do MPF e ICMBio


ao Parque Nacional dos Campos Amazônicos, realizada nos dias 20 a 22 de agosto de 2024,
constatou-se a existência de intensa exploração de madeira no interior da Unidade de
Conservação:

1
https://terrasindigenas.org.br/pt-br/terras-indigenas/3869;
https://terrasindigenas.org.br/pt-br/terras-indigenas/3689v;
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CONSIDERANDO que o relatório de visita registrou a existência de imensa

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área degradada, com evidências de atividade de garimpo ilegal, uma vez que foram
localizadas covas de pesquisa mineral e acampamentos improvisados, bem como foi
constatada a descaracterização de igarapés que tiveram seu curso natural desviado:

CONSIDERANDO a constatação de diversas pistas de pouso clandestinas no


interior da Unidade de Conservação, provavelmente utilizadas para tráfico de drogas e para
auxiliar no garimpo ilegal:
CONSIDERANDO as notícias de Operações policiais realizadas na Unidade
de Conservação, a exemplo da Operação Retomada, deflagrada em meados do ano de 2023,
ocasião em que a Polícia Federal encontrou 118 hectares de área desmatada no PARNA e na
Terra Indígena Tenharim Marmelos2.

CONSIDERANDO o levantamento divulgado pelo Greenpeace em

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06/09/20243, no qual o Parque Nacional dos Campos Amazônicos figura na 11º posição - 123
hectares - do ranking das Unidades de Conservação com maior área ocupada pelo garimpo.
Na publicação, foram divulgadas as seguintes imagens:

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CONSIDERANDO a insuficiência das ações de fiscalizações esporádicas e


pontuais, uma vez que há notícias de que logo após a saída das equipes de fiscalização do
local, as atividades ilegais recomeçam;

https://g1.globo.com/ro/rondonia/noticia/2023/07/03/operacao-encontra-118-hectares-de-desmatamento-em-par
que-nacional-e-terra-indigena-de-ro.ghtml
3

https://www.greenpeace.org/brasil/blog/garimpo-ilegal-ja-devastou-mais-de-13-mil-hectares-dentro-de-unidades
-de-conservacao/#:~:text=O%20primeiro%20alerta%20de%20garimpo,o%20incremento%20de%20um%20ram
al.
CONSIDERANDO que a gestão do PARNA Campos Amazônicos,
atualmente é exercida pelo ICMBio, por intermédio da Coordenação Regional 1 - Porto Velho
- Núcleo de Gestão Integrada Humaitá;

CONSIDERANDO que, atualmente, o ICMBio não consegue manter a posse


mansa e pacífica do local e não possui estrutura para manter agentes de fiscalização em

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tempo integral na UC;

CONSIDERANDO que atualmente a realidade do PARNA dos Campos


Amazônicos está muito distante do ideal para possibilitar seu uso público, devido aos fortes
conflitos na região por causa do garimpo e da extração ilegal de madeira que ocorrem na UC;

CONSIDERANDO que as medidas até então adotadas pelos órgãos


competentes mostraram-se insuficientes na contenção dos avanços das atividades ilícitas no

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Parque Nacional;

CONSIDERANDO que a omissão do ICMBio e da União Federal no seu


dever específico de proteger a Unidade de Conservação impõe sua responsabilização
solidária pelos danos causados ao meio ambiente;

CONSIDERANDO que durante a visita institucional do PARNA ficou claro


que a construção de uma base permanente na região chamada “Bodocó”, com a presença de
policiais, pelo prazo mínimo de 2 (dois) dois anos, certamente interromperia a prática de
garimpo ilegal no interior da Unidade de Conservação;

CONSIDERANDO, por fim, a prerrogativa conferida ao MINISTÉRIO


PÚBLICO FEDERAL para expedir RECOMENDAÇÕES, no exercício da defesa dos
valores, interesses e direitos da coletividade, visando à melhoria dos serviços públicos e de
relevância pública, bem como ao respeito e aos interesses, direitos e bens cuja defesa lhe cabe
promover, fixando prazo para a adoção das providências cabíveis (artigo 6º, inciso XX, da
Lei Complementar nº 75/1993),

RESOLVE RECOMENDAR

À UNIÃO FEDERAL, na pessoa do Secretário Executivo do Ministério do


Meio Ambiente e Mudança do Clima, Dr. João Paulo Ribeiro Capobianco:

1 – que promova a liberação de recursos orçamentários adicionais à


Coordenação Regional do ICMBio - Porto Velho, sem prejuízo ao orçamento ordinário da
referida coordenação regional e do Núcleo de Gestão Integrada Humaitá, para construção de
uma BASE DE APOIO FIXO E PERMANENTE DE FISCALIZAÇÃO do ICMBio no
interior do Parque Nacional dos Campos Amazônicos, especificamente na região denominada
“Bodocó”, e para viabilização de patrulhamento periódico da região;

2 - que viabilize, mediante convênio com governos estaduais e o pagamento de


diárias, plantão de policiais militares por dois anos para atuarem na base permanente, em

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contingente de, no mínimo, 5 (cinco) pessoas por plantão, podendo o efetivo ser reduzido ao
longo do tempo;

3 - que, no prazo de 30 (trinta) dias e em caráter de URGÊNCIA, com verbas


adicionais ao orçamento da citada coordenação regional, construa ACAMPAMENTO
PROVISÓRIO para funcionar como barreira na estrada que liga o distrito de Guatá -
Colniza/MT às regiões usadas pelo garimpo e pela exploração de madeira, que deverá

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funcionar por 12 meses contínuos, em regime de plantão quinzenal de servidores, realizando
a fiscalização do trânsito de pessoas e veículos na estrada dentro do PARNA, até a conclusão
da base permanente. Repisa-se: o referido acampamento deverá operar enquanto a
construção da base permanente não é finalizada;

5 - que promova, por meio de militares federais apoio logístico e apoio de


segurança (Exército brasileiro, Força Nacional ou Polícia Rodoviária Federal) no local em
que funcionará o referido acampamento provisório do PARNA dos Campos Amazônicos;

Ao ICMBIO, na pessoa do seu presidente, Dr. Mauro Oliveira Pires:

1 - que promova a destruição de pontes improvisadas por toreiros ilgais que


dão acesso às áreas de extração ilegal de madeira no Parque Nacional dos Campos
Amazônicos;

2 - bem como a inutilização de pistas de pouso clandestinas encontradas no


interior do PARNA.

3 - e também a realização de patrulhamento permanente e ininterrupto no


interior e no entorno do PARNA, após a liberação de verba para a construção do
acampamento provisório, acima recomendado.

Fixa-se, com fundamento no art. 6º da LC 75/93, parte final do inciso XX, o


prazo de 30 (trinta dias, a contar do recebimento desta Recomendação, para manifestação
acerca do acatamento de seus termos, apresentando documentos que comprovem o início de
seu cumprimento e, em hipótese de negativa, os respectivos fundamentos.

A partir da manifestação de acatamento da presente Recomendação,


concede-se o prazo de 30 (trinta) dias para comprovação da construção de acampamento
provisório (item 3) e apresentação de documentos que comprovem a adoção de medidas para

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a construção da base permanente, bem como da inutilização das pontes e pistas de pouso
clandestinas.

A presente Recomendação dá ciência e constitui em mora o destinatário


quanto aos fatos e providências ora indicados. A omissão na remessa de resposta no prazo
estabelecido será considerada como recusa ao cumprimento da Recomendação, o que poderá
ensejar a adoção das providências judiciais cabíveis, em face da violação dos dispositivos

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legais acima referidos.

Porto Velho, 17 de setembro de 2024.

GABRIEL DE AMORIM SILVA FERREIRA


Procurador da República

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