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A civilização de Axum do século I ao século VII 375

CAPÍTULO 14

A civilização de Axum do
século I ao século VII
F. Anfray

Segundo as fontes primárias, a história do reino de Axum alongou­‑se por


aproximadamente um milênio, a partir do século I da Era Cristã. Nela se
registram alguns acontecimentos de relevo, como as três intervenções armadas
na Arábia do Sul no decorrer dos séculos III, IV e VI, uma expedição a Méroe
no século IV e, na primeira metade deste último, a introdução do cristianismo.
Vinte reis, conhecidos em sua maioria apenas pelas moedas que emitiram,
sucederam­‑se no trono de Axum. Os mais famosos foram Ezana e Caleb. A
tradição conservou os nomes de outros monarcas, mas nesse caso, infelizmente,
não dispomos de base segura. O rei mais antigo de que se tem registro é
Zoscales, mencionado num texto grego do fim do século I, porém ainda não
sabemos com segurança se seu nome corresponde ao de Za­‑Hekale, citado nas
listas tradicionais de reis.
Nosso conhecimento da civilização axumita deriva de fontes várias, entre as
quais se incluem passagens de autores antigos, desde Plínio, que menciona Adulis,
até os cronistas árabes, como Ibn Hischa, Ibn Hischam e Ibn Hawkal. No geral,
porém, esses fragmentos são um tanto vagos, e o essencial da documentação é
fornecido pela epigrafia local e pelo material arqueológico que se foi reunindo
com o passar dos anos. As inscrições, pouco numerosas, começaram a ser
coletadas no século XIX. Os textos de Ezana, gravados em pedra, figuram entre
os mais importantes. A descoberta de outras inscrições de Ezana, de Caleb e de
376 África Antiga

um de seus filhos (Wazeba), em grego, geês e pseudo­‑sabeano, proporcionou


múltiplas informações, a que se juntaram os testemunhos recolhidos nos últimos
vinte anos, representados sobretudo pelas inscrições rupestres e pelos textos em
placas de xisto encontrados na Eritreia. Tais inscrições remontam ao século II
da Era Cristã; são os escritos mais antigos do período axumita.
A observação arqueológica e o produto das escavações constituem sem dúvida
a principal fonte documentária a respeito da civilização axumita. A partir do
século XIX, viajantes começam a registrar a existência de sítios, monumentos
e inscrições. Publicaram­‑se inúmeros estudos, alguns do maior interesse –
como, por exemplo, a obra fartamente documentada da missão alemã para
Axum (1906). Criado em 1952, o Instituto Etíope de Arqueologia deu início
a trabalhos sistemáticos. Diversos sítios foram objeto de pesquisas exaustivas,
caso de Axum, Melazo, Haúlti, Yeha e Matara. Ao mesmo tempo, o mapa de
povoamentos antigos cresceu consideravelmente. Sabe­‑se hoje da existência de
aproximadamente quarenta sítios importantes, número que por certo crescerá
com a realização de novas prospecções. Estas, no entanto, são ainda insuficientes,
donde a precariedade do nosso atual conhecimento. A datação da maioria dos
vestígios descobertos não é precisa, sendo as inscrições praticamente as únicas
evidências que nos permitem esboçar um quadro cronológico, mesmo assim nem
sempre definitivo. Os dados disponíveis não são suficientes sequer para se traçar
as linhas mais gerais da civilização axumita.

A área de Axum
Segundo as indicações arqueológicas, o reino axumita ocupava uma superfície
retangular de aproximadamente 300 km de comprimento e 160 km de largura,
entre 13° e 17° de latitude norte e 30° e 40° de longitude leste, estendendo­‑se da
região ao norte de Keren até Alaki, ao sul, e de Adulis, na costa, às cercanias de
Taqqase, a oeste. Situado a uns 30 km de Axum, Addi­‑Dahno é praticamente
o último sítio conhecido desse local.

Período proto­‑axumita
O nome de Axum surge pela primeira vez no guia naval e comercial Periplus
Maris Erythraei (Périplo do Mar da Eritreia), compilado no final do século I por um
negociante egípcio. Ptolomeu, o Geógrafo, no século II, também alude ao território.
A civilização de Axum do século I ao século VII 377

O Periplus fornece informações sobre Adulis, hoje coberta de areia, situada


a cerca de 50 km ao sul de Massaua. Descreve­‑a como “uma grande aldeia a
três dias de viagem de Koloé, cidade do interior e principal mercado de marfim.
Desse lugar à cidade do povo chamado axumita são mais cinco dias de viagem.
Para lá é levado todo o marfim da terra situada além do Nilo, através da região
denominada Cyenum, e daí para Adulis”. Era essa aldeia, portanto, a via de
escoamento de mercadorias para Axum, notadamente do marfim. O mesmo
texto informa que ali também se vendiam chifres de rinocerontes, carapaças
de tartaruga e obsidiana, artigos que figuram entre as exportações assinaladas
por Plínio, já antes do autor do Periplus, a propósito do comércio de Adulis.
Por conseguinte, a referência ao nome de Adulis é anterior à referência ao de
Axum. Segundo Plínio, Adulis localiza­‑se na terra dos trogloditas: “Maximum
hic emporium Troglodytarum, etiam Aethiopum ...”. Desde o século I, portanto,
romanos e gregos sabiam da existência dos axumitas e de suas “cidades” na
hinterlândia de Adulis.
Poucas são as informações fornecidas pela arqueologia acerca da cultura
material dos primeiros séculos do período. Algumas inscrições dos séculos II
e III constituem praticamente os únicos testemunhos datáveis, apresentando,
apesar de pouco numerosas e lacônicas, algumas notáveis particularidades. Nelas
estão registradas as primeiras formas do alfabeto etíope, cujo uso se mantém
ainda hoje. Essas inscrições não são certamente as mais antigas dentre as
encontradas na região axumita, pois que muitas outras, de tipo sul­‑arábico,
remontam à segunda metade do último milênio antes da Era Cristã. A escrita
sul­‑arábica serviu de modelo à etíope. No século II da Era Cristã, a grafia etíope
passou por notável evolução, separando­‑se da sul­‑arábica.
Além da escrita, tem­‑se como certa a existência de outros vestígios dos
primeiros séculos, como ruínas de edifícios, restos de cerâmica e de outros
objetos, mas o atual estágio das pesquisas ainda não permite identificá­‑los.
Vários monumentos do século III ou do início do IV, como as estelas de Matara
e de Anza, mostram que a civilização axumita não rompeu inteiramente com a
cultura do período pré­‑axumita. Neles se pode observar, gravado ou em relevo,
o símbolo lunar de um disco sobre um crescente, semelhante ao encontrado nos
incensórios do século V antes da Era Cristã, que figura também nas moedas.
Uma escrita parecida com a sul­‑arábica ainda pode ser vista nas grandes pedras
de Ezana e Caleb. Observam­‑se, entretanto, importantes transformações: a
religião se alterou, como mostram as inscrições; já não se invocam os antigos
deuses e, à exceção do símbolo lunar, todos os demais emblemas são abandonados
– bode, leão, esfinge, etc. Foi por essa época que principiou uma nova forma de
378 África Antiga

figura 14.1 Fotografia aérea de Axum. (Foto Instituto Etíope de Arqueologia.)

civilização, muito diferente da anterior, conhecida como pré­‑axumita. O mesmo


fenômeno ocorre no tocante a outros aspectos da vida cultural, como se pode
verificar nos sítios escavados.

Sítios axumitas
Assentados nas duas extremidades da rota antiga, segundo o Periplus, os sítios
de Adulis e Axum são os mais importantes e também os únicos cujo nome original,

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