De Água em Canteiros de Obras: Uma Revisão

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XV Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste
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XV SIMPÓSIO DE RECURSOS HÍDRICOS DO NORDESTE CONSUMO DE ÁGUA EM CANTEIROS DE OBRAS: UMA REVISÃO
 
Camilla Pires dos Santos Câmara
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 ; Marcos Antonio Barbosa da Silva Junior
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 ; Simone Rosa da Silva
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 & Sylvana Melo dos Santos
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RESUMO
 
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 O setor de construção civil, grande consumidor dos recursos naturais e gerador de renda, apresenta grande capacidade para implementar medidas de conservação de água, caso seja incentivado ou obrigado a isso. No entanto, comumente, a água não é vista como material de construção devido ao seu baixo custo e à sensação de que é um bem ilimitado. De forma geral, o consumo da água pode ser dividido entre uso humano, atividades construtivas e desperdícios, sendo o primeiro responsável por metade de toda a água utilizada nos canteiros de obras, variando de 34 a 76,06 L/pessoa/dia. Além disso, foi observado um indicador de consumo de água por área construída variando entre 0,08 e 0,83 m³/m², conforme especificidades das construções. Atualmente existem várias formas de redução de consumo de água nos canteiros, porém há a falta de interesse por parte das construtoras e o alto custo de implantação de algumas dessas tecnologias.
ABSTRACT
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 The civil construction sector, which is a major consumer of natural resources and generates income, has a great capacity to implement water conservation measures, if encouraged or obliged to do so. However, water is not seen as a building material due to its low cost and unlimited good feeling. Its consumption is divided between human use, construction activities and waste, being the first responsible for half of all the water used in construction sites, varying from 34 to 76.06 L / person / day. In addition, an indicator of water consumption per built area was observed, varying between 0.08 and 0.83 m³ / m², according to the specificities of the constructions. Currently, there are several ways to reduce water consumption in construction sites, but there is a lack of interest on the part of construction companies and a high cost of implementing some of these technologies.
 Palavras-Chave
 
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 Uso racional da água, Construção civil, Canteiro de obras.
1. INTRODUÇÃO
A indústria da construção civil, segundo Aurgenbroe e Pearce (1998), é uma das maiores contribuintes para o esgotamento dos recursos naturais e uma das responsáveis pela poluição do ar e
1) Doutoranda, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil PPGEC, UFPE. Rua Acadêmico Hélio Ramos, s/n, Cidade Universitária, 50.740-530, Recife/PE, Brasil. E-mail: camillapiress@outlook.com 2) Doutorando, PPGEC, UFPE. Rua Acadêmico Hélio Ramos, s/n, Cidade Universitária, 50.740-530, Recife/PE, Brasil. E-mail: marcos15barbosa@hotmail.com 3) Professora Associada, Escola Politécnica de Pernambuco (POLI/UPE)
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 Rua Benfica, 455, 50.720-001, Recife-PE. E-mail: simonerosa@poli.br 4) Professora Associada, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental
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 DECIV, e PPGEC, UFPE. Rua Acadêmico Hélio Ramos, s/n, Cidade Universitária, 50.740-530, Recife/PE, Brasil. E-mail: sylvana.santos@ufpe.br
 
 
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água, geração de resíduos sólidos e tóxicos, desmatamento, aquecimento global, entre outros. Segundo a UNEP-SBCI (2012), mundialmente, o setor da construção civil é responsável pelo consumo anual de 40% de toda a energia e 12% da água doce, além disso, esse setor da economia contribui em 30% na emissão de gases do efeito estufa, e produz até 40% dos resíduos sólidos anuais. Em contrapartida, esse setor emprega mais de 10% da força de trabalho mundial (cerca de 111 milhões de pessoas), e é estimado que represente 10% (U$7,5 trilhões) do PIB mundial. Com esse cenário, é necessária a promoção da prática da construção sustentável, pois esse setor é fundamental na minimização do esgotamento de recursos naturais. Sabe-se que a água é um bem finito e necessário à vida e que as mudanças do clima têm influenciado o excesso e/ou escassez de água em todo o planeta. Ao mesmo tempo, o crescimento populacional solicita uma maior demanda por construções e consumo de insumos durante o período de uso dos empreendimentos, inclusive maior demanda de consumo de água e geração de esgotos, tornando um grande desafio à sociedade reverter o quadro de falta de água potável (CBCS; PNUMA, 2014; CBIC, 2017). Para solucionar esse problema, no Brasil, pesquisas vêm desenvolvendo diagnósticos e programas institucionais de uso racional da água como o Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água (PNCDA) (SILVA; COJENO; GONÇALVES, 1999) e o Programa de Uso Racional da Água (PURA) (GONÇALVES; OLIVEIRA, 1997). Apesar dos avanços, a etapa de construção apresenta escassez de discussão sobre o tema. Documentos como
“Aspectos da Construção Sustentável no Brasil”
 (CBCS; PNUMA, 2014) e
“Gestão de Recursos Hídricos na Indústria da Construção: Conservação de água e gestão da demanda” (CBIC, 2017) são avanços p
ara a mudança desse cenário. Com isso, o objetivo deste trabalho é apresentar uma revio bibliográfica sobre o tema. Para atingir o objetivo, foi realizado um levantamento bibliográfico nos últimos 12 anos sobre o tema em periódicos nacionais e internacionais, congressos, manuais técnicos, pesquisas de dissertações e teses.
2. ÁGUA NA CONSTRUÇÃO CIVIL
A discussão sobre construção sustentável está cada vez mais em pauta entre os consumidores, acadêmicos e profissionais do ramo da construção civil (SPEZZIO
et al
., 2015). Certificações ambientais como o LEED e o AQUA colaboram para que as construções se tornem mais sustentáveis do ponto de vista do consumo e da geração de resíduos, incluindo a água. Entretanto, comumente a água não é vista nem tratada como material de construção (NETO, 2017), e isso pode estar associado ao baixo custo na obtenção dessa, em comparação ao custo da construção do edifício. Santos, Silva e
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Cerqueira (2015) e Pessarello (2008) verificaram que o custo para a obtenção de água representa, em média, 0,59% e 0,70% do custo total da construção respectivamente.
2.1 Tipos de fornecimento e reuso de água
Para se conhecer a demanda de água dentro de um canteiro de obras, faz-se necessário verificar as formas de abastecimento de água utilizadas. Verificou-se que comumente o abastecimento de água ocorre pela concessionária ou por carros-pipa (SANTOS; SILVA; CERQUEIRA, 2015; PESSARELLO, 2008; SPEZZIO
et al
., 2015; BARTH; OLIVEIRA, 2012; COSTA FILHO; SILVA, 2016). Apesar do custo do carro-pipa ser superior ao da concessionária, algumas construtoras adotam essa alternativa no caso de cenário de escassez hídrica e/ou irregularidade no abastecimento pela concessionária. Em alguns canteiros também são utilizadas fontes alternativas de água para minimizar os custos de aquisição da concessionária. Nesse contexto se inserem: água subterrânea (poço artesiano), reuso de água cinza, aproveitamento de água de chuva, aproveitamento da água explotada do terreno com o rebaixamento do nível do lençol freático. As figuras 1 (a) e (b) mostram o arranjo construtivo que possibilita o reuso da água do lavatório no mictório.
(a) Lavario. (b) Mictório. Figura 1
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 Reuso da água em ambiente do canteiro de obras .
2.2 Demanda por água no canteiro de obra
A demanda de água no canteiro de obras divide-se entre consumo humano, atividades construtivas da edificação e desperdício. Os desperdícios estão associados à negligência dos usuários no fechamento das torneiras e à ocorrência de vazamentos (figura 2).
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Figura 2
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 Vazamento de torneira. Fonte: Santos, Silva e Cerqueira (2015).
2.2.1 Consumo humano
De acordo com Pessarello (2008), o consumo humano está relacionado às demandas essenciais dos funcionários do canteiro e são preservadas de acordo com a legislação trabalhista. Segundo a NR-18 (MTE, 2017), prevê-se o uso da água nas instalações sanitárias, no alojamento, no local de refeições, na lavanderia e na cozinha (quando houver preparo de refeições). McNab, Lynch E Young (2012) alertaram que a área de vivência, por existir durante toda a construção, tamm é responsável por significativa parcela do consumo de água e, por isso, deve receber atenção especial. Os autores realizaram medições do consumo de água para o bem-estar dos funcionários em dois canteiros de obras. O canteiro 1 esteve associado à construção de um laboratório e o canteiro 2, à de um aeroporto, em Londres. O canteiro 1 possuía uma cozinha com preparo diário de comida, e mictórios sem água, e nesse ambiente o consumo de água para uso humano foi de 44 L/pessoa/dia, constituindo 85% de toda a água utilizada nessa obra. O canteiro 2 também possuía uma cozinha com preparo diário de refeições, e o consumo humano de água foi de 34 L/pessoa/dia, representando 59% do consumo de toda a obra. Apesar do canteiro 2 apresentar um consumo humano de água inferior ao canteiro 1, o volume utilizado nas instalações sanitárias periféricas não foi contabilizado. Santos, Silva e Cerqueira (2015) mediram o volume de água destinado aos vestiários de duas obras de edifícios comerciais de alto padrão em Recife e observou um consumo
 per capita
 de 76,04 L/pessoa/dia, representando um percentual de 53,20% de toda a água utilizada nos canteiros estudados. Pessarello (2008) também realizou medições do consumo de água na área de vivência de um dos canteiros estudados, um conjunto residencial de alto padrão em São Paulo, observando um consumo
 per capita
 de 51 L/pessoa/dia, significando aproximadamente 50% de toda a água utilizada neste canteiro. Sem medições nos demais canteiros estudados, Pessarello (2008) estimou a quantidade
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