O Riso

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O RISO

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Guilherme

d'Almeida

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O RISO
DISSERTAO INAUGURAL

PORTO
T Y P O G R A P H I A DO D I R I O DA T A R D E

56, T. da Fabrica, 5 6 1900

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ESCOLA MEDICO-CIRIGICI DO PORTO


DIRECTOR INTERINO

Antonio Joaquim de Moraes Caldas


LENTE-SECRETARIO INTERINO

C L E M E N T E

FIXvTTO

CORPO DOCENTE
PROFESSORES PROPRIETRIOS

1." CadeiraAnatomia descriptiva e geral 2." CadeiraPhysiologia . . 3." CadeiraHistoria natural dos medicamentos e materia medica a 4. CadeiraPathologia externa e therapeutica externa. 5." CadeiraMedicina operatria 6.* CadeiraPartos, doenas das mulheres de parto e dos recem-nascidos . . . 7." CadeiraPathologia interna e therapeutica interna. 8." CadeiraClinica medica . 9. CadeiraClinica cirrgica 10.a CadeiraAnatomia pathologica 11.a CadeiraMedicina legal, hygiene privada e publica e toxicologia . . . . 12.* CadeiraPathologia geral, semeiologia e historia medica Pharmacia

Joo Pereira Dias Lebre. Antonio Placido da Costa. Illydio Ayres Pereira do Valle. Antonio J. de Moraes Caldas. Vago. Cndido A. Corra de Pinho. Antonio d'Oliveira Monteiro. Antonio d'Azevedo Maia. Roberto B. do Rosrio Frias. Augusto H. d'Almeida Brando. Vago. Maximiano A. d'Oliveira Lemos. Nuno Dias Salgueiro. /-Pedro Augusto Dias. ) D r - J o s Carlos Lopes. J Jos d'Andrade Gramacho. VDr. Agostinho Antonio do Souto.

PROFESSORES JUBILADOS

Seco medica

PROFESSORES SUBSTITUTOS

r J o o L . da Silva Martins Junior. VAlberto Pereira Pinto d'Aguiar. Seco cirrgica / Clemente J. dos Santos P. Junior. 'VCarlos Augusto de Lima. Demonstrador de anatomia. . Luiz de Freitas Viegas.

Seco medica

A Escola no responde pelas doutrinas expendidas na discripo e enunciadas nas proposies. (Regulamento da Escola, de 23 d'Abril de 1840, art. 155.)

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Pouco direi. A minha these representa para elles a realisao d'uni sonho que ha sete annos, minha chegada do Zaire, entreviam vagamente. Quando penso que este curso foi feito custa de tanto trabalho, quando penso que cada hora do meu estudo representa da parte de meus pes um dia de fatigante e rduo labutar, a minha amizade no sente limites, como tambm limites nunca tiveram os seus sacrificios, a sua dedicao. A um pae como o meu no basta offereeer-lhe uma these, a uma me como a minha no se consagram palavras que por communs e proverbiaes seriam correntias. Offerece-selhes o nosso futuro, pede-se-lhes para que confiem no nosso brao.

Ao ILL. M O

Ex.MO SNR.

Antonio de Souza Carneiro Lara

Offerecer-lhe a minha these cumprir um dever. V. Ex., que de forma alguma quiz vr esta carreira cortada pelas difficuldades materiaes da minha subsistncia, e ser eternamente credor de toda a minha gratido. Na offerta d'est trabalho, mesquinho por no valioso, vae apenas a sinceridade com que confesso o meu reconhecimento.

%$& mm mwto toIUjas t arnicas

Q/licatac (p/oc Cfzave,

J/Camehoo, (oauataa

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Z//acadc, cfizminc e Gzuz, c/e <2>ouza Jrezeha,

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Jrezeiza

Recordao de dois annos de leal camaradagem e franca amizade.

Aos Ex, mos Snrs. Drs.

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oOMana lOa/umM Grattas ayamus.

Aos meus illustres professores

O discpulo

grato.

Na despedida, a

^-ix

Qyfaok state Q/aMev Urna saudade.

Heme

Q_ye/it. OSOe

ILLUSTRE DIRECO
DA

Sociedade de M e d i c i n a e C i r u r g i a
COMPOSTA DOS SNRS. DRS.

CyU/Kieicla. COtaado-, ^Jias d Cstmeida, CsCce-elto- d'CyoAiiaA.,

presidente. vice-presidente. 1. secretario.

Cy&VLU. de zDatrvnao-, 2. secretario.

Entre os que materialmente contriburam para a minha formatura, archivo o nome d'essa douta aggremiao, lamentando que o trabalho feito no correspondesse espeetativa dos que com tanta benevolncia me acolheram.

AO MEU DIGNSSIMO PRESIDENTE


O PROFESSOR

Qsweti Q/s/Ma oM'nJfi dQJlm <UMW

PRIMEIRA PARTE

O RISO NORMAL

CAPITULO I A N A T O M I A

No esto infelizmente de accordo todos os auctores sobre se o riso devido aco de um nico musculo, o grande zygomatico, ou se em torno d'est se agrupam outros elementos synergicos. Assim, ao passa que Charles Debierre (*) affirma que o grande zygomatico o musculo do riso e tem uma aco anloga do pequeno zygomatico, ao passo que Cruveilhier (2) nos diz ainda que em favor do primeiro vem a aco do canino, e que Sappey (3) nos falia do risorius como tendo idntica funco, e ainda de outros msculos da mesma regio que tomam parte na expresso dos sentimentos que provocam o riso, Beaunis e Bouchard (4) declaram-nos muito terminantemente que o grande zygomatico o musculo do riso e que o zygomatico minor seu antagonista, e Duchenne (de Boulogne) (5), oppondo-se a todos e a tudo,
(1) Charles Debierre Trait lmentaire d'anatomie de l'homme, pag. 306. (2) Cruveilhier Anatomie descriptive, pag. 133. (3) Sappey Anatomie descriptive, pag. 134. (4) Beaunis e Bouchard Anatomie descriptive, pag, 261. (5) Duchenne (de Boulogne) Mcanisme de la physionomie humaine.

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tenta provar no seu livro sobre o Mechanismo da physionomia humana que o grande zygomatico o nico musculo que exprime completamente a alegria em todos os graus e em todos os matizes, desde o simples sorriso at gargalhada louca. D'est embate de opinies qual a seguir? Quaes os msculos a mencionar n'este capitulo? Vejamos se a embryologia gniando-nos na controvrsia nos leva a uma soluo, difficil sempre, quando n'ella entram nomes to altamente cotados no campo scientifico que no nos compete criticar. Gegenbaur tratando da embryologia dos msculos faciaes, seguindo as theorias de Bellingeri, celebre anatomista italiano, defende a doutrina da continuidade fibrillar, e faz que cada um dos msculos da face derive primitivamente do plastyma myoides, dizendo que o cuticular se estende progressivamente para a parte lateral da cabea e se desdobra ao nivel da orelha em duas fachas, uma posterior que forma a camada occipital revestindo a nuca, e a outra anterior ou facial que depois irradia por vrios feixes para os rgos dos sentidos visinhos, sobretudo para a bocca e annexos externos do apparelho visual, aos quaes deve adaptar-se. desde esse momento que as fibras se espalham em leque, dividindo-se no homem em msculos cada vez mais numerosos e tambm mais independentes. O nervo facial acompanha esta evoluo emittindo os seus filetes e ramos motores ; um para traz, o auriculo occipital para o cuticular da nuca, e dois para deante, o temporal que acompanha o cuticular da face na sua extenso para o craneo e o facial que se arborisa formando um plexo. A prova evidente d'esta evoluo dos zygomatic s est na anatomia comparada e na embryologia: a l. a mostrando o crescimento e individualisao progressiva dos cuticulares ; a 2.a indicando as formas iniciaes, a gnese da musculatura da cabea, variedades, anomalias e anastomoses dos mesmos msculos.

23 Gomo se isto no bastasse, os trabalhos feitos por Ruge (x) e Poposwky (2) confirmaram plenamente a opinio fundamental de Gegenbaur, Na verdade como se pde admittir que todos esses msculos movidos por tantos feixes tenham um papel to distincto? Como possvel que um nico d'elles possa exprimir todas as variantes de uma emoo? Como que se pretende dar ao grande zygomatic o monoplio do riso, desprezando a solidariedade physiologica dos seus synergicos? Afigura-se-nos que exaggero e muito houve da parte do physiologista Duchenne imputando aco nica do seu musculo favorito o riso j falso, j verdadeiro, j irnico, j zombador, o riso voluptuoso, lascivo, surprezo, benevolente e espontneo. Que elle entre em todos como elemento primordial, no o contestamos, e isso prova-o a autopsia dos cmicos Preville e Dazincourt, que tinham os zygomaticos o primeiro duplos e o segundo triplos; agora que pelos diversos graus da sua contractura, possa exprimir todas as immensas modificaes que no riso apresenta a physionomia humana, isso que, a despeito do pouco pezo da nossa opinio, reputamos como menos verdadeiro, e Duchenne afinal tambm assim o reconheceu, como facilmente se deduz das contradices do seu livro que em seguida vamos expor. Duchenne, a pag. 61 do seu livro, diz-nos: O grande zygoma tico o nico musculo que exprime, completamente a alegria em todos os seus graus, em todas as suas phases, desde o simples sorriso at ao rir mais franco. Elle no d nenhuma outra expresso . Mas logo em seguida accrescenta : O melhor

(1) Ruge Recherches sur le systme facial des primates. (2) Popowsky Resume d'anatomie compare des muscles de la face chez l'homme et les animaux.

H nome que se pde tirar da sua aco expressiva , portanto, o de musculo d'alegria ainda que elle o no justifique por completo quando posto parcialmente em aco . A principio a formula perfeitamente exclusiva, perfeitamente formal; logo em seguida, o auctor como que reconhecendo o absolutismo da sua lei, j nos vae explicando que a contractus parcial do grande zygomatico no produzindo por completo a alegria, no justifica o nome do musculo. Mas ha mais ainda. Vimos que Duchenno, a pag. 61, diz que o grande zygomatico o nico musculo que exprime completamente a alegria; pois o mesmo auctor, a pag. 27, diz-nos que a alegria devida synergia do grande zygomatico e do orbicular inferior. O mesmo auctor, a pag. 19, confessa ainda, faltando d'uma das suas experincias sobre o supraciliar, que era forado a acreditar que a modificao physionomica que observara parecia ser produzida pela V-on traco synergica de um maior ou menor numero de msculos, ainda que o experimentador,no tivesse excitado seno um nico. E mais adeante contradiz-se ainda, embora no se referindo aos msculos do riso, quando, procurando demonstrar a unidade physiologica muscular para exprimir uma emoo, pede ao cuticular a sua cooperao em certos estados d'alma tes como o terror, a clera, a tortura, etc. Finalmente, quando todos esperavam encontrar no seu quadro synoptico de pag. W, como nico musculo da expresso da alegria, o grande zygomatico, Duchenne, esquecendo tudo que escrevera algumas paginas antes, no tem duvida em pr em soccorro do seu musculo favorito o orbicular palpebral superior, reservando ao primeiro uma funeo bem pouco sympathica, a de exprimir o sorriso mentiroso. Se a alegria portanto a expresso completa do sorriso mentiroso, como nos licito concluir, desde

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j a maldizemos, acreditando tambm que Duchenne ao chegar a esta concluso a desprezaria. Fazer do riso mentiroso a especificidade da alegria, grande erro se nos afigura ; demais que Baudelaire j affirmava ser necessrio distinguir a alegria do riso. Ri-se na clera, no egosmo, no terror e no desespero. Nos grandes sinistros martimos, os mergulhadores que, profundando as aguas, vo verificar os prejuzos e os damnos dos transatlnticos submersos, contam nos seus relatrios terem deparado com passageiros, que a rigidez cadavrica foi immobilisar photographando-lhes no rosto a expresso d'uma risada, d'uma gargalhada de desprezo. Recorda-nos ter lido isto ao dar-se em Lisboa o naufrgio do vapor francez Ville de Victoria. E no era decerto a alegria que actuava n'esses seres que, em pleno Tejo, na quietao e serenidade d'uma manh de primavera, se sentiam descer ao tumulo. Se o riso fosse uma consequncia necessria da alegria, esta seria a nica causa do riso, o que absolutamente falso. Quantas alegrias temos que terminam por lagrimas e no por gargalhadas. A me que tem um filho longe da ptria, e que, ao cabo de longo perodo de annos, espera a sua chegada, ao pr os ps sobre o tombadilho do vapor que lhe conduz o ente querido, no ri, succumbe e chora. E no obstante, ningum negar a alegria que lhe vae no peito, ningum negar a alegria que ella sente ao abraar de novo o filho que acalentou no bero. Deixando de parte, porm, maior somma de exemplos, que s viriam provar mais uma vez a concluso falsa de Duchenne, vejamos se, pondo terminus n'este capitulo, podemos conseguir um quadro, no qual se conheam os msculos que temos a descrever; e, repetimos, msculos porquanto a hypothse de um nico est inteiramente de parte, no s d'agora mas de ha muito, visto que j Cruveilhier affirmava que as paixes alegres exprimem-se pela extinco dos traos physionomicos, isto

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, pelo seu afastamento da linha mdia; assim, os msculos: frontal, o levantador da plpebra e o grande zygomatico so os agentes principaes da expresso das paixes alegres (l ). O quadro seguinte, devido a J. M. Raulin (2), da faculdade de medicina de Paris, ao mesmo tempo que mostra as expresses associadas, indica tambm os msculos a que so devidas.
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(1) Cruveilhier Anatomie descriptive, pag. 138. (2) J. M Raulin Le rire, pag. 54.

'27 Yse portanto que apesar do papel importan tssimo do grande zygomatics, muitos outros ms culos o ajudam nas diffrentes modalidades de riso, fazendo que o primeiro perca grande parte do po derio e da gloria que lhe tinham tributado alguns andores antigos. Conviria agora descrever esses msculos ; no o fazemos, j porque nos falta o espao, j porque os consideramos bem conhecidos desde os nossos pri meiros annos da E scola, da cadeira de anatomia que frequentamos. * * * Concluindo : A expresso physionomica do riso no devida unicamente ao musculo grande zygomatieo.

CAPITULO II

PHYSIOLOGI
O ataque de riso
Podemos considerar no accesso de riso typico trs perodos: o prodromico a aura com os seus phenomenos de tenso; o perodo de estado onde se do os phenomenos respiratrios e phoneticos, e o perodo de resoluo mais ou menos caracterisado por um cansao, por um exgotamento que termina, muitas vezes, pelo choro. Perodo prodromico A aura uma espcie de advertncia rpida e sbita que precede a vontade de rir. Pde estar debaixo da dependncia dos nervos sensitivos, vasomotores e motores. A aura sensitiva depende do estado moral do individuo, do seu temperamento, edade, etc. Caractrisai um arrepio que passa na commissura dos lbios ou das plpebras, um pequeno trillo precursor do riso. Esse arrepio tem sede varivel: assim, umas vezes traduz-se por uma sensao de formigueiro, outras por uma espcie de attricto na cavidade epigastrica ou na regio precordial. A aura sensorial tem variadas formas de se ma-

30 nifestar. Ao passo que certas pessoas teem sensaes luminosas extravagantes, outras notam zumbidos nas orelhas, e, outras ainda, sentem despertar a aura por um simples perfume, pelo tenue cheiro de uma flor. As auras vaso-motoras manifestamse por uma sen sao de calor ou frio, acompanhada de ligeira ver tigem. aura motora consiste ou n'um tremulo muscular d'uma regio muito circumscripta, a plpebra infe rior, ou no balano do corpo, das espduas, etc. A aura geralmente instantnea e o riso explo sivo, subito. Comtudo a aura attinge uma nitidez tanto maior quanto o individuo mais resistir exci tao e quanto mais lento e gradual fr o seu perodo de invaso. Perodo (Testado A primeira manifestao visivel do riso consiste quasi sempre n'um sorriso, n'uma contraco ligeira do grande zygomatico; depois, o espasmo dos ou tros msculos da face accentuase e o phenomeno, tendo invadido a glotte interligamentosa, breve obriga a glotte intercartilaginea a que intervenha, por seu turno, dilatandose, para deixar passar o ar que ex pulso pelas contraces do diaphragma. Quando este ultimo musculo entra em actividade evidente que a excitao partida do ncleo facial passou pelo pneumogastrico, espinal e chegou aos n cleos do phrenico. Dse ento o que entre ns conhecido pela seguinte phrase: rir a bandeiras des pregadas. Por im toda a columna medullar parti cipa da excitao. O individuo agitase, contorcese, requebrase, faz presso com as mos sobre o abdo men, d saltos, emitte sons inarticulados, corre em varias direces, encostase s paredes, d palmas, bate com os ps, tregeita, ora fecha os olhos ora os abre, fazendo passar todos os seus movimentos por uma graduao ininterrupta, por uma escala ascen

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dente que principiando no simples sorriso vae terminar n'uma serie de gargalhadas francas. Durante este perodo a respirao perturba-se, o craneo e a face engorgitam-se de sangue, as veias distend em-se, os msculos perioculares contrahem-se, os olhos brilham intensamente. Seria certamente curioso seguir todas as transies que ligeiramente esboamos acima, fazendo-nos vr, mais nitidamente e com maior delonga, cada uma das phases porque o individuo vae passando, e hoje, graas ao poderoso auxilio do cinematographo, torna-se essa observao de uma tal ou qual facilidade. Entre ns, porm, com esta atonia que restringe toda a iniciativa, com esta m vontade que s serve a collocar peias e obstculos a qualquer tentativa que no obedea, cegamente, velha linha de proceder que a rotina sanccionou, nada se tem feito n'este sentido. n'este perodo que se do os phenomenos respiratrios e phoneticos de que adeante nos occuparemos. ! Perodo de resoluo Aps um accesso de riso intenso, e a contraco rapid'a, violenta e espasmdica de grande parte "da massa muscular, o rosto molha-se de lagrimas, os msculos dos olhos e do lbio superior ficam ainda algum tempo contrahidos, e as faces cobertas de pranto, dando estas duas circumstancias parte superior da face uma expresso que impossvel distinguir da que caractrisa a figura d'uma creana soluante. Alm d'isso, a dyspneia, a fraqueza, a fadiga, o cansao, succedem sempre ao accesso e, por vezes ainda, fortes dores de cabea seguidas de pontadas, vertigens, sede, arrepios, nauseas, angustia ficam durante largas horas depois de findo o perodo de estado. Como se v, portanto, no so muito agradveis

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as consequncias d'um accesso de riso; e se certo que muitas vezes se ri e no riso ha choro, ainda n'este ponto as lagrimas como demonstrao do riso no so ambicionadas, pois ellas marcam um intenso estado depressivo e adynamico. O accesso de riso como que uma diffuso do systema nervoso, o que no quer dizer que o riso seja manifestao constante da alegria, pois o prazer pde existir sem manifestao exterior. O procedimento de Archimedes que corre louco de alegria atravez as ruas de Syracusa gritando: eureka; de Davy que comeou saltando e rindo de prazer no seu laboratrio ao descobrir o potssio, como se explica seno por um grau de excitao intenso, uma espcie de predisposio, que, em virtude d'um facto externo Ou interno, um estimulo que seria aqui uma causa determinante, se diffunde por todo o organismo provocando gestos variados, saltos, corridas, series de gargalhadas? O riso pois aqui a estereotypia do prazer. E a despeito do que dissemos, do riso ser por vezes a mascara das lagrimas, do riso ser por vezes a expresso do terror que no da alegria, do pezar que no do contentamento, bom emquanto a vida nos vae correndo por entre idealisaes e risos.

Phenomenos respiratrios
Estudaremos agora os phenomenos respiratrios do riso. J foi grande o papel que a theoria do riso diaphragmatico desempenhou na physiologia. O velho Plnio (l) ao passo que attribuia ao diaphragma a subtilidade do entendimento, dizendo que era essa a razo porque tal musculo quasi no tinha carne, sendo exclusivamente nervoso e flexvel, reser(1) Plinio Historia natural, liv. xi, pag. 149.

33 vava-lhe uma outra funco importante, a, de sde da alegria, argumentando, em pr da sua ideia, com descripes de batalhas e combates de gladiadores em que estes, apenas tivessem o diaphragma ferido, cahiam pela arena, exaustos, moribundos, rindo. Segundo o mesmo auctor, no fgado est o amor, no fel a clera, e o homem ao qual se tira o bao perde a faculdade de rir, dependendo o temperamento hilariante da atrophia ou hypertrophia d'est rgo. No nos agrada isto. O riso est no bao ou no diaphragma?... Tasso, ao escrever o seu poema Jerusalm libertada, faz morrer um dos seus mais valorosos e astutos cavalleiros de guerra ferido pela mo do feroz e indomvel Altamore, o qual, depois tambm, cahe em pleno campo e prestes a morrer, sorri ainda. O auctor seguindo as theorias de Plinio, accrescenta que o ferro da lana atravessara o diaphragma do seu heroe. Poetas d'hoje, bastante versados no sentimentalismo e na arte de emocionar pela escripta, mas pouco conhecedores de theorias physiologicas, fazem cahir feridos de morte os seus heroes, no nas arenas da velha Roma, nem nos campos de Jerusalem, mas defronte de balces romnticos em que pallidas Ophelias, perjuras a promettimentos feitos por calmas noites de luar, trocam da gratido e fidelidade dos troveiros que morrem no se sabe de qu, cantando e sorrindo sempre. Mas no so s os poetas. H. Milne Edwards (*) faz consistir a physiologia do riso, quasi exclusivamente, nas contraces convulsivas do diaphragma. Gustave le Bon (2) diz que o riso e o soluo so contraces espasmdicas e violentas do diaphragma.
(1) H. Milne EdwardsLeons sur la physiologie et l'anatomie compare de l'homme et des animaux, pag. 493. (2) Gustave le Bon Le rire Physiologie humaine applique^ l'hygine et a la mdecine, pag. 327. 5

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. Bedard (*) mostra-se indiffrente; mas, pelo contrario, relatrios de medicos da Inquisio, archivados na* Torre do Tombo, dizem que no supplicio do empalanento quando a haste profundamente enterrada fura, com a ponta aguda e penetrante, o diaphragma dos condemnados, estes teem verdadeiras crises de riso sardnico. Nem ao menos n'esta affirmativa a Inquisio nos diz a verdade. No vence porm este movimento.. Roy, apenassaindo da Escola de Paris, na these que defende e que intitula Dissertation mdicale sur le rire (2), abre profunda brecha na tlieoria do riso diaphragmatico. Beaunis (), Landois (*) e outros, j-no se referem ao outr'ora to apregoado papel d'aquelle musculo, e Dechambre (5), n'um esplendido artigo do seu diccionario, acaba por fazer desmoronar a poeirenta e velha theoria. Pois, mechanicamente, em que consiste o riso seno n'uma serie de expiraes successivas, cortadas de quando em quando por uma inspirao? O que mostra o seu graphico? E que o diaphragma seno um musculo essencialmente inspirador? Tillaux (6) assim o affirma quando diz : O diaphragma, musculo essencialmente inspirador, augmenta pela sua contraco os dimetros do thorax. Como conciliar ento as duas ideias-, uma serie de expiraes realisadas por um musculo inspirador. Sendo o effeito da contraco muscular do dia(1) J . Bedard Trait lmentaire de la physiologie humaine, pag. 355. ' (2) Roy Dissertation mdicale sur le rire, pag. 579-5HU. (3) H. Beaunis Nouveaux elements de la physiologie, pag. 229. . . . . ,a (4) L. Landois Trait de laphysiologie humaine, pag. 21b. (5) C. DeehambreDictionnaire encyclopdique des sciences mdicales, art. Rire, pag. 61. (6) P. Tillaux Anatomie topographique, pag. b2U.

35 phragma augmentai' a cavidade thoracica, principalmente segundo o seu dimetro vertical, com projeco das vsceras para a parede anterior, isto , realisando apenas actos inspiratorios, no se comprehendc que esse musculo, entrando em convulso espasmdica, possa produzir o riso. Mesmo que se dissesse que o riso era produzido por uma convulso do diaphragma, fcil era provar o. contrario, visto que uma convulso no mais do que uma contraco anormal, e uma serie de contraces bruscas do diaphragma no pde trazer seno uma serie de inspiraes, tendo ns ento o soluo em vez do riso. Querer isto dizer que o diaphragma totalmente posto de parte ao produzir-se o riso? No. Quando G riso moderado, 'as expiraes so mais fracas, havendo alguns ligeiros movimentos inspiratorios. Intervm ento o diaphragma. Mas quando o riso se torna violento, as expiraes so curtas, bruscas, saccades, succedem-se sem interrupo durante um certo tempo, at que se sente uma necessidade imperiosa de inspirar, acontece porm algumas vezes que a inspirao assim tornada necessria no se faz no momento preciso, e ento o riso torna-se doloroso, sente-se na base do peito e na regio lombar uma tenso insupportavel, a face azula-se ou avermellia-se, as veias do pescoo tumefazem-se, podem sobrevir movimentos convulsivos, a temperatura elevase, em resumo, ha uma enorme tendncia para a asphyxia. Sobrevindo a morte no adulto, quando este esteja privado de ar durante um intervallo de tempo varivel entre 3 minutos e 50 segundos e 4 minutos e 10 segundos (1), comprehende-se bem quo vrios e desagradveis podem ser os resultados d'uma crise de riso que se prolongue alm dos limites marcados.
(1) Ch. Vibert Prcis de mdecine legale, pag. 12G.

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Corre na tradio popular a historia d'uma certa Maria Rita que morreu a rir. primeira vista pare ceria inverosmil a verso; raciocinando porm um pouco, ella tem at certo ponto visos de reali dade. Os antigos ( dizemnos que Chrysipo, Sennis e {) Philenon morreram de riso. Stanley Hall (2) coutanos que um guarda de matto ao deparar com a mulher e os filhos mortos pelos n dios, riu to convulsamente que morreu d'uma ru ptura vascular. Perguntandose aos defensores da theoria do riso diaphragmatico qual o elo que unia os msculos da face ao diaphragma, allegavam que esse laovinha da anastomose cio nervo facial e do phrenico, por meio do plexo cervical. Vejamos onde nos leva esta hypothse* Se o nervo phrenico capaz de actuar por intermdio do plexo cervical sobre os msculos animados pelo facial, de maneira a trazer convulses de riso, quando estas se produzam, com mais razo, todos os msculos cujos nervos tenham anastomoses directas com o phrenico eontrahirseho tambm immediamente, sendo por tanto msculos expressivos do riso. E sto n'este caso a lingua, .o trapzio e o esternomastoideo. Terminando porm com esta j longa discusso sobre a theoria do riso diaphragmatico, e pondo de parte, por menos exacta, a opinio dos que affirmam que o riso formado por uma serie successiva de pequenas expiraes e inspiraes, o que lembra a respirao d'um tysico ou d'alguma pessoa que sobe uma escada, restanos deduzir 'algumas concluses, o que faremos no fim d'est capitulo.

pag. 344 e 500.

(1) P. Raphael Bluteau Vocabulrio portuguez e latino (2) Stanley HallAmerican journal of psych, vol. vni.

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Phenomenos phoneticos
Na creana notaram diversos physiologistas e entre elles Gratiolet (*), que o riso principiava pela emisso das vogaes i ou e a despeito das opinies d'alguns escriptores antigos que pretendiam que de todos os animaes s os homens riam por possurem o couro mais tino e como tal mais sensvel (2), Darwin affirma que viu no Jardim Zoolgico de Paris uma espcie de cebus (C. hypolencus) emittir uma nota aguda e repetida (i), retrahindo as commissuras, o que, segundo o mesmo auctor, era um verdadeiro riso (3). Mas no s este naturalista que affirma tal facto; Rengger estuda no Paraguay o Cebus azarae e conclue que o riso d:esta espcie se traduz por um ruido particular que coincide com a retraco das commissuras. Duchenne conta que tendo domesticado um macaco e conservando-o durante bastante tempo em casa, quando lhe dava alguma guloseima, via os cantos da bocca levantarem-se ligeiramente, distinguindo-se ento na face do animal uma expresso de satisfao semelhante a um esboo de sorriso e lembrando aquelle que se observa no rosto humano. Parece pois bastante ousada a affirmao de Bluteau e que vimos seguida por outros auctores coevos. No homem o riso modula-se em timbres diversos e rythmos variados das vogaes o e a. Seria por certo curioso discernir, segundo a theoria de Breal que diz que bastou primitivamente uma simples vogal para exprimir uma ideia verbal (4),

(1) Gratiolet De la physionomie, pag. 115. (2) Raphael Bluteau Liv. j cit. (3) Charles Darwin L'expression des emotions chez l'homme et les animaux, pag. 144. (4) BrealGrammaire compare des langues indo-europennes, tomo i, pag. 223.

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qual era a que, n'esse tempo, servia a significar o riso. Esse estudo porm,' ainda embryonario, pouco os diz. Querem alguns que essa vogal fosse o i, baseando-se em que a bocca no momento da sua emisso tem um aspecto caracterstico, pois toma a expresso do sorriso ou do riso, e ainda porque entre os derivados da raiz sanscrita i, indicando energia e movimento, so os radicaes sim e pri que significam o riso e a alegria. Seja como fr, o facto que a lettra i entra em grande numero de lnguas na palavra riso. Assim alm da lingua portugueza, temos: em frahcez, rire; inglez, smile; Mandez, smigeath; russo; smieitsa; slavo, smi; latim, ridere; etc.

lOKl ( i l l

A primeira vibrao do riso faz-se na laryng o que demonstrado pelos graphicos. Mais tarde as curvas labiaes e laryngeas ou se desenham parallelamente, se o riso continuo, ou alternadamente, se o riso vibra ora na laryng ora nos lbios e n'esse caso as oscillaes compensam-se e inscrevem-se, alternadamente tambm, nas curvas labial e laryngea. O facto da primeira vibrao do riso se produzir na laryng devido a que os msculos vocaes so incomparavelmente mais moveis e impressionveis do que os msculos faciaes e, por essa razo, o menor deslocamento de energia nervosa, desenha-se nos primeiros muito antes do que nos segundos. Durante o riso o laryngoscopies diz-nos que as cartilagens ary-arytenoideas lateraes e crico-arytenoideas approximam as cordas vocaes, que a sua fenda fusiforme durante a emisso do riso agudo, e ainda que a vibrao se faz, sobretudo, na parte anterior. A epiglotte que, por vezes tambm, principalmente nas gargalhadas intensas, est completamente

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levantada, facilita a passagem dos alimentos e das bebidas para a traclia.
* *

Concluindo: A aura o inicio do ataque do riso. A theoria do riso diaphragmatico deve ser posta de parte por menos verdadeira. O riso no privativo da espcie humana. A primeira vibrao do riso faz-se na laryng. O riso consiste n'uma serie de expiraes successivas, cortadas de quando em quando por uma inspirao. Os seus agentes musculares so alm dos msculos da face j mencionados, essencialmente os expiradores.

CAPITULO III

O P R I M E I R O SORRISO
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(EVOLUO)

O riso na creana
Poucos phenomenos se do rias creanas de que as mes sejam melhores observadoras do que da appario do primeiro sorriso. Esperam-no anciosas, provocam-no, fazendo ccegas nos pequenitos, rindoIhes por seu turno como que utilisando inconscientemente o contagio, mostrando-lhes brinquedos de cores vivas, levando-os a olhar scenas movimentadas. Um comboio que passa, uma nora cujos alcatruzes fazem escachoar a agua, um bando de pombas que, em revoadas francas, recortam o espao, tudo lhes serve de pretexto para que a creana esboce essa modificao physionomica que ellas tanto desejam, tanto anceiam o primeiro sorriso. E assim que elle appareee, que triumpho! Que felicidade e que prazer indizvel ao verem as creanas deitadas no bero, sorrindo com os bracitos rseos sahindo para fora das rendas caras, as madeixas louras a ondearem sobre a alvura dos linhos perfumados de rosmaninho e alfazema. O sorriso de uma creana como que um alvorecer de esperanas em leitos de illuses; como que um desabrochar de rosas por manhs purpurinas de abril. E as mes que vem n'esse sorriso o
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esboo de um futur longnquo entrecortado de en cantos, que fazem d'elle a synthse d'algiins dias de amor, cheios de ventura, eme o sonham como uma aureola de luz meiga a amenisarllte tristuras, a aca lentarlhe magoas, aguardamno anciosas,estudando atteotamente a creancifa que acalentam nos braos, procurando interpretar n seu primeiro sorriso ou dias cheios de carinho ou repletos de desilluses. Joo de Deus (*)' Q poeta do riso e das flores, esse homem que tinha nas suas poesias os effluvios subtis e penetrantes dos calices das magnolias, esse cantor em cuja Jyra vibravam as gargalhadas argen tinas das creanas, j escrevia: muret uoail >up f i N
Que riso affavel queile riso. Que paraizo . Aquella boca ; , Penetra, toca, Encho de inveja' Um ar que seja Da sua graa, j CQjj'fi j


Onde ella passa, Onde ella chega, Quem lhe no prega Olhos avaros?,!;:'; Ha dotes raros, Rara doura N'aquella pura, Casta existncia.

.irnoa yiij .

itfb&i' ha M BI

quantas lagrimas esse paraizo por vezes no encerra, quantas tardes plmbeas em vez de auro ras doiradas, quantas manhs de desalento em vez de amorosos alvores.

Inquritos feitos sobre a idade do primeiro sor

ti) Campo de FloresEnlevo, 1896, pag. 24.

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riso no so de hoje* Plnio, DO livro n, tomo I, da .sua Historia Natural j nos diz: Has (lacrymas)proitintis vitae , principio ; at hercules risus, praecox et celerrimus ante quadragesimum diem nulli datar . O mesmo auctor porm cita, como extraordinrio, que Zoroastro; foi o nico que riu no momento em que nascia. Prognosticaram at esse riso como presagio de um grande saber, e, na verdade, o seu, poder como inventor das artes magicas teve uma enorme esphera onde se exerceu; de nada lhe valeu porm porque sendo Zoroastro, rei dos bactrianos, Nino, rei dos assyrios, moveulhe tal guerra que o destruiu por completo. De pouco lhe serviu o riso e o prognostico. Darwin que se dedicou muito tenazmente a estas observaes e submetteu seus filhos a um estudo attento e continuo, conta^nos que um d^elles achan dose n'iima feliz disposio de espirito sorriu na idade de quarenta e cinco dias, retrahindoselhe as commissuras e tornandoselhe os olhos mais brilhan tes. Durante os quinze dias que se seguiram os olhos da creana brilhavam d'uma maneira notvel de cada vez que sorria. N'uma segunda creana observei pela primeira vez um verdadeiro sorriso aos quarenta e cinco dias e n'uma terceira um pouco mais cedo. Aos sessenta e cinco dias o sorriso da segunda creana era perfeitamente ntido . Tiedman diznos que seu'filho, qne, em geral, se mostra em tudo d'uma rara precocidade, sorriu cinco dias depois de nascido sem inteno nem sentimento de prazer, meramente por acaso. Perez assegura que muitas creanas sorriem antes dos trinta dias. Segundo Prever o sorriso e o brilho dos olhos aos vinte e quatro dias indicam a alegria ; aos sessenta dias uma creana j gosta d'ouvir cantar. Bornardino Machado (% um erudito que tem pas

(1) Bernardino Machado A educao^-Notas de umpae, 1899, pag. 53.

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sado toda a sua existncia em delicados estudos, dz nos no ultimo livro que publicou: J na primeira semana, o contentamento das creanas visvel ao despiremnas, por se livrarem do vesturio que lhes embaraa, os movimentos. No bero, logo que podem, deitam os bracinhos de fora e pernas e braos so uma dobadoira: no ha roupa que pare em cima d'ellas. Desde o quarto mez apprehen dem com gudio qualquer objecto, e como ainda no teem fora nas mos, mettem quanto apanham na bocca e mastigamno.'aa a BVI vlas no banho, onde j aguentam com o seu peso, bracejar, pernear, rebolarse. E a sua satisfao no provm tanto da tepidez da agua como da faci lidade dos seus movimentos. Mal comeam a andar, correm, voam; at, por isso^a certos apparelhos que lhes facilitam os primeiros passos, se d o nome de voadores. E dentro em pouco pulam, saltam, trepam, no quedam um instante. Bolem em tudo; e, como os animaesinhos, de tudo fazem gatosapato. E o que so de palradoras! Deitam a correp para ns para nos contar o que viram ou pensam, Gesti culam com todo o corpo ! So notveis os seus dotes theatraes: a volubilidade da physionomia, as modu laes da voz e a abundncia e graa dogesto fazem d'ellas uns actores deliciosos. Observaes a que pessoalmente procedemos di zemnos que as creanas comeam a esboar um sor riso entre um e dois mezes, havendo algumas que riem j, antes de terminados os primeiros trinta dias. O desenvolvimento do riso na creana tem.como que alguma analogia com o que se passa nos movi mentos habituaes do corpo, por exemplo, a. marcha. Os msculos cuticulares seguem uma evoluo parallela dos centros psychicos, e a sua individua iisao como as suas mltiplas associaes so regu ladas pelo desenvolvimento cerebral. Por vezes tornase fcil confundir o sorriso de uma creana com certos movimentos de contraco

45 espasmdicas' e que so produzidos pela dr. Essa confuso porm s pde sei1 feita por extranhos. As mulheres, com: a hyperpercepo que lhes advm da maternidade, como que adivinham o sorriso nas creanas,-no:SO: deixando illudir jamais. Certa vez seguindo sfifeataimenta a evoluo das modificaes pliysionomicas ifi'iima creana, disse-me a mae que ella j:tinha sorrido. Admirei-me e duvidei, attenta a sua pequena idadedezeseis dias apenas. O facto porm coiiirmou-sc dentro de algumas horas, de observao. A crean.a sorria sempre que lhe faziam ccegas nas faces. As creanas a principio sorriem ignorando que-o seu sorriso exprima qualquer cousa; riem de nada, muitas vezes correspondem pelo seu sorriso ao riso da me. (J!Baudelaire (l) dizia: Le rire des enfants, c'est lasjme de recevoir, la joie, de respirer, ia joie.de s'ouvrir), l,jmB de contempler, de vivre, de grandir: c'est une joie de plante. Mais tarde, porm, a essa nota alegre da linguagem natural junla-se uma inteno, iornando-se um ensaio de linguagem artificial que;tem por principio a correspondncia de certos movimentos orgnicos com as sensaes e sentimentos experimentados. O riso expontneo, torna-se consciente; o riso meclianico, torna-se voluntrio; sendo primeiro produzido pelo instincto mais tarde aperfeioado pelo prazer e pela utilidade. Uma modificao extraordinria se passa no caracter da creana durante a dentio; ha uma ausncia completa de riso e de sorriso, uma tristeza continua lhe ensombra!a physionomia, diferentemente do que se absorva-no principio das doenas graves, sobretudo no periodo prodromico da meningite em que-a creana parece sorrir quando dorme (-').
(1) Baudelaire Curiosits esthtiques Le rire, cap. vi. (2) Lanclouzy ehama aspasmieo a este sorrisoConvulsions et paralysies lies aux meningo-eneepkalites, pag. 190 e 165,
obs. LXVII e LXVIII.

it) E por vezes bastante longo este perodo de melancholia. Os vinte dentes temporrios, mais geralmente chamados dentes do leite, sabem por grupos e seno n'uma ordem que se possa reduzir a uma lei, no emtanto observada com bastante frequncia. O primeiro grupo eomprebende os dois incisivos mdios inferiores; o segundo os incisivos superiores, os mdios primeiro e os lateraes em seguida, de maneira que quando a creana tem seis dentes tem quatro em cima e dois em baixo; o terceiro grupo eomprebende os dois incisivos lateraes inferiores e os quatro primeiros molares; o quarto, os caninos, e o quinto, finalmente, os quatro ltimos molares. Por vezes, embora raras, o apparecimentodos incisivos mdios inferiores antecipa-se ao dos incisivos mdios superiores; os pequenos molares vem antes dos incisivos superiores ou.dos incisivos lateraes inferiores. Embora a experincia tenha demonstrado que se torna impossvel fixar a poca da dentio, parece ter-se concludo que esta mais precoce nas raparigas do que nos rapazes ; os seus limites porm so variabilissimos, e assim que se ha certas creanas que nascem j com os dentes em geral os incisivos mdiosoutras se vem BOS quaes o primeiro dente se mostra s aos dezoito: mezes e ainda mais tarde. A poca da appario do primeiro dente parece comtudo que se pde fixar, pois as mes espiam-na com uma particular solicitude e sentem verdadeira alegria ao vl-o nascer. Essa poca oscilla entre os seis e nove mezes. Por vezes no s a mudana de caracter traduzindo-se por tristeza e prantos contnuos, a desappario do riso, que se observa nas creanas. Ha um estado febril manifesto; agitao, insomnia, um quado de symptomas que em regra desapparecem com a appario do dente (1). No rachitico todos estes phe(1) A. Trousseau Clinique Medicai de l'Hotel Dieu de Paris, vol. in, pag. 163.

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nomenos se accentuam. A creana que at ento se alegrava com as caricias que Hie dispensavam parece recealas; quando nos approximamos do leito onde repousa, o seu rosto exprime a anciedade e o temor. Emita*, a despeito de tudo, os; dentes necessrios a realarem o riso installamse um a um, fazendo re brilhar o seu plano de esmalte por baixo dos lbios que a hematose ruborisa, atravez da sua fina trama epithelial.

O riso no adulto
UltOS! 80

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No adulto o riso provocado por causas muito diffrentes d'aquellas que bastam a produzilo na creanca, e sobre esse assumpto bastante se tem es cripto, chegandose concluso de que, no mundo externo, o ridculo e o risvel so as causas mais fre quentes do riso. Como discernir porm o que seja o ridiculo do que seja o risvel ? Comea abi a grande difficuldade e como, que saibamos, no se tenha ainda chegado a uma resoluo, achamos que melhor ser no demorar n'este assumpto, to bem explorado por diversos auctores 0), e que nos levaria a encher al gumas paginas sem que de positivo se podesse tirar uma nica concluso, ob c Physionomistas entre os quaes Lavater occupa um papel primordial (2), dizem que para se conhecer o caracter e o grau de um individuo basta consultar o seu riso . Segundo elles, o riso a pedra de toque
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(1) !'C: Hanau Rivista di filosofia scientifica, out.. 1898. Pierre LarousseGrand dictionaire universelle du XIX sicle, pag. 1227, art. Rire. Coquelin Le rire. Louis Philbert Le rire Ensaie littraire, moral et psycologique, todo o volume mas especialmente o cap. il. (2) Gaspard Lavater L'art de connatre les hommes par la physionomie, vol. iv, pag. 243.

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do juizo, das qualidades de corao, da energia de caracter; exprime o amor. ou o dio, o orgulho ou a humildade, a sinceridade ou a falsidade. Com um riso agradvel no se pde ser mau. Christo nunca riu, dizem os historiadores, mas sorria frequentes vezes; esse sorriso exprimia a ca ridade fraterna, a crente idealisao dos trs prin cpios egualitarios que elle, como louco,visionrio, anhelava para toda a humanidade. : _Se o que muito ri um insensato, e l nos diz o rifo Hjp , tjffloo obnh ,B7limilq
''..' ; ' Muito riso 6?UGaiO* Gil

.tf^MHWf') uun BIGC] eu nulo on az k{ orifo/ oh oigoi o W o que de tudo chora uma creana, um imbecil ou m mau. yhvnmMqra < O riso, cavando .fossetas lateraes s commissuras, tem, at certo.ponto, unia relao moral.com o cara cter do individuo. Ilgart notou em varias observaes que publicou, que as linhas ondeadas, dos lbios e face do um especial, encanto .physionomia<:tradu zem, em regra, uma alegria real e sincerla* se, pelo contrario, essas linhas cm vez de sinuosas, soxigi das e direitas, a alegria. falsa, affectada, superficial. Como exemplos de reproduco fidedigna do riso citaremos o quadro de Posmin, representando j,a re surreio de uma creana operada por S. Francisco Xavier. O riso da me, que assiste ao milagre, per feitamente real. O risod Silena, que se sente agar rada por um satyro, no quadro de Coypel, dirsehia que verdadeiro. Sem nos querermos ligar,por completo s theo rias de Lavater, o certo que um riso .franco, um sorriso bom, attrahenos por completo, pois o pro gnosticamos de lealdade e honradez, o que no obsta a que, n'este mundo de egosmo e velhacaria em que lidamos, elle para ahi se exhiba frequentes vezes no fcies do hypocrita, do canalha e do dissimulador.

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O riso nos velhos


Nos velhos, a queda dos dentes e o g~asto dos rebordos alveolares diminue grandemente a altura da poro boecal ; a apophyse coronoidea levanta-se, o angulo do maxillar abaixa-se, os alvolos limam-se, por vezes, at aos buracos mentonianos. As dimenses transversas da face approximam-se da sua configurao primitiva, differindo comtudo em que o mento que na creana e no feto fugidio, dirige-se para deante ao encontro do nariz e a linha symphysiana obliqua para baixo e para deante. No rosto do velho j se no olha aquelle conjuncto de traos que tornam a alegria do adolescente to rapidamente communicativa. As rugas que lhe sulcam as faces, como que evocam em ns recordaes e tempos idos, como que nos lembram paysagens da mocidade em que a alegria esfusiava, transbordando das nossas illuses. O riso do velho recordanos um poente cheio de uma luz suave e pallida em que o sol debatendo-se entre as nuvens viesse oscular, de manso, as velas brancas das moletas que singrassem para longe, feitas de linhos tecidos em alegrias e esperanas e que a pualha de oiro do pr do sol esmaecesse em melancholicas recordaes.
* * *

Concluindo : O primeiro sorriso apprece na creana, em regra, entre um e dois mezes. O riso desapparece durante a dentio. O ridculo a causa mais' frequente do riso.

CAPITULO IV

O R I S O MODALIDADES

Alm das variedades a que acabamos de nos referir no capitulo anterior e que constituem a evoluo do riso nas diffrentes idades, outras existem inhrentes a certas condies individuaes, taes como temperamentos, raa e contagio (?) e modalidades externas, especialmente climas e temperatura que, muito de leve, vamos esboar.

Temperamentos
Comprehende-se que nem todos tenham egual tendncia ou facilidade de rir e que hajam mesmo muitos indivduos que nunca tenham rido. A Historia contanos que Anaxgoras, Aristophanes e Socrates nunca se riram. Canto e Phocion nunca descerraram os lbios n'um sorriso, mas pelo contrario, e a estes exemplos j nos. referimos, Chrysipo e Sennis morrem de riso (1). Uma mulher romana vendo que seu fdho voltava
(1) Vid. nota a pag. 36.

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da batalha de Cannas, onde o julgava morto, fera um violento accesso de riso a que succumbe ; o papa: Leo x ao ser advertido da chegada do principe de Milo, que ardentemente desejava, morre, rindo. Aulu Gelle falla-nos ainda do celebre banquete em que tomaram parte, Polycrita, fidalga de Naxos, Pbilippides, poeta cmico, e Diagoras, da ilha de Rhodes, que no podendo supportar a alegria violenta em que se debatiam, fallecem no meio das- mais estrondosas gargalhadas. E para que citar mais factos ? Philenon vendo um burro comendo uns figos, nico prato que lhe constitua o almoo, morre fora de riso. Fere, n'um dos seus livros (*), descreve ainda observaes anlogas. Ha uma poca na Grcia e Roma em que o riso normal se torna epidemico, de communicativo. Lycurgo (2), o sbio legislador, manda levantar uma estatua ao riso ; Philostrato, deifica-o. Os romanos organisam em sua honra jogos floraes, a que concorre tudo que de mais nobre se encontra na cidade e arredores; batem-se campeonatos; estabelecem-se prmios; Celio compe hymnos que so recitados pelos actores de maior popularidade; os habitantes da Thessalia sacrificam todos os annos em honra do novo Deus. 0 riso invade tudo, desde a viella mais immunda aos arredores do Frum; desde a choupana mais rude ao palcio mais sumptuoso. A Academia de Athenas, onde se no chega a realisar uma sesso que no tenha de ser encerrada de prompto, tal o riso que se apossa dos mais sisudos dos seus membros, estabelece uma lei enrgica e decisiva, em que, sob penas severas, prohibido rir. Ao mesmo tempo que o riso tudo invade, a volpia e a lascvia desregram os povos ; nos socalcos das estatuas do Riso collocam-se figuras lascivas de Ve-

il) Pathologie des emotions, pag. 234. (2) Raphael Bluteau Liv. e pag. j cit.

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nus, fazendo viver no mrmore branco a quentura da carne. E de passo com o enorme descalabro que por toda a parte se estende, a ruina alastra-se, comea uma vida de fadigas em que a vitalidade dos povos sossobra, em que a energia e a iniciativa se extinguem, confirmando-se assim o rifo portuguez :
No riso so os doidos conhecidos.

Povos que assim se desfreiam n'um nervosismo extremo de riso, teem de occupai' n'este modesto volume um logar primordial. Os jnicos tornam-se to notveis em rir, que o seu riso toma o nome de riso jnico. Em Mega ria o riso toma uma forma to intempestiva e pouco justificada, que lhe chamam riso megarico. Quintiliano dizia que esta maneira de rir pertencia quelles que antes querem perder um amigo que um bom dito. Da Sardenha vem o riso sardnico. O riso de tal modo impera n'esta ilha, que os seus habitantes chegam a comer uma herva chamada apiastram, doce mas venenosa, e que em pouco tempo lhes provoca a morte. Em 1590 o facto torna-se conhecido em extremo, a populao ingere a apiastram para rir, e rindo morre ; o governador, marquez de Tavera, desejando saber a verdade do facto, mandou, segundo auctores coevos, lanar hua ba quantidade de umo delia em hum pouco de vinho tinto que deu a um Turco cativo (o qual por certos delitos estava sentenciado morte), e foy tal a virtude, & fora do veneno, que no espao de hum quarto de hora comeou o Turco a rir continuamente, mas de tal modo que mais parecia apertar os dentes com ray va, que com alegria e que finalmente alguas horas depois, dando estes risos mudos & forados pela violenta contraco dos nervos (causada pelo veneno da herva), acabara. Alguns querem que o riso sardnico derive do^ riso que os velhos de mais de setenta annos tinham*

ao serem sacrificados, julgando cousa vergonhosa mostrar sentimento ou tristeza no sacrifcio. Hoje, abundando para ahi chloroses e anemias, estando a vida sobrecarregada e impossvel, o meio mau, levando a populao uma hicta de protesto con tinuo por comcios e representaes, parece qu Por tugal deveria ser dos paizes que menos riem. Julga mos que se d o contrario.
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Um phenomeno commum a todas as raas huma nas a effuso das lagrimas sobre o rosto, debaixo da influencia d'um riso intenso. Os povos selvagens so os mais exhuberantes1 na sua alegria. Assim, as mulheres malaias riem muito frequentemente ; s dyakes, de Borneu, succde o mesmo ; os australianos saltam, batem as mos em signal de alegria e do, sorrindo, verdadeiros rugidos, levando asila alegria at ao ponto de as lagrimas lhes innundareni as faces. Livingston diz. que os sons do banjo fazem rir e chorar todos os negros (I);I<I M. Bulmer que percorreu, como missionrio, parte da Africa Austral, especialmente Victoria e Nyassa, notou que os naturacs tem o sentimento muito vivo do ridculo, sendo excellentes mmicos; quando um d'elles se diverte a imitar os modos de algum membro .da tribu que est ausente, todos riem, estorendose em verdadeiras convulses. Os Cafres e os hottentotes improvisam danas em que fazem esgares e risos v rios. Os cabindas, nos seus batuques, e isto tivemos occasio de verificar durante a nossa estada na Africa Occidental, sorriem ao mesmo tempo que danam e' cantam.

(1) Darwin L'expression des emotions chez l'homme et les animaux, pag. 225.

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O riso do prognata largo, saliente, carnudo; o do orthognata dbil e bem delineado. Cooper conta que ao chegar junto do Niagara, um dos negros da sua caravana ficou de tal modo impressionado com a vista da imponente eataracta, que esteve meia hora rindo, com pequenos intervallos. Na ndia, os philosophos fazem a seguinte classificao do riso: hasita, o riso em que mal se descobrem os dentes, isto , o sorriso; oupahasita, o riso quando vae at ao pranto ; atihasita, o riso a que ns chamamos bandeiras despregadas (l). Na Europa, os povos do Norte, trabalhadores e activos, pouco riem. A sua actividade exgotada pela sobrecarga de occupaes; o commercio, sobretudo, afadiga-os, prende-lhes a atteno, sempre ligada a uma transaco valiosa, a um movimento continuo. Montesquieu chegou a afllrmar que nem enforcando os moscovitas elles consentiriam em rir. Froissart descrevendo uma festa em Inglaterra diz: elles comeram e divertiram-se muito tristemente moda do seu paiz. Na Europa meridional, os francezes so bem conhecidos pour leur humeur rieuse. O provenal ri immenso. Mistral attribue-lhe a cano : Mon me est en joie. No Sul temos, por exemplo, a Italia, paiz dos sonhos e das larangeiras em flr, duma misria physiologica extrema, que -gasta muita da energia que lhe resta, rindo. O lazzarone de Npoles o typo caracterstico do rir italiano. A Hespanha que abandona os conventos pelas praas de touros, que, com a mesma facilidade, vae ouvir um Stabat-mater ou ver estripar seis cavallos, ri immenso, perdidamente. J ahi se lhe conhece a frivolidade. As suas peteneras sorriem nos accordes langorosos das violas e estorcem-se, em convulsivas gargalhadas, no redopiar febricitante das pandeiretas.

(1) Dictionaire Encyclopdique, art. Comdie, pag. 174-175.

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Contagio
Que o riso eminentemente contagioso, ningum o pde contestar. A interpretao scientifica do facto que, durante largos aniios, passou, desapercebida, sendo Chevreul o primeiro que procurou explical-o por uma theoria que se baseia no poder motor das imagens, theoria incompleta, de que mal uos chegam retalhos e que Binet reconhece como insufficiente Q). A tendncia determinada em ns pela vista d'um corpo em movimento, diz Chevreul, acha-se em muitos exemplos: 1. Quando a nossa atteno est inteiramente fixa n'uma ave que va, niima pedra que fende o espao ou na agua que corre, o corpo do espectador dirige-se d'uma maneira mais ou menos pronunciada para a linha do movimento ; 2. Quando um jogador de bola ou de bilhar segue com a vista o movei a que imprimiu movimento, dirige o seu corpo na direco que deseja vr seguida por esse movei, como se fosse possvel ainda dirigibo para o alvo que quiz fazer attingir; 3. A tendncia ao movimento n'um sentido determinado, resultando da atteno que se d a um certo objecto, parece-me ser a primeira causa de muitos phenomenos que se attribuem, em geral, imitao. Assim no caso em que a vista e mesmo a audio leva o nosso pensamento a uma pessoa que dana, o movimento muscular da dana produz-se immediatamente em ns. Poderei dizer outro tanto do contagio do riso e apresento mesmo este exemplo antes de todos os outros anlogos, trazendo em apoio da minha interpretao que assim como as oscillaes do pndulo, suspenso na mo, parecem augmen(1) BinnetLes alterations de la personalit, pag. 212-221.

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tar debaixo da influencia da vista, assim tambm o riso que, a principio, vemos fraco pde accelerar-se indo at s convulses (1). Na verdade ns nem podemos vr, nem ouvir, nem sentir, d'uma maneira geral, um individuo n'um estado affectivo qualquer, sem que os nossos rgos partilhem tambm das modificaes experimentadas pelos d'esse individuo, n'uma medida proporcional nossa excitabilidade. por demais vulgar e conhecida a influncia do bocejo. Ns prprios fizemos experincias a este respeito e que corroboraram o que dizemos. O choro parece menos communicativo. Em todo o caso todos se recordam da rapidez com que as lagrimas se alastram por uma plateia popular no final do sexto ou stimo acto d'uni drama de capa e espada. O riso propaga-se na multido frequentes vezes, sem despertar a conscincia individual, por uma simples imitao reflexa de movimentos. O conhecimento das causas que o provocam augmenta-lhe a intensidade; demonstra-o a observao. Shakespeare affirmava : Ns no conhecemos os outros seno por ns mesmos, vibrando em unisono com elles para melhor os conhecermos. Mas, sendo o riso contagioso, poder o homem crear a sua immunidade? Ahi est um problema de dilficil resoluo.

Climas Temperatura
No de todo para desprezar a influencia do clima e da temperatura no riso, e hoje parece averiguado que se ri mais de vero que de inverno.
(1) Carta de ChevreiU a AmpereRevue des Deux Mondes, maio; 1831.
8

58
Os antigos j diziam que um clima frio, sombrio e severo fazia contrahir hbitos tristes, que, transmittidos durante algumas geraes, fixavam a melancholia da raa. inni 9 oiera Vogt, notou que as oxydaes so mais lentas de novembro a maro, e que a animao muito mais diffrente nas ruas cheias de sol; affirma at que certas pessoas teem o riso primaveril. O mesmo auctor nota que medida que o frio se torna mais activo, o systema vaso-motor menos sensvel aco dos diversos estimulantes naturaes ou artiiciaes. Alm de que no s sobre o riso que b tempo exerce a sua influencia. Mr. Dexter fez um estudo especial da influencia exercida pelo tempo sobre o estado mental das pessoas, baseando-se nas observaes do posto metereologico de New-York, que permittem determinar, para os 3650 dias dos anhos de 1888 a 1897 inclusive, a percentagem exacta dos dias com bom tempo, com ceu coberto ou com chuva. Duas novas percentagens se fizeram relativas temperatura, que se dividiu em grupos de 5 a 10, 10 a 15, 15 a 20, e ao estado hygrometico do ar. Dexter (*) chegou depois aos resultados seguintes: As temperaturas moderadamente elevadas coincidem sempre com o augmente do numero de casos considerados ; s temperaturas frias corresponde uma diminuio. Com as baixas temperaturas predominam bitos, suicdios e erros bancrios. As fracas alturas barometricas do logar a augmente de aggresses, rixas e suicdios. O auctor julga porm que deve ser incriminada no a densidade da atmosphera mas o estado metereologico correspondente. O vento provoca um accrescimo de aggresses

(1) Dexter La science illustre, 1899.

50 e desordens, dando-se o contrario quando a atmosphera calma ; exceptuam-se os suicdios que so mais frequentes durante maio e junho. bastante curioso este estudo, e pena que elle se no possa applicar exactamente ao riso.
*

Concluindo: O riso parece estar na razo directa da frivolidade. Os povos selvagens so os mais exhuberantes na alegria. difficil, seno impossvel, crear a immunidade do riso.

SEGUIDA PARTE

O RISO PATHOLOGICO

CAPITULO I

O RISO E M S E M E I O L O G I A
(GENERALIDADES)

Ao entrarmos na segunda parte do nosso trabalho, cabe-nos o dever de confessar que nem no que segue, nem no que fica escripto, se deve ver um estudo completo acerca do riso. Os poucos recursos que possuimos para tratar este assumpto, a lide ininterrupta do 5. anno de medicina e ainda occupaes particulares nas quaes gastvamos alguns dos poucos momentos que nos ficavam livres, de tal forma nos tomavam o tempo que esses captulos que constituem a dissertao por fora d'isso se devem resentir, j no que diz respeito ao seu conjuncto, j, isoladamente, na materia que se trata em cada um d'elles. D'ahi, por certo, a existncia de lacunas, de falhas, que no devem causar admirao, dado o accidentado do perodo em que se tratou a materia. Se na primeira parte da nossa these o riso j*5Tmalno nos propozemos, como confessamos, a fazer um estudo completo, agora menos recursos temos ainda que nos habilitem a escrever a segunda a pathologia do riso. Esse trabalho cabe quelles, cujo nome, aureolado j, garantia siificiente do seu estudo, e no a ns que, mal sabidos da Escola, somos forados a escrever um trabalho qualquer scientifico,

Ci

sem tempo para o preparar, dadas as exigncias da vida, sem bases que advenham da nossa pratica, porque pouca temos, sem recursos de litteratura que amenisassem o estylo porque, do nosso lado, de nenhuns podemos dispor. Escrevendo isto, nada mais se faz do que cumprir a lei.
, * * *
II07 ,'HS'l i ! 90p

O riso no desempenha em Semeiologia o pequeno papel que inadvertidamente se lhe poderia attribuir. Monneret { diz-nos que logo que a respirao se torne mais enrgica e precipitada, logo que algum obstculo impea a penetrao do ar no apparelho broncho-pulmonar, se vem as azas do nariz diatar-se e as commissuras, os lbios e as plpebras moverem-se synergicamente, o que traz face a expresso .d'um riso, d'um rictus ou espasmo cynico que, segundo o mesmo auetor, frequente no emphysema, na pneumonia, nas affeces cardacas e nas hemorrhagias. Nas doenas convulsivas, o doente comea a rir, sem por vezester a conscincia do seu riso; na meningite, por exemplo, o enfermo esboa um sorriso inteiramente semelhante ao soriso physiologico. riso pathologico umas vezes, mos.tra-se s d'um lado da face; outras, complica-se com a contraco de diversos, niusculos faciaes, do que resulta as expresses mais extravagantes (2). Na tuberculose, doena que est chamando actual-

(1) Monneret Pathologie gnrale, vol. m , pag. 174-176. (2) Plerret Leons cliniques.

m
snene a atteno de todo o mundo culto, o riso esi>oa-se nos lbios j quando i doente caminha, a passos agigantados, para a sepultura. Todos ns, mais' ou menos, temos notado o fcies caricioso e meigo do tuberculoso ; a ruborisao das suas faces, o azulado das conjunctivas, o avelludado dos clios, o sorriso que esboam nos lbios pallidos, tudo parece attrahir-nos para esse ser que, j visinho da morte, confia ainda na cura, e entrega o espirito aos mais ridentes projectos, s mais pltantasticas divagaes. A pouca energia que lhes resta diffunde-se no sorriso que a morte, por vezes, vem immobilisai-. A accelerao momentnea da circulao cerebral, produzindo-lhe uma excitao superficial, leva-os a idear as maiores chimeras, as concepes mais irrealisaveis.
*

Decerto que seria de bastante valor escrever a pathologia do riso, phrase que primeira vista parecer paradoxal, pois de ordinrio a alegria, o prazer, o riso a expresso da sade. Infelizmente, porm, que saibamos, apenas ha pequenos estudos sobre o assumpto, informaes incompletas, fragmentos dispersos por jornaes scientificos, a que s um trabalho de investigao de muitos mezes e de vagarosa coordenao poderiam dar vulto, para levar a cabo obra de maior tomo. O estudo desenvolvido do riso nos vrios estados pathologicos, como por exemplo na atrophia muscular da infncia, na ictercia grave e no ttano, nos estados patho-psychiatricos como na hemiplegia, chorea, hysteria e epilepsia, e ainda nas psychoses, seria de um alto valor semeiologico, e estamos certos que, no muito tarde, algum vir supprir essa lacuna. Sem preteries a tomar sobre nossos hombros o
9

m
encargo de to temerria empreza, s esboaremos algumas linhas sobre o riso na hysteria,, epilepsia ettano.
* * *

Concluindo : O riso tambm um elemento de diagnostico.

rjdini

CAPITULO II O RISO NA HYSTERIA

0 riso , por vezes, o symptoma mais significativo da hysteria ( l ). Dechambre (2) affirma-nos que podemos declarar hystericas as mulheres que se nos queixam de accessos de riso sem causa apparente. 0 riso hysterico caracterisa-se essencialmente por contraces espasmdicas dos msculos da laryng, produzindo-se debaixo da inlluencia de causas insignificantes, durando muitos quartos d'hora e sendo por vezes entrecortado de choros convulsivos (3). A idade exerce uma grande influencia sobre estes ataques de riso, que so particularmente frequentes nas hystericas precoces e n'aquellas em que os accessos de hysteria so agitados e turbulentos. Eis uma observao que confirma o que dizemos.
OBSERVAO I P., 12 annos, hysterica, tem quotidianamente ataques convulsivos. A crise principia por grandes gar^ 1) Tebaldi Fisonomia, tomo xxxvitl,

e artigo j citado. (3) M, Rosenthal Trait clinique des maladies du sys' terne nerveux, pag. 476. .

!2) DechambreDictionnaire des sciences mdicales, livro

G8
galhadas ; subitamente levanta o brao direito ; agita-o, com para fazer estalar um chicote, corre ao longo das ruas, salta,, trepa s arvores,: d cambalhotas, walsa sobre as mezas, rindo' sempre a bandeiras despregadas, O accesso de riso dura uma
hora. (MOTTARD),

0 riso hysterico pode apparecer como manifestao nica do accesso convulsivo, no se ligando a nenhuma outra forma d'hysteria, no alternando com a menor crise e constituindo o estado a que Trousseau chama de mobilidade nervosa i (r)0 professor Roberto Frias conta entre os seus. clientes uma senhora cujos accessos de hysteria so apenas constitudos por ataques de riso, de durao varivel,'e que terminam por longas crises de lagrimas. 0 mesmo professor, a quem exaramos os nossos agradecimentos pelas informaes que de to boamente nos forneceu, contou-nos o seguinte facto, que, com a devida vnia, publicamos. Quando estudante, um meu condiscpulo e companheiro de casa foi atacado, repentinamente, por um accesso de riso que durou um quarto cl'hora approximadamente, terminando por uma syncope. Este individuo tinha uma tara nevropathca e era alcolico. est ainda em tratamento uma doente, Aurora da Piedade, de 21 annos, que, j aos 12, tinha ataques de hysteria, nos quaes o riso era frequente. Gerta vez, ao descer uma escada, teve tal accesso de riso que se desequilibrou, cahindo e ficando com o brao direito luxado. Esta doente tirou bons resultados dos banhos de chuva. Vimos que o riso pde, s de per si, constituir o ataque hysterico. Isto porm no frequente, e as mais das vezes coexiste com crises de medo, como
Na enfermaria n. 8 do Hospital da Misericrdia

(1) Trousseau Lv. j cit., vol. H, pag. 277.

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na doente Lucia Maria Veiga, de Moncorvo, ha tempo era tratamento na enfermaria n. 8, e que no im da convalescena de uma hysterectomia abdominal, se levantava de noite, com accessos de medo que terminavam por ataques convulsivos de riso, procurando a enferma refugiar-se na cama das outras companheiras de enfermaria. Nas hystericas a quem, pelo facto de qualquer interveno cirrgica, se tem de fazer anesthesia chloroformiea, sobreveem por vezes accessos de riso que, ou so rebeldes e s curam pela suggesto, tal a observao n, ou ento terminam por uma syncope ligeira, durando o riso um intervallo de poucas horas, como tivemos este anno occasio de vr na nossa pratica de clinica cirrgica, facto que reproduzimos na observao I H .
OBS. I I M., 18 annos, entrada na enfermaria parece ser muito alegre, pois ri continuamente, embora a doente o procure dissimular tapando a bocca com um leno. Esse riso concorda com um estado de espirito correspondente. Interrogada sobre a causa porque se ri, responde que por achar ridcula a figura que os medicos fazem na enfermaria. Este riso dura ha quatro rnezes e est em opposio com os desejos da doente que deseja ficar tranquilla. Diz ella: Eu bem sei que tenho mais razo para chorar do que pra rir, ms no posso desembaraar-me d'est riso. Paro um momento que aproveito para fallar ou comer, e, logo depois, no sei porqu, recomeo a rir. O riso cessa quando a doente dorme, para reapparecer quando desperta. M., teve ha tempo crises hystericas; actualmente tem ainda alguns stigmas da hysteria (1), como aperto do campo visual (amblyopia) e placas d'anesthesia. A etiologia do seu riso imperfeitamente conhecida. Filha d'uma alcolica que, em creana, a espancava todos os dias, at lhe causar luxaes nas duas mos, v-se d'ahi a pouco abandonada nas ruas de Paris. Sem po e sem casa d-se a uma

(1) Dr. Spehl Exploration cal, pag. 503 e seg.

clinique et diagnostic

medi-

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vida irregular pelo bairro Latino, onde trava relaes com grande numero de estudantes, entre os quaes alguns de medicina, que lhe aconselham a entrada no hospital p a r a lhe fazerem a reduco das luxaes. A doente obedece e durante a chloroformisao que foi ligeira, excitada pelos alumnos assistentes, teve grandes ataques de riso, contou scenas, algumas das mais intimas da sua vida, e ao despertar continuou n'esse riso interminvel que ha quatro mezes a persegue. Hypnotisada duas vezes, a doente consentiu em esquecer o seu riso e sahiu curada. (CHARCOT). OBS. m Emilia Augusta de Faria, 22 annos, creada de sala, solteira, hysterica. Ephelides na face. Stigmas de hysteria. E n t r a no hospital da Misericrdia a 31 de maro de 1900 por causa d'um phlegmo da eminncia thenar da mo esquerda e operada no mesmo dia. Chloroformisa-a o collega Cardoso d'Albuquerque, assistente da doente, adoptando-se o processo Nicaise-Peyreaud (de Libourne). A doente ao cabo de dois minutos entra em resoluo sem ter havido perodo de excitao. Aberta a parte phlegmonosa, no momento em que se procedia explorao digital, a doente acommettida por um accesso de riso que durou cinco minutos approximadamente, seguindo-se uma syncope que foi debellada pelos meios, em geral, adoptados. Continuando a chloroformisao nada mais houve na doente que, ao despertar, se sente bem disposta, alegre, despreoccupada, rindo durante o resto do dia ao menor incidente. Este estado acalma-se no dia immediate em que a doente parece ficar perfeitamente socegada. (Curso de clinica
cirrgica, DR. ROBERTO F R I A S ) .

Com o accesso do riso pode, na crise d'hysteria, sobrevir a aphonia, vmitos incoercveis ou papeira. Raulin d-nos a observao seguinte:
OBS. IV C. M., 19 annos, hysterica typica, tem crises de riso incoercveis que so ordinariamente precedidos d'uma papeira volumosa na regio thyroida esquerda. As modificaes de volume d'esta papeira esto esto em relao com a gravidade dos phenomenos hystericus, augmentando durante os ataques de riso e diminuindo nos perodos de repouso. A crise hysterica n'esta doente termina por um somno prolongado.
(RAULIN).

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Os accessos de riso produzem-se ou como prodromos do ataque convulsivo, e a este respeito temos duas observaes pessoaes que a seguir registramos, ou ainda no meio e nofimdas crises, conforme affirmant entre outros Axenfeld (*), Charcot (2) e Briquet (8).
OBS. v F., 19 annos, solteira, de Lisboa. Uma causa qualquer, um dito, uma leve brincadeira, provoca-lhe verdadeiros ataques de riso, durante os quaes os olhos sahem um pouco para fora das orbitas, ha contraces musculares violentas, trismus do maxillar. Ao fim da crise o riso degenera em gritos e a doente fica n ' u m grande estado de fadiga. Trata-se eviden. temente d'uma hysterica. O riso aqui um symptoma do ataque convulsivo, (PESSOAL).

OBS. V I J . ' O . , 22 annos, solteira, natural de Bertiande. Hysterica. Sem causa aprecivel, levanta-se do sitio em que est sentada e comea a r i r observando os quadros pendurados nas paredes da casa, acompanhando o riso de exclamaes prolongadas. Levada para a cama, sobreveem-lhe convulses ligeiras que terminam por grandes calafrios. Adormece e ao outro dia acorda bem disposta, quasi que em nada recordando
o que se passou, (PESSOAL).

OBS. VI Marc, 23 annos, atacada de hystero-epilepsia ha sete annos. A aura parte do ovrio esquerdo. O riso annuncia o fim do accesso. A compresso determina o fim immediato da
crise. (CHARCOT). .

OBS. VII Crises mixtas hystero epilpticas. O fim das crises annunciado pelos risos. (BRIQUET).

Informam-nos do Minho que uma senhora, F., de 26 annos de idade, solteira, tem ataques de riso cuja durao oscilla entre uma e duas horas e que marcam o comeo do accesso hysterico. A doente ao findar 0 ataque fica muitssimo fatigada e dorme pro-

(1) A. Axenfeld Trait des nvroses, pag. 1027. (2) CharcotLeons sur les maladies nerveuses, pag. 72-73. (3) BriquetDe Vhysterie, pag. 322.

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fundamente durante largas horas. Estas crises s a acommettem quando teem algum desgosto profundo, como, por exemplo, morte de uma pessoa de familia. Devido amabilidade do snr. dr. Urbano Cardoso, publicamos em seguida uma observao em que o riso nos apparece no meio do ataque hysterico.
OBS. VIII B., 21 annos, casada. Antecedentes hereditrios: epilpticos, hystericos. Em solteira, quasi todos os mezes tinha ataques hystericos. Depois de casada, quando comecei a ser o seu medico assistente, tinha ataques hystericos dirios, earacterisados, quasi todos, pelo delrio hysterico que apparecia durante o ataque, principiando por uma espcie de sonho em aco que rebentava bruscamente n'uma crise d'excitao com um riso estridente, inextinguvel, que se propagava com uma notvel intensidade. E, facto curioso, este plienomeno impulsivo, que tenho observado em mais que uma hysterica, tem a propriedade de se communiear, porque se elle se d n'uma casa onde habite em commum uma outra hysterica, quasi certo que o espasmo ataca a outra por via de imitao, como se deu na easa d'esta doente com outra hysterica. Esta crise de excitao terminava bruscamente; havia um perodo de depresso mais ou menos longo, com silencio absoluto, e a doente voltava depois, pouco a pouco, ao seu estado normal. (DK. URBANO CARDOSO).

Lembra-nos este anno ter assistido a vrios accessos de hysteria n'uma senhora, viuva, de Barcellos, portadora d'uma leso cardaca, em que a aura comeava pelo ante-brao direito e era muitas vezes precedida por um longo perodo de excitao, durante o qual a doente saltava para fora da cama, rindo, cantando, pondo a familia em alvoroo. Os accessos de hysteria terminavam por canar muito a doente, que em seguida adormecia. Zwinger (l) cita o facto de uma donzella He Bale que foi atacada, sem causa conhecida, por um accesso de riso inextinguvel, na primeira noite de npcias.
(1) Zwinger Obs. de riso involuntrio sivo, pag. 47-50. vehementi convul-

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Briquet falia d'uma hysterica que era atacada de riso espasmdico, absolutamente involuntrio, e que as maiores magoas no conseguiam impedir. A doente ria quando tinha vontade de chorar e chorava quando tinha vontade de rir. O mesmo auctor cita uma observao de Hoillier, o qual conta que duas filhas do presidente da camar de Rouen tinham ataques de riso que duravam uma a duas horas e que no podiam reprimir, a despeito de todas as admoestaes dos parentes que reputavam o facto como uma vergonha e no como uma doena. De resto as hystericas teem periodos de verdadeira alegria em que um pequenino nada, em que uma causa insufflciente provoca longos accessos denso, acompanhados, por vezes, d'uma ligeira sensao de estrangulamento. E esse riso to intenso, to ruidoso, to communicativo, uma alegria to franca, uma expanso to diffusiva que, se occorre em logar onde existam mulheres predispostas, attinge immediatamente a maior parte por contagio ou imitao, Collocar uma d'estas ridentes em enfermaria onde abunde o hysterismo, o mesmo que querer d'ahi a pouco vr desabar a sala em gargalhadas. J Briquet (*) dizia qne era preciso isolar les grandes rieuses (2j.
*

Seria proveitoso, ao vr um doente atacado de riso incoercvel, saber se se trata d'um tic ou dum espasmo; e a utilidade desse diagnostico residiria

(1) Briquet Liv. cit., pag. 323-325. (2) A observao do snr. dr. Urbano Cardoso corrobora perfeitamente o que acabamos de dizer. 10

74 em podermos, conscientemente, fazer o prognostico dos dois risos que diffre bastante, pois se certo que podemos desembaraar do seu tic o que d'elle portador, meio algum possumos para livrarmos um doente do seu espasmo. Auctores porm que consultamos (*) no frizam bem a differenciao de diagnostico entre tics e espasmos'. Ns bem sabemo que o tic a descarga brusca, emquanto que o espasmo a tetanisao lenta ; ns bem sabemos que no tic a vontade intervm, por vezes, utilmente, emquanto que o espasmo corre merc da inrcia que provm da nossa impotncia; ns bem sabemos que o riso-espasmo um phenomeno reflexo, emquanto que o riso-tic um movimento systematisado reproduzindo ao exaggero um acto physiologico ; porm, dados os laos intermedirios que ligam estes risos, bem difficil , praticamente, extremar o tic do espasmo, demais que se a descarga brusca e a tetanisao lenta se podem distinguir nos msculos de grande massa, nos pequenos msculos, nos msculos da face, no risorius de Santorini, por exemplo, torna-se absolutamente impossvel fazer toda e qualquer differenciao. E isto tanto mais para lamentar quanto certo que entre tic e espasmo ha uma considervel differena, no que respeita sua prognose. O tic cura, difficilmente, por vezes, mas o espasmo, qualquer que seja a sua sede, absolutamente incurvel. No tic, a gymnastica applicada aos msculos d resultados positivos ; no espasmo, toda a therapeutica falha e achamo-nos impotentes para o combater.

(1) Trousseau Li v. e vol. j cit., pag. 267-271. Brissaud Tics e espasmos, pag. 6-15. RosenthalObra j cit.

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Concluindo: O riso um dos syptomas frequentes da hys teria. Os ataques de riso produzemse ou como pro dromos do accesso convulsivo ou no perodo de reso luo. diucii o prognostico do riso incoercvel dada a dificuldade de diagnostico entre risolic e riso espasmo.

CAPITULO III O RISO NA EPILEPSIA E NO TTANO Na epilepsia


Brissaud (x) n'uma lio feita sobre o riso espasmdico disse: como um ataque de epilepsia que percorre fatalmente o cyclo das suas manifestaes convulsivas e que nada pde suster desde que principie . E de resto assim . No s o ataque de riso apresenta grandes analogias com os accessos convulsivos da epilepsia, mas ainda pde produzir-se como nica forma da epilepsia e substituir at outras manifestaes. Eis algumas observaes que o comprovam :
OBS. IX J. B., 36 annos, epilptico desde os 14 annos. O pae era alcolico; seis irmos que teve morreram todos na primeira infncia com convulses. Alm das grandes crises que eram as primeiras manifestaes da epilepsia, sujeito a vertigens sbitas com queda na resoluo completa e a accessos de riso. As grandes crises so iniciadas por uma loquacidade desacostumada ; depois o olhar torna-se fixo e o doente cahe para

(1) Brissaud Revista scientifica,

janeiro, 1894, pag. 44.

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traz; o thorax immobilisa-se e a physionomia toma a expresso do riso sardnico emquanto a cabea executa movimentos de rotao rpidos. Depois de minuto e meio cahe em coma, de que s desperta uma hora depois. As crises de riso so iniciadas pela mesma loquacidade. O olhar torna-se fixo, o doente empallidece, o rosto toma a expresso do riso sardnico, os movimentos respiratrios so bruscos e saccades, interrompidos por longas inspiraes. Aqui o riso constitue o ataque. Com o riso vem a congesto violcea da face e, quando se est prestes a recear a asphyxia completa, o espasmo pra. A respirao torna-se lenta e superficial, depois regularisa-se e o riso desapparece. J. B. no se submette ao tratamento pelos brometos seno por mero capricho; durante elle observa-se que as crises de riso so mais frequentes, diminuindo talvez por compensao s grandes accessos convulsivos. D'estas crises de riso, diz o auetor (1) da observao, no se falia nos tratados especiaes de epilepsia, embora, apesar de raras, meream ser mencionadas.

Eis outro caso anlogo :


OBS. X C. P., desde os doze annos que tem ataques epilpticos rebeldes a todo o tratamento. Em janeiro de 1899 a serie d'esses ataques interrompida por uma forma extravagante : crises de riso inconsciente, acompanhadas de convulses, e phrases incohrentes (2).

Apesar porm, de Fere dizer que os tratados de epilepsia no mencionavam as crises de riso, Trousseau, (3) com a perspiccia que o caractrisa, j d'elles falia nas suas notas:
OBS. XI Fui chamado para dar a minha opinio sobre um rapaz epilptico que vinha de Berne propositadamente para me consultar. No curto espao de tempo que esteve no

(1) Fere Accs de rire chez un epileptique, abril, 1898. (2) Fere Liv. j cit., pag. 52. (3) Trousseau Liv. j cit., art. Epilepsia.

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meu gabinete, teve vertigens caracterisadas por accessos de riso saccades que duraram apenas alguns segundos. Interrogado o doente sobre a causa por que se tinha rido, admirou-se bastante, pois o fizera inconscientemente.

0 riso na epilepsia apparece-nos tal como na hysteria, pois ora d o aviso do principio da crise, ora vem apenas quando o ataque est prestes a terminar, sendo muitas vezes provocado pelos prprios actos do epilptico. o caso do juiz que depois de uma vertigem, abandonava a cadeira em que presidia audincia, e ia urinar a um canto qualquer da sala, mostrando-se depois muito admirado pelo riso que provocava e rindo, tambm*, por fim i1). o caso do epilptico que sendo despertado, no momento em que procurava accender os ponteiros do relgio, lastimava-se do seu estado, com sorrisos de piedade. (2) Durante as crises de riso lia um comprimento excessivo da curva expiratria ; o pulso mais rpido e dicroto; as pulsaes augmentam vinte e quarenta por minuto. O accesso de agitao no se desenvolve bruscamente (3).sendo, quasi sempre, precedido de signaes preliminares que depois se repetem com os mesmos caracteres e annunciam, at certo pento, a prxima ecloso do ataque. O doente ou se mostra d'uma alegria exaggerada, turbulento, expressivo, satisfeito, com risos convulsivos, como que embriagado, ou ento torna-se melancholico, taciturno, meditativo. No primeiro caso a sua physioriomia photographa a expresso d'um riso cynico e o olhar brilhante, um tanto irnico ; mas, rapidamente, esse estado cessa e

(1) Magnan Des epileptiques, pag. 36. (2) Raulin Liv. cit., pag. 234. (3) Dagonet et Duchannel Trait des maladies pag. 174-177.

mentales

'

so
um rictus ignbil lhe contrahe a face ; as plpebras * tumefazemse, os lbios espessamse, as linhas tor namse quebradas, angulosas, o rosto mais bello des iigurase, deixando entrever apenas nos olhos vacil lantes, nas pupillas dilatadas, no sorriso hediondo, como que um sarcasmo de zombaria estpida e in consciente.
itocrefi stfitf idbimni ogh .;S9& asBup ,

ib oui N o ttano

HIOO

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BcTo B S54U0I BBH ijivsi gomsboq oti aup ob 1 aias a tii' iBh , ' : au ahabl?"

]\o ttano encontrasse o riso sardnico. E um riso todo mechanico, produzido pela distenso, violenta dos commissi! ras pela: contractu dos msculos da nuca e da face tanto mais temvel quanto, certo que He contrasta deploravelmente com a gravidade do estado em que se encontra o doente. Jaccoud (?) referesc a esse riso; Dioulaby (2) no seu,artigo so bre ttano no; se : esquece de lhe dedicar tambm algumas palavras, e, ns j, o tivemos occasio de observar em dois tetnicos que deram entrada no hospital da Misericrdia,, na:. enfermaria de que di rector clinico o sur. dr. Adelino Costa. Na enfermaria n. A do mesmo" hospital, est actualmente em tratamento uma tetnica que obser vamos e na qual o riso sardnico nos apparece logo de principio, como symptoma inicial. Seguese a obser vao:
OBS. XII Elisa Maria da Conceio, 17 annos, solteira, creada, entra no hospital a 2 de maro de 1900. A 28 de junho soffre uma operao hysterctomia vaginal total ; a 9 de ju lho esboaselhe na face a expresso do riso Sardnico. E st declarado o ttano. O aspecto da doente o caracterstico do tetnico. Testa

(1) Jaccoud Pathologie interne, pag. 443. (2) Dieulafoy Pathologie interne, vol. iv, pag. 273.

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levemente franzida, faces ruborisadas, plpebras semi-cerradas, indicando como que um entorpecimento doloroso e pungente, e, a contrastar com essa mascara de dr e soffrimento, com esse estado terrvel em que a enferma se debate, as commissuras retrahem-se n'uma rigidez absoluta, os lbios descerram-se n'um sorriso sardnico e sarcstico, como que zombando da nossa impotncia therapeutica, como que desafiando os nossos recursos scientificos. Esse riso immobilisa-se seguidamente durante dois dias, ao fim dos quaes desapparece, para depois voltar, intermittente, a espaos, continuando assim at ao stimo dia da doena, depois do que no podemos levar mais longe a observao, attenta a necessidade imperiosa de dar fim a este trabalho.

Roy (x) conta, a respeita do riso do tetnico, uma aventura curiosa : Ambroise Par que era medico do corpo de exercito do marechal Montejaur, tendo amputado um brao a um soldado, notou que elle, dias depois, apresentava accidentes tetnicos. Cheio de piedade, e vendo os accessos violentos a que o doente estava sujeito, aproveita a primeira casa que lhe apparece um estabuloleva para ali'o doente, cobre-o de pomadas, envolve-o em seguida em feno (*) e assim o deixa estar trs dias e trs noites. 0 doente curou ! E que admirvel meio de cultura no tinha ali o bacillo de Nicolaer!
* *

Concluindo : 0 apparecimento do riso na epilepsia no marca nenhuma phase do ataque. 0 riso do tetnico de typo sardnico e inicial.
(1) Roy Liv. j cit., pag. 34. (2) Sanchez Toledo e Veillon, no seu livro Recherches -microbiologiques et exprimentales sur le ttano, diz-nos que o feno um explendido meio de cultura para o bacillo tetnico. Dieulafoy confirma o facto no liv. cit., pag. 271.
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CAPITULO IV

RISOTHERAPIA

No vem este capitulo a titulo de innovao. Se o publicamos unicamente por mera curiosidade scientiica, por trazermos a publico algumas das extravagantes e pittorescas observaes que a Historia da medicina nos aponta e que jazem actualmente sepultas no p dos archivos. Hyppocrates diz que o riso e a alegria so favorveis em todas as affeces. Galeno assegura ter visto um grande numero de doentes que devem a sua cura mais ao humor jovial do que ao uso dos medicamentos. Ambroise Par, Sanctorius, Pechlin, Tissot e outros observadores citam uma grande quantidade de curas obtidas pelos hilariantes, especialmente nas febres intermittentes, escrobuto, escrophulas e paralysia. No nos deve admirar isto; todas as innovaes tem o seu perodo de gloria e fausto mormente em therapeutica, pois ha sempre desilludidos que esperam alguma nova descoberta e a ella se agarram como a ancora de salvao. Quantos tuberculosos se no tratam ahi j pela zomotherapia, no obstante os auctores do novo me-

#i thodo J. Hericourt e C. Richet no o terem ainda explicado em todos os seus detalhes (1). Erasmos deitou a vomica que o suffocava pelo seu riso excessivo, salvando assim a vida. Coringius cura-se de febres ters pela alegria que sente ao conversar com Meibomius. Tissot lembra-nos o exemplo de muitas creanas pallidas, tristes e rachiticas nas quaes o riso provocado pelas ccegas seguido dos mais felizes resultados. Na bibliotheca municipal existe um livro em que o dr. Descuret (2) affirma que chegou a resolver, por meio do riso, a maior parte dos engorgitamentos ganglionares lymphaticos que tinham resistido a grande numero de remdios internos e externos. 0 auctor pe as creanas sobre um leito, quando o estmago est vasio, e faz-lhes ccegas. Este processo, executado de manh e noite durante alguns minutos, opra ao cabo de 15 a 20 dias melhoras sensveis na constituio dos doentes. A pelle torna-se roxa, o rosto corado, a physionomia mais alegre, mais animada. que, diz Descuret, o abalo produzido pelo riso injectou sangue nos vasos capillares que at ento o no tinham. O riso produz, no s uma accelerao da circulao mas ainda contraces musculares com effeitos curativos. Descuret diz-nos ainda que a risotherapia no deve ser empregada nas hernias e nas fracturas, mas, como prova de que o methodo porque pugna tem resultados seguros, conta-nos vrios factos. Pechlin narra que um homem gravemente ferido no peito, estava abandonado pelos medicos que o julgavam irremediavelmente perdido. Os companheiros que o vigiavam, canados de aturar o doente e sabendo-lhe da morte prxima, trataram de se divertir,

(1) Medicina Contempornea n. 25, maro de 1900. (2) La mdecine des passions, pag. 221.

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ennegrecendo com algum negro de fumo a cara de um companheiro que adormecera, fatigado por noites successivas de viglia. O moribundo por acaso abre os olhos e, ao vr a caricatura grotesca d que lhe servia de enfermeiro, comeou a rir, sahindo da ferida mais de dois litros de um derrame sanguneo purulento, depois do que o restabelecimento foi rpido. Ahi est um caso com probabilidades de authentico bem como outros que o referido auctor cita, de dequitadura em mulheres cujas foras pareciam inteiramente exgottadas, e cujas dores tinham desapparecido. Em concluso: se a risotherapia teve j poca florescente no vemos que ainda hoje se lhe possa negar um certo numero de factos: esses da expulso da vomica, da sahida do pus, e das membranas tem bastos risos de verdade. O riso actuar como agente mechanico e os effeitos apontados sero apenas devidos ao exaggero das contraces musculares. Quer isto dizer que empreguemos o riso, tort e travers, como meio therapeutico? Claro est que no, embora n'elle conheamos uma poderosa causa adjuvante do bom estado moral do doente o que, por vezes, se deve tomar tambm n'uma certa considerao.
*

Coucluindo : A despeito dos factos de risotherapia que a historia nos aponta, o riso s poder ser racionalmente empregado, nas formas depressivas da alienao mental.

PROPOSIES

AnatomiaA simples inflexo lateral da colnmna vertebral no caractrisa a scoliose. Physiologia O repouso tnico depois do exercido; o exerccio tnico depois do repouso. Materia medica Os saes de quinina na malaria no s a curam mas ainda a previnem. Anatomia pathologicaAs formas anormaes encontradas nos tumores malignos devem considrasse, em regra, como morphologicamente idnticas. Pathologia geral O alcoolismo uma das grandes podrides das sociedades modernas. Pathologia interna A epilepsia legitima um estygma de degenerescncia. Pathologia externa Nas fracturas do racliis reprovo, em regra, as intervenes sangrentas. OperaesNos apertos mximos a urethrotomia interna o primeiro tempo da dilatao progressiva. Partos Os effeitos d'uma irrigao uterina so
mais mechankos do que antisepticos.

Hygiene A mortalidade dos europeus nas nossas colnias, , muitas vezes, filha da acclimatao.
VISTO. PDE I M P R I M I R - S E .

Alberto d'Aguiar,
Presidente.

O. Monteiro,
Director interino.

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