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Pró-Reitoria Acadêmica

Curso de Medicina Veterinária


Trabalho de Conclusão de Curso

Dioctophyma renale EM CÃO DE CAÇA DA RAÇA - RELATO DE


CASO

Autores: Alessandro Rodrigues de Oliveira, Juliene Farias Borba


Orientador: Profa. Me. Clarissa Machado de Carvalho

Brasília - DF
2024
ALESSANDRO RODRIGUES DE OLIVEIRA
JULIENE FARIAS BORBA

Dioctophyma renale EM CÃO DE CAÇA AMERICANO - RELATO DE CASO

Artigo apresentado ao curso de graduação


em Medicina veterinária da Universidade
Católica de Brasília, como requisito parcial
para obtenção do título de Bacharel em
Medicina veterinária.

Orientadora: Profa. Me. Clarissa Machado de Carvalho

BRASÍLIA
2024
Espaço reservado para folha de aprovação
Dioctophyma renale EM CÃO DE CAÇA – RELATO DE CASO
Dioctophyma enale IN A HUNTING DOG – CASE REPORT

ALESSANDRO RODRIGUES DE OLIVEIRA


JULIENE FARIAS BORBA

Resumo: Dioctophyma renale, conhecido como “verme gigante do rim”, é o maior


nematódeo que parasita animais domésticos, o ciclo evolutivo é complexo e não
totalmente elucidado. Os hospedeiros definitivos incluem principalmente canídeos, mas
também, em casos mais raros, bovinos, equinos, suínos, felinos, algumas espécies de
animais silvestres e até humanos. O parasita é geralmente encontrado no rim direito,
mas também pode afetar o rim esquerdo. Ele pode se localizar no tecido subcutâneo, na
cavidade abdominal, nas glândulas mamárias, na cavidade torácica, nos ureteres, na
vesícula urinária e, mais raramente, nos testículos de cães. Este trabalho relata um caso
de cão macho da raça Foxhound Americano, de aproximadamente sete anos, utilizado
para caça de javalis e diagnosticado com parasitismo por Dioctophyma renale no rim
direito.

Palavras chaves: canídeos, nefrectomia, ultrassonografia abdominal.

Abstract: Dioctophyma renale, known as the "giant kidney worm," is the largest
nematode that parasitizes domestic animals. Its life cycle is complex and not fully
elucidated. The definitive hosts primarily include canids, but also, in rarer cases, cattle,
horses, pigs, felines, some species of wild animals, and even humans. The parasite is
generally found in the right kidney but can also affect the left kidney. Additionally, it may
be located in the subcutaneous tissue, abdominal cavity, mammary glands, thoracic cavity,
ureters, urinary bladder, and, more rarely, in the testicles of dogs. This is a case report of a
7-years old, male American Foxhound, used for hunting wild boars, diagnosed with
Dioctophyma renale parasitism in the right kidney.

Keywords: abdominal ultrasound, canids, nephrectomy.

1. Introdução
Dioctophyma renale, popularmente conhecido como verme gigante do rim
(Souza et al., 2019), é um nematódeo pertencente à classe Enoplea, ordem Enoplida e
família Dioctophymatidae (Ribeiro et al., 2009; Verocai et al., 2009; Pedrassani et al.,
2017; Souza et al., 2019; Cardoso et al., 2023). É reconhecido como o maior nematódeo
já descrito que parasita animais (Sun et al., 1986; Andrade et al., 2022), de coloração
vermelho brilhante, com aparelho bucal pequeno e simples (Freitas et al., 2023). Os
exemplares adultos apresentam uma boca hexagonal, sem lábios, circundada por seis
papilas dispostas em círculo; a cutícula é transversalmente estriada, sem espinhos, e o
esôfago é longo, estreito, claviforme, com discreta dilatação posterior (Urano et al.,
2001; Lima et al., 2016). O macho pode atingir 45 cm de comprimento por 4 a 6 mm de
largura, enquanto a fêmea pode medir até 100 cm de comprimento por 12 mm de
largura (Freitas et al., 2023). Os machos possuem uma bolsa copuladora musculosa na
4

borda posterior, em formato de campânula, com o orifício cloacal no centro, de onde se


exterioriza um espículo de 5 a 6 mm de comprimento.
O ciclo desse parasita (Figura 1) é complexo, indireto e ainda não está
completamente elucidado (Lima et al., 2016). As fêmeas de D. renale, presentes nos rins
dos hospedeiros definitivos, depositam seus ovos, que são eliminados no ambiente
através da urina (Taylor et al., 2010). Sob condições adequadas de umidade e
temperatura, esses ovos evoluem para larvas de primeiro estágio (L1) em
aproximadamente 30 dias, podendo resistir no ambiente externo por anos (Rocha,
2017). A evolução do parasita continua com a ingestão do ovo larvado pelo hospedeiro
intermediário (HI), no qual as L1 atravessam a parede do tubo digestivo e mudam para
L2, se incistando no celoma e em outros tecidos. Os hospedeiros paratênicos (HP) se
infectam ao ingerir o HI na água ou crustáceos que estejam infectados por este. As L2
livres no trato digestivo do HP passam por duas mudas, resultando em L3 e L4, que são
as formas infectantes (Fortes, 2004; Taylor et al., 2010; Rocha, 2017). A infecção do
hospedeiro definitivo (HD) ocorre por meio da ingestão de ovos do nematódeo ou de
hospedeiros intermitentes ou paratênicos (Taylor et al., 2010). O ciclo completo do
parasita pode levar de seis meses a dois anos (Fortes, 2004; Taylor et al., 2010; Rocha,
2017).

Figura 1: Esquema do ciclo biológico de D. renale. HD= Hospedeiro definitivo, HP= Hospedeiro
Paratênico, HI= Hospedeiro Intermediário. Fonte: Pedrassani (2009).

Anelídeos oligoquetas da espécie Lumbriculus variegatus são os HI


classicamente relatados (Rocha, 2017); porém, estes anelídeos não ocorrem no Brasil
(Pedrassani, 2009; Rocha, 2017). Apesar disso, a infecção por D.renale é
frequentemente observada no país, especialmente em cães, sugerindo que outro
oligoqueta pode atuar como HI (Pedrassani, 2009; Rocha, 2017). Os HP podem ser rãs
ou peixes (Taylor et al., 2010). Os hospedeiros definitivos são diversos.
No Brasil, a primeira descrição de parasitismo por Dioctophyma renale em
animais silvestres ocorreu em 1860, em um lobo-guará (Chrysocyon brachyurus)
(Molin, 1860 apud Leite, 2005). Relatos em humanos são raros, com casos descritos na
China, Grécia e Índia (Ignjatovic et al., 2003; Li et al., 2010; Katafigiotis et al., 2013;
Venkatrajaiah et al., 2014; Lima et al., 2016). No Brasil, diversos relatos já foram feitos
em diferentes espécies animais, incluindo cães (Kommers et al., 1999; Monteiro et al.,
2002; Kano et al., 2003; Silveira et al., 2015), gatos (Verocai et al., 2009; Silveira et al.,
2015) e diversas espécies de fauna silvestre, como o lobo-guará (Chrysocyon
brachyurus) (Varzone et al., 2008; Silveira et al., 2015), o cachorro-do-mato
(Cerdocyon thous) (Ribeiro et al., 2009; Silveira et al., 2015), o macaco-prego (Sapajus
5

apella) (Ishizaki et al., 2010b), o furão-pequeno (Galictis cuja) (Pesenti et al., 2012;
Zabott et al., 2012) e a lontra-neotropical (Lontra longicaudis) (Echenique et al., 2018).
Apesar desta diversidade de relatos, os cães domésticos são considerados os principais
hospedeiros definitivos de D. renale (Birchard et al., 2003; Pedrassani., 2009; Lima et
al., 2016). No Brasil, há elevada taxa de infecção destes parasitas em lobos-guarás de
vida livre, o que sugere que esses animais possam ter uma função epidemiológica mais
significativa do que os cães em ambientes silvestres, levando em conta seus
comportamentos alimentares e padrões de migração (Leite et al., 2005; Lima et al.,
2016).
O D. renale é o único parasito capaz de colonizar o rim, penetrando a cápsula
renal, invadindo e destruindo o parênquima (Kommers, 1999; Andrade et al., 2022). A
ação histolítica da secreção das glândulas esofagianas explica a facilidade com que este
penetra e destrói o parênquima renal, restando somente a cápsula renal e o conteúdo
sanguinolento, no qual os parasitos ficam imersos (Kommers, 1999; Andrade et al.,
2022).
Nos animais infectados, são observados sinais clínicos como apatia,
emagrecimento, arqueamento do dorso, hematúria e um aumento palpável na região
renal (Barriga, 1982; Alves et al., 2007). O diagnóstico da infecção por Dioctophyma
renale pode ser realizado por ultrassonografia e urinálise, na qual se identificam os ovos
do parasito (Boaventura, 2016). Em casos raros, observa-se a eliminação de vermes
jovens pela urina (Perera et al., 2017). Porém, na maioria dos casos, o diagnóstico é
achado de necropsia ou de procedimentos cirúrgicos, onde é possível observar a
presença do parasita pelas características morfológicas como tamanho, cor e espessura
(Boaventura, 2016). A cirurgia de nefrectomia é o tratamento de escolha, pois não
existem alternativas farmacológicas eficazes para o controle da infecção (Pedrassani et
al., 2009). A prevenção envolve evitar o consumo de peixes e rãs crus, especialmente
em áreas endêmicas (Measures, 2001; Acha & Szyfres, 2003).
O objetivo deste trabalho é relatar um caso de infecção de Dioctophyma renale
em um cão de caça da raça Foxhound Americano, ocorrido no Núcleo Bandeirante,
Distrito Federal.

2. Relato de caso
No dia 03 de julho de 2024, um cão macho, de aproximadamente sete anos, da
raça Foxhound Americano, pesando 24 kg, foi encaminhado em caráter de urgência para
uma clínica veterinária localizada na região administrativa do Núcleo Bandeirante, no
Distrito Federal. No encaminhamento, foi informado pelo médico veterinário que o
animal apresentava a vesícula urinária repleta, sendo realizada uma desobstrução parcial
por meio de sondagem. Também foi informado que o animal apresentava dor
abdominal, presença de parasitas no rim direito e sinais de obstrução em vesícula
urinária, detectado por ultrassonografia abdominal. O encaminhamento indicava a
necessidade de nefrectomia total do rim direito.
Durante a anamnese, foi informado que o ambiente onde vivia o animal consistia
em uma casa com quintal. O tutor informou que o cão era de caça e que era utilizado
para caçar javalis, mas não especificou se essa caça ocorria no DF. Além do contato com
javalis, o animal tinha contato com duas cadelas da raça pitbull, bem como interagia
com outros cães durante as atividades de caça. O ambiente externo permitia o acesso ao
mato, mas não à rua. O animal estava com comportamento ativo, interagindo
normalmente até 3 dias atrás, quando o paciente já não estava conseguindo se alimentar
ou ingerir água normalmente, demonstrando também desconforto abdominal, leve
6

arqueamento das costas e inquietação. A alimentação consistia de ração premium e às


vezes comia comida caseira. Fezes estavam normais quanto à quantidade, odor e
consistência, exceto por uma leve alteração na manhã do dia anterior, quando estavam
mais amolecidas. A urina, por outro lado, apresentava coloração serossanguinolenta e
animal estava com incontinência urinária, demonstrando dificuldade e desconforto ao
urinar. O paciente estava fazendo uso de meloxicam (0,1 mg/kg, via oral, SID, durante 5
dias) e dipirona 500 mg/ml (25 mg/kg, via oral, TID, durante 5 dias). O paciente teve
apenas um episódio de regurgitação na tarde anterior, após a administração da
medicação, e o tutor relatou dificuldades para que o animal tomasse os remédios. Tutor
não tinha conhecimento de possíveis alergias. Quanto à vacinação do paciente, foi
informada que a vacina antirrábica está atualizada, enquanto a vacina múltipla não
estava em dia. A vermifugação estava atrasada e não se fazia controle parasitário.
No exame físico, o animal se apresentava consciente e alerta, embora a postura
indicasse desconforto abdominal, apresentando-se mais retraído, mas ainda interagindo.
O estado nutricional do paciente foi classificado como magro, com escore 2 de condição
corporal numa escala de 1 a 5. A frequência cardíaca aferida foi de 100 bpm e a
respiratória, 20 mpm. Não foram percebidas alterações à auscultação abdominal. O
pulso femoral estava forte, as mucosas ocular e bucal apresentavam-se róseas e
lubrificadas, sem lesões visíveis. O tempo de preenchimento capilar foi de 3 segundos, e
os ouvidos estavam limpos, sem sinais de incômodo ou vermelhidão. A pele apresentava
uma grande quantidade de carrapatos, mas sem lesões. Turgor cutâneo normal. Na
palpação, foi identificado desconforto abdominal, especialmente na região do pênis e da
vesícula urinária. Os linfonodos estavam não reativos e a mucosa do pênis estava
congesta, mas sem secreções. A temperatura corporal do animal foi registrada em
37,9ºC. Em uma rápida avaliação ultrassonográfica abdominal realizada pelo médico
que estava na clínica no momento, foi possível visualizar os vermes no rim, além de
cálculos na uretra e na vesícula urinária, que estava repleta de líquido.
O laudo ultrassonográfico abdominal, feito no dia anterior, fornecido pelo tutor,
listava que a vesícula urinária estava repleta e apresentava sinais de obstrução. A parede
da vesícula urinária estava normal, com conteúdo anecoico, sem sinais de cálculos. No
entanto, uretras abdominal e prostática estavam distendidas, e não foi identificada a
causa da obstrução. No rim direito, foi observada alteração importante, com perda da
morfologia usual e presença de estruturas hiperecoicas tubulares (Figura 2). A próstata
apresentava aumento de volume. Nas alças intestinais, havia um aumento de espessura
das espessuras das paredes intestinais, principalmente no duodeno (0,34 cm), enquanto
o jejuno e o cólon apresentavam aumentos mais discretos (0,15 cm e 0,16 cm,
respectivamente).
A partir desses achados, foi confirmada a suspeita de infecção por Dioctophyma
renale. O tratamento escolhido foi a cirurgia de nefrectomia do rim acometido, pois por
meio da avaliação clínica, física, e visualização do órgão por meio de ultrassom
abdominal, foi constatado que o rim direito já não apresentava função.
7

Figura 2: Imagem ultrassonográfica abdominal do paciente. À esquerda, observa-se o rim esquerdo com
morfologia e ecogenicidade normais. À direita, o rim direito apresenta perda da morfologia usual e
presença de estruturas ecodensas tubulares (seta branca), sugestivas de parasitismo por Dioctophyma
renale. Fonte: Acervo da clínica veterinária.

Exames pré-operatórios foram realizados, incluindo hemograma, perfil


bioquímicos séricos e eletrocardiograma. O eritrograma apresentou anemia normocítica
e nomocrômica (Tabela 1). O leucograma (Tabela 2) revelou leucocitose, neutrofilia
absoluta e eosinofilia absoluta. No perfil bioquímico sérico (Tabela 3), observou-se um
aumento nos níveis de creatinina. Os parâmetros eletrocardiográficos estavam todos
dentro da normalidade para espécie.

Tabela 1 – Eritrograma realizado como exame pré-operatório.


Fonte: Acervo da clínica veterinária.

Eritrograma Resultado Valores de Referência*


Eritrócitos 6
5,94 10 /µl 5,50 a 8,50 106/µl
Hemoglobina 11,80 g/dl 12,00 a 18,00 g/dl
Volume globular 36,70% 37,00 a 55,00%
V.C.M 61,90 fl 60,00 a 77,00 fl
C.H.C.M 32,10% 31,00 a 36,00%
RDW-CV 13,50% 12,40 a 16,30%
Metarrubrícitos 0,0% 0,00 a 2,0%
Proteínas totais 7,5 g/ dl 6,00 a 8,00 g/dl
Contagem plaquetária 220 x 10³/µl 180 a 500 x 10³/µl
Observação série vermelha: anemia normocítica normocrômica.
Avaliação plaquetária: Exame revisto e confirmado por microscopia óptica.
*Laboratório OHV, 2024.
8

Tabela 2 – Leucograma realizado como exame pré-operatório.


Fonte: Acervo da clínica veterinária.

Leucograma Resultado Valores de Referência*


Leucócitos totais 18.700 10³/µl 6.000 a 17.000 10³/µl
Metamielócito 0 /µl 0 µl
Bastonete 0 /µl 0 – 300 /µl
Segmentado 14.586 /µl 3.000 – 11.500 /µl
Linfócito 2.244 /µl 750 – 5.000 /µl
Monócito 561 /µl 180 – 1.700 /µl
Eosinófilo 1.309 /µl 100 – 1.200 /µl
Basófilo 0 /µl 0 – 170 /µl
*Laboratório OHV, 2024.

Tabela 3 – Bioquímico realizado como exame pré-operatório.


Fonte: Acervo da clínica veterinária.

Bioquímico Resultado Valores de Referência*


ALT 40 UI/l 10 – 102 UI/l
Creatinina 2,0 mg/dl 0,5 – 1,5 mg/dl
Fosfatase Alcalina 114 UI/l 10 – 156 UI/l
Ureia 56 mg/dl 15 - 56 mg/dl
*Laboratório OHV, 2024.

Inicialmente, tentou-se realizar sondagem uretral com sonda uretral de número


6, então, foi necessário realizar analgesia, utilizando-se o opioide metadona (0,3 mg/kg,
via intramuscular). Após, foi possível realizar a sondagem e esse procedimento
promoveu desobstrução da uretra e, principalmente, o esvaziamento da vesícula
urinária.
Após isso, foi dado o início do procedimento de nefrectomia. A metadona
previamente utilizada foi a medicação pré-anestésica, e procedeu-se à indução
anestésica por via intravenosa com fentanil (5 mg/kg), lidocaína (2 mg/kg) e propofol (4
mg/kg), seguida por intubação endotraqueal para manutenção com isofluorano 0,8%. O
paciente foi posicionado na mesa em decúbito dorsal, os membros pélvicos e torácicos
foram fixados à mesa, foi realizada tricotomia ampla de toda a região abdominal e
antissepsia prévia com o uso de clorexidina degermante e álcool.
Após realização da antissepsia definitiva, o pano de campo foi posicionado sobre
o paciente e fixado com as pinças Backhaus. Foi realizada a incisão de pele com lâmina
de bisturi número 21. Para acessar o rim acometido, foi realizada a celiotomia pré-
umbilical, seguida de divulsão do subcutâneo com o auxílio de uma tesoura cirúrgica. A
musculatura abdominal foi suspensa com pinças Allis anteriormente à incisão. Após,
fez-se uma breve avaliação dos órgãos do abdômen, partindo para identificação,
exposição e isolamento do rim direito com o uso de compressas.
9

Figura 3: Exposição da bexiga durante procedimento de cistotomia.


Fonte: acervo da clínica veterinária.

Foi certificado que o órgão estava flácido, irregular, apresentando uma


vascularização mais intensa do que a usual. A cápsula renal já não era mais vista tão
claramente, pois havia a formação exagerada de tecido fibroso ao redor deste rim, além
de ainda estar totalmente aderido ao peritônio. Também era possível perceber uma
dilatação na veia e na artéria renal, assim como os vasos da vesícula urinária. A partir
disso, prosseguiu-se à ligadura da veia e da artéria renal, seguida da ligadura do ureter
direito, na região em que se encontra com a vesícula urinária. Em ambas as ligaduras foi
utilizado fio absorvível, monofilamentado, ácido poliglicólico 0. Enfim, ocorreu a
secção dos vasos e do ureter, havendo a remoção completa do rim direito, onde se
encontravam os exemplares de Dioctophyma renale. Na Figura 4, é possível observar os
exemplares retirados do rim.
Após a realização da nefrectomia total do rim direito, seguiu-se à cistotomia para
a retirada dos cálculos urinários. Então, ampliou-se a incisão original caudalmente, foi
feita divulsão do tecido subcutâneo e incisão da musculatura. A seguir, a vesícula
urinária foi localizada, exposta e devidamente isolada com o auxílio de compressas
(Figura 3). As paredes estavam mais espessadas e muito vascularizadas. Foram
realizados pontos de ancoragem (sutura de arrimo) na serosa e muscular da vesícula
urinária. Utilizando-se lâmina de bisturi número 10, a vesícula urinária foi incisada
longitudinalmente na região crânio-ventral e o órgão foi completamente esvaziado
utilizando uma seringa, seguido da remoção dos cálculos (Figura 5). Após, prosseguiu-
se com uma lavagem copiosa da vesícula urinária com o uso de solução fisiológica
0,9% em temperatura ambiente, que serviu para remover os menores cálculos, coágulos
e qualquer outra sujidade. A seguir, foi feita cistorrafia com fio absorvível
monofilamentado 3.0 em dois planos; o primeiro foi um simples contínuo, seguido de
um padrão invaginante, Cushing.
10

Figura 4: Exemplares de Dioctophyma renale removidos do rim direito, sendo, da esquerda para a direita,
uma fêmea e três machos. Nota-se nos machos, uma bolsa copuladora em formato de campânula (setas
brancas). A cápsula renal remanescente do rim afetado também está presente (seta preta).
Fonte: acervo da clínica veterinária.

Figura 5: Cálculos urinários retirados da vesícula urinária do paciente.


Fonte: acervo da clínica veterinária.

Para completar o procedimento, todas as compressas foram retiradas, os órgãos


foram reposicionados em topografia habitual, e foi realizada uma última verificação da
cavidade abdominal. A miorrafia foi realizada fio absorvível Vicryl® 0, envolvendo o
11

peritônio, com padrões Sultan e simples separado. O tecido subcutâneo foi suturado
com fio absorvível Vicryl® 3.0, em padrão Cushing intercalado com simples
interrompido, incluindo a musculatura. Por fim, na pele, foi empregado o padrão Wolff
separado com fio não absorvível Nylon 2.0.
Na tentativa da sondagem uretral anterior à cirurgia foi possível perceber uma
certa resistência; presumiu-se que fosse devido à presença de cálculos na uretra, e esta
sondagem foi mantida até o dia posterior à cirurgia, quando o paciente já estava
conseguindo urinar normalmente.
No pós-operatório, o paciente recebeu metadona (0,1 mg/kg, via subcutânea,
TID), metronidazol (15 mg/kg, via intravenosa, BID), hidrocortisona (5 mg/kg, via
intravenosa, SID), ceftriaxona (25 mg/kg, via intravenosa, BID) e dipirona (25 mg/kg,
via intravenosa, TID). A indicação foi de que o paciente fosse mantido internado e
sondado por mais dias e até completar a terapia medicamentosa e recuperação, porém, o
responsável optou por retirá-lo no dia posterior ao procedimento, 04 de julho de 2024.
Então, foi receitado para casa Gaviz® V 20 mg (omeprazol, 1 mg/kg, via oral,
SID, durante 14 dias, com início para a manhã do dia seguinte), amoxicilina 875mg +
clavulanato de potássio 125 mg (20mg/kg, via oral, BID, durante 14 dias), Prediderm®
20 mg (prednisolona, 4 mg/kg, via oral, SID, durante 5 dias), dipirona 500 mg/ml (25
mg/kg, via oral, TID, durante 5 dias). O retorno foi marcado para o dia 17/07/2024, para
retirada de pontos e novos exames complementares, incluindo urinálise, análise de
cálculo urinário para determinar a composição dos cálculos, exame parasitológico para
identificação dos vermes, além da repetição do hemograma, bioquímico e ultrassom. No
entanto, o tutor do paciente se negou a realizar esses exames.
No dia 08/07/2024, tutor relatou por mensagem de texto, que o paciente estava
se recuperando muito bem, urinando normalmente, e que estava fazendo os curativos
corretamente. No dia 15/07/2024, tutor relatou que retirou os pontos por conta própria, e
que deu tudo certo. Relatou que a ferida estava muito bem cicatrizada. Também mandou
um vídeo do paciente, que aparentava estar bem.
No dia marcado para o retorno, o paciente não compareceu. No dia 27/07/2024 o
tutor relatou que o paciente estava muito bem e perguntou quando o paciente poderia
correr e voltar às atividades normais. Foi indicado que o paciente poderia retomar
atividades moderadas no dia 07 de agosto de 2024, cinco semanas após a realização do
procedimento.

3. Discussão e conclusão
A dioctofimatose, ou infecção por D. renale, é particularmente comum em cães
que têm hábitos alimentares pouco seletivos, visto que o parasita é altamente adaptável
e permanece em ambientes silvestres; assim, entende-se que cães errantes estão mais
suscetíveis à infecção, reforçando a necessidade de controle populacional e cuidados
adequados (Alves et al., 2007). Além disso, a possibilidade de transmissão ao longo da
cadeia alimentar entre hospedeiros paratênicos e definitivos destaca as implicações de
saúde pública relacionadas ao manejo de cães em áreas urbanas, onde podem ter acesso
a fontes de infecção em ambientes diversos (Costa et al., 2011; Rocha, 2017). No
presente caso relatado, o animal agia como cão de caça e tinha contato com javalis;
assim, o cão não apenas estava em contato com o habitat onde esses parasitas podem ser
encontrados, mas também aumenta o risco de ingestão acidental de larvas ou formas
infectantes que podem estar presentes em presas ou em ambientes contaminados.
O parasita Dioctophyma renale pode ser encontrado em diversas partes do corpo,
como rins, cavidades abdominal e torácica, ureteres, bexiga e tecido subcutâneo,
dependendo do ponto de entrada da larva infectante (Kommers et al., 1999; Zabott et al.,
12

2012; Rocha, 2017). Geralmente, a localização mais comum do parasita adulto é o rim
direito, devido à proximidade com o duodeno, afetando com maior frequência essa
região durante a migração larval (Zabott et al., 2012; Kommers et al., 1999).
Normalmente, apenas um rim é acometido, o que resulta em hipertrofia compensatória
do rim saudável para suprir a função do rim afetado (Leite et al., 2005). No caso
relatado, embora o parasita estivesse no rim direito, conforme esperado na literatura, o
ultrassom revelou que o rim esquerdo mantinha tamanho normal (4,16 cm) e
características usuais, sem sinais de hipertrofia compensatória, o que foi inesperado.
Embora seja possível encontrar três ou mais vermes em um único rim, muitas
vezes ocorre a presença de apenas um (Taylor et al., 2010; Rocha, 2017). Há um relato
de um cão que foi infectado por trinta e quatro exemplares de D. renale, dos quais sete
estavam localizados no rim direito, que se encontrava significativamente aumentado e
com o parênquima renal comprometido; os demais vinte e sete vermes foram
observados livres na cavidade abdominal, a qual apresentava uma quantidade
considerável de fibrina (Monteiro et al., 2002). Em um estudo realizado com 28 cães em
Uruguaiana – RS, foi observada a presença do parasito no rim direito, em meio ao
exsudato hemorrágico, além de parasitos livres na cavidade abdominal, no tecido
subcutâneo da região inguinal e do flanco esquerdo, dentro de um cisto caudal ao rim
direito, com o número de parasitos variando de 1 a 24 exemplares, entre machos e
fêmeas (Silveira et al., 2015; Souza et al., 2019). No caso relatado, a presença de quatro
exemplares no rim direito sugere uma infecção significativa. Essa situação é consistente
com o que foi observado em estudos anteriores, nos quais múltiplos vermes foram
encontrados no rim direito, frequentemente acompanhados de exsudato e complicações
associadas.
A severidade da lesão depende do número de parasitas que afetam o rim, da
duração da infecção, do número de rins envolvidos e da presença ou ausência de doença
renal concomitante (Monteiro et al., 2002; Kano et al., 2003; Sousa et al., 2011; Souza
et al., 2019). As lesões mais comumente descritas são destruição e atrofia do
parênquima renal e degeneração significativa do tecido funcional do rim, acompanhadas
de glomerulonefrite esclerosante, uma alteração que reflete a inflamação e a cicatrização
do glomérulo, afetando assim a capacidade do rim de filtrar adequadamente os resíduos
do sangue (Silveira et al., 2015; Mascarenhas et al., 2019). Além disso, também se
observa fibrose periglomerular, fibrose e atrofia dos túbulos renais, espessamento da
cápsula renal, e presença do parasita no interior do órgão, acompanhada de líquido
purulento e sanguinolento, ovos, hemácias, células destruídas e leucócitos (Mascarenhas
et al., 2019). No presente caso, externamente notou-se que o rim direito estava com
aspecto hipertrófico e desfigurado; porém, ao corte do mesmo, percebemos acentuada
perda do parênquima, restando praticamente somente a cápsula renal espessada (Figura
4).
As alterações histológicas incluem tecido conjuntivo fibroso no parênquima
renal, glomérulos e túbulos atrofiados, infiltrado inflamatório mononuclear intersticial,
e hiperplasia do epitélio de transição da pelve (Andrade et al., 2022; Pereira et al.,
2023). A análise histológica é recomendada pois permite uma avaliação detalhada das
alterações microscópicas nos tecidos afetados, contribuindo para a confirmação do
diagnóstico e uma melhor compreensão da extensão e do tipo de lesões causadas pelo
parasita. Porém, neste caso a análise histológica não foi realizada, não sendo possível
caracterizar se as lesões seriam compatíveis com os relatos da literatura.
O parasita se nutre através da ingestão do parênquima renal e do sangue
proveniente das lesões que ele mesmo provoca (Bach, 2016). Com a ação de enzimas
proteolíticas e lipolíticas liberadas por suas glândulas esofágicas, ele causa uma
13

destruição progressiva da medular e cortical renal, levando a uma dilatação da pelve e


necrose de coagulação nos locais atingidos (Bach, 2016). Com a destruição do tecido
renal, sintomas como hematúria, dor abdominal, relutância em caminhar, poliúria,
polidipsia, anorexia, e outros sinais podem surgir (Lima, 2016). Os sinais clínicos
observados no paciente deste relato, como dor abdominal, hematúria e dificuldade para
urinar, são indicativos de inflamação e possível insuficiência renal.
Nos exames complementares de sangue, o paciente apresentou anemia
normocítica e normocrômica, que pode ser atribuída a diversos fatores, incluindo
hemorragias crônicas ou doenças infecciosas (Stockham & Scott, 2011). O leucograma
revelou leucocitose, neutrofilia absoluta e eosinofilia absoluta, que sugere uma resposta
inflamatória ou infecciosa, que pode estar associada ao parasitismo renal (McGavin &
Zachay, 2013). O aumento nos níveis de creatinina foi observado no perfil bioquímico
sérico, indicando uma diminuição na função renal (Verocai et al., 2009).
O diagnóstico de Dioctophyma renale pode ser realizado por necropsia ou como
achado incidental em procedimentos cirúrgicos, com identificação baseada em
características morfológicas, como tamanho, estrutura, cor e espessura (Fortes, 2004;
Taylor et al., 2010; Rocha, 2017). Em casos de suspeita, um exame parasitológico de
urina pode revelar ovos característicos, isolados ou em aglomerados, e, raramente,
vermes jovens eliminados pela urina (Leite et al., 2005; Venkatrajaiah et al., 2014; Lima
et al., 2016). Relatos raros, como o de Perera et al. (2017), documentaram a eliminação
de vermes adultos pela urina, evidenciando a variabilidade dos achados diagnósticos.
Seus ovos são elípticos, de cor amarelo-acastanhada, bioperculados (Figura 6), e
medem 71-84 x 46-52 µm (Fortes, 2004; Taylor et al., 2010; Rocha, 2017). A presença
destes ovos na urina dos hospedeiros é um indicativo desta infecção e pode auxiliar na
confirmação do diagnóstico, especialmente em casos nos quais os sinais clínicos são
sutis ou não evidentes (Rocha; 2017). Estes ovos também podem ser identificados em
fluido ascítico em casos de parasitos na cavidade abdominal (Measures, 2001; Lima et
al., 2016). No caso do paciente estudado, esse exame não foi realizado devido à decisão
do tutor em não autorizar o procedimento. A ausência desse exame limita a confirmação
laboratorial da infecção, que poderia fornecer evidências diretas da presença dos ovos
ou dos vermes jovens na urina do animal.

Figura 6: Ovos de Dioctophyma renale encontrados no sedimento urinário de paciente canino (aumento
200X). Fonte: Hospital Veterinário-UFPel, 2015. Arquivo fotográfico do PRODiC.
https://wp.ufpel.edu.br/prodic/

Alternativamente, pode-se utilizar exames de diagnóstico por imagem, como


estudo ultrassonográfico abdominal com ênfase na avaliação de estruturas renais, ou
14

avaliação radiográfica abdominal (Lima et al., 2016). No entanto, a ultrassonografia é


considerada uma ferramenta mais específica e eficaz, comumente utilizada e leva à
descoberta de numerosos casos de infecção (Cottar et al., 2012).
Nos casos de infecção por D. renale no rim, a ultrassonografia permite observar
as eventuais modificações na forma do órgão causada pela presença de parasitas no
interior (Silveira et al., 2015; Souza et al., 2019; Silva, 2022). No exame de
ultrassonografia renal, observam-se estruturas circulares hipoecogênicas menores
cercadas por áreas circulares hiperecogênicas, além de camadas lineares hipoecogênicas
que são limitadas externamente por camadas lineares ecogênicas; todas essas estruturas
são envolvidas por uma cápsula ecogênica, formando uma imagem característica de
parasitismo (Rocha, 2018). No presente caso relatado, o diagnóstico foi estabelecido
com uso de ultrassonografia abdominal. O rim esquerdo apresentou características
normais, enquanto o rim direito mostrou perda de morfologia usual e a presença de
estruturas ecodensas tubulares, que são sugestivas de parasitismo por Dioctophyma
renale.
O laudo do animal relatado, indicou uma bexiga repleta, com sinais de
obstrução, necessitando também de uma cistotomia que foi realizada no paciente. A
formação de cálculos na vesícula urinária pode estar relacionada à perda de função do
rim direito, identificada por meio da ultrassonografia abdominal. Quando um rim
apresenta comprometimento funcional, como a não filtração, a capacidade do organismo
de regular o equilíbrio de fluidos e eletrólitos é prejudicada, resultando em alterações na
composição da urina que podem predispor à formação de cálculos urinários (Lima et al.,
2016).
Considerando-se que a proximidade anatômica entre o duodeno e o rim direito
contribui para que a maioria das infecções ocorra nesse órgão (Barriga, 2002; Fortes
2004; Alves et al., 2007; Ishizaki et al., 2010a), o leve aumento de espessura observado
nas alças intestinais, especialmente no duodeno, pode estar relacionada à inflamação
local gerada pela presença do parasita na sua migração, confirmando a importância de
se atentar a possíveis repercussões em órgãos adjacentes durante o diagnóstico por
imagem.
No que diz respeito ao controle dessa parasitose, é sabido que vários fatores são
essenciais para o desenvolvimento de cada uma das fases de vida do parasito,
possibilitando a conclusão de seu ciclo: hospedeiro definitivo (mamífero vertebrado,
geralmente carnívoro), meio aquático onde os ovos se desenvolvem, hospedeiro
intermediário e hospedeiros paratênicos (Anderson, 2000; Ishizaki et al., 2010; Lima et
al., 2016). Portanto, um dos métodos de controle recomendados é evitar o consumo de
peixes, rãs e sapos crus ou mal-cozidos (Measures, 2001; Acha & Szyfres, 2003). A
infecção pelo parasito é endêmica principalmente em regiões do Sul do Brasil, com
prevalência significativa na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul e na cidade de
Pelotas, onde há alta exposição de cães errantes a corpos d'água, ambiente favorável
para o ciclo do parasito (Braga et al., 2017; Perera et al., 2017).
O Distrito Federal não é considerado uma região endêmica para dioctofimose e
até 2020, não havia ocorrências documentadas de casos autóctones (Barros et al., 2022).
Entretanto, Barros et al. 2022 descreve um relato de caso de uma cadela da raça Pitbull,
de 7 meses, residente em Candangolândia, DF, diagnosticada com Dioctophyma renale,
que segundo o tutor, o animal tinha acesso a córregos na região, embora não se saiba se
a infecção ocorreu nessas áreas ou se o animal foi alimentado com material infestado,
podendo ser o primeiro caso de dioctofimose autóctone do estado. No presente estudo, o
animal caçava javalis, uma prática permitida e regulamentada pelo IBAMA (Instrução
Normativa Nº 3, de 31 de janeiro de 2013, Artigo 2º, § 9º), podendo ter ingerido
15

material infestado durante a caça, especialmente considerando o comportamento da


raça, que segundo Brown, 2024, uma uma característica comportamental da raça
Foxhound Americano, descrita no presente caso, é a baixa seletividade alimentar.
Entretanto, o tutor não especificou se essa caça ocorre no Distrito Federal, o que
dificulta a determinação da origem da parasitose.
Com base nas informações discutidas ao longo do trabalho e no caso relatado de
um cão da raça Foxhound em Brasília com D. renale, destaca-se a importância de
considerar diagnósticos diferenciais para animais que apresentam hematúria, mesmo em
regiões não endêmica para a dioctofimose.
O presente caso relatado, destaca a necessidade de investigações
epidemiológicas na região do Distrito Federal. Tendo em vista a importância deste
achado para a saúde pública, uma vez que a doença pode afetar seres humanos, é
essencial aprofundar o conhecimento sobre o ciclo de vida e a epidemiologia do parasita
para desenvolver e aplicar medidas de prevenção e controle eficazes.
A análise clínica, associada ao exame de imagem, foi crucial para a identificação
da doença e para a decisão terapêutica, revelando a importância da abordagem adequada
para parasitoses como a dioctofimose, que deve ser incluída como diagnóstico
diferencial para animais que apresentam alterações urinárias, mesmo em regiões não
endêmicas. Com base nas informações apresentadas, destaca-se a importância do caso
relatado.

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20

AGRADECIMENTOS

Prezados familiares, amigos e colaboradores,


Gostaríamos de agradecer à Deus, que iluminou os meus caminhos ao longo
desta trajetória.
Aos nossos pais, Vanderlei Alves de Borba, Alessandra de Farias,
Alessandro Elesbão de Oliveira, Wesliane Aparecida Duarte Rodrigues, por
todo o apoio e incentivo durante todo o curso, pela educação e por todos os
princípios passados.
Ao Bruno Martins Feitosa, pelo companheirismo em todos os momentos,
pela paciência, apoio e incentivo durante todos esses anos.
Ao Lucas Gabriel Dantas Braga, por todos ensinamentos, apoio e incentivo
durante o curso.
Agradecemos nossa orientadora Clarissa Machado de Carvalho, sua
dedicação como professora e sua maneira envolvente e clara de ministrar as
aulas é insipiradora. Sua paciência, ajuda e incentivo foram essenciais
durante todo o processo de confecção do trabalho de conclusão de curso.

Agradecemos profundamente a todos os nossos amigos, que, de diversas


formas, contribuíram para o nosso crescimento pessoal e acadêmico.

Gostaríamos de agradecer ao Hospital Veterinário Público de Taguatinga


(HVEP), por ter nos acolhido durante esses últimos meses de graduação.

“A Medicina cura o homem, a


Medicina Veterinária cura a
humanidade.”
- Louis Pasteur

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