Relações de Recorrência - Matemática Discreta
Relações de Recorrência - Matemática Discreta
Relações de Recorrência - Matemática Discreta
D E PA RTA M E N TO D E M AT E M T I C A
Relaes de Recorrncia
por Eliane Alves de Jesus Elisa Fonseca Sena e Silva
1 2
Relaes de Recorrncia
Monogra a apresentada ao Instituto Nacional de Matemtica Pura e Aplicada, IMPA, como proposta de apresentao de trabalho nas Jornadas de
Iniciao Cient ca. Estudo feito sob orientao de Bernardo Nunes Borges de Lima.
Resumo
importante saber como lidar com relaes de recorrncia, uma vez que so muito comuns no s na Matemtica como tambm em Computao, na construo de algoritmos. No entanto, dada uma relao recorrente se quisermos saber seu n-simo termo, teremos que calcular os n 1 anteriores, o que no interessante na prtica. A procura de uma forma fechada para a soluo de tais relaes o tema desta monogra a. Relaes de recorrncia esto intimamente relacionadas com somas; e algoritmos recursivos podem ser melhorados atravs da introduo de pisos e tetos, logo tais assuntos tambm sero abordados, bem como a descoberta de formas fechadas em representao binria. Dentre os problemas estudados esto Torre de Hani e o Problema de Josefus.
Introduo
Uma equao tem carter recursivo quando de nida em termos dela prpria, ou seja, quando encontrar a soluo de um determinado valor de n signi ca ter que calcular as solues de todos os valores anteriores a esse n. importante saber como lidar com essas relaes de recorrncia, j que so muito comuns. Na Matemtica, por exemplo, podemos encontrar a idia de
0! n!
= =
1; n.(n 1)!, n
> 0.
ou em assuntos mais so sticados, como a construo dos nmeros naturais a partir dos axiomas de Peano. Outro exemplo clssico de relao de recorrncia o algoritmo de Euclides para o clculo do mximo divisor comum: mdc(0, n) mdc(m, n)
= =
> 0.
F0 F1 Fn
= = =
1; 1; Fn2 + Fn1 , n
> 1.
Muitos algoritmos so baseados em relaes recorrentes e problemas combinatrios considerados difceis primeira vista podem ser resolvidos mais facilmente se escritos na forma de relaes de recorrncia. Estas, como vimos nos exemplos anteriores, geralmente so dadas por um conjunto de equaes
vi
contendo um valor inicial e outra equao para o valor geral em termos dos anteriores. Isso signi ca que, se quisermos saber o n-simo termo de uma seqncia dada por uma relao recorrente, teremos que calcular os n 1 termos anteriores, o que, na prtica, no nada interessante, especialmente para n grande. Ento, o mais natural que encontremos uma forma fechada para a relao de recorrncia, ou seja, uma soluo que no dependa dos termos anteriores, mas somente do valor de n. A procura de uma forma fechada para diversas relaes de recorrncia o tema dos captulos que seguem.
formando quatro regies. Escolheremos esta ltima opo, uma vez que queremos que Ln seja o maior possvel. A partir desse caso, percebemos que, ao acrescentar uma reta s n 1 previamente existentes, a n-sima reta deve interceptar todas as anteriores, de forma a conseguirmos a maior quantidade de regies de nidas por n retas no plano.
L0
=1
L1
=2
L2
=4
Retornando anlise de casos menores, ao acrescentarmos a terceira reta, percebemos que ela s pode interceptar trs das quatro regies existentes, independente da posio das duas primeiras retas.
Portanto, L3
L2
Com esses casos menores em considerao, vamos generalizar o raciocnio. Ao posicionar a n-sima reta acrescentaremos k regies se, e somente se, tal reta dividir k regies previamente existentes, o que ocorre se, e somente se, interceptar em k 1 pontos as retas anteriores. Como duas retas podem se interceptar em, no mximo, um ponto, temos que a n-sima reta pode interceptar as n 1 anteriores em, no mximo, n 1 pontos, criando n regies novas. Sendo k encontramos um limite superior:
n,
Ln
Ln1
> 0.
Para que se consiga o nmero mximo de regies, como discutido previamente, a n-sima reta acrescida no deve ser paralela a nenhuma das outras anteriormente existentes. Alm disso, se colocarmos a reta de forma que no passe por nenhum dos pontos de interseco anteriores atingiremos a igualdade nessa frmula, uma vez que a nova reta intercepta todas as n 1 anteriores em n 1 pontos distintos, caracterizando a criao de n novas regies. Logo, obtivemos a seguinte relao de recorrncia:
L0 Ln
= =
1 Ln1
para n
> 0.
(1.1)
Ln
= = = = =
n n n
+ (n 1) +
+ (n 2) + (n 1) + + ,
+ . . . + (n 2) + (n 1) + =
1
Sn
onde Sn
+ . . . + (n 2) + (n 1) + n.
Encontraremos a soma Sn dos n primeiros inteiros positivos a partir do seguinte truque (aparentemente inventado por Gauss em 1786, quando tinha nove anos):
Sn
+ Sn
2Sn
= 1 + 2 + 3 + + (n 1) + n = n + (n 1) + (n 2) + + 2 + 1 = (n + 1) + (n + 1) + (n + 1) + + (n + 1) + (n + 1)
n vezes
Basta somar Sn consigo mesmo, mas com os termos na ordem inversa, de forma que cada uma das n parcelas direita do sinal de igualdade seja igual a n + 1. Logo, Sn n(n + 1) 2
para n
0.
(1.2)
Ln
+ 1,
para n
0.
(1.3)
Para veri car se a soluo est realmente correta, vamos provar por induo: o primeiro passo trivial, pois L0
0.1 2
1.3 vlida para n 1, basta mostrar que a mesma vale para n. De fato: 1 2 1 2
Ln
Ln1
(n 1)n +
n(n + 1)
+ 1.
Relaes de recorrncia similares a 1.1 so comuns em diversas aplicaes. Para achar a forma fechada para relaes semelhantes a Ln , passamos por trs etapas: 1. Analise a soluo de casos simples e procure perceber o padro do problema. 2. Generalize a soluo do problema, encontre uma relao de recorrncia e prove sua validade. 3. A partir da relao de recorrncia, encontre a forma fechada da soluo e demonstre sua validade.
Vamos colocar nosso mtodo em prtica em outro problema geomtrico: qual o nmero mximo Pn de regies tridimensionais que podem ser de nidas por n planos diferentes? Comeando pelos casos menores: naturalmente, P0
1, quando h um
plano seccionando o espao temos duas regies. Sabemos pelo exemplo anterior que o novo plano no pode ser paralelo aos antigos, logo o segundo plano acrescido deve interceptar o anterior, dividindo as duas regies anteriores, fazendo com que P2 de forma que P3
=
8.
P1
=2
P2
=4
P3
=8
2 , contudo ao acrescentar o
quarto plano percebemos que no essa a forma fechada que procuramos. Para que possamos visualizar melhor o problema, vamos imaginar que temos os trs planos coordenados xy, yz e xz do sistema cartesiano. Ao traar o quarto plano, conforme a gura abaixo, teremos trs retas formadas da interseco
deste com os planos coordenados. As regies determinadas por essas retas no plano acrescido dividem as antigas regies tridimensionais, gerando sete novas regies no espao. Logo, teremos P4
15.
Note que ao acrescentar um plano temos que nos assegurar de que este no contenha nenhuma das retas de interseo j existentes. Sem esquecer-
se desse aspecto e observando os casos menores, chegamos generalizao apropriada. O n-simo plano intercepta os n 1 planos antigos em n 1 retas distintas, que o dividem em Ln1 regies. O plano, por sua vez, divide o espao em Ln1 novas regies. Encontramos, portanto, a nossa relao de recorrncia:
P0 Pn
= =
1; Pn1
Ln1 ,
1.
(1.4)
Podemos partir em busca da forma fechada para 1.4. Como esse foi um problema similar ao anterior (at as suas relaes de recorrncia se parecem), vamos resolv-lo analogamente, expandindo 1.4:
Pn
= = = = = = =
+ + +
+ +
Ln1 Ln2
Ln1
L0
+
Lk ,
L1
+ +
Ln3
Ln2
Ln1
n1
+ +
k=0 n1
como sabemos Ln
n(n + 1) 2
+ 1,
temos que
k=0
k(k + 1) 2
Pn
= = =
+ + +
1 2
1 2
n1
k=0
k(k + 1)
n1 k=0 2
n1
+ + +
k=0
1 1 1.
1 2
n1
(k
+
n1
+ k)
1 2
n1
k=0
k=0
k=0
n1
k=0
O ltimo somatrio simplesmente o nmero de parcelas a serem somadas quando k vai de zero a n 1, ou seja, n. O penltimo somatrio j foi calculado anteriormente: a soma dos n 1 primeiros inteiros positivos, representada por 1.2 com n no lugar n 1. No entanto, o primeiro somatrio representa uma relao de recorrncia que calcularemos apenas na seo 2.1, mas
n 2 k k=1
n(n+
1 2
)(n+1)
para no
car-
Pn
= = = =
+ + + +
(n 1)(n 1 )n 2
3
1 (n 1)(n 2 )
1 2
(n 1)n
2
6 2n
2
n1 4
3n + 1 + 3n 3 + 12
12
n(n
+ 5)
para n
0.
(1.5)
Encontramos a forma fechada de 1.4, falta demonstrar sua validade. O primeiro passo da induo bsico: P0
0(0+5) 6
Pn
= = = = =
Pn1 1
Ln1
+ (n 1) + + +
n n
3
(n 1)2 + 5
6
n(n 1) 2
1 1 1
3n2 + 8n 6 + 3n2 3n + 6
6
+ 5n
6
2
n(n
+ 5)
Para que no achemos que todas as relaes de recorrncia so resolvidos ao expandir a equao principal, vamos a um outro exemplo: o Problema de Josefus. Conta a lenda que um historiador famoso do primeiro sculo, Flavius Josefus, estava encurralado pelos romanos em uma caverna, juntamente com 11 rebeldes judeus, durante uma guerra entre judeus e romanos. O grupo de rebeldes, preferindo o suicdio captura, decidiu formar um crculo e, contando ao longo deste, matar cada terceira pessoa restante at no sobrar ningum.
Contudo Josefus, junto com um amigo, no queria participar do pacto suicida, e calculou rapidamente onde ele e o amigo deveriam car nesse crculo.
Vamos estudar uma variao desse problema: sabendo que h n pessoas numeradas de 1 a n em um crculo, eliminaremos cada segunda pessoa restante at sobrar um nica pessoa. Estamos interessados em calcular J (n), o nmero do sobrevivente. Para entendermos melhor a questo veremos o que acontece quando n
= 12.
Uma vez entendido o problema, vamos analisar os exemplos com valores pequenos: n J (n) 1 1 2 1 3 3 4 1 5 3 6 5
Observamos que J (n) sempre mpar, o que coerente com o problema, uma vez que, como foi observado para n todos que possuem nmero par. Vamos supor ento que temos 2n pessoas originalmente. Depois da primeira volta, em que eliminamos todos os pares, camos com:
= 12,
Chegamos a uma situao semelhante que comea com n pessoas, exceto que cada pessoa tem seu nmero dobrado e diminudo de 1, ou seja, J (2n)
2J (n)
1,
1.
No caso mpar, supondo que temos 2n + 1 pessoas, a pessoa de nmero 1 eliminada logo aps a 2n, restando novamente n pessoas que, desta vez, tiveram seus nmeros dobrados e aumentados de 1.
Logo,
J (2n + 1)
2J (n)
+ 1,
1.
Combinando estas equaes com sua condio inicial, chegamos nossa relao de recorrncia: J (1) J (2n) J (2n + 1)
= = =
1; 2J (n) 2J (n)
1, + 1,
para n para n
1; 1.
(1.6)
A partir desta relao de recorrncia podemos construir a seguinte tabela para valores pequenos de n: n J(n) 1 1 2 1 3 3 4 1 5 3 6 5 7 7 8 1 9 3 10 5 11 7 12 9 13 11 14 13 15 15 16 1
Percebermos que a cada potncia de 2 em n formado um grupo que sempre se inicia com J (n) em 2 dentro desse grupo. 2
m
+ l) =
2l
+ 1,
e 0
l 2m ,
(1.7)
10
Agora, temos que provar a validade de 1.7. Vamos fazer a induo em m: quando m
= 0, temos l = 0, logo o primeiro passo da induo nos d J (1) = 1, > 0, 2m + l = 2n e, pela segunda
o que verdade. Vamos dividir a segunda etapa da induo em duas partes: quando l par ou mpar. Se l par, como m
+ l) =
2J (2
m1
+ l /2)
n
= 2(2l /2 + 1)
2l
+ 1.
2n
Se l mpar, como m
J (2
+ l) =
2J (2
+
n
l 1 2
)+
= 2(2
l 1 2
+ 1) +
2l
+ 1.
2n+1
O problema consiste em passar todos os discos de um pino para outro qualquer, usando um dos pinos como auxiliar, de maneira que um disco maior nunca que em cima de outro menor.
11
Lucas anexou ao jogo uma lenda: no comeo dos tempos, Deus criou a Torre de Brahma, que continha trs pinos de diamante e colocou no primeiro pino 64 discos de ouro macio. Deus ento chamou seus sacerdotes e ordenoulhes que transferissem todos os discos para o terceiro pino, seguindo as regras acima. noite. Os sacerdotes ento obedeceram e comearam o seu trabalho, dia e Se e quando eles terminarem, a Torre de Brahma ir ruir e o mundo
acabar. Suponha que so dados n discos e seja Tn o nmero mnimo de movimentos que permite a transferncia desses n discos de um pino para outro segundo as regras de Lucas. A melhor maneira de resolver problemas como esse generalizar um pouco, mas para isso vamos comear analisando os casos menores: temos que T0
= 0, T1 = 1 e T2 = 3.
A resoluo para T3 nos d uma idia da generalizao adequada. Primeiro movemos o menor disco para outro pino e o disco mdio para o terceiro pino. Em seguida, como precisamos mover o maior disco, temos que deixar um pino vago e o nico jeito de faz-lo colocando o disco menor no mesmo pino do mdio. Agora, basta mover o disco grande para o pino vazio, em
seguida, colocar a torre de dois discos sobre o disco maior, fazendo com que T3
= 2.T2 + 1 = 7.
dada a torre com n discos, temos que mover a torre com n 1 discos para um outro pino, em seguida mover o n-simo disco e depois colocar a torre de n 1 discos sobre o disco maior. Logo, com 2Tn1 + 1 movimentos resolvemos nosso quebra-cabea. Tn
2Tn1 + 1.
(1.8)
No entanto, percebe-se que movemos a torre com n discos se, e somente se, mudamos o n-simo disco de pino, o que ocorre se, e somente se, houver um pino vago, ou seja, se e somente se, os n 1 discos menores estiverem todos em um pino. Para obter tal con gurao, foi necessrio, no mnimo, Tn1 movimentos, que tambm a quantidade mnima necessria para colocar a torre de n 1 discos sobre o n-simo disco, aps ter movido este de pino. Ento,
Tn
2Tn1 + 1.
(1.9)
12
Portanto, a partir de 1.8 e 1.9 obtivemos uma igualdade e encontramos a relao de recorrncia que procurvamos:
T0 Tn
= =
0; 2Tn1 + 1, n
1.
(1.10)
Vamos primeiro generalizar a relao de recorrncia. O que aconteceria se o problema tivesse produzido uma relao de recorrncia parecida com 1.10 mas com constantes distintas? Tentaremos encontrar a forma fechada para a relao de recorrncia mais geral: f (0) f (n)
= ; =
2 f (n 1) + , n
1.
(1.11)
Comeando com f (0) = e calculando progressivamente possvel construir a seguinte tabela: n 0 1 2 3 4 5 Parece que o coe ciente de escrever f (n) da seguinte forma: f (n) f (n)
2 + 4 + 3 8 + 7 16 + 15 32 + 31 2n
e o de
2n 1.
Portanto, podemos
= A(n) + B(n)
(1.12)
= =
2 2
n n
, 1.
13
Ao invs de provar isso por induo tentaremos um forma alternativa de chegar aos mesmos resultados. Como a relao de recorrncia vale para quaisquer
e , podemos escolher em particular = 1 e = 0 em 1.12, obtendo f (n) = A(n) e substituindo esse resultado em 1.11 chegamos seguinte relao:
A(0) A(n)
= =
1, 2A(n 1).
= 2n .
Agora vamos usar a relao de recorrncia 1.11 e a soluo 1.12 na ordem contrria, comeando com uma uma funo simples f (n) e procurando constantes
e que a de
= 1 em 1.11
temos que:
1 1
= , =
2.1 + .
= 1, logo no precisamos provar por induo que estes parmetros nos do f (n) = 1. J sabemos que f (n) = 1 uma soluo neste caso pois a relao de recorrncia 1.11 de ne de maneira nica f (n) para todos os valores de n. Logo, ao substituir tais valores em 1.12, sem esquecer que f (n) = 1, obteremos A(n) B(n) = 1. Portanto, mostramos que as funes A(n) e B(n) em 1.12, que resolvem
Estas equaes so vlidas para todo n quando e 1.11, satisfazem as equaes: A(n) A(n) B(n) Ao resolver estas equaes, obtemos B(n)
=1
= =
1.
= 2n 1.
Agora que j resolvemos a generalizao do nosso problema, para voltar a ele basta substituir
Tn
= 2n 1.
(1.13)
14
1. Generalizar a relao de recorrncia; 2. Achar valores de parmetros gerais para os quais conhecemos a soluo; 3. Compilar uma lista de casos particulares que podemos resolver; 4. Obter o caso geral combinando os casos particulares.
Para compreendermos melhor o mtodo, vamos agora resolver a seguinte relao de recorrncia hipottica:
S0 Sn
= =
a0 ; Sn1 + an , n
1.
(1.14)
Supondo que an igual a uma constante mais um mltiplo de n, a relao de recorrncia 1.14 pode ser reescrita da seguinte forma:
R0 Rn
= , =
Rn1 + + n, para n
> 0.
(1.15)
= + + ,
forma geral
(1.16)
onde A(n), B(n) e C (n) so os coe cientes de dependncia nos parmetros gerais
, e .
15
Segundo o mtodo de compilao, devemos tentar colocar funes simples de n no lugar de Rn , com o objetivo de encontrar parmetros constantes em que a soluo particularmente simples. Ao tomar Rn
, e
= 1 em 1.15, temos
1 1
= , =
e 1 + + n, para n
> 0,
= 1, = 0,
= 1. = n em 1.15 teremos
0 n
Escolhendo Rn
= , =
n 1 + + n, para n
> 0,
= 0, = 1 , B(n) = n.
donde Ao escolher Rn
= 0,
0 n
2
> 0,
= 2, an = 5n + 7,
2
= 2, = 7 e = 3. A soluo dessa relao de recorrncia seria n +n Sn = A(n).2 + B(n).7 + C (n).3, ou seja, Sn = 1.2 + n.7 + .3 = 3n +17n+4 . 2 2
16
= (bm bm1 . . .
b1 b0 )2 ,
isto ,
= bm 2m + bm1 2m1 + + b1 2 + b0 ,
onde bm
= 1 e bi = 0, 1.
Lembrando que n
= 2m + l, temos sucessivamente,
b1 b0 )2 b1 b0 )2
n l 2l 2l + 1 J (n)
= (1 bm1 bm2 . . . = (0 bm1 bm2 . . . = (bm1 bm2 . . . = (bm1 bm2 . . . = (bm1 bm2 . . .
= 1 e J (n) = 2l + 1,
...
b1 b0 )2 )
= (bm1 bm2 . . .
b1 b0 bm )2 .
ou seja, obtemos J (n) de n fazendo uma translao cclica para a esquerda de um dgito binrio. Vamos agora generalizar o Problema de Josefus da seguinte forma j (1) j (2n) j (2n + 1)
= , = =
2 j (n) + , 2 j (n) + , n n
1, 1,
(1.17)
17
Tomando
0 =
1 = ,
podemos
= , =
2 j (n) + k , para k
= 0, 1 e n 1.
j ((bm bm1
...
b1
b0
)2 ) = = = = =
... ...
b1 ) + b0 b2 ) + 2b1
+ b
j ((bm )2 ) + 2
m1
m1
+ + 2b + b
1 1 0
+ 2m1 b
m1
+ + 2b + b .
Suponha que modi quemos agora a notao em base 2 permitindo dgitos arbitrrios em vez de apenas 0 e 1. Os clculos acima nos dizem que: j ((bm bm1
...
b1 b0 )2 )
= ( b
m1
m2
. . . b b )2 .
1 0
(1.18)
Aproveitando que estamos tratando de uma forma alternativa de resolver o Problema de Josefus, vamos tentar outra forma de resolver o problema original. Para tanto, vamos utilizar as funes piso e teto ( respectivamente, o maior inteiro menor ou igual a x, representado por igual a x, representado por x x ; e o menor inteiro maior ou
laes de recorrncia. Por exemplo, a relao correspondente ao Problema de Josefus pode ser colocada na forma J (1) J (n)
= =
1, 2J ( n 2
) (1)n ,
para n
> 1.
Considerando
18
pessoa que no imediatamente eliminada podemos lhe dar um novo nmero. Logo, as pessoas de nmeros 1 e 2 ganham novos nmeros n + 1 e n + 2, em seguida eliminamos a pessoa de nmero 3, e renomeamos 4 e 5 como n + 5 e n + 4, depois eliminamos a pessoa com nmero 6. Continuando esse processo, renomearemos 3k + 1 e 3k + 2 como n + 2k + 1 e n + 2k + 2, depois eliminamos 3k + 3 e assim sucessivamente at que a pessoa 3n seja eliminada ou sobreviva. Por exemplo, quando n 1 11 18 2 12
= 10, os nmeros so
4 13 19 23 26 28 29 30 5 14 20 24 6 7 15 8 16 21 9 10 17 22 25 27
A k-sima pessoa eliminada acaba com o nmero 3k, logo descobriremos o sobrevivente se descobrirmos o nmero original da pessoa que nmero 3n. Dada uma pessoa de nmero N cou com o
> n,
= n + 2k + 1
ou N
N := 3n; while N
> n do N :=
N n1 2
+ N n;
J3 := N .
Isto no uma forma fechada para o Problema de Josefus, mas certamente uma forma mais rpida de calcular a resposta quando n grande.
19
= 3n + 1 N
no lugar de N, mudana que corresponde a fazer a contagem regressiva de 3n a 1 ao invs de 1 a 3n. Logo,
= := 3n + 1 =
n+D 2
(3n + 1 D) n 1
2
+ 3n + 1 D
D 2
2n D
= D
D
2
= D+
3 2
2n do D :=
3 2
J3 := 3n + 1 D.
encontrando
Usando a notao em representao binria introduzida anteriormente, problemas complicados possuem solues mais simples. Para exempli car tal fato, vamos resolver uma variao do problema da Torre de Hani, visto na seo anterior: suponha que em uma Torre de Hani existem n tamanhos diferentes de discos e exatamente mk discos de tamanho k. Vamos tentar determinar A(m1 , . . . , mn ), o nmero mnimo de movimentos necessrios para transferir uma torre quando discos de mesmo tamanho so indistinguveis. Para entendermos melhor o problema, comearemos com uma torre contendo 2n discos de n tamanhos diferentes, dois de cada tamanho. Quantos movimentos A(2, . . . , 2) precisamos para transferir uma torre dupla de um pino para outro, se discos de mesmo tamanho so indistinguveis entre si? O raciocnio anlogo ao feito na torre original, com a diferena de que toda vez que movermos um tamanho de disco em vez de movermos somente uma unidade, moveremos duas, ou seja ( como discos de mesmo tamanho so indistinguveis ) o mesmo que mover n discos, apenas fazemos cada movimento em dobro. Logo, A(2, . . . , 2)
= 2Tn = 2n+1 2.
20
Voltando torre com n tamanhos de discos, sendo mk discos de tamanho k, comearemos analisando casos menores: se temos somente um tamanho de disco, para mover a torre basta m1 movimentos. Com dois tamanhos de disco, primeiro vamos mover os m1 discos menores para um pino, em seguida os m2 discos maiores para o pino vazio e depois recolocaremos a torre de m1 discos menores sobre os m2 maiores, totalizando A(m1 , m2 )
= m1 + m2 + m1 =
2m1 + m2 . Percebemos que a generalizao desse problema anloga da torre original: movemos os mn discos do maior tamanho somente se movermos a torre de n 1 tamanhos menores de discos para outro pino, em seguida, aps ter movido os mn discos do maior tamanho, basta recolocar a torre de n 1 tamanhos menores de discos sobre os mn maiores. Portanto, a relao de recorrncia procurada : A(m1 ) A(m1 , . . . , mn )
= =
Essa uma equao do tipo "Josefus generalizada", isto , do tipo 1.18 com
= m1 e b = mk .
k
A(m1 , . . . , mn )
= (m1 . . . =
2
n1
mn )2
m1 + + 2mn1 + mn .
2 A Recorrncia na Soma
Sn
k=0
S0 Sn
= =
a0 , Sn1 + an , n
1.
Podemos calcular, portanto, uma forma fechada para uma dada soma utilizando os mtodos do captulo anterior. Comearemos calculando a soma Qn dos n primeiros quadrados perfeitos pelo mtodo de compilao.
Q0 Qn
= =
0; Qn1 + n
2
> 0.
(2.1)
22
Uma generalizao da relao de recorrncia 1.15 ser su ciente para somarmos termos que envolvem n :
2
R0 Rn
= , =
Rn1 + + n + n
2
para n
> 0.
(2.2)
Rn
(2.3)
Perceba que j determinamos A(n), B(n) e C (n), pois 2.2 igual a 1.15 quando
= 0.
vamos tomar Rn
= n3 em 2.2, obtendo
0 n
3
= , = (n 1)3 + + n + n2 ,
para n
> 0.
= 0, = 1, = 3 e = 3, e ao colocarmos esses valores em n(n+1)(2n+1) 3 2.3 teremos B(n) 3C (n) + 3D(n) = n , donde D(n) = . 6
o que implica Estamos interessados na soma Qn de relao de recorrncia por 2.1, Portanto Qn
n(n + 1)(2n + 1) 6
Calcularemos agora uma soma que nos dar uma generalizao um pouco diferente. Queremos calcular a soma alternada dos n primeiros quadrados perfeitos, ou seja, procuraremos a forma fechada para Pn
= n=0 (1)k k2 , k
que
P0 Pn
= =
0, Pn1 + (1) n
n 2
> 0,
(2.4)
23
cuja generalizao
R0 Rn
= , =
Rn1 + (1)
n
+ (1)n n + (1)n n2 ,
para n
> 0.
(2.5) (2.6)
Rn
(2.7)
Vamos partir para a compilao, lembrando sempre que escolhemos funes Rn de forma que ao descobrir os valores dos parmetros e
substitui-los em 2.7 encontremos equaes simples e mais fceis de resolver. Comearemos com Rn
= 1.
1 1
= , =
1 + (1)
n
+ (1)n n + (1)n n2 ,
para n
> 0,
= 1 e = = = 0.
Tomando Rn
= ,
para n
> 0,
= 1, = 2 e = = 0. Ao substituir os valores dos parmetros em 2.7 (1) +1 n obtemos A(n) + 2B(n) = (1) , donde B(n) = . 2
n
Ao substituir Rn
= ,
para n
> 0,
24
= 0, = 1, = 2 e = 0, que ao serem substitudos em 2.7 nos d B(n) + 2C(n) = (1)n n. Logo, C(n) = (1) 2n+(1) +1 . 4
donde
n n
Finalmente, escolhendo Rn
= ,
para n
> 0,
= 0, = 1, = 2 e = 2. Substituindo os valores dos n 2 em 2.7 obtemos B(n) 2C (n) + 2D(n) = (1) n , logo teremos
2
= n=0 (1)k k2 , k
representada sob a
forma de relao de recorrncia por 2.4, que um caso particular de 2.5 com
= 0, = 0, = 0 e = 1.
que procuramos :
Portanto Pn
P(n)
(1)n (n2 + n)
2
T0 Tn
= =
0, 2Tn1 + 1, para n
> 0.
25
Colocaremos esta relao numa forma similar a 1.14.Para tanto, basta dividir os dois lados de 1.10 por 2 : T0 20 Tn 2 Podemos tomar Sn
n n
= =
0; Tn1 2
n1
1 2n
para n
> 0.
2n
Tn
para obter
S0 Sn
= =
0; Sn1 + 2
n1
para n
> 0.
Sn
k=1
2 .
k
= 0)
Para calcular essa soma, vamos utilizar uma truque parecido com o que foi utilizado na seo 1.1 para calcular a soma dos n primeiros nmeros naturais:
Sn
rSn (1 r)Sn
Logo,
= = =
+ +
r r
+ +
2 2
+ + rn1 + rn1 ++ 0 +
n n
r 0
n+1
r n+1
(1 r)Sn =
Sn
1r
n+1 n+1
1r
(1 r)
(2.8)
1 ,temos: 2 n+1
Sn
1 2 1 2
= 2
1 2
26
No entanto, ao fazer tal truque acabamos por somar a unidade referente a k logo temos que subtrair 1 do resultado que encontramos: 1 2
n
= 0,
Sn
= 1
Lembrando que queremos calcular a forma fechada para o problema da Torre de Hani, como Sn
2n
Tn
Tn
= = =
Sn 2
1 2
n
1 2
1.
A questo a ser respondida agora : como saberemos por qual fator dividir a relao de recorrncia? Tal truque reduz praticamente qualquer relao recorrente da forma an Tn
= bn Tn1 + cn
(2.9)
sn an Tn
= sn bn Tn1 + sn cn .
sn bn
= sn1 an1 .
Ento escrevendo Sn
= sn an Tn obtemos
sn an Tn Sn
= =
Como em toda relao de recorrncia temos que de nir S0 , de niremos como s0 a0 T0 , logo Sn
n
= s0 a0 T0 + sk ck
k=1
27
como sn bn
= s1 b1 T0 + sk ck .
k=1
Mas como queremos encontrar a soluo de 2.9, sabendo que Sn temos que: Sn sn an 1 sn an s1 b1 T0 +
sn an Tn ,
Tn
= =
Tn
k=1
s c
k k
(2.10)
Resta ainda saber como vamos encontrar o fator somante sn correto que resolve 2.9. A relao sn bn
sn1 an1 bn
sn
(2.11)
ou qualquer mltiplo constante desse valor, ser um fator somante apropriado. No caso da Torre de Hani, por exemplo, an sn
= 2n2 .
Vamos aplicar esse mtodo a uma relao de recorrncia cuja soluo seria um pouco mais difcil de encontrar pelos mtodos do capitulo 1:
T0 2Tn
= =
5, nTn1 + 3n!, n
> 0.
(2.12)
= 2, bn = n e cn = 3n!.
n1 vezes
sn
2.2.2 . . . 2 n.(n 1) . . . 2
n1
n!
28
Logo, ao substituir esse valor, juntamente com os respectivos valores de an , bn e cn , em 2.10 vamos obter: 1 sn a n 1
2n1 n! n
Tn
= = = = =
s1 b1 T0 +
k=1
s c
1 n
k k k1
.2
1.1.5 +
n
k=1
k!
.3k!
usando o resultado encontrado em 2.8, temos que:
n! 2
n
5+3
k=1
2
k
n! 2
n
n! 2n1
[1] GRAJAM,Ronald
J.,
KNUTH,
Donald
E.,
PATASHNIK,Oren.
Matemtica Concreta: Fundamentos para a Cincia da Computao.Rio de Janeiro.Livros Tcnicos e Cient cos Editora, 1995. [2] SANTOS, J.Plnio O., MELLO, Margarida P., MURARI, Idani T.C. Introduo Anlise Combinatria. Campinas. Editora da UNICAMP, 2002.