FICHAMENTO 01 hjvfjkvfdndnj
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FICHAMENTOS – UNIDADE I
Cajazeiras-PB
2024
TEXTO:LEAKEY, Richard E. A origem da espécie humana. Rio de Janeiro: Rocco,
1995.
1 - Os primeiros humanos
“Os antropólogos há muito têm se mostrado fascinados com as qualidades especiais do
Homo sapiens, tais como a linguagem, as altas habilidades tecnológicas e a capacidade de
fazer julgamentos éticos. Mas uma das mudanças mais significativas dos anos recentes
tem sido o reconhecimento de que, a despeito destas qualidades, nossa ligação com os
macacos africanos é realmente muito íntima (...) novas pesquisas revelaram nossa
intimidade evolutiva com os macacos africanos e exigem nossa aceitação de uma visão
muito diferente “do nosso lugar na natureza (...) O berço da humanidade, disse Darwin, é
a África.” (p.16)
Quando Darwin escreveu estas palavras, nenhum fóssil humano primordial tinha sido
encontrado em qualquer lugar; sua conclusão era inteiramente baseada em teorias. Na
época de Darwin, os únicos fósseis humanos conhecidos eram do homem de Neandertal,
na Europa (...) Os antropólogos não gostaram nada da sugestão de Darwin, porque a
África tropical era olhada com desdém colonialista: o Continente Negro não era visto
como um lugar apropriado para a origem de uma criatura tão nobre como o Homo sapiens.
Quando mais fósseis humanos começaram a ser descobertos na Europa e na Ásia na
virada do século, mais zombarias foram lançadas sobre a ideia de uma origem africana,”
(p.17)
“O paleontólogo escocês Robert Broom, cujo trabalho pioneiro na África do Sul nos anos
30 e 40 ajudou a estabelecer a África como o berço da humanidade, também expressou
pontos de vista fortes em relação à distinção humana. Ele acreditava que o Homo sapiens
era o produto final da evolução e que o resto da natureza havia sido moldada para seu
conforto. Como Wallace, Broom buscava forças sobrenaturais na origem da nossa espécie.
(...) Em 1961, Elwyn Simons, então na Universidade Yale, publicou um trabalho que
tornou-se um marco científico e no qual ele anunciou que uma pequena criatura
semelhante ao macaco, chamada Ramapithecus, foi a primeira espécie de hominídeo. Os
únicos restos fósseis do Ramapithecus conhecidos na época eram partes de um maxilar
superior que tinham sido descobertas por um jovem pesquisador de Yale, G. Edward
Lewis, na índia em 1932.” (p.19)
”E viu que os caninos eram mais curtos e rombudos do que os dos macacos. Simon
também afirmou que a reconstituição de um maxilar superior incompleto mostraria que
ele era humanoide na forma — isto é, um arco, alargando-se suavemente para trás e não
uma forma em “U”, como nos macacos modernos. (...)Os sedimentos a partir dos quais os
fósseis do Ramapithecus original foram recuperados eram antigos, como aqueles que
forneceram descobertas similares subsequentes na Ásia e na África. Simons e Pilbeam
concluíram portanto que os primeiros humanos apareceram há pelo menos 15 milhões de
anos, e possivelmente há 30 milhões de anos, e este ponto de vista foi aceito pela grande
maioria dos antropólogos. (...) No final dos anos 60, dois bioquímicos da Universidade da
Califórnia, em Berkeley, Allan Wilson e Vincent Sarich, chegaram a uma conclusão muito
diferente sobre quando a primeira espécie humana evoluiu. Em vez de trabalhar com
fósseis, eles compararam a estrutura de certas proteínas sanguíneas de seres humanos
vivos e dos macacos africanos. Seu objetivo era determinar o grau de diferença estrutural
entre as proteínas humanas e as dos macacos(...)Wilson e Sarich calcularam a taxa de
mutações e foram portanto capazes de utilizar seus dados sobre as proteínas do sangue
como um relógio molecular.” (p.20)
“Na maioria das sociedades tecnologicamente primitivas, a caça é geralmente uma
responsabilidade masculina(...)Uma hipótese alternativa, conhecida como “Mulher, a
Coletora”, sustentava que em todas as espécies de primatas o núcleo da sociedade era o
elo entre a fêmea e a prole. E foi a iniciativa das fêmeas humanas em inventar tecnologias
e coletar alimentos (principalmente vegetais) que podiam ser compartilhados por todos
que conduziu à formação de uma sociedade humana complexa” (p. 24)
“Como o macho não teria benefícios no sentido darwiniano em alimentar a fêmea a menos
que estivesse seguro de que ela estava produzindo a sua prole, Lovejoy sugeriu que a
primeira espécie humana era monogâmica, com a família nuclear emergindo como uma
maneira de aumentar o sucesso reprodutivo, e assim vencer a competição contra os outros
macacos.” (p.30)
“Em um certo sentido, considerando o que vimos, a pré-história do Brasil seria tudo o
que antecede a Independência, em 1822. No entanto, o conceito de Pré-História é
outro, surgido também apenas no século XIX. Durante muitos séculos, acreditou-se,
no Oci- dente, que o mundo havia sido criado por Deus há poucos milhares de anos e
que os primeiros seres humanos teriam sido Adão e Eva. Por incrível que possa
parecer, essa explicação da origem do homem só foi contraposta em meados do século
XIX! No início do século, houve já uma primeira tentativa de interpretação dos
periodos mais recuados da vida humana. A partir de 1816, Christian J. Thomsen, o
primeiro conservador do Museu Nacional Dinamarquês, deu ordem às sempre
crescentes coleções de antiguidades. Assim o fez, classificando-as em três idades, da
Pedra, do Bronze e do Ferro. A idéia era, realmente, muito simples: antes de o homem
aprender a usar metais, vivera numa idade da pedra e, após ter aprendido, utilizou-se
de início, apenas o cobre e o bronze, só mais tarde passando ao ferro. Apenas com a
teoria do Evolucionismo haveria, no entanto, uma verdadeira revolução no
entendimento da questão das origens do homem.” (p.11)
”Em diferentes regiões do planeta, a escrita começou a ser usada em diferentes
momentos, pelo que a História começaria há 5 mil anos no Egito e na Mesopotâmia e
há 3 mil na Grécia. Proto-História referia-se, portanto, ao primeiro momento em que
se usava a escrita e, em particular, o termo foi usado com relação às sociedades que
ainda não usavam. A escrita (como no caso dos gauleses e que dos germanos antigos),
mas que foram descritas por povos letrados. E o passado mais distante? Como defini-
lo? Com o Evolucionismo, começou-se a aceitar a idéia de que haveria restos muito
mais antigos associados ao homem. Em 1856, no vale do rio Neander, perto de
Düsseldorf, na Alemanha, encontrou-se a calota craniana de um homem primitivo, que
ficou conhecido como o "homem de Neandertal". Em 1865, surgiam os termos
Paleolítico (Idade da Pedra Antiga) e Neolítico (Idade da Pedra Recente). (...)No
continente americano, entretanto, a definição de Pré-História tem como referência
tradicional o período anterior à chegada dos europeus ao continente, em fins do século
xv. Os europeus chamaram a sua presença na América de "história" e reservaram para
todo o período que veio antes o termo "pré-história", ainda que hoje se saiba que se
usava a escrita na América já antes da vinda dos colonizadores. Os maias, civilização
que se desenvolveu no México e na América Central, possuíam uma escrita muito
elaborada, embora usada quase sempre em contexto religioso, ainda por ser totalmente
decifrada. Os incas usavam cordas para registrar eventos, chamados quipos. Na
verdade, muitos povos americanos tinham sistemas de registros comparáveis à escrita,
como os povos nambiquaras e tupis, na forma de pinturas corporais, adereços e
decorações de objetos.” (p.13)
“Na Europa, a Pré-História foi sempre definida com referência à História, como o
período anterior à escrita, estudado pelos "pré- historiadores", pesquisadores
preocupados com os próprios ante- passados europeus. Daí a busca dos antigos
germanos, mas também dos antigos homens do Paleolítico, considerados seus
antecessores. “(p. 14)
“Os restos materiais são de diferentes tipos, dependendo, em especial, das condições
de preservação que os solos oferecem. Em geral, o que melhor se preserva são os
artefatos feitos de pedra (também chamados de líticos), ferramentas usadas para as
mais variadas tarefas e que, por isso, podem nos informar muito sobre a caça, a pesca,
a agricultura e a tecnologia para transformar materiais brutos em bens manufaturados,
para construir habitações ou para remodelar os terrenos onde eram instaladas aldeias e
cidades. Em alguns casos, existem magníficas esculturas feitas em pedras - pequenas
representações de animais e seres humanos - chamadas zoólitos, objetos que não eram
apenas funcionais, mas possuíam um nanel simbólico ou artístico” (p.16)
“Além dos líticos, outro material que se preserva muito bem e constitui uma das
principais fontes de informação sobre o homem pré-histórico é a cerâmica, os artefatos
feitos de barro cozido ainda que o uso da cerâmica seja muito mais recente do que a
pedra, atingindo um máximo de 12 ou 13 mil Ar (antes do presente, equivalente a
"antes de 1950", como se costuma usar no estudo da Pré-História). O homem aprendeu
a coser o barro há apenas alguns milhares de anos e a introdução de seu uso variou de
um lugar a outro, de modo que a fabricação da cerâmica pode ser mais antiga em um
lugar do em que outro.” (p.19)
“Para datar vestígios usam-se diversas técnicas em laboratório, como o Carbono 14 e a
termoluminescência. A datação por meio do carbono de material orgânico é feita
partindo quantidade de carbono 14 radiativo que contém o fóssil” (p.20)
“Paleontológicas na antiga província de Minas Gerais quando descobriu, em uma série
de grutas da região de Lagoa Santa, humanos associados a animais extintos. Foi um
achado espetacular e que haveria de gerar muita polêmica, pois em nenhuma parte do
mundo nessa época se havia encontrado animais desapareci- dos contemporâneos ao
homem. Acompanhemos as palavras de Lund Achei esses restos humanos em uma
caverna que continha, misturados com eles, ossos de diversos animais de espécies
decididamente extintas, circunstância que devia chamar toda a atenção para estas
interessantes relíquias. Ademais, apresentavam eles todos os caracteres físicos dos
ossos realmente fósseis. Eram, em parte, petrificados e, também, penetrados de
partículas férreas o que dava a alguns deles um lustro metálico, imitante ao bronze,
assim como um peso extraordinário. Sobre a remota idade deles não podia, pois, haver
dúvida alguma, Hoje, sabemos, por meio de datações pelo Carbono 14, que as
importantes coleções de esqueletos da Lagoa Santa possuem mais de 10 mil anos. Em
1999, pesquisadores da Universidade de Man- chester, na Inglaterra, reconstruíram a
face do crânio humano mais antigo já encontrado nas Américas, proveniente de Lagoa
Santa. Apelidado, de forma carinhosa, com o nome de Luzia, o crânio é de uma
mulher e tem cerca de 11.680 anos. O crânio e outros ossos do corpo de Luzia haviam
sido descobertos em 1975, em Lagoa Santa, por uma equipe franco-brasileira
coordenada pela arqueóloga francesa Annette Laming-Emperaire, e hoje se encontram
no acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro.” (p.33)
“Termo "paleoíndio" é hoje em dia muito usado, e por isso também o adotamos aqui,
em especial para rotular as populações mongolóides datadas de 12 a 5 mil Ar/
Consideramos, no entanto, que "paleoindio" é uma noção ambigua e pouco clara.
Surgiu quando se acreditava que todos os indígenas das Américas eram mongolóides,
e foi utilizado para descrever as populações do final do Pleistoceno e do início do
Holoceno, sociedades de caçadores- coletores (ou seja, que ainda não conheciam a
agricultura). Hoje em dia, como vimos, discute-se a ocorrência na América de
populações não-mongoloides anteriores às norte-asiáticas mongoloides. Além disso, o
uso do termo "índio" para descrever os habitantes das América também tem sido
questionado, já que esse foi um nome dado pelos europeus aos povos que aqui
encontraram e que supuseram, erroneamente, serem da Índia. Portanto, como não há
relação direta entre os habitantes da Américas e os habitantes da Índia, o uso do termo
"paleoíndio" também por isso não seria o mais adequado.” (p.44)
“Mencionamos a existência de diversos animais gigantes que se extinguiram nos
últimos milênios e, também sobre isso, há diversas opiniões dos estudiosos. No
continente americano, viviam animais gigantescos, conhecidos como megafauna,
como é o caso das preguiças gigantes e dos gliptdontes, no território brasileiro. Por
que eles desapareceram? Alguns estudiosos atribuem a sua extinção à mudança
climática que levou ao clima do Holoceno, entre 8 e 10 mil Ar, a ficar mais quente e
parecido com o atual. Outros pesquisadores, sem descartar a importância da mudança
climática, mencionam a possibilidade de doenças terem ocasiona- do grandes
mortandades entre os grandes animais. Nesse caso, o homem poderia ter contribuído,
pois pode ter introduzido na América animais domésticos que contaminaram animais
selvagens com suas doenças.” (p.56)
“As pesquisas arqueológicas têm revelado que entre 12 e 5 mil AP, os grupos
humanos viviam de diferentes formas, em diferentes lugares, em quase todo o
território do Brasil. As áreas sem evidências de ocupação humana são, de fato, espaços
onde não foi reali- zada nenhuma pesquisa. Os ocupantes mais famosos pesquisados,
desde o século xix, são os "homens de Lagoa Santa", em Minas Gerais. Seu modo de
vida, entre 10 e 8 mil anos atrás, é conhecido por diversas escavações. Em Santana do
Riacho (também MG), encontraram-se esqueletos fletidos, depositados em redes, às
vezes salpicados com pó” (p.57)
“Todas as sociedades humanas, em maior ou menor grau, valeram-se das plantas como
alimento, remédio e matérias-primas, para confeccionar os seus objetos, redundando
na asserção de que o Homo sapiens sempre pesquisou para conhecer a utilidade das
plantas. Diversas provas arqueológicas revelaram que muitas espécies, consideradas
essencialmente agrícolas, já eram consumidas por sociedades com modalidades
econômicas do tipo "caçador- coletor" antes que se configurasse a agricultura típica da
floresta tropical, realizada em clareiras abertas no interior da mata. Os dados mais
recentes apontam para a área Amazônica - Peru, Equador, Colômbia e Venezuela e
Brasil como a região original da agricultura na América do Sul.” (p.71)
KI-ZERBO, J. A arte pré-histórica africana. In: UNESCO. História geral da África, I:
Metodologia e pré-história da África. 2ed. Brasília: UNESCO, 2010. (cap.26).
A arte pré-histórica africana
“Com o aparecimento do homem, surgem não só utensílios, mas também uma
produção artística. (...) A pré-história africana não foge à regra. (...) Há milênios as
relíquias pré-históricas deste continente vêm sofrendo degradações provocadas tanto
pelo homem quanto pelos elementos naturais. Já na pré-história, movido por uma
iconoclastia ritual, o homem perpetrou por vezes atos de destruição. (...) De maneira
geral, a arte pré-histórica africana ornamenta a África na região dos planaltos e dos
maciços, enquanto a África das altas cordilheiras, das depressões e das bacias fluviais
e florestais da zona equatorial é incomparavelmente menos rica nesse campo.” (p.743)
“ Nos setores privilegiados, os sítios localizam-se essencialmente no nível das falésias,
formando o rebordo das terras altas, sobretudo quando avançam sobre os talvegues de
rios atuais ou já desaparecidos. Os dois centros mais importantes são a região do Saara
e a África austral. Entre o Atlas e a floresta tropical de um lado, e o mar Vermelho e o
Atlântico de outro, foram localizados inúmeros sítios, contendo dezenas, talvez
centenas de milhares de gravuras e pinturas. Alguns desses centros são hoje
mundialmente conhecidos, graças aos trabalhos de pré-historiadores franceses,
italianos, anglo-saxões e, cada vez mais, africanos. Bons exemplos podem ser
encontrados na Argélia o sul oranês, o Tassili n’Ajjer(...)Nessas regiões as pinturas
encontram-se em abrigos rochosos, ao passo que as gravuras estão a céu aberto. As
grutas, como a de Cango (Cabo), são excepcionais. Raros são os países africanos em
que não se tenham descoberto vestígios estéticos, embora, é verdade, nem sempre
sejam pré-históricos.” (p.744)
“A aplicação do método estratigráfico à rocha in situ frequentemente se revela de
pouca utilidade, pois o clima úmido que perdurou por longos períodos da pré-história
provocou uma lixiviação profunda das camadas que recobrem o solo dos abrigos.
Contudo, na África do Sul encontram-se às vezes gravuras sob as pinturas; os restos de
matérias orgânicas (pintura) caídos das paredes numa camada não explorada podem
fornecer alguns indícios. (...)algumas vezes, às pátinas dos quadros e das rochas-
suporte, fazendo-se um estudo comparado de suas modificações cromáticas. Este
método, que se mostra adequado já que leva em conta o próprio objeto em estudo,
parte do princípio de que as pátinas mais claras e mais distintas da rocha-mãe são as
mais recentes. Com efeito, a formação da pátina opera-se lentamente sobre todas as
rochas, inclusive os arenitos brancos. Trata-se de um processo análogo à laterização,
através da qual os óxidos e carbonatos infiltrados sob forma líquida pela chuva ou pela
umidade voltam à superfície por capilaridade e, graças à evaporação, formam uma
crosta sólida, mais ou menos escura conforme sua antiguidade. Ter-se-ia então,
tomando como referência a rocha local, uma base teórica de cronologia relativa.”
(p.745)
“Tomou-se o hábito de batizar os grandes períodos da arte mural com o nome do
animal que lhe serve de referência tipológica. Assim, quatro grandes sequências foram
caracterizadas pelo búbalo, o boi, o cavalo e o camelo” (p.747)
“As gravuras encontradas nos locais onde também existem pinturas são, em geral,
anteriores a estas, e sua melhor técnica surge nos períodos mais recuados.” (p.748)
“Quartzitos, sendo executadas com uma pedra apontada golpeada com um percutor
neolítico. Alguns exemplares de percutores foram encontrados nos locais das gravuras.
Dispondo apenas desse equipamento mínimo, conseguiu- -se grande precisão técnica.
(p.750)”
“As pinturas não devem ser completamente dissociadas das gravuras. Em Tissoukai,
por exemplo, há esboços gravados sobre as paredes, sugerindo que os artistas
gravavam antes de pintar. Também aqui os trabalhos artísticos exigiam, às vezes,
proezas atléticas. Em Uede Djerat, há uma pintura do período equidiano com 9 m de
comprimento, feita num teto com uma inclinação abrupta. Em alguns sítios do Tassili,
como Tissoukai, as pinturas aparecem a mais de 4 m de altura.” (p.751)
“A arte ligada aos adornos não exige uma técnica menos desenvolvida, muito pelo
contrário. Algumas contas são de cornalina, rocha extremamente dura. As técnicas dos
joalheiros podem ser reconstituídas através do estudo dos restos deixados em diversas
etapas de seu trabalho. Inicialmente, discos planos eram desprendidos por percussão,
depois por fricção. Em seguida, uma lasca pontiaguda, grossa e quadrangular era
destacada de um bloco de sílex e servia como buril. Sua ponta aguçada era cravada no
centro do disco em ambos os lados, alternadamente, produzindo dois furos alinhados.
O momento mais delicado do trabalho era fazer os dois furos coincidirem. O estilete
de sílex se transformava então numa broca giratória e, com a ajuda de areia fina
misturada com resina vegetal, limava o furo central até abri-lo por completo. Outras
pedras igualmente duras (amazonita, hematita, calcedônia) também eram utilizadas,
assim como o osso e o marfim, na confecção de pingentes, braceletes e adornos para o
tornozelo. A pedra-pomes era usada para polir esses ornamentos. (...)a cerâmica era
preparada com uma liga feita com estrume de ruminantes. A seguir, um cordel desse
material era enrolado sobre si mesmo e trabalhado com os dedos e com um
instrumento alisador. O gargalo desses potes tem múltiplas formas: anelados,
alargados, inclinados, curvos. O cozimento devia ser impecável, a julgar pelas cores
matizadas que vão do rosa ao marrom” (p.752)
“A escultura também está presente, limitando-se, no entanto, a miniaturas: um
ruminante deitado em Uede Amazzar (Tassili); um boi deitado em Tarzerouck
(Hoggar); uma pequena lebre com longas orelhas caídas sobre o corpo em Adjefou;
uma impressionante cabeça de carneiro em Tamentit, no Touat; uma escultura de
pedra antropomórfica em Ouan Sidi, no Erg oriental; uma cabeça de coruja
esplendidamente estilizada em Tabelbalet; estatuetas de argila que representam formas
estilizadas de pássaros, mulheres e bovídeos, um dos quais ainda apresenta dois
pequenos ramos à guisa de chifres, em Tin Hanakaten.” (p.753)
“A rocha-suporte é o granito e não o arenito, como no caso precedente. A técnica
utilizada é o desenho, que é tão fiel ao real quanto as “aquarelas” do sul; no entanto,
não se trata de uma fidelidade mecânica. A realidade é, algumas vezes, interpretada
em composições cênicas em que se nota uma prodigiosa fertilidade de imaginação. O
homem é retratado com ombros largos e cintura estreita, ou seja, “cuneiforme”. Visto
de frente, seus membros aparecem de perfil, como nos baixos-relevos egípcios. No
sul, os personagens são mais naturais, com membros mais harmoniosos, em cenas de
caça e de combate, que às vezes se confundem. No norte, há cenas de funerais solenes,
talvez exéquias reais, com personagens demonstrando sentimentos pungentes de pesar.
A fauna, ao contrário, na grande caverna de Inoro, por exemplo, desfila não como uma
arca de Noé, cuidadosamente organizada, mas como um bestiário fantasmagórico:
pássaros gigantescos com bicos semelhantes a mandíbulas de crocodilos, elefantes
enormes com o dorso denticulado, animais bicéfalos.” (p.757)
“As representações rupestres foram denominadas petroglifos. De fato, mais que
qualquer outra, essa arte representa uma linguagem de signos, isto é, uma ponte entre
o real e a ideia. É um símbolo gráfico que requer uma chave para ser entendido. O
desconhecimento das condições sociais de produção dessa arte é, na verdade, a maior
desvantagem para sua correta explicação. Por isso, é importante não fazer
interpretações apressadas, omitindo a etapa da descrição do próprio signo, ou seja, a
análise formal.” (P.558)
“Diz-se que, em Leeufontein, o leão foi gravado sobre a face lateral da rocha para ser
iluminado pelos primeiros raios do sol porque ele representa o astro do dia, enquanto o
rinoceronte está voltado para o poente por ser espírito da noite e da escuridão.
(pg.261)
Descobriríamos que nem sempre a explicação é de fundo religioso. Até hoje, os
caçadores da zona do Sahel usam uma cabeça de calau que balançam para cima e para
baixo, imitando esse pássaro, para, andando de quatro, se aproximarem de um antílope
antes de atirarem suas flechas. Às vezes, porém, a desproporção entre os meios e o
resultado é tamanha que sugere fortemente o uso da magia, como quando um homem
mascarado arrasta sem esforço um rinoceronte abatido com as patas para o ar, numa
gravura de In-Habeter (Líbia).” (P.263)
“Em primeiro lugar, a arte pré-histórica constitui um filme documentário sobre a
infraestrutura das primeiras sociedades que viveram em nosso continente; por
exemplo, sobre o seu ambiente ecológico. Esse biótopo pode ser comprovado
diretamente, como no caso dos objetos encontrados in situ, mas pode também ser
deduzido do conteúdo das pinturas” (p.765)
“ Na África meridional, o estilo nórdico (ou rodesiano) é marcado por grande número
de desenhos de árvores, sendo possível identificar algumas delas. Nos abrigos e nos
lugares hoje desertos, havia uma fauna abundante e variada, ressuscitando, por assim
dizer, uma espécie de arca de Noé, um jardim zoológico petrificado: gravuras de
peixes, de animais selvagens, hirsutos e fortes, como o antigo búbalo com seus chifres
enormes de até 3 m de diâmetro, de felinos, como o guepardo e o protelo, de macacos
cercopitecos ou cinocéfalos (em Tin Tazarift), de avestruzes, corujas, etc.” (p.767)
“Essa observação é ainda mais válida quando consideramos as “raças” responsáveis
pela produção artística. Mas não seria um abuso de linguagem utilizar, neste caso, o
conceito de raça?30 Poderiam os poucos esqueletos ou restos ósseos disponíveis
autorizar a elaboração das ousadas teorias sobre o povoamento por “raças” pré-
históricas?” (P.775)
“No âmbito estético propriamente dito, a arte pré-histórica africana é a fonte de
inspiração, a introdução brilhante da arte africana moderna cujas raízes foram tão
pouco exploradas até agora. Há nela uma riqueza de estilos dos quais se pode
acompanhar a evolução, às vezes quase passo a passo, até as criações estéticas
modernas. A arte africana moderna foi muito influenciada pela arte árabe e pela
europeia, mas existe também uma antiga tradição cuja matriz se encontra nos abrigos
sob rocha e nas galerias pré-históricas. A pintura baseia-se em cores simples como o
ocre vermelho, o branco, o preto, o amarelo e, acessoriam ente, o azul e o verde”
(p.778)