Guerreiro Ramos

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2009, Conselho Federal de Administrao (CFA) proibido a duplicao ou reproduo deste volume, ou de parte do mesmo, por quaisquer meios,

, sem autorizao expressa do CFA.


Endereo para contato:

Conselho Federal de Administrao (CFA) SAUS, Quadra 1, Bloco L, Edifcio CFA 70070-932 Braslia (DF)
1 Edio (2009) 2.500 exemplares Projeto grfico e diagramao:

Via Brasilia
Superviso:

Renata Costa Ferreira


Impresso:

Artes Grficas e Editora Pontual LTDA - EPP

RAMOS, Guereiro Uma introduo ao histrico da organizao racional do trabalho. / Guereiro Ramos. - Braslia : Conselho Federal de Administrao, 2008. 132 p. Tese apresentada ao concurso para provimentos em cargos da carreira de Tcnico de Administrao do quadro permanente do Departamento Administrativo do Servio Pblico -1949 enquadrada na seo IOrganizao, item a da letra a, das instrues do referido concurso. Republicao do original publicado em 1950. 1- Eficincia industrial. 2- Sociologia industrial. I-Ramos, Alberto Guereiro. II- Conselho Federal de Administrao. III- Ttulo. CDU 306.36

PARA Rmulo de Almeida Ottolmy Strauch Jorge Lacerda Efran Toms B Abidias Nascimento Jos Leite Lopes Jlio S

Uma Introduo ao Histrico da Organizao Racional do Trabalho


(Ensaio de sociologia do conhecimento)
Tese apresentada ao concurso para provimentos em cargos da carreira de Tcnico de Administrao do Quadro Permanente do Departamento Administrativo do Servio Pblico 1949 Enquadrada na Seo I Organizao, item a da letra a, das Instrues do referido concurso.

Werkleute sind wir: Knappen, Jnger, Meister, und bauen dich, du hohes Mittelschiff. . Gott, du bist gross. RAINER MARIA RILKE

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PREFACIO ............................................ ...........................................13 APRESENTAO ....................................... ......................................15 PARTE I PLANO E JUSTIFICAO ........................... ..........................17 PARTE II DESENVOLVIMENTO.............................19 ............................. CAPTULO I O TRABALHO NAS SOCIEDADES PRIMITIVAS .............21 ............. CAPTULO II OS PRECONCEITOS ANTI-TRABALHISTAS NA ANTIGUIDADE .................................29 ................................. CAPTULO III O trabalho na Idade Mdia e no Renascimento ........... ..........35 CAPTULO IV A RACIONALIZAO IN STATU NASCENDI ...............43 ............... CAPTULO V O AMBIENTE RACIONALIZADOR ....................... ......................47 CAPTULO VI O SISTEMA TAYLOR ................................53 ................................ CAPTULO VII O SISTEMA FORD .................................. .................................63 CAPTULO VIII A METODOLOGIA DA ORGANIZAO EM EMERGNCIA ..................................... ....................................69 CAPTULO IX A RACIONALIZAO DO TRABALHO NA ALEMANHA ......................................73 ...................................... CAPTULO X A FISIOLOGIA E A PSICOLOGIA APLICADAS AO TRABALHO....................................79 .................................... CAPTULO XI A RACIONALIZAO DA ADMINISTRAO PBLICA ......................................... ........................................85 CAPTULO XII A SOCIOLOGIA DO TRABALHO ....................... ......................101 PARTE III CONCLUSES................................. ................................117 BIBLIOGRAFIA .......................................119 .......................................

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PREFACIO
Ao republicar o presente livro Uma introduo ao Histrico da Organizao Racional do Trabalho de autoria de Alberto Guerreiro Ramos, o CFA Conselho Federal de Administrao, pretende apresentar sociedade, e em especial a todos os que se interessam pela Cincia da Administrao uma ferramenta de desenvolvimento e progresso para o pas, um trabalho focado na inovao. Esse livro no recebeu modificaes do seu contedo original, o mesmo que foi publicado em 1950, e, com toda certeza, vai revolucionar os meios acadmicos modernos. Apesar de ter sido escrito com foco em uma administrao federal do passado, quando os profissionais e tcnicos extraiam o saber administrativo dos modelos americanos, o livro ser de grande contribuio para os dias atuais. Alberto Guerreiro Ramos sempre propunha algo diferente e inovador, e exatamente isso que os leitores podero conferir nessa obra. O autor foi tambm de grande importncia para a elaborao do ante projeto original, feito para discusso pelos associados da ABAP Associao Brasileira de Administrao Pblica em 1965 e que serviu de fundamento terico para a redao da Lei 4769/65 que regulamentou a profisso de Administrador e criou os Conselhos Federal e Regionais de Administrao. Aps ampla discusso entre a categoria, Guerreiro Ramos, - ento Deputado Federal - acrescentou diversas alteraes que melhoraram o texto antes de apresent-lo ao Congresso Nacional. No livro que ora relanado, vale destacar os captulos I Trabalho nas Sociedades Primitivas; II Os Preconceitos Anti Trabalhistas na Antiguidade ; III O Trabalho na Idade Mdia e no Renascimento e IV A Racionalizao in statu faciendi por serem de suma importncia para o entendimento crtico estabelecido nos captulos que se seguem. No se v nos livros de Teoria Geral da Administrao tamanha fundamentao terica. A crtica aos humanistas da administrao, psiclogos e socilogos das correntes das Relaes Humanas, Comportamentalista e, at mesmo, Estruturalista esto bem colocadas, culminando com as

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propostas de modelos experimentados na estrutura administrativa federal da poca. No sem razo que o autor quando descreve seu pensamento diz , portanto perfeitamente justificvel o nosso procedimento. De um lado, porque a sntese deve suceder logicamente anlise; de outro lado, porque uma viso de conjunto da Organizao Racional do Trabalho contribuir para aqueles que a aplicam se tornem conscientes das limitaes histricas da referida tecnologia. O Conselho Federal de Administrao coloca disposio do mundo acadmico a republicao dessa obra e acredita que ser de grande valia para os que estudam a Administrao. Como lembrete final, importante ler a continuidade desse grande pensador Guerreiro Ramos em outro livro A Nova Cincia das Organizaes, onde o autor trata da Teoria da Delimitao dos Sistemas Sociais, onde prope um novo modelo alocativo de recursos e analisa criticamente o mercado sem regras, que acarreta o caos da economia que estamos passando nesse momento de turbulncia em todos os mercados do mundo.

Boa leitura a todos!

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APRESENTAO
com muita satisfao que o Conselho Federal de Administrao republica o livro Uma Introduo ao Histrico da Organizao Racional do Trabalho de autoria de Alberto Guerreiro Ramos, acreditando que esta obra ter grande relevncia para os tericos comprometidos com as mudanas e que escrevem livros para o ensino e o desenvolvimento da Cincia da Administrao no Brasil. O livro que trata da Teoria Geral da Administrao e no recebeu modificaes em seu contedo original desde que foi publicado pela Imprensa Nacional no ano de 1950, uma homenagem do Sistema CFA/CRAs a Guerreiro Ramos. O autor nasceu em 1915, em Santo Amaro da Purificao, na Bahia , e faleceu em 1982. Guerreiro Ramos foi autor de alta relevncia no campo das Cincias Sociais no Brasil e no mundo. Era polmico, criativo, crtico, porm pro ativo, pois sempre propunha algo diferente. Ele inovou ao tratar da anlise do modelo mecnico taylorista/fordista, to usual na poca. J em 1943, como Administrador (Tcnico de Administrao) ingressou no servio pblico no DASP Departamento Administrativo do Servio Pblico e, em 1945 prestou concurso pblico apresentando como tese o estudo agora republicado em livro Uma introduo ao Histrico da Organizao Racional do Trabalho. Homem de grande cultura tambm escreveu dez livros e numerosos artigos que foram traduzidos em ingls, francs, espanhol, japons e chins. Alberto Guerreiro Ramos desenvolveu trabalhos importantes nas reas de Sociologia, Cincia Poltica e Administrao e sempre apresentou grande interesse poltico. Foi delegado do Brasil na XVI Assemblia Geral da ONU, tendo participado da Comisso de Estudos Econmicos. Na rea acadmica realizou trabalhos de destaque e foi o primeiro professor brasileiro a ministrar aulas no primeiro curso de Administrao na Fundao Getlio Vargas, no Rio de Janeiro. Outra obra de sua autoria, A Nova Cincia das Organizaes Uma Reconceituao da Riqueza das Naes, foi considerado nos Estados Unidos como a melhor obra de Cincias Sociais nos anos 80.

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Ao republicar esse livro, o Sistema Conselho Federal de Administrao e Conselhos Regionais de Administrao que representam os 27 estados brasileiros - busca contribuir para o desenvolvimento e a divulgao da Cincia da Administrao, em atendimento a misso de valorizar a profisso de Administrador. Pretende ainda resgatar um autor importante para a histria da Administrao no Brasil, divulgar sua obra nos meios acadmicos e prestigiar o escritor que, nos primrdios do sculo XX, ofereceu importante legado no campo de estudo da Administrao. Conhecendo a histria para administrar o futuro.

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PARTE I PLANO E JUSTIFICAO


As teses que tm sido apresentadas nos anteriores concursos para a carreira de Tcnico de Administrao, acrescidas das numerosas publicaes patrocinadas pelo D. A. S. P., constituem, em conjunto, um repositrio de indicaes e informaes utilssimas sobre os aspectos fundamentais da tcnica de administrao. Principalmente graas ao esforo de seus autores, as novas idias sobre a racionalizao administrativa foram debatidas e divulgadas, em nosso meio, de maneira acessvel ao grande pblico interessado nessas questes. Elas so, por assim dizer, um verdadeiro patrimnio do Servio Pblico brasileiro. Examinando-se, porm, esta abundante literatura, observar-se-, nela, a ausncia de qualquer estudo sobre a evoluo da Organizao Racional do Trabalho. Animados pelo intuito construtivo de contribuir para um acrscimo positivo daquele acervo, decidimos empreender o presente estudo, intitulado Uma Introduo ao Histrico da Organizao Racional do Trabalho, contrariando a tendncia do menor esforo, que seria a de seguir rotas j exploradas. , portanto, perfeitamente justificvel o nosso procedimento. De um lado, porque a sntese deve suceder logicamente anlise; de outro lado, porque uma viso de conjunto da Organizao Racional do Trabalho contribuir para que aqueles que a aplicam se tornem conscientes das limitaes histricas da referida tecnologia. O plano da presente tese concretiza-se nos seguintes tpicos que constituiro captulos da Parte II: I O trabalho nas sociedades primitivas; II Os preconceitos anti-trabalhistas na Antiguidade; III O trabalho na Idade Mdia e no Renascimento. IV A racionalizao in statu nascendi; V O ambiente racionalizador;

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VI O sistema Taylor; VII O sistema Ford; VIII A metodologia da organizao em emergncia; IX A racionalizao na Alemanha; X A fisiologia e a psicologia aplicadas ao trabalho; XI A racionalizao da administrao pblica; XII A sociologia do trabalho. Esta ordenao pareceu-nos a mais adequada ao objetivo desta tese que o de mostrar que a Organizao Racional do Trabalho conseqncia de um longo processo de secularizao, no transcurso do qual apareceu, tardiamente na civilizao ocidental, uma atitude laica do esprito humano, em face da natureza e da sociedade. Com efeito, nos captulos I e II, pretendemos ter evidenciado que o carter tradicional e sagrado das sociedades pr-modernas no possibilita o desenvolvimento de uma racionalizao do trabalho. No captulo III, em que estudamos o trabalho na Idade Mdia e no Renascimento, tivemos em vista assinalar o choque de duas tendncias histricas antinmicas e, no captulo IV, focalizamos a superao deste choque, pelo surto de uma nova atitude do esprito humano, em face da natureza e da sociedade. A configurao ntida e definitiva desta atitude demonstrada no captulo V. Do captulo VI em diante, acompanhamos a evoluo da Organizao Racional do Trabalho, propriamente dita. Na Parte III, encontram-se as concluses da tese, sob forma de itens.

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PARTE II DESENVOLVIMENTO
preciso, no atual perodo de transio, utilizar o crepsculo intelectual que domina nossa poca e no qual todos os valores e pontos de vista aparecem em sua genuna relatividade. Karl Mannheim, Ideologia y Utopia. Fondo de Cultura Econmica Mxico. 1941. Pg. 75.

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CAPTULO I O TRABALHO NAS SOCIEDADES PRIMITIVAS


Signalons dabord que la stabilit est l trait l plus caractristique de toutes ls formes de culture primitive, ceci em raison de la simplicit et du manque de variet de la technique. Moins on introduit dinnovations dans une culture et plus elle a tendance demeurer uniforme. Richard Thurnwald, LEconomie Primitive. Payot. Paris. 1937. Pg. 349. When I said that primitive society is all of a piece, I meant that there is in primitive society an estimate linking of all social activities. For example, the anthropologist who sets out to study tribal economics finds that he cannot understand them unless he also find out about the kinship structure, the religious system, the technology, land tenure and other social structures. In fact, from whichever angle he approaches such a community in the field he finds that he cannot understand any single aspect of it outside and apart from the context provided by the rest. As regards the individual himself, his activity in these various single social fields is entirely determined by his position in all of them. In our society our business or workaday life is very little affected, for example, by our religious life; indeed; we need have no religius life. But the primitive cannot be an atheist if be wave, he would be unable to take up any other social role. In his experience, the social field is one. He cannot go out of any part of it without going out of all it. Adam Curle, Incentives to work, in Human Relations Vol. II. No. 1. Pg. 43 1949.

O trabalho nas sociedades modernas uma atividade institucionalizada. algo que tem uma existncia substantiva, perfeitamente ntida. Na maioria dos pases do mundo ocidental sua existncia to concreta que se materializa em reparties especializadas no seu tratamento. Alguns pases possuem museus do trabalho, edifcios onde se abriga, por assim dizer, a representao coletiva do trabalho e quase por toda parte est em vigncia um direito do trabalho.

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Tudo isto est a indicar que o trabalho assumiu no presente estdio da evoluo humana uma importncia decisiva, como fator bsico da posio do homem na sociedade e, at certo ponto, no universo1. Esta compartimentalizao do trabalho, entretanto, um fato relativamente recente. Nem, sempre ele constitui uma esfera decisiva da sociedade. Nem sempre ele foi nitidamente perceptvel, como em nossos dias. necessrio, pois, compreender a historicidade deste fato, porque s luz desta compreenso se poder explicar o aparecimento da organizao racional do trabalho, no fim do sculo XIX. Tal ocorrncia o resultado de um longo processo histrico e no de uma causalidade ou de uma inveno inopinada. Nada melhor para introduzir o estudioso na pista certeira da compreenso deste fenmeno que acompanhar o desenvolvimento da
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o que explica, em parte, o aparecimento dos partidos trabalhistas. oportuno, guisa de fundamentao do que se disse, transcrever estas pginas de Peter F. Drucker (The Future of Industrial Man), sobre o homem sem trabalho: O desempregado, sobretudo, desintegra-se socialmente. Perde as habilidades que tinha, a moral que ostentava, torna-se aptico e insocial. O desempregado a princpio pode ser mais amargo; o ressentimento ainda, uma forma de participao da sociedade, embora negativa. Logo, porm, para o desempregado, a sociedade se torna demasiado irracional e incompreensvel at para a revolta. Fica perturbado. Sente-se ameaado. Passa a resignado e por fim mergulha numa apatia que como que uma morte social. Durante os perodos crepusculares de alta atividade nos negcios e altos desempregos que caracterizam os pases industriais num passado recente, qualquer estudioso de questes sociais com experincia, seria capaz de descobrir dentro uma multido, de uma cidade industrial, numa tarde de sbado, os desempregados crnicos. No vestiam necessariamente com mais pobreza do que os outros; no pareciam mais subalimentados do que a maioria dos operrios empregados da multido. Tinham, porm, um ar iniludvel de perturbadao, de homens derrotados e perseguidos por uma fatalidade cega que os distinguia tanto como se eles pertencessem a outra raa. E assim num certo sentido. Em torno deles levantou-se uma muralha invisvel, separandoos da sociedade, que os proscreveu. No s os desempregados; a sociedade sentiu essa muralha. O intercmbio social entre os empregados e os desempregados gradualmente cessou. Freqentavam botequins diferentes, diferentes casas de jogo, quase no se casavam entre si e, em geral, permaneciam separados. No h pginas mais trgicas e mais espantosas em toda a literatura a respeito do desemprego crnico, do que as que contam a destruio, por ele causada, na comunidade mais indispensvel ao homem: a famlia. Muitas famlias completamente desempregadas mantiveram sua coeso e fora social. Mas, raramente, uma famlia, em parte desempregada, continuou a ser uma comunidade em funcionamento. Pai desempregado, filhos empregados, irmos desempregados, irm empregada ficavam separados por uma muralha de mtua suspeita e incompreenso, que nem o amor, nem a necessidade conseguiam destruir. Se h necessidade de outras provas da significao social do desemprego, temo-las na jogatina a que se entregavam os desempregados, em todos os pases industriais. A popularidade das apostas de futebol e corrida de cachorros, na Inglaterra, ou do jogo dos nmeros, nos Estados Unidos, no se explica pelo desejo dos desempregados de ganhar algum dinheiro da nica maneira possvel. O desempregado sabia to bem que podia perder, quanto qualquer articulista caturra que fizesse clculo das probabilidades. Mas a sorte cega e irracional lhes parecia a nica fora ativa deste mundo e desta sociedade. S a sorte vale. E as apostas de futebol ou os jogos dos nmeros lhes pareciam a nica conduta racional, numa sociedade sem outra razo de ser, sem significao, sentido, funo e poder integrativo. (Cr. A Guerra e a Sociedade Industrial, pgs. 139-141, traduo brasileira de The Future of Industrial Man, de Peter F. Drucker, Epasa, Rio, 1944).

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idia do trabalho nos vrios estdios da evoluo do ocidente, embora de maneira sumria. O estdio mais rudimentar da sociedade aquele a que que se tem convencionado chamar primitivo ou, como querem os socilogos norteamericanos, de pr-letrado2. Esta etapa , indisfaravelmente, comum a todas as civilizaes. Muitas destas, alis, permanecem ainda nesta fase, compondo o panorama daquilo a que W. Pinder chamaria contemporaneidade do coetneo3. Em tais sociedades pr-letradas o processo de individualizao do trabalho se apresenta in statu nascendi. O trabalho a algo difuso, coextensivo totalidade da vida social. Tem observado os antroplogos que freqentemente no se encontra nas sociedades primitivas uma palavra especfica para designa-lo. A sociedade primitiva , como diz A. Curlem, inconsutil, isto , feita de uma s pea. Economia, arte, religio, moral e magia se mantem em estreitssima interdependncia funcional, resultando disto obscuridade existencial de cada uma delas. Todavia, destas vrias esferas da vida social a que mais de perto se relaciona com o trabalho evidentemente a economia. Alis, isto acontece no s nos estdios rudimentares, como nos mais desenvolvidos da evoluo social, economia e trabalho se desenvolvem, de maneira interdependente. O carter da economia primitiva, refrao que do carter genrico da sociedade, no permite que o trabalho se desprenda das outras atividades. Dois aspectos da economia primitiva interessa-nos ressaltar aqui: a idia de lucro e a concepo do trabalho.

Trmo proposto por Ellsworth Faris. (The Nature of Human Nature, McGraw-Hill Book Co. Inc. New York and London 1937). Escreve E. Faris, s pginas 252 e 253 deste livro: Preliterate seems a far better word. It is neutral, connoting no reflection of inferiority, and is, therefore objective and descriptive. Moreover, it may well be that the introduction of a written symbolic language is the chief differentiation between the culture of city-dwellers and those who belong to the Lower societies. But wether this be true or not, it is evident thatnone of the peoples we include in the terms savage and primitive possesses a developed, written language. This is not because such peoples cannot learn to read and write. Missionaries and teachers have proved that letters are not impossible to them. They have simply no had the opportunity to learn. They are not literate, nor illiterate. They are preliterate. Para maior desenvolvimento deste tema, vide: Wilhelm Pinder, El Problema de ls Generaciones na Historia del Arte de Europa. Editorial Losada, S. A. Buenos Aires 1946. Tambm: L. L. Schcking The Sociology of Literaty Taste. Kegan Paul, Trench, Trubner & Co. Ltd. 1944. London.

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Na sociedade pr-letrada, o processo de produo e de criao de bens est orientado pela tradio e pelo costume. Nela no se compagina a idia do lucro. Produz-se para a satisfao de relativamente restritas necessidades de nvel elementar. Tal economia tem sido chamada, por isso, de subsistncia. A produo dos bens se organiza rigidamente, em bases naturais, diferenciando-se as tarefas segundo o sexo e a idade. H assim atividades femininas, atividades masculinas, atividades da juventude, da maturidade e da velhice. Acresce ainda que as funes sociais (os status) distribuem-se conforme a distribuio etria e dos sexos. Quer dizer: , sobretudo, a condio biolgica do indivduo que lhe determina a funo e a posio na sociedade. No carece o indivduo de competir para adquirir um status determinado, ou seja, ascender verticalmente na hierarquia social, porque, para usar a terminologia de Sorokin, a sociedade pr-letrada imvel. A ambio de lucro s se justifica quando o capital o instrumento da ascenso social do homem. Nas sociedades primitivas, ordinariamente auto-suficientes e homogneas, a capitalizao no teria nenhum papel, para nada serviria, at porque, nelas, os instrumentos para conseguir prestgio so de outra natureza: s vezes, a bravura, outras a argcia e at um defeito fsico ou psicolgico. Os neurticos, por exemplo, em algumas destas sociedades so respeitados como entes portadores de foras sobrenaturais. A acumulao de utilidades se faz, certamente; mas com o objetivo de constituir reservas para o consumo futuro ou para serem dadas ou trocadas (no comerciadas). Os Swahili acumulavam milho e farinha de mandioca, que guardavam em sacos de peles de cabras. Nossos ndios tupinamb conservavam, durante muito tempo, carne de animais, pssaros e peixes e razes, pelo processo de moqucao. Certa farinha de mandioca duraria at um ano sem se estragar4. Por outro lado, a troca no feita com o objetivo de lucro, mas para satisfazer necessidades5. Confirmando os resultados de vrias pesquisas antropolgicas, verifica Florestan Fernandes que, entre os Tupinamb, o princpio fundamental da
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Cf. FLORESTAN FERNANDES, A Organizao Social Tupinamb, Instituto Progresso Editorial S. A. So Paulo. 1949. pg. 83. L commerce primitif, affranchi du dsir de gagner de largent et nayant pour objet que dobtenir directement les biens dont on a besion ou envie nous parat premire vue manquer de ce qui constitue pour nous lessence mme du commerce: le profit (cf. Richard Thurnwald, LEconomie Primitive. Payot. Paris 1937. pg. 192).

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economia consiste na produo do estritamente necessrio ao consumo e, ainda, que a acumulao de utilidades como tcnica de racionalizao dos meios de produo e de coleta era completamente desconhecida6. No quer isto dizer que no processamento das trocas os indivduos no considerem a equivalncia dos valores dos bens trocados. A idia de reciprocidade muito viva na conscincia dos povos primitivos. Mas, ento, o critrio de valor dos bens no objetivo e abstrato como no ato comercial tpico; subjetivo e individual. Ocasional, muitas vezes um meio de atrair grupos inimigos a fim de ataca-los, a troca, entre os primitivos, no constitui uma fonte de reservas e de recursos capaz de aumentar a autonomia ou o poder do homem. A inexistncia da idia de lucro na conscincia do pr-letrado tambm perceptvel no seu estilo de trabalho. Inicialmente, deve-se observar que ele no distingue um tempo destinado ao cio, de um tempo destinado ao trabalho, - o que quer dizer que o trabalho nesta etapa da vida social ainda no se coagulou em estilos independentes. Todo trabalho prazer e criao. uma espcie de atividade oriunda de um forte instinto de vida. Por isto no necessrio nenhum incentivo, nenhuma presso externa para que o primitivo trabalhe7. O aparecimento do instituto do contrato de trabalho s se registra, ulteriormente, quando as relaes sociais se secularizam: No existe na sociedade primitiva algo semelhante ao que chamamos de mercado de trabalho porque, nela, o trabalho no se aluga, nem se vende. Um exemplo esclarece o assunto: o mutiro. Entre os tupinamb, quando algum precisava realizar uma tarefa que demandasse ajuda como derrubar matas e arrotear terras, chamava em seu auxlio os vizinhos. Florestan Fernandes, resumindo um texto de Evreux, informa8: Todos trabalham cooperativamente nas roas de um Thuyaue durante uma ou duas manhs. Levantam-se ao romper do dia e almoavam. Os diversos grupos familiares partiam cantando para o servio. Quando o sol
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Cf. FLORESTAN FERNANDES op. cit. pg. 83. Sobre o tema, cf. Adam Curle. Incentives to Work (in Human Relations, A Quarterly Journal of Studies towards the Integration of the Social Sciences Vol. II. No. 1 1949). Vide tambm Fancis L. K. Hsu, Incentives to Work in Primitives Communities, (American Sociological Review, Vol. 8. No. 6. December 1943). Op. cit. pg. 120.

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ficava muito custico, mais ou menos pelas dez horas, interrompiam os trabalhos. Depois, caulnavam na maloca do dono das roas. A compensao propriamente dita esclarece o socilogo paulista assumia a forma de prestao recproca de servio; por isso, teria ocorrido antes ou se processaria posteriormente. Tal sistema o que Richard Thurnwald chama de trabalho solicitado9. Nenhum vizinho se recusa ao convite de outro, do contrrio cometeria uma afronta. Por outro lado, sabe que a ajuda prestada ser resgatada sob a mesma forma, na ocasio em que dela necessitar. E confirmando o que ocorria entre os Tupinamb, escreve Thurnwald: Quando algum precisa abater uma rvore ou transport-la para dela fazer uma canoa, o chefe para quem o trabalho feito fornece aos trabalhadores uma merenda composta de porco assado, de inhame cozido, de cco fresco, de acar e de nozes de btele. Durante todo o trabalho, realizam-se ritos mgicos. No a obra propriamente que se remunera, mas o gasto de energia que ele implicou. Os esforos recepcionais recebem uma recompensa de ordem emocional: festas, danas10. No se aplica na estimao do trabalho o clculo, elemento caracterstico das relaes comerciais. Tampouco, realiza-se o trabalho conforme a lei do menor esforo. Na realizao de suas tarefas, o primitivo emprega, muitas vezes, grande energia e tempo, que a ns pareceriam desnecessrios. Todos conhecemos o gosto que tm os povos primitivos pelas decoraes, muitas de difcil elaborao. At em objetos de uso freqente como armas ou utenslios elas so registradas, muitas vezes tornando o manejo de tais objetos mais penoso. que o trabalho dos primitivos, impregnado de magia, como observa Thurnwald,11 supera o quadro de um relacionalismo estritamente econmico. Com efeito, a aplicao de procedimentos nacionais na execuo do trabalho uma idia que a mentalidade primitiva constitucionalmente
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Le principe est que laide prte, disons pour la construction dune maison, soit paye la premire ocasin dune aide analogue, par celui qui en a bnfici: cest ce que nous appellons le travail sollicit. Le mme principe joue la chasse ou la pche et dans l cas o un village en aide um autre au travail du jardinage (Thurnwald, op. cit. Pg. 274). Op. Cit. Pg. 274.

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incapaz de assimilar. Toda a tarefa est submetida a regras e preceitos mgicos, que no devem ser violados. Acredita-se, mesmo que o bom xito de qualquer trabalho depende mais da observncia daquelas normas do que da atividade humana. Em muitas sociedades pr-letradas em que as fainas agrcolas so consideradas femininas, toda vez que os homens as realizam devem vestir-se com trajes de mulher. Muitas vezes, necessrio manter o segredo dos ritos mgicos do trabalho e, por esta razo, certas indstrias desaparecem de uma regio, pelo simples fato de terem desaparecido as famlias nelas especializadas. certo que muitos procedimentos tcnicos tm sido encontrados entre os povos naturais (Vierkandt), mas parece que eles a surgem, no por um esforo inventivo deliberado, plenamente consciente de si e sim casualmente. O acaso o tcnico, nestas circunstncias12. A mentalidade primitiva incompatvel com a tcnica, a racionalizao econmica do trabalho. Esta, como se sabe, supe a renovao incessante dos processos de trabalho, tendo em vista a maior economia das energias humanas e das matrias-primas e o maior aperfeioamento dos produtos. Implica, assim, uma mudana incessante em pleno desacordo com a estabilidade caracterstica da economia primitiva. tradio compete quase exclusivamente fixar as necessidades
La place quoccupe le travail dans la vie des peuples primitive est trs diferente de celle quil oxxupe dans notre monde moderne. Il ne sagit plus dune marchandise mise sur le march, mais dune activit mise an oeuvre pour soi-mme ou pour autrui dans le but aobtenir un resultat immdiat et non de gagner sa vie. Cest pour cette raison que le primitif aborde sa tche dans um esprit entirement different du ntre. Il laccomplit, en rgle gnrale, non sous une pression extrieure, delle que la ncessit dexcuter un contrat ou sous le contrle direct dun chef, mais son gr et suivant sou inclination du moment. Cependant, mme dans ce cas un ne saurait dire quil chappe entirment une certaine ncessit car, dans tout ce quil ehtreprend en vue de se procurer de la nourriture il est bien evident quil existe un rapport direct entre le travail et le rsultat desire (Thurnwald, op. cit. pg. 272). 12 Sobre a tcnica do primitivo, diz Jos Ortega y Gasset: La tcnica que llamo del azar, porque el azar es en ella el tcnico, el que proporciona el invento, es la tcnica primitiva del hombre pre e proto-histrico y del actual salvaje se entiende, de los grupos menos avanzados , como los Vedas de Ceiln, los Semang de Borneo, los Pigmeos de Nueva Guinea y Centro Africa, los australianos, etecctera. - Como se presenta la tcnica a la mente de este hombre primitivo? La respuesta puede ser aqui sobremanera taxativa: el hombre primitivo ignora su propia tcnica como tal tcnica; no se da ucenta de que entre sus capacidades hay una especialsima que le permite reformar la naturaleza en el sentido de sus deseos (Ensimismamiento y Alteracin, Espasa Calpe Argentina S. A. Buenos Aires. 1939, pgs. 130-131). 13 ... le travail des primitifs... est tout imprgn de magie. Presque partout et plus particulimente chez les peuples de culture moyenne et suprieure nouns voyons la magie accompagner laccomplissement du tavail et assurer son succs. Les indgenes pensent, dune part, que les crmonies magiques alderont la nature dans des oprations telles que la chasse, la pche, la
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humanas e os modos de satisfaze-las13. Assim, qualquer tentativa deliberada de criar necessidades ou de alterar os processos de satisfao das mesmas se afigura sacrlega e ofensiva aos mores. Focalizando esta averso da mentalidade primitiva s inovaes, Thurnwald expe as extremas precaues que se tomam quando se tem de adotar uma inovao. preciso diz ele que se promova uma espcie de adoo da novidade pelo grupo. Para produzir todos os seus efeitos, no basta que as descobertas tenham sido realizadas por tal ou tal indivduo; necessrio, ainda, que elas sejam elevadas pelo grupo categoria de tradies culturais e a mesma observao se aplica adoo de qualquer trao de uma cultura estrangeira, de sua arte, de seus conhecimentos, de seus costumes, de suas instituies14. Inrcia emocional, desconfiana, apreenso impedem o desenvolvimento da racionalizao do trabalho nas sociedades pr-letradas. O fato, porm, tem uma razo profunda que explicada pelo antroplogo Adam Curle15 deste modo: Talvez seja errado dizer que os primitivos no desejam mudar. mais correto dizer que eles no conhecem a mudana. Isto por que seu prprio modo de vida um emaranhado de observncias rituais que d s vrias atividades no apenas sanes sobrenaturais que se reforam mutuamente, mas tambm que atualmente relaciona os indivduos com o cosmos e neste lhes d um lugar. Alterar um processo de caa quase alterar a relao do sol com a lua. Tal coisa inconcebvel. Mas se acontece que por intermdio de uma agncia externa, alguma mudana forada numa sociedade primitiva, ento a estrutura total se desintegra, desde que a mudana de uma parte afeta o todo. A interrelao do ritual, do folclore, das atitudes e das atividades tcnicas ser perturbada. O esforo comum, a moralidade, as artes e o senso social desaparecero, em conseqncia.
croissances des plantes, la reproduction de animaux, etc. et dautre part ils croient quelles sont ncessaires la reussit dun travail personnel, comme la construction dun canot ou dune maison. Chez les plus avancs des primitifs, ces crmonies trouvent une application chacune des phases de la vie des plantes cultives. Notons quelles ne sont pas sans importance pratique car elles exercent une grande influence en systmatisant, en ordonnant, en contrlant le travail. Elles entranent par contre une grande somme de travail suplementaire et en apparence, inutile. Le magicien est lexpert que lon consulte en toutes circonstances et le contrleur que domine mentalement le travail et les ouvriers (Thurnwald, op. cit. Pg. 273). Thurnwald, op. cit. Pgs. 349-350. Op. cit. pg. 43.

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CAPTULO II OS PRECONCEITOS ANTI-TRABALHISTAS NA ANTIGUIDADE


Desde los tiempos humanos ms primitivos aparece una vida de hazaas personales, em sua relaciones con el medio ambiente material y animal, frente a otra oscura y dura, dedicada a un continuo trabajo productivo, necesario para satisfacer las necesidades de la existencia. J. A. Hobson, Veblen, Fondo de Cultura Economica. Mxico, 1941, pg. 60. Cest un des caracteres essentiels de lconomie antique quil y ait eu des tres humains traits comme des choses, que lindustrie ait dispos ainsi que le grand propritairi, bien entendu dun capital de chair et dun outillade de muscles. Henri Berr, Avant-Propos de L conomie Antique, de autoria de J. Toutain, pg. XXII. Paris, 1927. Les veritables valeurs humaines, pour les crivains grecs, sont les valeurs de contemplation, de connaissance libre et dsintress. Entre la contemplation et le travail manuel, le conflit est absolu, lopposition invincible. Le travail nest pas une activit vraiment humaine. Il alourdut lme, la rend semblable la matire. Etienne Borne e Fanois Henry, Le Travailet L Homme, Descle de Brouwer, Paris. 1937, pg. 28.

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O desprezo do trabalho, especialmente do trabalho muscular, tem a evidncia de um axioma justificado pelo consentimento universal1. Em todas as sociedades letradas ou pr-letras, ele se tem verificado e Thorstein Veblen, impressionado com este fato, elaborou uma teoria da diferenciao social, cuja idia bsica , precisamente, a de que a vida ociosa , por toda parte, um dos signos mais evidentes das classes sociais superiores. A etnografia e a histria parecem dar indiscutvel legitimidade a esta formulao genrica de Thorstein Veblen. Em sua obra, a Teoria da classe ociosa, o famoso socilogo e economista norte-americano distingue duas etapas originrias da sociedade2: a do selvagem e a do brbaro. Na primeira, o estado de pobreza, o carter extremamente rudimentar da cultura torna necessrio o trabalho dos homens e das mulheres. Esto neste estdio, segundo Veblen, os povos pacficos e sedentrios, entre os quais a propriedade individual no uma caracterstica dominante do sistema econmico. Nas comunidades brbaras, aparece o instinto precatrio que promove a distribuio diferencial das tarefas entre os indivduos. De modo geral, forma-se uma classe ociosa, que se incumbe das tarefas honorrias como a guerra e o sacerdcio, e uma classe industriosa, que se encarrega das ocupaes servis. A quase unanimidade dos etngrafos atesta, com efeito, um estado de rapina entre os povos de organizao social rudimentar. Destaca-se a a figura do lutador ou do guerreiro que defende o territrio e o gado. E como quem trabalha no tem tempo para treinar-se no ofcio das armas imputa-se-lhe uma certa inferioridade social. E deste modo escreve Flausino Trres vai formando-se aquela concepo do trabalho normal que encontramos plenamente elaborada na Repblica de Plato e no Gnesis: o trabalho degrada quem pratica; por isso, os que trabalham formam uma classe parte; mas no a ela que cabe a direo da sociedade; para mandar no se pode ter as mos manchadas por certos ofcios....3
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Cf. ETIENNE BOROE et FANOIS HENRY, Le Travail et L'Homme. Descle de Brouwer. Paris, 1937, pg. 31. Cf. FRANCISCO AYALA, Historia de la Sociologa. Editorial Losada. Buenos Aires. 1937, pg. 146. Cf. FLAUSTINO TORRES, Civilizaes Primitivas. Cosmos Lisboa. 1943, pg. 149.

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O mesmo testemunho oferece o etnlogo alemo Richard Thurnwald4 que registrou entre povos pastores e caadores a tendncia a viver da rapina e da pilhagem e a considerar desclassificado o trabalho ordinrio, especialmente a agricultura. To persistente, porm, este desprezo do trabalho que ainda em nossos tempos ele se apresenta, umas vezes ostensiva, outras veladamente, parecendo, assim, indicar que o desfavor atribudo ao trabalho manual e comandado5 no um caracterstico passageiro mas inseparvel de qualquer sociedade estratificada. o a que induz toda uma srie de estudos de natureza sociolgica, desde Karl Marx a Edmond Goblot e Maurice Halbwachs. Todavia, uma conjugao de fatores deu, em nosso tempo, uma alta categoria moral ao trabalho emancipando-o, por assim dizer, do aviltamento em que permaneceu na Antiguidade e na Idade Mdia. H estreita relao entre a concepo que uma poca faz do trabalho e o grau de evoluo de seus procedimentos ergolgicos. Assim a aplicao da cincia na organizao das foras de trabalho s se torna possvel de maneira sistemtica, na medida em que se opera aquele desaviltamento. Por conseguinte, muitas transformaes histricas devero ocorrer para que se torne possvel a elaborao de uma cincia do trabalho. Na histria da Antiguidade, confirma-se a mesma condio do trabalho acima referido. Herdoto, reportando-se ao costume grego de atribuir ao trabalho uma acepo oprobriosa, escreve6:
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"L'activit du chasseur ou du berger ne peut tre appele travail, aussi, lorsque l niveau de vie s'amliore, ont-ils tendence vivre de rapines ou de trafic ou, dans certains cas, comme nous l voyons au Soudan, se lancer dans de vraies incursions but commercial; ailleurs encore l travail du sol est reserve aux femmes etrangres et aux prisonniers de guerre" (R. Thurnwald, op. cip. Pg. 279). "Cette dfaveur qui s'attache au travail manual et au travail command n'est d'ailleurs pas un trait caractristique de la bourgeoisie franaise moderne; il se recontre partout a il y a des castes ou des classes. Tout superiorit de rang social se traduit et s'exprime par le pouvoir de so faire servir et cela moins pour s'eviter de la peine que pour marquer son rang. Car il faut qu'il soit reconnaissable et, s'il se peut, au premier coup d'oil. En chine, les ongles du mandarin, aussi long que ses doigts, ces ongles soigns, souples, transparentes, spirals, sont une preuve manisfeste qu'il ne fait rien de ses mains. N'est-ce pas aussi pour signifier qu'il ne s'abaisse pas aux travaux serviles que notre bourgeois porte un costume avec lequel ils seraient impossibles? Il prouve le bsoin de faire savoir, la simples inspection, qu'il n'est pas un manoeuvre, un homme de peine qui dtermine la profesin? N'est-ce pas plutt la profesin qui classe?" (Edmond Goblot, La Barrire et le Niveau, Flix Alcan. Paris. 1930, pg. 45). HERDOTO, II, 167 (citado em Etienne Borne e F. Henry, op. cit. pgs. 30 e 31).

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No saberia afirmar se os Gregos tomaram este costume dos Egpcios, porque eu o encontro estabelecido entre os Trcios, os Citas, os Persas, os Ldios; em uma palavra, porque entre a maior parte dos brbaros os que aprendem as artes mecnicas e at seus filhos so considerados como os ltimos cidados; ao contrrio, estimam-se como mais nobres aqueles que no exercem nenhuma arte mecnica e principalmente aqueles que se consagram profisso das armas. Todos os Gregos so criados nestes princpios, particularmente os Lacedemnios: todavia excetuo os Corintios que fazem muito caso dos artesos. V-se assim, por este trecho de Herdoto, que a idia infamante do trabalho foi universal na Antiguidade. justo, por conseguinte, tomar como representativo desta fase do Ocidente o caso grego. A atrofia dos procedimentos ergolgicos que se registra na Grcia e em todo o mundo antigo representa o correlato necessrio do sistema de escravido, justificado por uma filosofia social generalizada que encontra em Aristteles o seu mais claro expositor, e segundo a qual a vida humana verdadeiramente superior a contemplativa. O dualismo metafsico, que consagra a oposio entre o intelecto e a matria, legitimava a estratificao social vigente nas cidades gregas. A escravido se justifica no pensamento grego como uma decorrncia da hierarquia dos valores. O escravo verdadeira mquina viva, vocacionalmente destinado a obedecer. Faz parte da comunidade domstica juntamente com os outros bens, objetos e animais, e carece da temperana, da coragem e da justia, virtudes nobres, possuindo apenas as virtudes de um bom instrumento. luz desta filosofia social, o trabalho torna-se desprezvel, bem com as aplicaes materiais da cincia. Especialmente por este motivo, no se desenvolve na Antiguidade, nem a tcnica do trabalho, nem o maquinismo. Henri Berr examinou bem esta questo. Acentua este historiador que progressos decisivos foram realizados na tcnica durante a idade da pedra e dos metais. Contudo entre estes tempos recuados em que a utensilagem fundamental da vida econmica se constituiu de uma srie de in-

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venes maravilhosas e o perodo das mquinas, por que razo, pergunta Henri Berr, permaneceu estacionria a intelligence fabricatrice? E explicando a razo deste fenmeno, escreveu7: A organizao social pode, em certos momentos, pelos progressos da tcnica verbal, pelas tcnicas ilusrias, de origem religiosa, mgica, pelo poder conservador da tradio, do esprito corporativo, entravar o jogo deste instinto de mecnica, formado no indivduo ao contato da natureza e de que se beneficia a organizao social: mas a escravido, sobretudo, parece-nos, que preciso incriminar aqui. Ela no somente ofereceu aos problemas tcnicos uma soluo cmoda (paresseuse), como fez desprezar o trabalho normal como ocupao social... Dada essa escravido, no houve, no podia haver, na antiguidade, maquinismo, nem salariado organizado. Na Grcia e em Roma, a filosofia social ento vigente se nutria na realidade social contempornea e vice-versa. Xenofonte considerava as artes mecnicas infamantes, pois elas minam os corpos dos que as exercem, forando-os a permanecer sentados, a viver na sombra e, s vezes, a ficar perto do fogo. Plato coloca os arteses em ltimo lugar em sua cidade ideal. Em sua Poltica, Aristteles declara que nenhum arteso ser cidado. A palavra banausos (arteso) mesmo, informa Pierre Mxime Schul8 sinnimo de desprezvel e se aplica a todas as tcnicas. Parafraseando H. G. Wells, pode dizer-se que as civilizaes antigas foram edificadas sobre o ser humano barato e degradado.

7.Cf. J. Toutain, L'conomie Antique La Renaissance du livre. Paris. 1927, pgs. XXII-XXIII. 8.Op. cit. pg. 11.

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CAPTULO III O TRABALHO NA IDADE MDIA E NO RENASCIMENTO


For though the development of economic rationalism is partly dependent on rational technique and law, it is at the same time determined by the ability and disposition of men to adopt certain types of practical rational conduct. When these types have been obstruced by spiritual obstacles, the development of rational economic conduct has also met serious inner resistance. The magical and religious forces, and the ethical ideas of duty based upon them, have in the past always been among the most important formative influences on conduct (Max Weber, The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism, George Allen & Unwin Ltd. London. 1948, pginas 26-27). The medieval theorism condemned as a sin precisely that effort to achieve a continuous and unlimited increase in material wealth which modern societies applaud as meritorious, and the vices for which he reserved his most merciless denunciations were the more refines and subtle of economic virtues (R. H. Tawney, Religion and the Rise of Capitalism. Penguin Books. England, 1942, pg. 39).

A Idade Mdia transformou radicalmente a idia antiga do trabalho, o qual adquire, nesta etapa da histria do Ocidente, um valor asctico. O trabalho no corrompe a alma e o corpo, como se proclamava no mundo antigo mas, ao contrrio1, prepara a primeira para a vida contemplativa e ao segundo d ocupao, livrando-o dos apetites inferiores. So Bento inclui em suas regras a necessidade do trabalho e Santo Agostinho combate certos monges africanos que afirmam haver incopatibilidade entre o trabalho e a vida monstica. Este reconhecimento do valor interior do trabalho produziu, entretanto, efeitos sociais muito restritos. No plano metafsico,
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Referindo-se civilizao medieval, escrevem Etienne Borne e Franois Henry: ... le travail prenant une valeur religieuse entre dans la vie humaine, il sert mettre dans une vie personnelle des valeurs de sacrifice et de dtachement; l'agriculteur, l'ouvrier ont leurs fins personnelles et ne sont plus des instruments anims; le travail ne sert plus seulement dispenser des inquitudes de lavie quelques prdestins la vie speculative ou la vie hroique, il a un sens interieur et prend place dans une vie intrieure (Le Travail et L'Homme, Descle de Brouwer. Paris. 1937, pg. 48).

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proclamava-se a dignidade do trabalho, mas no plano social ocorria o contrrio. Os mesmos preconceitos gregos se difundiram nas sociedades medievais. Nelas ocorria, portanto, um singular conflito entre a conscincia e a existncia. interessante observar, em confirmao disto, que a ordem das classes na Idade Mdia , por assim dizer, uma concretizao do estado Platnico. Em sua cidade ideal, Plato coloca os sbios no primeiro lugar, os guerreiros, em segundo, e os artesos, no ltimo, o que uma antecipao da constituio tripartida da sociedade medieval. E para maior acordo com o pensamento grego, esta constituio tripartite das sociedades se pretende definitiva, uma ordem imutvel e eterna. Cada uma destas partes da sociedade constitui uma raa de homens (a raa de ouro, a raa de prata, a raa de ferro e bronze) e tem a sua moral prpria2. Este quietismo social da Idade Mdia assume decisiva importncia no condicionamento da tica do trabalho. Visto como a posio e a funo do indivduo na sociedade resultam de designio da vontade de divina, no se pode conceber a idia de fazer do trabalho um instrumento de asceno social3 . Um servo no pode tornar-se nobre, j porque h uma diferena de virtudes entre um e outro, j porque a mera posse da riqueza no lhe daria acesso nobreza. O homem, portanto, deve trabalhar para se manter dentro do seu compartimento social e as sobras do seu trabalho devem ser convertidas em esmola. Esta idia do sustento acomodado a cada estamento , como assinala Werner Sombart, a caracterstica siva da economia medieval.
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Cf. PLATO, A Repblica, Livro III (Platon, La Repblique, Librairie Garnier Frres. Paris. 1936, pg. 118). Las classes no son em primer trmino hechos economicos, sino hechos vitales y espiritueles. La clase supone el honor de clase, el deber de la clase, el derecho de clase y la solidaridad en todas las cosas sociales. Aqui tiene su ms firme apoyo el hombre que pertenece a una clase. Pero tambim la economia estaba determinada por aquelios hechos vitales y espirituales (Pablo Luis Landsberg, La Edad Media y nosotros. Revista de Occidente. Madrid, 1925, pgs. 38-39). esta mesma imobilidade social assinalada por Groethuyaen: Hacerse rico es mucho peor que ser rico. El rico no es culpable, por decirio as, de su riqueza. La divina Providencia le h hecho lo que es. Aunque la riqueza siempre encierra em si grandes peligros para el cristianiano, no es el ser rico en cuanto tal un pecado. Quien es rico por su casa puedo apelar a Dios. Dios quiso que fuese rico. Los nuevos ricos, por el contrario, son todos pecadores. Han querido su riqueza: se han hecho a s mismos lo que son. La Concincia Burguesa. Fondo de Cultura Economica. Mxico. 1943, pg. 334).

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A eficincia, a economia de esforo humano, mediante o desenvolvimento da tcnica do tabalho no teria sentido efetivo num tipo de organizao economica como este. O mvel desta economia seria a prosperidade, noo que no se compagina numa sociedade imvel. A assimilao da idia de progresso4 se verificar muito tardiamente entre os povos europeus. Havia ainda nesta poca um impedimento para o progresso da tcnica do trabalho; era a persitncia da oposio entre as profisses liberais e as profisses mecnicas, entre a arte e a natureza. O nobre, na sociedade medieval, se orgulha de no trabalhar, como o guerreiro da cidade antiga5. Henri Pirenne informa que a idia antiga do trabalho indigno do homem se reencontra na cavalaria. A dominao da natureza, atravs da aplicao de um saber tcnico, equivaleria a uma atitude hertica. Como a ordem social, a ordem natural no deveria ser perturbada, porque havia uma autoridade divina suprema6 que dispunha dos meios para intervir nas leis naturais. Dentro destes marcos, o trabalho se organizava socialmente de maneira estvel. No podia ser objeto de um aperfeioamento tcnico. Dentro de cada corporao, o processo produtivo obedece a regras mais ou menos fixas. Descrevendo-as, assinala Wilbert E. Moore7: Em termos gerais, funcionavam por meio de um regulamento interno do trabalho dos manufatores e do
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J. HUIZINGA, assinala este aspecto com rara felicidade. Diz ele, referindo-se ao mundo medieval e Antiguidade: Ces priodes ent toujours cru que le but aunquel il fallait tendre et les moyens pour y arriver taient solidement et simplemnt dtermins. Le but, nous l'avons dit, s'appelait, presque toujours redressement, retour l'ancienne perfection, la puret d'antan. L'idal tait rtrospectif. Et non seulement l'idal, mais les moyens pour y arriver. Cette mthode s'talait clairemente devant les yeux et consistait reconqurir et pratiquer nouveau l'antique sagesse, l'antique beaut, et l'antique vertu des sicles passs - ce regard de l'humanit tourn si longtemps vers l'ancienne perfectin a chang d'orientation depuis Bacon et Descartes (Incertitudes. Librairie de Medicis. Paris, 1939, pgs 38 e 40). Vale descartar, ainda, estas palavras de Erich Kahler: ... la ideia de un progresso del gnero humano surge solamente em el siglo XVII. Para la Antiguedad, la edad de oro reside em el passado y no en el futuro. La idea de mutacin era repulsiva e intolerable a los antiguos, que consideraban al tiempo como el enemigo de la humanidad. Si se llega a admitiria era slo en el sentido de mutacin o cambio recurrente, cclico, lo qual equivalia al principio de la eternidad cclica (Historia Universal del Hombre, Fondo de Cultura Economica. Mxico. 1943, pg. 411). Cf. ETIENNE BORNE e FRANOIS HENRY. Op. cit. pg. 50. Cf. ALFRED VON MARTIN, Sociologia del Renacimiento. Fondo de Cultura Economica. Mxico. 1946, pg. 44. WILBERT E. MOORE, Industrial Relations and the Social Order. The Mcmillan Co. New York. 1946, pgs. 16-17.

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monoplio externo dos servios e da produo contra os estranhos. O controle da qualidade do trabalho dependia antes do regulamento da associao do que da presso externa atravs da competio do mercado. Estes regulamentos eram fortemente tradicionais, muitas vezes levados a extremos que nos parecem hoje ridculos. Uma ateno particular era dada especialmente forma e fonte da matria-prima, ao processo de produo, forma de instrumentos empregados e qualidade, antes que as mercadorias fossem colocadas no mercado. Estes regulamentos podem ter resultados em benefcios econmicos para os consumidores, no mnimo pela padronizao da qualidade, mas eram claramente planejados para acautelar os interesses dos membros das corporaes, preservando a sua uniformidade. Um novo processo tcnico que permitisse ao homem produzir melhor um produto ou o mesmo produto em menos tempo, era considerado imprprio e sua introduo tomada como sinal de deslealdade ao grupo. Regulando o abastecimento da matria-prima, a quantidade e o tipo de produo, o preo e o mtodo de distribuio, o sistema de corporao estabelecia uma vida econmica equilibrada. Tal o sistema de organizao emprica e tradicional do trabalho cuja incompatibilidade com a organizao racional do trabalho foi claramente posta em evidncia po Taylor. Seria excesso de ambio pretender seguir o desenvolvimento da tcnica do trabalho com detalhe histrico. Para tanto, no haveria mesmo, entre ns, fontes suficientes ou disponveis. A fim contornar obstculos desta ordem, historiadores, como Jacob Burckhardt, e socilogos, como Max Webwer8, tm recorrido ao procedimento construtivo do tipo-ideal e que consiste em extrair de um determinado conjunto de fatos recorrentes uma ordem conceitual abstrata. Entre a Idade Mdia e a data em que F. W. Taylor cria a Organizao Cientfica do Trabalho medeia um sem-nmero de ocorrncias de difcil captao e que preparam o ambiente para aquela criao. Uma parte desta distncia histrica se identifica tpico-idealmente como o Renascimento, a primeira cisura social e cultural9 que produz o trnsito da Idade Mdia Idade Moderna.
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Cf. GUERREIRO RAMOS, A Sociedade de Max Weber, in Revista do servio Pblico. Agosto e setembro de 1946. Cf. ALFRED VON MARTIN. Op. cit. pg. 18.

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O Renascimento representa, na Europa, o aparecimento de um explosivo que se encarrega de vencer a inrcia de um mundo que parecia definitivo em sua arquitetnica estabilidade. A este explosivo pode chamar-se a ratio por oposio traditio. A ratio , assim, o instrumento que serviu para emancipar o indivduo da tradio ou para erradicar o medo do sagrado; em suma, um instrumento de secularizao. Com o Renascimento, inicia-se o processo fundamental de secularizao, a transformao da ordem social da Idade Mdia, fundada na santidade da tradio e nos sentimentos humanos, em uma ordem social fundada na calculabilidade dos atos humanos e na objetividade racional. Transformao sem a qual no se desenvolveriam aquelas instituies (a economia monetria e a indstria) que constituem os pressupostos funcionais de uma tcnica do trabalho, de base cientfica. As sociedades anteriores s conheceram o trabalho como criao e arte, como atividade pela qual a vontade humana assimilava a matria que dominava em proveito da comunidade10. Surge, porm, agora, a fora do trabalho, o trabalho mercadoria, objetivo da especulao, da contabilidade e da cincia. Interpretando o pensamento de Fernando Tnnies, escreve J. Leif11, focalizando o estado de secularizao que, na terminologia do socilogo alemo, se chama estado societrio ou sociedade: A abstrao e racionalizao constituem, com efeito, a essncia mesma da sociedade. Nada ou quase nada de orgnico ou afetivo subsiste nas relaes societrias. No estado de sociedade, no somente os indivduos so estranhos uns aos outros, mas ainda a separao e a oposio dos bens engendram infalivelmente entre eles a hostilidade e a inimizade. As relaes dos homens so tais que ningum ceder a outra pessoa seja o que for, sem estar seguro de receber, em troca, um valor pelo menos igual quele que lhe foi cedido e isto, no porque algum lao afetivo o liga ao objeto que possue,
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Cf. J. LEIF, La Sociologie de Tnnies. Presses Universitaires de France. Paris. 1946, pg. 60. Cf. J. LEIF, Op. cit., pgs. 67-68.

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mas em virtude de uma igualdade matemtica da vontade refletida, que seria absurdo, para um esprrito racional querer negar. No existe aqui relao intma com os objetos e com as pessoas. Da provm o carter abstrato e quantitativo do trabalho e da arte. Tudo reflexo, clculo, especulao, deciso, aspirao ao poder e ao domnio. A atividade e a vida societria so comrcio, no verdadeiro sentido da palavra. O que se configurou nestas palavras foi a categoria sociolgica chamada por Ferdinand Tnnies de sociedade (Gesellschaft), por oposio comunidade (Gemeinschaft). Mas esta categoria se realiza plenamente no plano histrico, sobretudo a partir do Renascimento. Alfred Von Martin, descrevendo o Renascimento Italiano, informa12: O vnculo social no est mais constitudo por um sentimento orgnico de comunidade (de sangue, de vizinhana ou de servio), mas por uma organizao artificial e mecnica, desligada das antigas foras da moral e da religio, e que, com a ratio status, proclama o laicismo e a autonomia do Estado. Esta arte do Estado, to objetiva, e sem preconceitosque atua atento s distintas situaes que se podem apresentar, e segundo os fins a realizar, tem por base um mero clculo dos fatores disponveis. uma poltica metdica em absoluto, objetivada e carente de alma. Assim o sitema da cincia e da tcnica do stato. A antiga oposio entre a arte e a natureza desapareceu, bem assim a temerosa atitude humana em face da ltima. esta uma transformao de importncia capital para o avano do progresso da tcnica, em toda acepo, inclusive a do trabalho. O saber tcnico13 s se constitui quando o homem se liberta do medo sagrado de intervir no mundo natural. como um eco retardado que ressoa a voz de Petraca (13041374) e Arioso (1474-1533), quando protestam contra a fabricao de plvora, esta imitao funesta e impia do raio que os antigos diziam inimitvel.
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Cf. A. VON MARTIN. Op. cit., pg. 31. ... la ciencia positiva moderna es el impulso ilimitado, esto es, no limitado por una necessiad especial, antes bien, aprobado por el ethos y por la voluntad que empuj a la burguesia, vida de subir, a tratar de dominar la naturaleza em todas em todas las formas (Mas Scheler, Sociologia del saber. Revista de Occidente Argentina. Buenos Aires. 1947, pg. 123).

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A nova vontade de poder escreve Alfred Von Martin14 se exprime, tcnica e econmica, como vontade para a transformao produtiva de coisas (Scheler). O homem deixa de ser o fim da dominao e converte-se em meio. Agora quando aparece a idia do aproveitamente e explorao da fora de trabalho (que, em ateno a esta finalidade, se declara livre), ao contrrio da Idade Mdia, em que aquela relao de submisso envolvia, ao mesmo tempo, um dever de proteo por parte do senhor. A nova cincia natural e a nova tcnica servem vontade de poder econmico e intelectual como expresso das novas tendncias racionais e liberais, opostas s velhas tendncias conservadoras. O fim novo da vontade, que a economia monetria fez possvel, tem agora um novo saber como base para a emancipao e como instrumento na luta pelo poder, que agora uma luta para a dominao da natureza, fundada no conhecimento das leis. A nova cincia da natureza tambm produto desta atividade de empresa que no mais se conforma com os fatos dados pela tradio nem com o reconhecimento das submisses queridas por Deus, mas considera tudo como objeto de um tratamento racional. No s no sentido terico, em considerao ao mtodo cientfico que no admite nada esteja garantido, como tambm no da aplicao do conhecimento. O pensador burgus, engenheiro por natureza, faz uma rpida aplicao prtica nas cincias tcnicas. Deseja-se saber para intervir na natureza; trata-se de entender as coisas para domin-las e realizar os objetivos de poder propostos. E porque somente com a nova concepo naturalista do mundo se podia chegar a dominar tecnicamente a natureza, porque s esta nova concepo cientfica burguesa realizava a funo social de prestar os servios necessrios de acordo com as exigncias da nova classe em ascenso, ela se converteu em dominante. Sob o influxo desta nova mentalidade, inicia-se, na Europa, o processo de racionalizao em todas as esferas da vida humana. No que concerne trabalho, este processo de racionalizao significa uma gradativa liquidao dos preconceitos contra as profisses mecnicas do que ir resultar a aplicao sistemtica da cincia ao trabalho.

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Op. cit., pgs. 47-48.

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CAPTULO IV A RACIONALIZAO IN STATU NASCENDI


Siltt que jai eu acquis quelques notions gnrales touchant la Physique, et que, commenant les prouver en diverses difficults particulres, jai remarque jusquo elles peuvent conduire..., jai cru que je ne pouvais les tenir cahes, sans pcher grandement contre la loi qui nous oblige procurer, autant quil est en nouns, le bien general de tous ls hommes. Car elles mont fait voir quil est possible de parvenir des connaissances qui soient fort utiles la vie, et quau lieu de cette philosophie spculative, quon enseigne dans les coles, on en peut trouver une pratique, par laquelle connaissant la force et ls actions du feu, de leau, de lair, ds astres, ds cieux et de tous ls outres corps qui nous environnent, aussi distinctement que nous connaissons ls divers mtiers de nos artisans, nous l pourrions employer, en mme faon tous ls usages auxquels ils sont propres, et ainsi nous rendre comme matres et possesseurs de la nature. Descartes, Discours de la Mthode, citado em Pierre Mxime Schul, Machinisme et Philosophie. Flix Alcan. 1938. pgs. 36-37. Que la connaissance de la nature et de ss lois pusse amener, non seulement en accepter linvitable necessite (ce qui est le point des vue de anciens), mais la transformer, voil la grande ide qui contient em germes la morale du second Faust et lIndustrialisme moderne. Pierre Mxime Schul, Machinisme et Philosophie, Librairie Flix Alcan. Paris. 1938, pgina 33.

Os sistemas de racionalizao, que se constituram a partir de Taylor, no so criaes abruptas, mas se precipitaram de um ambiente sciocultural que se formou muito lentamente. Eles so conseqncia lgica de uma radical transformao da atitude do esprito humano em face da natureza e da sociedade. Inicialmente, o homem se emancipa do quietismo, segundo o qual o mundo um cosmo, um todo ordenado conforme um plano, um

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conjunto que se move tranqilamente em obedincia a leis e ordenaes eternas1. Uma das manifestaes desta emancipao o crescente progresso das cincias do mundo fsico, particularmente da fsica. A aplicao da cincia no assenhoramento das foras naturais, tendo em vista objetivos utilitrios, o correlato de uma atitude que no se encaixa no sistema medieval. A natureza, para o homem medieval2, considerada como fonte de tentaes que o conduzem ao pecado, como uma causa de sujeio aos elementos inferiores. O novo tipo de homem3, porm, pretende transformar estes elementos inferiores em instrumentos, em meios de realizao de fins humanos, do bem-estar e da satisfao dos seus interesses. Leonardo de Vinci (1452-1519), por exemplo, um filho desses tempos, no hesita em se proclamar engenheiro, numa certa carta a Ludovico L More e, de fato, ocupou-se ativamente dos trabalhos de canalizao do Arno. O seu entusiasmo pela mecnica leva-o a escrever este louvor4: ... mecnico o conhecimento que nasce da experincia, cientfico, o que nasce e termina no esprito... mas parece-me que so vs e cheias de erro as cincias que no nascem da experincia: me de toda certeza, e que no terminam por uma experincia definida... A cincia da mecnica
1

La idea central, la clave que nos abre la inteligencia del pensamiento, de la visin del mundo y de la filosofia en la Edad Media, es la creencia de que el mundo es un cosmos, un todo ordenado con arreglo a un plano, un conjunto que se mueve tranquilamente segn leyes y ordenaciones eternas, las cuales, nacidas con el primer principio de Dios, tienen tambin en dios su referencia final (Pablo Lus Landsberg, La Edad Media y Nosotros. Revista de Occidente. Madrid. 1925, pg. 18). This Law of Nature is no revolutionary, world-transforming theory, which has been newly discovered by human reason, like the Natural Law of the Enlightenment, or the modern theories of the State and of Society; it is a conservative, organic, and patriarchal conception of the Law of Nature, which is under the protection of the Church, and is only entirely intelligible to the illuminated Christian reason, even although, in itself, it proceeds from pure reason. It is rather a rationalism which quiets the mind with accepted truths, which can be supported by definite proofs, than one of critical iniciative and reform. The world order is based upon reason, it is true, but this basis is not human reason but Divine; it is objective, not subjective. That, too, only explains why it unites itself so easily with supernaturalism and with the ecclesiastical mysticism of grace. (Ernst Troeltsch, The Social Teaching of the Christian Churches. Vol. I. The Macmillan Company. New York. 1949. pginas 305-306). La manifestacin ms clara de este proceder utilitario de la razn es la herramienta, la mquina (mechane) que sirve para el dominio y exploracin de la materia. La razn interpreta las leyes de la naturaleza en la forma que corresponda mejor al tratamiento mecnico, que es la de la causalidad mecnica. Este orden de ideas es diametralmente opuesto a la visin del mundo, esencialmente religiosa, vlida hasta el final de la Edad Media, que basaba todo el ser en la existencia y no en el procedimiento y el propsito. Esa imagen del mundo lo muestra como un sistema reposado y armonioso que corresponde a la ajustada forma organica del cuerpo humano y la criatura viviente en general. (Erich Kahler, Historia Universal del Hombre. Fondo de Cultura Economica. Mxico. 1943, pg. 414). Cf. PIERRE MXIME SHUL, Machinisme et Philosophie. Flix Alcan. Paris. 1938, pgs. 26-27.

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o paraso das cincias matemticas, porque com ela se chega aos frutos das matemticas.... Um texto mais antigo (De re aedificatoria, Florena, 1485) de Leon Baptiste Alberti refere-se tcnica de maneira entusistica, considerando-a em expediente que permite furar os rochedos, atravessar as montanhas... resistir aos transbordamentos do mar e dos rios limpar os pntanos, construir os navios5. Em 1580, Conrad Dasypodius publica em Estrasburgo uma obra chamada: Heron mechanicus, seu de mechanicis artibus que trata das mquinas como instrumentos de economizar o trabalho. Em De Subtilitate, editado em Lyon, em 1569, Jernimo Cardan, que considera Arquimedes maior gnio que Aristteles, faz o elogio das mquinas. Um dos mais destacados representantes deste novo humanismo Francisco Bacon (1561-1626) que, em De Augmentis, preconiza ser o objetivo do moralista o de fornecer armas vida ativa e no o de escrever no cio coisas para serem lidas no cio. este mesmo Bacon que escreve, em Cogitata et Visa que as tcnicas progrediram a transformaram o mundo, enquanto os problemas filosficos permaneceram no mesmo ponto durante sculos; e em Parasceue, que elas devem ser estudadas ainda que paream mecnicas e pouco liberais. Um outro contemporneo de Bacon d uma contribuio decisiva para a transformao do esprito humano: Galileu (1564-1642). So numerosas as suas descobertas e observaes. Particularmente interessante, do ponto de vista em que nos colocamos, o estudo do trabalho muscular do fsico italiano, descrito por Leon Walther, nestas palavras: Impressionado, especialmente com o fenmeno da fadiga, acreditou encontrar sua explicao no fato de terem os corpos grave tendncia a mover-se para baixo e no para cima. A asceno em uma escada , pois, contrrio s leis naturais, e acarreta a fadiga. Mas porque h fadiga, tambm, na descida prolongada pela mesma escada? Galileu modifica a a sua explicao: ele admite que os msculos se fatiguem porque no tem que mover to somente seu peso, mas tambm o peso do esqueleto (do corpo todo algumas vezes, no caso das pernas). O corao, ao contrrio infatigvel porque no move seno a prpria massa6.
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Cf. PIERRE MXIME SHUL, op. cit. pg. 25. Cf. LON WALTER, Tchno-Psychologia do Trabalho Industrial. Comp. Melhoramentos de So Paulo. 1929. Pg. 13.

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Descartes (1596-1650) elaborou at uma concepo mecnica dos corpos que la nature seule compose. No h diferena entre estes corpos e ls machines que font ls artisans, segundo o filsofo. Baillet, seu bigrafo, informa que Descartes pretendia fundar uma Escola de Artes e Ofcios. Escreve Baillet, em La Vie de M. Descartes (1691: Ss conseils alloient faire btir, dans le collge Royal et dans dautres lieux quon aurait consacrez au Public, diverses grandes salles pour ls artisans; destiner chaque salle pour chaque corps de mtier; joindre chaque salle un cabinet rempli de tous les instrumens mchaniques ncessaires ou utiles aux Arts quon y devoit enseigner; faire des fonds suffisans, non seulement pour fournir aux dpenses que demanderaient les expriences, mais encore pour entretenir ds Matre ou Professeurs, dont le nombre aurait tgal celui ds Arts quon y aurait enseignez. Ces Professeurs devoient entre habiles en Mathmatiques et en Physique, afin de pouvoir repondr toutes les questions des Artisans, leur rendre raison de toutes coses, et leur donner du jour pour faire de nouvelles dcouvertes dans ls Arts.ils ne devoient faire leurs leons publiques que les Ftes et ls Dimanches aprs vpres, pour donner lieu tous ls gens de mtier de sy trouver, sans faire tort aux heures de leur travail7. O esforo construtivo de que so representantes estes grandes espritos desencantou8 a natureza. Dele resultou a soluo do conflito, patente, no mundo antigo e apenas velado na Idade Mdia, entre a arte e a natureza e que abriu a pista de moderno industrialismo.

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Cf. Pierre Mxime Shul. Op. cit. pgs. 28-29. Ello es que hacia 1540 stn de moda en el mundo las mecnicas. Esta palabra, consta, no significa entonces la ciencia que hoy ha absorbido ese trmino que aun no existia. Significa las mquinas y el arte de ellas. Tal es el sentido que tiene todava en 1600 para Galileo, padre de la ciencia mecnica. Todo el mundo quiere tener aparatos, grandes y chicos, tiles o simplesmente divertidos. Nuestro enorme Carlos, el V, el de Mhlberg, cuando se retira a Yuste, en la ms ilustre bajamar que registra la historia, se leva en su formidable resaca hacia la nada slo estos dos elementos del mundo que abandona: relojes y Juanelo Turriano. Este era un flamenco, verdadero mago de los inventos mecnicos, el qye construye lo mismo el artificio para subir aguas a Toledo de que aun quedan restos que un pjaro semoviente que vuela con sus alas de metal por el vasto vaco de la estancia donde Carlos, ausente de la vida, reposa. (Jos Ortega y Gasset, Ensimismamiento y Alteracin. Espasa Calpe Argentina, S. A . Buenos Aires Mxico. 1939, pgs. 150-51).

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CAPTULO V O AMBIENTE RACIONALIZADOR


The factory system not only brought to industrial workers a new and rigorous type of industrial discipline; it also uprooted the older intellectual perspective and social attachments of mankind, which had been built up over tens of thousands of years of human experience. Harry Elmer Barnes, Society in Transition, Prentice-Hall Inc. New York. 1941, pg.14. Any general character, from the best to the worst, from the most enlightened, may be given to any community, even to world at large, by the application of proper means; which means are to a great extent at the command and under the control of those who have influence in the affairs of men. Robert Owen, A New View of Society. London. 1817, pg. 19.

A chamada Revoluo Industrial no um acontecimento inopinado e limitado por datas precisas. A quase unanimidade dos estudiosos deste assunto afirma ter ela comeado no fim do sculo XVIII. No s, alis, quando se trata de estabelecer a data inicial da Revoluo Industrial, que se cai no terreno da impresio. Tambm, quando se trata de dizer em que ela consiste. No h dvida, porm, de que a expresso Revoluo Industrial se refere principalmente a uma radical transformao da cultura material do Ocidente. At 1750, os principais implementos da utensilagem humana j tinham sido elaborados desde a idade da pedra e dos metais. Os meios de comunicao, at aquela data, eram os mesmos do tempo de Abraho. Os habitantes dos lagos da Sua e do norte da Itlia j possuam, h dez anos antes da metade do sculo XVIII, a mesma tcnica industrial conhecida nesta poca. Certas tcnicas de manufatura de tecidos, a maioria dos animais domsticos, as principais frutas, os cereais j eram conhecidos desde a idade da pedra. A organizao social e econmica at aquela data era comparativamente rudimentar. Estavam ainda vista os estamentos1. Os
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A palavras estamento, oriunda do castelhano, tornou-se habitual no linguajar dos socilogos brasileiros. Sobre seu sentido, escreve Morris Ginsberg (Manual de Sociologia, Editorial Losada.

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Estados recm-egressos do feudalismo constituam territrios, mais ou menos isolados uns dos outros. A atividade econmica ainda transcorrida em bases agrrias e prevaleciam as relaes pessoais entre o empregador e empregado. A Revoluo Industrial o teste mais decisivo da atitude laica do homem ocidental diante da natureza. Mediante a mquina, ele a submete e a conforma. Mas resulta da utilizao extensiva das mquinas uma profunda desintegrao das estruturas da sociedade europia. As cidades industriais se multiplicam e nelas se aglomeram massas jamais vistas at ento. De 1800 para 1900, a populao da Europa duplica. Gradativamente a produo a domiclio e o sistema da produo parcelada so superados pelas fbricas. Uma grande mobilidade social se registra neste perodo. A formao dos centros industriais promove os deslocamentos de populaes, atradas por melhores condies de vida. O progresso crescente da tecnologia das distncias estreita a interdependncia dos Estados. As instituies sociais, entretanto, as tradies, os costumes; em suma, aquele repertrio de elementos que constituem a cultura no material resiste mudana. Esta resistncia a matriz dos problemas sociais que se agravam medida que se desenvolve a tecnologia2. Como seria lgico esperar, a resposta que o homem desta poca d aos problemas sociais que defronta de carter racional. Amadurece nele a idia de aplicar o mtodo cientfico no tratamento dos problemas sociais.
Buenos Aires. 1942, pgina 147): os estamentos (em alemo, estande): so os estratos scias cuja posio est definida pela lei e pelo costume. Encontram-se, com variaes, quase em todo ponto da Europa continental do velho regime e tambm do mundo antigo. As categorias so, em todas as partes, quase as mesmas. Na capa superior, encontram-se os nobres-governantes e defensores do Estado, - e os sacerdotes, em seguida vem os mercadores, os artesos e os camponeses, cada um deles com deveres e funes mais ou menos claramente definidas, e finalmente toda a variedade dos servos. As classes altas retm numerosos privilgios como a jurisdio privada e imunidades, como a iseno de tributos. O nascimento decide da categoria e da posio. Os indivduos ascendem de categoria, ocasionalmente, mediante enobrecimento, por exemplo, e a Igreja recruta tambm seus membros, s vezes dos estratos inferiores. Mas em conjunto, cada estrato se recruta entre seus prprios membros e a ascenso depende da boa vontade das categorias superiores. Na Europa o sistema estamental surgiu gradualmente, em regra geral, do feudalismo e conservou suas ordens at fins do sculo XVIII, especialmente a subordinao hierrquica e a dependncia. Vide tambm Guerreiro Ramos, A Sociologia de Max Weber, in Revista do Servio Pblico. Agosto e setembro de 1946. Pg. 129 e segs. The enormous and unprecedent gulf between machines and institutions is, then, the outstanding aspect of our type of civilization. All the special social problems which we shall deal with in this book (problemas da sociedade em transio) are but secondary and subordinate manifestations of the major social problem of our era, namely, the gulf between our marvelous mechanical equipment and the economic and political institutions through which we attempt to control it (Harry Elmer Barnes, Society in Transition. Prentice-Hall Inc. New York. 1941, pgs. 2-3).

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E as cincias naturais lhe oferecem um molde para a constituio desta nova cincia que procura. Morelly, por volta de 1755, escreveu o seu Cdigo da Natureza em que preconizava a formao e o treinamento tcnico do trabalhador. Antecipando Taylor, recomendava que cada um deve ter um trabalho de acordo com a sua habilidade3. A idia de que a prpria sociedade pode ser organizada racionalmente4 se formula cada vez mais nitidamente no sculo XIX e inspira o desenvolvimento do que se pode chamar de ambiente racionalizador. neste ambiente que lana suas razes o movimento da racionalizao do trabalho. Muitos filsofos do sculo XIX j tinham percebido claramente a necessidade da elaborao de disciplinas cientficas no apenas para serem aplicadas na organizao da sociedade, como tambm na organizao do trabalho. Saint-Simon (1760-1825), em obra de 1819, intitulada L Organisateur prope um Governo constitudo de trs cmaras: a da Inveno, a do Exame e uma terceira, dita cmara Executiva, constituda de lderes industriais capitalistas e banqueiros. Em sua obra de 1821, (L Systme Industriel), prope que se cometam as funes de governo a um grupo de cientistas que conduzam os negcios da sociedade de maneira cientfica. Inspirado nas cincias naturais, Saint-Simon imagina a fisiopoltica, cujo objetivo seria a direo cientfica da sociedade. A filosofia do sculo XIX tem que organizar, dizia ele, numa de suas antecipaes mais claras da planificao, seno da racionalizao do trabalho. Mais do que a intuio, a idia clara de uma organizao racional do trabalho se encontra formulada no sculo XIX. O prprio Saint-Simon se detm a recomendar o que hoje se chamaria de orientao
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Cf. Joyce Oramel Hertzier, The History of Utopian Thought. The Macmillan Company. New York. 1926. pg. 188. Sobre este tema, vide Francisco Ayala, Histria de la Sociologia. Editora Losada S. A. Buenos Aires. 1947. Tambm de Hans Freyer, Soziologie als Wirklichkeitswissenscfht (Leipzig e Berlim, 1930) e Einlaitung in die Soziologie (Leipzig, 1931).

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profissional e Charles Fourier (1772-1837) , neste particular, um verdadeiro precursor. Muito de bizarro e extravagante se registra na obra de Fourier, mas ele pode ser considerado um dos espritos que mais decisivamente contriburam para a formao do ambiente racionalizador. Suas reflexes mais importantes a ressaltar so as que se referem falncia das instituies, dos costumes e das tradies vigentes em sua poca. Fourier percebeu nitidamente a necessidade de reconstruir a sociedade, cuja estrutura se tornara arcaica ou rgida em face das transformaes tecnolgicas. Inspirado em Newton, que havia descoberto a lei de atrao do universo material, e em Leibnitz que desenvolveu o pensamento do fsico ingls, elaborou uma cincia natural da sociedade, segundo a qual existe no mundo do esprito, uma lei fundamental, que se chama lei da atrao passional. Em sua terminologia, as paixes so impulsos naturais da criatura humana. A sociedade, contrariando a manifestao das paixes, torna-se causa dos vcios e da anormalidade. Em si mesmas, elas no so nocivas. O que preciso reorganizar a sociedade a fim de ajust-la natureza fundamental do homem. Com o nome de falange, imaginou um ambiente ideal para o homem, no qual as paixes desfrutando de perfeita liberdade, poderiam combinar harmoniosamente e funcionar em benefcio da sociedade. As suas indicaes mais importantes pertinentes ao campo da tcnica do trabalho, podem ser resumidas nas seguintes palavras de Hertzler5: Ele pretendia adaptar a ocupao inclinao e capacidade do trabalhador. Preconizava que o trabalho deve ser sempre uma fonte de prazer. Percebeu que na sociedade existente o trabalho se tinha tornado repelente antes que atrativo; assim as melhores energias eram desperdiadas antes que utilizadas. No havia nenhuma tentativa de ajusta a capacidade tarefa, nenhuma oportunidade era dada aos jovens para descobrir em que direo seu talento os levava, nem para se treinarem num trabalho adequado s suas paixes... Na falange, nenhum trabalho deveria ser montono, pois todos fariam o que desejassem. Cada um deveria executar as tarefas, de acordo com suas propenses. Assim, a produo aumentaria, porque o trabalho se tornaria dignificado e atrativo,
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Cf. HERTZLER. Op. cit. pgs. 201-202.

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uma vez que os indivduos fariam o que gostavam de fazer e trabalhariam com quem estimavam. Merece um lugar de destaque entre estes epgonos do movimento racionalizador a figura de Robert Owen (1771-1857). Em sua obra, formula-se com clareza uma teoria perfeitamente enquadrada na nova estrutura lgica do universo6. A natureza humana no , para Robert Owen, uma entelequia, uma categoria esttica e absoluta, mas alguma coisa precria e sujeita a manipulao. Ele abre a pista da orientao profissional, uma das vigas mestras da organizao racional do trabalho, e do que tem sido atualmente chamado de sociologia industrial. significativo que a obra principal de Owen tenha o ttulo de A New View of Society. A ele expe sua teoria da natureza humana e a sua experincia de organizao racional do trabalho em New Lanark. Salienta o socialista ingls que o carter do homem principalmente pr-fabricado pelos seus predecessores. Suas idias, hbitos, crenas lhe foram dadas pela tradio. Nunca o homem pode formar seu prprio carter. Owen, entretanto, em suas obras, afirma o princpio revolucionrio de que atravs da manipulao das circunstncias possvel governar e dirigir a conduta humana. Na obra referida, prope um sistema nacional de formao do carter. No hesitando em chamar a criatura humana de vital machine, capaz de ser aperfeioada, by being trained to strength and activity, Owen preconiza um novo tipo de direo (management). Aos gerentes de sua poca, dirige-se nestes termos3: Quando adquirirdes um conhecimento correto destas (as mquinas vivas), de seu curioso mecanismo, de seus poderes de autoajustamento; quando os principais processos mais adequados puderem ser aplicados aos seus variados movimentos, vs vos tornareis conscientes de seu real valor e ficareis prontamente inclinados a voltar os vossos
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MRIO LINS, A Transformao da Lgica Conceitual da Sociologia. Rio. 1947. Pg. 18. Cf. ROBERT OWEN, A New View of Society. London. 1817. Pg. 73.

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pensamentos mais freqentemente das mquinas inanimadas para as animadas; descobrireis que as ltimas podem ser facilmente treinadas e dirigidas para fornecer um grande incremento do ganho pecunirio, enquanto podereis derivar delas um lucro alto e substancial. Estas idias foram aplicadas por Owen em seu famoso experimento em New Lanark. A ele introduziu processos de treinamentos de operrios, reduziu horas de trabalho, aboliu o emprego de crianas menores de 10 anos, suprimiu os castigos, por notificaes e advertncias. Percebendo a influncia dos fatores indiretos do trabalho (o que um postulado da recente sociologia industrial), fez construir habitaes higinicas para seus operrios e gastou elevada quantia na edificao de uma escola. Este empreendimento foi coroado de grande sucesso, que, alis, no se repetiu em sua tentativa de construir uma comunidade modelo, em Nova Harmonia, nos Estados Unidos. De qualquer modo, na obra de Robert Owen, no se pode deixar de reconhecer, em estado embrionrio, a idia da racionalizao do trabalho. Em 1839 apareceu na Europa um livro que se intitula Organisation du Travail. Seu autor, Louis Blanc (1813-1882), se preocupa especialmente com a organizao social do trabalho, tendo por objetivo supresso do individualismo, da propriedade privada e da competio. Todavia, a expresso organizao do trabalho, utilizada por Louis Blanc, mostra que sua poca j no repugna a idia que ela encerra. Com efeito, Taylor um contemporneo de Louis Blanc.

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CAPTULO VI O SISTEMA TAYLOR


L Prsident Je pense que vous avez dit, Monsieur Taylor, que lorganisation scientifique est dans une large mesure un tat desprit. M. Taylor LOrganisation scientifique ne peit exister sil nexiste em mme temps un certain tat desprit... llide de paix droit remplacer lancienne ide de guerre entre ouvriers et patrons. Il faut donc quoutre ce changement de mantalit, les uns et les autres en veinnent sefforcer de faire dpendre tous leurs actes de faits prcis et de renseignements exacts... Tout acte doit tre base sur la science exacto et non dpendre comme autrefois de connaissances aproximatives ou de suppositions. Expos devant le Comit spcial de la Chambre des reprsentants in L Organisation Scientifique dans lIndustrie Amricaine, par La Socit Taylor. Dunod. Paris. 1932. pg. II). Le dbut de lorganization scientifique, il la dit maintes fois, a t une revolution spirituelle. (Robert Brure, Relations Industrielles, in L Organisation Scientifique dans lIndustrie Amricaine, par la Socit Taylor. Dunod. Paris. 1932. Pg. 577). F. W. Taylor (1856-1915) foi o iniciador da organizao racional do trabalho. Antes dele, muitos procedimentos pertinentes a esta tecnologia foram descobertos casualmente, por uns, ou deliberadamente inventados por outros1. Tais achados ou invenes, porm, nunca se organizaram em sistemas e jamais adquiriram plena eficincia histrica. Os tratadistas, ao delinearem o histrico da organizao racional do trabalho, mencionam vrios nomes, aos quais atribuem esta ou aquela
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Para uma conceituao sociolgica da descoberta casual e do invento, cf. Karl Mannheim, Libertad y Planificacon Social. Fondo de Cultura Economica. Mxico. 1942.

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observao isolada. Tais so, por exemplo, Sebastian Vauban (em 1680) e Blidor (em 1729) que perceberam o efeito da fiscalizao sobre a conduta dos operrios; Bernoulli, Euler, Schulze, que procuravam a formula matemtica do trabalho mximo do homem; o fsico francs Coulomb (1736-1806) que estudou a fadiga e a quantidade de trabalho nas vrias profisses; Lavoisier (1743-1794) que estabeleceu as relaes entre o oxignio consumido pelo corpo e a produo de foras; Camus, Carlus Dupin, Poncelet, Navier, Perronet e outros que se preocuparam com aspectos fisiolgicos do trabalho humano. Este tipo de enumerao parece-nos falho: primeiro porque nenhuma luz traz ao significado histrico da questo; segundo porque, como bvio, rigorosamente conduz a omisses. Nos captulos anteriores parece ter ficado claro, de um lado, a relao funcional entre a tcnica do trabalho e a estrutura total das sociedades; de outro lado, o encadeamento de transformaes da civilizao ocidental de que resulta a organizao racional do trabalho. E desse modo pretendemos ter esboado uma histria compreensiva desta tecnologia. De fato, a tcnica do trabalho no se desenvolve de maneira contnua ou unilinear. neste sentido que assiste razo a Ortega y Gasset quando diz que, embora a plvora e a imprensa tenham sido conhecidos dos chineses, desde muitos sculos antes do Renascimento, elas devem ser consideradas contemporneas dos inventos do sculo XV, porque s da em diante se integram no programa vital do tempo, e traspassam o umbral da eficincia histrica2. necessrio observar, ainda, que se acompanhar, daqui por diante, o desenvolvimento da organizao racional do trabalho, com orientao
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...no basta que se invente algo en certa fecha y lugar para que el invento represente so verdadero significado tcnico. Laq plvora y la imprenta, dos des los descobrimientos que parecen ms importantes, existian en China siglos antes de que sirviesen para nada aperciable. Slo en el siglo XV en Europa, probablemente en Lombadia, se hace la plvora una pontencia histrica, y en Alemania, por el mismo tiempo, la imprenta. En vista de ello, cuando diremos que se han inventado ambas tcnicas? Evidentemente slo integradas en el cuerpo general de la tcnica finmedieval e inspiradas por el programa vital del tiempo transpasan el umbral de la eficiencia historica. La plvora como arma de fuego y la imprenta son autnticamente contemporneas de la brjula y el comps: los cuatro, como pronto se advierte, de un mismo estilo, muy caracterstico de esta hora entre gtica e renacentista que va a culminar en Coprmico (Jos Ortega y Gasset, Ensimismamiento y Alteracin. Espasa Calpe Argentina. S. A. Buenos Aires Mxico. 1939. Pg. 128).

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anloga dos captulos precedentes, isto , focalizando os momentos importantes de tal desenvolvimento. O nome F. W. Taylor simboliza a etapa liminar da organizao racional do trabalho propriamente dita. Em sua obra, polarizam-se aquelas idias que vinham sendo longamente elaboradas desde a metade do sculo XVIII. Talvez o engenheiro americano no conhecesse os trabalhos daqueles espritos que formaram, o ambiente racionalizador. Mas o que fato que sua obra no uma criao caprichosa ou arbitrria. antes uma rplica genial ao que Arnold Toynbee3 chamaria uma exigncia de sua poca. As foras configuradoras (os principia media)4 da poca e da situao particular de Taylor possibilitaram a eficincia histrica, de sua criao. significativo que Taylor seja descendente de uma famlia de quakers e puritanos. O protestantismo teve certamente papel positivo, direto ou indireto, na formao do ambiente racionalizador. No incio do Renascimento, ele foi, como bem mostraram Max Weber, Ernst Troeltsch, R. H. Tawney e at Karl Max5, um dos fatores decisivos que concorreram para que o trabalho se emancipasse das sanes tradicionais e msticas de origem medieval e se transformasse em instrumento de legtima competio social. Refere Jos Mallart e Cut6 que Taylor encontrou em sua famlia um ambiente de pureza e de vida s e de ideal de emancipao humana, no s no aspecto moral, como tambm no intelectual, poltico e social. A gravidade de sua vida, a linguagem de suas obras, a convico como serviu s suas idias fazem de Taylor uma espcie de apstolo do que se poderia chamar, com Andr Fourgeaud, de pragmatismo econmico-protestante. este autor, alis, que num ensaio sobre La Rationalisation explora com lucidez a hiptese da origem puritana desta tecnologia que, a seu ver,
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Cf. HOWARD BECKER e PHILIP FRHLICH. Toynbee y la Sociologia Sistematica. Jornadas n. 32. El Colegio de Mxico. 1945. Para uma conceituao de principia media. cf. Karl Mannheim, Libertad y Planificacon Social. Fondo de Cultura Economica. Mexico, 1942. Cf. GUERREIRO RAMOS, A Sociologia de Max Weber, in Revista do Servio Pblico. Agosto e setembro. 1946. JOS MALLART Y CUT, Organizacin Cientfica del Trabajo. Editorial Labor, S. A. Espanha. 1942. Pgs. 11-12.

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assume, pelo seu dogmatismo, o carter de verdadeira religio, com seus apstolos, seus crentes, seus proslitos e, como convm a toda religio, tambm seus detratores7. Referindo-se noo de tarefa social, ressaltada por Friedrich Leitner, em sua anlise da racionalizao, escreve Andr Fourgeaud8: Ela indica nitidamente a origem anglicana (sic) do movimento. Ele comporta esta outra noo, igualmente protestante, da funo providencial do empresrio: a Providncia que colocou o gerente de indstria no lugar que ocupa e seu papel no deve ser acumular lucros escandalosos. Ele a est a fim de satisfazer, nos limites dos meios que dispe, o interesse geral da sociedade e o interesse particular do consumidor e a fim de fazer a coletividade aproveitar-se das riquezas que a Providncia colocou em seu poder. Indubitavelmente a personalidade e a obra de Taylor esto empregnadas da gravidade puritana, to bem retratada no famoso quadro do pintor Grant Wood, O Gtico Americano. E para assinalar apenas um aspecto ilustrativo disto, parece bastante lembrar as freqentes referncias do engenheiro americano ao desperdcio. Taylor movimenta-se num universo social inteiramente secularizado. Seu sistema nada mais que um episdio particular de um estado de conscincia do homem ocidental em que, como observa Hans Freyer9, a cincia natural matemtica, com sua estrutura difana e seu progresso certo e seguro, de problema em problema, se converte em smbolo de uma ordenao total da vida, determinada pelos princpios da lei racional, do predomnio da razo e do progresso. As cincias sociais medram nesta ambincia histria, com os seus objetivos de conformar racionalmente a sociedade sobre a base da cincia10. Elas sucedem s cincias fsicas e perfeitamente lgico que assim tenha sucedido. Em primeiro lugar, ocorreu a reforma da natureza
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Cf. ANDR FOURGEAUD, La Rationalisation, Payot. Paris. 1929. Pg. 29. Op. cit. Pg. 28. Cf. HANS FREYER, Introduccon a la Sociologia, Ediciones Nueva Epoca, S. A. Madrid. 1945. Pgs. 56-57. Cf. Hans Freyer, op. cit. Pg. 60.

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que, aps a Idade Mdia, interpretada como uma ordem mecnica, submetida a leis, as quais, segundo Francis Bacon, podem ser manipuladas (Naturae imperare parendo). As cincias sociais, a sociologia especialmente11, desprendem-se deste sistema cientfico do mundo fsico e pressupem uma sociedade natural, igualmente sujeita a leis naturais, cujo conhecimento permite ao homem a sua direo racional. O lema de Taylor, cincia em lugar de empirismo, traduz o seu entusiasmo reformista. Como uma espcie de Lamettrie12 prtico, seu sistema uma tentativa de aplicao da cincia a toda forma de atividade humana, desde os mais simples de nossos atos individuais at os trabalhos de nossas mais complexas empresas13.
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El concepto de la sociologia se halla determinado a priori por la lgica del sistema natural... A las leyes naturales del espacio, de las masas en movimiento, de los procesos qumicos y de la vida orgnica, la sociologia aade las leyes naturales de las construcciones sociales. Fue constituida y desarrolada en ultimo trmino porque sus mtodos son los ms complicados, y porque presupone los resultados de todas las ciencias que la anteceden. Y necesita los mtodos ms complicados porque tiene que aprehender el objeto ms concreto. Sin embargo, por su actitude gnoseolgica y por su estructura lgica, la sociologia es afn a las otras ciencias positivas: es ciencia natural de los procesos sociales, fsica de las ideas sociales. Su cometido es estudiar los elementos que componen la realidad y las leyes que presiden sus relaciones. Condorcet acariciaba el pensamiento de un espiritu teorico para el que fueran iguales todos los objetos, y que estudiara al sociedad humana como el zologo estudia las abejas y los castores. Este ideal de la sociologia surge necesariamente de la idea del positivismo, y se dibuja como objetivo final mucho antes de Comte, si bien con anterioridad a l esta ciencia slo existe en forma de esbozos y promesas incumplidas. Lo mismo que toda ciencia positiva utiliza el mtodo racional para poder dominar la naturaleza, as tambin puede aplicarse a la sociologa el lema de voir pour prvoir. Tambin esta idea de que la ciencia sociolgica puede transformarse en practica y est llamada por eso a iniciar una nueva poca de conformacin consciente de las relaciones sociales, se halla basada esencialmente en el espiritu del positivismo, y constituye une de las primeras formas de la sociologia francesa. Lo mismo que las ciencias naturales han eliminado de nuestro pensamiento el milagro y el acaso, y de nuestras acciones la magia y la supersticin, as tambin el conocimiento sociolgico elimina de la vida social la mentalidad y las formas de comportamiento que se han desarrollado en el ambiente enrarecido de las ideas imperfectas o errneas: la soberania personal, las tiranies. Los lazos con los que la supersticin vincula a los dolos metafsicos, las construcciones polticas arbitrarias, los ordenes estamentales y las revoluciones sin sentido (Hans Freyer, op. cit. Pgs. 5060). Numa anlise do mesmo processo de secularizao, registra Erich Kahler: La causalidad mecnica, la invariabilidad de las leyes de la naturaleza, ese fundamento supuestamente inconmovible de la ciencia natural, era el anhelado y universalmente buscado modelo de todos las ciencias. En realidad, lo cientfico se identificaba con lo mecanicista. La poltica economica, bajo la perdurable influencia de los sistemas ingleses fundamentales, ha estado, hasta nuestros tiempos, en busca de leyes naturales efectivas en la circulacin de las mercancas y del dinero, en la fluectacin de los precios y en ciclo economico. Todos los factores espirituales, morales y psquicos, eran eliminados deliberadamente (Erich Kahler, Historia Universal del Hombre. Fondo de Cultura Econmica. Mxico. 1943. Pg. 415). LAMETRIE um fsico do sculo XVIII, discpulo do holands Boerhave, que escreve Lhomme machine (Leyden. 1748), famoso em que se props a se levar o axioma da causalidade mecnica at suas ltimas conseqncias, incluindo no sistema at a alma e a razo humanas (Kahler, op. cit. Pgs. 414-415).

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A bibliografia de Taylor pequena. Consta de Notes on Belting, A Piece Rate System, On the Art of Cutting Metals, Shop Management e The Principles of Scientific Management. A contribuio fundamental de Taylor consistiu, em essncia, em libertar o trabalho humano do domnio da tradio. Ele observou que os procedimentos ergolgicos vigentes, em sua maioria, tinham resultado de um processo de tentativas e erros. J vimos como os prprios sistemas sociais de outras pocas no possibilitavam que o trabalho fosse objeto de uma ateno especial. Um Taylor no poderia existir numa sociedade primitiva, numa sociedade do mundo antigo ou numa sociedade medieval. A tarefa principal de Taylor foi a de racionalizar as tarefas, a de mostrar a pista de uma verdadeira cincia do trabalho. Assim, basta refletir sobre o em que consiste o mtodo cientfico e sobre os elementos componentes do objeto que Taylor se prope a tratar o trabalho para que se adquira uma compreenso perfeita do seu sistema. Com efeito, o mtodo cientfico consta, em resumo, de duas operaes fundamentais: a anlise e a sntese. Por outro lado, no trabalho distinguem-se o seu sujeito o homem e o seu objeto a matria. Taylor aplicando o mtodo cientfico ao homem atingiu ao estudo dos tempos e dos movimentos. Cada atividade deveria ser analisada ou decomposta em suas operaes mais elementares: a anlise. A seguir devem ser identificadas as operaes inteis ou suprfluas e elaborada uma composio racional de operaes: a sntese, (a tarefa) na qual os tempos de execuo devem ser reduzidos a um mnimo e os movimentos devem ser os mais elementares possveis. Como lgico, criando para cada ato ergolgico uma cincia, Taylor conseqentemente verificou a necessidade de uma formao e de um treinamento prvio do operrio. Este no mais poderia ser deixado entregue a si mesmo, como acontecia at ento. Reconhecendo a necessidade de desembaraar o operrio de tudo que excedesse sua capacidade, Taylor criou o chamado sistema funcional da organizao administrativa do trabalho industrial, edificado na dicotomia entre o planejamento e a execuo.

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O ncleo de idias que resumimos aqui se encontra exposto principalmente em Shop Management e em Principles of Scientific Management. Procedendo do mesmo modo, Taylor foi levado a verificar a necessidade de racionalizar o objeto do trabalho: a matria-prima e os instrumentos. O seu estudo, On the Art of Cutting Metals obedece a este propsito. Complementa o sistema, um mecanismo de integrao psicolgica, pela qual se atribui um salrio relativamente alto ao operrio que realiza uma tarefa prefixada e, como prmio, uma elevada frao do salrio base ao trabalhador que executa as tarefas em melhores condies que as prefixadas14. A trilha aberta por Taylor foi seguida por vrios estudiosos, nos Estados Unidos, entre os quais: H. L. Gantt, que inventou o sistema de grficos destinados a controlar a produo e a execuo de um trabalho, construiu rguas de clculo para o corte dos metais e estudou a questo da remunerao do operrio; Carl G. Barth que, como colaborador de Taylor, estudou o efeito da fadiga sobre o operrio em trabalhos pesados e inventou uma rgua de clculo; Sanford E. Thompson, que inventou processos de cronometragem do trabalho, reputados por Taylor, como os melhores da poca; Harrington Emerson, que estudou as atribuies do estado-maior e principalmente a questo do rendimento do trabalho; Frank B. e Llian M. Gilbreth que elevaram o estudo dos movimentos categoria de verdadeira cincia; King Hathaway, Morris L. Cooke, Henry S. Dennison, Harlow S. Person e Henry P. Kendal que desenvolveram e aprofundaram vrios aspectos da obra de Taylor.
14

Cf. Georges Friedmann, Problmes Humains du Machinisme Industriel. Gallimard. Paris. 1946, Pg. 30.

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Atesta, por outro lado, a grande influncia de Taylor nos Estados Unidos, a existncia, neste pas, de uma Sociedade Taylor15, cujo objetivo promover o desenvolvimento da organizao cientfica do trabalho. O taylorismo na Frana. Henry Le Chateleir o divulgador da obra de Taylor em Frana. Na Revue de Metallurgie, a partir de 1907, inicia a publicao das principais memrias de Taylor. Alm disto, Henry Le Chatelier escreveu vrios livros sobre organizao racional do trabalho, mais ou menos, dentro do esprito do taylorismo. Um outro adepto destacado de Taylor, na Frana, Charles de Frminville que no s elaborou vrios artigos e ensaios sobre o novo sistema, como principalmente o aplicou na organizao dos Estaleiros de Penhot (St. Nazaire). Contriburam, ainda, para a difuso do taylorismo, na Frana, numerosos estudos tais como o de A. Imbert (Le Systme Taylor. Analyse et comentaires. Paris 1920); o de J. M. Lahy (Le Systme Taylor et la psychologie du travail profissionnel Paris 1916); o de G. Bertrand Thompson (Le Systme Taylor. Paris. 1920); o de J. Amar, (L Organisation physiologique du travail et le systme Taylor. Paris. 1917); e Mise en pratique des nouvelles mthodes de travail, editado em Paris (1918) pela Socit des Ingnieurs Civiles. Ainda por inspirao do taylorismo foi inaugurado em 1923, em Paris, um Congresso Anual de Organizao Cientfica. Todavia, o desenvolvimento do sistema de Taylor encontrou vrios obstculos na Frana. Certas peculiaridades da formao histrica desse pas no permitiram que ele fosse aceito, ali, to genericamente como nos Estados Unidos. Informa Bricard que, na Frana, apenas os processos tcnicos de Taylor foram difundidos. Os princpios sobre direo de pessoal parecem ter sido deixados de lado, por serem pouco apropriados ao carter do
15

CESAR CANTANHEDE, Curso de Organizao do Trabalho. Editora Atlas S. A. So Paulo. 1946. Pg. 152.

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operrio francs (Cf. Geogers Bricard, L Organisation Scientifique du Travail. Lib. Armand Collin. Paris. 1927. Pg. 203). Certas formas vivas e militantes de tradio fizeram da Frana o maior reduto da resistncia no s contra o taylorismo, como tambm, contra a racionalizao. Ali se formou uma vasta literatura crtica desta tecnologia que pe em evidncia um estado de esprito, por assim dizer, contrrio aplicao extensiva das novas tcnicas de trabalho. Literatura que, exportada para os pases da Amrica do Sul, adquiriu nos mesmos ampla voga e foi prontamente assimilada por suas elites marginais ... O taylorismo na Inglaterra Refere Bricard que no incio do sucesso do sistema Taylor na Amrica alguns estaleiros de Barrow-in-Furness (Inglaterra) se declararam organizadores conforme o sistema Vickers, mais apropriado ao gnero particular da indstria de construes navais e mecnicas. Em abril de 1912, o American Machinist divulgou um estudo sobre a organizao de usina Barrow. Segundo Bricard, existem pontos de semelhana entre o sistema Vickers e o de Taylor que seriam decorrentes, seja de simples coincidncia natural, seja do fato, mencionado por Taylor, de haverem quatro representantes da casa Vickers estagiado durante trs ou duas semanas na Bethlehem Steel, quando ele a trabalhava. As diferenas principais entre um e outro sistema so as seguintes: 1 o chefe da oficina dispe de inteira responsabilidade dos produtos e no reparte com outros encarregados as suas funes; 2 o sistema Vickers emprega um escritrio central encarregado de acompanhar os trabalhos, enquanto no sistema Taylor um escritrio especializado que se incube desta superviso, graas s informaes que recebe dos encarregados da execuo; 3 no sistema Vickers, h uma clearing house para as matrias, setor em que so expedidos os elementos das peas que devem ser reunidas posteriormente nas oficinas de montagem.
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Posteriormente denominada Society for the Advancement of Management.

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O taylorismo na Rssia sabido que Lenine recomendou o sistema Taylor na Rssia, o qual, segundo ele, como todos os progressos do capitalismo, rene a crueldade mais refinada a toda uma srie das mais ricas conquistas cientficas. O chamado stakhanovismo no passa de uma variante das prticas tayloristas. Os stakhanovistas eram operrios qualificados que se prepararam em escolas especiais durante os anos dos dois primeiros planos qinqenais. (Baykok, The Development of the Soviet Economic System. Cambridge, At the University. 1946). Em essncia, o stakhanovismo consiste, de um lado, na simplificao das ferramentas e dos instrumentos e, de outro lado, em distinguir, no processo produtivo, o processo bsico das operaes secundrias e complementares. Intuitos demaggicos e tambm a necessidade de estimular o rendimento do trabalho levaram o governo russo a promover uma extensa propaganda dos records de produo dos operrios stakhanovistas.

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CAPTULO VII O SISTEMA FORD


... il nest pas douteux que les directives esentielles leuvre de Ford plongent leurs racines profondement dans la mentalit de lAmerique nouvelle o un espirit tendencies sociales trs avances cotoie couramment le capitalisme le plus aigu, le plus integral.

Andr Fourgeaud, La Rationalisation. Payot. Paris. 1929. Pg. 88. O fordismo muito mais do que um sistema de organizao racional do trabalho. principalmente uma doutrina econmica. A observao no nova e j tinha sido feita por Gotti Ottlilienfeld. A contribuio fundamental de Ford (1863 1947) para a tecnologia do trabalho foi o mecanismo do trabalho repetitivo. Como se sabe, nas oficinas Ford, a pea por ser trabalhada conduzida atravs de um transportador, ao longo do qual esto dispostos os operrios, cada um dos quais deve realizar certo nmero de operaes, dentro de um tempo estabelecido. Na racionalizao taylorista informa Andr Fourgeaud a tarefa fracionria minuciosamente regulada no boletim de trabalho, ordem rgida em que os movimentos por realizar so calculados em segundos e centsimos de segundo. Nas oficinas Ford, continua este autor, todas as execues do trabalho so igualmente medidas pelo cronmetro: o estudo cronomtrico tambm, aqui, a base do fracionamento do trabalho: mas no se trata, neste caso, seno de um conjunto cronomtrico de toda a execuo de uma tarefa e nunca dos tempos dos movimentos isolados 1. A tarefa do operrio transcorre numa espcie de tempo elstico dentro de cujos limites o operrio pode achar sua integrao rtmica ou automtica.
1

Cf. ANDR FOURGEAUD: Op. cit. Pg. 93.

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A rtmica no est ainda suficientemente estudada, como assinalou o professor Csar Cantanhede2. Mas parece constituir, de fato, um fator de decisiva importncia na situao ergolgica. Estudos experimentais realizados em Dresde sob a direo do prof. Sachsenberg3 confirmam que a execuo rtmica do trabalho permite vencer facilmente a monotonia do trabalho repetitivo, suportar o que no mesmo h de penoso, bem como libertar o operrio da fadiga. Se, de fato, o transportador permite o comportamento rtmico do trabalhador, o sistema Ford contrasta com o de Taylor. Um engenheiro alemo, Helmut Hultzsch, que estagiou, como simples operrio, na Ford Motor Co, escreveu um livro Arbeitsstudien bei Ford, Dresde, 1926) em que demonstra o acordo do mtodo de trabalho de Ford com o dinamismo psquico natural. No cabe, aqui discutir se esse acordo efetivo ou aparente, mas apenas registrar que a ritmizao do trabalho foi a contribuio substancial de Ford na esfera da organizao cientfica do trabalho. Vrias outras idias foram ainda desenvolvidas pelo famoso industrial americano. Sua concepo da empresa, por exemplo, est impregnada do esprito puritano de servio a coletividade. Preconiza uma poltica de altos salrios e de produo a baixo custo, uma vez que estes dois fatores elevao do salrio e reduo do preo do custo tero como conseqncia alargar imensamente o mercado consumidor, permitindo que uma grande massa de consumidores, cuja capacidade aquisitiva at ento no comportava a aquisio de determinado grupo de objetos, passe a poder compra-los, no s pela reduo do seu preo de custo, como ainda pelo aumento do poder aquisitivo desses consumidores4. A teoria da eficincia de Ford baseia-se em trs princpios interdependentes. Dois se referem ao tempo e so o princpio de produtividade e o de intensificao. O terceiro aplica-se ao fator matria: o princpio de economicidade.
2 3 4

Cf. CESAR CANTANHEDE, Curso de Organizao do Trabalho. Editora Atlas S.A. Rio 1946. Pg. 61. FOURGEAUD, Op. cit. Pg. 83. Cf. CESAR CANTANHEDE. Op. cit. Pg. 63.

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O princpio da produtividade recomenda o mximo de produo dentro de um perodo determinado. Se um operrio que ganha ordinariamente 5 dlares para produzir 10 unidades num certo lapso de tempo passa, no mesmo perodo, a produzir 20 unidades, ganhar 10 dlares. Nestas condies o preo do trabalho continua sendo o mesmo para o empresrio. Da maior produo verificada ocorre, porm, vantagem para o operrio, porque duplicou o seu salrio; para o patro, que obteve o duplo de unidades no mesmo tempo e para o consumidor, que pode ser beneficiado por uma reduo do preo do custo, que resultaria da distribuio5 de um grande nmero de despesas em relao a uma quantidade maior de produo. O princpio de intensificao consiste em aumentar a velocidade rotatria do capital circulante: Tornando o ciclo de produo mais rpido, pela reduo do tempo da fabricao e acelerao do ritmo do trabalho, o capital circulante pouco se imobiliza e reavido, com presteza, dos prprios consumidores o que permite reinvestir o capital circulante, com uma freqncia relativamente alta, como ocorreu, j em 1926, quando Ford, num ano, fez o capital de giro circular 50 vezes. A aplicao deste princpio possibilitou a Ford dispensar o crdito bancrio, uma vez que ele, atravs desse engenho, recebe dos consumidores o seu capital circulante. O princpio da economicidade permite excluir o tempo perdido para a matria. A matria desperdiada pode ser recuperada, mas o tempo desperdiado deixando a matria imobilizada, jamais pode ser recuperado. Para Ford, o tempo a expresso da energia humana e o stock intil representa um trabalho humano armazenado. A economicidade da matria deve, portanto, ser assegurada, reduzindo a um mnimo o seu volume no curso da transformao. O automvel Ford diz Andr Fourgeaud representa o labor humano cristalizado no mnimo de tempo.
5

Cf. CESAR CANTANHEDE. Op. cit. Pg. 64.

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A especializao dos estabelecimentos Ford na produo de um nico tipo de objeto e a integrao vertical, atravs da qual Ford filiou s suas indstrias originrias todas as que lhe forneciam elementos, constituem uma condio fundamental do xito de sua empresa. Um complexo de fatores econmicos e sociais d ao fordismo o carter de um sistema tpico dos Estados Unidos. O fordismo um sistema de racionalizao mais ajustado produo em srie do que produo em pequena escala. De incio, portanto, pressupe um amplo, mercado consumidor, ou seja, uma numerosa populao, com capacidade aquisitiva suficiente para dar escoamento aos produtos fabricados. Nestas condies, os Estados Unidos constituem o meio ideal do fordismo. No s dispem de um dos maiores mercados de consumo do mundo, que abrange tanto os yankees, como os cidados dos pases de economia colonial que esto dentro da esfera de influncia daquele pas, como abrigam uma populao que, por sua psicologia juvenil, se mostra mais afeita adoo de hbitos sugeridos6 de consumo, do que, por exemplo, as populaes da Europa7. Da ter o processo de mecanizao atingido o grau mximo nos Estados Unidos e invadido quase todas as esferas da vida do povo yankee. Em qualquer outro pas, no se registra uma situao equivalente.
6 7

Pode-se encontrar uma confirmao do que afirmamos, nos conhecidos estudos sobre a Amrica, de Keyserling, Siegfried e no romance de Kafka, por exemplo. Num certo sentido o filme de Charles Chaplin, Tempos Modernos, inspira-se uma viso europia da racionalizao extensiva. Rainer Maria Rilke, uma das figuras mais representativas desta viso, assim se refere mecanizao da vida Pour nos grand-parents, une maison, une fontaine, une tour familire, jusqu leur propre vtement, leur manteau taient infiniment plus encore, infiniment plus familires (qu nous); chaque chose tait um rceptacle dans lequel is trouvaient de lhumain et ajoutaient leur pargne dhumain et ajoutaient leur pargne dhumain. Voici que se pressent vers nous, venues dAmrique, des choses vides, indiffrentes, des apparences de choses, des attrapes de vie... Une maison, dans lacception amricaine, une pomme amricaine ou une vigne de l-bas nont rien de commun avec la maison, le fruit, la grappe dans lesquels avaieut pntr lespoir et la mditation de nos aeux... Les choses doues de vie, les choses vcues, ls choses admises dans notre confidence sont sur leur dclin et ne peuvent plus tre remplaces. Nous sommes peut-tre ls derniers qui auront connu de telles choses. Sur nous repose la responsabilit de conserver, non seulement leur souvenir (ce serait peu et on ne pourrait sy fier), mais leur valeu humaine et larique (larique au sens des divints de la maison)... ( in Robert Pitrou, Rainer Maria Rilke. Editiors Albin Michel. Paris. 1938. Pg. 96).

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Estas condies demogrficas e psicolgicas acrescidas da feracidade do solo americano em matrias-primas, favorecendo a integrao vertical das indstrias, permitem o reconhecido sucesso do fordismo nos Estados Unidos. Em outros pases, entretanto, a aplicao do fordismo encontra limitaes ponderveis, de ordem econmica, social e poltica. Os mercados dos outros pases so muito mais restritos do que o dos Estados Unidos. Por exemplo, na Europa, uma fordizao extensiva das indstrias encontraria dificuldade de couler une production formidablement accrue sur des marches europens morcels, pauvres, herisss de barrires douanires, lintrieur desquels les gouts changent que les langues et les usages autant que les lgislations commerciales8. Tambm fatores de psicologia nacional dos outros pases constituem-se em obstculos de uma aplicao extensiva do fordismo, fora dos Estados Unidos. Em pases como os da Amrica Latina, da sia, da Oceania no s a indstria se encontra em estado incipiente, como a maior parte de suas populaes ainda no emergiu das culturas de folk9 para Robert Redfield chama de civilizao. Quanto Europa, fatores psicolgicos de outra ordem entram em cena. Tem importncia sociolgica assinalar, como sugere Hans Freyer10, que a Europa um continente onde h basalto e castelos vetustos. A se apresenta uma estrutura de conjunto historicamente complicada que se traduz em estilos tradicionais de vida bem integrados (genunos, como diria Sapir) e profundamente enraizados, que resistem a uma mudana rpida. A parece predominar, ainda, a cultura sobre a civilizao, ao contrrio do que ocorre nos Estados. A Europa se encontra numa situao paradoxal: ela a alma mater do saber tcnico que faz a fortuna dos estados Unidos, mas carece das
8

9 10

Cf. Andr Fourgeaud. Op. cit. pg. 128. ainda A. Fourgeaud quem esclarece, referindo-se ao problema da introduo do fordismo na Europa: La difficult du problme nest donc ps tant dappliquer les mthodes de travail et dorganiser ls usines sur le modle Ford: sur ce point, la tchnique europenne, disons-le bien haut, est capable datteidre la perfection et ne craint aucune comparaison avec la technique amricaine quelle surpasse mme dans bien des dmaines. Le problme de lintroduction de la fordisation en Europe, bien loin dtre un problme techinique, aboutit en realit un problme economique, social et politique aux multiples faces dont la solution est autrement difficulteuse. (Op. cit. Pg: 128-129).

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aptides para tornar este saber um instrumento de sua prpria grandeza material11.

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Para um desenvolvimento dos conceitos de cultura de folk e civilizao, vide Robert Redfield, Yucatan. Fondo de Cultura Econmica. Mxico. 1944. Cf. Hans Freyer, La Sociologia, Ciencia de la Realidad. Editorial Losada S. A. Buenos Aires. 1944. Pg. 20. Dir-se-ia que a Europa sofre as conseqncias do que se poderia chamar bacharelismo. Pelo menos o que induzem palavras como estas ... nous avons surestim le savoir technique et la science pur et sousestim les valeurs personnelles, celles qui, seules, impriment la production la vie et le mouvement. Que de gens ont pens, en France comme em Allemagne, que le degr de civilisation dum peuple se mesure uniquement par sa culture: on a multipli les diplmes, les peaux dnes; mais nous navons point dhommes. Nous nous sommes rengorgs dans notre suffisance em nous reposant sur nos Acadmies, nos Instituts et nos Facults du soin d accrditer dans le monde la bonne opinion que nous avons de nous-mmes. En realit, sauf exceptions, tous ces corps sont peupls de pontifes et de faux savants qui nbloussent que les ignorants. Les vraies valeurs, celles qui nexpriment ps toujours les parchemins universitaires, sont noyes dans la masse des diplms qui courent les rues et qui nont de la vie quune notion thorique trop souvent fausse et toujours superficielle. (A. Fourgeaud. Op. cit. Pg. 130-131).

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CAPTULO VIII A METODOLOGIA DA ORGANIZAO EM EMERGNCIA


La moindre observation bien faite a sa valeur, et, comme le nombre des observateur possibles est illimit, on peut esprer que, le courant une fois tabli, il ne sarrtera plus; il sagit de dterminer ce courant, douvrir la discussion publique; cest ce que jessaye de faire... Jespre quune dectrine em sortira. Henri Fayol. Administration Industrielle et Gnrale. Dunod. Paris. 1931. Pg. 25.

A organizao racional do trabalho tem a idade de um homem. Isto equivale dizer que ela quase no tem um passado. S tem um presente. A primeira obra que se enquadra rigorosamente no ambiente desta tecnologia foi editada em 1911. Ela se chamou Shop Managemente. Da por diante, sobretudo a partir da publicao, em 1921, do famoso Relatrio das Federated American Engineering Societies intitulado Waste in Industry, surgiram centenas de livros sobre o assunto, principalmente escritos em ingls. Atualmente a literatura sobre o nosso tema imensa. bvio que um histrico desta tecnologia no pode ser convertido numa crnica ou num registro bibliogrfico que mencione, em ordem cronolgica, as publicaes referentes a este campo de investigao. Isto seria til, para certos fins, mas o que cumpre realizar para que se obtenha um histrico da organizao racional do trabalho, tentar discernir as correntes fundamentais deste farto material bibliogrfico. Uma das correntes atuais, mais importantes, da organizao racional do trabalho tem a sua nascente na obra de Taylor e continua nos trabalhos dos Gilbreth, dos Walter Homes, dos Grillo, dos Blakelock, dos Ralph Barnes, dos Lowry, dos Maynard, dos Stegemertn, dos Shumard, dos Sponder, dos Merrick, que se preocupam especialmente com um aspecto da fisiologia do

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trabalho, o estudo dos tempos e dos movimentos; e nos trabalhos dos Edward Jones, dos Mckinsey, dos Knoeppel, dos Kimball, dos Alford, dos Dutton, dos Harlow Person, dos Harrey Rubey, dos Le Chatelier, dos Jean Chevalier1, dos Leffingwell, dos William Cornell, todos dedicados ao que, em ingls, se costuma chamar business administration, scientific management, ou industrial organization. Uma outra corrente simbolizada por Fayol (1841-1925), cuja obra , sem dvida, fermento de numerosos estudos sobre a teoria cientfica da organizao administrativa. Alguns rudimentos desta teoria genrica j se encontram na obra de Taylor. Por exemplo, o engenheiro americano ressaltou a importncia das atividades de planejamento. Mas Fayol quem submete a administrao a uma anlise cientfica penetrante e dela discerne os elementos fundamentais, ao mesmo tempo que abre a pista da metodologia da organizao. Fayol desembaraou a funo administrativa das outras funes da empresa e, demonstrando sua importncia relativa em face das mesmas, evidenciou que ela peut et doit saquerir comme la capacit technique. dizer, a administrao no s experincia, mas um corpo de conhecimentos objetivos, independente da engenharia, da contabilidade ou da cincia financeira. Diz ele: Tandis quau point de vue technique un chef ne saurait aller contre certaines rgles tablies sans sexposer perdre tout prestige, au point de vue administratif il peut se permettre impunment les pratiques les plus fcheuses2. E percebendo a importncia de sua contribuio escreve: Tout autre serait la situation sil existait une doctrine consacre, cest--dire une ensemble de principes, de rgles, de mthodes, de procdes prouvs et controls par lexprience publique3. A obra de Fayol representa, portanto, a tomada de conscincia da administrao como disciplina autnoma. Seu livro principal,

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Administration Industrielle et Gnrale, inicia a corrente que continua nos estudos dos Luther Gulick, dos Urwick, dos Mooney, dos Reiley, dos Graicunas, dos Anderson, dos Schwenning, dos Glaser, cujos temas importantes so a chefia executiva e a metodologia da organizao. Fayol foi pioneiro do estudo da chefia executiva. Para ele, administrar prever, organnizar, comandar, coordenar, controlar. A se discriminam os elementos capitais da funo adminstrativa e, ainda, fica elaborada uma nomenclatura que se mantm atual, at os nossos dias. Luther Gulick inspira-se visivelmente em Fayol, ao propor o seu famoso Posdcorb (planning, staffing, directing, coordinating, reporting, busgeting) como sntese do contedo da chefia executiva. A metodologia da organizao presentemente em curso deve a Fayol indicaes substanciais. Na impossibilidade de enumerar, com detalhe, todos os trabalhos que tratam deste tema, por assim dizer fayoliano, sero sumariados, aqui, alguns dos mais conhecidos. John Pfiffner, Donald Stone, H. S. Person e Comstock Glaser desenvolvem o estudo do planejamento como elemento da administrao. Harrington Emerson, os dois Kimball, Luther Gullik, L. Urwick, James Mooney, Alan C. Reiley, E. H. Anderson, G. T. Schwenhing e William B. Cornell exploram o tema dos princpios de administrao e organizao. Graicunas e os Niles desenvolvem o estudo do controle e, ainda Comstock Glaser, em seu conhecido Administrative Procedure, focaliza, de maneira sistemtica, a organizao como processo. Ao assinalar a procedncia fayoliana destas contribuies, no se nega a originalidade dos seus autores, nem tampouco influncias menores de outra procedncia. Por exemplo, a teoria da departamentalizao um recente enriquecimento substancial da metodologia da organizao devido especialmente a Luther Gulick, Anderson e Schwenning.
1 2 3

Le CHATELIER e JEAN CHEVALIER, alis, revelam, em seus trabalhos, certa tendncia para integrar as contribuies de taylor e fayol. Cf. Administration Industrielle et Gnrale. Dunod. Paris. 1931. Pg. 24. Idem. Pg. 24.

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No deve ser esquecido que Taylor , talvez, quem mais decisivamente contribui para a formao da atual teoria da estrutura de autoridade, pea importssima da metodologia da organizao. Seu confronto da estrutura militar ou linear com a estrutura funcional, que ele preconizou, clssico. Neste campo, so dignos de nota os nomes de Harrington Emerson, dos dois Kimball, de Oliver Sheldon, Harrey Rubey, Mooney, Reiley, Henry H. Farquhar, Thomas R. Jones, Henry P. Dutton, Anderson e Schwenning, William B. Cornell. Um aspecto da metodologia da organizao que se tem desenvolvido extraordinariamente a tcnica dos grficos de trabalho na qual se destacam John Furia, Willar Brinton, Harold Maynard, Stegemerten, Wallace Clark, Robert Satet, Charles Voraz e o Isotype Institute da Inglaterra. Tais contribuies tm aparecido no perodo dos ltimos trinta anos. fcil compreender, pois, que a metodologia da organizao est ainda em emergncia. Em seu presente estdio, que pode ser caracterizado como escolstico, carece de unidade conceitual.

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CAPTULO IX A RACIONALIZAO DO TRABALHO NA ALEMANHA


La rationalisation (Rationalisierung) ou mise en conomie integral (Verwirtschaftlichung), est lconomie accrue a un haut degree des processus de la production et de la circulation aussi bien dans lconomie nationale que dans lconomie prive. Lapprovisionnement ncessaire la collectivit par les moyens les moins coteux est la tache sociale de la production et de la circulation des richesses. Dans ce sens de tache sociale, la rationalisation vise crer les biens par les enterprises les mieux tablies avec les cots de la production les moins eleves et racoureir ls routes de la circulation depuis le producteur jusquau consommateur. Friedrich Leitner, citado por Andr Fourgeaud, La Rationalisation. Payot. Paris, 1929. Pg. 19.

A Alemanha ajustou s suas condies peculiares a organizao racional do trabalho, que a passa a chamar-se racionalizao. No , porm, nesta simples mudana de nomenclatura que se exprime o ajustamento referido acima. Ele se exprime, de um lado, no fato de a Alemanha ter repudiado os procedimentos daquela tecnologia que mecaniza, demasiadamente o trabalho do operrio, exagerao a que se associa ordinariamente o taylorismo; e de ouro lado, no fato de a Alemanha entende-la como uma organizao da economia nacional. Desde o fim da penltima Grande Guerra comeou a surgir, em lngua alem, uma numerosa literatura sobre a nova tecnologia, em que se fazem notar Lorenz1, Edgar Herbst2, Seuber3, Hugo Borst4, Giese5, Drury e Witte6, Justus Borman7, Sazenhofe8, Gustav Frenz9, Hellmich10.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Taylorsystem und Arbeiterschaft. Viena. 1919. Der Taylorismus als Hilfe in unserer Wirtrchalsnot 3 ed. Leipzig e Viena. 1920. Aus der Prxis ds Taylorsystems. 4 edio Springer. Berlim. 1920. Wissenchaftliche Betriebsorganisation, Taylorsystem und Sozialpolitik, Chemnitz. 1914. Organisation der Arbeit. Berlim. 1921. Wissenchaftliche Betriebsorganisation aine geschichtliche und kritische Wrdigung des Taylorsystems. Mnich e Berlin. 1921. Die Enthrung des Taylorsystems in lautenrie Eatriebe. Taylor Bucharei. Viena e Leipzig. 1920. Die Moderne Lagebuchftihrung nach Taylor. 2 ed. Leipzig. 1921. Kritk des Taylorsystems. Berlin. 1920. Was will Taylor? Die Arbensparende Betriesbsthrung. Berlin, V. D. I., Verlag. 1920 (esta e as

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As idias bsicas da racionalizao na Alemanha so devidas a Walther Rathenau (1867-1922), a cujo respeito assim se manifesta o economista Richard Lewinsohn: Rathenau considerava a racionalizao como a expresso de uma nova mentalidade econmica. Criticava severamente o sistema de economia privada tal como existia ento na Alemanha porque, a seu ver, os empreendedores se fiavam demasiadamente no acaso, na improvisao, na tradio. Queria substituir esse sistema por uma economia planificada, da qual era um dos promotores. O que queria no era uma economia socialista, nem uma economia dirigida pelo Estado, mas uma economia corporativa, deixando uma autonomia muito grande aos diferentes ramos industriais reunidos em corporao. A racionalizao, sua aplicao e suas propores no deviam mais ser abandonadas ao livre arbtrio individual de cada empreendedor, mas determinadas e controladas pela corporao. Desta maneira, Rathenau queria organizar uma economia inteiramente racionalizada11. Vrios alemes se dirigem aos Estados Unidos a fim de a estudarem a nova tecnologia. Aparecem diversos livros em que se expem os mtodos postos em prtica na indstria norte-americana, como o do diretor-geral das Usinas Siemens, dr. Carl Koettgen, o de Julius Hirsch (Das amerikanische Wirtschaftwunder. S. Fischer. Berlin. 1925), e de GottlOttlilienfeld, Fordismus. 3 ed. Viena. 1926), o de Helmut hultzsch (Arbeitstudien bei Ford. Dresde. 1926). Os Alemes, desde o primeiro contato com a experincia americana, neste terreno, opuseram srias reservas ao taylorismo12. Os princpios consagrados por Taylor contrariavam certas tendncias do operariado alemo. Por exemplo, o taylorismo implica uma emulao
11 12

precedentes indicaes bibliogrficas foram colhidas no livro de Andr Fourgeaud, La Rationalisation. Payot. Paris, ano de 1929). RICHARD LEWINSOHN, A Racionalizao nos Estados Unidos e na Alemanha, in Revista do Servio Pblico. Setembro de 1941. Pg. 161. ... la doctrine allemande repouss aprs les travaux de Mnsterberg, de von Gottl-Ottlilienfeld, dEdgar Atzler, la rationalisation tayloris pour lui prfrer la rationalisation psychotechnique et psychophysiologique qui est exactement loppos du systme du clbre ingnieur amricain (A. Fourgeaud. Op. cit. Pg. 24. O mesmo fato assinalado por G. Friedmann: En Allemagne le Directeur des usines Borsig, constate lhostilit de ss ouvriers contre le systme et un physiologiste, le Dr. Sachs, en 1913, dans um article qui fut lorigine de toute une polemique avec les tayloriens allemands, employait

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individualista entre os operrios, segundo a qual o salrio se diversifica, conforme a maior ou a menor produo individual. Este individualismo se opunha ao esprito comunitrio alemo e tendncia igualizao dos salrios. O taylorismo sofre ainda severa crtica pelo fato de prender-se excessivamente ao objetivo do rendimento do trabalho, descurando a personalidade do operrio. esta crtica que suscita os estudos de Mnsterberg, Gisse, Edgar Atzler, von Gottl-Ottlilienfeld que, procurando corrigir a negligncia do taylorismo pelos fatores psicolgicos na situao ergolgica, contribuem para a formao da psicotcnica e da fisiologia do trabalho. Na Alemanha, no se coloca o problema de saber quais so os homens mais aptos para realizar tal ou qual tarefa, por meio de tal ou qual mquina, como tal ou qual processo de trabalho rigidamente cronometrado; mas o problema inverso: quais so as formas de organizao, as mquinas, os processos de trabalho mais adequados para utilizar as foras e as aptides humanas tais como so? Estas palavras de Andr Fourgeaud descrevem com fidelidade a trajetria do taylorismo daquele pas. Com efeito, neste sentido manifestam-se muitos autores alemes, como Lorenz, Lewin, Neurath, tendo este ltimo chegado mesmo a propor um taylorismo invertido (das umgekehrte Taylorsystem)13. De ponto de vista tcnico, o fordismo parecia aos alemes, mais aceitvel do que o taylorismo, entre outros motivos porque permitia a igualizao dos salrios14, uma vez que as tarefas exigidas no referido sistema no requerem esforo mximo, como ocorre no de Taylor, e esto ao alcance da capacidade humana ordinria. A aplicao do fordismo encontrava, porm, na Alemanha, embora em menor agudeza do que em outros pases europeus, impedimentos de
pour juger le systme des expressions qui rappelaient tonnament celles des militantes franais de la Confedration Gnrale du Travail, accusant alors le taylorisme dtre une organisation de surmenage (Problmes Humains du Machinisme Industriel. Pg. 34). Os alemes observa Fourgeaud procuram utilizar o taylorismo, mas com outras tendncias. Neste sentido, um deles, Lewin, escreve uma obra sobre a Socializao do Sistema Taylor (Die Sozialisierung des Taylor-systems. Berlin. 1920, - citado em A. Fourgeaud, op. cit. -). ... os operrios alemes acolhiam favorvelmente o sistema de trabalho elaborado por Henry Ford. Um dos princpios diretores de Ford a idia de que se deve mecanizar a produo a um tal grau que o homem no seja mais que um auxiliar da mquina. a mquina, em particular o conveyor (a cadeia), que regula o ritmo do trabalho. Um operrio demasiadamente zeloso no sistema Ford, to nocivo a marcha do trabalho quanto um operrio preguioso e muito lento. Da provm, em Ford, a igualizao do salrio (Richard Lewinsohn, op. cit, Pg. 162).

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ordem social e econmica. De um lado, o pblico alemo tinha hbitos de consumo longamente elaborados que apreciam ameaar o escoamento de produtos seriados, fora de suas expectativas tradicionais; de outro lado, no havia, no pas, um mercado suficiente para consumir uma grande oferta de mercadorias padronizadas. precisamente para vencer contingncias desta ordem que a racionalizao nesse pas adquire caractersticas peculiares. A, a diferena do que se verifica nos Estados Unidos, o Estado que, para garantir a absoro dos produtos pelo consumo o que significa, uma boa linguagem germnica, evitar os sobressaltos da conjuntura (Konjunktursch Wankungen), organiza a produo em massa (Massenproduktion) forando a concentrao das empresas. Assim mesmo, a racionalizao s atinge as principais indstrias, tais como a siderurgia, as minas de carvo e a qumica. Entre estas concentraes, salientam-se o grande truste qumico I. G. Farbenindustrie (1925) e as Vereinigte Stahwerke (1926). A primeira abrangia seis empresas de produtos qumicos, entre as quais a Bayer e a Agfa, e exercia o controle sobremais da metade da produo qumica alem. As Vereinigte Stahwerke eram uma concentrao de usinas de ao. Sobre o carter destas unies, oportuno este trecho de Richard Lewinsohn15:
Na formao de novos trustes ou Konzerne, como so chamados na Alemanha, no havia vencedores, nem vencidos. As empresas que se fundiam ou se aliavam estreitamente entre si, conservando uma independncia de pura forma, no se encontravam em dificuldades financeiras nem beira da falncia. Eram unies inter-pares, com o fim de reduzir , mediante a concentrao, as despesas de produo, eliminar o trabalho paralelo e intil, coordenar os esforos tcnicos e comerciais, simplificar a administrao e obter assim um melhor rendimento. Em todas as concentraes deste perodo, era de uso estabelecer desde o incio um plano detalhado para a racionalizao dos estabelecimentos em questo.

Um grande centro de investigao e estudo sobre racionalizao foi criado em 1921, o Reichskuratorium fur Wirtschattichkeit (Conselho do Reich para a Produtividade). A ao desta entidade adquire grande eficcia, principalmente a partir de 1925, quando recebe uma
15

Op. cit. Pg. 163.

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subveno do Reich de 1.200.000 marcos, elevada, no ano seguinte, para 2.400.000. Este conselho se organizou em forma para-estatal, sendo seus principais setores os seguintes comits: I Comit para produo econmica (Ausschuss fr wirtschattliche Fertigung); II Comit para a administrao econmica (Ausschuss fr wirtschattliche Verwaltung); III Comit do Reich para as condies de entrega (Reichsausschuss fr wirtschattliche Lieferbedingungen); IV Comit alemo de padronizao (Deutsche Normenausschuss); V Comit do Reich para pesquisas sobre a durao do trabalho (Reichsausschuss fr Arbeitszeitermittlung); e VI Centro para o fomento do emprego dos materiais usados e detritos (Hauptstelle zur Frderung der Alstoff-und Abfallverwertung). A constituio deste rgo mostra o amplo carter que adquiriu, na Alemanha, a organizao racional do trabalho.

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CAPTULO X A FISIOLOGIA E A PSICOLOGIA APLICADAS AO TRABALHO


Deixando-se de lado as contribuies considerveis, mas restritas mecnica aplicada e metalurgia, comete-se um engano ao denominar cincia o que no se no um aperfeioamento de meios para aumentar o rendimento imediato do aparelhamento e da mo-de-obra. A cronometragem dos tempos unitrios, a assimilao do trabalho humano a um jogo de mecanismos inanimados, o desconhecimento do funcionamento corporal e mental do organismo e das suas exigncias prprias, o processo de estimulao e de remunerao do esforo, a ausncia da orientao profissional, a seleo pelo rendimento, enfim, o empirismo das generalizaes elevadas dignidade de leis tudo isso prova que nos encontramos, com o taylorismo, na presena de um sistema apurado por um homem que foi sem dvida um grande tcnico, mas que no passou alm dos limites do seu universo de engenheiro. Nada lhe mais estranho do que a necessria e constante colaborao do tcnico com o fisiologista e o psiclogo para um estudo realmente slido e penetrante dos problemas da indstria. (Mrio Wagner Vieira da Cunha, nota bibliogrfica sobre o livro de Georges Friedmann, Ploblmes Humains du Machinisme Industriel, in Revista de Administrao, rgo do Instituto de Administrao da Faculdade de Cincias Econmicas e Administrativas da Universidade de So Paulo. Ano II. Setembro de 1948, n. 7. Pgs. 171-172).

Excede o mbito deste estudo o exame detalhado dos problemas de psicologia e de fisiologia do trabalho. A fim de permanecer dentro dos propsitos desta tese, o que importa, aqui, observar as razes sociais dessas disciplinas. O taylorismo era, como j observava Wiese, uma pura teoria de engenheiro1 e, assim sendo, impunha ao operrio uma condio que,
1

Citado em A. FOURGEAUD, op. cit. Pg. 57.

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luz das idias democrticas em voga, lhe parecia ditatorial, uma espcie de escamoteao do capitalismo. O novo esprito reivindicador e igualitrio das classes operrias resiste, por todos os meios, ao taylorismo. Em toda parte, as organizaes sindicais receberam com suspeita e hostilidade os novos mtodos de trabalho. o que confirma, entre os outros, Andr Fourgeaud, nestas palavras: Les syndicats ont vu dans le systme Taylor leur ennemi n: ils lont farouchement combattu. Ils ont compris linfluence dissolvent du systme sur les coalitions de travailleurs2. Nada mais natural, portanto, que sob impacto desta reao universal das classes operrias, os empregadores fossem obrigados a acolher medidas tendentes a assegurar maior satisfao dos trabalhadores na empresa. Delimitou-se, assim, a necessidade de corrigir a insuficincia e o unilateralismo da nascente tecnologia, que parecia negligenciar os aspectos fisiolgicos e psicolgicos da situao ergolgica e considerar, antes de tudo, o rendimento, as exigncias tcnicas e econmicas da empresa. Tal necessidade constituiu-se em poderoso estmulo do desenvolvimento da psicologia e da fisiologia do trabalho, logo aps os primeiros ensaios do taylorismo. A fisiologia do trabalho pesquisa aqueles processos de ajustamento fisiolgico do homem ao trabalho que lhe permitem atingir o mximo de rendimento, com o mnimo de esforo. Nestas condies, esta disciplina, conforme o critrio adotado, tem um passado to longo ou to curto quanto o da prpria organizao racional do trabalho. Seus principais episdios podem ser descritos na forma seguinte.
2

ANDR FOURGEAUD, op. cit. pg. 50.

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do sculo XVII o livro De Motu Animalium, em que o mdico napolitano Alphonse Borelli estudava o mecanismo dos movimentos humanos. No sculo XVIII, Bernoulli, Euler, Schulze, Coulomb e Lavosier ocupam-se com os aspectos fisiolgicos do trabalho. No sculo XIX, o tema retomado por Hirn, Chauveau e Marey, na Frana; Atwater e Muybridge, nos Estados Unidos; Mosso, na Itlia; Du Bois Reymond, na Alemanha. De decisiva importncia a obra de Taylor neste campo. Ele mesmo se interessou pelo problema central da fisiologia do trabalho, a fadiga, tendo estudado a questo por muito tempo. A anlise dos movimentos mereceu do engenheiro americano uma ateno especial. Todavia, Frank B. Gilbreth (ao qual se associa sua esposa) quem presta uma das maiores contribuies, no princpio deste sculo, para a constituio da fisiologia do trabalho, desenvolvendo o estudo dos tempos e movimentos. Este setor tambm explorado na Alemanha por Atzler, Herbst, Muller e Lehmann. No estudo da questo da fadiga e da adaptao do trabalho fisiologia do operrio salientam-se ainda, neste sculo, Frmont, Jules Amar, Weiss, Loteyko, Leon Walther. A fisiologia do trabalho uma disciplina em plena evoluo. Cada vez mais se torna inseparvel da psicologia. Assim exige a unidade fundamental do organismo humano, no qual o fisiolgico e o psquico esto em estreitssima interdependncia. O tema principal da chamada psicotcnica3 (termo passvel de muitas crticas) o da integrao psicolgica do homem no trabalho, mediante a seleo e a orientao profissional. Quanto ao seu histrico, pode ser traado no breve sumrio que segue. At meados do sculo XIX, a psicologia permanecia subordinada filosofia. A emancipao da psicologia da tutela da filosofia um aspecto particular da transformao da estrutura conceitual da cincia ocidental, processo este que, segundo Boris B. Bogoslovsky4, Ernst
3 4

A criao da palavra atribuda a Fechner. BORIS B. BOGOSLOVSKY. The Tecnique of Controversy: Principles of dynamic Logic. Paul, Trench, Trubner & Co. Ltd. London. 1928.

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Cassirer5 e Alfred Korzybski6, consiste numa superao progressiva do ontologismo. A emancipao acima referida traduziu-se na constituio de uma psicologia experimental, de que a psicotcnica uma conseqncia. Decorre da que, na preparao do advento da psicotcnica, deve ser reconhecido o papel efetivo que desempenharam E. H. Weber, C. T. Fechner e Wundt que aplicaram a experimentao no estudo dos fenmenos psicolgicos, bem como a multido de psiclogos que seguiam esta pista (Ebbinghaus, Klper, Ribot, Richet, Messer, Bhler e outros). No ano de 1890, Cattel, um discpulo de Wundt, lana nos Estados Unidos, os testes mentais, expresso que ele foi o primeiro a empregar.
Ancient logic is entirely founded on the relation of subject and predicate, on the relation of the given concept to its also given final properties. It seeks finally to grasp the absolute and essential properties of absolute self-existent substances. Modern logic, on the contrary, in the course of its development, comes more and more to abandon that ideal (Cf. Ernst Cassirer, Substance and Function and Einsteins Theory of Relativity. The Open Court Publishing Co. Chicago. 1923. Pg. 389). - Ainda Cassirer: Modern logic, at any rate, has substituted for the old principle of abstraction a new one, which may be introduced here. In this new principle of abstraction, the procedure is not from things and their common properties, but from relations between concepts (op. cit. pgina 195). Para uma viso de conjunto da obra de Cassirer, vide Paul Arthur Schilpp (editor). The Philosophy of Ernst Cassirer. The Library of Living Philosophers, Inc. Evanston, Illinois. 1949. Um tratamento dos problemas da psicologia, luz de nova lgica conceitual (field theory) encontrado em J. F. Brown, Psychology and the Social Order. McGraw-Hill Book Co. Inc. New York and London. 1936. 6 ALFRED KORZYBSKI dirige sua crtica principalmente ao aristotelismo, cujas limitaes histricas hbil em surpreender. No trecho seguinte, Korzybski resume o objetivo de sua obra mestra (Science and Sanity, an introduction to non-aristotelian systems and general semantics. The Science Press Printing Co., Distributors. Lancaster, Pennsylvania. 2nd. Ed. 1941) de dificlima leitura: One of the tremendous obstacles in the revision of the aristotelian system is exactly the excellence of the woks of Aristotle based on the very few scientific facts known 2,300 years ago. The aim of his work circa 350 B. C. was to formulate the essential nature of science (350 B. C.). and he aimed to formulate a general method for all scientific work. He was even expounding the theory of symmetrical relations, the relation of the general to the particular, etc. In his days these orientations were by necessity two-valued and objective; hence follows his whole system, them more or less satisfactory on macroscopie levels. A modern revision of the aristotelian system on the building of a non-aristotelian system involves, or is based on, similar aims; namely, the formulation of a general method not only for scientific work, but also life, as we know it today (1941). Modern scientific developments show that what we label objects or objectives are mere nervous constructs inside our skulls which our nervous systems have abstracted electro-colloidally from the actual world of electronic processes on the sub-microscopic level. And so we have to face a complete methodological departure from two-valued, objective orientations to general, infinite-valued, process orientations, as necessitated by scientific discoveries for at least the past sixty years. The aim of the work of Aristotle and the work of the non-aristotelian is similar, except for the date ofour human development and the advance of science. The problem is wether we shall deal with science and scientific methods of 350 B. C. or of 1941 A. C. In general semantics, in building up a non aristotelian system, the aims of Aristotle are preserved yet scientific methods are brought up to date (Pgs. XIX-XX). Uma divulgao acessvel da semntica geral encontrada em Irving J. Lee, Language Habits in Human Affairs. Harper & Brothers Publishers. New York. London. 1941.
5

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Este evento denuncia que se tornara aguda a percepo de diferenas de ordem mental entre os homens. Em 1905, Binet, em colaborao com Simon publica a famosa escala mtrica da inteligncia, (posteriormente modificada por Terman, Kuhlmann, Burt, etc.) que permite diagnosticar em anos, e mesmo em meses, o atraso ou o avano intelectual de uma criana de trs anos em diante. A pequena distncia desta psicologia diferencial para a psicotcnica rapidamente vencida. Em 1910, Dill Scott publica nos Estados Unidos uma srie de artigos sobre psicologia aplicada ao trabalho (Psychology of business). , porm, Mnsterberg quem d o passo decisivo. Em 1912 aparece o seu livro La Psichologie et la vie conomique em que focaliza o problema da seleo profissional e expe os seus ensaios de psicotcnica realizados de 1910 a 1911. Em 1914 aparece o seu livro Grundzge der Psychotechnik, em que os objetivos do novo ramo de psicologia eram claramente delimitados. Da por diante surge uma literatura abundante dobre o assunto, na qual se fazem notar Giese, Hellpach, Moede e Piorkowsky, na Alemanha; Pearson e Spearman, na Inglaterra; Leon Walther (russo de nascimento), Spring, Bovet e Andr Rey, na Sua; Mira y Lopes, na Espanha; Decroly, Buyse, Sollie e Drabs, na Blgica; Rossolino, na Rssia; Thorndike, Bingham, Beckman, Thurstone, Hull, Freeman, Terman, nos Estados Unidos. Lahy, Piron, Laugier, Fontgne e Wallon, na Frana.

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CAPTULO XI A RACIONALIZAO DA ADMINISTRAO PBLICA


The bureaucratic structure is everywhere a late product of development. The further back we trace our steps, the more typical is the absence of bureaucracy and officialdom in the structure of domination. Bureaucracy has a rational character: rules, means, ends, and matter of factness dominate its bearing. Everywhere its origin and its diffusion have therefore had revolutionary results, in a special sense, which has still to be discussed. This is the same influence which the advance of rationalism in general has had. The march of bureaucracy has destroyed structures of domination which had no rational character Max Weber, in From Max Weber: Essays in Sociology, Gerth e Mills (editors). Oxford University Press. New York. 1946. Pg. 244. Les Pharaons de lEgypte ancienne et les Empereurs de Chine edifirent une lourde machine bureaucratique et tous les chefs dtat aprs aux suivirent leur exemple. La fodalit fut une tentative qui prtendait se passer des hommes et des mthodes bureaucratiques dans lorganisation politique de vastes territoires. Lchc en fut retentissant. Elle aboutit un miettement total de lunit politique antrieure et sombra dans lanarchie. Les seigneurs fodaux, lorigine simples officiers et sujet du pouvoir central, devinrent em des seigneurs indpendants, sans cesse em lutte les uns contre les autres, bravant le roi, la justice et les lois. Depuis le XV e sicle, dans tout lEurope le principal souci des rois fut de faire plier la superbe de leurs vassaux. Ltat moderne est bti sur les ruines de la fodalit. Il a remplac la suprematie dune multitude de princes et de comtes par une organisation bureaucratique des affaires publiques. Ludwig von Mises, La Bureaucratie. Librairie de Mdicis. Paris. 1946. Pg. 20.

A racionalizao assume algumas peculiaridades na esfera da administrao pblica. A ela uma questo eminentemente sociolgica, antes de ser de qualquer natureza.

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A racionalizao na esfera da administrao pblica no se converte em mera aplicao do saber tcnico na organizao de atividades. , principalmente, um processo de transformao do aparato estatal, que se opera a custa da diminuio (e at anulao) da eficcia da tradio1, ou melhor, que implica a substituio de folkways por technicways2. Na administrao pblica, a racionalizao , antes, uma fase da evoluo do Estado que uma tecnologia propriamente dita. Ela surge, sob a forma do que Max Weber chamou burocracia, naqueles tipos de Estado em que, sob a influncia do constitucionalismo, se afirma o predomnio da funo pblica sobre a feudalidade e a soberania territorial, ou seja, do interesse universal sobre o interesse particular. Na evoluo da administrao pblica podem ser distinguidas duas fases importantes que, luz da interpretao tpico-ideal, se identificam como: a administrao patrimonial e a administrao racional ou burocrtica. A administrao patrimonial nada mais que uma espoliao legitimada pela tradio, em que os cargos pblicos so distribudos como ddivas ou prebendas. Tal administrao no cogita da eficincia das funes pblicas, at porque ela s tem vigncia em sociedades em que no se configura ainda uma conscincia poltica capaz de distinguir nitidamente a esfera do interesse pblico da esfera do interesse privado.
1

o que se confirma no pronunciamento de Reinhard Bendix: In the field of government administration this term (racionalizao) refers to the substitution of learnable rules of procedures for the exercise of individual caprice (of the king or his representatives) and to substitution of a nation-wide government for the autonomy of small, decentralized government units with their adherence to local traditions. Modern administration is rational in contrast to administration under feudalism with is emphasis on tradition and its identification of office and incumbent. That is to say, the performance of given tasks within these modern forms of organization has become more uniform and predictable. (Cf. Reinhard Bendix, Bureaucracy: The Problem and its setting. American Sociological Review. Oct. 1947. Vol. 12 N. 5). Folkways, for instance, are patterns of behavior that have grow up to meat the needs of a natural society through the slow process of evolution described by Summer. Long usage and primary group sanction bring them the controlling power inherent in the mores. Their origin is often lost in the past and they are heavily weighted with emotion. They are the roots of stability in societal change, identifying the present with the past, and forecasting the future in terms of non-rational control and overwhelming motivation. The technicways are rational in origin, born in laboratories of science on technology and fostered by riging technique of organization. In their development, they keep up whit the pace of the mass-invention laboratory and the machine, outmoding the old rate of change in human behavior an breaking down its natural rhythm. While they lack emotional overtone of folkways, the non-rational element in their controlling power is no less marked. They thrive in the city and the industrial area where mass motivations of money, spead, novelty operate with less resistance from the old folk values (Alice Davis, Time and Technicways, in Social Forces. Vol. 19, Dec. 1940. N. 2.).

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Acertadamente, diz Leon Duguit, referindo-se ao Estado Patrimonial: Assim como o proprietrio tem um direito absoluto sobre sua coisa, assim o imprio real um direito absoluto. Assim como o proprietrio pode dispor de suas coisa total ou parcialmente, conceder direitos particulares sobre ela, desmembrar seu direito de propriedade, transmiti-la hereditariamente, assim o rei (diga-se, o mandante) pode alienar total ou parcialmente seu imperium, desmembr-lo, transmiti-lo aps a morte. Assim se forma a concepo do Estado Patrimonial.3 Na anlise weberiana, percebe-se claramente que a administrao pr-moderna , grosso modo, toda ela de carter patrimonial, de vez que no obedece a disposies objetivas, mas pessoa chamada pela tradio ou pelo soberano tradicionalmente determinado. Os mandatos de tal pessoal seriam legtimos de duas maneiras: a) em parte, pela fora da tradio que assinala inequivocamente o contedo dos ordenamentos, assim como a sua amplitude e sentido e cuja comoo por causa de uma transgresso dos limites tradicionais poderia ser perigosa para a prpria situao tradicional do imperante; b) em parte, por arbtrio livre do senhor ao qual a tradio demarca o mbito correspondente. Importa assinalar que numa administrao patrimonial, os servidores so recrutados independentemente de suas qualificaes para os cargos. So escolhidos entre os indivduos de qualquer modo vinculados ao mandante: os pertencentes s linhagens, escravos, domsticos, clientes, colonos, libertos; ou mediante relaes pessoais de confiana (favoritos livres de toda espcie), pacto de fidelidade com o mandante legitimado como tal (vassalos, funcionrios que entram livremente na relao de piedade). Quanto administrao racional ou burocrtica, apresenta as seguintes caractersticas tpico-ideais que se sumariam nos itens seguintes:4
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Cf. LON DUGUIT, Les Transformations du Droit Public. Lib. Armand Collin. Paris, 1913. Pgs. 5-6. Cf. GURREIRO RAMOS, A Sociologia de Max Weber, in Revista do Servio Pblico. Agosto e setembro de 1946. Ainda Gerth & Mills. From Max Weber: Essays in Sociology. Oxford University Press. New York. 1946.

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a) na administrao burocrtica configura-se o princpio de competncia ou de alada, pelo qual se delimitam as atribuies dos funcionrios e se constituem as instncias. Desaparece, assim, o mando arbitrrio. Todo ato que fere disposio estatuda pode ser passvel de reviso ou de anulao, desde que dele recorram os interessados; b) constitui-se uma hierarquia funcional e um sistema de tramitao, pelo qual as relaes de super-ordenao e de subordinao se organizam nitidamente. As decises da administrao distribuem-se conforme sua generalidade ou gravidade, pelas autoridades superiores ou inferiores; c) pea fundamental da administrao burocrtica o documento. A tcnica da documentao e do arquivo se desenvolve surgem os escreventes, os escriturrios, os arquivistas, os arquivologistas. Nenhum papel tem curso nas reparties se no se protocola. Nenhuma deciso tem, eficcia se no se publica em forma oficial. Toda repartio possui o seu expediente e toda autoridade despacha com a imediatamente superior; d) o cargo pblico considerado uma profisso. As normas e as tcnicas necessrias para o exerccio dos cargos so objetivas e constituem uma tecnologia especial e, com o fim de ensina-las, aparecem institutos, cursos de formao profissional; e) os servidores burocrticos apresentam as seguintes caractersticas: 1) so pessoalmente livres, emancipados de qualquer vnculo pessoal e submetidos unicamente aos deveres objetivos de seu cargo; 2) distribuem-se conforme uma rigorosa hierarquia administrativa, com competncias rigorosamente estabelecidas; 3) so designados ou nomeados, sobre a base da seleo livre, segundo a qualificao profissional apurada por meio de provas ou de ttulos que atestem sua qualificao; 4) ordinariamente tem direito a penso e recebem em moeda, salrios ou vencimentos fixos, graduados, primeiramente de acordo com a hierarquia, em seguida, segundo a responsabilidade do cargo e, em geral, segundo a representao (decoro estamental); 5) exercem o cargo como sua nica e principal profisso e tem diante de si uma carreira, ou perspectiva de melhorias e promoes por anos de exerccios ou por merecimento, ou por ambas as cousas, segundo o juzo dos superiores; 6) trabalham com completa separao dos meios administrativos e sem apropriao dos cargos; e

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7) esto submetidos a uma rigorosa disciplina ou vigilncia que ordinariamente se exprime num cdigo ou estatuto profissional. A superao da administrao patrimonial pelo desenvolvimento da administrao racional ocorre mais ou menos lentamente, conforme a composio social de capa pas. Esta superao firma-se, na Europa, como uma tendncia decisiva, a partir do sculo XIX. Com efeito, o que diversos estudos histricos demosntram. Otto Hintze mostrou, num ensaio penetrante5, que o moderno sistema de gabinete originou-se dos servios da casa do Rei. Segundo o historiador alemo, o Tesouro ou o Departamento de Finanas de vrios governos modernos tem sua raiz no criado real que se incumbia de coletar ou guardar o dinheiro do Rei. S a partir dos tempos modernos, informa ainda Hintze, que as finanas pblicas se separam das finanas particulares do Rei. O estudo de Ernest Baker, The Development of Public Services in Western Europe, 1660-1930, registra os mesmos fatos. At cerca de 1660, o Estado se identificava com a casa Real e a nobreza desfrutava da propriedade de certos cargos e das rendas destes provenientes. Referindose a esta situao, escreve Ernest Baker6: This confusion of the idea of the State with notions of Family, Property and general Society was generally characteristic of Europe about 1660 So long as it persists, it complicates and checks the development of a pure an specific administration of public services. The disengaging of the idea of the State, as a service rendering organization for the protection of rights and enforcement of duties, is the prior condition of such a development. There are two grat landmarks in the history of that disengaging. One is the institution of absolutism, as it was inaugurated by Louis XIV. The other is the proclamation of national sovereignty, as it was made in 1789. Both of these movements, opposed as they are, agree in
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Cf. OTTO HINTZE, Die Entstebung der modernen Staatsministerien, Historische Zeitschrift, (1907) (citado por Reinhard Bendix, trabalho mencionado em nota anterior). Citado por Reinhard Bendix, trabalho mencionado.

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postulating a conception of the State as something separate and sui generis. Conclui-se da que a administrao racional no surgiu, na civilizao ocidental, abruptamente. Tampouco, em nenhuma sociedade contempornea, ela se verifica em toda sua pureza. Na realidade o que existem atualmente so formas hbridas de administrao pblica, umas mais do que outras. que a administrao pblica racional est em emergncia, em toda parte. Ela se vai instalando nos Estados modernos atravs de uma lenta superao do patrimonialismo. o que explica a coexistncia de elementos burocrticos com elementos patrimoniais dentro de uma mesma sociedade. A Sua , talvez, o pas em que se encontra o estdio mais avanado da administrao burocrtica, vindo logo a seguir a Alemanha at a ascenso de Hitler, que representa, neste pas, um surto de dominao carismtica e, portanto, a interrupo do processo evolutivo da burocracia. Nos pases restantes, inclusive na Inglaterra, a racionalizao burocrtica est muito longe de ter atingido a sua forma pura, nos termos acima descritos7. Merece, aqui, uma referncia especial o estdio da racionalizao administrativa nos Estados Unidos, sobretudo pela sua repercusso em nosso pas. necessrio, porm, no confundir o desenvolvimento dos estudos tericos da racionalizao administrativa com a realidade administrativa. S em 1883, data em que criada a Civil Service Comission, instituise ali o sistema do mrito. Em 1885, um inqurito ordenado pelo
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Convm observar que o tipo-ideal de administrao, que Max Weber chama patrimonial, sofre distores, em alguns governos anteriores poca moderna. Durante a Idade Mdia, a Igreja desenvolveu certas tcnicas racionalizadas de administrao, como por exemplo, a das qualificaes objetivas para o exerccio dos cargos, tcnicas estas que passaram a ser adotadas por alguns governos. Carl J. Friedrich no hesita em dizer que, embora o sistema administrativo dos reis normandos e angevinos se tenha criado dentro de um sistema feudal, apresentava os elementos decisivos de uma administrao racionalizada moderna. So famosas as ordenaes do eleitor de Joaquim Frederico de que resultaram em Brandemburgo uma burocracia racionalizada (Teoria y Realidad de la organizacin constitucional democrtica. Fondo de Cultura Economica. Mxico. 1946). A racionalizao administrativa assume, entretanto, o carter genrico e universal, nos Estados Modernos, forados a adotar este novo estilo, no s em virtude da transformao da economia, como tambm da fragmentao do poder.

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Congresso apura que a maioria dos cargos pblicos eram ocupados por indivduos no portadores de qualificaes adequadas e, ainda, a existncia de tantos ladres nos servios pblicos que a honestidade era a exceo. Naturalmente, o referido inqurito revelava uma situao resultante da prtica secular da espoliao (To the victors belongs the spoil), prtica esta ainda no de todo desaparecida, naquele pas, no qual os dois partidos mais importantes esto constitudos conforme o critrio da patronagem. em 1907 que se organiza o primeiro centro de estudos de racionalizao administrativa que vai tornar-se, por assim dizer, o fermento das novas idias. Trata-se do Bureau of Municipal Research. Inicialmente, a preocupao dominante a da organizao administrativa dos municpios. Progressivamente as atenes vo dirigindo-se para a questo do reaparelhamento da organizao estadual e, por fim, do governo federal. Como bvio, embora o movimento recm-iniciado fosse uma espcie de reflexo, na esfera dos negcios pblicos, do entusiasmo que estavam suscitando nas empresas privadas as idias de Taylor e de seus seguidores, o problema fundamental que impressionava aqueles estudiosos da racionalizao administrativa era, principalmente, o da organizao do trabalho governamental, em duas grandes linhas. assim que so estudadas extensivamente as vrias formas de governo municipal existentes nos Estados Unidos. Graas a este esforo, aparece pela primeira vez, em 1911, o famoso plano do Conselho Administrador, proposto pela Junta Comercial de Lockport, em New York, e, posteriormente, aclamado pela National Municipal League dos Estados Unidos. A pea central deste plano de governo municipal um tcnico de administrao, o city-manager, sobre quem recai a responsabilidade de elaborar o oramento e de nomear e exonerar os diretores de departamentos e outros funcionrios administrativos, de acordo com os regulamentos do servio civil. Resumindo o trabalho de Bureau of Municipal Research, Schuyler Wallace, em sua obra, Federal Departmentalization, editada em 1941, diz que ele convergia sobre os temas seguintes8:
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Cf. SCHUYLER WALLACE, Federal Departmentalisation, New York. 1941. Pg. 15 (citado por Benedito Silva, Revista do Servio Pblico. Janeiro de 1943).

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1) a instituio de um bureau de oramento junto ao chefe do executivo e a transformao do oramento em plano de trabalho governamental, expresso em termos de receitas e despesas; 2) a adoo de um sistema administrativo integrado, convenientemente departamentalizado e coordenado sob chefia executiva; 3) a substituio do spoil system pelo merit system, na administrao de pessoal; 4) a adoo de um sistema de compras centralizadas, incumbido no apenas de adquirir, guardar e distribuir, mas ainda de padronizar o material permanente e de consumo, necessrio s reparties governamentais; 5) o estabelecimento, no legislativo, de meios de tratar o oramento como programa de trabalho, resumo e expresso numrica, em termos monetrios, de todas as polticas adotadas pelo governo relativamente s suas funes; 6) a criao de um sistema de estado-maior, especialmente adotado como rgo de planejamento e de consulta para o bureau de oramento e para o chefe do executivo; 7) um esquema de contabilidade e de controle, segundo o qual se registrassem, para o Executivo, e para o Legislativo, em snteses numricas as transaes do governo. Delineiam-se a temas fundamentais que ainda hoje esto na ordem do dia nos Estados Unidos. A partir de 1907, rpidos progressos realiza a racionalizao administrativa. Em Oregon, a People Power League, 1909, prope um plano de reorganizao dos servios do Estado, inspirado nestas idias. Em 1910, na esfera federal, surge a Presidents Comission on Economy and Efficiency e, em seguida, o Bureau of Budget em 1921 e a Procurement Division, em 1933. Todas estas medidas levam confirmao de que o primeiro problema que se apresentou aos reformadores das administraes americanas foi o funcionamento da chefia executiva,9 problema este que focalizado numa literatura abundante, em que se destacam W. F. Willoughby, L. D. White, Harvey Walker, John Pfiffner, A. E. Buck e Lewis Meriam.
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Cf. CELSO FURTARDO, Teoria do Departamento de Administrao Geral. Revista do Servio Pblico. Maio de 1946.

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O primeiro destes autores, W. F. Willoughby quem expe a questo em termos mais lcidos. Segundo ele, as atividades governamentais incluemse em dois tipos essenciais: atividades-meios, institucionais, gerais ou domsticas (housekeeping activities) e atividades fins, especficas ou funcionais. Estas dizem respeito aos objetivos colimados pelo Estado, tais como sade, educao, transporte, etc. e devem ser tratadas mediante o emprego de tcnicas especficas adequadas. As primeiras referem-se aos meios de que o Estado lana mo para atingir os seus propsitos e tais so, entre outras, a contabilidade, a documentao, a compra do material, a seleo de pessoal. evidente que os problemas tcnicos concernentes s atividades meios so semelhantes, quer apaream num rgo de educao ou de sade. Por este motivo, Willoughby preconiza a integrao das atividades institucionais num servio de administrao geral, anlogo quele do Tesouro no governo britnico, o qual no tendo nenhuma funo de administrao especfica, servir como um rgo atravs do qual o chefe executivo possa efetivamente desempenhar suas atribuies de general manager (gerente geral)10. A teoria do departamento de administrao geral, de que a de Willoughby uma variante, representa, sem dvida, a mais decisiva forma que, nos Estados Unidos, assumiu a questo da racionalizao administrativa. No Brasil a racionalizao da administrao pblica defronta-se com srios obstculos, principalmente oriundos de sua formao histrica. Pode afirmar-se, mesmo, que a sua introduo em nossa mquina estatal corre por conta daquele idealismo utpico, caracterstico das elites brasileiras e extensamente estudado por Oliveira Viana11. A verdade qua a estrutura social e poltica do pas ainda no apresenta at hoje condies capazes de tornar plenamente efetivo, em nossa administrao pbliva, um sistema racionalizado. Uma tradio de patrimonialismo permeia o Estado brasileiro que, at recentemente, se pulverizava socialmente em organismos monocelulares, clans parentais12, clans feudais, clans eleitorais, de puro di10 11 12

Cf. CELSO FURTADO. Op. cit. Para o estudo deste tema, vide: Oliveira Viana, O Idealismo poltico no Imprio e na Repblica. Rio. 1922 O Idealismo da Constituio, 2. ed. Rio. 1939. Vide OLIVEIRA VIANA, Instituies Polticas Brasileiras, 2 vols, Livraria Jos Olimpio Editora. 1949.

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reito privado e carecia daquela unidade orgnica e compacta a que se referia von Stein. Este privatismo13, at momento crnico na vida brasileira, exprime-se, na esfera poltica, sob forma de partidos de patronagem, isto , partidos sem unidade ideolgico, meras agremiaes ou ajuntamentos de gnglios eleitorais de intuitos mais ou menos predatrios que, interferindo que, interferindo na administrao pblica, retardam, quando no paralisam de todo, o processo de sua burocratizao14. o que confirma Fernando de Azevedo15: A transferncia deste esprito patriarcal para a sociedade poltica ou, por outras palavras, a formao de um poder poltico, intimamente ligado patrimonialidade, concorreu, pela transposio do conceito de fidelidade pessoal, para fazer da classe dominante um ponto de convergncia e de apoio da sociedade colonial, trabalhada constantemente por foras de dissoluo. Entre as tendncias que se chocam, na colnia, e tomaram corpo com o desenvolvimento da burguesia urbana, se algumas atuavam no sentido da descentralizao e, portanto, da desintegrao, como o particularismo e a adeso s entidades locais e regionais, outras operavam em direo oposta;contribuindo para aglutinar os indivduos e os grupos entre si e reduzir a influncia dos fatores que ameaavam a estabilidade social e de que resultaram o amortecimento do instinto gregrio e a
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Para o estudo deste tema, vide: Nestor Duarte, A Ordem Privada e a Organizao Poltica Nacional. Comp. Editora Nacional. So Paulo, 1939. Tambm: Gilberto Freye, Casa Grande e Senzala. Maia e Schmict. Ltda. Rio. 1933. Os tornaram-se, dessa forma, verdadeiras agncias de colocaes, manobrando o funcionalismo como uma clientela eleitoral e pondo a administrao a servio dessa poltica de um personalismo agressivo e de horizontes domsticos. O afilhadismo ou nepotismo expresses que a princpio designavam a transmisso de pais e filhos ou de tios a sobrinhos, de cargos pblicos ou eletivos, e passara a exprimir depois, de um modo geral, a proteo dispensada a indivduos no interesse pessoal e partidrio, contribuam para a estratificao dos corpos polticos e tendiam a fazer da administrao e da poltica uma espcie de classes fechadas, maneira de castas, dominadas por um grupo de monopolizadores polticos que controlavam a mquina do Estado. As derrubadas que maavam, nas lutas mais violentas, a vitria de um partido organizado ou de um agrupamento transitrio sobre o outro, constituam o processo de expurgo do funcionalismo e das cmaras polticas dos principais elementos ligados s faces vencidas. Mas essa estrutura poltica, rigidamente organizada, montada sobre a burocracia de profisso e apoiada pelo fazendeiro e pelo doutor (bacharel e mdico) ligava-se, pelo pice, aos poderes pblicos absorvidos por homens de partido e articulava-se, pela base, s camadas populares: o capanga e o cabo eleitoral so tipos caractersticos que se formaram, como conseqncia do alargamento dos corpos polticos e pela necessidade de ligar os chefes, por intermedirios ao corpo eleitoral, inconsistente e flutuante (Fernando de Azevedo, A cultura Brasileira. I. B. G. E. 1943. Pgs. 99). Cf. Fernando de Azevedo, Canaviais e Engenhos na Vida Poltica do Brasil. Instituto do Acar e do lcool. Rio. 1948. Pgs. 10-112.

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ausncia do sentimento de unio em grandes grupos. Ao esprito fragmentrio, proveniente das tendncias particularistas, to fortemente favorecidas pelo isolamento e pelas distncias, e com que se desenvolveu desmedidamente o poderio dos senhores locais, se contrapunha, como o elemento de coeso e estabilidade, a organizao fortemente hierarquizada da classe dominante sob o modelo e por influncias do patriarcalismo. Para robustecer a hierarquia social e poltica que viria erguer-se sobre a base econmica da aristocracia da terra em que tudo impede a circulao vertical, fora de seus quadros, no concorreu menos do que a hierarquia patriarcal o sistema burocrtico portugus, fundado no princpio de fidelidade pessoal ao rei e, tambm ele, estreitamente organizado em quadros hierrquicos e disciplinado at mincia por normas, regimentos e leis. O burocrata que integrou o mecanismo colonizador, educado no sentimento de obedincia pessoa do soberano, de que se considera um servidor; apegados a normas e regulamentos, com seu esprito, esquemtico e rotineiro, um desses elementos fundamentalmente conservadores a que em grande parte se deve a pureza com que se perpetuou, na colnia, a legislao da metrpole. As atividades, estereotipadas ou reprodutoras, dessas duas organizaes que se desenvolvem paralelamente, - as do sistema burocrtico que se transplantou para a colnia e as da famlia patriarcal que floresceu, com seus engenhos, - desdobram-se, dentro de estilos tradicionais, em zonas da vida social, inteiramente diversas, - econmicas e administrativas, - mas cujas foras so igualmente disciplinadoras. Elas se ordenam de forma a preservar os grupos e os indivduos, com a solidez de suas estruturas, dos perigos decorrentes de situaes novas que, no se encaixando no campo de suas previses habituais, so denominadas, com o expurgo sistemtico dos rebeldes, pela fora de um dos dois poderes ou dos dois, conjugados: o rei e do senhor do engenho. Quando, com a independncia, surgiu a poltica nitidamente diferenciada da administrao, a classe econmica e socialmente dominante transformou-se de certo, por um instinto de reao e defesa, mas fiel ao seu esprito aristocrtico, e se apropriou, pondo-a ento a sue servio, da mquina burocrtica, montada pelos portugueses, e renovada nos seus quadros, sem perder os caracteres originais. luz de um critrio sociolgico, portanto, a administrao pblica, no Brasil, ainda no ultrapassou o estdio patrimonialista. verdade que,

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atualmente, o pas dispe de um mecanismo burocrtico relativamente moderno. Uma conscincia da funo pblica mais aguda do que em outros perodos se registra em nossos dias. Contudo, a presso do privatismo e do familiarismo16 deforma e perturba essa estrutura governamental, dando assim, nossa administrao pblica o carter a que Sapir chamaria esprio, visto nela no se integram perfeitamente os processos burocrticos. Registra-se, pois, dentro de nossa administrao pblica, um verdadeiro conflito cultural, como j lembrara o socilogo brasileiro Emilio Willems, que o descreve nas seguintes palavras17: Duas concepes antagnicas entraram em choque: a burocracia moderna concebida sobretudo como processo de despersonalizao e o personalismo como sobrevivncia do patrimonialismo. Esse conflito que se faz sentir em toda nossa vida poltico-administrativa uma fonte constante de desequilbrio social e desintegrao cultural.
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Toda estrutura administrativa, a pouco e pouco elaborada durante o Imprio, e depois j no regime republicano, comportavam elementos estritamente vinculados ao velho sistema domstico, ainda em pleno vio no s nas cidades com nas fazendas. No era fcil aos detentores de posies pblicas de responsabilidade, formados por tal ambiente, compreenderam a distino fundamental entre os domnios do privado e do oficial. Assim, eles se caracterizam justamente pelo que separa o funcionrio patrimonial do puro burocrata, conforme a definio de Max Weber. Para o funcionrio patrimonial, a prpria gesto poltica apresenta-se como assunto de seu interesse particular; as funes, os empregos e os benefcios que deles aufere, relacionam-se a direitos pessoais do funcionrio e no a interesses objetivos, como sucede no verdadeiro Estado burocrtico em que prevalecem a especializao das funes e o esforo para assegurarem garantias jurdicas aos cidados. A escolha dos homens que iro exercer as funes pblicas faz-se de acordo com a confiana pessoal que meream os candidatos, e muito menos de acordo com as suas capacidades prprias. Falta a tudo a ordenao impessoal que caracteriza a vida no Estado burocrtico. O funcionalismo patrimonial pode, com a progressiva diviso das funes e com a racionalizao, adquirir traos burocrticos. Mas em sua essncia ele tanto mais diferente do burocrtico, quanto mais caracterizados estejam os dois tipos. No Brasil, pode dizer-se que excepcionalmente tivemos um sistema administrativo e um corpo de funcionrios puramente dedicados a interesses objetivos e fundados nesses interesses. (Sergio Buarque de Holanda, Razes do Brasil. Livraria Jos Olimpio Editora. Rio. 1936. Pg. 100). Ainda de Fernando de Azevedo, (op. cit. Pgs. 121-122): Tanto no mecanismo da vida partidria como no sistema burocrtico, tudo, de fato, parece girar em torno de pessoas, de chefes de grupo, de partido ou de governo que se aproveitam de sua autoridade ou de seu prestgio, na poltica e na administrao, para colocar a parentela, recompensar amigos por servios pessoais e mesmo promover represlias contra adversrios. A criao de cargos para os mais achegados; a distribuio de cartrios, como prebendas, a familiares, a partidrios e apaniguados; as transferncias e remoes, utilizadas como meios de favorecer e de dominar; as disposies arbitrrias, de carter pessoal, na cauda de oramentos ou no texto de reformas e os testamentos polticos, to famosos como as derrubadas, so outras tantas manifestaes desse personalismo que tem suas razes em nossa formao patriarcal e a que a pobreza das populaes, o baixo nvel de vida e a falta de educao poltica s concorreram para estimular, intensificando a produo desse fenmeno oligrquico, que o nepotismo, e desenvolvimento, custa dos servios pblicos, o mais desabusado parasitismo burocrtico. Dir-se-ia que, por fora dessa concepo personalista, to profundamente radicada no patrimonialismo e que foi, no setor poltico, a racionalizao do comportamento paternal, ainda se mantm obscura, pouco perceptvel, a distino entre pblico e privado...

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As foras sociais que agem como mveis dessas tendncias antagnicas modificam-se lentamente, de modo que seria utpica a esperana num fim prximo desse embate. A burocratizao moderna est recebendo fortes impulsos da organizao burocrtica das grandes empresas industriais e bancrias. A vitria das novas formas burocrticas depende, sobretudo, da urbanizao e industrializao do Brasil. As tendncias patrimonialistas tm seus pontos de apoio nas inmeras estruturas polticas locais e regionais que, durante mais de cem anos, serviram como canais de ascenso poltico-administrativa. Utpica tambm seria a esperana na vitria integral de uma ou outra forma. Em parte alguma do mundo ocidental o patrimonialismo resistiu mudana, mas tambm em parte nenhuma a burocracia significa despersonalizao completa. Este conflito cultural retrata-se com maior agudeza naquilo que se poder chamar do processo do D. A. S. P., rgo pioneiro da implantao da racionalizao na administrao federal, cujo destino vem sendo ultimamente discutido pela opinio pblica e assume as propores de um caso de conscincia do pas. Tal processo no deixa de ser dramtico, pois muitos o sentem no esprito e na carne. Um dever de preciso nos fora a mencionar algumas datas e episdios importantes, referentes racionalizao administrativa no Brasil. Em nosso pas, ela, ao contrrio do que se verificou nos Estados Unidos, se inicia na esfera federal e da se estende aos Estados e Municpios. Influenciados pela experincia americana, os reformadores tentam, a partir, de 1931, ensaiar na administrao federal, tipos de organizao das atividades institucionais semelhantes aos que existiam nos Estados Unidos. Em 1931, criada a Comisso Central de Compras com a atribuio de centralizar a aquisio de material para os servios pblicos. Em 1935, cria-se a Comisso Permanente de Padronizao cujo objetivo fundamental era a padronizao do material a ser usado no servio pblico federal.
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Cf. EMLIO WILLEMS, Burocracia e Patrimonialismo. Departamento do Servio Pblico So Paulo. 1945. Pg. 8.

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A lei 284, de 28 de outubro de 1936 instituiu o Conselho Federal do Servio Pblico Civil, subordinado diretamente ao Presidente da Repblica, e as Comisses de Eficincia nos Ministrios, articuladas com o Conselho. O Conselho, por sua finalidade, era um verdadeiro rgo central de administrao geral, como se conclui dos itens seguintes do art. 10 da lei 284: Art. 10. Compete ao C. F. S. P. C. : a) estudar a organizao dos servios pblicos e propor ao Governo qualquer medida necessria ao seu aperfeioamento; b) promover a realizao dos concursos de provas, de ttulos, ou de provas e ttulos, para provimento de cargos administrativos e tcnicos, organizar os programas dos referidos concursos e nomear as respectivas bancas examinadoras, excludos sempre os do magistrio, regulados nas leis especiais, bem como fixar as normas gerais que devero ser observadas nas respectivas inscries; c) homologar e dar publicidade classificao dos candidatos que se tiverem submetido a concurso; d) opinar, quando ouvido, sobre os recursos interpostos contra classificaes nos concursos realizados; e) expedir certificados aos concorrentes classificados em concurso; f) opinar nos processos de destituio de funcionrios de seus cargos por falta de idoneidade moral para exerc-los; g) opinar em consultas dos Ministros de Estado, sobre procedncia ou improcedncia das reclamaes apresentadas pelos funcionrios; h) opinar sobre propostas, normas e planos de racionalizao de servios pblicos, elaborados pelas Comisses de Eficincia; i) elaborar o respectivo regimento interno; j) apresentar, anualmente, ao Presidente da Repblica, um relatrio de seus trabalhos, contendo dados pormenorizados sobre o funcionalismo e os servios pblicos federais; k) determinar quais os cargos pblicos que, alm de outras exigncias legais ou regulamentares, somente possam ser exercidos pelos portadores de certificado de concluso de curso secundrio e diplomas cientficos de bacharel, mdico, engenheiro, perito-contador, atuario e outros, expedidos por institutos oficiais ou fiscalizados pelo Governo Federal;

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l) propor ao Presidente da Repblica, para ser levado ao conhecimento do Poder Legslativo, a reduo dos quadros de funcionrios pblicos, colocando-os dentro das estritas necessidades do servio. Quanto s Comisses de Eficincia, dispunha a Lei 284: Art. 17. Compete Comisso de Eficincia, de cada Ministrio: a) estudar permanentemente a organizao dos servios afetos ao respectivo Ministrio, a fim de identificar as causas que lhes diminuem o rendimento; b) propor ao Ministro as modificaes que julgar necessrias racionalizao progressiva dos servios; c) propor as alteraes que julgar convenientes na lotao ou relotao do pessoal das reparties, servios ou estabelecimentos; d) propor as promoes e transferncias dos funcionrios na forma desta lei; e) habilitar o C. F. S. P. C. a apreciar a procedncia ou improcedncia das reclamaes apresentadas pelos funcionrios. A Lei n. 284 representa uma verdadeira transplantao no Brasil das idias sobre racionalizao administrativa, em voga nos Estados Unidos, especialmente na forma por que so expostas por Willoughby. Muitas reservas poderiam ser feitas a esta maneira de introduzir tais idias em nossa administrao federal. porm incontestvel que, de qualquer modo, a Lei 284 assinala um avano na histria administrativa do Brasil. A existncia do Conselho Federal do Servio Pblico Civil no foi longa. A Carta Constitucional de 10 de novembro de 1937 determina a instituio de um departamento administrativo junto Presidncia da Repblica, cuja competncia absorvia as do Conselho. O novo rgo, o Departamento Administrativo do Servio Pblico, foi organizado pelo Decreto-lei 579, de 30 de julho de 1938, em seu art. 2, que lhe deu as seguintes atribuies: a) o estudo pormenorizado das reparties, departamentos e estabelecimentos pblicos, com fim determinar do ponto de vista da economia e eficincia, as modificaes a serem feitas na organizao

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b)

c) d)

e) f) g) h) i)

dos servios pblicos, sua distribuio e agrupamento, dotaes oramentrias, condies e processos de trabalho, relaes de um com outros e com o pblico; organizar anualmente, de acordo com as instrues do Presidente da Repblica, a proposta oramentria a ser enviada por este Cmara dos Deputados; fiscalizar, por delegao do Presidente da Repblica e na conformidade das suas instrues, a execuo oramentria; selecionar os candidatos aos cargos pblicos federais, excetuados os das Secretarias da Cmara dos Deputados e do Conselho Federal e os do magistrio e da magistratura; promover a readaptao e o aperfeioamento dos funcionrios civis da Unio; estudar e fixar os padres e especificaes do material para uso nos servios pblicos; auxiliar o Presidente da Repblica no exame dos projetos de lei submetidos a sano; inspecionar os servios pblicos; apresentar anualmente ao Presidente da Repblica, relatrio pormenorizado dos trabalhos realizados e em andamento.

Em outras disposies, o Decreto-lei 579 extinguiu o Conselho Federal do Servio Pblico Civil e criou, em substituio s antigas, outras Comisses de Eficincia, tecnicamente subordinadas ao D. A. S. P. e administrativamente aos Ministros de Estado. Outra medida de grande importncia a que se consubstanciou no Decreto-lei 204, de 25 de janeiro de 1938 e que criou rgos ministeriais de administrao pessoal. Cumpre assinalar, tambm, a criao, em 1940, do Departamento Federal de Compras, em substituio antiga Comisso Central de Compras. A avaliao desta reforma administrativa tema dos mais fascinantes e complexos. No , porm, esta a oportunidade para tal cometimento. O que resta a dizer que, no presente momento, a evoluo da racionalizao administrativa, no Brasil, est perturbada pela reorganizao poltica que se vem operando desde 29 de outubro de 1945.

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CAPTULO XII A SOCIOLOGIA DO TRABALHO


A grande falcia cultural do industrialismo, tal como se desenvolveu at os nossos dias, est em que, sujeitando as mquinas aos nossos usos, ele no soube impedir a sujeio da maioria da humanidade s suas mquinas. A telefonista que empresta a sua capacidade, durante a maior parte de cada dia de sua existncia, manipulao da rotina tcnica que tem afinal alto valor de eficincia, mas que no corresponde a nenhuma necessidade espiritual dela mesmo, representa um espantoso sacrifcio civilizao. Como soluo do problema da cultura, malogrou ela malogro tanto mais lamentvel quanto maiores so os seus dotes naturais. O que sucede com a telefonista, de receiar-se suceda com a grande maioria de ns outros, escravos atiadores de fogueiras, que queimam para demnios que desejaramos destruir, no nos aparecessem eles sob o disfarce de benfeitores. Edward Sapir. Cultura Autntica e Espria, in Estudos de Organizao Social. Reunidos por Donald Peirson, Livraria Martins Editora S. A.. 1949.. pg. 292. So Paulo. The growing complication of modern mechanized civilization, specially in the more highly industrialized countries, demands a correspondingly higher degree of organization. This organization cannot be limited to the material elements in the complex, it extends inevitably to society itself and through society to the ethical and psychological life of the individual. Hence the historical trends has been from politics to sociology. Problems which were a century ago regarded as purely political became economic in the second half of the minsteenth century and during the present century have become sociological and psychological ones. Christopher Dawson. Beyond Politics. Sheed & Ward. New York. 1939. Pg. 35.

A organizao racional do trabalho desenvolveu-se, at bem pouco tempo, sem dar-se conta do impacto da sociedade sobre a situao ergolgica. Constitui-se, assim, como uma tecnologia relatively innocent

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of spatio-temporal cautions1, ou inocente da matriz social das relaes humanas no trabalho. Os sistemas dos Taylor, dos Ford, dos Gannt, dos Emerson, e outros da mesma tendncia, edificaram-se em pressupostos que atualmente se revelaram falsos. Orientados por um critrio excessivamente econmico e tcnico de eficincia2, preconizavam uma organizao do trabalho formalizada, dentro da qual o ser humano dificilmente conseguia um perfeito ajustamento. De um lado, tais sistemas negligenciavam que uma empresa no existia abstratamente e, sim, num contexto social; de outro lado, implicavam uma noo falsa da motivao psicolgica. Afigurava-se aos criadores de tais sistemas que uma empresa estava organizada, desde que fossem atendidos, entre outros, os requisitos da economicidade da matria prima, das rotinas mais ou menos retas, da diviso orgnica do trabalho, da simplificao dos tempos e dos movimentos, das boas condies ambientais referentes a iluminao, rudos, aerao, etc.; em suma, desde que fossem atendidos os requisitos do que se poderia chamar tcnica da organizao. O ser humano, dentro desta ordem abstrata, era uma pea. Esperava o tcnico que ele, ao transpor o porto da empresa, se descomprometesse com o seu passado de experincias3 e executasse a tarefa pr-delimitada que lhe incumbia.
1 2

Cf. ALVIN W. GOULDNER, Discusso do artigo de Wilbert E. Moore, Industrial Sociology: Status and Prospects. American Sociological Review. Aug. 1948. A great deal of attention has been given to the economic function of industrial organization. Scientific controls have been introduced to further the economic purposes of the concern and of the individuals within it. Much of this advance has gone on in the name of efficiency of rationalization. Nothing comparable to this advance has gone on in the development of skills and techniques for securing co-operation, that is, forgetting individuals and groups of individuals working together effectively and with satisfaction to themselves. The alight advances which have been made in this area have been overshadowed by the new and powerful technological developments of modern industry. (Roethlisberger e Dickson, Management and the Worker. Harvard University Press, Cambridge, Massachusetts. 1943. Pginas 552-553). 3 In the human organization we find a number of individuals working together toward a common end: the collective purpose of the total organization. Each of these individuals, however, is bringing to the work situation a different background of personal and social experiences. Not two individuals are making exactly the same demands of their job. The demands a particular employee makes depend not only upon his physical needs but upon his social needs as well. These social needs and the sentiments associated with them vary with his early personal history and social conditioning as well as with the needs and sentiments of people closely associated with him both inside and outside of work. (Roethlisberger e Dickson, op. cit. pgs. 553-554).

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E para assegurar a sua previso, no se descuidava o tcnico de associar produo do operrio um incentivo econmico em forma de compensao pecuniria. Surgiram tambm uma psicologia e uma fisiologia do trabalho, ambas preocupadas em corrigir certo unilateralismo da recm-formada tecnologia do trabalho, mas, grosso modo, igualmente inadvertidas dos fundamentos sociais da situao ergolgica. Uma abundante literatura cientfica est surgindo atualmente com o objetivo de complementar as lacunas da organizao racional do trabalho e toda ela se encaminha na direo sociolgica. A racionalizao, luz dos novos estudos, revelou-se como uma espcie de camisa de fora com a qual se submetia o operrio e, por isto, como um fator de desequilbrio social. O defeito fundamental daquela racionalizao foi ter procurado quase exclusivamente submeter o trabalhador a normas mecnicas rgidas, a processos que no admitiam seno uma forma, a melhor, a que rende mais4. Ela estudava o tempo objetivo, os processos objetivos do movimento, as ferramentas e as mquinas prprias a realizar uma tarefa pr-determinada que submetia o homem exigncia da matria e da tcnica5. O resultado disto foi que a racionalizao atendeu ao objetivo da empresa, que o lucro6, mas por outro lado, conduziu a um pesado gasto social, concretizado na desintegrao psquica de grande parte das classes
4 5

Andr Fourgeaud. Op. cit. Pg. 59. Idem. Pg. 59. 6 Sobre a nova concepo da direo escrevem Rethlisberger e Dickson: The function of management, stated in its most general terms, can be described as that of maintaining the social system of the industrial plant in a state of equilibrium such that the purposes of the enterprise are realized. To achieve this objective, management has two major functions: 1) the function of securing the common economic purpose of the total enterprise; and 2) the function of maintaining the equilibrium of the social organization so that individuals through contributing their services to this common purpose obtain personal satisfactions that makes them willing to cooperate. These functions are interrelated and interdependent. Failure to achieve the first objective will in time make co-operation of any kind unnecessary. Failure to obtain satisfaction from co-operation will prevent in time the affective achievement of the common economic purpose of the organization. If the enterprise is to survive, the affective performance of these two functions is necessary. This is the major problem of management.

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industriosas, como diria Veblen, desintegrao que se exprime sob a forma do que se poderia chamar, com Dewey, psicose ocupacional7. Vieram mostrar os recentes estudos sociolgicos que a empresa no uma entidade cindida do complexo social, ela est permeada, dinamizada por foras sociais provenientes do meio em que se encontra. Os seres humanos que se encontraram na empresa so os veculos que transportam para dentro dela um sem-nmero de foras que a racionalizao negligencia e que, nem por isto, deixa de participar decisivamente da situao ergolgica. Toda empresa, seja pblica ou particular, implica8: a) uma base social e ideolgica resultante de comportamentos de diversas pessoas, no susceptvel de ser obliterada pelas posies formais das ditas pessoas na hierarquia administrativa; b) a comparao institucional em que a organizao deve funcionar e seu efeito sobre a psicologia dos atos ergolgicos; c) o contexto histrico e psicolgico dentro do qual as pessoas que no participam da organizao vm s atividades desta. Estes trs elementos interdependentes da empresa constituem o seu substrato social. O absentesmo, a simulao de trabalho, o turnover, as diminuies de rendimento, as quebras de moral, a murmurao e outros fenmenos so ordinariamente as formas sob as quais aqueles elementos irrompem dentro da empresa. Eles formam o que o tcnico de organizao, sociologicamente despreparado ou inadvertido, poderia chamar fatores irracionais ou inexplicveis. Irracionais 9 e inexplicveis porque no estavam na sua previso limitada.
7

As a result of their day routines, people develop special preferences, antipathies, discriminations and emphasis. (The term psychosis is used by Dewey to denote a pronounced character of the mind). These psychoses develop through demands upon the individual by particular organization of his occupational role. (Robert K. Merton, Bureaucratic Structure and Personality, Social Forces, Vol. 18. May, 1940. N. Y. Pg. 562. Cf. Reinhard Bendix, Bureaucracy: The Problem am its Setting. American Socioloical Review. Oct. 1947. Vol. 12. N. 5 Pg. 494. Para uma concepo funcional da realidade, vide Karl Mannheim: Libertad y Planificacon Social Fondo de Cultura Econmica. Mxico. 1942.

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por fora das influncias do substrato social da empresa que a sua organizao, embora tecnicamente perfeita, pode deixar de dar os resultados planejados, ou quando imposta, transformar-se numa arregimentao ditatorial. Uma das idias centrais da nova sociologia do trabalho que a empresa, seja de que categoria for, constitue um sistema social que deve ser estudado como tal, por mtodos os mais precisos e os mais adaptados: sistema complexo em que se comprova que as motivaes individuais (ambio, temperamento, carter, interesse econmico) no tudo. Os dirigentes escreve Georges Friedmann10 - tentaram atravs de medidas sistemticas, obras sociais, planos de seguro, recreao, bibliotecas, clubes (e at de distribuio de plulas vitamindas!) melhorar o clima psicolgico e o rendimento da coletividade que eles dirigem: obtiveram resultados, algumas vezes, mas parciais, e, no conjunto, decepcionantes, porque o n do problema no est nesta renovao do paternalismo, mas nas interrelaes dos indivduos pertencentes a um mesmo sistema social, a empresa. Uma ilustrao prtica destas idias , sem dvida, oportuna para torna-las mais perceptveis. O estudo de William F. Whyte. sobre os restaurantes americanos, When workers and customers meet11, particularmente utilizvel para este fim. Este estudo pe mostra uma srie de fatores da situao ergolgica ordinariamente no considerados pelos tcnicos de organizao. Whyte examina o comportamento das empregadas de restaurantes, utilizando material autobiogrfico. Um dos tipos patolgicos registrados por Whyte, nos restaurantes, a empregada que chora (crying waitress). Certas servidoras, esgotadas pela tenso permanente no restaurante, deixam o salo dos fregueses e vo carpir a sua crise no aposento dos empregados. A explicao de fatos como este no dada apenas pela psicologia individual. Por exemplo, parece haver menos casos
10

11

Cf. GEORGES FRIEDMANN, Industrie et Socit aux Estats-Unis. Annales (conomies Socit Civilisations) Avril-Juin. 1948. Pg. 161. In WILLIAM F. WHYTE (editor) Industry and Society. McGraw-Hill Book Co. Inc. New York and London, 1946.

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de depresso nos restaurantes populares. A as serventes podem retrucar aos fregueses quando estes se permitem inconvenincias. Num restaurante de classe mdia, porm, j se exige um maior estoicismo das empregadas, que devem suportar caladas as impertinncias da freguesia. A origem social da empregada tambm um importante fator de sua integrao no trabalho. A maioria das crying waitress compem-se de mulheres que, por motivos diversos, divrcio, runa da famlia, descem socialmente e se empregam naqueles estabelecimentos. Um outro aspecto do trabalho em restaurantes que merece ser ressaltado o impacto do desejo de correspondncia (W. I. Thomas). A atitude do cliente sovina e grosseiro (Stiff) , muitas vezes, sentida mais afetivamente do que economicamente. Uma das pesquisas de Whyte diz-lhe, quando ele lhe pergunta como se sentia em face de um fregus stiff: You think of all the work youve done and how youve tried to please those people, and it hurts when they dont leave anything for you. You think, so thats what they really think of me Its like an insult12. Whyte termina o seu estudo verberando certa psicologia da venda e comrcio que tem feito a reputao e a fortuna de muita gente nos Estados Unidos. Certos empresrios contratam psiclogos deste tipo, a fim de, por meio de conferncias, instruir os seus empregados. Estes peritos so dos tais que aconselham as empregadas a terem sempre um sorriso para o fregus, como se fosse possvel encomendar um sorriso. Uma jovem pode fazer um sorriso diz Gerorges Friedmann, comentando o trabalho de Whyte colocando baton nos lbios, mas nunca o manter atravs das tenses de um dia de trabalho, entre a azfama do restaurante, o vozerio e o fumo da cozinha. A pesquisa de Whyte demonstra que os servidores s se tornam efetivamente afveis quando encontram satisfao no trabalho. Por conseguinte, a concluso prtica daquela pesquisa seria, nas palavras de Friedmann13, non de recommander sottement aux serveuses de
12

W. F. Whyte. Op. cit. Pg. 129.

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sourire, mais aprs une analyse attentive de leurs conditions de travail et de leur intgration sociale, aprs des amliorations reflchies et substancielles, de les amener tre plus satisfaites de leur mtier, leur donnant ainsi envie de sourire. A pesquisa de Whyte integra-se na seqncia de contribuies recentes que esto formando a sociologia do trabalho, principalmente graas operosidade de um grupo de cientistas sociais da Universidade de Harvard (Elto Mayo, F. J. Roethlisberger, W. L. Warner e outros) e da Universidade de Chicago (Burleigh B. Gardiner, Everett C. Hughes, Frederick H. Harbison, Allison Davis e outros). Uma das mais famosas destas contribuies o inqurito Hawthorne, sobre relaes industriais, realizado na oficinas Hawthorne (Hawthorne Works) da WesternEletric Co., num perodo de cerca de onze anos (de 1927 a 1939). Exposies parciais deste inqurito foram feitas por Elton Mayo, T. N. Whitehead, M. L. Putnam e G. A. Pennock. Roethlisberger e Dickson elaboraram, em Management and the Worker, uma exposio global do inqurito. Esta obra , ao mesmo tempo, um estudo experimental e uma tentativa de formulao de uma teoria sociolgica da organizao do trabalho. Como no possvel expor em detalhe esta pesquisa bastante conhecida, seja-nos permitido destacar da mesma apenas as observaes referentes fadiga e ao rendimento do trabalho. Durante mais de cinco anos, os pesquisadores observaram o comportamento ergolgico de cinco operrias, as quais foram instaladas num aposento especial, o test room. importante ressaltar que as operias consentiram em ser objeto da pesquisa, tendo assumido uma atitude de cooperao. Dou aqui a palavra a Georges Friedmann que, no trecho a seguir14, faz uma sntese feliz e insupervel deste experimento:

13

G. FRIEDMANN. Op. cit. Pg. 153. Escreve Whyte: The supervision who looks upon nervous tensions as the inevitable products of human nature, as problems in the technical organization of work, or as problems in salesman-ship will never be able to cope with the situation in a constructive manner. On the other hand, the supervision who looks upon restaurant or factory as an organization of human relations, as a system of personal communication, will be able to make the necessary adjustments in order to minimize the frustrations and add to the satisfactions of work in industry. (op. cit. Pgs. 146-147). 14 GEOGES FRIEDMANN, Problmes... Pgs. 289-291

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Lexamen attentif des variations de rendement montre que celuici saccrot lentement pendant une priode de trois anns puis se ateabilise un niveau eleve. Durant ce laps de temps, il y a des vagues dirrgularit, des chutes dont certaines ne durent que quelquer minutes et dautres se prolongent durant des mois: aucune dlles nest lie des modifications de lenvironnement physique, comme par exemple celles de la temperature. Par contre, elles correspondent nettement des modifications psychologiques: sentiments des jeunes femmes lgard lune de lautre, ou lgard de leurs surveillants ou de leur equipe, prise globalement. Dautre part, lorsque les enquteurs provoquent des changements exprimentaux dans lenvironnement physique, laugmentation de rendement nen est pas affecte: elle demeure stable, quelle que soit la nature des modifications introduites dans les conditions de travail, y compris celle des stimulants financiers. En particulier, observation cruciale, en supprimant les avanges conseintis lquipe du test-room (pauses, collation, dure du travail) et en revenant aux conditions initiales, on ne modfie ps sensiblement les courbes de rendement ni les dispositions psychologiques arnliores. Por contre, une exprience du mme genre dans latelier ordinaire de production conduisait une chute de rendement et du mcontentement. Les ouvrires du test-room manifestant elles-mmes une certaine perplexit devant laugmentation de leur enqu teurs, elles suggrent quil sagit en elles dun changement dont elles ne peuvent bien prciser la nature, quelque chose comme une libration de contraintes ou dinterventions qui les gnent dans latelier odinaire, hors du testroom. Cependant, on constate en mme temps une amelioration marquee dans lattitude mentale de ces jeunes filles lgard de leur travail et de lenvironnement du travail.
13

14

G. FRIEDMANN. Op. cit. Pg. 153. Escreve Whyte: The supervision who looks upon nervous tensions as the inevitable products of human nature, as problems in the technical organization of work, or as problems in salesman-ship will never be able to cope with the situation in a constructive manner. On the other hand, the supervision who looks upon restaurant or factory as an organization of human relations, as a system of personal communication, will be able to make the necessary adjustments in order to minimize the frustrations and add to the satisfactions of work in industry. (op. cit. Pgs. 146-147). GEOGES FRIEDMANN, Problmes... Pgs. 289-291

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On se trouve donc em prsence de deux phnomnes concomitants: une augementation du rendement non lis des modifications exprimentales dordre physique et dautre part, une amlioration dans lattitude psychologique: Lamlioration simultane de lattitude et celle du rendement, crit un des dirigeants industriels de lenqute, M. Putnam, suggraient quil pourrait bien y avoir une relation definie entre elles . Autrement dit, nous tions logiquement plus fonds attribuer laugementation de rendement a une amlioration du moral qu aucune des modifications effectues dans le cours de lexprience. Nous en conclmes que la mme relation pouvait exister travers lusine et que le mailleur moyen delever le moral etait damliorer la qualit des cadres. Et G. A. Pennock, qui fut un des initiateurs des enqutes dHawthorne, interprtait dans le mme sens les amliorations parallles du rendement et du moral: Des relations de confiance et damiti on t tablies avec ces jeunes ouvrires un tel point que, pratiquement, plus nest bsoin de les controller. Mme si personne nest l pour les presser et les estimuler, on peut ter assur quelles feront de mieux. Elles disent quelles nprouvent pas la sensation de travailler maintenent plus vite que dans les condition antrieures et que laugmentation considerable de leur production sest produite sans aucun effort consciente de leur part, leur commentaries indiquent toujours quelles se sentement dlivres de la tension nerveuse qui accompagnait nagure leur travail. Elles ont cess de considerer leur contremaitre comme un boss Elles ont le sentoment que laugmentation de leur rendement est lie de quelque manire lamlioration dans lenvironnement de leur travail, nettement plus libre, plus heureux et agrable. A la fin des deux premires annes dexperiences, les ouvrires avaient t peu peu amenes comprendre que lobservateur etait present, prs delles, comme un anditeur sypathique, non comme un gang-boss, un chef dallure, ayant reu des instructions rigides de la Direction et possdant, au sujet de la production, des principes personnels et dffinitivement arrts. Elles taient devenues moins timides, racontaient ce quelles pensaient des methods de contrle habituelles Hawthorne et comment elles et leurs camarades y ragissent. Chez lune des ouvrires du test-room, le rendement avait t cependant trs irrgulier; un jour il se stabilize. Lenquteur constate

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que cette amlioration coincide avec la fin dennuis qui avaient troubl sa vie prive et cesse ds que ces ennuis rebondissent. So decisivas estas descobertas. Elas revelam um ngulo novo da tecnologia do trabalho. A fadiga que at bem pouco parecia ser condicionada exclusivamente pela constituio fisiolgica aparece, luz deste inqurito, como um fenmeno mais complexo, em cuja determinao intervm fatores psicolgicos e sociais. Separando a concepo tayloriana da fadiga, afirmam Roethlisberger e Dickson15, com apoio em seus autorizados experimentos: The results of the early experiments in the Relay Assembly Test Room showed clearly that fatigue, in the sense of an organic unbalance, was not a major problem among the workers at Hawthorne engaged in semirepetitive tasks such as those observed in the test and observation rooms. It became clear that the term fatigue in its popular sense, did not mean the same thing in each instance. Because there is a word, there is not necessarily one thing to which it refers. Instead of one fatigue, there are fatigues. Some are organic; some are not. Moreover, feelings of fatigue can be associated with different kinds of unbalances arising from different kinds of interferences. From these observations the investigators concluded that in each case it is necessary to describe the particular human situation, and the interaction of those factors (organic, personal, or social) making for or against balance. By lumping together in one class under fatigue all cases of unbalance which had similar symptoms, the investigators had not only failed in the early experimental work to discriminate among the different kinds of interferences but they had failed to see that the preponderance of interferences which occur in modern industry are not solely physiological. Nestas condies, o mbito da organizao racional do trabalho amplia-se consideravelmente. No mais circunscrito unicamente quelas relaes que ligam o indivduo sua tarefa. Tais relaes esto funcionalmente integradas numa configurao social complexa de que a prpria empresa, como um todo, apenas um aspecto.
15

Cf. Op. cit. Pg. 576.

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Quero dizer, nem mesmo a empresa constitui um sistema social fechado ou independente, mas sofre o influxo da organizao institucional que a circunda. A restrio mais importante que deve ser feita teoria de Roethlisberger e Dickson precisamente a de terem considerado a empresa como um universo social completo, no enxergando os cordes umbilicais que a ligam ao ambiente scio-cultural que a circunda. Roethlisberger e Dickson foram hbeis em surpreender psico-sociologia interna da empresa. No perceberam, porm, que ela no existe num vacuum social, no uma entidade absoluta ou hipostasiada. Tal complexidade, como assinala Georges Friedmann16, resulta principalmente do fato de que cada operrio membro, no s de coletividades internas da empresa, (cliques, equipes, grupos, turmas etc.) mas tambm de coletividades externas, mais vastas, como o sindicato, a classe, a nao, em que interveem diferenciaes individuais, segundo a natureza do sindicato, a qualificao profissional, a origem tnicas e o grau mais ou menos elevado de assimilao nacional do operrio. As Yankee City Series, em que um grupo de antroplogos sociais, sob a direo de W. Lloyd Warner, vem estudando extensiva e intensamente uma cidade de uma comunidade americana (New England), constituem, atualmente, um dos maiores documentrios do impacto da sociedade sobre a estrutura social interna da empresa. Constam dos seguintes volumes: The Social Life of a Modern Community; The Status System of a Modern Community; The Social Systems of American Ethnic Groups; The Social Systems of the Modern Factory; American Symbol Systems e Data Book for the Yankee City Series, os dois ltimos ainda no editados at maro de 1948. Em magistral compte-rendu, assim resume Georges Friedmann17 a histria de Yankee City, tema de The Social Systems of the Modern Factory:
16 17

Op. cit. Pg. 307. Annales (conomies Societs Civilisations). Janvier-Mars. 1948. Pg. 73. Vem a propsito registrar, aqui, a experincia Bata concretizada numa fbrica de calados em Zlim, Tchecoslovquia. Nesta empresa verifica-se uma aplicao prtica da nova teoria sociolgica da organizao do trabalho. verdade que, no caso, a experincia parece ter precedido teoria. Os Bata teriam sido guiados mais pela intuio do que por pretenses cientficas. Bata procurou instalar, em sua fbrica, condies que permitissem a integrao psicolgica do operrio no trabalho ou, para falar a linguagem de Roethlisberger e Dickson, conciliar a lgica da eficincia com a lgica do sentimento o que conseguiu atravs da manipulao indireto dos fatores sociais da situao ergolgica. Sua fbrica constituda de equipes independentes, que se distribuem segundo as fases do processo de produo. Cada equipe, que tem a sua contabilidade prpria e seu chefe, compra de equipe que a precede na produo os materiais de que necessita e vende, a seguir, seus prprios produtos semi-acabados equipe que a

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Lhistorie de Yankee City est, en somme, celle des tapes de la divisin du travail dans un ansen centremanufacturier, et celles-ci expliquent, en grand partie, les transformations socials et syndicales: passage dune conomie femilale et artisanale une industrie manufacturire et bisntt lentreprise capitaliste, telle que lAngleterre et la Frence linaugurent ds la fin du XVIII e sicle. Les outils, les qualifications, les atliere de faonnage des pieces sont encore, lorigine, la proprit du travailleu. Mais les matriaux, latelier dassemblage et de finition et le march, appartienent au capitaliste. Dans lentreprise capitaliste, dabord locale, saffirme la progressive subordination de louvrier un patron encore directement connu de lui. Ce sont les bons visux temps, ceux qui precedent immdiatement lpoque actuelle c le capitalisme financier lemporte et dissout les industries de la petite ville
sucede. Cada uma destas equipes torna-se um centro de polarizao psicolgica. Cada equipe pode ter lucros ou perdas, podendo tambm ser multada pelas imperfeies dos produtos. O salrio de cada chefe de equipe o dobro do salrio do operrio que mais ganha; os operrios qualificados recebem um salrio proporcional ao rendimento e os operrios no qualificados recebem um salrio-base fixo. conhecida a rivalidade que existe com freqncia entre os encarregados do planejamento das tarefas e os executores das mesmas. Estes ltimos costumam queixar-se de que os primeiros tendem a atribuir-lhes tarefas estafantes. No sistema Bata encontra-se um modo engenhoso de sanar esta frico: os interesses dos encarregados e dos executores harmonizam-se. O escritrio de planejamento recebe 2% dos lucros das equipes e, assim, procura determinar tarefas exeqveis, sem exessos. H que assinalar, ainda, que a firma Bata oferece aos seus empregados assistncia e previdncia social (seguros, penses, clubes, restaurantes, hospitais). Dispe de uma escola experimental, um museu de tecnologia e um atelier de treinamento, todos estes expedientes possibilitando que o operrio adquira uma vista de conjunto do processo de produo de calado e uma formao tcnica. Por fim, uma poltica de relaes humanas levada a efeito pela empresa, atravs da qual se consegue um elevado moral entre os operrios. Um aspecto desta poltica descrito como segue, por Georges Friedmann (Problmes. Pgs. 312-313 e 314): aucun crmanial, Zlim; aucum titre, mais seulement (comme dj chez Ford, notons-le en passant) des fonctions. En arrivant lusine chaque matin, le chef pointe lui-mme sa carte la pendule, comme le plus modeste de ss ouvriers. Le btiment o sest loge la Direction nest en rien diffrent des autres, les bureaux sont installs avec une simplicit presque spartiate. Ps de service la porte du chef. Le voice, au cours dun repas hebdomadaire, cot de ss collaborateurs: Ce diner doit avoir pour effet de parfaire la compensation des antagonismes qui sont aux prises dans cette vaste comptition intrieure. Cest le lieu dune dernire confrontation des point de vue, sons la prsidence du chef qui joue l pleinement, comme je lai vu, son role de chef. Laissant librement exposer les raison de lum et de lautre sur chaque question em discussion, puis formulant ss propes rflexions comme sil pensait tout haut. Il pense tout en effet, et lon remarque de quelle manire il parle, ses yeux tant leves et regardant au loin en se promenant su lassistance sans fixer visiblement aucun objet matriel (Dubrauil). .................................................................................................................................................. On exalte, travers sa simplicitmme, la personalit du chef, dont on cherche faire aux yeux des ouvriers une figure de lgende, on cre et entretient autour de lentreprise Bata une sorte de folklore loccasion des crmonies et des ftes. La moindre de celles-ci nest certes ps la fte du Travail; clebre le premier Mai par un repas comn des ouvrier dans latelier et un cortge du tavail dans la ville dcore de guirlandes et de fouillages. O sistema Bata tipicamente europeu visto que, mais do que qualquer outro, se assemelha a uma verso prtica daquela herana de idias a que esto associados os nomes de Robert Owen, Fourier, Saint-Simon e Augusto Conte.

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dans le vaste rsseau anonyme dirig pa les bureaux de New York. Le fosse ainsi creus entre les ouvriers et la direction, la rupturs des derniers liens sesentimentaux, survivance de latelier artisanal, expliquent la soudaine mobilisation des ouvriers de Yakees City dans les syndicates (unions) quils avaient jusqualors ignores. En mme temps la hirarchie de lge, qui tait aussi celle de lhabilit et du prestige, scroule avec les derniers vestiges de la formation artisenale. La mecanisation de lindustrie de la chaussure a si bien nivel les qualifications que les diffrences sestompent. Par ailleurs, un autre sentiment, caractriatique de lindustrie amricaine, a prcipt la syndicalisation des ouvriers de Yankee City. Ici, nous dit M. L. Warner, on bute sur des rsctions plus ou moins conscientes: Il semble pourtant evident que les ouvriers amricains, qui lon a enseign depuis leur plus tendre enfance qu les travailleurs zls, pratiquant la morale des classes moyennes, sont (aux tats-Unis) recompenses par le succs, devaient se rvolter, se matre en grve aussitt quils se sentiraient frustrs, aussitt quils decouvriraient que le rev amrican (the americam dream) tait dsormais un mirage et que le dure realit dmentait les belles peroles dont on les avait abreuvs. Cest ainsi que les ouvriers de Yankee City aussi bien les immigrants que les Amricains de vieille souche, hommes et femmes, jeunes et vieux, catholiques, protestants, isralites se mirent un beau jour en grve et renversrent en quelques heures un daisceau de liens et de traditions, apparement encore solide, mais depuis logtemps secrtement nin. Cest ainsi que Yankee City devint soudain un Union town, une ville de syndiqus. Pour compenser la parte de leur status sculaires et apaiser leur anxit devant une civilization en pleine transformation, les ouvriers esprent trouver un noveau status et une nouvelle scurit dans les syndicates. Uma das mais trgicas insuficincias da organizao racional do trabalho foi o seu descaso pelo que os socilogos chamam relaes no formais18. Sua tendncia inicial foi a de colocar o problema da organizao
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... formal organization as shown on the charts is a system of positions that are occupied by people. The position defines the duties and functions of the individual in it; it places him in relations to others; it indicates whom he reports to and who reports to him. Along with the organization chart we sometimes find job descriptions that attempt to present a detailed statement of the duties, responsibilities, and authority of each position. And this further defines the place and activities of the person filling that position. In addition, we find other patterns of relationships that do not appear on organization charts. We see little cliques of people who gather together for lunch or a game of cards at noon, or who meet together after work. We see friendships and antagonisms, people who identify with each other on one ground or another, groups who hold aloof from others, and a wide variety of activities that

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em termos de engenharia, simplesmente. Taylor exprime bem esta tendncia quando afirma que o que se deve exigir do operrio no produzir mais por sua prpria iniciativa, mas executar pontualmente as ordens dadas nos seus menores detalhes. Para a organizao racional do tabalho, pelo menos deste tipo, o homen deveria submeter-se, passivamente, como a matria, racionalizao funcional elaborada pelo organizador. Quer dizer, o organizador antigo parecia s considerar os aspectos formais da organizao que so justamente aqueles que podem ser vistos num organograma ou podem ser claramente formulados, tendo em vista a satisfao de necessidades materiais e econmicas. Dir-se-ia que o tcnico obedecia s exigncias de uma lgica de eficincia como se esta fosse necessariamente congruente com a efetiva lgica psicolgica. O estudo da tcnica industrial, como fator de desagregao psicolgica e social, dos mais importantes. Nele se destacam mile Duruheim, (Le Suicide); Frdric Le Play (Les Ouvriers Europens); Karl Mannheim (Mesch und Gesellchaft im Zeitalters des Umbaus); Lewis
constitute what we can the informal organization. The informal patterns of relationships are extremely diversified and vary greatly in degrees of stability. Sometimes a clique will maintain its identity and its interaction over a long period of time; in other cases groups will be in a constant state of flux. In many cases the informal oganization develops out of interaction imposed by the work organization and by the formal organization. Friendship develop between people working side by side, cliques develop within work groups, or among people brought together through work contacts. Foremen or executives may form luncheon groups, or may golf or play cards together, or join the same social clubs. This also means that changes in formal structure usually result in changes in the informal organization: the promotion of an individual may throw him into new groups, or a general change in structure may set up new functional patterns of interaction and new patterns of informal relationship. While formal organization and contacts and interactions imposed by the work influence for informal organization, they do not determine it. In fact, it is a spontaneous development, which usually arises whithout the conscious or deliberate intent of those involved. Thus, as contrasted to the formal structure which can be imposed from above by decision of managent and which can be readily presented in the form of a chart, informal organization develops from below and is often vague and difficult to see. Now these informal relations are not merely a matter of friendly association and conversation unrelated to work behavior. Numerous studies have show that they play a mojor role in determining the attitudes and bahavior of workers with respect to their work, their superiors, and the company. In fact, the most powerfull controls over the individual lie in the hands of the group itself and are expressed through the informal structure. Thus we see the work group deciding upon the proper standards of output and taking pains to see that the newcomer understands and conforms these unofficial standards, which usually means restriction of output to the level the group finds satisfactory. Or we see the individual forced to choose between his superiousres or the group. As one worker said, You gotta decide whether to go along with the group or to stand in with the boss. And if you dont go along, the gang can make it mighty unpleasant. (Burleigh B. Gardner, The factory as a Social System, in W. F. Whyte. Op. cit. Pgs. 5-7).

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Munford (Technics and Civilization); Elton Mayo (The Social Problems of na Industrial Civilization); e outros nomes. Todos estes cientistas mostraram como a industria subverteu, de maneira quase vertiginosa, os contextos sociais milenarmente estabelecidos, sem nada desenvolver em seu lugar. Tais homens fizeram a macrosociologia da indstria, assunto cujo conhecimento utilssimo ao organizador, mais impossvel de ser focalizado aqui. H, porm, uma microsociologia da indstria, como ficou evidente pela sumariao acima dos estudos de William Whyte, Roethlisberger, Dickson e outros. Tem sido observado que as relaes de trabalho que no aparecem nos grficos, nas especificaes ou nos planos, isto , as relaes no formais, tm uma influncia decisiva no funcionamento de uma empresa. Influncia, muitasvezes, to poderosa que pode tornar incuo o mais perfeito esquema tcnico. Os pesquisadores que tem explorado este campo so unnimes em assinalar que o funcionamento bem sucedido de uma empresa depende da perfeita integrao de sua organizao formal com sua organizao no formal. No basta, pois, que uma empresa seja constituda, segundo as regras da tcnica de organizao. Por falta de um conhecimento objetivo das relaes no formais na empresa, certas dificuldades e problemas vinham sendo, at bem pouco, tratados por meio de tantativas e erros, a sociologia, entretanto, pe agora disposio dos organizadores meios seguros no s de identificar aquelas relaes, como tambm de manipul-las, com segurana. Trabalhos pioneiros neste campo foram realizados por Samuel A. Lewinshn (The New leandership in Industry, aparecido em 1926), Mary Follet (Dynanmic Administration, aparecido em 1941) e Chester I. Barnard (The Functions of the Executive, aparecido em 1938). Atualmente, numerosos ensaios tem sido publicados em revstas americanas e francesas trazendo a assinatura de Delbert C. Miller, Robert K. Merton, Maria Rogers, Georges Canguilhem, Philip Selznick, Wilbert E. Moore, Paul Meadows, Alvin W. Gouldner, Robert Dubin,

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Esther Boorman Strong, Marshall B. Clinard, Reinhard Bendix, Herbert Blumer e outros. Neste particular , entretanto, indispensvel assinalar o symposium, Industry and Society, editado por William F. Whyte, em que se encontra uma teoria sistemtica das relaes no formais no trabalho, de autoria de Burleigh B. Gardner; e ainda as recentes aplicaes da Sociemetry19, disciplina criada por J. L. Moreno.

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Na impossibilidade de, por falta de tempo, desenvolver, aqui, de maneira mais extensa, o tema da sociologia do trabalho, trancrevo, a seguir, um trecho do estudo de Maria Rogers em que se confrontam as contribuies da Escola de Harvard (Roethlisberger, Dickson, Mayo etc.) com as dos Sociometistas (Moreno, Jacobs, Jennings, Bronfenbrenner etc.): Les savants dHavard ont pour leur part: 1) tabli le caractre indispensable dune discipline visant la diagnose et la comprhension de la situation rele la fois dindividu et de groupe lintrieur de lusine. 2) Donn un contenu scientifique au concept des relations humaines dans lindustrie. 3) dcouvert limportance centrale du groupe officieux la socit personnelle dans la structure sociale de lusine. 4) Inventori le role prdominant jou par ce groupe: a) dans les taux de tendement, dabsentisme, dabandon du travall, etc.; b) pour faire du travaill dusine un genre de vie ayant un sens et satisfaisant. 5) Dmoli le concept prope au XIX sicle de lhomme conomique en dmonstrant scientifiquement la subordination des motifs conomiques aux facteurs sociaux pour obtenir la coopration et sprit dquipe dans lusine. Les sociomtristes ont dautre part: 1) Dcouvert les forces dynamiques qui produisent les groupes extraformels les ractions motionnelles que les tres humains ont spontanment lgard dautres tres humains quand ils se rencontrent. 2) Systmatis la recherche de ces forces, invent des mthodes pour les tudier, le mesurer, les enregistrer et les codifier. 3) Analys le concept de coopration ou desprit dquipe, em montrant que llment le plus important em rside dans les relations interpersonnelles fondes sur les attractions entre les membres dun groupe et, enversement, que les replsions entre ses membres contrecarrent la coopration. 4) Dcouvert dans les relations intergroupes les rseaux psychologiques lintrieur desquels lopinion publique dans tiut communaut se forme et se diffuse. 5) Dmontr que le noyau de la structure sociale est le type de toutes les relations interpersonnelles entre les membres individuels dune socit, et que le fonctionnement des organisations conomiques ne peut pas tre pleinement compris sans la connaissance intime des types de relations interpersonnelles qui constituent le noyau de leur structure sociale. 6) Offert une thorie de la socit humaine selon laquelles le schme des relations interpersonnelles dans lesquelles vivent les tres humains exerce une inflence dterminante dans lconomie, dans la politique, dans le gouvernement et dans toutes les autres institutions. Un corollaire de cette theorie est quaucune institutions de la socit nexerce dinfluence dterminante sur aucuns autre. Elle contredit ainsi da thorie marxiste du dterminisme conomique. (Les Problmes des Rapports Humains dans lIndustrie. Cahiers Internationax de Sociologie. Aux ditions du Seuil. Vol. III. Cahier double. Deuxime Anne. 1947. Pgs. 114-116).

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PARTE III CONCLUSES


1 O desenvolvimento da Organizao Racional do Trabalho, em qualquer sociedade, depende de sua estrutura total. H, sobretudo, uma estreita relao entre a concepo que uma sociedade faz do trabalho e o grau de evoluo de seus procedimentos ergolgicos (todos os captulos). 2 A Organizao Racional do Trabalho um estado de esprito antitradicional e laico. Por esse motivo, no se desenvolve naquelas sociedades em que afirma o predomnio do tradicional e do sagrado sobre o racional e o secular (Captulos I, II e III). Ainda por esse motivo, ela s aparece tardiamente, na civilizao ocidental, precisamente quando se encontra avanado o estdio de secularizao da conscincia humana, expresso numa concepo do trabalho como instrumento de competio social e numa concepo da natureza como uma ordem mecnica, sujeita a leis manipulveis pelo homem (Captulos IV, V, VI). 3 Os Estados Unidos, em virtude de sua formao histrica e de suas peculiaridades geogrficas, constituem o meio mais favorvel para o desenvolvimento da Organizao Racional do Trabalho. Uma constelao tpica de fatores espirituais, demogrficos, geogrficos e econmicos estimulou, naquele pas, a elaborao dos sistemas Taylor, Ford e outros (Captulos VI e VII). 4 A aplicao extensiva do taylorismo e do fordismo fora dos Estados Unidos encontra limitaes ponderveis de ordem social, poltica e econmica. O maior obstculo para o desenvolvimento da nova tecnologia em pases como os da Amrica Latina, da sia e da Oceania consiste no fato de que, em tais regies, no s a indstria se encontra em estado incipiente, como a maior parte de suas populaes ainda no emergia das culturas de folk para que Robert Redfild chama civilizao (Captulos VII e IX). 5 A Organizao Racional do Trabalho constitui-se, inicialmente, sob a influncia da cincia natural matemtica, como uma pura teoria de engenheiro. A necessidade de corrigir o seu unilateralismo e suas insuficincias estimula o desenvolvimento da filosofia, da psicologia e da sociologia aplicadas ao trabalho. Tende, pois, a Organizao

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Racional do Trabalho a tornar-se um sistema integrado da cincia do homem aplicado ao trabalho (Captulos X e XII). 6 At o presente, no se constituiu definitivamente a metodologia da organizao. Ela est, apenas, em emergncia, numa fase que pode ser considerada escolstica (Captulo VIII). 7 Na esfera da administrao pblica, a racionalizao antes uma fase da evoluo do estado que uma tecnologia propriamente dita. Ela surge, sob a forma do que Max Weber chamou burocracia, naqueles tipos de Estado em que, sob a influncia do constitucionalismo, se afirma o predomnio da funo pblica sobre a feudalidade e a soberania territorial, ou seja, do interesse universal sobre o interesse particular (Captulo XI).

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