Bacias Hidrográficas - Planejamento e Gerenciamento

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BACIAS HIDROGRFICAS: PLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO

Waldenize Manoelina do Nascimento 2 Maria Garcia Villaa

RESUMO: Nas ltimas dcadas o homem vem se conscientizando que a gua um bem finito. Sua preocupao se d a partir do momento em que a escassez da gua provoca danos tanto ao meio ambiente quanto a ele prprio. Estudiosos sobre Recursos Hdricos definiram a Bacia Hidrogrfica como unidade de anlise, planejamento e gerenciamento mais eficaz para caracterizar e combater os impactos ambientais. Este artigo procura estabelecer de forma sistematizada uma referncia sobre Planejamento e Gerenciamento de Bacias Hidrogrficas bem como mtodos e tcnicas para recuperao das mesmas. Palavras-chave: Bacias Hidrogrficas, Planejamento, Gerenciamento.

ABSTRACT: In the last few decades the man comes if acquiring knowledge that the water is a well finite one. Its concern if gives from the moment where the scarcity of the water provokes damages to the environment in such a way how much proper it. Studious on Hydrics Resources they had defined the drainage basin as unit of analysis, planning and more efficient management to characterize and to fight the ambient impacts. This article looks for to establish of form systemize a reference on Planning and Management of drainage basins as well as methods and techniques for recovery of the same ones Key words: Drainage basins, Planning, Management.

Introduo
Mestranda do Programa de Ps-Graduao do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso, PPGGEO/UFMT. Membro do Grupo de Estudos Estratgico e de Planejamento Integrado GEEPI/UFMT. E-mail: [email protected] 2 Mestranda do Programa de Ps-Graduao do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso, PPGGEO/UFMT. E-mail: [email protected]
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Ao longo do tempo o homem vem se utilizando dos recursos hdricos sem a preocupao de ver nestes um bem finito. A crescente demanda pelo uso dos recursos naturais foi acompanhada nas ltimas dcadas pela preocupao com a quantidade e qualidade desses recursos. Dessa forma, cresceu enormemente o valor da Bacia Hidrogrfica como unidade de anlise e planejamento ambiental. Este estudo procura estabelecer de forma sistematizada uma referncia sobre Planejamento e Gerenciamento de Bacia Hidrogrfica, cuja degradao ambiental est tipicamente caracterizada por: solos empobrecidos e erodidos, instabilidade hidrogrfica, produtividade primria reduzida e diversidade biolgica ameaada, sendo possvel avaliar de forma integrada as aes humanas sobre o ambiente e seus desdobramentos no equilbrio hidrolgico, presente no sistema representado pela Bacia Hidrogrfica. Este artigo tem por objetivo apresentar de maneira sistematizada os conceitos aplicados ao Planejamento e Gerenciamento, bem como os Mtodos e as Tcnicas para recuperao das Bacias Hidrogrficas, vistos na opinio de alguns autores que estudaram o tema. A princpio foram realizados estudos bibliogrficos que tratam do assunto, e, posteriormente, discusses e reflexes que resultaram na elaborao deste trabalho.

Definio de Bacia Hidrogrfica

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A bacia hidrogrfica foi definida segundo Guerra (1978, p. 48), como um conjunto de terras drenadas por um rio principal e seus afluentes. Inmeros esquemas ou representaes grficas deixam tambm de apresentar, por exemplo, os limites internos do sistema de uma bacia hidrogrfica, por onde circula e atua grande parte da gua envolvida. Para no ocorrer em tais equvocos, possvel definir bacia hidrogrfica como:

... um sistema que compreende um volume de materiais, predominantemente slidos e lquidos, prximos superfcie terrestre, delimitado interno e externamente por todos os processos que, a partir do fornecimento de gua pela atmosfera, interferem no fluxo de matria e de energia de um rio ou de uma rede de canais fluviais. Inclui, portanto, todos os espaos de circulao, armazenamento, e de sadas de gua e do material por ela transportado, que mantm relaes com esses canais. (Rodrigues & Adami, in: Venturi, 2005, p. 147-148).

A rede fluvial tambm chamada de rede de drenagem ou de rede hidrogrfica constituda por todos os rios de uma bacia hidrogrfica, hierarquicamente interligados. um dos principais mecanismos de sada (output) da gua, principal matria em circulao na bacia hidrogrfica. Tanto a bacia hidrogrfica quanto a rede hidrogrfica no possuem dimenses fixas. Pode-se subdividir uma bacia hidrogrfica considerando-se as ordens hierrquicas de seus canais. Rodrigues & Adami in: Venturi (2005, p.163) afirma que:

...o primeiro modo de hierarquizao amplamente aplicado foi proposto por Horton em 1945. Nesse esquema, os canais sem afluentes so considerados de 1 ordem, e, apenas na confluncia de dois rios de igual ordem, acrescenta-se mais um ordenao, ou seja, dois canais de mesma ordem hierrquica, formam um canal de ordem hierrquica superior. (Fig. 01)

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Fig. 01: Hierarquia da rede segundo Horton. Fonte: Rodrigues & Adami. In: Venturi (2005)

Numa bacia hidrogrfica os processos de circulao de matria e de energia que nela se operam, no envolvem apenas os canais fluviais e plancies de inundao, mas incluem as vertentes, nas quais os processos internos so de suma importncia. Para reconhecer os limites espaciais de bacias hidrogrficas necessrio, considerar em primeiro lugar a distribuio espacial do conjunto dos processos envolvidos em todos os subsistemas. Nas regies tropicais midas, segundo Rodrigues & Adami in: Venturi (2005, p.148),

...essas definies conceituais e espaciais so ainda mais necessrias, pois grande parte da gua que precipita em bacias hidrogrficas pode ficar reservada ou circular em vrios nveis e subsistemas: copas, folhas, caules, tronco e razes da cobertura vegetal e da serrapilheira, diversos horizontes pedolgicos; rochas; superfcie das vertentes e suas depresses; e,finalmente, canais fluviais e plancies de inundao.Assim que aos estudos de bacias hidrogrficas aplica-se a noo de sistemas aberto, composto por outros subsistemas, os principais sendo os sistemas de vertentes e os dos canais fluviais e das plancies de inundao.

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A Fig. 02, demonstra os diversos nveis por onde a gua poder entrar, permanecer ou circular numa bacia hidrogrfica, destacando os subsistemas mencionados na citao anterior.

Fig. 02: Bacia Hidrogrfica: limites e processos. Org.:Rodrigues, C. e Fiori, S. Fonte: Rodrigues & Adami. In: Venturi (2005)

Bacia Hidrogrfica como Unidade de Planejamento e Gerenciamento 106


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A bacia hidrogrfica como unidade de planejamento j de aceitao mundial, uma vez que esta se constitui num sistema natural bem delimitado geograficamente, onde os fenmenos e interaes podem ser integrados a priori pelo input e output, assim bacias hidrogrficas podem ser tratadas como unidades geogrficas, onde os recursos naturais se integram. Alm disso, constitui-se uma unidade espacial de fcil reconhecimento e caracterizao, considerando que no h qualquer rea de terra, por menor que seja, que no se integre a uma bacia hidrogrfica e, quando o problema central gua, a soluo deve estar estreitamente ligada ao seu manejo e manuteno. (Santos, 2004, p. 40-41) A bacia hidrogrfica como unidade de planejamento deve considerar seus usos mltiplos em dois momentos, sejam eles: primeiro, de implementao e viabilizao de polticas pblicas e, segundo interpretao. Roberts & Robert, 1984 citado por Tundisi (2003, p. 105) aponta no primeiro plano, os objetivos, as opes e a zonao em larga escala das prioridades no uso integrado do solo, agricultura, pesca, conservao, recreao e usos domsticos e industriais da gua. J no segundo momento, o da interpretao, destaca-se, a capacidade de gerenciar conflitos resultantes dos usos mltiplos e a interpretao de informaes existentes de forma a possibilitar a montagem de cenrios de longo prazo incorporando uma perspectiva de desenvolvimento sustentvel. A partir da Agenda 21 os conceitos de desenvolvimento sustentvel teve grande repercusso mundial. Em vrias regies e pases consolidou-se a concepo de que a bacia hidrogrfica a unidade mais apropriada para o gerenciamento, a otimizao de usos mltiplos e o desenvolvimento sustentvel. 107
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Por ter caractersticas bem definidas, a bacia hidrogrfica uma unidade que permite a integrao multidisciplinar entre diferentes sistemas de planejamento e gerenciamento, estudo e atividade ambiental. A abordagem por bacia hidrogrfica tem vrias vantagens apontadas por Tundisi (2003, p. 108), das quais podemos citar:
A bacia hidrogrfica uma unidade fsica com fronteiras delimitadas podendo estender-se por vrias escalas espaciais (Tundisi & Matsumura,1995). um ecossistema hidrologicamente integrado, com componentes e subsistemas interativos. Oferece oportunidade para o desenvolvimento de parcerias e a resoluo de conflitos (Tundisi & Straskraba, 1995). Estimula a participao da populao e a educao ambiental e sanitria (Tundisi et al., 1997). Garante viso sistmica adequada para o treinamento em gerenciamento de recursos hdricos e para o controle da eutrofizao (gerentes, tomadores de deciso e tcnicos) (Tundisi, 1994a)

Para o planejamento e gerenciamento de uma bacia hidrogrfica fundamental considerar a mudana de paradigma de um sistema setorial, local e de respostas crise para um sistema integrado, preditivo, e em nvel de ecossistema. Isso dever resultar em um diagnstico mais abrangente dos problemas e dever incorporar os aspectos scio-econmicos para que se possa desenvolver um bom planejamento e gerenciamento. Na abordagem tradicional a gesto dos recursos hdricos sempre foi compartilhada e no integrada. Um longo tempo foi necessrio para que os limnlogos e engenheiros iniciassem sua interao na gesto das guas. O tratamento da gua, na abordagem tradicional da engenharia advm da concepo de que com a tecnologia qualquer gua possvel ser transformada em gua 108
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potvel. Mesmo sendo verdade, os altos custos do tratamento tornam invivel a produo de gua potvel. No planejamento e no gerenciamento necessrio dar condies para cuidar dos mananciais e das fontes de abastecimento de gua potvel, desde a fonte torneira, tratar assim todo o sistema de produo de gua. Segundo Tundisi, (2003, p.107) deve-se considerar os seguintes processos:
Processos conceituais adoo da bacia hidrogrfica como unidade de planejamento e gerenciamento e a integrao econmica e social. Processos tecnolgicos o uso adequado de tecnologia de proteo, conservao, recuperao e tratamento. Processos institucionais a integrao institucional em uma unidade fisiogrfica, a bacia hidrogrfica fundamental.

A bacia hidrogrfica constitui um processo descentralizado de conservao e proteo ambiental, tornando-se um estmulo para a integrao da comunidade e a integrao institucional. As condies da bacia hidrogrfica tambm so importantes na consolidao do gerenciamento. De acordo com Tundisi, (2003, p. 109), o ndice da qualidade pode ser representado pelos seguintes indicadores:
Qualidade da gua de rios e riachos. Espcies de peixes e vida selvagem (fauna terrestre) presentes. Taxa de preservao ou de perda de reas alagadas. Taxa de preservao ou de perda das florestas nativas. Taxa de preservao de contaminao de sedimentos de rios, lagos e represas. Taxa de preservao ou contaminao das fontes de abastecimento de gua. Taxa de urbanizao ( % de rea da bacia hidrogrfica ). Relao populao urbana / populao rural. (Revenga et al.,1998; Tundisi et al., 2002) Em conjunto com o ndice de qualidade tambm deve-se considerar os indicadores de vulnerabilidade da bacia hidrogrfica:

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Poluentes txicos (Pimentel & Edwards, 1982). Carga de poluentes. Descarga urbana. Descarga agrcola. Alteraes na populao: taxa de crescimento e ou migrao / imigrao. Efeitos gerais das atividades humanas (Tundisi, 1978). Potencial de eutrofizao. (Tundisi, 1986 a)

Conceito aplicado ao Gerenciamento de Bacia Hidrogrfica

O conceito que se aplica ao gerenciamento de bacia hidrogrfica estende s barreiras polticas tradicionais (sejam municipal, estadual e federal, em alguns casos entre pases) para uma unidade fsica de gerenciamento e desenvolvimento econmico e social. Para tanto h de se ter integrao entre setor pblico, setor privado, universidade, e populao da rea considerada. Conforme Jorgensen (1980) e Jorgensen et al.(2000) citado por Tundisi (2003, p. 111-112), para estabelecer algumas opes de gerenciamento deve-se analisar e consolidar os seguintes conhecimentos:

Tecnologias de controle de processos de emisso de poluentes e caracterizao quali e quantitativa de efluentes industriais. Conhecimento de fontes no pontuais de poluentes. Incluindo metodologias de irrigao e alternativas que afetam descargas qumica (Minotti,1995). Conhecimento especializado em processos aquticos (Matsui et al., 2002). Fsica e qumica dos rios, reservatrios e lagos, incluindo mecanismos de disperso de poluentes, eutrofizao e interaes sedimento gua (Overbeck, 1989 ). Modelagem ecolgica e matemtica que dever integrar os diferentes componentes e planejar e estabelecer cenrios adequados prevendo interaes para solues adequada (Henderson-Sellers, 1984; Jorgensen & Muller,2000).

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Quando se trata de gerenciamento de bacia hidrogrfica as medidas de preveno so as melhores aliadas, sobretudo porque esse gerenciamento deve ser planejado com objetivo duradouro, isto , de longo prazo, pois medidas preventivas so menos dispendiosas do que as corretivas. A Fig. 3, apresenta as duas abordagens no gerenciamento de recursos hdricos e os objetivos a longo prazo.

Fig. 03: Abordagens no gerenciamento de recursos hdricos e objetivos de longo prazo (Straskraba & Tundisi, 2000). Fonte: Tundisi, 2003.

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Como afirma Tundisi (2003, p. 112-113), as abordagens mais recentes que envolvem a base de conhecimento existente apontam para os seguintes aspectos fundamentais:
Reconhecimento das incertezas (Cooke et al.,1986). Reconhecimento de que as decises sobre a poltica de gerenciamento e planejamento a ser adotada no provero solues exatas, mas adaptativas e em etapas, incorporando novas idias e metodologias ao longo do processo (Cooke & Kennedy,1988). Desenvolvimento da capacidade preditiva por meio de interaes entre clientes, usurios e planejadores e gerentes Definio de objetivos precisos: gerenciamento de integrado, preditivo, adaptativo, avano por etapas, introduo de ecotecnologias adequadas e implantao de sistemas de suporte deciso com a participao. Fundamental a construo de uma capacidade local de gerenciamento com base no conhecimento de capacidade local (PNUMA/IETC, 2000, 2001).

Gerenciamento Integrado de Bacias Hidrogrficas

No final da dcada de 1980 o gerenciamento integrado de recursos hdricos foi proposto como uma das solues frente incapacidade de construir um processo dinmico e interativo somente com uma viso parcial e exclusivamente tecnolgica. O planejamento e o gerenciamento integrado devem proporcionar uma viso abrangente de planejamento incluindo polticas pblicas, tecnolgicas e de educao, com o intuito de promover um processo de longo prazo com participao de usurios, autoridades cientistas e do pblico em geral alm das organizaes e instituies pblicas e privadas.

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Essa integrao prope a resoluo de conflitos, a otimizao de usos mltiplos de rios, lagos, represas e reas alagadas e a promoo de bases cientficas slidas. Dentro da viso de planejamento e gerenciamento integrado Tundisi (2003, p. 117) considera os seguintes tpicos:

Bacias hidrogrficas como unidade de gerenciamento, planejamento e ao. gua como fator econmico. Plano articulado com projetos sociais e econmicos. Participao da comunidade, usurios e organizaes. Educao sanitria e ambiental da comunidade. Treinamento tcnico. Monitoramento permanente, com a participao da comunidade. Integrao entre engenharia, operao e gerenciamento de ecossistemas aquticos. Permanente prospeco e avaliao de impactos e tendncias. Implantao de sistemas de suporte deciso.

Numa viso municipal, o gerenciamento de bacia hidrogrfica encontra vrios desafios como o grau de urbanizao, considerando se o municpio de mdio ou pequeno porte, em virtude dos usos mltiplos que podem provocar impactos ambientais na rea municipal. Os municpios de pequeno e mdio porte tm caractersticas muito diferentes das reas metropolitanas que apresentam problemas especiais de abastecimento de gua e de tratamento de esgoto. Nesses municpios, um dos principais desafios a conservao dos mananciais e a preservao das fontes de abastecimento superficiais e/ou subterrneas. Deve-se dar nfase aos usos do solo, proteo da vegetao e reflorestamento. O reflorestamento ciliar pode gerar 113
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oportunidades de desenvolvimento econmico e social, atravs de cooperativas populares para construo de viveiros que produzam sementes e mudas. Tambm pode ser um mecanismo efetivo de mobilizao da populao da periferia e da zona rural. O tratamento de esgoto uma ao muito importante para a recuperao das guas municipais. Outra ao importante a deposio de resduos slidos de maneira que no afete os mananciais e no aumente os riscos sade pblica. Os municpios tambm devem criar legislao especfica para a proteo de mananciais e implantao de programas de monitoramento e controle ambiental. Para reas municipais segundo Tundisi (2003, p. 114) pode-se sintetizar as solues para os principais problemas relacionados com recursos hdricos, em:

Proteo dos mananciais e das bacias hidrogrficas. Tratamento de esgotos e de guas residurias industriais. Tratamento e disposio dos resduos slidos (lixo domstico, industrial e de construo civil). Controle da poluio difusa. Treinamento de gerentes, tcnicos ambientais e de recursos hdricos. Educao sanitria da populao. Programas de mobilizao comunitria e institucional. Campanhas e introduo de tecnologia para diminuir o desperdcio da gua tratada. Estmulo e apoio s prticas coletivas de organizao dos usos da gua por associaes ou grupos de pessoas.

Mtodos para Gerenciamento Integrado e Recuperao de Bacia Hidrogrfica 114


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Dentre as vrias tcnicas citadas por Tundisi (2003, p.118) para promover a recuperao de bacias hidrogrficas e a capacidade de autosustentao do sistema pode-se considerar as seguintes:
Introduo de corredores de florestas de espcies nativas na bacia hidrogrfica. Gerenciamento e adequao da aplicao de fertilizantes, pesticidas e herbicidas na bacia hidrogrfica, a fim de diminuir fontes no pontuais e controlar eutrofizao e toxicidade (Matsui et al., 2002). Controle da eroso para diminuir assoreamento (Tundisi et al., 2003). Tratamento de esgotos domsticos, vrias tcnicas ecotecnolgicas. Tratamento dos efluentes industriais e reuso da gua. Monitoramento permanente para avaliao de potenciais impactos (Matsumura Tundisi & Tundisi, 1997). Gerenciamento integrado dos usos do solo da bacia hidrogrfica (Tundisi et al., 2003).

A gesto das guas e o papel dos gerentes

Os gerentes de qualidade da gua atuam como responsveis ou como parceiros, nos cuidados referentes qualidade e quantidade da gua nos sistemas aquticos continentais. Mudanas de atitudes, tanto de gerentes como do pblico, so necessrias, para obter sustentabilidade para as geraes futuras. De acordo com Tundisi (2003, p. 120), os gerentes devem considerar as atividades seguintes como aplicveis interao bacias hidrogrficas/rios/lagos/represas.
Introduzir tecnologias com mtodos no agressores ao meio ambiente, como tecnologia e engenharia ecolgica. Empregar abordagens de gerenciamento integrado. Integrar gerentes com engenheiros, cientistas e a comunidade local.

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Implementar programas para reciclagem de materiais, visando reduo da poluio das guas. Apoiar reduo no uso e medidas conservacionistas de gua. Avaliar diversas possibilidades de gerenciamento, inclusive abordagens inovadoras, no sentido de determinar a escolha com maiores perspectivas. Os objetivos devem contemplar horizontes de longo prazo e recursos hdricos qualitativamente sustentveis. Dar maior ateno aos mtodos de mitigao da poluio difusa. Fomentar a educao ambiental na regio. Demonstrar aos gerentes industriais e membros da comunidade quais as conseqncias de suas decises e/ou atividades sobre a disponibilidade quanti e qualitativa de gua (Hashimoto, 1995). Essas atividades visam garantir:

a) desenvolvimento controlado capaz de garantir a manuteno, a longo prazo, dos recursos hdricos e minimizar os efeitos sobre esse ou outros recursos; b) que no se esgotem opes para um desenvolvimento futuro; c) que a eficincia no uso da gua ou de outros recursos seja o elemento-chave da estratgia de seleo.

Para que a gesto dos recursos hdricos tenha um resultado efetivo necessrio que tenha um monitoramento adequado, com capacidade de identificar e apontar possveis locais sujeitos ou no a contaminao, poluio, eroso ou outros danos ambientais. Alm disso, o monitoramento deve dar indicaes seguras sobre o que conservar e qual o custo dessa conservao. O monitoramento envolve dois tpicos fundamentais: o monitoramento para orientao (freqncia limitada e poucos parmetros) e monitoramento sistemtico (alta freqncia, constante e peridico e muitos parmetros). O monitoramento o primeiro passo importante para a elaborao de um banco de dados confivel, que vai resultar em conjunto de informaes capazes de verificar tendncias, avaliar impactos, prevenir catstrofes e orientar futuras aes. 116
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Os aspectos legais do planejamento e gerenciamento de bacias hidrogrficas.

O Cdigo das guas de 1934 foi muito importante quando da sua implantao, mas em funo da abundncia de guas existente no pas, a ateno era voltada para a energia eltrica e saneamento bsico. Outros usos como o industrial, a irrigao, etc., foram passados despercebidos, mas a partir dos anos 80 a gua no vista mais como um bem infinito, passando a ser elemento de discusso, e por essa, providncias gerais e legais vm sendo tomadas desde ento. Pode-se considerar como marco zero dessas mudanas a implantao da Lei Federal n 6.938/81, que estabeleceu a Poltica Nacional do Meio Ambiente, seus instrumentos e principais mecanismos de formulao e implementao. Esta lei exerce um papel transformador no que diz respeito s aes do Estado e organizao do Poder Executivo para sua aplicao como mecanismo de gesto colegiada e participativa atravs da criao do Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA, que assegura a participao da sociedade civil. Simultaneamente a criao do CONAMA, a Lei n 6.938/81 d uma dimenso nacional para a institucionalizao da gesto ambiental como j havia sido feito em Minas Gerais e Rio de Janeiro. Atualmente o Ministrio do Meio Ambiente MMA - atua como rgo gestor do Sistema Nacional do Meio Ambiente SISNEMA, sendo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renovveis IBAMA, a entidade

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executiva das atividades de competncia da Unio, das Secretarias de Estados de Meio Ambiente e demais rgo estaduais e municipais ligados ao SISNEMA. A Lei Federal 9.433 de 08 de janeiro de 1997, fundamenta-se juridicamente em novos princpios, e institui o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hdricos SNGRH. A gua vista como bem econmico passvel de ter sua utilizao cobrada, bacia hidrogrfica como unidade de planejamento e gesto, a gesto das guas delegadas a comits e conselhos de recursos hdricos com a participao da Unio, Estados, Municpios e sociedade civil. A criao da Agncia Nacional das guas ANA, em 2000, veio consolidar o esforo governamental do Estado brasileiro e a organizao do Poder Executivo Federal para a implantao da Lei das guas e para efetivar seus princpios. (CARVALHO in TRIGUEIRO, 2003). Por mais recente que seja a Lei das guas, ela inclui conceitos de gesto j estabelecidos na Lei Ambiental n 6.938/81, mas que no estavam suficientemente claros para serem tratados como instrumentos de polticas pblicas, como a criao do Conselho Nacional dos Recursos Hdricos e dos Conselhos Estaduais como instncia mxima de liberao sobre as polticas, normas e padres de gesto e gerenciamento das guas em suas respectivas esferas. O gerenciamento dos recursos hdricos, centralizado em Comits de Bacias Hidrogrficas, possibilita um novo mecanismo de cooperao multilateral entre a esfera federal e as demais, na soluo de problemas regionais, sobretudo nas regies conurbadas. Segundo relata Carvalho in Trigueiro (2003): 118
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H aqui uma medida absolutamente inovadora, medida que as competncia e decises que seriam tradicionalmente atribudas ao Poder Executivo migram para o Comit, transformando em locus de deciso sobre as principais iniciativas de gesto das guas de uma determinada bacia, a saber: aprovao do plano diretor de recursos hdricos para a bacia, definio das normas e procedimentos sobre concesso da outorga de direito de uso das guas, deciso sobre o uso das guas, definio da agenda de prioridades da bacia, aprovao do plano de investimentos, incluindo a aplicao dos recursos eventualmente arrecadados pelo uso dos recursos hdricos. Cada Comit conta com uma agncia executiva de natureza paraestatal que lhe d suporte operacional, executando atividades que no modelo tradicional exigiriam a criao de rgo ou participao pblica.

Um fato de relevncia fundamental na Lei das guas que a outorga de gua passou a ser obrigatria para o lanamento de efluentes (esgoto, guas servidas e resduos lqidos industriais) a qualquer corpo receptor que utilizado para despoluio que podem afetar negativamente a qualidade da gua. Anteriormente, a outorga era exigida para a captao e derivao de recursos hdricos de um corpo dgua.

Consideraes Finais O gerenciamento de recursos hdricos envolve um conjunto de aes estratgicas de planejamento, participao de usurios e organizao institucional e a implantao de tecnologias diferenciadas, avanadas (ecotecnologias) e de baixo custo. A gesto dos recursos hdricos efetua-se a partir da bacia hidrogrfica, com promoo de polticas pblicas, participao de usurios e treinamento de gerentes com viso sistmica tecnolgica de problemas sociais e econmicas.

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imprescindvel uma viso integrada de economia regional, global e das relaes do desenvolvimento sustentvel com a poltica pblica de desenvolvimento. Efetuam processos cooperativos institucionais com enfoque sistmico, preditivo e adaptativo, dando igual importncia as medidas estruturais e no estruturais. No tocante s questes legais e s questes da poltica ambiental nacional, vive-se um novo ciclo que abrange uma abordagem integrada, considerando que a poltica ambiental no para a natureza uma poltica setorial, mas uma poltica global onde o planejamento e a gesto ambiental fundamentam-se na deciso do governo em todos os nveis.

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Referncias Bibliogrficas

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