A Pesquisa em Literatura

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A pesquisa em Letras: Literatura

Prof. Dr. Renildo Ribeiro-de-Siqueira


Universidade Estadual de Alagoas- Uneal

“Olha devagar para cada coisa.

Aceita o desafio de ver o que a multidão

não viu.

Em cascalhos disformes e estranhos

Diamantes sobrevivem solitários” (Fábio de Melo)


Para início de conversa

Qual o lugar da literatura no curso de Letras e,


consequentemente, na Educação Básica?

Por que a literatura é relegada a segundo plano?


A literatura explora, sem fim prático, o material
linguístico.” (COMPAGNON, 1999, p. 40).
Quais dificuldades encontradas?

“[...] é necessário definir literatura para definir o


estudo literário.” (COMPAGNON, 1999, p. 30).
Visão limitada do literário e dificuldades em
delimitar o que é literatura e o que não é torna-
se um dos maiores entraves para o estudo da
literatura.
Por onde começar:

1-Aristóteles – A poética – primeiro estudo


sistemático do texto literário- A tragédia
grega
 A forma não é primordial em Aristóteles.
 O fato de ser escrito em versos não faz um
texto literatura.
 A história narra o que aconteceu, a literatura
o que poderia ter acontecido.
0 que faz um texto literário em Aristóteles

A catarse- Aristotélica é um princípio importante- de


acordo com sua poética o texto precisa promover no
leitor/espectador da tragédia um processo de
catarse, purificação das emoções através do terror
ou piedade provocada através do texto poético.
 Verossimilhança - verossímil sinônimo de verdadeiro. Isso é
mentira.

 A literatura não trabalha com o verdadeiro, mas com o imaginário,


o possível. )

 Verossímil se concretiza dentro de uma estrutura de fingimento.


Aristóteles nos mostra, através de sua poética, que há, ou deve
haver, um processo consciente de construção dos sentidos e
despertar das emoções.

Em busca de provocar a catarse é necessário seguir certos


itinerários linguísticos textuais em busca da expressividade
almejada.
teve

Autopsicografia- Fernando Pessoa


O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
(Publicado originalmente na revista Presença número 36, lançada em Coimbra, em novembro de 1932)
Para Platão a literatura é fingimento e por esta razão
está distante da verdade e do belo e assim é um
artefato condenável.
Para Terry Eagleton o conceito de literatura é móvel.
A sociedade/leitor é quem decidirá se um texto é ou não
literário:
Alguns textos nascem literários, outros atingem a condição
de literários, e a outros tal condição é imposta. Sob esse
aspecto, a produção do texto é muito mais importante do
que o seu nascimento. O que importa pode não ser a
origem do texto, mas o modo pelo qual as pessoas o
consideram. (2006, p.13). (Citação inicial)
“talvez a Literatura seja definível não pelo fato de ser
ficcional ou ‘imaginativa’’, mas porque emprega a
linguagem de forma peculiar.”(EAGLETON, 2006, p. 3-5).”

“como não existem elementos linguísticos exclusivamente


literários, a literariedade não pode distinguir um uso literário
de um uso não literário da linguagem.”
(COMPAGNON,1999, p. 42-43).
Metodologia a utilizar: Análise textual

b) Divisão da área de Letras: estudos linguísticos e estudos


literários

1- Estudos literários – Literatura e linguagem poética


O ensino da literatura
Literatura e sociedade
Literatura e cultura
Literatura e história;
Quais as armas para trabalhar cientificamente o texto literário?
Teoria literária e as possibilidades que essa teoria literária nos
oferece.

E antes da crítica literária?


Havia uma crítica de gostos, crítica impressionista, de caráter
subjetivista e passional, sem método criteriosamente estabelecidos
e definidos.
Com a teoria literária?
a) Perspectivas críticas:
1- Intrínseca- voltada a materialidade do texto ( 1917-1960)
Formalismo Russo- Jacobson, Yury Tinianov – Ciclo de
Moscou – Literariedade
 New Criticism –anglo-Americano- Close Reading-
Falácia da intenção, falácia da intenção
 Estruturalismo- (Teorias da narratologia)
2- Extrínseca- direcionada à realidade sociocultural do texto ( a
partir de 1960- pós estruturalismo)
 Teoria Marxista- Karl Marx- vincula literatura e ideologia. ( A
literatura é reprodução de uma ideologia formada a partir de uma
realidade social)
 Pós estruturalismo: 1960-1970 Reconhecimento do fluxo de
significação que acontece durante a leitura – Relativização do
significado
 António cândido- Redução estrutural e a Literatura como sistema
( Autor-Obra-Público)
1- Correntes críticas:

 Feminismo
 Estética da recepção
 Estudos culturais
 Teorias pós coloniais
Estudos étnicos
Estudos de gênero
Sexualidade e Teoria Queer
Desafio para o pesquisador em Letras-
Literatura
 Necessidade de observar o literário a partir de sua materialidade
linguística
 Precisa rever a importância da literatura para além do pragmatismo
 Ler - um estudante de graduação em Letras deverá ser capaz de
promover um diálogo entre as obras literárias que já leu e as que lerá
e as leituras teóricas que lhe forem apresentadas na academia, bem
como ser capaz de pesquisar referências teóricas que dialoguem
com essas obras.
 Atuar como crítico, como pesquisador e como investigador.
 Trata-se, portanto, de um leitor profissional e especializado em
formação.
 Esse leitor precisa das teorias para refletir cientificamente sobre
determinadas obras
 literárias e, a partir dessas reflexões, elaborar trabalhos e gerar
produtos.
As pesquisas do Gellp
Intersecções entre literatura e história – Mia Couto
As configurações da personagem no romance
contemporâneo – Daniel Galera, Aline Bei e Luiz Ruffato.
Sob o fio da navalha: identidade e alteridade em Torto
Arado de Itamar Vieira Junior;
Identidade e Alteridade em Ponciá Vicêncio de Conceição
Evaristo
“Há quem leve a vida inteira a ler sem nunca ter
conseguido ir mais além da leitura, ficam pegados
à pagina, não percebem que as palavras são
apenas pedras postas a atravessar a corrente de
um rio, se estão ali é para que possamos chegar à
outra margem, a outra margem é que importa [...]”
José Saramago, A caverna.
De que é feito a arte?
Profissão de fé (Olavo Bilac)
Invejo o ourives quando escrevo: Quero que a estrofe cristalina,
Imito o amor Dobrada ao jeito
Com que ele, em ouro, o alto relevo Do ourives, saia da oficina
Faz de uma flor. Sem um defeito:

Imito-o. E, pois, nem de Carrara E que o lavor do verso, acaso,


A pedra firo: Por tão subtil,
O alvo cristal, a pedra rara, Possa o lavor lembrar de um vaso
O ônix prefiro. De Becerril.

Por isso, corre, por servir-me, E horas sem conto passo, mudo,
Sobre o papel O olhar atento,
A pena, como em prata firme A trabalhar, longe de tudo
Corre o cinzel. O pensamento.

Corre; desenha, enfeita a imagem, Porque o escrever - tanta perícia,


A idéia veste: Tanta requer,
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem Que oficio tal... nem há notícia
Azul-celeste. De outro qualquer.

Torce, aprimora, alteia, lima Assim procedo. Minha pena


A frase; e, enfim, Segue esta norma,
No verso de ouro engasta a rima, Por te servir, Deusa serena,
Como um rubim. Serena Forma!
Poema Tirado de uma Notícia de Jornal

João Gostoso era carregador de feira-livre e


morava
[no morro da Babilônia num barracão sem
número.
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e
[ morreu afogado.

(“Libertinagem”, Manuel Bandeira)


O BICHO

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,


Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,


Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.


Manuel Bandeira
Imagem
Arnaldo Antunes
Palavra lê
Paisagem contempla
Cinema assiste
Cena vê
Cor enxerga
Corpo observa
Luz vislumbra
Vulto avista
Alvo mira
Céu admira
Célula examina
Detalhe nota
Imagem fita
Olho olha
AGRADECIMENTOS

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