Matrizes (2) 133
Matrizes (2) 133
Matrizes (2) 133
C´alculo Matricial
K designa C ou R.
[aij ] ,
e referimos aij como o elemento (i, j) de A, isto ´e, o elemento na linha i e na coluna j de A.
Iremos tamb´em usar a notac¸˜ao (A)ij para indicar o elemento na linha i e coluna j de A.
Duas matrizes [aij ] , [bij ] ∈ Mm×n (K) s˜ao iguais se aij = bij , para i = 1, . . . , m, j
= 1, . . . , n. Ou seja, duas matrizes s˜ao iguais se tˆem o mesmo nu´mero de linhas e o
mesmo nu´mero de colunas, e que os elementos na mesma linha e coluna s˜ao iguais.
11
1 CAP CA´ LCULO
Octave
" 1 2
Suponha que se pretende definir a matriz A = . Para tal, faz-se
#2 3
> A=[1 2;2 3]
A =
1 2
2 3
> A(1,2)
ans = 2
> A(1,:)
ans =
1 2
> A(:,2)
2.1. NOTAC¸ A˜ O 1
ans =
2
3
" #
1 2− i 3i
Considere agora a matriz B = √ :
0 2
−1
> B=[1 2-i 3i; 0 sqrt(2) -1]
B =
Column 1:
1.000000000000000 + 0.000000000000000i
0.000000000000000 + 0.000000000000000i
Column 2:
2.000000000000000 - 1.000000000000000i
1.414213562373095 + 0.000000000000000i
Column 3:
0.000000000000000 + 3.000000000000000i
-1.000000000000000 + 0.000000000000000i
> format
> B
B=
> C=B(:,1:2)
ans =
> B(:,1:2:3)
ans =
1 + 0i 0 + 3i
0 + 0i -1 + 0i
Finalmente, podemos concatenar a matriz A definida atr´as, por colunas e por linhas,
respectiva- mente,
> [B(:,1:2:3) A]
ans =
1 + 0i 0 + 3i 1 + 0i 2 + 0i
0 + 0i -1 + 0i 2 + 0i 3 + 0i
> [B(:,1:2:3); A]
ans =
1 + 0i 0 + 3i
0 + 0i -1 + 0i
1 + 0i 2 + 0i
2 + 0i 3 + 0i
Preste atenc¸˜ao que nem sempre estas operac¸˜oes s˜ao poss´ıveis. Uma das causas
de falha ´e o nu´mero de linhas ou colunas n˜ao compat´ıvel.
Finalmente, obt´em-se a conjugada de uma matriz conjugando as componentes da
matriz dada. Ou seja, a matriz conjugada de A ∈ Mm×n (C), denotada como A¯, ´e a
matriz m × n definida por (A¯)ij = aij . Por exemplo,
1 0 ··· 0
I = 0 1 0 .
···
n . . .
. . .
0 0 ··· 1
6. Matrizes de Hankel
a0 a1 a2 ∗ an−1
a1 a2 ∗ ∗ an
H = a2 ∗ ∗ ∗ ∗
∗ an−1 an ∗ ∗
n
a an ∗ ∗ 2(n−1)
a
n−1
.
7. Matrizes de Toeplitz
a0 a1 a2 ∗ an−1
a−1 a0 ∗ ∗ ∗
T = ∗ a−1 ∗ ∗ ∗
n
a−n+2 ∗ ∗ ∗ a1
a−n+1 a−n+2 ∗ a−1 a0 .
Repare que a soma de duas matrizes, da mesma ordem, ´e feita elemento a elemento,
e o produto escalar de uma matriz por α ∈ K ´e de novo uma matriz da mesma ordem
da dada, onde cada entrada surge multiplicada por α. Ou seja,
a11 a12 . . . a1m b11 b12 . . . b1m a11 + b11 a12 + b12 . . . a1m + b1m
a . . . b
21 a 22 . . . a 2m b1 b2
2 2m a21 + 2 a22 + 2 . . . a2m + 2m
. . + 2 . = b 1 2 b
. . .. . .. ..
an1 an2 . . . anm bn1 bn2 . . . bnm an1 + bn1 an2 + bn2 . . . anm + bnm
e
a11 a12 . . . a1m αa11 αa12 . . . αa1m
a
21 a22 . . . a2m αa21 αa22 . . . αa2m
α
.. = .. .. .
..
an1 an2 . . . anm αan1 αan2 . . . αanm
2.2. OPERAC¸ O˜ ES 1
Por exemplo, " # " # " #
1 2 5 6 1+5 2+6
+ =
3 4 7 8 3+7 4+8
e
" # " #
1 2 5·1 5·2
5 = .
3 4 5·3 5·4
Como ´e f´acil de compreender, a soma e o produto escalar s˜ao comutativos.
De ora em diante, 0 representa uma qualquer matriz cujos elementos s˜ao nulos, e se
A = [aij ] ent˜ao −A = [−aij ].
Estas operac¸˜oes satisfazem as propriedades que de seguida se descrevem, onde A, B,
C ∈ Mm×n (K) e α, β ∈ K:
6. (α + β)A = αA + βA.
7. (αβ)A = α(βA).
8. 1 · A = A.
2.2.2 Produto
Resta-nos definir o produto matricial.
Seja A = [aij ] uma matriz m × p e B = [bij ] uma matriz p × n. O produto de A por B,
denotado por AB, ´e a matriz m × n cujo elemento (i, j) ´e ai1 b1j + ai2 b2j + · · · + ain bnj . Assim,
" p # Σ p
AB = Σ aik bkj e portanto (AB)ij = (A)ik(B)kj.
k=1 m×p
k=1
h
b1j
a a i b2j
i1 i2 . . . aip e a matriz coluna . O produto da primeira pela segunda ´e o
.
bpj
p
Σ
elemento de K dado por ai1 b1j + ai2 b2j + · · · + aip bpj = aik bkj . Ora, este elemento n˜ao ´e
k=1
mais nem menos que a entrada (i, j) da matriz produto AB. Ou seja, a entrada (i, j) de AB
´e o produto da linha i de A pela coluna j de B.
Vejamos algumas propriedades deste produto de matrizes, onde as dimens˜oes das matrizes
A, B, C, I, 0 s˜ao tais que as operac¸˜oes indicadas est˜ao definidas, e α ∈ K:
.
0 0 −1 3
Como ´e f´acil de observar, a soma de duas matrizes triangulares inferiores [resp.
triangu- lares superiores] ´e de novo triangular inferior [resp. triangular superior]. O que se
pode dizer em relac¸˜ao ao produto?
Teorema 2.2.1. O produto de matrizes triangulares inferiores [resp. triangulares superiores]
´e de novo uma matriz triangular inferior [resp. triangular superior].
Demonstrac¸a˜o. Sejam A, B duas matrizes triangulares inferiores de tipo apropriado. Ou
seja, (A)ij, (B)ij = 0, para i < j. Pretende-se mostrar que, para i < j se tem (AB)ij = 0. Ora,
para
Σp Σi
i < j, e supondo que A tem p colunas, (AB)ij = k=1 (A)ik(B)kj = k=1 (A)ik(B)kj = 0.
Por vezes ´e conveniente considerar-se o produto matricial por blocos. Para tal,
considere as matrizes A e B divididas em submatrizes
" # #
A11 A12 "
A= A B11 B12
21 A22 ,B = B B 21 22
2. (A + B)T = AT + BT ;
4. (AB)T = BT AT ;
T k
5. Ak = AT , k ∈ N.
A afirmac¸˜ao (1) ´e v´alida j´a que ((AT )T )ij = (AT )ji = (A)ij .
Para (2), ((A + B)T )ij = (A + B)ji = (A)ji + (B)ji = (AT )ij + (BT )ij.
Σ Σ
Para (4), ((AB)T )ij = (AB)ji = k(A)jk(B)ki = Σk(B)ki(A)jk =
T T
k(B )ik(A )kj =
T T
(B A )ij.
Para (5), a prova ´e feita por induc¸˜ao no expoente. Para k = 1 a afirmac¸˜ao ´e
trivialmente v´alida. Assumamos ent˜ao que ´e v´alida para um certo k, e provemos que ´e
v´alida para k + 1. Ora (Ak+1)T = (AkA)T =(4) AT (Ak)T = AT (AT )k = (AT )k+1.
1 3
1 4
> B+A
ans =
1 3
1 4
2.2. OPERAC¸ O˜ ES 2
2 4
4 6
Note ainda que o nu´mero de colunas de A iguala o nu´mero de linhas de B, pelo que o
produto
AB est´a bem definido.
> A*B
ans =
-2 3
-3 5
2 3
1 1
1 2 1
2 3 1
Como C ´e uma matriz 2 × 3, a sua transposta, C T , ´e do tipo 3 × 2:
> C’
ans =
1 2
2 3
1 1
> size(C’)
ans =
2 CAP CA´ LCULO
3 2
2.2.4 Invertibilidade
Uma matriz A quadradada de ordem n diz-se invert´ıvel se existir uma matriz B,
quadrada de ordem n, para a qual
AB = BA = In.
Teorema 2.2.2. Seja A ∈ Mn (K). Se existe uma matriz B ∈ Mn (K) tal que AB = BA =
In enta˜o ela ´e u´nica.
AB = BA = In = AB′ = B′A
ent˜a
o B′ = B′In = B′(AB) = (B′A)B = InB = B.
Octave " 1 2
Considere a matriz real de ordem 2 definida por A = . Esta matriz ´e invert´ıvel.
Mais #
2 3
adiante, forneceremos formas de averiguac¸˜ao da invertibilidade de uma matriz,
bem como algorit- mos para calcular a inversa. Por enquanto, deixemos o Octave
fazer esses c´alculos, sem quaisquer justificac¸˜oes:
> A=[1,2;2,3];
> X=inv(A)
X =
-3 2
2.2. OPERAC¸ O˜ ES 2
2 -1
" #
−3
Ou seja, A−1 = . Fac¸amos a verificac¸˜ao de que AX = XA = I2 :
2 −1
> A*X
2
ans =
1 0
0 1
> X*A
ans =
1 0
0 1
> a=2;b=3;
> a^2==b^2
ans = 0
> a^2!=b^2
ans = 1
1
De facto poder-se-ia ter usado tamb´em ∼=, estando esta palavra tamb´em em consonˆancia com a sintaxe
do MatLab.
2 CAP CA´ LCULO
1 0 0
0 1 0
0 0 1
> A*X==eye(2)
ans =
1 1
1 1
A resposta veio em forma de tabela 2 × 2: cada entrada indica o valor boleano da
igualdade componente a componente. Suponha que as matrizes tˆem ordem
suficientemente grande por forma a tornar a detecc¸˜ao de um 0 morosa e sujeita a
erros. Uma alternativa ser´a fazer
> all(all(A*X==eye(2)))
ans = 1
Demonstrac¸a˜o. Como
Octave " 1 2
Fac¸amos a verificac¸˜ao desta propriedade com a matriz A = :
#4 3
> B=A’;
> inv(A’)==(inv(A))’
ans =
1 1
1 1
w
segue, em particular, que a11x = 1, e portanto a11 0 e x = a11 . Assim, como a11y = 0 e
a11 /= 0 tem-se que y = 0. Ou seja, a inversa ´e triangular 1inferior. Como y = 0, o
produto da segunda linha de L com a segunda coluna da sua inversa ´e a22 w, que iguala
(I)22 = 1.
a
Portanto, a22 0 e w = 111. O produto da segunda linha de L com a primeira coluna da sua
inversa ´e a21a1 1 + a22 z, que iguala (I)21 = 0. Ou seja, z = −a11 a21 .
1 a22
Demonstrac¸a˜o. A prova ´e feita por induc¸˜ao no nu´mero de linhas das matrizes quadradas.
Para n = 1 o resultado ´e trivial. Assuma, agora, que as matrizes de ordem n
triangulares inferiores invert´ıveis s˜ao exactamente aquelas que tˆem elementos diagonais
n˜ao nulos. Seja A = [aij ] uma matriz triangular inferior, quadrada de ordem n + 1.
Particione-se a matriz
por blocos da forma seguinte:
" #
a11 O
b A˜ ,
2 CAP CA´ LCULO
Demonstrac¸a˜o. (1) Seja A uma matriz ortogononal, ou seja, para a qual a igualdade AT = A−1
−1 T
´e v´alida. Pretende-se mostrar que A−1 ´e ortogonal; ou seja, que A−1 = A−1 . Ora
−1T
−1−1
−1
(2) SejamT A, B matrizes
A ortogonais. Em particular s˜ao matrizes invert´ıveis, e logo
AB ´e invert´ıvel. Mais,
=A = A .
(AB)−1 = B−1A−1 = BT AT = (AB)T .
Imp˜oe-se aqui uma breve referˆencia aos erros de arredondamento quando se recorre a um
" √ √ #
2 2
sistema computacional num´erico no c´alculo matricial. Considere a matriz A 2√
2
√2
2 .
— 2 2
= A matriz ´e ortogonal j´a que AAT = AT A = I2 .
Octave
Definamos a matriz A no Octave:
2.2. OPERAC¸ O˜ ES 2
0.70711 0.70711
-0.70711 1.41421
Verifique-se se AAT = AT A:
> all(all(A*A’==A’*A))
ans = 0
A proposic¸˜ao ´e falsa! Calcule-se, ent˜ao, AAT − AT A:
> A*A’-A’*A
ans =
0.0000e+00 -8.5327e-17
-8.5327e-17 0.0000e+00
A transconjugada de A ´e a matriz A∗ = A¯T . Ou seja, (A∗ )ij = (A)ji . Esta diz-se herm´ıtica
(ou hermitiana) se A∗ = A.
Sejam A, B matrizes complexas de tipo apropriado e α ∈ C. Ent˜ao
1. (A∗)∗ = A;
2. (A + B)∗ = A∗ + B∗;
3. (αA)∗ = α¯A∗ ;
4. (AB)∗ = B∗A∗;
Remetemos o leitor ao que foi referido no que respeitou as matrizes ortogonais para poder
elaborar uma prova destas afirmac¸˜oes.
Nesta secc¸˜ao, iremos apresentar um tipo de matrizes que ter˜ao um papel relevante em
resul- tados vindouros: as matrizes elementares. Estas dividem-se em trˆes tipos:
1
..
. 0
1
1
a ←k
a 0; Dk(a) =
..
0
. 1
↑
k
1 0
..
.
1 ··· a
i j; Eij (a) = .. ←i
. .
1
..
0
. 1
↑
j
2.3. UM RESULTADO DE FACTORIZAC¸ A˜ O DE 2
1
..
. 1
←i
0 1
1 ···
Pij =
..
.
1 ←j
1 0
1 ..
1
.
↑ ↑
i j
Ou seja, as matrizes elementares de ordem n s˜ao obtidas da matriz identidade In fazendo:
a
(Eij (b))−1 = Eij (−b), para i /= j
−1
(Pij ) = Pij
A segunda, relevante para o que se segue, indica outro o modo de se obter as matrizes
Dk (a) e Eij (a) da matriz identidade, cujas linhas s˜ao denotadas por l1 , l2 , . . . , ln :
Octave
Considere as matrizes 3 × 3 elementares D = D2(5); E = E23(3); P = P13. Recorde que a
matriz
I3 ´e dada por eye(3).
> D=eye(3);
> D(2,2)=5;
> D
D=
1 0 0
0 5 0
0 0 1
> E=eye(3);
> E(2,3)=3;
> E
E=
1 0 0
0 1 3
0 0 1
> I3=eye(3);
> P=I3;
> P(1,:)=I3(3,:); P(3,:)=I3(1,:);
> P
P=
0 0 1
0 1 0
1 0 0
O que sucede se, dada uma matriz A, a multiplicarmos `a esquerda ou `a direita2 por uma
Recorde que o produto matricial n˜ao ´e, em geral, comutativo, pelo que ´e relevante a distin¸c˜ao
2
Vamos usar o Octave para determinar o produto DEPA. Para tal, faremos primeiro PA, a
este produto fazemos a multiplicac¸˜ao, `a esquerda, por E, e finalmente ao produto
obtido a multiplicac¸˜ao por D, de novo `a esquerda.
Octave
Vamos ent˜ao definir as matrizes A,P,E,D no Octave:
> A=[4 2 0; 1 1 0; 2 -1 4];
> I3=eye(3);
> E=I3; E(3,1)=-2;
> P=I3; P(1,:)=I3(2,:); P(2,:)=I3(1,:);
> D=I3; D(2,2)=1/2;
Fac¸amos o produto P A:
> P*A
ans =
1 1 0
4 2 0
2 -1 4
1 1 0
4 2 0
0 -3 4
> D*E*P*A
ans =
1 1 0
3 CAP CA´ LCULO
2 1 0
0 -3 4
Octave
> I5=eye(5);
> P=I5([2 1 5 3 4], :)
P =
0 1 0 0 0
1 0 0 0 0
0 0 0 0 1
0 0 1 0 0
0 0 0 1 0
Na primeira linha de P surge a segunda de I3, na segunda a primeira, na terceira a
quinta de
I3, e assim por diante.
Octave
Em primeiro lugar, definamos as matrizes associadas `as transposic¸˜oes, e fac¸amos o seu
produto:
0 1 0 0 0
1 0 0 0 0
0 0 0 0 1
0 0 1 0 0
0 0 0 1 0
> all(all(P==P1*P2*P3))
ans = 1
Tal correspondeu a multiplicar o produto obtido no passo anterior, `a esquerda, por E231 ( 1 ).
Ou seja, e at´e ao momento, obteve-se
2 4 6
1 1
E31( )E21(− )A = 0 2 −1 = B.
2 2 0 2 4
2.3. UM RESULTADO DE FACTORIZAC¸ A˜ O DE 3
Todos os elementos na primeira coluna de B, `a excepc¸˜ao de (B)11 , s˜ao nulos.
Concentremo- nos agora na segunda coluna, e na segunda linha. Pretendem-se efectuar
operac¸˜oes elemen-
2 4 6
uma matriz
tares nas linhas de B por forma a obter da forma 0 2 −1 . Para tal,
0 0 ?
−− − −→
2 4 6 2 4 6
0 2 0 0
0 2 −1 l3 ← l3 − l2 0 2 −1 = U.
Ou seja, multiplicou-se B, `a esquerda, pela matriz E32 (−1). Como B = E31 ( 1 )E21 (− 1 )A e
2 2
E32(−1)B = U podemos concluir que
1 1 2 4 6
E32(−1)E31( )E21(− )A = U = 0 2 −1
2 2 0 0 3
Repare que U ´e uma matriz triangular superior, e que neste exemplo tem elementos
diagonais n˜ao nulos, e portanto ´e uma matriz invert´ıvel. Como as matrizes
elementares s˜ao 2 invert´ıveis
2 e (E32 (−1)E31 ( 1 )E21 (− 1 ))−1 U = A, segue que a matriz A
´e tamb´em ela invert´ıvel. Note
ainda que (E32 (−1)E31 ( 21 )E21 (− 21 ))−1 = E21 ( 21 )E31 (− 21 )E32 (1). A estrat´egia descrita acima
aplicada `a matriz A ´e denominada por algoritmo de eliminac¸a˜o de Gauss. O resultado
final foi a factorizac¸˜ao A = LU , onde U ´e uma matriz triangular superior (veremos mais
adiante que de facto pertence a uma subclasse desse tipo de matrizes) e L ´e uma matriz
invert´ıvel triangular inferior (por ser a inversa de produto de matrizes invert´ıveis
triangulares inferiores). Nem sempre ´e poss´ıvel percorrer estes passos do algoritmo, para
uma matriz dada arbitrariamente. Veremos, na pr´oxima secc¸˜ao, que modificac¸˜oes se
realizam na estrat´egia apresentada acima por forma a que se garanta algum tipo de
factorizac¸˜ao.
Octave
Consideremos a matriz A dada por
> A=[2 4 6;2 2 2;-1 0 1];
A` segunda linha de A soma-se o sim´etrico da primeira linha:
> I3=eye(3); E21=I3; E21(2,1)=-1;
> A2=E21*A
A2 =
2 4 6
0 -2 -4
-1 0 1
3 CAP CA´ LCULO
2 4 6
0 -2 -4
0 2 4
2 4 6
0 -2 -4
0 0 0
> [l,u,p]=lu(A)
l =
u=
2 4 6
0 -2 -4
0 0 0
p=
1 0 0
0 1 0
0 0 1
2.3. UM RESULTADO DE FACTORIZAC¸ A˜ O DE 3
Ap´os se aplicar o passo 3 em todas as linhas e na primeira coluna, e supondo que (A)11 /=
0, a matriz que se obtem tem a forma seguinte:
(A)11 (A)12 (A)13 (A)1n
0 ? ? ?
0 ? ? ? .
. ? ? ?
0 ? ? ?
Ou seja, " e por ope# ra¸oes˜c elementares de linhas, podemos obter de A uma matriz com a
0 0 A
˜
ou que existe uma troca conveniente de linhas por forma a se contornar essa quest˜ao. Como ´e
´obvio, tal pode n˜ao ser poss´ıvel. Nesse caso aplica-se o passo 2. Ou seja, e quando tal
acontece, tal corresponde `a n˜ao existˆencia de pivots em colunas consecutivas. Como
exemplo, considere
2 2 2 2
a matriz M = 2 2 2 0 . Multiplicando esta matriz, `a esquerda, por E31 (− 12 )E21 (−1),
1 1 0 1
ou seja, substiuindo a linha 2 pela sua soma com o sim´etrico da linha 1, e a linha 3 pela
2 2 2 2
sua soma com metade do sim´etrico da linha 1, obtemos a matriz 2 M = 0 0 −2 .
0 0 −1 0
" 0 0 −2
Aplicamos agora o algoritmo `a submatriz M = # . Note que 0a esta submatriz
˜ 0 −1 0
teremos que aplicar (2) por impossibilidade de se usar (1); de facto, n˜ao h´a elementos
n˜ao
nulos na primeira coluna de M˜" . Seja, en#t˜ao, M˜2 a matriz obtida de M˜ a que
meira a pri- ou seja, M˜2
retiroucoluna; 0 −2 .
necess´ario fazer a troca das linhas por forma
= −1 0 E´
2.3. UM RESULTADO DE FACTORIZAC¸ A˜ O DE 3
a obtermos um elemento n˜ao nulo que ter´a as func¸˜oes de pivot. Essa troca de linhas ´e
uma
4 CAP CA´ LCULO
2 2 2 2
operac¸˜ao elementar tamb´em na matriz original 2 M = 0 0 −2 . Tal corresponde
0 −1 0
a multiplic´a-la, `a esquerda, por P23 . Repare que, sendo
0 0os elementos nas linhas 2 e 3
e nas colunas 1 e 2 nulos, a troca das linhas de facto apenas altera as entradas que
est˜ao simulta- neamente nas linhas envolvidas e nas entradas `a direita do novo pivot.
assim, a
Obtemos,
2 2 2 2
matriz 0 0 −1 0 . A matriz obtida tem uma particularidade: debaixo de cada pivot
0 0 0 2
todos os elementos s˜ao nulos.
Octave
I3 indica a matriz identidade de ordem 3.
> M=[2 2 2 2;2 2 2 0;1 1 0 1]
> P23=I3([1 3 2],:);
> E31=I3; E31(3,1)=-0.5;
> E21=I3; E21(2,1)=-1;
> P23*E31*E21*M
U=
2 2 2 2
0 0 -1 0
0 0 0 -2
Como foi referido, a matriz obtida por aplicac¸˜ao dos passos descritos no Algoritmo
de Eliminac¸˜ao de Gauss tem uma forma muito particular. De facto, debaixo de cada pivot
todos os elementos s˜ao nulos. A esse tipo de matriz chamamos matriz escada (de
linhas). Uma matriz A = [aij ] ´e matriz escada (de linhas) se
Sempre que o contexto o permita, diremos matriz escada para significar matriz escada de
linhas.
2 2 2 2
A matriz U = 0 0 −1 0 ´e uma matriz escada (de linhas) que se obteve de M
por 0 0 0 2
aplicac¸˜ao dos passos (1)– E´ ´obvio que uma matriz escada ´e triangular superior, mas o
(4). "
0 1
rec´ıproco n˜ao ´e v´alido em geral. Como exemplo, considere a matriz
# .
0 1
2.3. UM RESULTADO DE FACTORIZAC¸ A˜ O DE 4
Suponha que k = i. Pretende-se mostrar que Eij(a)Pil = PilElj(a), com i, l > j. Sendo
PilElj(a) a matriz obtida de Elj(A) trocando as linhas i e l, e visto a linha l de Elj(a) ser
[0 · · ·
0 a 0 ··· 0 1 0 ··· 0]
↑ ↑ .
j l
Eij (a)Pil ´e a matriz obtida de Pil a que `a linha i se somou a linha j de Pil
multiplicada por a. Sendo a linha i de Pil
[0 · · · 0 ··· 0 1 0 ··· 0]
↑
l
[0 · · · 0 ··· 0 1 0 ··· 0]
↑
j
segue que a linha i de Eij (a)Pil ´e a soma
A caracter´ıstica de uma matriz A, denotada por car(A), por c(A) ou ainda por rank(A),
´e o nu´mero de linhas n˜ao nulas na matriz escada U obtida por aplicac¸˜ao do
Algoritmo de Eliminac¸˜ao de Gauss. Ou seja, e sabendo que toda a linha n˜ao nula de U
tem exactamente 1 pivot que corresponde ao primeiro elemento n˜ao nulo da linha, a caracter
´ıstica de A ´e o nu´mero
2.3. UM RESULTADO DE FACTORIZAC¸ A˜ O DE 4
de pivots no algoritmo (ainda que o u´ltimo possa n˜ao ser usado, por exemplo, no caso de estar
2 2 2 2
na u´ltima linha). Note ainda que car(A) = car(U ). Por exemplo, 2 2 2 0 = 3, j´a
1 1 0 1
car que a matriz escada obtida desta tem 3 linhas n˜ao nulas.
Uma matriz quadrada A de ordem n diz-se na˜o-singular se car(A) = n. Ou seja, A
´e n˜ao-singular se forem usados n pivots no algoritmo de eliminac¸˜ao de Gauss. Uma
matriz ´e singular se n˜ao for n˜ao-singular.
Teorema 2.3.4. As matrizes na˜o-singulares sa˜o exactamente as matrizes invert´ıveis.
= L
respectivamente, triangulares inferior e superior, ent˜ao 1 e U −1 s˜ao tamb´em triangulares
2
L
inferior e superior, respectivamente. Recorde que sendo a diagonal de L1 constituida por 1’s,
ent˜ao a diagonal da sua inversa tem tamb´em apenas 1’s. Daqui segue que L−1 1 L2 ´e
triangular inferior, com 1’s na diagonal, e que U1 U2−1 ´e triangular superior. Sendo estes
dois produtos iguais, ent˜ao L1−1 L2 ´e uma matriz diagonal, com 1’s na diagonal; ou
seja, L1−1 L2 = I, e portanto L1 = L2 . Tal leva a que L1 U1 = L1 U2 , o que implica, por
multiplicac¸˜ao `a esquerda por L1−1 , que U1 = U2 .
Octave
Ao se usar uma ferramenta computacional num´erica ´e necess´ario algum cuidado nos
erros de
4 CAP CA´ LCULO
1 0
-10000000000 1
> E*A
ans =
1.00000000000000e-05 1.00000000000000e+05
-1.45519152283669e-11 -1.00000000000000e+15
Repare que a matriz n˜ao ´e triangular inferior, e que o elemento (2, 2) dessa matriz
deveria ser
10−5 − 1015 e n˜ao −1015 como indicado.
> (E*A)(2,2)==-1E15
ans = 1
> -1E15==-1E15+1E-5
ans = 1
Para o Octave, n˜ao existe distinc¸˜ao entre os dois nu´meros, por erro de arrondamento.
Embora o AEG seja pouco eficiente neste tipo de quest˜oes, existem algumas
alterac¸˜oes que s˜ao efectuadas por forma a contornar este problema. Um
exemplo ´e a pivotagem parcial. Este algoritmo ser´a descrito com detalhe noutra
unidade curricular de MiEB. A ideia ´e, quando se considera um pivot na entrada
(i, j), percorrer os outros elementos que est˜ao por baixo dele e trocar a linha i com
a linha do elemento que seja maior, em m´odulo. Tal corresponde a multiplicar,
`a esquerda, por uma matriz da forma Pij . Esse algorimto est´a implementado no
Octave, sendo chamado pela instruc¸˜ao lu(A).
1.000000000000000 0.000000000000000
0.000000000100000 1.000000000000000
U =
2.3. UM RESULTADO DE FACTORIZAC¸ A˜ O DE 4
1.00000000000000e+05 1.00000000000000e-05
0.00000000000000e+00 1.00000000000000e+05
P=
0 1
1 0
> all(all(P*A==L*U))
ans = 1
2.4 Determinantes
2.4.1 Defini¸c˜ao
"a b #
Considere a matriz A =
c d e assuma
# a /= 0. Aplicando o AEG, obtemos a factorizac¸˜ao
" #"
1 0 a # " . Ou seja, a matriz A ´e equivalente por linhas `a matriz
a b
b =
−a 1 c c d 0 − bca + d
#
" a b
U 0 − abc + d , que ´e uma matriz triangular superior. Recorde que A ´e invert´ıvel se
=
e s´o se U for invert´ıvel. Ora, a matriz U ´e invert´ıvel se e s´oa se − bc + d /= 0, ou de
forma
equivalente, se ad − bc 0. Portanto, A ´e invert´ıvel se e s´o se ad − bc0.
Este caso simples serve de motivac¸˜ao para introduzir a no¸c˜ao de determinante de uma
matriz.
Na definic¸˜ao que se apresenta de seguida, Sn indica o grupo sim´etrico (ver Definic¸˜ao 2.3.1).
Obtemos, assim,
2.4.2 Propriedades
S˜ao consequˆencia da definic¸˜ao os resultados que de seguida apresentamos, dos quais
omitimos a demonstrac¸˜ao.
Teorema 2.4.2. Seja A uma matriz quadrada.
4 CAP CA´ LCULO
Como |Di (A)| = a, |Pij | = −1 e |Eij (a)| = 1, segue que |Di (a)A| = |Di (a)||A|, |Pij A| =
|Pij ||A| e que |Eij (a)A| = |Eij (a)||A|. Repare ainda que, se A ´e n × n, ´e v´alida a
igualdade
Q n
|αA| = αn |A|, j´a que αA = i=1 Di (α)A. De forma an´aloga, dada uma matriz diagonal D
com elementos diagonais d1, d2, . . . , dn, tem-se |DA| = d1d2 · · · dn|A| = |D||A|.
Corol´ario 2.4.4. Uma matriz com duas linhas/colunas iguais tem determinante nulo.
Demonstrac¸a˜o. Se a matriz tem duas linhas iguais, digamos i e j, basta subtrair uma `a
outra, que corresponde a multiplicar `a esquerda pela matriz Eij (−1). A matriz resultante
tem uma linha nula, e portanto tem determinante zero. Para colunas iguais, basta aplicar o
mesmo racioc´ınio a AT .
Corol´ario 2.4.5. Tem determinante nulo uma matriz que tenha uma linha que se
escreve como a soma de mu´ltiplos de outras das suas linhas.
Corol´ario 2.4.6. Seja U a matriz obtida da matriz quadrada A por Gauss. Enta˜o |A|
= (−1)r |U |, onde r indica o nu´mero de trocas de linhas no algoritmo.
Sabendo que uma matriz ´e invert´ıvel se e s´o se a matriz escada associada (por
aplicac¸˜ao de Gauss) ´e invert´ıvel, e que esta sendo triangular superior ´e invert´ıvel
se e s´o se os seus elementos diagonais s˜ao todos nulos, segue que, e fazendo uso de
resultados enunciados e provados anteriormente,
Corol´ario 2.4.7. Sendo A uma matriz quadrada de ordem n, as afirma¸co˜es seguintes
sa˜o equivalentes:
1. A ´e invert´ıvel;
2. |A| = 0;
3. car(A) = n;
4. A ´e na˜o-singular.
Portanto, uma matriz com duas linhas/colunas iguais n˜ao ´e invert´ıvel. Mais, uma
matriz que tenha uma linha que se escreva como soma de mu´ltiplos de outras das suas
linhas n˜ao ´e invert´ıvel.
Teorema 2.4.8. Seja A e B matrizes n × n.
|AB| = |A||B|.
Demonstrac¸a˜o. Suponha que A ´e invert´ıvel.
Existem matrizes elementares E1, . . . , Es e uma matriz escada (de linhas) U tal que
A = E1 E2 . . . Es U . Ora existem tamb´em Es+1 , . . . , Er matrizes elementares, e U1
matriz escada de linhas para as quais U T = Es+1 . . . Er U1 . Note que neste u´ltimo caso
se pode assumir que n˜ao houve trocas de linhas, j´a que os pivots do AEG s˜ao os
elementos dia- gonais de U j´a que U T ´e triangular inferior, que s˜ao n˜ao nulos por A
ser invert´ıvel. Ora U1 ´e ent˜ao uma matriz triangular superior que se pode escrever
como produto de matrizes triangulares inferiores, e portanto U1 ´e uma matriz diagonal.
Seja D = U1 . Resumindo,
AT = E1E2 . . . Es(Es+1 . . . ErD)T = E1E2 . . . EsDET . .T . . Recorde que, dada uma
E E
r r−1 s+1
matriz elementar E, ´e v´alida |EB| = |E||B|.
Ent˜ao,
T T T
|AB| = |E1 E2 . . . Es DEr Er−1 . . . Es+1 B|
= |E1 ||E2 . . . Es DE Tr E Tr−1 . . . Es+1
T
B|
T T
= |E1 ||E2 ||E3 . . . Es DE E . . . E T B|
r r−1 s+1
= ···
= |E1 ||E2 ||E3 | . . . |Es ||D||E Tr ||E T | ...| ||B|
r−1
T
E s+1
=T |E1 E2 E3 . . . Es DE T E T ... ||B|
E
r s+1
= |A||B|.
r−1
1. A ´e invert´ıvel
T
1
T c 2cT h i
.
In = A A = c1 c2 · · · cn
.
n
T
c
2.4. 4
T
1
c i
2cT h
´e cT cj , obtemos o resultado.
Como o elemento (i, j) de c1 c2 · · · cn
i
.
n
Condic¸˜ao necess´aria: Ora T T T T
ic c cj = 0 se i /= j,i e c ci = 1 ´e o mesmo que A A = In , e
pelo
corol´ario anterior implica que A ´e invert´ıvel com A−1 = AT , pelo que A ´e ortogonal.
Ou seja, as colunas das matrizes ortogonais s˜ao ortogonais duas a duas. O mesmo se
pode dizer acerca das linhas, j´a que a transposta de uma matriz ortogonal ´e de novo
uma matriz ortogonal.
1. O complemento alg´ebrico de aij , ou cofactor de aij , denotado por Aij , esta´ definido por
Adj(A) = [Aij ]T .
Teorema 2.4.13 (Teorema de Laplace I). Para A = [aij ], n × n, n > 1, enta˜o, e para
k = 1, . . . , n,
|A| = n
Σ
akj Akj
j=1
= n
Σ
ajkAjk
j=1
O teorema anterior ´e o caso especial de um outro que enunciaremos de seguida. Para tal,
´e necess´ario introduzir mais notac¸˜ao e algumas definic¸˜oes (cf. [8]).
Seja A uma matriz m × n. Um menor de ordem p de A, com 1 ≤ p ≤ min{m,
n}, ´e o determinante de uma submatriz p × p de A, obtida de A eliminando m − p linhas e n
− p colunas de A.
Considere duas sequˆencias crescentes de nu´meros
i1 i2 . . . ip
j1 , j2 , . . . , jp . Este determinate vai ser denotado por A . Ou seja,
j1 j2 . . . jp
!
i1 i2 . . . ip
A = | [a
ik jk ] |.
j1 j2 . . . jp k=1,...p
onde a soma percorre todos os menores referentes a` escolha das linhas [resp. colunas].
Para finalizar, apresentamos um m´etodo de c´alculo da inversa de uma matriz n˜ao singular.
Teorema 2.4.15. Se A ´e invert´ıvel enta˜o
−1 Adj(A)
A = |A| .
Octave
Vamos agora apresentar uma pequena func¸˜ao que tem como entrada uma matriz
quadrada e como sa´ıda sua matriz adjunta.
function ADJ=adjunta(A)
% sintaxe: adjunta(A)
2.4. 5
0 -2 3 -2
-2 3 1 -1
-3 0 4 3
-4 4 0 4
> adjunta(B)
ans =
> B*adjunta(B)
ans =