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Revista Archai

E-ISSN: 1984-249X
[email protected]
Universidade de Brasília
Brasil

Cornelli, Gabriele; Lopes, Rodolfo


Platão. Cartas: Carta IV
Revista Archai, núm. 22, enero-abril, 2018, pp. 365-372
Universidade de Brasília

Disponível em: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=586177198015

Como citar este artigo


Número completo
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Gabriele Cornelli - Universidade de Brasília (Brasil)
[email protected] - ORCID:0000-0002-5588-7898
Rodolfo Lopes - Universidade de Brasília (Brasil)
[email protected] - ORCID: 0000-0001-9675-4023

Platão. Cartas: Carta IV


nº 22, Jan.-Apr. 2018
Plato. Letters: Letter IV

CORNELLI, G.; LOPES, R. (2018). Platão. Cartas: Carta IV. Archai,


n.º 22, Jan-Apr., p. 365-372
DOI: https://doi.org/10.14195/1984­‑249X_22_14

Palavras-chave: Platão, Cartas, Carta IV, Dionísio II de Siracusa.


Keywords: Plato, Letters, Letter IV, Dionysus II of Siracuse.

A presente tradução é parte de um projeto con-


junto dos autores, que consiste em verter para o
Português todas as cartas tradicionalmente inclu-
ídas no corpus Platonicum. A ideia foi germinada
na pesquisa que temos desenvolvido na Cátedra
UNESCO Archai e, por isso mesmo, é materializa-
da na revista que lhe pertence. Nesta primeira fase
do projeto, estão sendo publicadas traduções pre-
liminares de cada carta, acompanhadas de breves
parágrafos introdutórios sobre o seu contexto. 365
Como decerto será do conhecimento comum,
esta secção epistolar do corpus tem sérios problemas
quanto à sua autoria. Na verdade, no total de 13 car-
tas, apenas duas delas podem ser atribuídas a Pla-
tão; ainda que essa pretensão de autenticidade esteja
longe de alcançar um consenso entre os autores. São
elas (1) a famosa Carta VII, que ainda hoje divide a
comunidade de platonistas entre aqueles que a acei-
tam como autêntica e os que não1; e (2) a Carta VIII,
que tem menos condições de ser atribuída a Platão,
dado o elevado número de anacronismos que apre-
senta (cf. BRISSON, 2008, p. 623). Todas as outras
são inquestionavelmente espúrias.

nº 22, Jan.-Apr. 2018 Em todo o caso, o problema da autenticidade é mi-


nimizado pelo interesse que tal repositório epistolar
tem suscitado ao longo de tantos séculos de exegese
platonista. O conjunto das 13 cartas está incluído no
corpus já desde as suas antiquíssimas divisões: nas
Gabriele Cornelli, trilogias de Aristófanes de Bizâncio e também nas
Rodolfo Lopes, ‘Platão. clássicas tetralogias tradicionalmente atribuídas a
Cartas: Carta IV’, p.
365-372
Trasilo (vide LOPES, 2013). Em ambos os modelos
as cartas ocupam a última posição (depois de Críton
e Fédon em Aristófanes; depois de Minos, Leis e Epí-
nomis em Trasilo). Isso não implica, todavia, que os
antigos considerassem as cartas espúrias; pelo con-
trário, aliás, visto que generalidade dos autores (pa-
gãos e cristãos) as toma por autênticas (vide ZARA-
GOZA & GÓMEZ CARDÓ, 1992, p. 429-433). São
de notar as possíveis exceções de Proclo e Aristóteles.
O primeiro, segundo um testimonium de Olimpiodo-
ro, teria rejeitado a totalidade das cartas; mas tal re-
lato acabou por ser desconsiderado, pois na rejeição
estavam também incluídas as Leis e a República (vide
366 MADDALENA, 1948, p. V). Quanto ao segundo, não
se pode falar de rejeição, mas apenas de silêncio: Aris-
tóteles nunca refere as cartas de Platão, nem mesmo
quando, no Livro V da Política, fala da querela entre
Díon e Dionísio de Siracusa. Alguns dos autores que
defendem a inautenticidade da Carta VII usam este
silêncio de Aristóteles como argumento.

Nos manuscritos medievais as cartas aparecem lis-


tadas no final, logo antes dos diálogos considerados
espúrios. Esta posição não deve indiciar suspeitas de
autenticidade, visto em apenas alguns deles apenas a
Carta XII surge notada como espúria.

Assim, a tendência de rejeitar a autoria platónica


das cartas é bastante recente, tendo em conta a longa nº 22, Jan.-Apr. 2018
tradição de comentário e interpretação; mais precisa-
mente a partir de inícios do século xix, depois dos
trabalhos de MEINERS (1782), AST (1816) e KARS-
TEN (1864), que as reconhecem todas como espúrias.
Gabriele Cornelli,
Sobre a Carta IV Rodolfo Lopes, ‘Platão.
Cartas: Carta IV’, p.
365-372
O contexto desta carta é o regresso triunfal de Díon
a Siracusa após a expulsão de Dionísio II. Platão de-
mostra seu afeto por Díon, celebra sua vitória e acres-
centa alguns conselhos ao final. Plutarco noticia tam-
bém uma carta semelhante por modos e conteúdos que
Espeusipo teria endereçado a Díon na mesma ocasião
(Plu. De adulatore et amico 69-70). Que as duas car-
tas são distintas e não a mesma (pace Ritter 1910) foi
amplamente demonstrado já desde Novotny’ (1930).
A marca acadêmica da carta é todavia bastante evi-
dente, por revelar a intenção de uma aproximação
entre Platão e Díon em um momentos central para
a história a deles, da mesma forma em que tende a 367
sublinhar o envolvimento da Academia como um
todo com os sucessos políticos do siracusano. Uma
série de predições ex eventu sugerem que a carta te-
nha sido escrita pela tradição acadêmica mais antiga:
é certamente o caso da predição ex eventu da inimiza-
de que iria intercorrer entre Díon e Heráclides, algo
dificilmente previsível na hora em que a carta teria
sido escrita (320e). Delicada a menção final aos peri-
gos que podem deriva da soberba de Díon neste mo-
mento de vitória. Plutarco considera o adágio final (“a
presunção acaba por habitar com a solidão” – 321b)
como uma expressão tipicamente platônica (Plu. De
adulatore et amico 69f).

nº 22, Jan.-Apr. 2018 Platão a Díon de Siracusa,

Que esteja tudo bem.

(320a) Vejo que minha simpatia para tua empresa


Gabriele Cornelli, foi evidente ao longo de todo o tempo e que trabalhei
Rodolfo Lopes, ‘Platão. para que tivesse sucesso, e isso por uma única razão:
Cartas: Carta IV’, p. pela minha paixão por belas ações. De fato, considero
365-372
que homens justos, que possuem verdadeiramente a
virtude e o demonstram em suas ações, (320b) rece-
bam a glória que merecem. Tudo está bem por hora,
graças a deus, mas a luta maior ainda está por vir. Ou-
tros podem se distinguir por coragem, velocidade ou
força física, mas somente quem se propõe honrar a
verdade, a justiça, a generosidade, e a dignidade que
as acompanha, (320c) somente este pode realmente se
sobressair com relação aos outros.

Digo algo óbvio, mas devemos lembrar que aque-


les homens (você sabe quais) devem distinguir-se
de tal modo dos outros homens ao ponto de estes
368
parecerem crianças em comparação. Devemos de-
monstrar sermos aquele tipo de homens que dizemos
ser: com a ajuda de deus, será algo fácil. Os outros
homens precisam perambular por muitos lugares, se
desejam ser conhecidos. Não é este seu caso: (320d)
o mundo todo – ainda que a expressão possa pare-
cer infantil – olha para um único lugar, e, neste lugar,
de maneira especial para você. E como todos olham
para você, esteja preparado para superar em fama o
velho Licurgo, e Ciro, e todos aqueles que fizeram al-
guma diferença por seus costumes ou nas instituições
políticas. Muitos aqui (quase a maioria, pela verdade)
afirmam que – uma vez livres de Dionísio – (320e)
com toda probabilidade você, Heráclides, Teódoto
e os outros irão arruinar tudo com vossa ambição. nº 22, Jan.-Apr. 2018
É melhor que nada disso aconteça, mas se for este o
caso, você demonstre ser capaz de remediar essa situ-
ação, e tudo ficará bem.

(321a) São coisas que você sabe muito bem e Gabriele Cornelli,
pode te parecer ridículo que eu te diga isso. Mas, Rodolfo Lopes, ‘Platão.
Cartas: Carta IV’, p.
sabe, eu vejo os atletas nos estádios sendo incitados 365-372
pelas crianças, sem mencionar os amigos, quando
se considera que a torcida destes seja inspirada pela
própria amizade.

Vocês também, portanto, compitam, e se precisa-


rem de nós, escrevam.

As coisas aqui seguem mais ou menos como


quando vocês estavam aqui. (321b) Escrevam sobre
o que fizeram e o que estão por fazer. Pois ouvimos
muitas conversas, mas não sabemos nada ao certo.
Chegaram há pouco cartas em Esparta e em Egina,
de Teódoto e Heráclides. Mas nós, como te falava, 369
ouvimos muitas notícias, mas não sabemos nada ao
certo. Preocupe-se com o fato de algumas pessoas
acharem que você tem se tornado pouco disponível.
Pensa sobre isso e considera que sem o favor dos
homens não se pode fazer nada, (321b) e que a pre-
sunção acaba por habitar com a solidão.

Boa sorte!

Notas
1 Veja-se neste sentido a recente publicação de
BURNYEAT, M. & FREDE, M. (2015).
nº 22, Jan.-Apr. 2018

Referências bibliográficas

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Rodolfo Lopes, ‘Platão. such, im Leben wie in den Schriften des Platon das Wah-
Cartas: Carta IV’, p.
re und Aechte vom Erdichteten und Untergeschobenen
365-372
zu Scheiden, und die Zeitfolge der ächten Gespräche zu
Bestimmen. Leipzig, Weidmann.

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Editorial Gredos.
A pesquisa que permitiu a publicação deste artigo foi financiada
pela Fundação de Pesquisa do Distrito Federal, Edital Demanda
Espontânea 03/2015.

Submetido em Agosto de 2017 e aprovado para publicação


em Outubro de 2017

nº 22, Jan.-Apr. 2018

Gabriele Cornelli,
Rodolfo Lopes, ‘Platão.
Cartas: Carta IV’, p.
365-372

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