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COMIT DE PRONUNCIAMENTOS CONTBEIS

ORIENTAO OCPC 05 Contratos de Concesso


ndice OBJETIVO E ALCANCE ASPECTOS GERAIS APLICVEIS TODAS AS CONCESSES Direito de outorga ou direito da concesso (concesso onerosa) Modelo de ativo intangvel e de ativo financeiro (bifurcado) Ajuste a valor presente do ativo financeiro Classificao do ativo financeiro no balano patrimonial Classificao da remunerao do ativo finaceiro na demonstrao do resultado Infraestrutura na fase de construo classificao no modelo bifurcado Mensurao do ativo intangvel direito de outoga contrapartida em dinheiro Mensurao do ativo intangvel direito de outorga contrapartida em servios de construo/melhorias Servios de construo que representam potencial de gerao de receita adicional Servios de construo que no representam potencial de gerao de receita adicional Custos de emprstimos Bens mveis recebidos do poder concedente Bens vinculados concesso Adies subsequentes ao ativo intangvel Amortizao do ativo intangvel Reconhecimento da receita de construo Proviso para gastos correntes com manuteno e operao Item 16 7 51 10 15 16 20 21 22 23 24 27 28 29 30 31 33 34 35 36 37 38 40 41 42 43 44
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Proviso para manuteno, reparos e substituies Aplicao retroativa da ICPC 01, na data de transio Aplicao da ICPC 01, na data de transio, quando impraticvel a aplicao retroativa Divulgao CONCESSO DE RODOVIAS Aplicao da ICPC 01 CONCESSO DE FERROVIAS Caractersticas dos contratos e aplicao da ICPC 01 Tratmento da infraestrutura fora do alcance da ICPC 01 INDSTRIA DE ENERGIA Atividade de distribuio Caractersticas dos contratos e aplicao da ICPC 01 Modelo a ser utilizado Mtodo de amortizao do ativo intangvel com vida til definida (CPC 04, itens 97 a 99) Reconhecimento da margem da receita da construo da infraestrutura, da operao e da manuteno Obrigaes especiais Atividade de transmisso Caractersticas dos contratos e aplicao da ICPC 01 Modelo a ser utilizado Consideraes do modelo ativo financeiro Tratamento das adies por expanso e reforo Tratamento das adies e baixas por substituio Atividade de gerao Caractersticas dos contratos e aplicao da ICPC 01 Modelo a ser utilizado no caso de se aplicar a ICPC 01

45 46 47 48 50 51 52 52 53 62 53 61 62 63 130 64 83 64 65 66 69 70 73 74 78 79 83 84 96 84 - 91 92 93 94 95 96 97 130 97 103 104 106

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Contratos de concesso de gerao fora do alcance da ICPC 01 Adoo inicial do CPC 27 Amortizao dos bens integrantes da infraestrutura de gerao Reconhecimento da receita dos contratos de venda de energia (PPA) pelas geradoras Registro dos custos socioambientais relacionados construo dos empreendimentos de energia Registro dos custos de renovao das licenas ambientais aps a entrada em operao comercial do empreendimento Registro de custos retardatrios Despesas de manuteno Concesso onerosa Prorrogao e renovao do prazo da concesso das geradoras, transmissoras e distribuidoras

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Objetivo e alcance
1. O Comit de Pronunciamentos Contbeis edita a presente Orientao com a finalidade de esclarecer assuntos que tm gerado dvidas quanto adoo da Interpretao Tcnica ICPC 01 - Contratos de Concesso pelas empresas reguladas brasileiras. 2. importante alertar administradores e contadores de empresas reguladas que atuam no papel de concessionrio ou operador sobre os desafios que enfrentaro para a concluso sobre se cada contrato de concesso ou similar atende ou no a todas as condies estabelecidas e verificar se a entidade est dentro do alcance da ICPC 01. Essa tarefa deve ser precedida das seguintes consideraes: (a) conhecimento dos novos conceitos sobre reconhecimento de receita e classificao dos ativos de infraestrutura vinculados concesso introduzidos pela ICPC 01; (b) conhecimento do arcabouo regulatrio (marco regulatrio) de cada indstria e dos respectivos setores de cada indstria. Algumas indstrias passaram por alteraes desses marcos desde o processo de privatizao iniciado em 1995 no Brasil; (c) anlise individual de cada modalidade de contrato de prestao de servios pblicos por entidade de direito privado, tais como contratos de concesso, autorizao, uso do bem pblico, permisso e outros de naturezas similares; (d) conhecimento de todos os direitos e obrigaes estabelecidos nesses contratos; (e) conhecimento da formao de preos (mecanismo de tarifa) e processo de reviso desses preos ao longo do prazo de concesso; (f) conhecimento de que o fluxo de caixa do negcio pode no ser alterado, mas o fluxo de caixa dos dividendos pode vir a ser impactado pelas mudanas trazidas pela ICPC 01 em decorrncia de alteraes no lucro lquido. 3. Todas essas consideraes objetivam analisar e tratar da melhor forma possvel o reconhecimento da receita em confronto com os custos e as despesas de cada negcio ao longo do prazo da concesso.

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4. O entendimento dos principais conceitos introduzidos na ICPC 01 , na maioria dos casos, simples, mas o grande desafio a operacionalizao da sua adoo na realidade econmica de cada empresa e especificamente em cada contrato. 5. Esta Orientao restringe-se somente a abordar aspectos contbeis da adoo da ICPC 01 e no inclui qualquer discusso sobre os aspectos tributrios (impostos diretos e indiretos) decorrentes da sua adoo. 6. Esta Orientao est sendo direcionada para as concesses de rodovia, ferrovia e energia eltrica, mas os aspectos aqui abordados devem ser utilizados por similaridade ou analogia, no que for cabvel e considerando as caractersticas de cada contrato, para as demais indstrias ou atividades reguladas, a saber: gua e saneamento, telecomunicaes, distribuio de gs, portos, aeroportos, hospitais, pontes, tneis, prises, estdios de futebol e demais atividades correlatas, inclusive com contratos de parcerias pblico-privadas.

Aspectos gerais aplicveis todas as concesses


7. A ICPC 01 (IFRIC 12) especifica condies a serem atendidas em conjunto para que as concesses pblicas estejam inseridas em seu alcance: condio (a) - o concedente controla ou regulamenta quais servios o concessionrio deve prestar com a infraestrutura, a quem os servios devem ser prestados e o seu preo; condio (b) - o concedente controla, por meio de titularidade, usufruto ou de outra forma qualquer, participao residual significativa na infraestrutura no final do prazo da concesso. 8. A interpretao literal do dispositivo acima pode gerar distoro quanto s entidades abrangidas pela ICPC 01. De forma geral, h consenso sobre a condio (b) do item anterior, com suporte nos arts. 36 e 37 da Lei n. 8.987/95 que dispe sobre o regime de concesso e permisso da prestao de servios pblicos previsto no art. 175 da Constituio Federal da Repblica Federativa do Brasil. Essa lei, ao deliberar sobre os casos de extino da concesso por advento de termo contratual e encampao, prescreveu: Art. 36. A reverso no advento do termo contratual far-se- com a indenizao das parcelas dos investimentos vinculados a bens reversveis, ainda no
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amortizados ou depreciados, que tenham sido realizados com o objetivo de garantir a continuidade e atualidade do servio concedido. Art. 37. Considera-se encampao a retomada do servio pelo poder concedente durante o prazo da concesso, por motivo de interesse pblico, mediante lei autorizativa especfica e aps prvio pagamento da indenizao, na forma do artigo anterior. 9. Quanto condio (a) do item 7, fica a discusso circunscrita, basicamente, ao controle ou regulamentao sobre o preo dos servios prestados pelo concessionrio. De forma abrangente, entende-se que o controle ou regulamentao sobre os preos dos servios pblicos prestados pelo concessionrio , em maior ou menor grau, prerrogativa do poder concedente. Isso pode ser ratificado por meio da leitura da Lei n. 8.987/95, onde, ao discorrer sobre a poltica tarifria e os encargos inerentes ao poder concedente ficou determinado: Art. 9 A tarifa do servio pblico concedido ser fixada pelo preo da proposta vencedora da licitao e preservada pelas regras de reviso previstas nesta Lei, no edital e no contrato. Art. 29. Incumbe ao poder concedente: I - regulamentar o servio concedido e fiscalizar permanentemente a sua prestao; (...) V - homologar reajustes e proceder reviso das tarifas na forma desta Lei, das normas pertinentes e do contrato (...); Esses dispositivos legais encontram base no art. 175 da Constituio: Art. 175. Incumbe ao Poder Pblico, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concesso ou permisso, sempre por meio de licitao, a prestao de servios pblicos. Pargrafo nico. A lei dispor sobre: I - o regime das empresas concessionrias e permissionrias de servios pblicos, o carter especial de seu contrato e de sua prorrogao, bem como as condies de caducidade, fiscalizao e resciso da concesso ou permisso; II - os direitos dos usurios; III - poltica tarifria; IV - a obrigao de manter servio adequado.

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Direito de outorga ou direito da concesso (concesso onerosa) 10. Uma questo relevante que diz respeito contabilizao de contratos de concesses est relacionada ao reconhecimento contbil do direito de outorga no incio ou ao longo do prazo de concesso. Esse assunto no est especificamente tratado na ICPC 01. Assim, mesmo que uma entidade esteja fora do alcance da ICPC 01, ela deve considerar as discusses contidas a seguir. 11. Ressalta-se que o contrato de concesso no representa um direito de uso sobre a infraestrutura, como no caso de arrendamento, j que o poder concedente mantm o controle sobre ela. O concessionrio tem sim um direito que representado pelo acesso infraestrutura para prover o servio pblico em nome do poder concedente, nos termos do contrato. Assim, se e quando reconhecido, o ativo um ativo intangvel (nos termos do Pronunciamento Tcnico CPC 04) e/ou um ativo financeiro. Neste ltimo caso somente registrado um ativo financeiro no caso em que representa, de fato, direito contratual de receber caixa ou outro ativo financeiro, nos termos dos Pronunciamentos Tcnicos CPCs 38 e 39. 12. O direito de outorga aquele decorrente de processos licitatrios onde o concessionrio entrega, ou promete entregar, recursos econmicos em troca do direito de explorar o objeto de concesso ao longo do prazo previsto no contrato. Nos casos em que o preo da delegao dos servios pblicos (outorga) pago no incio da concesso de uma nica vez ou em pagamentos por prazo menor que o prazo da prpria concesso, o seu registro no incio da concesso ou proporcionalmente ao valor adiantado (caso seja um contrato de execuo), respectivamente, inevitvel. A questo de dvida surge nas situaes em que o pagamento do direito de outorga ocorre por valores predeterminados ao longo da concesso, durante a performance do contrato. Nesse caso h duas linhas de entendimento e ambas so praticadas hoje pelas concessionrias brasileiras: (a) a que entende que o contrato de execuo; e (b) a que entende que o direito e a correspondente obrigao nascem para o concessionrio simultaneamente quando da assinatura do contrato de concesso. 13. Na linha de entendimento de que o contrato de execuo, os argumentos so relacionados com o fato de que nem o poder concedente e nem o concessionrio, no incio da concesso, cumpriram com suas obrigaes ou ambos cumpriram com suas obrigaes parcialmente na mesma extenso. A disponibilizao da
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infraestrutura pelo poder concedente se d progressivamente medida que as condies contratuais vo sendo cumpridas pelo concessionrio. O operador deve cumprir as regras do contrato e o poder concedente possui o direito de cancelar o contrato, indenizando o operador pelos investimentos realizados e ainda no amortizados ou depreciados. Por isso se aps analisados os fatos e circunstncias especficos do contrato se considera que a infraestrutura disponibilizada gradualmente ao longo do contrato, medida que o operador satisfaa as condies contratuais e medida que o poder concedente mantenha a concesso. Nesse caso, o aspecto que contraria o enfoque de reconhecimento da outorga no incio do contrato a falta de caracterizao de um ativo e de um passivo executveis na data do balano. Finalmente, a inexistncia de penalidade contratual (ou existncia de penalidade irrisria) para a descontinuidade contratual provocada pelo concessionrio ou a previso de indenizao ao concessionrio pelos investimentos no amortizados, em evento de descontinuidade contratual, um indicador de que o contrato seria de natureza executria (contrato a executar), no passvel de registro contbil no momento da sua assinatura. 14. Por outro lado, na linha de entendimento de que o direito de outorga e a correspondente obrigao nascem na assinatura do contrato, a concesso representa um negcio de longo prazo, que passa por processo licitatrio, envolve projetos de financiamento, garantias e definio de tarifa, portanto, fatores que indicam um contrato de longa durao em que as partes demonstram inteno e condio de execut-lo integralmente. Assim sendo, considerado que os fatos e as circunstncias indicam que no se trata de um contrato de execuo, mas a aquisio de um direito de explorao, a aquisio de uma licena para operar por prazo determinado, haja vista entender-se que o poder concedente performou sua parte no contrato ao dar o acesso e o direito explorao do objeto da concesso, enquanto o concessionrio no performou a sua parte, que representada em muitos casos pela obrigao de: (a) efetuar pagamentos em caixa ao poder concedente e/ou (b) construo de melhorias e expanses da infraestrutura. 15. Ao adotar um dos procedimentos previstos no item anterior, devem ser considerados todos os aspcetos e circunstncias inerentes ao contrato de concesso de forma que as demonstraes contbeis retratem a essncia econmica da transao que se pretende representar. Modelo de ativo intangvel e de ativo financeiro (bifurcado)

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16. A identificao do modelo contbil aplicvel a uma concesso est vinculada identificao do responsvel ou responsveis pela remunerao ao concessionrio em decorrncia dos servios de construo e melhorias por ele efetuados. 17. Quando um concessionrio remunerado pelos usurios dos servios pblicos, em decorrncia da obteno do direito de cobr-los a um determinado preo e perodo pactuado com o poder concedente, o valor despendido pelo concessionrio na aquisio desse direito deve ser reconhecido no ativo intangvel. 18. Por outro lado, quando o responsvel pela remunerao dos investimentos feitos pelo concessionrio for o poder concedente e o contrato estabelecer que h o direito contratual incondicional de receber caixa ou outro ativo financeiro, independentemente do uso efetivo da infraestrutura (demanda) ao longo do prazo de concesso, necessrio o reconhecimento do ativo financeiro. 19. Nos casos em que os investimentos efetuados pelo concessionrio , em parte, remunerado pelos usurios do servio pblico e em parte pelo poder concedente, seja com base na previso contratual indenizao ao final da concesso ou complementao de receita no seu decorrer, est-se diante de um modelo hbrido: parte ativo intangvel e parte ativo financeiro, onde o reconhecimento deste ltimo dependente da confiabilidade de sua estimativa e de representar direito incondicional de receber caixa ou outro ativo financeiro. 20. No incio de uma concesso, os investimentos feitos ou a fazer podem no ser indenizveis. Os investimentos indenizveis, se houver, podem ocorrer no futuro, a partir do momento em que o poder concedente se comprometer a reembolsar o concessionrio, conforme os termos contratuais. Nesse caso, o ativo financeiro deve ser reconhecido somente quando as condies de reembolso forem atingidas, ou seja, no momento em que os investimentos indenizveis forem efetivados. Ajuste a valor presente do ativo financeiro 21. O Pronunciamento Tcnico CPC 12 Ajuste a Valor Presente e o Pronunciamento Tcnico CPC 38 Instrumentos Financeiro: Reconhecimento e Mensurao devem ser aplicados na mensurao do ativo financeiro na data da transio. Entretanto, deve ser efetuada uma anlise do valor da indenizao com base no entendimento do funcionamento do mecanismo de remunerao
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para verificar se o valor da indenizao na data da transio j est a valor presente e sujeito remunerao no futuro. Se esse for o caso, os valores j esto a valor presente, no sendo necessrios ajustes adicionais. Classificao do ativo financeiro no balano patrimonial 22. O item 24 da ICPC 01 permite a classificao do ativo financeiro em trs categorias, como definido no Pronunciamento Tcnico CPC 38 Instrumentos Financeiros: Reconhecimento e Mensurao. Analisando o ambiente regulatrio brasileiro, e as definies do CPC 38, entende-se que o ativo financeiro da indenizao, em princpio, seria melhor classificado como recebvel. Classificao da remunerao do ativo financeiro na demonstrao do resultado 23. A parcela de remunerao do ativo financeiro deve ser apresentada na demonstrao do resultado de forma consistente com o modelo de negcio da indstria e de acordo com o seu modelo de gesto. Por ser parte intrnseca do negcio, deve ser apresentada entre as receitas da operao. Divulgao deve ser dada nas demonstraes contbeis e respectivas notas explicativas a essas receitas. Infraestrutura na fase de construo - classificao no modelo bifurcado 24. De acordo com a base de concluso da IFRIC 12, equivalente ICPC 01, especificamente BC 62, o IFRIC tambm concluiu que, durante a fase de construo do acordo, o ativo do operador (que representa seu direito acumulado a ser pago pelo fornecimento/prestao de servios de construo) deve ser classificado como ativo financeiro quando ele representar caixa ou outro ativo financeiro devido pelo poder concedente, ou conforme sua instruo. 25. De acordo com a base de concluso da IFRIC 12, especificamente BC 68, o IFRIC tambm concluiu que, durante a fase de construo do acordo, o ativo do operador (que representa seu direito acumulado a ser pago pelo fornecimento de servios de construo) deve ser classificado como ativo intangvel na medida em que ele representar um direito (licena) de cobrar os usurios do servio pblico (um ativo intangvel).

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26. consenso do CPC que, normalmente, impraticvel identificar a parcela da receita de construo que deve ser classificada como ativo financeiro e a parcela que deve ser classificada como ativo intangvel durante a fase de construo. 27. Somente possvel, como regra, fazer essa classificao aps a apurao do valor de cada componente (bem) e a determinao da respectiva estimativa de vida til econmica para efeitos do clculo de amortizao de cada componente (bem). Destaque-se que o valor do ativo financeiro de indenizao determinado com base no valor residual de cada bem vinculado ao contrato de concesso da infraestrutura, no final do prazo da concesso. Assim sendo, aceitvel que o valor da receita de construo, na fase de construo, seja integralmente reconhecida como ativo intangvel em construo at que seja vivel fazer a alocao da parcela correspondente ao ativo financeiro da indenizao, devendo haver divulgao desse fato. Mensurao do ativo intangvel direito de outorga- contrapartida em dinheiro 28. Para os contratos enquadrados no item 12(a) o custo deve ser reconhecido como despesa ao longo do prazo contratual, em contrapartida ao passivo correspondente ou ao caixa. Para os contratos enquadrados no item 12(b), o ativo intangvel inicialmente (no termo de posse) mensurado pelo custo. No caso de outorga fixa, o custo corresponde aos valores j despendidos e a despender no futuro devem ser reconhecidos a valor presente, conforme dispositivos do Pronunciamento Tcnico CPC 12 Ajuste a Valor Presente. Em se tratando de outorga varivel, por exemplo, com base na receita do perodo, seu montante deve ser registrado como despesa do perodo concomitantemente receita que o tenha originado. Mensurao do ativo intangvel direito de outorga - contrapartida em servios de construo/melhorias 29. Em geral, os contratos de concesso contm, alm do componente de operao, tambm o componente de servios de construo/melhorias, ou seja, o concessionrio no somente opera a concesso como tambm tem obrigao de construir/melhorar antes e/ou durante o prazo da concesso. Nos itens a seguir, indica-se tratamento contbil para diferentes condies. Servios de construo que representam potencial de gerao de receita adicional
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30. Quando os servios de construo representam potencial de gerao de receita adicional, com a recuperao do investimento efetuado por meio dessa gerao adicional de receita, esse contrato de execuo e, portanto, o reconhecimento do direito (de explorar) e das obrigaes (de construir) feito medida que os servios de construo so prestados. Servios de construo que no representam potencial de gerao de receita adicional 31. Para os contratos enquadrados no item 12(a), a partir da data de sua explorao (termo de posse) dever ser constituda proviso proporcionalmente ao perodo transcorrido entre a data de incio da explorao (termo de posse) e o trmino do prazo da concesso, em contrapartida de despesa do perodo. O valor da proviso dever se basear no valor estimado da receita de construo. No caso de aquisio de ativos para os quais no haja servio de construo atrelado (por exemplo aquisio de viaturas), o conceito igualmente aplicvel, exceto pelo fato de que o provisionamento feito pelo custo de aquisio. Quando da execuo do servio de construo, o montante da receita que exceder a respectiva proviso deve ser reconhecido no ativo intangvel e/ou no ativo financeiro, dependendo das circunstncias. 32. Para os contratos enquadrados no item 12(b), o servio de construo parte da obrigao a ser paga por conta da obteno do direito de outorga original e, dessa forma, o passivo deve ter seu valor estimado e reconhecido no incio da vigncia dos termos contratuais (termo de posse) e obteno da licena ou data da transio, a valor presente em contrapartida de ativo intangvel, com base no valor previsto da receita de construo. Nesses casos, em geral, os servios de construo no esto relacionados com melhorias ou ampliao da infraestrutura, tpica de situaes que originam potencial de gerao de novas receitas, tampouco esto relacionados a conservaes e manutenes, quando visam meramente preservar o nvel de servios da infraestrutura. Esses casos costumam estar relacionados a obrigaes assumidas de construo de infraestrutura exgena infraestrutura principal concedida, no possuindo nenhuma relao com a extenso e a qualidade da prestao dos servios pblicos delegados ao concessionrio. Dada a natureza dessa obrigao de construir, ela no um passivo financeiro, mas um passivo no monetrio. Nesse casos, deve haver reconhecimento de receita de construo medida que a construo for acontecendo em contrapartida ao passivo registrado inicialmente.
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33. Revises das estimativas de gastos para liquidar a obrigao presente na data do balano, nos contratos enquadrados no item 12(a), devem ser registradas de forma prospectiva. Para os contratos enquadrados no item 12(b), remensuraes do passivo que no forem oriundas de contabilizao de variao monetria e juros (reverso do valor presente) devem ser ajustadas ao ativo intangvel. Exemplos dessas remensuraes so: mudanas nas estimativas do valor justo de construo, tempo em que a construo ir acontecer ou evoluir e mudanas nas taxas de juros. Custos de emprstimos 34. Os custos de emprstimos devem ser capitalizados durante o perodo de construo de uma infraestrutura, quando atendidos os requerimentos do Pronunciamento Tcnico CPC 20 Custos de Emprstimos. 35. Em alguns casos, especialmente no incio dos contratos de concesso, o concessionrio precisa realizar certos ajustes antes de iniciar a cobrana dos usurios. Considera-se que a capitalizao dos juros ao ativo intangvel nessa fase devida. Importante observar o princpio geral de que a capitalizao de juros somente se aplica a ativos que no estejam prontos para o uso ou venda pretendidos. Os princpios gerais do CPC 20 devem ser aplicados em sua plenitude. Bens mveis recebidos do poder concedente 36. Os bens mveis recebidos do poder concedente devem ser classificados como imobilizado medida que possam ser retidos ou negociados pelo concessionrio, sem ou com pequena interferncia do poder concedente. Nesse caso, ter ocorrido a transferncia substancial (ou total) dos riscos e benefcios decorrente do controle do ativo para o concessionrio, o que enseja o seu registro pelo valor justo no reconhecimento inicial (ICPC 01, item 27), quando esses ativos fazem parte da remunerao a pagar pelo poder concedente pelos servios do concessionrio. O concessionrio deve registrar um passivo relativo a obrigaes no cumpridas que ele tenha assumido em troca desses outros ativos. 37. Em alguns casos, os bens mveis que podem ser livremente negociados pelo concessionrio podem, por outro lado, ser parte dos chamados itens essenciais para a prestao dos servios da concesso. Isto , embora livre para negociar, o
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concessionrio pode ter a obrigao de mant-lo se a sua venda ou baixa representar perda da capacidade da prestao essencial dos servios. Nesses casos, a administrao deve avaliar a situao e aplicar seu melhor julgamento sobre a classificao desses itens. Bens vinculados concesso 38. De acordo com os contratos de concesso, consideram-se bens vinculados aqueles construdos ou adquiridos pelo concessionrio e efetivamente utilizados na prestao dos servios pblicos. 39. No caso de haver dvidas de interpretao legal ou regulatria sobre quais bens da infraestrutura estariam sujeitos reverso no final do prazo da concesso, importante que esse esclarecimento seja dado pelo poder concedente (agncia reguladora) ou, ainda, por meio de consenso da indstria para efeitos de aplicao da ICPC 01. Evidenciao deve ser dada a essa matria. 40. Para os bens considerados no vinculados concesso, estes devem continuar sendo classificados como ativo imobilizado e sujeitos aos critrios de avaliao estabelecidos pelo Pronunciamento Tcnico CPC 27 - Ativo Imobilizado. Adies subsequentes ao ativo intangvel 41. Nos contratos enquadrados no item 12(b), adies subsequentes ao ativo intangvel somente ocorrero quando da prestao de servio de construo relacionado com ampliao/melhoria da infraestrutura que represente potencial de gerao de receita adicional. Ou seja, a obrigao da construo no ter sido reconhecida na assinatura do contrato, mas o ser no momento da construo, com contrapartida de ativo intangvel. Os contratos enquadrados no item 12(a) tambm geram adies ao ativo intangvel, porm somente pelo valor da diferena entre a receita de contruo e o montante at ento provisionado. Essa contrapartida em servios de construo no pode estar relacionada com manuteno e conservao. Amortizao do ativo intangvel 42. O ativo intangvel deve ser amortizado dentro do prazo da concesso. O clculo deve ser efetuado de acordo com o padro de consumo do beneficio econmico por ele gerado, que normalmente se d em funo da curva de demanda. A
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estimativa da curva de amortizao deve oferecer razovel confiabilidade, caso contrrio, o mtodo de linha reta (amortizao linear) passa a ser o mais recomendado. De acordo com o Pronunciamento Tcnico CPC 04 - Ativo Intangvel, item 97 (parcial), O valor amortizvel de ativo intangvel com vida til definida deve ser apropriado de forma sistemtica ao longo da sua vida til estimada e ainda O mtodo de amortizao utilizado reflete o padro de consumo pela entidade dos benefcios econmicos futuros. Se no for possvel determinar esse padro com segurana, deve ser utilizado o mtodo linear. Reconhecimento da receita de construo 43. Quando a concessionria presta servios de construo, ela deve reconhecer a receita de construo pelo valor justo e os respectivos custos transformados em despesas relativas ao servio de construo prestado e, dessa forma, por consequncia, apurar margem de lucro. Em geral, o concessionrio o responsvel primrio pela prestao de servios de construo, mesmo nos casos em que haja a terceirizao dos servios. Nos casos em que h terceirizao da obra, normalmente, a margem bem menor, suficiente para cobrir a responsabilidade primria do concessionrio e eventuais custos de gerenciamento e/ou acompanhamento da obra. Proviso para gastos correntes com manuteno e operao 44. Os gastos com a operao, bem como suas manutenes rotineiras, devem ser registrados no resultado do perodo em que ocorrem e confrontados com as receitas dos respectivos perodos. Proviso para manuteno, reparos e substituies 45. Pelo desgaste derivado do uso da infraestrutura, a partir da data de sua explorao e/ou data de transio para a ICPC 01, deve ser registrada proviso, com base na melhor estimativa de gasto para liquidar a obrigao presente na data do balano, em contrapartida de despesa do perodo para manuteno ou recomposio da infraestrutura a um nvel especificado de operacionalidade, ou contra lucros ou prejuzos acumulados se referente ao passado. O passivo, a valor presente, deve ser progressivamente registrado e acumulado para fazer face aos pagamentos a serem feitos durante a execuo das obras de
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recomposio da infraestrutura em data futura, observados os dispositivos do CPC 25 Provises, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes. 46. Em alguns casos excepcionais, a concessionria pode ser requerida a fazer obras emergenciais que no faziam parte do plano original de investimento previsto no contrato. Nesse caso, os termos contratuais so fundamentais para determinar se investimentos dessa natureza devem ou no ser capitalizados. Aplicao retroativa da ICPC 01, na data de transio 47. Para evitar distoro dos resultados futuros das concesses pblicas no Brasil, o CPC ratifica a determinao de aplicao retroativa prevista no item 31 da ICPC 01, mesmo quando no solicitado explicitamente ao longo dos itens desta Orientao. Grande parte dessas empresas j elaboram demonstraes contbeis ou nota de conciliao das diferenas entre as prticas contbeis adotadas no Brasil e as normas contbeis norteamericanas ou, ainda, as internacionais e, portanto, j efetuou e publicou os ajustes iniciais antes do processo de convergncia para as normas internacionais de contabilidade. Aplicao da ICPC 01, na data de transio, quando impraticvel a aplicao retroativa 48. Caso alguma companhia conclua que impraticvel a aplicao da ICPC 01 de forma retroativa, deve justificar os motivos e obter aprovao formal de seus rgos de administrao. Se tal justificativa for aprovada, a companhia deve utilizar os saldos contbeis, na data da transio, deduzidos de proviso para reduo ao valor recupervel dos ativos (impairment), se necessrio, e reclassificar parte do saldo como ativo financeiro e parte como ativo intangvel, se aplicvel. 49. Caso a aplicao retroativa seja impraticvel, a entidade deve estabelecer a premissa que utilizar para fazer a melhor estimativa do valor da indenizao, se houver (custo histrico, custo corrigido e/ou custo de reposio). Nesses casos, o teste de impairment na apurao dos saldos no balano de abertura requerido. 50. Com relao ao modelo bifurcado, a ICPC 01 no especificou o modelo de alocao da parcela do ativo financeiro e do ativo intangvel; portanto, depende do julgamento da administrao a escolha do mtodo que melhor reflita o
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negcio. Dentre os mtodos que podem ser utilizados e apresentados na literatura sobre o assunto, destacam-se: (a) mtodo do valor residual (residual method) - nesse mtodo, o ativo financeiro , geralmente, o primeiro valor a ser determinado no momento da alocao entre ele e o ativo intangvel. Esse fato determinado em razo de que, na avaliao individual desse ativo, outros conceitos de avaliao devem ser considerados necessrios (remunerao contratual, valor justo (fair value) e outros); portanto, diferente do critrio de avaliao anterior como ativo imobilizado (custo histrico ou custo reavaliado). Consequentemente, o saldo do ativo intangvel passa a ser apurado por diferena aps a alocao da parcela do ativo financeiro; (b) mtodo do valor justo relativo (relative fair value) - nesse mtodo, aps a alocao entre ativo financeiro e ativo intangvel, o ativo intangvel amortizado de acordo com o item 42 desta Orientao e a diferena entre o saldo do ativo financeiro e o seu valor justo amortizada no resultado do exerccio utilizando a taxa efetiva de juros.

Divulgao 51. A entidade deve divulgar nota explicativa sobre: (i) principais caractersticas dos contratos de concesso e dos contratos de arrendamento mercantil assinados com o poder concedente; (ii) especificidades inerentes outorga da concesso, ou seja, se fixa ou varivel, critrios de reajuste, indexadores, prazos, entre outros; (iii) os investimentos futuros contratados com o poder concedente indicando o tipo e o montante estimado de cada um deles na data do balano, as datas previstas de realizao; e (iv) o aumento (se houver) de receita em funo da realizao das obras. Os itens 28 a 30 da ICPC 01 fornecem detalhes quanto apresentao e divulgao que devem ser seguidas pelas entidades.

Concesso de rodovias
Aplicao da ICPC 01 52. A ICPC 01 se aplica s concesses rodovirias no Brasil, em geral, na medida em que as duas condies previstas no item 7 desta Orientao fazem com que

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esse tipo de concesso esteja dentro do alcance da ICPC 01. Aspectos relevantes tambm aplicveis concesso de rodovias esto tratados nos itens precedentes.

Concesso de ferrovias
Caractersticas dos contratos e aplicao da ICPC 01 53. As atividades de transporte ferrovirio no Brasil esto sujeitas a uma grande variedade de normas e leis, em grande maioria em mbito federal. A regulamentao do transporte ferrovirio no Brasil trata (a) das relaes entre o governo brasileiro e as companhias ferrovirias; (b) das relaes entre as companhias ferrovirias, incluindo os direitos de passagem e trfego mtuo; (c) das relaes entre as companhias ferrovirias e seus clientes; e (d) da segurana ferroviria. Essas regras contm, ainda, vrias disposies sobre as responsabilidades do operador de estradas de ferro. 54. Os principais instrumentos legais da indstria de ferrovias compreendem (a) o art. 175 da Constituio Federal, (b) a Lei n. 8.987/95 e (c) a Lei n. 10.233/01, sendo que o poder concedente exerce controle principalmente por meio da Agncia Nacional de Transportes Terrestre (ANTT), a qual atua no setor ferrovirio quanto : (i) explorao da infraestrutura ferroviria; (ii) prestao do servio pblico de transporte ferrovirio de cargas; (iii) prestao do servio pblico de transporte ferrovirio de passageiros. 55. A maioria das concessionrias de ferrovias atuais, oriundas da extinta Rede Ferroviria Federal S.A. (RFFSA)1 firmou dois contratos com o poder concedente, que so vinculados entre si para todos os efeitos. Um deles se refere ao contrato de concesso, onde so estabelecidas as clusulas para operao do servio e os valores de outorga que devem ser pagos pela concessionria ao poder concedente. Um segundo contrato diz respeito ao arrendamento dos bens previamente existentes e operados pela extinta Rede Ferroviria Federal S.A. (RFFSA). Esse ltimo contrato estabelece, entre outros aspectos, os valores a serem pagos ao poder concedente pela concessionria pelo uso dos bens mveis e imveis recebidos para a operao. Esses contratos, de forma geral, preveem
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As concesses no oriundas da RFFSA possuem apenas um contrato, o de concesso ou de subconcesso, para explorao do servio. Por no terem arrendado bens como a via permanente, no possuem contrato de arrendamento.
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uma srie de obrigaes e definies que devem ser cumpridas pela concessionria, entre elas:
(a) prazo de vigncia da concesso (a maioria com vigncia de 30 anos) e

condies para sua prorrogao (por mais 30 anos);


(b) deveres relativos explorao da infraestrutura e prestao dos servios,

incluindo elaborao de planos de investimentos;


(c) modo, forma e condies de explorao da infraestrutura e da prestao dos

servios, inclusive quanto segurana das populaes e preservao do meio ambiente;


(d) obrigaes dos concessionrios quanto s participaes governamentais e ao

valor devido pela outorga medida da explorao do servio, se for o caso;


(e) garantias a serem prestadas pelo concessionrio quanto ao cumprimento do

contrato, se existirem;
(f) as tarifas ferrovirias brasileiras esto sujeitas a limites mximos

estabelecidos pela ANTT, e esses limites so corrigidos monetariamente de acordo com a variao do IGP-DI (ou outro ndice que venha a substitu-lo), sendo que, atualmente, tais reajustes so feitos anualmente;
(g) os limites tarifrios podem ser revistos a pedido da concessionria, caso

ocorra alterao justificada de mercado e/ou de custos, de carter permanente, que modifique o equilbrio econmico-financeiro do contrato de concesso;
(h) o contrato de concesso permite, em condies especificadas, o direito de

cobrar tarifas comerciais livremente negociadas com os clientes, desde que no ultrapassem os limites mximos das tarifas de referncia para os respectivos tipos de carga (reajustadas conforme descrito na alnea (f)). O contrato de concesso determina, ainda, que nenhuma tarifa cobrada pela concessionria pode ficar abaixo do limite mnimo, definido como custo varivel de longo prazo da prestao do servio em questo. Ou seja, a prtica do denominado zero tarifrio no permitida pelo contrato de concesso;
(i) a concessionria pode cobrar por operaes auxiliares, tais como carga,

descarga, baldeao e armazenagem, sendo que o contrato de concesso no estabelece quaisquer limites mximos para essas cobranas ou quelas relacionadas natureza empresarial. Essas receitas so denominadas receitas complementares ou acessrias e receitas provenientes de projetos associados;
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(j) os limites tarifrios so reajustados de acordo com as variaes do IGP-DI (ou ndice que venha a substitu-lo), na forma da lei. Paralelamente, as tarifas podem ser revistas caso ocorra alterao justificada de mercado e/ou custos, de carter permanente, ou modifique o equilbrio econmicofinanceiro do contrato de concesso, a qualquer tempo, por solicitao da concessionria, ou por determinao do poder concedente, a cada cinco anos;
(k) os bens de propriedade da concessionria e aqueles resultantes de

investimentos por esta efetivados em bens arrendados, se declarados reversveis pelo poder concedente por serem necessrios continuidade da prestao de servio concedido, sero indenizados pelo valor residual do seu custo, apurado pelos registros contbeis da concessionria, depois de deduzidas as depreciaes e quaisquer acrscimos decorrentes de reavaliao. Tal custo estar sujeito avaliao tcnica e financeira por parte do poder concedente. Toda e qualquer melhoria efetivada na superestrutura da via permanente no considerada investimento;
(l) permitida a transferncia da titularidade das outorgas de autorizao,

concesso ou permisso, preservando-se seu objeto e as condies contratuais. A transferncia da titularidade da outorga s pode ocorrer mediante prvia e expressa autorizao da ANTT;
(m) os contratos de concesso fazem meno prestao de servio pblico de

transporte ferrovirio. Dessa forma, nos casos em que a concessionria e um determinado cliente no cheguem a um acordo em relao s condies comerciais do transporte, esse cliente tem o direito de recorrer Agncia Reguladora, para que a mesma arbitre deciso sobre o assunto. Segundo informaes de agentes do mercado consultados, essas situaes podem ser consideradas raras. Portanto, pode-se concluir que, apesar da existncia dessa salvaguarda nos contratos de concesso, os mesmos no estabelecem de forma rgida para quem os servios devem ser prestados, no obrigando a concessionria ao atendimento de demandas cujas condies comerciais no tenham sido acordadas entre as partes, pois h concorrncia com outras formas de transporte (por exemplo: rodovirio);
(n) os contratos de concesso dispem sobre a caracterizao, o registro e o

tratamento dos denominados usurios com elevado grau de dependncia do servio pblico de transporte ferrovirio de cargas, para os quais os servios devem ser prestados de forma prioritria. No entanto, segundo informaes colhidas junto a diversos agentes do mercado, esses clientes representam uma parcela pouco significativa dos negcios das
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concessionrias e, de forma geral, so normalmente atendidos nas condies comerciais usualmente praticadas com os demais clientes, o que no caracterizaria a figura de um servio obrigatoriamente prestado por fora de regulamentao do poder concedente;
(o) a concessionria deve promover a reposio de bens e equipamentos

vinculados concesso, bem como adquirir novos bens, de forma a assegurar a prestao do servio adequadamente;
(p) deve manter os seguros de responsabilidade civil e de acidentes pessoais

compatveis com suas responsabilidades para com o poder concedente, usurios e terceiros;
(q) deve dar, anualmente, conhecimento prvio ao poder concedente de plano

trienal de investimentos para atingimento dos parmetros de segurana da operao da ferrovia e das demais metas de desempenho estabelecidas;
(r) deve prover todos os recursos necessrios explorao da concesso por sua

conta e risco exclusivos. 56. Em que pese poder existir dois tipos de contratos com formas jurdicas distintas (concesso de servio pblico de transporte e arrendamento mercantil), a essncia econmica de ambos pode ser uma s, ou seja, a obteno do direito de explorao do servio de transporte ferrovirio. Se assim for, devem ser tratados como sendo um contrato nico de concesso de servio pblico. 57. Tendo por base as caractersticas estabelecidas na legislao, nos contratos de concesso e arrendamento e na premissa acima, o objetivo desta parte da Orientao concluir se a ICPC 01 se aplica ou no s concesses ferrovirias no Brasil. 58. A entidade deve analisar se a condio (a) prevista no item 7 desta Orientao atendida uma vez que a infraestrutura pode no estar disponvel para qualquer entidade que queira utiliz-la e, apesar de existir uma determinada rea de atuao para cada concessionria (devido localizao da malha ferroviria existente), a concessionria, de forma preponderante em seus negcios, pode no ser obrigada a prestar o servio de transporte para todo e qualquer usurio que a solicite (vide definies para casos especficos atrs). Pode ocorrer de tal servio ser prestado apenas se a concessionria e o referido usurio estiverem de acordo em relao s condies comerciais do transporte, principalmente o preo, o volume de carga e as caractersticas especficas do produto a ser transportado.

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59. Outro aspecto relacionado ao item anterior diz respeito ao preo pelo qual os servios de transporte so prestados. Apesar de existir um limite de preo (price cap) determinado no contrato de concesso, segundo informaes colhidas junto a diversos agentes de mercado os mesmos so raramente ou nunca atingidos, tendo em vista a existncia de concorrncia direta no servio de transporte, que exercida pela alternativa usualmente disponvel aos clientes do uso do transporte rodovirio. Assim, usualmente, os preos so negociados livremente entre a concessionria de ferrovias e seus clientes, inclusive considerando operaes em que so adquiridos materiais rodantes (vages e locomotivas) pelos prprios clientes, ficando a concessionria responsvel pelo servio de operao e gerenciamento do transporte. 60. Dessa forma, na medida em que no h controle para quem deve ser prestado o servio e no h controle de preo (no atingir os limites mximos tarifrios estabelecidos pelo poder concedente), conclui-se que no h, nas condies atuais, evidncias de que a ICPC 01 seja aplicvel s empresas concessionrias de servios ferrovirios, cujos contratos de concesso contenham clusulas substancialmente semelhantes quelas listadas no item 55 desse documento. 61. Na anlise da aplicao da ICPC 01 devem ser considerados (i) os requisitos de cada contrato de concesso, (ii) as caractersticas da operao da concessionria (por exemplo, a existncia de parcela significativa dos negcios caracterizada como prestao de servios a clientes categorizados como usurios com elevado grau de dependncia do servio pblico de transporte ferrovirio de cargas), bem como (iii) a prtica de preos os quais, na realidade, apesar de no atingirem o price cap estabelecido pelo poder concedente, podem representar, de fato, limitador negociao com os clientes. Tratamento da infraestrutura fora do alcance da ICPC 01 62. A infraestrutura no abrangida pela ICPC 01 deve ser analisada luz do Pronunciamento Tcnico CPC 04 Ativo Intangvel e do Pronunciamento Tcnico CPC 27 - Ativo Imobilizado (bens adquiridos pela concessionria posteriormente assinatura dos contratos), tendo em vista que os contratos de concesso e arrendamento prevm a cesso ao concessionrio do direito de controle legal (riscos e benefcios) do uso da infraestrutura para a prestao dos servios de transporte.

Indstria de energia
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63. A indstria de energia engloba trs atividades com diferentes marcos regulatrios, a saber: gerao, transmisso e distribuio. A atividade de comercializao uma atividade independente que no est vinculada assinatura de um contrato com o poder concedente.

Atividade de distribuio
Caractersticas dos contratos e aplicao da ICPC 01 64. Os contratos de concesso de distribuio no Brasil usualmente so similares e denominados contratos de concesso para distribuio de energia eltrica, e as principais caractersticas desses contratos costumam ser: (a) as empresas de distribuio tm a obrigao contratual de construir, operar e manter a infraestrutura. A obrigao de construo da infraestrutura pode estar de forma implcita ou explcita no contrato de concesso; (b) a maioria dos contratos tem o prazo de concesso de 30 anos; (c) na mdia, a vida til-econmica estimada dos bens integrantes da infraestrutura admitida como superior ao prazo de concesso; (d) a atividade de distribuio envolve duas atividades bsicas: de rede (ou de fio) e de comercializao; (e) a atividade de distribuio de rede no competitiva. Na atividade de distribuio de comercializao com grandes consumidores a atividade competitiva; (f) a concessionria (distribuidora/operadora) interposta entre o poder concedente e os consumidores finais dos servios (usurios); (g) a atividade est sujeita condio de generalidade e de continuidade; (h) o contrato tem garantia de manuteno do seu equilbrio econmicofinanceiro; (i) o contrato estabelece quais os servios e para quem (rea geogrfica de atendimento e classe de consumidores) os servios devem ser prestados; (j) o preo regulado por meio do mecanismo de tarifa estabelecido nos contratos de concesso com base em frmula paramtrica (com base no que so denominadas parcelas A e B), bem como so definidas as modalidades de reviso tarifria;
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(k) os bens so reversveis no final da concesso para o poder concedente, com direito de recebimento de indenizao desse poder concedente, ou por entidade que venha a assumir a concesso, sobre os investimentos com determinadas condies de operao remanescentes, normalmente ainda no depreciados ou amortizados. O que no est totalmente definido por legislao o critrio de avaliao desses investimentos para efeitos de determinao do valor da indenizao; (l) as modalidades de reviso tarifria incluem, como regra geral: (i) reajuste anual (reviso da parcela A - custos no gerenciveis pela distribuidora, como custo de energia comprada e encargos regulatrios); (ii) reviso peridica a cada quatro ou cinco anos (reviso da parcela B - custos gerenciveis pela distribuidora - custos de operao e manuteno, depreciao regulatria apurada com base no custo do atual imobilizado em servio avaliado a custo de reposio e remunerao dos acionistas apurado com base no wacc weigthted average cost of capital (custo mdio ponderado do capital) calculado sobre o saldo do ativo imobilizado em servio, lquido da depreciao acumulada e do saldo de obrigaes especiais, ambos avaliados pelo custo de reposio; e (iii) reviso extraordinria para situaes de desequilbrio econmico-financeiro do contrato. 65. Com base nas caractersticas estabelecidas nos contratos de concesso de distribuio de energia eltrica, entende-se que as duas condies previstas no item 7 desta Orientao so atendidas e, portanto, essa indstria se qualifica para aplicao da ICPC 01.

Modelo a ser utilizado 66. A infraestrutura recebida ou construda da atividade de distribuio recuperada por meio de dois fluxos de caixa: (a) parte por meio do consumo de energia efetuado pelos consumidores (emisso do faturamento mensal da medio de energia consumida/vendida) durante o prazo da concesso; e (b) parte como indenizao dos bens reversveis no final do prazo da concesso, a ser recebida diretamente do poder concedente ou para quem ele delegar essa tarefa.
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67. Os contratos de concesso de distribuio de energia eltrica garantem aos concessionrios o direito de receber indenizao na reverso de bens no final da concesso ou nos eventos previstos na extino da concesso. A avaliao se a previso contratual de indenizao representa um direito incondicional de receber caixa ou outro ativo financeiro diretamente do poder concedente ou para quem ele delegar essa tarefa deve ser feita pela administrao, uma vez que fundamental para concluir se o modelo bifurcado ou no o mais adequado s circunstncias. A concluso de que a indenizao referida no contrato representa um direito incondicional de receber caixa ou outro ativo financeiro pressupe que o poder concedente no tem qualquer alternativa realista seno a obrigao de entregar caixa ou outro ativo financeiro. 68. Essa indenizao efetuada com base nas parcelas dos investimentos vinculados a bens reversveis, ainda no amortizados ou depreciados, que tenham sido realizados com o objetivo de garantir a continuidade e a atualidade do servio concedido. 69. Com base no entendimento desses contratos e nos itens 15 a 19 da ICPC 01, caso na leitura dos contratos e legislao pertinente a indenizao seja considerada como um direito incondicional de receber caixa ou outro ativo financeiro, o modelo que melhor reflete o negcio de distribuio , considerando as condies (a) e (b) do item 7 desta Orientao, o modelo bifurcado, abrangendo: (a) a parcela estimada dos investimentos realizados e no amortizados ou depreciados at o final da concesso que deve ser classificada como ativo financeiro por ser um direito incondicional de receber caixa ou outro ativo financeiro diretamente do poder concedente; e (b) a parcela remanescente determinao do ativo financeiro (valor residual) que deve ser classificada como ativo intangvel em virtude de a sua recuperao estar condicionada utilizao do servio pblico, neste caso, pelo consumo de energia pelos consumidores. Mtodo de amortizao do ativo intangvel com vida til definida (CPC 04, itens 97 a 99) 70. No caso das empresas utilizado e que melhor econmicos esperados venda de energia. A distribuidoras, o mtodo de amortizao que pode ser reflete o padro de consumo em relao aos benefcios aquele que coincide com o mecanismo da tarifa da despesa de amortizao (anteriormente depreciao)
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includa na tarifa determinada com base na vida til econmica estimada de cada bem e apropriada de forma linear no prazo da concesso (perodo em que o servio pblico prestado utilizando a infraestrutura), a no ser que outra curva de amortizao possa oferecer razovel confiabilidade. 71. O poder concedente, representado por agncia reguladora, responsvel por estabelecer a vida til econmica estimada de cada bem integrante da infraestrutura de distribuio para efeito de determinao da tarifa, bem como para apurao do valor da indenizao dos bens reversveis no vencimento do prazo da concesso. Essa estimativa revisada periodicamente e aceita pelo mercado como uma estimativa razovel e adequada para efeitos contbeis e regulatrios e que representa a melhor estimativa de vida til econmica dos bens. Todavia, a responsabilidade final pela definio da vida til econmica de cada bem da entidade que reporta, e deve levar em considerao o valor residual da estrutura. importante lembrar que os contratos de concesso no Brasil tm prazo de vencimento e, portanto, sob o ponto de vista do acionista, so um negcio de vida finita e, sob o ponto de vista do consumidor, so uma prestao de servio pblico com prazo indeterminado. 72. O entendimento do CPC o de que o registro contbil das adies por substituio e das baixas ao ativo intangvel deve coincidir com o mecanismo de tarifa que reflete a forma de recuperao desses bens durante o prazo da concesso e, consequentemente, a sua amortizao deve acompanhar o padro de consumo em relao aos benefcios econmicos esperados. Especificamente, normalmente o mecanismo de tarifa garante, para cada adio efetuada por expanso e/ou por substituio, o respectivo repasse da depreciao regulatria e da remunerao do acionista, sendo que a depreciao regulatria calculada com base na vida til econmica estimada, estabelecida pelos reguladores. Quando o ativo estiver totalmente amortizado, mesmo que continue a ser utilizado na prestao de servio, a distribuidora no ter direito de receber tarifa correspondente depreciao regulatria e remunerao dos acionistas desse bem. 73. Deve ser lembrado que, no modelo bifurcado, o valor residual de cada bem que ultrapassa o prazo do vencimento da concesso j ter sido alocado como ativo financeiro de indenizao no momento anterior sua classificao como ativo intangvel. Reconhecimento da margem da receita da construo da infraestrutura, da operao e da manuteno
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74. A atividade de distribuio diferente das atividades de transmisso e de gerao. Essas duas ltimas exigem a realizao de investimentos relevantes no incio da concesso, que o da construo primria da infraestrutura (exemplo: uma usina hidreltrica ou uma linha de transmisso), e aps a entrada em operao, os investimentos efetuados so basicamente para manuteno e alguma substituio dessa infraestrutura, a no ser que ocorra expanso da infraestrutura. 75. No caso da atividade de distribuio, os contratos de concesso estabelecem padres de desempenho para prestao de servio pblico, com relao manuteno e melhoria da qualidade no atendimento aos consumidores, e a concessionria tem como obrigao, na entrega da concesso, devolver a infraestrutura nas mesmas condies em que a recebeu na assinatura desses contratos. Para cumprir com essas obrigaes, so realizados investimentos constantes durante todo o prazo da concesso. Portanto, os bens vinculados concesso podem ser repostos, vrias vezes, at o final da concesso. A determinao da margem de construo para cada investimento realizado mensalmente pelas distribuidoras durante o prazo da concesso carece de uma discusso especfica. 76. A determinao da margem da receita de construo, operao e manuteno durante o prazo da concesso consequncia direta de como o valor justo das respectivas receitas apurado e no o contrrio. Mesmo que as atividades de construo, operao e manuteno estejam implcitas nos contratos de concesso, a ICPC 01 exige a determinao da receita e da margem de cada atividade (fase). As margens podem ser equivalentes ou diferentes em cada atividade, dependendo de como o modelo do negcio tenha sido elaborado. Na essncia, margem positiva deve sempre existir, mesmo que seja considerada de valor mnimo, no caso de a distribuidora optar pela terceirizao. A apurao de margem negativa em alguma atividade (fase) muito rara e poder indicar problemas de recuperao dos ativos de forma geral. 77. O CPC entende que, independentemente da forma de contratao utilizada pela distribuidora para a construo da infraestrutura, por meio de terceirizao ou de estrutura interna, a distribuidora atua essencialmente como responsvel primria em relao aos servios de construo e instalao, por estar exposta aos riscos e benefcios significativos com eles associados; portanto, a margem de lucro e a receita decorrentes dos servios devem ser reconhecidas e assim apresentadas na demonstrao do resultado da distribuidora.

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78. As empresas de distribuio que contratam empresas de construo ou instalao da infraestrutura de distribuio do mesmo grupo econmico (partes relacionadas) precisam justificar que o valor justo da receita registrado decorrente de uma transao efetuada de acordo com as condies normais de mercado, a qual seria praticada em transaes similares efetuadas com terceiros. Obrigaes especiais 79. As obrigaes especiais representam os recursos relativos participao financeira do consumidor, das dotaes oramentrias da Unio, verbas federais, estaduais e municipais e de crditos especiais destinados aos investimentos aplicados nos empreendimentos vinculados concesso. As obrigaes especiais no so passivos onerosos, tampouco crditos dos acionistas. 80. At o segundo ciclo de reviso tarifria, os valores recebidos a custo zero pelas distribuidoras eram registrados no ativo imobilizado como bens integrantes da infraestrutura vinculada concesso e depreciados normalmente. No mecanismo de tarifa estava garantido somente o repasse da depreciao regulatria desses valores (os acionistas no tinham direito remunerao sobre esses valores). A contrapartida desses valores ainda era registrada em conta de natureza credora, apresentada no balano patrimonial como redutora do saldo da infraestrutura (antigo ativo imobilizado). O prazo esperado para liquidao dessas obrigaes era a data de trmino da concesso. No recebimento da indenizao dos bens revertidos ao poder concedente, o saldo dessa conta seria compensado. 81. Em 2006, as caractersticas dessas obrigaes sofreram modificaes regulatrias no mecanismo de tarifa, a saber: (a) esses valores no so mais componentes da formao da tarifa e, portanto, no mais garantido o repasse da depreciao regulatria desses valores; (b) a partir do segundo ciclo de reviso tarifria ordinria, as novas adies dessas obrigaes ao ativo imobilizado so depreciadas em contrapartida amortizao do passivo de obrigaes especiais, ou seja, so apresentadas pelo lquido na demonstrao do resultado (efeito neutro); (c) a partir do segundo ciclo de reviso tarifria ordinria, o saldo das obrigaes especiais remanescente passou a ser amortizado contabilmente pela mesma taxa mdia de depreciao do ativo imobilizado em servio correspondente; (d) o saldo remanescente no final da concesso, se houver, deve ser compensado com o valor da indenizao a receber. Caso a empresa distribuidora adote a
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base tarifria (BRR) para avaliar o ativo financeiro de indenizao, o saldo remanescente das obrigaes especiais no final da concesso tambm deve ser ajustada pela mesma base. 82. O tratamento a ser dado na data de transio da aplicao da ICPC 01 no modelo bifurcado como segue: (a) o saldo inicial de obrigaes especiais registrado na data de transio deve ser amortizado at o vencimento da concesso e, caso seja apurado saldo remanescente, este deve ser classificado como ativo financeiro, em conta redutora; (b) a parcela do saldo inicial que deve ser amortizado entre a data da transio da norma contbil e o vencimento da concesso deve ser classificada como ativo intangvel, em conta redutora. 83. Para os contratos de concesso que esto dentro do alcance da ICPC 01 no se aplica a ICPC 11 Recebimento em Transferncia de Ativos de Clientes (IFRIC 18 - Transfers of Assets from Customers).

Atividade de transmisso
Caractersticas dos contratos e aplicao da ICPC 01 84. Os contratos de concesso de transmisso de energia eltrica so similares e denominados contratos de concesso de servio pblico de transmisso de energia eltrica ou contratos de concesso para transmisso de energia, sendo geralmente as principais caractersticas desses contratos as seguintes: (a) as empresas de transmisso tm a obrigao contratual de construir, operar e manter a infraestrutura. A obrigao de construo da infraestrutura pode estar de forma implcita ou explcita no contrato de concesso; (b) a maioria dos contratos tem o prazo de concesso de 30 anos; (c) na mdia, a vida til econmica estimada do conjunto dos bens integrantes da infraestrutura superior ao prazo de concesso; (d) a atividade de transmisso no competitiva. No existe competio entre empresas (existe entre investidores, para obteno da concesso); (e) a concessionria (empresa de transmisso/operadora) interposta entre o poder concedente e os usurios;
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(f) a atividade sujeita condio de generalidade (direito de livre acesso) e de continuidade; (g) alguns contratos tm garantia de manuteno do equilbrio econmicofinanceiro; (h) o contrato estabelece quais os servios e para quem (usurios) os servios devem ser prestados; (i) o preo regulado (tarifa) e denominado receita anual permitida (RAP). A transmissora no pode negociar preos com usurios. Para alguns contratos, a receita RAP fixa e atualizada monetariamente por ndice de preos uma vez por ano. Para os demais contratos, a receita RAP atualizada monetariamente por ndice de preos uma vez por ano e revisada a cada cinco anos. Geralmente, a RAP de qualquer empresa de transmisso est sujeita a reviso anual devido ao aumento do ativo e de despesas operacionais decorrentes de modificaes, reforos e ampliaes de instalaes; (j) os bens so reversveis no final da concesso, com direito de recebimento de indenizao (caixa) do poder concedente sobre os investimentos ainda no amortizados. Existe discusso de interpretao legal e regulatria sobre qual contrato de concesso tem direito indenizao. Para contratos assinados aps 1995 existem diversas interpretaes sobre o direito ou no de receber indenizao no processo de reverso dos bens no final da concesso. A discusso especfica se o valor residual do custo do projeto bsico/original tambm ter direito indenizao ou somente as adies/investimentos posteriores realizados aps a construo do projeto bsico/original o tero, desde que aprovados pelo poder concedente; (k) as linhas de transmisso so de uso dos geradores, das distribuidoras, dos consumidores livres, exportadores e importadores. 85. Com relao tarifa RAP, os contratos de concesso apresentam atualmente trs modalidades, a saber: (a) os contratos assinados antes de 2000 estabelecem processo de reviso tarifria da RAP. Para esses contratos, a reviso tarifria feita a cada cinco anos, a partir de 2005; (b) para os contratos assinados entre 2000 e 2006, a RAP foi estabelecida por um valor fixo (menor preo do leilo), sendo esse valor atualizado monetariamente por ndice de inflao estabelecido no contrato e ajustado uma vez por ano. Esses contratos no estabelecem reviso tarifria e tm
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clusula de reduo de receita de 50% aps o 16 ano do prazo da concesso (o fluxo de caixa no linear); (c) os contratos assinados mais recentemente (novos leiles para licitao de novas linhas de transmisso) estabelecem: (i) a RAP inicial (menor preo do leilo); (ii) atualizao monetria por ndice de inflao estabelecida no contrato e ajustado uma vez por ano; e, ainda, (iii) reviso tarifria a cada cinco anos. 86. Na atividade de transmisso, a receita prevista no contrato de concesso (RAP) realizada (recebida/auferida) pela disponibilizao das instalaes do sistema de transmisso e no depende da utilizao da infraestrutura (transporte de energia) pelos geradores, distribuidoras, consumidores livres, exportadores e importadores. Portanto, no existe risco de demanda. Excepcionalmente, a RAP anual (fluxo de caixa) pode ser reduzida em decorrncia de indisponibilidade dos sistemas (performance). 87. De acordo com o entendimento do mercado e dos reguladores, o arcabouo regulatrio de transmisso brasileiro foi planejado para ser adimplente, garantir a sade financeira e evitar risco de crdito do sistema de transmisso. Os usurios do sistema de transmisso so obrigados a fornecer garantias financeiras administradas pelo Operador Nacional do Sistema Eltrico (ONS) para evitar risco de inadimplncia. 88. O poder concedente delegou entidade denominada Operador Nacional do Sistema Eltrico (ONS) (intermediria) a responsabilidade pela coordenao tcnica e operao dos sistemas de transmisso; ela tambm participa intenamente de todo o processo administrativo, comercial e financeiro vinculado atividade. A empresa de transmisso disponibiliza os ativos correspondentes utilizao pelo ONS a fim de propiciar e garantir, aos usurios, o uso e o acesso s instalaes do sistema de transmisso da rede bsica, para estes efetuarem suas transaes de energia eltrica. 89. A RAP de uma empresa de transmisso recebida das empresas que utilizam sua infraestrutura por meio da tarifa de uso do sistema de transmisso (TUST). Essa tarifa resulta do rateio entre os usurios da transmisso de alguns valores especficos: (i) a RAP de todas as transmissoras; (ii) os servios prestados pelo ONS; e (iii) os encargos regulatrios. Essa tarifa reajustada anualmente na mesma data em que ocorrem os reajustes das RAPs das transmissoras e deve ser paga pelos usurios do sistema, pelas geradoras e importadores (que colocam energia no sistema), pelas distribuidoras, pelos consumidores livres e
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exportadores (que retiram energia do sistema). Portanto, o poder concedente delegou aos usurios representados por agentes de gerao, distribuio, consumidores livres, exportadores e importadores o pagamento pela prestao do servio pblico de transmisso. A RAP faturada e recebida diretamente desses agentes. 90. Os principais contratos que integram o sistema de transmisso so os seguintes: (a) contrato de concesso de servio pblico de transmisso de energia eltrica, celebrado entre a Unio e a concessionria; (b) contrato de prestao de servio de transmisso (CPST), celebrado entre a concessionria e o ONS. Esse contrato estabelece as condies tcnicas e comerciais para disponibilizao das suas instalaes de transmisso para a operao interligada; (c) contrato de conexo ao sistema de transmisso entre a concessionria e os usurios (CCT); (d) contrato de uso do sistema de transmisso (CUST); (e) contrato de constituio de garantia (CCG). 91. Com base nas caractersticas dos contratos de concesso de transmisso de energia eltrica e condies estabelecidas no item 7 desta Orientao, entende-se que as companhias do setor esto inseridas no alcance da ICPC 01. Modelo a ser utilizado 92. A infraestrutura recebida ou construda recuperada por meio de dois fluxos de caixa: (a) parte a ser recebida diretamente dos usurios delegados pelo poder concedente (geradoras, distribuidoras, consumidores livres, exportadores e importadores) por meio do faturamento mensal da receita garantida (RAP) durante o prazo de concesso; e (b) parte como indenizao (para os casos que existe o direito contratual) dos bens reversveis no final do prazo da concesso, a ser recebida diretamente do poder concedente ou para quem ele delegar essa tarefa. 93. Com base no entendimento da maioria desses contratos e nos itens 15, 16 e 19 da ICPC 01 e ainda nos itens BC42, BC43, BC49 e BC54 da IFRIC 12, o modelo que melhor reflete o negcio de transmisso o modelo ativo financeiro, pois: (a) a RAP, assegurada anualmente, contempla a construo, a operao e a manuteno e realizada (recebida/auferida) pela disponibilizao da infraestrutura e no por sua utilizao (transporte de energia) pelos usurios
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(geradoras, distribuidoras, consumidores livres, exportadores e importadores); portanto, no existe risco de demanda para a empresa de transmisso; (b) o poder concedente delegou s geradoras, distribuidoras, consumidores livres, exportadores e importadores o pagamento mensal da RAP, que por ser garantida pelo arcabouo regulatrio de transmisso, constitui-se em direito contratual incondicional de receber caixa ou outro ativo financeiro; (c) a parcela estimada dos investimentos realizados e no amortizados ou depreciados at o final da concesso ser classificada como ativo financeiro por ser um direito incondicional de receber caixa ou outro ativo financeiro diretamente do poder concedente ou para quem ele delegar essa tarefa; (d) a parcela do ativo financeiro relativa indenizao dos ativos, quando aplicvel, deve ser includa no modelo do fluxo de caixa, considerando a premissa adotada pela administrao para o seu recebimento (valor residual avaliado ao custo histrico, custo corrigido ou custo de reposio/base tarifria, se aplicvel). Consideraes do modelo ativo financeiro 94. Para a operacionalizao do modelo ativo financeiro necessrio atentar para as seguintes consideraes: (a) aplicao retroativa de todos os contratos de concesso assinados aps 1995 (novas licitadas) para evitar distoro na apurao da taxa efetiva de juros do ativo financeiro relacionado construo; (b) critrio para a separao (alocao) da receita de construo, operao e manuteno do total do contrato; (c) aplicao do ndice de inflao do contrato para calcular corretamente a inflao j incorrida do valor total do contrato e respectiva alocao entre receita de construo, operao e manuteno; (d) apurao da remunerao incorrida da parcela do ativo financeiro da construo, da operao e da manuteno (separadamente); (e) critrio de separao do valor do faturamento mensal (fluxo de caixa) para alocao da parcela de receita de operao e manuteno e da parcela a ser reduzida do saldo do ativo financeiro, considerada como amortizao do contrato (recebimento); (f) critrio de apurao da margem de construo; (g) critrio para apurao da taxa efetiva de juros. Tratamento das adies por expanso e reforo
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95. No caso da atividade de transmisso, independentemente do tipo de contrato de concesso assinado, as adies por expanso e reforo geram fluxo de caixa adicional e, portanto, esse novo fluxo de caixa (receita de construo) deve ser incorporado ao saldo do ativo financeiro, devendo uma nova taxa efetiva de juros ser apurada pelo prazo remanescente da concesso para essa parcela (novo ativo financeiro). Tratamento das adies e baixas por substituio 96. As empresas de transmisso somente podem registrar um novo ativo financeiro caso as adies por substituio gerem fluxo de caixa adicional, lquido de eventuais baixas.

Atividade de gerao
Caractersticas dos contratos e aplicao da ICPC 01 97. Os contratos de concesso de gerao de energia eltrica podem apresentar diversas modalidades e, dependendo da data de sua assinatura, o marco regulatrio diferente, a saber: (a) Contrato de concesso de servio pblico i. At 1995, os contratos de concesso das empresas estatais federais e estaduais e de algumas empresas privadas no foram formalizados. Com a edio da Lei n 8.987/95 (Lei da Concesso), que dispe sobre o regime de concesso e permisso, e da Lei n 9.074/95, que estabelece normas para outorga e prorrogaes das concesses e permisses de servios pblicos, esses contratos tiveram de ser, obrigatoriamente, formalizados, incluindo as novas condies contratuais exigidas pela nova legislao, amparada pelo Constituio Federal. (b) Contrato de uso do bem pblico (UBP) i. Esses contratos foram assinados pelos novos investidores que adquiriram ativos existentes no processo de privatizao, bem como nos processos de licitao para construo de novos empreendimentos. O regime de explorao foi alterado para produo independente de energia (PIE). ii. No perodo de 1995 a 2003, a principal condio para participao nos leiles de privatizao de ativos existentes e/ou de licitao para a
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construo de novos empreendimentos era o investidor ofertar o maior valor do UBP (concesso onerosa). iii. A partir de 2004, com o novo marco regulatrio de energia, estabelecido pela Lei n 10.848/04, a principal condio para participao dos leiles de licitao para construo de novos empreendimentos de energia o investidor ofertar o menor preo de venda de energia para comercializao no mercado regulado (cativo - distribuidoras) e, ainda, a exigncia de que, no mnimo, 70% da energia assegurada do empreendimento seja destinada a esse mercado e somente 30% remanescente podendo ser comercializada no mercado livre. Portanto, a assinatura do contrato de UBP est atrelada assinatura do contrato de compra e venda de energia (PPA) pelo menor preo ofertado no leilo. O preo mnimo ofertado no leilo prevalece durante o prazo de 30 a 35 anos da concesso e somente atualizado pelo ndice de preos estabelecido no contrato. Somente os 30% da energia assegurada podem ser vendidos livremente durante o prazo da concesso. Tambm para esses casos continua existindo a exigncia contratual de pagamento do UBP (concesso onerosa) durante o prazo da concesso, mas o valor definido pelo poder concedente. iv. importante ressaltar que podem existir casos de contratos em que o percentual destinado ao mercado livre diferente dos 30%. A anlise de cada contrato deve ser feita individualmente. (c) Autorizao i. As autorizaes so destinadas geralmente aos empreendimentos termeltricos e de energia renovveis, tais como pequenas centrais hidreltricas (PCH), elicos, biomassa, solar e outros. O processo de obteno das autorizaes mais simplificado. 98. As principais caractersticas dos contratos mencionados no item anterior costumam ser: (a) as empresas de gerao de novos empreendimentos tm a obrigao contratual de construir, operar e manter a infraestrutura. A obrigao de construo da infraestrutura pode estar de forma implcita ou explcita no contrato de concesso; (b) a maioria dos contratos tem prazo de concesso entre 30 e 35 anos (hidreltrica, PCH e elica) e de 20 anos (termeltrica), podendo existir excees;
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(c) no caso dos empreendimentos hidreltricos, a vida til econmica mdia estimada dos principais bens integrantes da usina ultrapassa o prazo da concesso; (d) no caso dos empreendimentos termeltricos e elicos, a vida til econmica mdia estimada dos principais bens integrantes dessas usinas , normalmente, inferior ao prazo da concesso/autorizao; (e) de acordo com a Lei n. 9.648/98, art. 10, passa a ser de livre negociao a compra e venda de energia eltrica entre concessionrios, permissionrios e autorizados observados prazos e condies, exceto energia gerada pela Itaipu Binacional e pela Eletrobrs Termonuclear S.A. Eletronuclear; (f) a partir de 2004, foram criados oficialmente dois ambientes para a comercializao de energia, a saber: (i) ambiente regulado (cativo distribuidoras) e (ii) ambiente livre; embora os agentes j pudessem vender, desde 1995 (Lei n. 9.074/95) para as distribuidoras e os consumidores livres; (g) a partir de 2004, foi retirada a clusula de equilbrio econmico-financeiro do contrato de concesso, deixando de ser tarifa e passando a ser preo com risco para o investidor. Os contratos de uso do bem pblico assinados antes de 2004 j no continham tal clusula; (h) os bens so reversveis no vencimento da concesso (hidrulica - grande porte e PCH), com direito ou no indenizao. No caso das novas termeltricas, elicas e biomassa, os ativos so prprios e, portanto, somente nesses casos os bens no so reversveis no vencimento da concesso. Podem existir excees; (i) existe discusso de interpretao legal com relao ao direito de indenizao somente do valor residual do custo de construo do projeto bsico original dos contratos de UBP, assinados aps 1995, no regime de produo independente de energia (PIE), e sob a gide do Decreto n. 2003, art. 20; (j) no definem rea de concesso; (k) no definem critrios e procedimentos para reajuste e reviso das tarifas; (l) no estabelecem obrigaes da concessionria, inclusive os relacionados s previsveis necessidades de futura alterao e expanso do servio; (m)no estabelecem direitos e deveres dos usurios para obteno e utilizao do servio;

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(n) no h tarifas definidas pelo poder concedente, exceto para algumas pequenas geradoras, localizadas na rea de concesso de distribuidoras, que foram desverticalizadas (gerao distribuda) e que utilizam a mesma infraestrutura da distribuidora, e cujos contratos de venda de energia estabelecem que os preos sejam reajustados de acordo com o processo de reviso tarifria da respectiva distribuidora; 99. Alerta-se que, devido complexidade do entendimento do arcabouo regulatrio da atividade de gerao, considerando as diversas modalidades de contratos de concesso, os diferentes marcos regulatrios, os dois ambientes de comercializao de energia, os aspectos relacionados ao Programa de Incentivo do PROINFA e as regras para a gerao distribuda, necessria a anlise individual de cada contrato de concesso/UBP/autorizao para a concluso sobre se est ou no dentro do alcance da ICPC 01, considerando as condies (a) e (b) previstas no item 7 desta Orientao.

100. Genericamente, aos contratos de concesso de gerao assinados antes de 2003, podendo existir excees, no se aplica a ICPC 01 por no atenderem condio (a) da norma. 101. Tambm genericamente, para os contratos de concesso de gerao assinados depois do novo marco regulatrio de 2004, cuja condio primria para participao do leilo est atrelada assinatura do contrato do UBP, em conjunto com o contrato de compra e venda de energia (PPA - menor preo), e, ainda, obrigatoriedade de atendimento ao mercado regulado com a alocao de 70% da energia assegurada (cativo - distribuidoras) durante o prazo da concesso, a concluso na primeira anlise seria de que esses contratos esto dentro do alcance da ICPC 01. Para a concluso de fato da aplicao da ICPC 01, necessrio fazer-se uma anlise complementar especfica de cada contrato de concesso e de outros aspectos desse negcio, tais como: (a) a expectativa de venda dos 30% restantes da energia assegurada no mercado livre, com preo superior ao preo estabelecido no leilo para atendimento ao mercado regulado, resultando em uma receita no regulada de valor relevante em relao receita total esperada do contrato. Como os 30% no so genricos, cada contrato precisa ser analisado individualmente; (b) a impossibilidade de separar fisicamente a infraestrutura de gerao que ir produzir energia para atendimento ao mercado regulado e ao mercado livre; (c) a forma como os modelos de negcios foram elaborados pelos investidores (por exemplo, para empreendimentos de energias renovveis).
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Com base nos aspectos complementares analisados anteriormente, entendimento do CPC que a condio estabelecida no item 5(a) da ICPC 01 no atendida conjugada com o item GA7 da mesma norma. Podem existir excees, portanto, importante analisar individualmente os contratos. 102. Os empreendimentos de PCHs e elicos vinculados ao Proinfa podem estar enquadrados no alcance da ICPC 01, dependendo de como o modelo de negcio tiver sido elaborado pelo investidor. 103. Os empreendimentos denominados gerao distribuda podem estar enquadrados no alcance da ICPC 01, dependendo das condies de como o contrato de venda de energia tiver sido estabelecido. Modelo a ser utilizado no caso de se aplicar a ICPC 01 104. Para os contratos de concesso/UBP/autorizao de gerao, que se enquadram no alcance da ICPC 01, a infraestrutura recebida ou construda recuperada por meio de dois fluxos de caixa, a saber: (a) parte a ser recebida diretamente dos agentes do mercado regulado e mercado livre; e (b) parte como indenizao (para os casos em que existe o direito contratual incondicional de receber caixa ou outro ativo financeiro) dos bens reversveis no final do prazo da concesso, esta a ser recebida diretamente do poder concedente ou a quem ele delegar essa tarefa. 105. A avaliao sobre se a previso contratual de indenizao representa um direito incondicional de receber caixa ou outro ativo financeiro deve ser feita pela administrao, uma vez que fundamental para concluir se o modelo bifurcado ou no o mais adequado s circunstncias. A concluso de que a indenizao referida no contrato representa um direito incondicional de receber caixa ou outro ativo financeiro pressupe que o poder concedente ou a quem ele delegar essa tarefa no tem qualquer alternativa realsta seno a obrigao de entregar caixa ou outro ativo financeiro. 106. Com base no entendimento desses contratos e nos itens 15 a 19 da ICPC 01, caso na leitura dos contratos a indenizao seja considerada como um direito incondicional de receber caixa ou outro ativo financeiro, o modelo que melhor reflete o negcio de gerao o modelo bifurcado, abrangendo: (a) a parcela estimada dos investimentos realizados e no amortizados ou depreciados at o final da concesso que deve ser classificada como ativo financeiro por ser um direito incondicional de receber caixa ou outro ativo
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financeiro diretamente do poder concedente ou para quem ele delegar essa tarefa; (b) a parcela remanescente determinao do ativo financeiro (valor residual) que deve ser classificada como ativo intangvel em virtude de a sua recuperao estar condicionada venda de energia no mercado regulado e no mercado livre. Contratos de concesso de gerao fora do alcance da ICPC 01 107. Os contratos de concesso de gerao fora do alcance da ICPC 01 devem ser analisados luz dos Pronunciamentos Tcnicos CPC 06 - Operaes de Arrendamento Mercantil, Pronunciamento Tcnico CPC 27 - Ativo Imobilizado e Pronunciamento Tcnico CPC 04 - Ativo Intangvel. 108. importante lembrar que alguns contratos de concesso de gerao assinados no Brasil, especialmente de hidroeltrica, termeltrica e biomassa tm caractersticas de arrendamento mercantil financeiro. Adoo inicial do CPC 27 109. Caso os contratos de concesso analisados enquadrem a infraestrutura conforme o CPC 27 - Ativo Imobilizado, a empresa de gerao pode optar pela aplicao da norma retroativamente ou utilizar o conceito de custo atribudo (deemed cost) na adoo inicial conforme previsto na ICPC 10. 110. As empresas de gerao que optarem pela aplicao na norma retroativamente devem proceder aos seguintes ajustes principais: (a) eliminao do saldo remanescente de despesas administrativas indiretas capitalizadas; (b) saldo remanescente de juros de capital prprio capitalizados (juros sobre obras em andamento (JOA) e despesas de remunerao de imobilizaes em curso (DRIC)); (c) custos financeiros (variaes monetrias/cambiais, juros e outras) capitalizados em excesso aos juros de mercado; (d) custos retardatrios, tais como contingncias e custos socioambientais capitalizados aps a entrada em operao comercial dos empreendimentos e outros no permitidos pelo Pronunciamento e demais normas aplicveis. 111. As empresas de gerao que optarem pela utilizao do conceito de custo atribudo na avaliao dos bens integrantes da infraestrutura de gerao, vinculados a uma concesso, devem levar em considerao os valores justos limitados aos valores de recuperao admitidos pelos reguladores e respeitar a
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vida til econmica estimada pelos reguladores que vem sendo aceita pelo mercado como adequada, a menos que exista evidncia robusta de que outra vida til mais adequada. necessrio atentar para o fato de que o valor residual, para efeitos de indenizao, aquele que apurado de acordo com as vidas teis estimadas pelos reguladores. 112. Por exemplo, na avaliao do valor justo de terrenos alagados ou ao redor dos reservatrios, normalmente, o valor dos terrenos no depreciado a menos que no seja recupervel no final da concesso, ou seja, sem direito indenizao. Para os casos em que os terrenos tenham o direito de indenizao ao final da concesso, para efeitos de avaliao do seu valor justo, o avaliador no pode considerar a valorizao dos terrenos a partir da data de sua incorporao infraestrutura da atividade de gerao, por meio de aquisio ou desapropriao, at a data de transio da norma, uma vez que essa valorizao somente seria realizada se os terrenos pudessem ser vendidos a terceiros; como esses terrenos esto vinculados a uma concesso, esse ganho jamais ser realizado. Para essa avaliao, devem ser considerados os critrios de avaliao utilizados pelos reguladores no processo de avaliao dos bens a custo de reposio, para efeitos de reviso tarifria, conforme vem sendo utilizado nas empresas distribuidoras. Os reguladores determinam que os valores dos terrenos sejam avaliados ao custo histrico corrigido por um ndice de preos. Assim sendo, o conceito aplicvel a esse caso o valor em uso. 113. Deve ser lembrado que o conceito de custo atribudo (deemed cost) permite que na determinao do valor justo dos ativos sejam adotadas outras metodologias alm do custo de reposio. 114. Nas situaes em que a geradora uma investida e tenha optado pelo registro do custo atribudo, o registro dos ajustes (positivos ou negativos) como resultado dessa nova avaliao dos ativos registrados na conta de avaliao patrimonial no patrimnio lquido da investida deve ser efetuado na empresa investidora (controladora) como ajuste reflexo na conta de avaliao patrimonial, tambm no patrimnio lquido. 115. Apesar de no existir previso expressa nas normas contbeis para que esse ajuste seja registrado como redutor da conta de gio por expectativa de rentabilidade futura apurado na aquisio da investida, anlise especfica da situao deve ser procedida. Amortizao dos bens integrantes da infraestrutura de gerao
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116. Para os bens integrantes da infraestrutura de gerao vinculados aos contratos de concesso (uso do bem pblico) assinados aps 2004, sob a gide da Lei n. 10.848/04 (novo marco regulatrio), que no tenham direito indenizao no final do prazo da concesso no processo de reverso dos bens ao poder concedente, esses bens, incluindo terrenos, devem ser amortizados com base na vida til econmica de cada bem ou no prazo da concesso, dos dois o menor, ou seja, a amortizao est limitada ao prazo da concesso. 117. O mesmo tratamento contbil deve ser analisado para os contratos de concesso (uso do bem pblico) assinados entre 1995 a 2004, sob a gide do Decreto n. 2003, art. 20. Reconhecimento da receita dos contratos de venda de energia (PPA) pelas geradoras 118. Alguns contratos de venda de energia de longo prazo foram assinados contendo, alm da clusula de atualizao monetria por ndice de preos, a previso de aumento real ou reduo do preo contratado. Esses contratos, que preveem aumento ou reduo de preo acima do ndice previsto, devem ter a receita contratual reconhecida de acordo com o Pronunciamento Tcnico CPC 30 Receitas, ou seja, no momento em que ocorrer a transferncia dos riscos e benefcios referente energia produzida. O mesmo tratamento contbil deve ser observado para o custo da energia comprada amparada por essa natureza de contrato nas empresas que compraram. Nesse contexto, deve ser considerado que: (a) no caso de previso de aumento de preo na energia a ser fornecida no futuro, esse efeito afetar as receitas derivadas desse fornecimento no futuro; e (b) no caso de previso de reduo de preo na energia a ser fornecida no futuro, parcela da receita obtida antes dessa alterao dever ser diferida para fins de linearizao da receita ao longo do tempo. Registro dos custos socioambientais empreendimentos de energia relacionados construo dos

119. O valor dos custos socioambientais nos empreendimentos de energia significativo, podendo representar na mdia entre 5% e 30% do total do oramento da construo desses empreendimentos. Muitas vezes, esse valor desembolsado durante o prazo da concesso. Para efeitos de registro contbil de
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todos os custos relacionados construo desses empreendimentos, os quais sero desembolsados no futuro durante o prazo da concesso, a geradora deve elaborar a melhor estimativa dos desembolsos futuros trazidos a valor presente; esse valor deve ser registrado como custo do ativo imobilizado, que deve ser depreciado a partir da entrada em operao comercial do empreendimento. Esse critrio est suportado pelo item 11 do Pronunciamento Tcnico CPC 27 Ativo Imobilizado (custos iniciais). 120. Aps a entrada em operao comercial do empreendimento, caso a administrao identifique que a estimativa inicial desses custos dever sofrer ajustes relevantes para mais ou para menos ou por reverso do ajuste a valor presente, a proviso deve ser ajustada em contrapartida ao ativo imobilizado, na conta que recebeu o dbito original. Registro dos custos de renovao das licenas ambientais aps a entrada em operao comercial do empreendimento 121. Aps a entrada em operao dos empreendimentos exigido pela legislao ambiental brasileira que sejam obtidas as licenas de operao, que dependendo dos rgos ambientais de cada municpio e estado podem ter prazo entre dois e cinco anos ou ainda outro prazo, mas sempre limitado a 10 anos. Caso os custos ambientais associados obteno dessas licenas sejam pagos antes da obteno efetiva da licena, o valor desembolsado deve ser registrado como ativo intangvel - licenas de operao e amortizado pelo prazo da vigncia da licena. Se a licena for obtida antes dos desembolsos, no momento inicial da vigncia da licena o custo estimado desses desembolsos deve ser provisionado e registrado como ativo intangvel licenas de operao e amortizado pelo prazo de vigncia da licena. Registro de custos retardatrios 122. No mais permitido o registro de custos retardatrios, tais como custos socioambientais, contingncias e outros aps a entrada em operao comercial dos empreendimentos de gerao de acordo com os conceitos introduzidos pelo Pronunciamento Tcnico CPC 27. Somente permitida a capitalizao de custos que aumentam a vida til dos bens integrantes da infraestrutura de gerao e que geram fluxo de caixa adicional (receita). Aparentemente, somente os novos investimentos para repotencializao podem ser capitalizados. Os custos com grandes substituies que aumentam a vida til dos bens devem ser
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capitalizados e o valor registrado anteriormente deve ser baixado, para evitar duplicidade de custos. 123. importante lembrar que a maioria dos empreendimentos de gerao no tem tarifa, tem preo negociado; somente podem ser capitalizados custos que gerem aumento da receita operacional (fluxo de caixa adicional). Despesas de manuteno 124. O registro contbil das despesas de manuteno dos empreendimentos de gerao deve observar os conceitos introduzidos pelo Pronunciamento Tcnico CPC 27 - Ativo Imobilizado e pelo Pronunciamento Tcnico CPC 25 Provises, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes. Concesso onerosa 125. O registro contbil dos custos relacionados concesso onerosa na indstria de energia eltrica aplica-se to somente s empresas de gerao que possuem no seu parque gerador usinas hidreltricas, cujos contratos de concesso foram assinados na modalidade denominada uso do bem pblico (UBP). Esses contratos existem nas empresas j privatizadas (com ativos de gerao existentes ou em construo) e nas empresas denominadas novas licitadas (novos ativos - as empresas tm a responsabilidade de construir, operar e manter as novas usinas hidreltricas). Esses contratos podem ter sido assinados antes do novo marco regulatrio de 2004, cuja concesso foi objeto de licitao pelo pagamento do maior valor pelo UBP, ou depois do novo marco regulatrio de 2004, cuja concesso objeto de licitao pelo menor preo de venda de energia eltrica, mas, ainda assim, o poder concedente estabelece o valor do UBP. 126. Esses contratos possuem clusula que prev o pagamento das parcelas do UBP ao longo do perodo da concesso. Dependendo do contrato, o cronograma de pagamento diferenciado, a saber: (a) em parcelas mensais fixas durante o prazo da concesso; (b) em parcelas mensais fixas ou variveis (no lineares) nos primeiros cinco a sete anos do prazo da concesso; (c) em parcelas mensais fixas ou variveis (no lineares) nos ltimos cinco a sete anos do prazo da concesso.

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127. Em todos os casos, as parcelas so atualizadas monetria e anualmente, desde a data de assinatura do contrato, por um ndice de preos estabelecido nos contratos de concesso, e os valores so cobrados a partir da entrada em operao do empreendimento hidreltrico (perodo de carncia). No h incidncia de juros. Prorrogao e renovao do prazo da concesso das geradoras, transmissoras e distribuidoras 128. Atualmente, as situaes de contratos de concesso na indstria de energia em relao prorrogao e renovao so as seguintes: (a) empresas privatizadas, cujos contratos foram assinados com prazo de 30 anos e com previso de prorrogao a critrio do poder concedente (poder discricionrio); (b) empresas no privatizadas, em sua maioria empresas estatais federais e estaduais. Para esse grupo, cujas concesses tinham sido concedidas anteriormente a 1995, antes da edio da Lei n. 8.987/95 (denominada Lei das Concesses), que tinha como objetivo viabilizar o processo de privatizao, foi dado tratamento especial sob determinadas condies que resultou na concesso de prazo de prorrogao especial por um perodo adicional de 20 anos. Alguns desses contratos ainda preveem a possibilidade de prorrogao. Assim sendo, a partir de 2015 e 2016, grande parte dessas concesses estar vencida; (c) empresas de gerao licitadas a partir do novo marco regulatrio de 2004 (Lei n. 10.848/04) tiveram o prazo de concesso estendido para 35 anos, sem possibilidade de prorrogao. 129. Ainda no foi editada legislao especfica estabelecendo os critrios para prorrogao ou renovao das concesses a vencer a partir de 2015, inclusive sobre se esta ser uma prorrogao especial com custo ou sem custo ou, ainda, se ser uma nova licitao com custo. Tambm no existe histrico de prorrogao ou renovao no Brasil. Desde 1995 (Nova Lei das Concesses), nenhuma empresa de distribuio ou transmisso passou pelo processo de prorrogao ou renovao. Ocorreram algumas prorrogaes com custo e sem custo para atendimento a situaes especficas na atividade de gerao, nada que pudesse ser considerado um histrico de tendncias. Atualmente, no Brasil existe certa indefinio legal/regulatrio/constitucional que est sendo discutida pelo mercado. J existem diversos projetos de lei e emenda constitucional sendo
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discutidos na Cmara dos Deputados, mas ainda no possvel prever o resultado dessa discusso no Congresso Brasileiro. 130. As situaes acima descritas e suas consequncias, devem ser avaliadas pela concessionria luz do disposto nos items 93 a 96 do Pronunciamento Tcnico CPC 04 Ativo Intangvel.

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