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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA – LICENCIATURA

SIMONE LUCI RAUPP JORGE

PROJETOS DE APRENDIZAGEM:
UMA PROPOSTA DE APRIMORAMENTO NA
LEITURA E ESCRITA.

Três Cachoeiras
2010
Simone Luci Raupp Jorge

PROJETOS DE APRENDIZAGEM:
UMA PROPOSTA DE APRIMORAMENTO NA
LEITURA E ESCRITA.

Trabalho de Conclusão apresentado


à Comissão de Graduação do Curso
de Pedagogia – Licenciatura, da
Faculdade de Educação da
Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, como requisito parcial e
obrigatório para obtenção do título
Licenciatura em Pedagogia.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Marie Jane


Soares Carvalho
Co-orientadora: Prof.ª Dda Juliana
Brandão Machado

Três Cachoeiras
2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
Reitor: Prof. Carlos Alexandre Netto
Vice-Reitor: Prof. Rui Vicente Oppermann
Pró-Reitor de Pós-Graduação: Prof. Aldo Bolten Lucion
Diretor da Faculdade de Educação: Prof. Johannes Doll
Coordenadoras do Curso de Graduação em Pedagogia –
Licenciatura na modalidade a distância/PEAD: Profas. Rosane
Aragón de Nevado e Marie Jane Soares Carvalho
À minha filha Sofhia,
razão da minha vida.
Amo você!
AGRADECIMENTOS

Ao concluir este trabalho gostaria de agradecer...

...à Deus por ter iluminado meu caminhos e concedido forças para chegar
ao fim;

...à meu pai, Abílio, pelo apoio, pelos princípios e pelo amor com que me
educou, sempre motivando-me a ir em frente;

...à minha mãe, Diva, pelo amor, carinho e dedicação que sempre me deu,
por toda força, apoio e incentivo me confortando nos momentos de angústia;

...à minha filha, Sofhia, que nos momentos difíceis me confortou com
abraços, sorrisos e palavras de carinho;

...à professora Marie Jane Carvalho, e à tutora Juliana Machado,


orientadoras deste TCC, que acreditaram nas minhas idéias e refletiram junto

comigo sobre este trabalho;

...às minhas colegas/amigas Cristiani e Sandra, que compartilharam comigo


muitas descobertas e aprendizagens ao longo do curso;

...à minha colega/amiga Elizete, por ouvir meus desabafos durante o estágio
e a elaboração deste TCC;

...à tutora Rosângela Leffa, com quem tive a oportunidade de trocar idéias e
com quem pude aprender muito e refletir durante o estágio e neste último
semestre;

...à tutora Vanilce Oliveira, pelos ensinamentos valiosos que me auxiliaram


durante o curso e pelo carinho com que sempre me recebeu;

... à todos que, de alguma forma contribuíram para concretização deste


sonho...Muito Obrigada!
RESUMO

O trabalho tem como objetivo identificar as contribuições dos Projetos de


Aprendizagem com o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação no
desenvolvimento da leitura e da escrita. Para alcançar esse propósito, recorri
aos postulados de Magda Soares (2003) em torno dos conceitos de leitura e
escrita. Para a autora a leitura é um processo complexo que compreende a
interpretação das significações de um texto e o sentido figurado deste; e a
escrita é um processo de expressão e comunicação de idéias que utiliza
estratégias para organizar o pensamento mostrando algo que se deseja. Tais
tecnologias são processos complexos que compreendem a vivência do sujeito
em diferentes práticas letradas marcadas por uma função interacional. Os
Projetos de Aprendizagem é uma proposta metodológica de projetos de
pesquisa que partem da curiosidade e indagações dos alunos, conhecimento
materializado nos registros realizados em blogs. Esta pesquisa é resultado da
reflexão e análise da experiência de aplicação dos Projetos de Aprendizagem
numa turma de alunos de 3º ano, composta por 27 alunos, na faixa etária entre
7 e 8 anos, do ensino fundamental realizada durante o estágio curricular. Os
dados utilizados na pesquisa abarcam os registros produzidos pelos grupos de
alunos nas diferentes etapas dos Projetos de Aprendizagem. As análises
apontam que nesse processo, a leitura é fundamental, pois a pesquisa se
desenrola a partir da busca de materiais, dados, informações, encontradas
principalmente na internet. Essa leitura envolve também vídeos e imagens,
colocando o aluno em contato com uma variedade de textos (escritos ou não)
que vão além daqueles utilizados com freqüência na escola. O que orienta a
leitura é a pergunta norteadora motivando o aluno a vivenciar diferentes
práticas de leitura. A experiência com diferentes tipos de leitura conduz o aluno
a perceber estratégias que ele pode empregar quando produz seus textos. A
experiência com Projetos de Aprendizagem exige a produção de diferentes
tipos de texto, ou seja, são textos com objetivos, conteúdos e interlocutores
variados, possibilitando aos alunos um aprimoramento das práticas de escrita.
Isso evidencia a inter-relação entre leitura e escrita. A metodologia dos Projetos
de Aprendizagem dá a possibilidade de vivenciar pelas inúmeras leituras que o
aluno realiza diferentes estratégias de escrita que passam a se manifestar nos
textos que eles escrevem. Além disso, a busca de conhecimentos variados
ajuda o aluno a ter leitura variada também. Portanto, a leitura e a escrita se
complementam e se relacionam entre si. Os Projetos de Aprendizagem
representam uma possibilidade de contribuir para o aprimoramento da leitura e
da escrita como práticas sociais, esse aprimoramento, favorece e altera a
forma de viver num mundo letrado. Aprender a ler e a compreender o que está
lendo, da mesma forma que aprender a transmitir, pela escrita, uma mensagem
desejada é parte fundamental, hoje, na formação de um indivíduo que deseja
tornar-se uma pessoa mais articulada para posicionar-se e persuadir.

Palavras-chave: Projetos de Aprendizagem – Leitura – Escrita


LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Relação dos grupos e de algumas perguntas ................................ 25


Quadro 2: Seleção das Perguntas .................................................................. 30
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Registro das Curiosidades.............................................................. .27


Figura 2: Produção Textual (discussões) – Grupo C.......................................28
Figura 3: Produção Textual – Grupo C.............................................................30
Figura 4: 1ª Produção Textual – Grupo I..........................................................32
Figura 5: 2ª Produção Textual – Grupo I..........................................................33
Figura 6: Listagem Certezas e Dúvidas – Grupo I...........................................34
Figura 7: Texto com seqüência de figuras.......................................................35
Figura 8: 1ª Produção Textual – Grupo D........................................................36
Figura 9: Enunciado de atividade de leitura.....................................................37
Figura 10: Registro de busca – Grupo E..........................................................38
Figura 11: Produção Textual – Grupo D..........................................................39
Figura 12: Texto informativo- linguagem formal- Grupo D...............................40
Figura 13: Texto linguagem informal – Grupo D..............................................41
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................... 11
2 REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................... 14
2.1 O alfabetismo nas práticas escolares ...................................................... 14
2.2 O uso da leitura e da escrita .................................................................... 16
2.3 Projetos de Aprendizagem com o uso das Tecnologias da Informação e
Comunicação.......................................................................................................... 18
3 CAMINHOS PERCORRIDOS ............................................................... 21
4 ANÁLISES DO APRIMORAMENTO DA LEITURA E DA ESCRITA
COM OS PROJETOS DE APRENDIZAGEM .................................................. 26
5 CONCLUSÃO ....................................................................................... 43
6 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 45
7 ANEXO.................................................................................................. 46
11

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho aborda o tema Projetos de Aprendizagem e suas


implicações na Leitura e na Escrita. Este trabalho consiste em uma pesquisa
participante que tem como objetivo verificar as mudanças que os Projetos de
Aprendizagem realizam na leitura e escrita. A pesquisa foi realizada com
alunos de 3° ano do Ensino Fundamental focalizando o uso das Tecnologias da
Informação e Comunicação.

Em vários momentos, os Projetos de Aprendizagem estiveram muito


presentes em minha formação acadêmica, instigando e aguçando minha
curiosidade para fazer o meu trabalho de conclusão do curso sobre essa
arquitetura pedagógica.

Durante este curso de Pedagogia, modalidade a distância, oferecida


pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul foram realizados estudos e
práticas sobre a metodologia de Projetos de Aprendizagem. No 7° semestre,
como aluna do Pólo de Três Cachoeiras, juntamente com mais duas colegas,
desenvolvi e consegui concluir dois Projetos de Aprendizagem. Um destes,
intitulado Explorando Projetos de Aprendizagem na Educação a Distância, foi
apresentado pelo nosso grupo no 4° Salão de Graduaç ão e no 5° Salão de
Educação a Distância, promovido pela Pró-Reitoria de Graduação e pela
Secretaria de Educação a Distância da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, no período de 27 a 29 de maio de 2009.

Ao longo do desenvolvimento do trabalho com estes Projetos de


Aprendizagem, fiquei surpreendida por esta metodologia ter proporcionado
melhores estratégias de aprendizagem. Porém, não acreditava que fosse
12

possível aplicar os Projetos de Aprendizagem em situações reais de sala de


aula.

As interdisciplinas estudadas durante o curso deram suporte e


orientação para dar conta de realizar quaisquer que fossem as práticas
pedagógicas no estágio. Entretanto, o meu problema não era falta de
preparação acadêmica, mas como conseguiria adaptar os Projetos de
Aprendizagem com o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação. E
também como encarar a postura pedagógica estritamente tradicional das
equipes diretivas e dos professores para com os alunos.

Outro aspecto que motivou minha pesquisa foram os relatos destes


mesmos professores enquadrando a leitura, a interpretação e a escrita como
as maiores dificuldades dos alunos. Acredito que os Projetos de Aprendizagem
podem oferecer enorme contribuição para o desenvolvimento dessas
tecnologias1.

No 8° semestre do curso, tivemos a etapa do estágio docente que me


deu oportunidade de aplicar minhas aprendizagens adquiridas no curso e, ao
mesmo tempo, vivenciar todos os impasses que a realidade impunha.

Assumi uma turma de 3° ano do Ensino Fundamental e observei que as


inquietações com relação à escrita, leitura e interpretação se verificavam na
prática, o que se tornou um grande desafio. Diante desse desafio, os Projetos
de Aprendizagem se apresentaram como possibilidade e alternativa para que
os alunos avançassem nesses processos.

Assim, buscando mostrar as contribuições dos Projetos de


Aprendizagem na leitura, na interpretação e na escrita, estruturei minha
pesquisa do seguinte modo: primeiramente apresento algumas idéias,
questionamentos e reflexões acerca dos conceitos de leitura e escrita. Mostro
também os processos de desenvolvimento de leitura e escrita nas crianças
com base nos estudos de Magda Soares. Em seguida, discuto a importância

1
Soares (2003) utiliza o termo tecnologias para referir-se ao conjunto de
habilidades e conhecimentos necessários aos processos de aprendizagem da
leitura e da escrita.
13

das tecnologias desenvolvidas nos Projetos de Aprendizagem em que utilizo


como referencial teórico as idéias de Léa Fagundes.

Após, explicito os aspectos metodológicos que organizaram o local da


pesquisa e os dados coletados. Por último, apresento os resultados deste
trabalho pontuando algumas análises possíveis.

E finalmente, trago a conclusão final e as referências utilizadas na


pesquisa.
14

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 O alfabetismo nas práticas escolares

Os processos de letramento se iniciam a partir do nascimento do sujeito,


através das apropriações dos sentidos de experiências vivenciadas no próprio
meio familiar (Soares, 2003). Da mesma forma que a criança é letrada através
dos ensinamentos de seus pais sobre regras e outros saberes de convivência,
o letramento da criança se principia também pela leitura e escrita realizados em
casa ao ouvir histórias na hora de dormir, assistindo a um filme e até mesmo
no manuseio de jornais, revistas e outros materiais dispostos.

Como não poderia deixar de ser, a alfabetização é um processo de


aprendizagem de leitura e escrita muito importante por ser considerado um
marco para o desenvolvimento do indivíduo como ser crítico e social. Porém,
tais aprendizagens têm se restringido à decodificação do código escrito e não
ao seu verdadeiro objetivo de apropriação dos sentidos da leitura e escrita
como forma de expressão e comunicação pessoal. Assim, para Soares (2003),
a alfabetização escolar tem se apresentado com o fim em si mesmo pela
realização de um trabalho centrado em uma leitura e escrita muito mecânicas.

Destaco que, na turma de 3° ano da escola onde foi realizado meu


estágio curricular, os pais e professores utilizavam o termo alfabetização para
designar o estado de aprendizagem em que estes alunos se encontravam.
Porém, penso que o termo apropriado seria alfabetismo, pois já estavam
alfabetizados.
15

Para avançar nessa discussão, Soares apresenta para o seguinte


exemplo: podemos lembrar do Brasil antigamente e de quão era suficiente que
o sujeito aprendesse a escrever o próprio nome (alfabetização). Entretanto, o
contexto atual é outro, pois a sociedade está sempre em constante evolução
tornando cada vez mais a leitura e a escrita práticas indispensáveis à formação
de sujeitos capazes de se constituírem criticamente para um mundo que se
torna, a cada dia, mais letrado.

Para dar conta das exigências do mundo letrado, surgiu o termo


alfabetismo que, segundo Soares (2003), são as práticas sociais realizadas
pelo sujeito com o uso da leitura e da escrita.

No entanto, a autora destaca que ler e escrever envolve dois processos


distintos, pois o sujeito pode saber ler, sem saber escrever; pode ser um leitor
fluente e um mau escritor. Para Soares (2003), ler é preferencialmente um
processo de construção da interpretação de textos lidos; e, escrever é a
habilidade de fixar objetivos, organizar as idéias, estabelecer relações e decidir
como desenvolver um texto expressando adequadamente aos leitores
pretendidos.

Apesar da leitura e da escrita envolver dois processos distintos, pontuo


que se relacionam e se complementam. Pois, precisa-se da leitura do mesmo
modo que se precisa da escrita para construir novos conhecimentos.

O alfabetismo abrange para além da decodificação do código escrito,


objetivando que o indivíduo faça uso do ler e do escrever, na vivência de
múltiplos tipos de produções de textos e variadas experiências de leitura,
ampliando, desse modo, sua maneira de relacionar-se com as outras pessoas
e alterando sua forma de viver (Soares, 2003).

No entanto, o termo alfabetismo é também bastante impreciso, pois não


há como definir se certo grau de alfabetismo é realmente suficiente para esta
ou aquela sociedade, já que estas variam continuamente, ou seja, hoje
determinado alfabetismo pode atender as demandas de um grupo social e
amanhã este mesmo alfabetismo pode estar totalmente defasado.
16

Em certa medida, isso é bastante positivo, pois encerra com a


polarização “é alfabetizado” ou “não é alfabetizado”. O que reforça que as
práticas de leitura e escrita também se desenvolvem continuamente a partir
das experiências do sujeito com diferentes práticas letradas. Reside aí o
grande desafio do professor: promover o avanço dos alunos no domínio dessas
tecnologias, conforme pontuarei na próxima seção.

2.2 O uso da leitura e da escrita

Segundo Soares (2003), para que o aluno desenvolva a tecnologia da


leitura é necessário que o professor articule estratégias em que o aluno adquira
habilidades e conhecimentos para tal.

Assim sendo, a leitura é um processo complexo que demanda diversas


habilidades e conhecimentos do sujeito, estendendo-se da interpretação sobre
as acepções de um texto, até o sentido figurado deste, ou seja, compreende o
que o texto escrito quer dizer nas entrelinhas.

Um ponto importante a ser destacado sobre o ato de ler, por estar


diretamente relacionado às práticas de alfabetismo, é o fato da leitura na
escola ocorrer a partir de textos que não são para ler, mas para
especificamente aprender a ler (Soares, 2003). Pois, segundo a autora, a
leitura é controlada, servindo para o treino da pontuação e para a fluência,
deixando a compreensão dos sentidos para depois.

Neste caso, há um grande equívoco dos professores que se utilizam


destas práticas de leitura acreditando que basta ler com fluência para garantir o
entendimento e as aprendizagens dos alunos.

Para pensar melhor sobre isso trago um exemplo do meu campo de


pesquisa: na escola onde realizei meu estágio, os alunos escolhem
semanalmente um livro da biblioteca para ler. Desde que ingressaram na
escola os alunos da minha turma de estágio vivenciam esta prática. Buscando
quebrar essa rotina, propus que escolhessem um assunto de seu interesse
17

para ler, e eles ficaram extremamente perdidos, perguntando se deveriam


escolher somente os livros da prateleira do 3° ano. Isso revela que não sabiam
quais leituras lhes interessavam porque o livre acesso, mesmo que somente
dentro desta biblioteca, lhes era negado.

Alguns diriam que estas atitudes são naturais, ocorrendo por causa da
organização da biblioteca da escola. Outros, como Soares (2003), defendem a
idéia de que o acesso à leitura, em idade escolar, é extremamente limitado,
restringindo-se ao uso da biblioteca da própria instituição, sendo que as
bibliotecas públicas são raras e os livros de qualidade são caros.

Assim como a leitura tem suas complexidades, a escrita é um processo


de expressão e comunicação, organização de idéias e suas significações. Esse
processo inicialmente, passa por um ato de conhecimento, ou seja, implica
reunir habilidades como domínio do assunto, adequação ao interlocutor e a
situação sócio-comunicativa, a fim de que se consiga escrever mostrando o
que se deseja.

A língua escrita existe há muito tempo e é um processo contínuo que se


desenvolve conforme as necessidades das pessoas e de suas respectivas
culturas. Segundo Soares (2003), a escrita foi fundamental para a difusão das
sociedades. Assim surgiu a imprensa e uma variedade de materiais escritos
que propagaram a comunicação e intensificaram os processos de interação
para suprir as demandas de um mundo totalmente letrado.

De acordo com Soares (2003), a língua escrita apresenta duas funções


distintas. A função instrumental e a função pessoal e interacional. Na função
instrumental, usam-se palavras exercitadas ou treinadas para o aluno mostrar o
que aprendeu. E na função pessoal e interacional, o aluno escreve para
interagir, mostrando a partir daí o que aprendeu, o que sentiu, o que pensou.

Destaco que, na prática da função instrumental da escrita, os alunos


acabam apresentando escritas padronizadas e repetitivas que partem de
modelos transmitidos pelo professor, enquanto na função pessoal e
interacional, o aluno aprende dizer, através da própria palavra, emoções e
reações suas.
18

Portanto, enfatizo que o tipo de leitura e de escrita disponibilizadas nos


espaços escolares pode auxiliar o aluno no domínio da língua escrita como
espaço de expressão e comunicação para o seu desenvolvimento como ser
crítico e social.

Essa tarefa, portanto, envolve, além de outras questões, aspectos


metodológicos. Penso que, os Projetos de Aprendizagem representam uma
possibilidade de contribuir para o domínio da leitura e da escrita como práticas
sociais. Essa metodologia, associada no uso das Tecnologias da Informação e
Comunicação vão ao encontro das exigências atuais do mundo letrado,
conforme pontuarei a seguir.

2.3 Projetos de Aprendizagem com o uso das Tecnologias da


Informação e Comunicação

As Tecnologias da Informação e Comunicação, nos dias de hoje, estão


cada vez mais presentes nos contextos sociais, tornando a sua utilização
indispensável. Isso acaba por afligir educadores por não se sentirem aptos
para o uso educativo dessas tecnologias. Outro fator que preocupa os
educadores é a falta de estrutura dos espaços escolares para o planejamento
de práticas pedagógicas envolvendo o uso do computador, mais propriamente
a internet.

Embora, há algum tempo, já exista o processo de informatização nas


escolas para uso da administração escolar, coordenação pedagógica e afins, a
utilização diária de computadores pelos alunos dentro da sala de aula ainda é
uma realidade distante das escolas públicas (do município de Três
Cachoeiras).

Por tudo isso, os professores angustiam-se e preocupam-se com a falta


da vivência de práticas inovadoras que favoreçam a interatividade para que os
alunos adquiram autonomia para analisar, buscar alternativas e solucionar
problemas.
19

Destaco que a evolução das tecnologias e das comunicações transforma


constantemente os âmbitos sociais, fazendo-se necessário que sejam
disponibilizadas nos espaços escolares associadas ao uso das tecnologias
práticas de alfabetismo, visando o uso da função pessoal e interacional da
língua escrita tão importantes para as aprendizagens dos alunos.

Nesse aspecto, os Projetos de Aprendizagem podem trazer enorme


contribuição, pois segundo Fagundes (1999), esta metodologia apresenta uma
proposta de trabalho que permite ao aluno o desenvolvimento da leitura e da
escrita aliado ao uso das tecnologias.

O uso do computador e da internet é muito importante no trabalho com


Projetos de Aprendizagem, pois, proporciona o registro no blog, de todas as
etapas percorridas pelos alunos em ambiente virtual e o acesso a leituras
variadas para as produções escritas que os alunos realizam.

Nesta metodologia, a pesquisa parte sempre da curiosidade dos alunos


a partir do levantamento de perguntas e, para isso, é necessário fomentar
situações desafiadoras que sirvam como ponto de partida para o trabalho com
Projetos de Aprendizagem. Ressalto que as estratégias de pesquisa dependem
de cada Projeto de Aprendizagem, de cada temática e são definidas conforme
a pesquisa vai se desenvolvendo.

Após a formulação da pergunta norteadora, desencadeia-se o registro


das dúvidas temporárias e das certezas provisórias. A retomada das certezas e
dúvidas é parte fundamental do processo de construção dos Projetos de
Aprendizagem, para que não se restrinja e nem se amplie demasiadamente do
foco, mantendo uma direção de pesquisa.

Fagundes (1999) enfatiza que tanto as dúvidas temporárias quanto as


certezas provisórias são muito importantes para o desenvolvimento dos
Projetos de Aprendizagem, pois propõem descobertas, caminhos de busca,
organização e reorganização constante. Nas certezas provisórias são
evidenciados os conhecimentos prévios e são eles que dão pistas sobre os
desafios e as desestabilizações que irão desencadear-se ao longo da trajetória.
Ao mesmo tempo, nas dúvidas temporárias, algumas destas tornam-se
20

certezas, enquanto geram ainda mais dúvidas para serem investigadas e


pesquisadas.

O conhecimento prévio, ao final dos Projetos de Aprendizagem, deverá


estar modificado e transformado, caso contrário, significa que não foram
atingidos os objetivos de aprendizagem. Às vezes, torna-se difícil abrir mão do
que já se sabe e, nesta metodologia, é recorrente o exercício de construção de
novos saberes a partir dos desequilíbrios provocados pelas descobertas que
levam os alunos à revisão, do modo de pensar.

Para Fagundes (1999), o professor deve ter uma postura de desafiador


para os alunos e, ao mesmo tempo, de articulador dos conteúdos, sem tornar-
se executor, o que acabaria por atropelar as perguntas e respostas dos alunos
em função da programação, do currículo ou de outros fatores referentes às
normas da escola.

Portanto, os Projetos de Aprendizagem, com o uso das Tecnologias da


Informação e Comunicação, é uma prática pedagógica que permite ajudar os
alunos a ampliar seus conhecimentos de modo que, assim, também evolua seu
domínio da leitura e da escrita, já que essas são práticas constantes no
processo de construção dos Projetos de Aprendizagem.
21

3 CAMINHOS PERCORRIDOS

Neste capítulo apresento os aspectos metodológicos da minha pesquisa,


os caminhos percorridos, o local e o campo em que aconteceu a pesquisa
participante e os dados coletados.

A pesquisa aqui apresentada consiste em refletir sobre como os Projetos


de Aprendizagem, com o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação,
podem auxiliar para que ocorram mudanças significativas na leitura e na escrita
dos alunos. A pesquisa participante se desenvolve a partir da interação entre
os pesquisadores e os membros das situações investigadas. Segundo Brandão
(1985, p.XX) possui:

Um enfoque de investigação social por meio do qual se busca plena


participação da comunidade na análise de sua própria realidade, com
objetivo de promover a participação social para o benefício dos
participantes da investigação.

Foi essencial na realização da pesquisa a minha participação e a de


meus alunos para a análise das aprendizagens obtidas pelas experiências
vivenciadas em grupo.

O local da pesquisa foi uma escola pública da rede estadual de ensino,


na cidade de Três Cachoeiras.

A instituição atende cerca de novecentos alunos que residem próximos à


escola e em distritos vizinhos, fazendo uso do transporte escolar. O quadro de
recursos humanos é composto por 54 professores e 16 funcionários que atuam
nas modalidades de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio, e
funcionam nos turnos da manhã, tarde e noite.
22

A estrutura física compreende dezenove salas de aula; sala de direção,


secretaria, sala de professores; almoxarifado, sala de tv/vídeo, laboratório de
Ciências, sala de recursos, laboratório de aprendizagens, cozinha, dispensa de
alimentos, biblioteca, sala de coordenação; saguão coberto, conjunto de
banheiros para professores, conjunto de banheiros para alunos; parque infantil
(pracinha), pátio gramado, bicicletário, pátio calçado, refeitório, quadra de
esportes descoberta, laboratório de informática com dezesseis computadores
conexão internet banda larga; computadores na sala da direção, na sala dos
professores e na secretaria.

A escola oferece acesso à biblioteca e ao Laboratório de Informática


semanalmente e para atender bem sua clientela, dispõe de um considerável
espaço, apresentando ambientes limpos e organizados.

Com relação às questões pedagógicas, destaco que a escola apresenta


práticas tradicionais de ensino, porém na documentação está registrado que
realiza práticas inovadoras, objetivando contemplar a diversidade de culturas e
as diferenças individuais. Estabelecendo coerência e articulação nos processos
de ensino e aprendizagem, com o objetivo de unir à teoria as vivências
cotidianas através de práticas educativas que contempla: projetos elaborados
pela comunidade escolar, de acordo com os Planos de Estudos, trabalhos
individuais e coletivos, aulas dialogadas integrando professores e alunos.

Contrariando também a realidade observada, consta no regimento da


escola que é prioritário a aplicação de práticas pedagógicas que estimulem a
realização de trabalhos em grupos nos anos iniciais do ensino fundamental,
objetivando que os educandos compreendam que as vivências em grupos são
importantes nos processos sociais.

O campo de pesquisa ocorreu numa turma de 3° ano do Ensino


Fundamental, composta por 27 alunos, dentre eles 14 meninos e 13 meninas.
Cada um tinha o seu próprio ritmo na realização das atividades, mas isso não
impedia a realização de trabalhos em grupo. Ao contrário essas diferenças
estimulavam a cooperação entre eles. Apresentavam-se participativos,
23

interessados e muito curiosos com a proposta da metodologia de Projetos de


Aprendizagem.

Os Projetos de Aprendizagem representam a arquitetura pedagógica


que adotei durante o meu estágio.

Nessa pesquisa, os dados utilizados constituem o material produzido ao


longo dos Projetos de Aprendizagem: perguntas norteadoras (pergunta
principal), certezas provisórias, perguntas secundárias (dúvidas temporárias),
e produções textuais.

No desenvolvimento dos Projetos de Aprendizagem, utilizei o blog como


ferramenta tecnológica. Essa ferramenta foi importante porque funcionou como
espaço para registro das produções dos alunos desenvolvidas no estágio.

Houve momentos em que, devido a problemas de conexão, recorri ao


uso de folha A4 e editor de textos (word). Além disso, utilizei câmara digital
para documentar as trajetórias percorridas pelos grupos.

Para coletar material para a pesquisa, os grupos utilizaram


preferencialmente a internet, freqüentando o Laboratório de Informática da
escola. Com a minha orientação, cada grupo criou seu blog para registrar
todos os caminhos que iriam percorrer no desenvolvimento de seus Projetos de
Aprendizagem. Segue, em anexo, os endereços dos blogs dos alunos (Anexo
A).
Para iniciar a aplicação da metodologia dos Projetos de Aprendizagem,
perguntei aos alunos sobre suas curiosidades, ou seja, quais perguntas
queriam fazer. Expliquei-lhes que a partir destas perguntas iriam desenvolver
estudos, tendo a oportunidade de escolha sobre os assuntos que gostariam de
aprender. A turma ficou desestabilizada e não apresentou nenhuma pergunta.
Na aula seguinte, apresentei-lhes a mesma proposta, só que dessa vez
partindo da leitura oral da história “A curiosidade premiada” das autoras
Fernanda Lopes de Almeida, Alcy Linares, para continuar as investigações
sobre as curiosidades dos alunos. Este texto conta a história ilustrada de uma
menina muito curiosa que perguntava sobre tudo para as pessoas com as
quais convivia.
24

Após ler a história, refiz a pergunta sobre suas curiosidades. Doze


alunos se pronunciaram prontamente, quinze alunos não quiseram se
manifestar, mas, aos poucos, cinco alunos destes quinze se manifestaram
dizendo que tinham exatamente as mesmas curiosidades do aluno “A” ou “B”.
A maioria dos alunos apresentou perguntas factuais, como:
• Quantas pessoas existem na face da terra?
• Como nós nos vemos?
• Como que as pessoas morrem?
• Quantos universos existem e depois do escuro tem
algum branco (claridade)?
• Porque a gente existe?
• Porque vamos pro inferno?
• Quantas estrelas têm no universo?
• O que acontece quando vamos pro inferno?
• Como as pessoas quando morrem vão para o céu?
• Queria aprender a falar inglês.
• O que são bolinhas amarelas dentro da flor?
• Como são os planetas no infinito?
• Porque a cobra tem veneno perigoso que mata?

Devido a maioria dos alunos não terem se manifestado e algumas


perguntas envolverem crenças religiosas e outras perguntas terem respostas
prontas que não iriam gerar pesquisa, conversei com uma tutora de sede e
esta me sugeriu a idéia de apresentar a “caixa das curiosidades”.

Então, propus aos alunos que fossem escrevendo suas perguntas e


depositando nesta caixa. Desta forma, surgiram inúmeras perguntas que foram
listadas em papel pardo para que os alunos pudessem visualizar melhor. Após,
proporcionei um espaço para que observassem todas as perguntas listadas,
para que cada um pudesse escolher a pergunta que mais despertou sua
curiosidade. Em seguida, orientei os alunos a se reunirem em grupos,
conforme a escolha da pergunta, ou seja, por afinidade de interesse na
pergunta.

Sendo assim, formaram-se 9 grupos para os Projetos de Aprendizagem:


Quadro 1: Relação dos grupos e de algumas perguntas
25

Grupo Seleção de algumas perguntas


A Pesquisa sobre animais e optaram por cavalo-marinho,
porém, não formularam a pergunta
B Pesquisa sobre os vulcões e a pergunta foi: “Porque os
vulcões soltam lavas?”
C Pesquisa sobre os vulcões e a pergunta foi: “Como
acontecem às erupções dos vulcões?”
D Pesquisa sobre: ”Porque é que a gente não nasce
sabendo?”. Após listarem as certezas e dúvidas mudaram a
pergunta para “Como os golfinhos conseguem se comunicar?”
E Pesquisa sobre os leões e a pergunta foi “ Porque os leões
comem carne crua?”
F Pesquisa “Porque se o sapo fizer xixi nos olhos das pessoas,
elas podem ficar cegas?”. Mas, mudaram em seguida para
pesquisar sobre os peixes, e a pergunta ficou “Porque o peixe
fica embaixo da água?”.
G Pesquisa sobre os animais e a pergunta foi sobre as cobras,
porém não definiram naquele momento sobre o que queriam
saber sobre as cobras.
H Pesquisa sobre as aves e formularam a seguinte pergunta
”Como a galinha voa?”.
I Pesquisa sobre os animais e a pergunta escolhida foi:
“Porque o cachorro enxerga no escuro?”.

Observei que os grupos D e F escolheram rapidamente as suas


perguntas. Porém, no momento em que expliquei que todos os grupos iriam
registrar as suas certezas e dúvidas, os grupos D e F, manifestaram-se
dizendo que sua pergunta não era boa para pesquisar e que iriam escolher
outra. Portanto, estes mesmos grupos tinham conhecimentos prévios que
respondiam suas perguntas, motivo suficiente para desinteressar-se por elas.
No próximo capitulo identificarei as contribuições que a metodologia dos
Projetos de Aprendizagem trouxeram para o aprimoramento da leitura e escrita
dos alunos e realizarei reflexões acerca dos mesmos.
26

4 ANÁLISES DO APRIMORAMENTO DA LEITURA E DA


ESCRITA COM OS PROJETOS DE APRENDIZAGEM

A partir das primeiras perguntas observei que os alunos não estavam


habituados a fazer perguntas sobre o que realmente queriam aprender. Isso
me lembrou Fagundes (1999. p. 15) quando destaca que:

Se o ser humano deixa de ser uma criança perguntadora, curiosa,


inventiva, confiante em sua capacidade de pensar, entusiasmado por
explorações e por descobertas, persistente nas suas buscas de
soluções, é porque nós, que o educamos, decidimos “domesticar”
essa criança, em vez de ajudá-la a aprender, a continuar aprendendo
e descobrindo.

Acredito que a pergunta, a curiosidade motiva a busca para construir


conhecimentos e é isso que os Projetos de Aprendizagem propõem e não
apenas a repetição e a reprodução.

Num primeiro momento, as perguntas são produzidas livremente. O


importante é fazer fluir a curiosidade do aluno. Depois, essas questões são
retomadas a fim de que se escolha apenas uma. Assim, eliminam-se questões
muito amplas, muito factuais ou mesmo já sabidas. Mesmo as questões
selecionadas podem ser reformuladas.
O contato dos alunos com a tecnologia (via blog) motivou-os a produzir
suas perguntas, conforme vemos na figura:
27

Figura 1: Registro de curiosidades

Nos grupos, os alunos foram interagindo, discutindo e alterando a


temática e a questão da pesquisa, ocorrendo o embate de idéias dentro de um
mesmo grupo, porque alguns queriam uma pergunta, enquanto outros
alegavam que deveriam optar por outra. A aluna “A” do grupo D disse: esta
pergunta “Por que a gente não nasce sabendo”? Não é legal, não tem graça
nenhuma em pesquisar.
A manifestação da aluna demonstra como se dá esse processo de
construção do conhecimento, através das formulações de perguntas feitas
pelos alunos sobre suas curiosidades em comum. Conforme afirma a autora
Fagundes (1999 p. 21):

[...] para construir conhecimento é preciso reestruturar as


significações anteriores, produzindo boas diferenciações integrando
ao sistema as novas significações. [...] Finalmente, o conhecimento
novo é produto de atividade intencional, interatividade, interação
entre os parceiros pensantes [...].

É assim que se desenvolve o processo de construção do conhecimento.


28

O trabalho cooperativo nos Projetos de Aprendizagem é fundamental


para as relações interpessoais e mostra a importância do coletivo, o respeito
entre os integrantes para o desenvolvimento e aprendizagem.

A figura a seguir mostra a questão norteadora definida pelo grupo D.


Essa etapa envolve a discussão em grupo, a cooperação e, principalmente, a
apresentação de argumentos para convencer o colega/grupo de suas
convicções. Podemos dizer que já se inicia aqui um trabalho que abarca a
produção textual. Esse trabalho de argumentação exige conhecimento,
evidenciando que a aprendizagem é um processo constante que acontece por
meio das práticas de leitura e escrita e, no movimento dos Projetos de
Aprendizagem, vão se aperfeiçoando.

Os próprios alunos nas discussões em grupo reconhecem quando as


perguntas não são boas para pesquisa. Conforme vemos na figura abaixo.

Figura 2: Produção Textual (discussões) – Grupo C


29

Percebo que a troca ou reformulação de pergunta desacomoda e


inquieta os grupos. Isso, porém, dá motivação para buscar novos
conhecimentos através da leitura e instiga a produção escrita como forma de
apropriação dos significados, de domínio do que pretendem contar e
apresentar. O uso das Tecnologias da Informação e Comunicação só tem a
acrescentar nas aprendizagens dos alunos.

Nesse processo, a leitura é fundamental, pois a pesquisa se desenrola a


partir da busca de materiais, dados, informações, encontrado principalmente na
internet. Essa leitura envolve não apenas textos escritos, mas também vídeos e
imagens, colocando o aluno em contato com uma variedade de textos (escritos
ou não) que vão além daqueles utilizados com frequência na escola.

Além disso, a liberdade dada ao aluno na escolha do que ele vai ler
favorece mais ainda a vivência com diferentes práticas de leitura.

Ao vivenciar essa experiência com diferentes tipos de texto, o aluno


também percebe estratégias que ele pode empregar quando produz seus
textos. Isso evidencia a inter-relação entre leitura e escrita.

Além dos textos diretamente relacionados ao tema da pergunta os


alunos registravam o processo de construção dos Projetos de Aprendizagem,
pontuando aprendizagens, expectativas, descobertas. Conforme observamos
na figura.
30

Figura 3: Produção Textual – Grupo C..

Assim, a experiência com Projetos de Aprendizagem exige a produção


de diferentes tipos de texto, ou seja, são textos com objetivos, conteúdos e
interlocutores variados, possibilitando aos alunos um aprimoramento das
práticas de escrita.

Após muitas discussões e trocas de idéias, finalmente os alunos


definiram suas perguntas principais:

Quadro 2: Seleção das perguntas

Grupo Assunto Pergunta Principal


A Peixes Quais são as
espécies de peixes mais
comuns?
B Vulcões Porque os vulcões
soltam lavas?

C Vulcões Como acontecem às


31

erupções dos vulcões?


D Animais Marinhos Como vivem os
animais marinhos?

E Plantas Quais os tipos de


plantas existentes no
Brasil e quais servem
como comida?
F Peixes Como são os peixes
dos rios, lagos e mares
do Brasil?
G Répteis Como viviam os
répteis e quais são os
répteis mais comuns?
H Dinossauros Como os dinossauros
viviam?

I Cachorros Quais as espécies de


cachorros que existem?

Na medida em que a pesquisa foi acontecendo, por conta da


necessidade da turma, ocorreram algumas adaptações na metodologia dos
Projetos de Aprendizagem. Observei que os grupos apresentavam dificuldades
para listar (formular) as certezas e dúvidas a partir da pergunta norteadora.
Embora eu tenha explicado que o termo “norteadora” queria dizer a pergunta
que iria nortear as pesquisas, os alunos apresentavam-se confusos.

Sugeri, então, a substituição do termo pergunta norteadora para


pergunta principal e somente a mudança de termo bastou para resolver esse
problema. Da mesma forma, substituí o termo dúvidas para perguntas
secundárias (Magdalena e Costa, 2003).

Os alunos conseguiram listar as perguntas secundárias a partir da


pergunta principal, registrando-as nos Blogs. Assim, cada grupo fez pesquisas
na internet sobre o tema escolhido.

Porém, dentro de um curto período de tempo, cada grupo reuniu uma


grande quantidade de material pesquisado e era necessário selecionar para
verificar quais estavam relacionados aos assuntos dos grupos, pois faz parte
32

do processo manter o foco de pesquisa com uma direção de trabalho; caso


contrário, os Projetos de Aprendizagem tornam-se demasiadamente amplos.

Novamente, os grupos, a partir de várias conversas, discussões e


análise do material, reorganizaram a pesquisa, descartando aquilo que não
atendia à temática definida pelo grupo. Vemos, portanto, que, em todas as
etapas dos Projetos de Aprendizagem, a retomada do que já foi produzido e
sua reformulação são constantes, o que cria nos alunos o hábito de ler, reler,
reformular, compreendendo que essas práticas fazem parte do processo de
construção do conhecimento e favorecem o aprimoramento da escrita. A figura
abaixo ilustra esse movimento do trabalho de pesquisa.

Figura 4: 1ª Produção Textual – Grupo I

Conforme vemos na figura, o grupo perdeu o foco da pesquisa, trazendo


elementos que não remetiam à pergunta norteadora e às dúvidas. Embora o
texto fale sobre cachorros eles divagam para outros assuntos.
33

Portanto, percebi que os grupos precisavam refletir sobre suas


produções escritas relacionando-as com as certezas e com as perguntas
secundárias (dúvidas). Então, sugeri a produção de um segundo texto,
conforme observamos na figura:

Figura 5: 2ª Produção Textual - Grupo I

Ao comparar as duas produções textuais, observa-se que os alunos


releram os materiais selecionados e reorganizaram sua escrita. Perceberam
que no texto 1 não pontuavam todos os seus objetivos de pesquisa. Essa
constatação dos alunos motivou-os a busca por mais leituras para a produção
do texto 2, onde trazem mais evidências relacionadas ao seu tema de
pesquisa. Assim, a retomada e a busca por conhecimentos contribui para o
aprimoramento da leitura e da escrita.

Pontuo que o uso do editor de textos word chamou a atenção dos alunos
para algumas regras de escrita. A seguir transcrevo um diálogo entre 2 alunos
que evidencia essa preocupação:
34

Aluna A: O que é este traço vermelho?

Aluno B: O que é este traço verde embaixo da


palavra?

Aluna C: Minha prima disse que é porque a palavra


está errada.

Aluna A: Professora, como se escreve sertesa


(certeza)?

Depois da escrita no word várias correções principalmente ortográficas,


foram feitas de modo que a postagem no blog ficou mais organizada.

Figura 6: Listagem Certezas e Dúvidas – Grupo I

Acredito que, aos poucos, é possível proporcionar aos alunos formas de


fazê-los perceber que a escrita tem regras próprias e ajudá-los desenvolver as
produções textuais no word tornou possível, a produção de textos melhores e
mais organizados.
35

A partir dessas produções textuais percebi que acontecem mudanças


nas escritas dos alunos. Antes da aplicação dos Projetos de Aprendizagem as
produções escritas apresentavam-se restritas e limitadas a situações artificiais,
como por exemplo, construção de textos a partir de uma seqüência de figuras
com título pronto. Esse modelo de texto serve para circular somente naquele
espaço, o que acaba por tolher a criatividade e o exercício de autoria, pois a
escola restringe a escrita a esse tipo de prática, conforme a transcrita da figura
abaixo, realizada pelo Grupo D antes dos Projetos de Aprendizagem:

A Pipa Colorida

O menino ganhou uma pipa.

A pipa subiu e ficou presa na árvore.

Mas aí deu um vento e a pipa caiu.

Figura 7: Texto com título e seqüência de figuras – Grupo D

Constato, a partir dos Projetos de Aprendizagem, na escrita dos alunos,


a evidência predominante da função pessoal e interacional da escrita (Soares,
2003), revelando uma escrita mais criativa, mais original e até mesmo mais
36

ousada. O aluno, nessa experiência, faz uso da verdadeira função da escrita


que é a de servir para mostrar e apresentar o que tem sentido para ele, como
esta produção textual realizada pelo mesmo Grupo D durante os Projetos de
Aprendizagem:

Figura 8 : 1ª Produção Textual - Grupo D

A metodologia dos Projetos de Aprendizagem dá a possibilidade de


vivenciar pelas inúmeras leituras que o aluno realiza diferentes estratégias de
escrita que passam a se manifestar nos textos que eles escrevem. Além disso,
a busca de conhecimentos variados ajuda o aluno a ter leitura variada também.
Portanto, a leitura e a escrita se complementam e se relacionam entre si.

No entanto, em certas práticas comuns na escola, a leitura e a escrita


estão desarticuladas, desvinculadas. Percebo que existe um controle para se
ter fluência, ler mais rápido, treinar o ritmo e pontuação porque alguns
professores acreditam que essa fluência levará o aluno à compreensão, assim
37

como consta no enunciado desta atividade encontrada nos cadernos realizados


pelo Grupo D anterior aos Projetos de Aprendizagem:

Leia o texto com entonação respeitando a pontuação.

Figura 9: Enunciado de atividade de leitura

Penso que tais fatores são importantes para que o aluno entenda que a
leitura e a escrita têm regras próprias. Porém, quando se trata de alunos ainda
tão pequenos como os do meu campo de pesquisa, percebo que ao
terminarem de ler um texto sob este tipo de controle, torna-se difícil a
compreensão, que, a meu ver, é o objetivo principal da leitura, colocando-o em
segundo plano, desmotivando o aluno para a leitura.

Com os Projetos de Aprendizagem, a leitura é proposta ao aluno através


da motivação em pesquisar e buscar algo que ele deseja. Como no caso do
Grupo E, que na busca de informações que respondessem a sua pergunta
principal “Quais os tipos de plantas existentes no Brasil e quais servem como
comida?”, adquiriram os conhecimentos pretendidos e, além disso,
descobriram a palavra fotossíntese surgindo aí o interesse nesta significação.
Ao buscar novamente por leituras variadas, mas desta vez com o objetivo de
38

descobrir o que era fotossíntese, constataram que se tratava de um processo


em que a planta absorve o gás carbônico e libera o oxigênio, e isso, despertou
a curiosidade do Grupo em vivenciar uma experiência que demonstrasse tal
processo. Assim sendo, o Grupo E pesquisou uma experiência na internet,
realizaram-na em sala de aula apresentando aos demais colegas e por isso,
contam na produção textual as suas aprendizagens sobre a fotossíntese,
conforme figura:

Figura 10: Registro de busca – Grupo E


39

Figura 11: Produção Textual - Grupo

Creio que ler é buscar significado e o leitor deve ter um propósito para
buscar significado no texto (Ferreira, 1987) e a escrita ajuda a organizar o
pensamento, sistematizar o conhecimento, fazendo com que percebam se
houve aprendizagens.

Na etapa da produção de textos, os alunos organizavam as


aprendizagens alcançadas, ou seja, buscando articulavam as idéias que
remetiam à pergunta norteadora e às dúvidas, realizando diferentes práticas de
escrita, conforme aponta a figura:
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Figura12: Texto informativo - linguagem formal – Grupo D

Na figura acima, os alunos escrevem com linguagem formal e mostram,


no texto, conteúdos mais informativos, já que o interlocutor é alguém que busca
informação.

Outro exemplo de prática de escrita vivenciado pelos alunos diz respeito


ao registro em que destacam o que sentiram e o que vivenciaram. Conforme
figura:
41

Figura 23: Texto linguagem informal – Grupo D

Nos trechos transcritos das imagens vemos/percebemos que os alunos


escrevem com uma linguagem mais informal, instigando a curiosidade do leitor
por meio de perguntas:

Olá galerinha! tudo bom espero que vocês estão gostando


do blog (...)

Sabia que os filhotes de foca tornam-se independentes


muito mais cedo que os de lobos e leões marinhos? Pois
é verdade (...)

Os alunos mostram no texto um conteúdo mais interacional, com uma


linguagem mais informal e mais próxima do interlocutor. Isso contribui para o
aprimoramento da escrita.

Durante a trajetória da metodologia dos Projetos de Aprendizagem foi


possível perceber que os alunos aprimoraram a leitura e a escrita. Quanto a
leitura, passaram a utilizá-la como instrumento de investigação para novos atos
42

de conhecimento e na escrita passaram a atribuir a sua verdadeira função que


é dizer através da própria palavra emoções e reações suas, organizando os
pensamentos, expressando os sentidos que atribuem e se apropriando das
aprendizagens.
43

5 CONCLUSÃO

O presente trabalho discute a importância da metodologia dos Projetos


de Aprendizagem para o aprimoramento da leitura e da escrita dos alunos.
Embora Soares (2003) afirme que a leitura e a escrita sejam duas
tecnologias que dependem de processos distintos e que por isso um bom leitor
nem sempre é um bom escritor e vice - versa, penso, que a leitura e a escrita
se complementam e se relacionam já que se precisa da leitura do mesmo
modo que se precisa da escrita para a construção de conhecimento. Pois, a
leitura torna possível o ato de conhecimento para o domínio, na escrita, do que
se pretende apresentar, ao mesmo tempo em que é importante construir um
texto porque a escrita organiza o pensamento expressa a aprendizagem, a
apropriação do conhecimento.

A partir dos Projetos de Aprendizagem os alunos permeiam por variados


caminhos na tentativa de responder à pergunta norteadora. Esses caminhos
vão sendo definidos por eles no decorrer da pesquisa e ao professor cabe
orientar os passos de cada grupo.

Ao mesmo tempo, a vivência dessas experiências com diferentes tipos


de leitura permite ao aluno perceber estratégias que ele pode empregar na
hora de escrever, utilizando-se da função pessoal e interacional da escrita,
interagindo e mostrando o que aprendeu, o que sentiu, o que pensou,
independentemente de utilizar no texto uma linguagem mais informal e mais
próxima do interlocutor ou até mesmo uma linguagem mais formal para um
interlocutor que busca a informação.

A metodologia dos Projetos de Aprendizagem representa uma


possibilidade de contribuir para o aprimoramento da leitura e da escrita como
44

práticas sociais, esse aprimoramento, favorece e altera a forma de viver num


mundo letrado. Aprender a ler e a compreender o que está lendo, da mesma
forma que aprender a transmitir, pela escrita, uma mensagem desejada é parte
fundamental, hoje, na formação de um indivíduo que deseja tornar-se uma
pessoa mais articulada para posicionar-se e persuadir.
45

6 REFERÊNCIAS

BRANDÃO, C. R. (ORG.). PESQUISA PARTICIPANTE. 8ª Edição. SÃO


PAULO: Brasiliense,1986.Disponível em:
http://giselacastr.vilabol.uol.com.br/pesquisapart.htm. Acesso em: 12 de
outubro de 2010.

COSTA, Iris Elisabeth Tempel; MAGDALENA, Beatriz Corso. Revisitando os


Projetos de Aprendizagem, em tempos de web 2.0. Disponível em:
http://peadtrescachoeiras6.pbworks.com/f/Revisitando+os+Projetos+de+A
prendizagem%2C+em+tempos+de+web+2.0.pdf. Acesso em: 21 de agosto
2010.

FAGUNDES, Léa da C., Sato;Luciene S. & Maçada, Débora L. Aprendizes do


futuro: as inovações começaram. Cadernos de Informática para a Mudança
em Educação. MEC/ SEED/ ProInfo, 1999. Disponível em:
http://mathematikos.psico.ufrgs.br/textos/aprender.pdf. Acesso em: 25 de
agosto de 2010.

JORGE, Simone Luci Raupp. Pbworks do Estágio. Disponível em:


http://simonerauppestagio.pbworks.com/ Acesso em: 05 de setembro de 2010.

PALACIO, Margarita Gomes; FERREIRO, Emilia. Os Processos de Leitura e


Escrita. Porto Alegre:Artes Medicas, 1987.276p.

SOARES, Magda. Alfabetização e Letramento, 6.ed - São Paulo: Contexto,


2010.
46

7 ANEXO

Links dos Blogs dos alunos contendo os textos produzidos


http://turma32grupocaes.blogspot.com/
http://turma32grupoborboletas.blogspot.com/
http://turma32gatinhosfofinhos.blogspot.com/
http://turma32grupopassaros.blogspot.com/
http://turma32grupodragoes.blogspot.com/
http://turma32grupotigres.blogspot.com/
http://turma32grupogolfinhos.blogspot.com/
http://turma32cobrasvenenosas.blogspot.com/
http://turma32fadaseduendes.blogspot.com/

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