SEMEDO, Alice e FERREIRA, Inês (2011) Museus e Museologia, REVISTA SOCIOLOGIA, UP

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Museus e Museologia: desafios para a construo de territrios colaborativos1

Alice Semedo2 Ins Ferreira3

Resumo: Este artigo apresenta as principais orientaes e contextos de um projecto de investigao em curso, projecto que se refere natureza

do impacto social e funes museolgicas num contexto profundamente colaborativo. Comea por apresentar os contextos e os desafios do projecto, considerando, igualmente, as suas opes metodolgicas e propondo uma discusso dos conceitos principais implicados. Partindo das tradies da investigao-aco e participao interactiva, este projecto tem como campo de aco os museus da cidade do Porto e como actores centrais, particularmente, os profissionais vocacionados para o trabalho de mediao com os pblicos. Prope-se promover a colaborao sustentvel entre profissionais dos museus; ou seja, a proposta implica, sobretudo, o desenvolvimento de um espao colaborativo e de uma comunidade de prtica que potencie mudanas a partir de reflexes crticas e criativas. Palavras-chave: Museu; Mediao; Pblicos; Colaborao; Impactos sociais.

Introduo

Este projecto foi j tema de vrias comunicaes e artigos: II Seminrio de Investigao em

Museologia dos Pases de Lngua Portuguesa e Espanhola (Buenos Aires, 27-30 de Setembro 2010), organizado pelo ICOFOM-ICOM, onde se enunciavam os princpios do projecto de investigao, apresentando-o brevemente e de duas outras apresentaes que se baseiam neste artigo, uma na ACSIS Conference 2011: Current Issues in European Cultural Studies, organizada pela Advanced Cultural Studies Institute of Sweden (ACSIS), na Linkping University, 15-17 Junho 2011, the Louis de Geer Hall, Norrkping, Sucia, e uma segunda apresentao na CECA Annual Conference 2011, Internacional Council of Museums, Zagreb, Crocia.
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Departamento de Cincias e Tcnicas do Patrimnio da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Cmara Municipal do Porto.

O ttulo deste artigo reflecte, desde logo, a nossa convico de que os museus vivem uma revoluo conceptual (Hein, 2000: viii), revoluo que questiona as premissas fundamentais nas quais o museu (e o nosso trabalho enquanto profissionais e com os profissionais de museus e em museus) se alicera e que se relaciona com o seu valor intrnseco e indiscutvel. Metamorfoses em estruturas sociais, alianas culturais e identidades pessoais aliam-se a mudanas na natureza, controle e funes do conhecimento; transformaes que tm apoiado a investigao sobre as misses dos museus e dos lugares que, quer os seus fazedores, quer objectos e pblicos, ocupam enquanto elementos discursivos. Iniciaremos este artigo com uma incurso pelos contextos e valores que condicionaram a razo de ser do projecto de investigao em construo a que aqui nos referiremos. Mais do que descrever metodologias de trabalho, o que agora se procura partilhar so, sobretudo, alguns dos contextos que tm orientado este momento de reflexo e desenvolvimento do projecto. Resta dizer, que este trabalho , assumidamente traado a vrias mos e que as inquietaes de que aqui falaremos nos tm, igualmente, remetido constantemente, quer para questes da prpria identidade profissional e museolgica / revises curriculares, quer para os prprios fundamentos conceptuais que se encontram permanentemente em discusso no campo dos estudos sobre museus e da museologia. Iniciaremos, pois, a nossa incurso por esses mesmos contextos / inquietaes, esboando, num segundo momento, os objectivos e directrizes do projecto em apresentao.

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Dias extraordinrios: reposicionamentos Em termos internacionais, e no contexto de uma exploso de museus, temos

vivido dias extraordinrios. No incio dos anos 90 do sculo passado vivamos (e temos vivido) um momento de reflexo particular que conduziu ao prprio questionamento da natureza do museu. Se j nos anos 60-70 tnhamos assistido a uma primeira fase de auto-avaliao (e forte crtica externa) no mundo dos museus essencialmente relacionada com o activismo poltico e social , o final dos anos 80 mas sobretudo os anos 90 foram essenciais para este reposicionamento dos museus em relao sociedade (ver, por exemplo, os excelentes volumes de: Karp e Lavine, 1991; Karp, Kreamer e Lavine, 1992). Esta uma reinveno em curso e que deve ser, ainda, compreendida em relao crescente exigncia por parte de diferentes sectores em
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participar activamente na reconstruo / reproduo destas prticas de significao. Reinveno que tem pressionando os museus para se responsabilizarem no s pelos recursos sua guarda, mas tambm pelos resultados conseguidos atravs desses recursos. Os museus deixaram de ser meramente avaliados pelos seus recursos (ex. coleces, investigao sobre as coleces) para serem cada vez mais avaliados pela sua utilizao programtica, capacidade de captao e fidelizao de pblicos e diversificao dos seus produtos; pelos seus servios e qualidade destes servios. Embora o estudo, documentao e preservao sejam mais do que nunca uma preocupao fundamental e condio bsica para o desenvolvimento de qualquer projecto museolgico, a ateno concentra-se mais noutros aspectos, expressando a sua ansiedade em demonstrar uma conscincia social e talvez mesmo a amadurecimento da profisso (ver, por exemplo: Weil, 1995; Department of Culture Media and Sport, 2000). Por outro lado, os papis que os museus desempenham no desenvolvimento da sociedade (ver, por exemplo, Gurian, 2006) e a relao, mais ou menos bvia, com o desempenho do seu papel educacional e de aprendizagem em museus, tem sido um dos temas dominantes desta reflexo (Falk e Dierking, 1995, 2000; Falk et al, 2006; Hein, 1998, 2000; Hooper-Greenhill, 1992, 1996). A viso do museu enquanto lugar de aprendizagem descrita, frequentemente, enquanto ambiente de aprendizagem de livre escolha utilizado por pblicos diversificados (Falk e Dierking, 2000). Atravs dos objectos e do conhecimento os visitantes criam novas relaes, significados e aprendem (Hein, 1998). Os museus competem, porm, com outras experincias de aprendizagem e formas de lazer (Falk e Dierking, 2000; Kelly, 2004) no que tem sido denominado de economia da experincia, na qual as pessoas se envolvem em experincias valiosas em contextos diversificados (Pines e Gilmore, 1999). Os museus sempre reivindicaram para si mesmos um papel vincadamente educacional e desde o seu incio que se fundaram tendo em conta essas premissas. Actualmente, os investigadores apontam a necessidade tendencial de uma mudana conceptual dos museus que se transformam de lugares de educao em lugares de aprendizagem respondendo, assim, s necessidades e interesses daqueles que os visitam e utilizam os seus servios (Weil, 1995; Bradburne, 1998; Falk e Dierking, 2000). Os museus aspiram a deixar de ser repositrios de conhecimento e de objectos para serem lugares de maravilhamento, de encontro, de reflexo, de criatividade e de aprendizagem fazendo, simultaneamente, parte de outras formas de aprendizagem e promovendo-se enquanto parte integral das infra-estruturas de aprendizagem.
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Porm, ao abrir-se s polticas da experincia, os museus afastam-se gradualmente de outras instituies com quem partilham paradigmas de conhecimento e reencontrado outras, que no s os complementam mas criam, eventualmente, novos tipos de museus. Assim, os museus da nossa contemporaneidade tentam abrir-se ao incorporado e vivencial, reconhecendo o valor do conhecimento incorporado (memria e experincia) prprio de um modelo que, seguindo os conceitos de pedagogia e performatividade de Homi Bhabha (2004), tem sido apelidado de democracia performativa, em contraposio a uma verso mais pedaggica que privilegia outro tipo de abordagens e conceptualizaes (Chakrabarty, 2002). Na verdade, este tipo de abordagem promove quer experincia, quer conhecimento abstracto e exactamente este tipo de abordagens museolgicas que, provavelmente, melhor reequilibra o debate sobre as funes e misses destas instituies. Se verdade que nos dias de hoje os museus esto sujeitos a muitas exigncias que os obrigam a desempenhar outras funes, tambm ser verdade que estes mesmos desafios lhes permitem actuar em novos mundos. Estes so, contudo, mundos onde os valores indiscutveis anteriores so permanentemente questionados e nos quais os museus, ao procurarem demonstrar a sua visibilidade e assumir a democracia, encontram tenses profundas internas que tm conduzido a um apaixonado debate quer no meio profissional, quer nos media. De qualquer forma, acredita-se que esta reinveno tem tido consequncias significativas. Especialmente em relao ao distanciamento da centralidade dos objectos em direco a uma nfase na promoo da experincia, conduzindo, por vezes, a uma desvalorizao das coleces do museu como fonte de verdadeiro significado e valor e a uma subordinao em torno da experincia museolgica (Hein, 2000: viii); nfase que revela novos horizontes ticos, epistemolgicos e estticos. Todavia tambm evidente no mundo dos museus um retorno ao mundo das coleces e do papel central da investigao das coleces, produzindo materializaes museolgicas que, de qualquer forma, no se centram apenas na experincia cognitiva mas favorecem, identicamente, a experincia vivencial e sensvel dos visitantes e dos prprios curadores / investigadores / connaisseurs falando, abertamente, sobre e discutindo; abrindo espaos de visibilidade no discurso, por exemplo, aos processos situados de investigao e de coleccionar enquanto experincia e histria. Desta forma, a procura de relevncia fora dos seus contextos habituais um dos eixos centrais desta transformao museolgica, confirmando a investigao museolgica como espao de questionamento no delimitador mas de
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contornos cada vez mais de fronteira no qual e de acordo com a preposio de Corynne McSherry um objecto de fronteira "tem significados diferentes em diferentes mundos sociais e no entanto est impregnado de significado partilhado suficiente para facilitar a sua traduo entre esses mundos" (trad. A.S., McSherry, 2001: 69, citada em Strathern, 2004: 45; cf. com Message, 2009) Esta relevncia procurada nos diversos nveis da esfera pblica: ou seja no macro-meso espao e no micro-espao pblico; espao que provavelmente mais aqui nos interessa pois , sobretudo, neste nvel que melhor podemos apreciar o envolvimento da coordenao de comunicao e de espaos de participao cvica. Por outro lado, esta demanda de relevncia em museus associa-se construo de novas formas de dilogo pblico e participao cvica, exigindo no s reciprocidade, mas tambm continuidade e ao nvel local que, provavelmente, estas parcerias com a comunidade melhor funcionam e se tornam sustentveis. J no se trata agora de fazer museus e comunidade s entre os museus. Trata-se de criar relevncia atravs da constituio de redes que funcionem como recursos crticos dos lugares que os museus querem habitar; disponibilizando no s os seus recursos (coleces, espaos, investigao) mas actuando tambm como fruns e, eventualmente, desenvolvendo formas inovadoras de enderear questes caractersticas do espao pblico e da contemporaneidade. Questes, nem sempre fceis como, de resto, o debate recente tem demonstrado (ver, por exemplo: Knell et al., 2007; Cameron e Kelly, 2010). Falamos de actores do terceiro espao (Soja, 2000) que participam activamente nas polticas urbanas e que intervm na construo do espao pblico e da democracia (Kirchberg, 2003); falamos, pois, de lugares performativos; lugares de aco comunicativa que, de alguma forma, materializam os valores da utopia racionalizada de que fala Bourdieu (1998: 128); lugares assumidamente polticos e de aco, portanto. Estas reflexes no so, porm, novidade alguma e tm sido profusamente divulgadas em cursos universitrios, conferncias e na bibliografia assinada por muitos autores geralmente associados quer nova museologia, quer museologia crtica e fazem, agora, parte dos conhecimentos a adquirir pelos profissionais aspirantes. Na verdade, a produo de um importante corpo de bibliografia relacionado com os estudos de museus, bem como o desenvolvimento de uma srie de programas de acreditao e avaliao de museus constituem-se como elementos vitais do aprofundamento desta reflexo. Estes estudos aceitaram os desafios propostos pela nova museologia e pela museologia crticai para, neste segundo momento de avaliao, alargarem o mbito das
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suas questes, expandindo e aprofundando as suas abordagens metodolgicas e base emprica. Eilean Hooper-Greenhill escrevia no incio dos anos 90 do sculo passado que o museu, enquanto objecto de estudo, continuava praticamente invisvel e que para a grande maioria dos investigadores se mantinha como que coberto por um manto de silncio crtico (Hooper-Greenhill, 1992: 3). A leitura rpida de qualquer listagem de uma editora internacional como a Routledge, por exemplo, demonstra que decorridos vinte anos os museus se tornaram sexysii e que um grupo cada vez maior de investigadores de diversos campos investiga e escreve sobre este artefacto social. No entanto, a dissonncia entre estas discusses e o desenvolvimento de prticas reflexivas e colaborativas continua pelo menos em Portugal a ser evidente. O Curso de Museologia da Universidade do Porto iniciou a sua viagem justamente numa altura em que se assistia a um crescimento editorial sem precedentes sobre este tema. Livros sobre os mais diversos assuntos, antologias, actas de conferncias acerca de museus, proliferam desde ento no contexto do fenmeno museolgico, como lhe chamou Gordon Fyfe (2006: 40), e que podemos relacionar com os processos que tm sido caracterizados como ps-industriais, ps-capitalistas, modernidade tardia ou ps-modernos a que normalmente se aliam, entre outras, motivaes e ansiedades relacionadas com a amnsia social; procura de autenticidade e antdotos em relao sociedade de consumo; tentativas de lidar com a fragmentao da identidade e individualizao; desejos de aprendizagem ao longo da vida e de aprendizagem vivencial. Mas como j tem sido referido, este era e tem sido um momento de particular fragmentao e profundo questionamento deste mundo. Diferentes estudos em Portugal, Frana, Estados Unidos e Reino Unido referem, por exemplo, tenses e crises de identidade no modelo profissional dos conservadores (por exemplo: Octobre, 2001; Semedo, 2003; Zolberg, 1986). Com base no modelo tradicional de museus, a profisso de conservador surge dividida entre a lealdade para com as funes em torno do estudo e preservao das coleces e as transformaes em relao sua misso e valores pblicos de acessibilidade e democracia. Fragmentao que evoca a revoluo conceptual de que vm falando vrios autores (ver, por exemplo, Hein, 2000). Assim, o enquadramento terico da museologia ps-crtica parece-nos aqui fundamental enquanto modelo conceptual e terico deste projecto de investigao que procura, essencialmente, construir com o grupo de profissionais dos museus do Porto uma cultura de reflexividade, de aco colaborativa e profundamente crtica. Uma
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museologia plural, sem manifestos exclusivos mas que assume o museu enquanto espao profundamente democrtico e que prope, por exemplo, a imaginao crtica e o reconhecimento dos visitantes e dos fazedores de museus, enquanto comunidades interpretativas, como condies fundamentais da pesquisa.

2.

Outros encadeamentos: a cidade, os museus e o Curso de Museologia A dcada de 90 do sculo passado foi tambm para Portugal de verdadeira

exploso museolgica, assumindo os museus e o patrimnio, no seu sentido mais lato, uma visibilidade extraordinria nos meios de comunicao. No caso dos museus portugueses, no seu todo, viviam-se problemas essenciais por resolver e lutava-se com dificuldades e constrangimentos diversos, nomeadamente os relacionados com a qualificao e incremento do nmero de tcnicos especializados, em particular em reas como a conservao e restauro. Ao sector faltava ainda um trabalho de interpretao / mediao dos espaos mais intenso e generalizado, considerado como factor essencial de captao e fidelizao de pblicos; programas educacionais inclusivos; a publicao de material informativo de qualidade promovendo a disseminao generalizada e acesso ao conhecimento; a investigao generalizada quer sobre as coleces, quer sobre todas as outras funes do museu. Apesar dos desenvolvimentos e melhoramentos que todos reconhecemos no sector, muitos destes problemas ainda esto por resolver. A cidade do Porto e os seus museus no fogem a esta realidade: salvo, uma ou outra excepo, a maior parte dos museus da cidade necessita de um investimento urgente e sustentado nas suas polticas de comunicao / interpretao e de repensar a relao que tem construdo com os pblicos, particularmente em termos de comunidades prximas. Por outro lado, a dissonncia entre as discusses e reflexes sobre o lugar museu promovidas pela nova museologia e o desenvolvimento de prticas reflexivas e colaborativas continua pelo menos em Portugal a ser evidente. Ainda que todos os museus reconheam o valor das suas coleces para a educao e aprendizagem e a sua contribuio para o desenvolvimento da sociedade e se comprometam a cumprir este mandato pblico, poucos so os que demonstram ter capacidades e competncias para (se) expor / narrar / avaliar o seu trabalho publicamente (account-abbility). O campo de aco deste projecto de investigao ser pois o dos museus da cidade do Porto. A tese de mestrado de Ana Brbara Barros apresentada recentemente e que estudou as narrativas dos profissionais de educao em museus da cidade (2008) refora o facto de o Porto ter um nmero significativo de museus, com caractersticas
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bem diferenciadas, tais como a natureza das coleces, o tipo de tutela e os seus estatutos jurdicos, empregando um grupo heterogneo de pessoas que, embora de forma plural, partilham no s espaos mas tambm algumas representaes e valores. No mbito desta dissertao foram considerados vinte e quatro os museus existentes no Porto (ver Anexo 1), sendo catorze os que pertencem Rede Portuguesa de Museus. H porm, um nmero importante de registos a considerar e que se auto-representam enquanto museus ou ncleos museolgicos, reforando o nmero elevado deste tipo de organizaes no Porto, constatao que, alis, corresponde aos dados do relatrio Inqurito aos Museus em Portugal (Instituto Portugus dos Museus, 2000) que refere que o Norte do pas apresenta uma grande concentrao de museus. Relativamente s coleces, destaca-se o nmero de museus com coleces de artes decorativas, cincia e tecnologia, arte sacra e histria social e a maior parte destes museus distinguindo-se, claramente, o Museu Nacional Soares dos Reis e o Museu de Arte Contempornea de Serralves so de dimenso local e assumidamente territoriais. Este estudo aponta para o facto de os pblicos nos museus do Porto serem maioritariamente escolares (90%) e essencialmente dos 1, 2, 3 ciclos do ensino bsico e secundrio. Ainda que o Porto seja um destino turstico reconhecido (Instituto de Turismo, 2007; Pent, 2007), o nmero de visitantes estrangeiros no muito representativo e so cada vez mais os programas e os estudos que visam integrar pblicos perifricos (Costa, 2006; Marques, 2005). Os profissionais de educao do sector apontam como pblicos com necessidades especiais, os portadores de deficincia, imigrantes, toxicodependentes, reclusos, crianas e jovens institucionalizados, vtimas de maus-tratos e, ainda, como um pblico especial os seniores (Barros, 2008). Nesta pesquisa, Ana Brbara Barros (2008) trabalhou com catorze profissionais de educao que representam bem a diversidade museolgica da cidade. Esta investigadora plenamente implicada (a investigao partiu das suas prprias narrativas / identidade feminina enquanto profissional de educao em museus), para alm de analisar as clivagens existentes (relacionadas, por exemplo, com a natureza das coleces e da prpria tutela), acentua a dedicao destes profissionais ao trabalho na expresso que abre a sua dissertao alma e corao e que expressa bem algumas das representaes nodais deste grupo de profissionais em relao, por exemplo, vocao, formas de trabalhar e de compensao, aos papis (profissionais / museus) que desempenham em relao sociedade. So quatro as funes que consideram ter em comum: concepo de projectos e actividades interpretativas (executadas ou no pelo
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prprio); divulgao; estudo e pesquisa de coleces; captao de parcerias. A transdisciplinaridade e a cooperao so palavras de ordem deste vocabulrio partilhado e apesar das dificuldades a experincia j demonstrou que os profissionais dos museus do Porto, quando desafiados a trabalhar em cooperao, trabalhar juntos produzindo trabalho relevante (ver, por exemplo, Ferreira, 2003). Por outro lado, apesar de existirem alguns projectos de grande interesse social no mbito do trabalho com comunidades (Costa, 2006), a verdade que no tem sido desenvolvido um trabalho sistemtico e estruturado de avaliao do impacto destas prticas, que possa apoiar futuras polticas de actuao e programao, orientar decises, e abrir caminho a outras prticas e investigao que possam verdadeiramente integrar as polticas urbanas e afirmar estes espaos enquanto democrticos, criativos, colaborativos (representaes que encontramos amide no grupo). Ana Brbara Barros (2008) relata, por exemplo, que os estudos qualitativos so prticas quase inexistentes nestes museus, enumerando como factores determinantes para este problema: a ausncia de formao sobre os processos de investigao e avaliao, a falta de tempo para os profissionais se dedicarem a esta tarefa morosa e, enfim, pela falta de investimento das instituies na contratao de tcnicos especficos para realizar avaliao. Acrescentamos a estas suposies, a ausncia quase total de uma cultura de avaliao no sector cultural em geral em Portugal e nos museus especificamente , constituindo-se como uma das marcas da dissonncia que antes referimos. Por outro lado, pouco tem sido feito para divulgar junto destes profissionais os prprios projectos desenvolvidos, partilhando e celebrando sucessos e reflectindo sobre as suas estratgias e metodologias de acoiii. Se o Curso de Museologia da Universidade do Porto tem vivido a sua viagem nestes contextos de profunda transformao do tecido museolgico tambm verdade que tem sido visivelmente influenciado por outros contextos mais amplos do foro acadmico e profissional, tais como, a viso da Universidade enquanto rede colaborativa ao servio da sociedade, a relao entre esta viso e a noo de profissionalismo activo e agncia crtica, a compreenso do valor das organizaes / comunidades de aprendizagem em museus, a noo de objecto discursivo, os prprios contextos contemporneos, entre outros. E precisamente neste contexto que tem proposto e desenvolvido alguns trabalhos de investigao em colaborao com alguns museus da cidade. O Curso (e claro que aqui quando falamos, quer nos museus, quer no Curso, no estamos a pensar em nenhuma entidade abstracta mas sim no grupo dos
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seus profissionais) para alm de estabelecer parcerias de trabalho e investigao com universidades e outras instituies de ensino e investigao nacionais e estrangeiras, rev-se no seu territrio prximo com tudo o que isso implica em termos de profissionalismo activo e de agncia crtica. Este conceito de profissionalismo activo e que interessa aqui introduzir porque se tem constitudo como valor essencial de trabalho, reformula os papis polticos e profissionais tambm dos docentesinvestigadores, reconhecendo as responsabilidades especficas destes membros do grupo e apelando para o seu envolvimento e, fundamentalmente, para uma responsabilidade colectiva. Por outro lado, esta abordagem de ensino tem tambm procurado ter em conta as contingncias das prticas museolgicas do dia-a-dia, tentando ultrapassar a produo de lugares de tenso entre universidade e os museus (teoria e prtica) e, ao mesmo tempo, assumir um lugar enquanto protagonista essencial do crculo de cultura (Hall, 1997) do grupo. Judyth Sachs (2000: 81), invocando o trabalho de Giddens, aplica a noo de confiana activa ao trabalho partilhado pelo grupo, noo que aqui tambm se aplica. Esta confiana activa no incondicional mas uma caracterstica de relaes profissionais negociadas nas quais um grupo partilhado de valores, princpios e estratgias debatido e negociado. Um segundo conceito fundamental de Giddens relevante para este contexto adoptado por esta investigadora no desenvolvimento dos seus pontos de vista acerca do profissional activista o de uma poltica produtiva / geradora que intervm no domnio pblico no qual opera. Desta poltica produtiva espera-se que seja orgnica; ou seja, que se desenvolva directamente a partir das necessidades locais e globais. pois, e como se disse anteriormente, a partir destas necessidades globais e locais e deste entendimento produtivo e implicado da investigao que surge este projecto.

3. Vises, objectivos e metodologias de trabalho O desafio reside na construo de zonas de contacto entre a produo do conhecimento sobre museus e os diferentes actores que trabalham no terreno. As teorias e metodologias interactivas de investigao-aco desenvolvidas nos pases nrdicos sobre o envolvimento em termos mais igualitrios de participantes e outros actores fora dos circuitos tradicionais de investigao so um potencial inexplorado (Ghaye, 2008) para esta construo. Na investigao-aco interactiva, o papel dos profissionais praticantes e dos profissionais acadmicos partilhado entre todos os participantes (e mesmo outros actores considerados relevantes para o processo de investigao
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conjunta). Esta abordagem compreendida como um meio para atingir um maior "vigor social da cincia" (Novotny e Gibbons, 2001). Por outro lado, a tradio da abordagem da investigao-aco participante resulta de situaes onde as pessoas querem fazer mudanas a partir de reflexes, ou seja, aps uma reflexo crtica que surge quando os participantes querem pensar sobre os seus posicionamentos, estratgias, caminhos percorridos e a partir destas reflexes pensar em como podero transformar as suas prticas (Denzin e Lincoln, 2000: 573). Assim, o projecto aqui apresentado centra-se no desenvolvimento de processos de trabalho e de mtodos inovadores, a partir das tradies de investigao-aco e participao interactiva, promovendo a colaborao sustentvel e aspirando a participar na construo de culturas inovadoras com potencial de mudana em museus. O projecto inspira-se nas orientaes de investigao PAAR / Participatory Appreciative Action Research (Ghaye, 2008). Orientao que nos parece interessante neste contexto, tendo em conta algumas das suas premissas fundamentaisiv. Pretendemos, pois, comear por um reenquadramento dos contextos de trabalho a partir de questes positivas promovendo processos de reflexo que partem de experincias que so caracterizadoras de uma cultura de trabalho apreciativa. Esta abordagem metodolgica tem demonstrado ser frtil, quer ao nvel individual, quer de grupos e mesmo organizacional (Ghaye, 2008). Por outro lado, o projecto visa enfatizar a participao e influncia de noacadmicos no processo de criao de conhecimento (Israel et al., 1998), posicionandoos como co-investigadores, alicerando-se na comunidade de prtica, apoiando os seus interesses e encorajando os membros do grupo a participarem em diferentes nveis da pesquisa. Assim, o envolvimento activo dos membros do grupo e a sua influncia em alguns aspectos da investigao considerado essencial. Envolvimento que implica participao e que assenta quer na construo de relaes de confiana, quer no dilogo e na capacidade do grupo construir um espao colaborativo com vista mudana social (Stoecker, 2005). A pesquisa colaborativa um processo de investigao no qual os participantes tm uma voz activa e esto includos em todas as suas fases, afastando-se da perspectiva tradicional no que diz respeito sua participao. Tendo em conta a experincia de todos os envolvidos neste processo, qualquer um dos participantes considerado especialista pois a diversidade dos seus conhecimentos e dos seus pontos de vista que dar uma maior profundidade investigao. Esta abordagem tem sido tambm descrita como sendo colaborativa, participativa, empowering e constituindo-se
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enquanto processo transformador do prprio grupo/ comunidade / espaos pblicos (Hills e Mullett, 2000). Na perspectiva da investigao-aco, o argumento que as relaes de igualdade entre participantes e investigadores podem, atravs de uma articulao entre a aprendizagem e prticas, gerar conhecimentos qualitativamente diferentes e mais democrticos que, idealmente, promovem processos de empowerment das pessoas envolvidas e colaboraes sustentveis no espao e no tempo. Os conceitos de empowerment, justia social e transformao so, alis, marcantes neste tipo de investigao e deste projecto em particular , sublinhando o facto de que todos tm algo a ganhar ao trabalhar juntos e, como tal, espera-se que as parcerias construdas persistam mesmo aps a concluso formal do trabalho. Epistemologicamente este tipo de investigao consistente com paradigmas e teorias crticas construtivistas e enfatiza a natureza socialmente construda do conhecimento (Israel et al, 1998). Reconhece, igualmente, o valor das formas mltiplas de conhecimento e o valor das contribuies individuais. Da que um princpio claro deste tipo de abordagem seja a sua crtica de abordagens positivistas de recolha de dados que enfatizam a objectividade e tendem a ver os participantes enquanto objectos a serem estudados em vez de actores do processo de investigao. Do ponto de vista terico compreende a teoria como qualquer coisa desconhecida, como sendo criada atravs das iteraes de aco e reflexo que conduzem praxis e gera evidncia para prticas futuras. De facto, ao nvel axiolgico e em relao teoria de valor, esta investigao avaliao em termos da diferena que pretende construir na transformao da comunidade de prtica. Consequentemente concebe a capacidade de construo como valiosa, quer ao nvel individual, quer do grupo (Hills e Mullett, 2000). Neste tipo de investigao ressalta tambm o princpio das parcerias de trabalho que visam integrar o conhecimento e produzir benefcios para todos os participantes envolvidos. Finalmente, apoia-se no princpio de empowerment construindo pontos fortes e recursos na comunidade de prtica e promovendo processos de coaprendizagem. Hills e Mullett (2000) enunciam seis princpios de aprendizagem no tipo de investigao em comunidade que podero ser tambm aqui adoptados. Estes princpios incluem o planeamento sistemtico, a relevncia para o grupo, o envolvimento do grupo, a resoluo de problemas, a mudana social e a sustentabilidade. Israel et al. (1998) tambm discutem alguns princpios deste tipo de investigao, tais como, unidade de identidade, construo de foras na comunidade, promoo de parcerias, integrao de conhecimentos valiosos para os envolvidos,
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empowerment e disseminao de conhecimentos. Tendo em conta, porm, a perspectiva Participatory Appreciative Action Research (Ghaye, 2008) que pretendemos introduzir e que assenta os seus pressupostos numa viso que, embora no se aliene dos problemas, se concentra, sobretudo, nas realizaes positivas do grupo, o princpio de resoluo de problemas s ser desenvolvido se o grupo assim o enunciar. O mtodo PAAR tem as suas razes na investigao-aco participativa que tambm enfatiza a melhoria das prticas atravs do envolvimento e participao. A contribuio da abordagem do PAAR , como se disse j, a acentuao das caractersticas positivas, o que significa, por exemplo, trabalhar juntos e partilhar as melhores prticas, apreciando as competncias de cada um. PAAR pode ser compreendido como o oposto da resoluo de problemas, porque incide sobre o sucesso e no que funciona, em vez de se centrar em problemas. Os principais conceitos em PAAR so o reenquadramento, as questes positivas, a participao e o presente positivo. PAAR oferece uma oportunidade para colocar perguntas positivas e transform-las em aces positivas. Essa perspectiva pode tambm ser usada quando pretendemos construir um ambiente de aprendizagem que incentive a cooperao e a partilha e que viabilize uma cultura psicossocial positiva que realce os processos de aprendizagem. Claramente, estes princpios podem ser aplicados a este modelo mas esta lista no ser exaustiva e depender do contexto de investigao e das organizaes envolvidas e a nfase em aces interactivas faz com que seja fcil combinar esta abordagem com uma perspectiva interactiva da investigao-aco (Aagaard e Svensson, 2006). De igual forma, o conhecimento aqui entendido como tendo as suas razes materiais nas prticas quotidianas, quer dos participantes, quer dos investigadores. No que diz respeito s razes do conhecimento h pois fortes semelhanas entre as duas tradies. Convm ainda sublinhar que este modelo pode ser compreendido, quer como modelo terico, quer como plataforma conjunta interactiva para os investigadores e actores (os participantes das instituies) para partilharem experincias, conversar e reflectir, actuar como espao que desenvolva os processos de aprendizagem e transformao. Em termos de metodologia os mtodos adoptados fazem parte de qualquer abordagem deste tipo e no so predeterminados mas, em vez disso, emergem dos princpios seleccionados do projecto e das questes de investigao. Os mtodos enfatizam a anlise, a responsabilizao dos actores e os processos de reflexividade e co-aprendizagem. Tendo em conta os contextos deste projecto de investigao e da necessidade de criar um clima de confiana profundamente colaborativo, pareceu-nos que esta seria uma abordagem mais apropriada.
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Espera-se que os parceiros envolvidos ganhem conhecimento sobre os prprios processos de investigao desenvolvendo uma apreciao do valor da mesma e que esta participao possa desenvolver novas relaes sociais entre os membros, relaes de confiana e de eficcia social (Schlove et al., 1998). Aspira-se, ainda, a promover o conhecimento destas configuraes locais que conduzam a fluxos de informaes e colaboraes mais significantes. De facto, este tipo de investigao tem sido discutido como levando a melhores prticas de parceria em rede, envolvendo a construo de contactos e, como resultado, a consolidao de redes sociais, enquanto estruturas de oportunidade que facilitam o acesso a diferentes tipos de recursos e desenvolvem relaes, permitindo aos participantes descobrir e aceder a oportunidades positivas. Por outro lado, espera-se que o envolvimento dos membros do grupo quer na construo, quer na disseminao da investigao, promova uma melhor aceitao e utilizao dos resultados (Ayers, 1987) pelos participantes e tutelas. A disseminao activa das concluses e reflexes do projecto essencial para que a investigao tenha um verdadeiro impacto e precisa circular para que entre no domnio pblico. Neste modelo os participantes e co-investigadores aprendem com cada um, ao partilharem histrias pessoais e experincias, reunindo e documentando as suas histrias (Papineau e Kiely, 1996). Esperamos, ainda, que este envolvimento contribua para o seu desenvolvimento pessoal atravs da aprendizagem de competncias especficas, tais como a utilizao de novas tecnologias, competncias de planeamento, etc. Por outro lado, o envolvimento em processos de investigao desenvolve competncias de liderana e lideres potenciais a diferentes nveis, expressando diversas competncias e funes. Assim, este projecto pretende criar melhorias sustentveis nesta comunidade de corpo e alma, ao realar as posies, competncias e conhecimentos dos seus membros localizados nos processos de investigao. Logicamente, o projecto centra-se numa agenda mais local, reflectindo sobre questes e prticas especficas que envolvem o grupo, promovendo, nomeadamente, a mudana de centralidade da avaliao: centralidade na qualidade e nos impactos em vez de uma centralidade nos produtos e na mera quantificao. Os problemas de desequilbrios internos de poder no grupo e com os investigadores (Taylor, 2000); o estabelecimento de confiana e a da gesto do tempo so, por exemplo, algumas das reas que consideraremos com a maior ateno. Esta perspectiva apoia os mtodos a propor e que so essencialmente qualitativos. A recolha de dados ocorrer durante um perodo de vinte meses e constituir, por exemplo, em entrevistas semi-estruturadas com cada participante,
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dirios-de-campo / bordo, sesses de workshops / grupos focais, participao em blog / ou wiki / ou rede social, mapas de ideias. Na interaco com os participantes, prev-se a utilizao de diferentes mtodos interactivos, por exemplo, a criao de uma pgina do projecto (em formato de wiki, blog ou rede social, essa ser uma das decises a tomar no mbito dos processos de desenvolvimento do prprio projecto), proporcionando um constante dilogo e interaco entre os envolvidos e que apoiar a construo de um arquivo-recurso comum. A nossa razo para propor os dirios de campo / bordo como um instrumento central de pesquisa do projecto de investigao, relaciona-se com a experincia de ensino de uma das autoras deste artigo que tem tentado implementar esta metodologia enquanto processo de ensino e forma de avaliaov. Esta abordagem pretende incentivar e desenvolver a aprendizagem vivencial como , alis, defendido por Klob (1984). Ao utilizar os dirios de campovi/ bordo, por exemplo, esperamos desafiar os participantes a questionar, teorizar e colocar hipteses sobre as reflexes e trabalhos propostos pelos diferentes workshops; e assim esperamos desenvolver uma conscincia de como o conhecimento construdo, ou seja, o pensamento crtico e uma conscincia de si mesmos enquanto profissionais crticos, sujeitos crticos. Por outro lado, os dirios podem ser um instrumento precioso para cartografar as experincias e viagens pessoais, acentuando a nfase que colocamos no processo de identificao e de uma prtica reflexiva. A subjectividade, a experincia dos museus e dos contextos histricos ser enfatizada atravs de trabalho em equipas, questes especficas, e escrita reflexiva (nomeadamente os dirios). Simultaneamente, pretendemos que a experincia da interaco dos workshops seja tambm utilizada para promover a aprendizagem da reflexo, da discusso, da profundidade, da construo colaborativa. A fim de construir uma relao mais inclusiva e, sobretudo, mais participante, reflexiva e de confiana, diferentes actores sero ouvidos durante as diferentes fases do processo de planeamento do projecto, permitindo a sua reviso e assegurando a credibilidade do estudo tendo em conta os parmetros enunciados anteriormente.

Concluses Apesar dos princpios da nova museologia enunciados no incio deste artigo fazerem desde h anos parte do vocabulrio incontestado da maior parte dos profissionais de museus, a verdade que existe uma dissonncia profunda entre o que se
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diz e o que se faz. Por outro lado, embora no se negue aqui, de forma alguma, que a natureza diferenciada dos museus requer diferentes abordagens e mesmo definies em termos do que possam ser eventuais impactos sociais ou, indiscutivelmente, da sua misso , h um vocabulrio que seria til fosse colaborativamente construdo. Nessa construo pretendemos envolver no s outras ferramentas mas cumprir outros objectivos maiores de que mais adiante falaremos. No nos podemos esquecer que os museus tambm so contextos de aprendizagem para os prprios profissionais e este projecto parte do princpio que s quando as prprias organizaes (os seus profissionais) interiorizarem os valores e reposicionamentos a que nos comemos por referir notoriamente o de procura de relevncia, profissionalismo activo, agncia crtica, polticas geradoras, etc. podem, em realidade, as prticas dos museus serem transformadas. O trabalho de Peter Senge (1990) sobre as organizaes de aprendizagem foi j h alguns anos e de forma bastante interessante adaptado por Lynne Teather, Peter van Mensch e Sara Faulkner-Fayle (1999) ao mundo dos museus. As prticas que este projecto procurar desenvolver inserem-se, amplamente, neste contexto. Senge apresenta as organizaes como sendo lugares onde as pessoas ampliam continuamente as suas capacidades para criar os resultados que verdadeiramente desejam, onde novas e formas abertas de pensar so alimentadas, onde a aspirao colectiva libertada e onde as pessoas esto continuamente a aprender como aprender em conjunto (Senge, 1990: 484, traduo A.S.). Ao implementarmos estas parcerias colaborativas entre os museus da cidade do Porto
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esperamos realar verdadeiras formas de aprendizagem que enfatizem a

natureza dinmica e dialgica destes processos e, assim, comprometer os parceiros envolvidos na sua prpria governana e agncia (Giddens, 1996). Esta abordagem inclui na formao e na discusso destes processos de estudo a prpria comunidade de profissionais-praticantes. Desta forma, esta conceptualizao do projecto de investigao permitir integrar as vozes dos diferentes profissionais quer como indivduos, quer como instituies e no apenas como meras concepes / representaes, estabelecendo verdadeiras (espera-se!) relaes sustentveis ao longo desta rede / tempo. Por outro lado esperamos tambm ultrapassar uma srie de barreiras e esteretipos que existem e circulam no grupo acerca da forma de trabalhar de cada equipa.

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O objectivo principal de uma rede deste tipo , ento, proporcionar valor acrescentado aos diferentes actores envolvidos. A criao de valor assenta,

fundamentalmente, nos conhecimentos de todos os actores envolvidos e na forma como associam esses conhecimentos (eventualmente com os prprios processos de aprendizagem mtua, a transformao destes recursos de conhecimento e a criao de novos recursos). Basicamente, a partilha de conhecimentos e o desenvolvimento de recursos constituem-se como o resultado das interaces entre os diferentes parceiros. Todas as relaes que se estabelecem, formal e informalmente, ensinam-lhe algo e tornam-se parte dele. Consideramos os museus (e a Universidade / o Curso) como fazendo parte de uma densa rede de relaes e isso significa que temos em conta outros possveis actores com os quais os museus (a Universidade / o Curso) e os prprios museus / actores se relacionam permanentemente (ou seja, outros alunos, pblicos, etc.). Os museus (Curso) no so compreendidos num mundo atomizado e neutro, mas professando-em-aco, intervindo, participando na esfera pblica e na arena cultural de que, afinal, fazem parte; no seu territrio natural que tambm a sua regio; considerando os seus prprios recursos que se tornam mais ricos com cada parceria. O objectivo , ento, criar espaos, organizaes colaborativas / criativas de aprendizagem mtua, espaos de reflexividade no qual se estabeleam relaes de credibilidade e confiana, re-negociando, espaos e operando tambm a partir do ponto de vista de todos os actores envolvidos e ultrapassando, por vezes, fronteiras pr-estabelecidas (por exemplo, a definio do que uma coleco). Espera-se que estes espaos colaborativos / criativos (espaos de co-curadoria universidades-museus-comunidades, porque no? no permitir esta abordagem, afinal, ultrapassar algumas dicotomias e focos de tenso mais ou menos estreis ainda existentes no campo?) funcionem tambm como espaos reflexivos. As vises, valores e prticas dos profissionais do sector sero pois o ponto de partida deste estudo; um ponto de partida que se pretende seja tambm uma reflexo sobre prticas de programao que tenham em conta objectivos mltiplos; um ponto de partida a partir do interior, do capital cultural j existente, ou seja, dos seus recursos, dos seus actores e das suas prprias representaes sobre o que entendem ser no s impactos sociais, mas a prpria natureza do museu e do seu trabalho. Reflectindo sobre o seu prprio trabalho, repensando construtivamente, criativamente misses e espaos de aco e proximidade na comunidade. Envolvendo-os, desde logo, na re-definio desta abordagem para o sector e ouvindo as suas prprias expectativas e valores
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orientadores. Esperamos que este diagnstico possa actuar como um instrumento fundamental para se pensar de um modo mais estruturado e fundamentado a aco dos museus do Porto com e nas comunidades; criar um enquadramento vlido e sustentvel para o valor dos impactos sociais dos museus no indivduo, comunidade e sociedade para este contexto museolgico; desenvolver processos de avaliao sobre o valor dos museus enquanto servio pblico; promover espaos de debate entre museus e outras instituies / actores culturais / educativos / sociais sobre a sua funo social e o seu papel como servio pblico; testar opes de um enquadramento de valor e de impactos com profissionais do sector. Uma das necessidades deste projecto , por isso mesmo, fazer um levantamento dos projectos existentes, do tipo de impactos que os museus pensam ter (Scott, 2004), definir tipologias de impactos sociais, estruturar as definies para poder, de um modo mais sistemtico e integrado, desenvolver a investigao e actuar no territrio. O diagnstico feito no final dos vinte meses de durao do projecto possibilitar que, numa segunda fase do projecto, se proponha uma aco concertada a nvel de projectos de investigao em museus, de avaliao dos seus impactos sociais e de apoio ao desenvolvimento de uma comunidade de prtica. A formao em parceria com as diferentes instituies envolvidas e divulgao dos contedos dos relatrios (e sobretudo do relatrio final) far, igualmente, parte de todo este processo construtivo / criativo (e de profunda reflexo). Este projecto tem, como ponto de partida, o modelo de investigao-aco participativa e interactiva que parte do paradigma qualitativo. A abordagem qualitativa foi eleita tendo em conta que a centralidade deste estudo a anlise de como os profissionais de educao em museus compreendem a natureza destas instituies e do seu trabalho com os pblicos, relacionando estas compreenses com poticas e polticas incorporadas. Assim, nesta primeira fase do projecto de investigao, pretende-se, sobretudo, iniciar uma discusso alargada junto dos profissionais de museus e de outras instituies culturais da cidade do Porto sobre o papel que desempenham na comunidade enquanto agentes catalisadores de desenvolvimento social. Esperamos que este estudo possa apresentar uma discusso sobre conceitos fundamentais, tais como, os de incluso, funo social, comunidade, e a sua viso sobre o que consideram ser os diversos impactos dos seus programas, identificando, por exemplo, reas-chave de interveno. A relao com a natureza do museu e do seu prprio trabalho parece-nos aqui ser evidente. Esperamos, igualmente, poder identificar contextos e metodologias de
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trabalho de cada instituio, fase de trabalho que certamente apoiar a auto-reflexo no grupo de profissionais-praticantes e investigadores envolvidos que este projecto pretende imprimir a todo o processo. A definio de indicadores que permitam a sua avaliao poder, eventualmente, fazer parte integrante deste projecto-piloto. Este estudo ser tambm, e de certa forma, um estudo diagnstico dos impactos sociais que os profissionais dos museus traam para os seus projectos, abrindo caminho para uma segunda fase de trabalho / investigao com as prprias comunidades. Os workshops desenvolvidos no final da primeira fase sero determinantes para a reflexo comum. Numa segunda fase, tendo desenvolvido vises e valores sobre os impactos sociais, ser relevante fazer um levantamento mais exaustivo das necessidades e expectativas das comunidades do Porto, das suas utilizaes dos museus e cruzar esse levantamento e o seu prprio desenvolvimento de indicadores de avaliao com a viso mais institucional deste estudo. O desenvolvimento de outros estudos de pblicos da cultura e de museus, no mbito de doutoramentos e mestrados da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, sero, certamente, indispensveis para apoiar este estudo. Os parceiros envolvidos no projecto no tm qualquer dvida que qualquer noo de impacto ou qualquer indicador deve muito provavelmente ser negociada com os utilizadores do servio (neste caso, os pblicos destinatrios) e que, um segundo andamento do projecto, dever ter em conta esse desenvolvimento. Este projecto assume, porm, o espao interno dos produtores como um espao-chave essencial de construo de prticas e, talvez mesmo, de necessidade prioritria e urgente de reflexo e formao e da ser o locus primeiro desta aco de investigao e aco para a transformao e reflexo sobre o espao-museu.

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Abstract: In this article we present the main structural guidelines and contexts for an ongoing research project being carried out by the authors and which deals with the nature of social impact and museum functions in a collaborative background. We begin by briefly presenting the main contexts and challenges the project attempts to address while also considering methodological options. A discussion of the underlying concepts is also offered at this point. Drawing from the action-research and interactive-participation traditions, the field of action of this research project deals with Portos museums and, particularly, with professionals, as social actors, devoted to the work of mediation. It aims to promote sustainable collaboration within museum professionals, that is, the proposal involves mainly the development of a collaborative space and a community of practice that supports critical and creative thinking, promoting change. Keywords: Museum; Mediation; Audiences; Collaboration; Social impacts.

Rsum: Cet article prsente les grandes orientations et les contextes d'un projet de recherche en cours, un projet qui fait rfrence la nature de l'impact social et les fonctions du muse dans un contexte profondment de collaboration. Il commence par prsenter le contexte et les enjeux du projet, tenant compte galement des options mthodologiques et propose une discussion sur les concepts cls. Puisant dans les traditions de recherche-action et de la

participation interactive, ce projet pour champ d'action les muses de Porto et comme des acteurs cls, en particulier, les professionnels qui se consacrent aux travaux de la mdiation avec
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le public. Vise promouvoir une collaboration durable entre les professionnels de muses; savoir, la proposition concerne principalement le dveloppement d'un espace collaboratif et une communaut de pratique qui permet des changements de la pense critique et crative. Mots-cls: Muse; Mdiation; Audiences; Collaboration; Impacts sociaux.

i ii

Para uma discusso dos termos ver, por exemplo: Davis, 1999; Martinez, 2006; Lorente, 2003. Como afirmou Scott Lash durante a sua interveno no Porto, no Colquio Museus, Discursos e

Representaes em 2004.
iii

Embora muitas Conferncias e Colquios apresentem muitos casos de sucesso (que funcionam no

grupo de profissionais como boas-prticas) na maior parte destes eventos o tempo de reflexo, debate e aprendizagem extremamente limitado e s excepcionalmente oferecem espaos mais individualizados e acolhedores que favoream o exerccio da imaginao crtica dos membros do grupo.
iv

PAAR Esta abordagem parte do que funciona e no os seus pontos negativos, centrando-se, por isso

mesmo, mais nos sucessos do grupo que nos seus problemas.


v

Mestrado e Doutoramento em Museologia (2 e 3 Ciclos), Faculdade de Letras da Universidade do

Porto (http://sigarra.up.pt/flup/cursos_geral.FormView?P_CUR_SIGLA=MMUS).
vi

Talvez de bordo porque gostaramos que se tratasse de uma viagem Neste momento o projecto incluir profissionais da maioria das instituies que constam do quadro em

vii

anexo, com caractersticas bem diferenciadas, tais como, a natureza de coleces, tutela e localizao na cidade.

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