O Repertório Musical No Documentário Brasileiro Dos Anos 1960
O Repertório Musical No Documentário Brasileiro Dos Anos 1960
O Repertório Musical No Documentário Brasileiro Dos Anos 1960
RESUMO: O cinema brasileiro da década de 1960 estabelece novas relações entre os filmes e a
música popular. Na América Latina esta efervescência política e artística é potencializada por
conjunturas nacionais mobilizantes como a Revolução Cubana e por outro lado, os governos
militares. As artes buscam aproximações frente a dilemas sociais comuns e se apresentam em
movimentos de renovação em estética e discurso e vemos a consolidação dos cinemas novos
brasileiros, Nuevo Cine Latinoamericano, Tropicália, Música Popular Brasileira e a Nueva Canción
Latinoamericana. Cinema, teatro, artes plásticas, literatura e música novos. No Brasil, a bossa nova,
as canções de protesto e a MPB, a Tropicália, e a música erudita com o movimento Música Nova.
Este trabalho se debruça neste panorama através do repertório musical dos filmes "Bethânia bem de
perto: a propósito de um show" (dir. Júlio Bressane e Eduardo Escorel, 1966) e "Nelson Cavaquinho"
(dir. Leon Hirszman, 1969).
1 INTRODUÇÃO
1
Artigo apresentado no GT 08 - Elementos de sons, trilhas sonoras e diversidades do 10º Musicom.
2
Mestrando na Universidade Federal Fluminense, Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual.
e-mail: [email protected]
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nós de MPBentário, que se refere a uma tendência do documentário
brasileiro voltada à temática musical, semelhante ao rockumentary
americano, mas direcionada ao cenário brasileiro da MPB. A comparação
do MPBentário com o rockumentary nos parece pertinente à medida que as
duas manifestações compactuam do esforço de aplicar a estrutura e os
propósitos do documentário, sobretudo aquelas que dizem respeito ao
cinema direto americano, ao universo da música, além de refletirem, cada
qual ao seu modo, as transformações sociais e econômicas pela qual
passavam o Brasil e o EUA. (AMARAL, 2015, p.38).
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sonora e como inspiração para o argumento do segundo filme. O show Opinião
testemunhava:
Côro
Avante, avante / Avante companheiros / Vamos fazer mais filmes / Muitos
filmes brasileiros / Fazer cinema não é sôpa, não / Não é sôpa, não, não é
sôpa, não.
Zé Kéti
Êsse é um hino que eu fiz de brincadeira para a equipe do filme Rio 40
graus. Fiz parte da equipe. Foi uma batalha. Primeiro pra filmar. Depois veio
a censura. O chefe de polícia dizia que no Rio nunca tinha feito 40 graus. O
máximo que tinha feito era 39 graus e 7 décimos. E por aí foi. Juntou todo
mundo - jornalistas, estudantes, artistas, todo mundo, e a fita saiu. O cinema
brasileiro estava começando de nôvo.
Côro
Brasil, meu Brasil, teu cenário é sem igual / Nós te dedicamos / Rio 40
graus, mais um filme nacional.
João do Vale
Cinema era difícil mesmo. Eu trabalhei com o Roberto Farias, o que dirigiu
Assalto ao Trem Pagador. E fazia chanchada porque não tinha outro jeito.
Depois, ficava sem dinheiro e ia pra fazenda do pai. Lia o livro "Selva
Trágica" e dizia - quando é que eu vou poder fazer um filme assim, hein,
Sabará?
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música tradicional de seu país, além de uma obra autoral engajada e comprometida
com a representação de uma identidade nacional.
2 UM BREVE HISTÓRICO
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implantação da Revolução Cubana que colocou o país como referência na cultura
latinoamericana. A criação do Instituto Cubano del Arte e Industria Cinematograficos
- ICAIC - foi também uma base importante nas renovações do Nuevo Cine
Latinoamericano, cujo passado colonial comum representado na obra de Frantz
Fanon inspirou a crítica à dominação cultural imposta pelos países hegemônicos
formatada no cinema brasileiro através do manifesto A Eztétyka da Fome, de
Glauber Rocha. Uma negação ao cinema industrial e enfrentamento das realidades
nacionais através de um cinema engajado e precário como opção política e estética.
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elementos de comédia, música e paródia social, em que o samba terá importante
afirmação.
(...) pode-se ali vislumbrar o nascedouro dos signos que, bem mais tarde,
serão tomados como aqueles sobre os quais é possível discutir a formação
de uma procurada identidade nacional. No Rio de Janeiro, aquele é um
momento anterior à maior dessas demarcações, o processo de legitimação
do samba, que ainda não nascera, e que na década de 1930 deixaria a
clandestinidade rumo aos salões do Estado Novo, aos estúdios da Rádio
Nacional, servindo de ferramenta um processo de hegemonização cultural
do país (COSTA, 2008. p. 67).
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na canção popular, mais engajados e ligados ao popular, abrindo caminhos para as
canções de protesto e o germe da maiúscula Música Popular Brasileira - MPB. Com
a base melódico-harmônica da bossa e um acabamento com elementos da tradição,
a Moderna Música Popular Brasileira afirmaria um "um país moderno, democrático e
sofisticado pela integração de classes, etnias e regiões" (NAPOLITANO, 2014. p.
52), utopia sublimada pelo golpe em 1964.
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quanto mais entenderam o mecanismo da situação colonial" como bem coloca Ismail
Xavier.
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O cinema brasileiro moderno se afirma a partir da década de 1960 com a
decadência do modelo industrial da Vera Cruz. Em diálogo com o neorrealismo
italiano ou a nouvelle vague francesa, o Cinema Novo estabelece suas bases de um
cinema de autor, de baixos orçamentos e renovação em linguagem, abrindo caminho
para desdobramentos como a Tropicália e o Cinema Marginal. Neste lugar
identificamos e pensamos o diálogo Rio de Janeiro-Bahia que se repete tanto no
cinema novo quanto na música popular.
A música, fundamental para o sucesso dos filmes entre 1908 e 1911, assim
como na década de 1930, terá seu papel reconfigurado na década de 1960
e novamente nos últimos dez anos. Continuará a ser importante, embora
passe a dividir espaço na trilha sonora com outros sons, perdendo a
onipresença dos dois primeiros momentos. As vozes, que se encontravam
atrás da tela na década de 1910, estarão no centro do quadro, unidas às
bocas de quem canta, na década de 1930, e sobre as imagens, fora da tela
ou dentro dela, embora, pela primeira vez, na confusão das ruas, na década
de 1960. Os ruídos, pouco presentes nos dois primeiros momentos, se farão
notar no cinema brasileiro moderno, vindo da impureza da gravação exposta
aos sons das ruas, ou colocados nos filmes de modo a estarem livres da
subordinação às imagens (COSTA, 2008. p. 8).
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especialmente dedicado ao som no cinema, e coloca Luiz Carlos Barreto como a
pessoa que colocou o nome no movimento.
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destacamos o modo como a música é utilizada e performada em cena, e pensando
na obra como é inserida em um campo social. Enfrentamos por outro lado a
dificuldade das informações sobre a trilha sonora que este cinema não creditou da
forma detalhada como encontramos no cinema contemporâneo, com ausência de
créditos musicais - muitas vezes como forma de burlar questões de direitos autorais
(GUERRINI JÚNIOR, 2009. p.33) - ou assinatura do próprio diretor, pela seleção
musical. No caso destes dois filmes não há informação musical alguma nos letreiros.
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movimentos, Edu Lobo, Torquato Neto, Capinam, Gilberto Gil e especialmente seu
irmão Caetano Veloso, anunciando as misturas referenciais que forjaram novas
rupturas estéticas que viriam a seguir como a Tropicália e o que veio a ser chamado
de MPB.
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Chile, o filme torna-se singular em sua filmografia, inclusive póstuma, que busca de
forma pensada certo didatismo como ideal político conscientizador, e abre mão
neste documentário da figura do narrador. O cineasta volta à classe popular e ao
preto e branco após Garota de Ipanema e a elite em cores. Em Nelson Cavaquinho
o cinema de Leon Hirszman se redireciona a este universo e também às origens do
cineasta no subúrbio carioca, o que podemos talvez vislumbrar com sua aparição no
filme, à mesa com Nelson, integrado àquele lugar.
REFERÊNCIAS
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