Os Maias
Os Maias
Os Maias
Ttulo: Os Maias
Histria da famlia Maia atravs de 3 personagens
masculinas (Afonso, Pedro e Carlos), representativos de 3 geraes
diferentes;
AO
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A arquitetura do romance:
intriga (Os Maias)
Ao:
AO
A intriga principal: consiste nas sequncias narrativas com maior relevncia dentro da
histria e que, por isso, detm um tratamento privilegiado no universo narrativo.
Eplogo: ltimo captulo, visita de Carlos e Ega a Lisboa 10 anos depois da morte de
Afonso e da separao de Carlos e Maria Eduarda;
AO
Pedro suicida-se;
AO
A estrutura trgica
Em Os Maias revelaes casuais de Guimares. Este, que fora do ntimo de M Monforte em Paris, revela casualmente
a Ega a verdadeira identidade de M Eduarda e entrega-lhe uma caixa com papis importantes que Monforte, em tempos,
lhe pedira para guardar (captulo XVI). Este facto, ao tornar incestuoso o amor de Carlos e M Eduarda, altera
inesperademente o rumo da ao.
Reconhecimento: revelao de dados novos. Em Os Maias momento em que Carlos e Maria Eduarda ficam a saber que
so irmos. As declaraes de Guimares a Ega sobre as origens de M Eduarda, bem como as fatdicas confidncias na
carta de M Monforte (captulo XVII), so igualmente dadas a conhecer a Carlos, a Afonso da Maia, a Maria Eduarda e,
mesmo, a Vilaa;
Catstrofe: desenlace com punio, geralmente morte fsica ou moral. Em Os Maias o desfecho calamitoso: Afonso da
Maia morre e Carlos e M Eduarda separam-se definitiva e irreversivelmente, morrendo tambm um para o outro.
AO
Presena do destino:
AO
Presena de pressgios:
Quando Afonso v Maria Monforte e parece-lhe que ela envolve Pedro numa mancha vermelha
sombrinha escarlate; compara-a a uma esttua de mrmore=morte;
Ega previne Carlos de que, pela sua inconstncia sentimental, ainda acabar mal: hs-de acabar
numa tragdia infernal;
Nas corridas de cavalos, perante a sorte nas apostas, a ministra da Baviera diz a Carlos para ter
cuidado;
Carlos considera um sinal de felicidade a semelhana dos nomes: Carlos Eduardo e Maria Eduarda;
No incio do seu relacionamento e em casa de Maria Eduarda h 3 lrios que murcham = fim da
familia Maia (3 geraes);
AO
Neste jantar Ega pretende homenagear Cohen, o marido de Raquel, por quem Ega estava
apaixonado e com quem mantinha uma relao. neste momento que Carlos entra no meio social
lisboeta, adoptando, no entanto, uma atitude distante que o caracterizar at final da ao. Neste
episdio, interessa realar a emisso de juzo das personagens que nos permitem compreender o
panorama cultural do pas. Destacam-se os seguintes:
Poltica: Ega critica a decadncia do pas e afirma desejar a bancarrota e a invaso espanhola;
AO
Um dos episdios preferidos pelo prprio autor, este quadro uma crtica tendncia dos
portugueses para imitar aquilo que se fazia nos restantes pases europeus e que se considerava como
sinal de progresso, quando, afinal, muitas vezes, no nos identificvamos com aquilo que
importvamos. Assim, o ambiente que deveria ser requintado, mas que tambm deveria apresentar a
ligeireza desportiva para que remete o acontecimento, torna-se espelho da falta de gosto e de
educao dos participantes (os portugueses): realidade vs aparncia:
A sensaboria, revelada pelo facto de as pessoas no revelarem qualquer interesse pelo evento;
AO
O objetivo deste jantar reunir a alta burguesia e aristocracia, apresentando a ignorncia das
classes dirigentes que revelam incapacidade de dilogo por manifesta falta de cultura.
Gouvarinho e Sousa Neto discutem. O primeiro, que vai ser ministro, revela imensa ignorncia, no
compreendendo a ironia de Ega. retrogrado e tem lapsos de memria.
Sousa Neto desconhece o socilogo Proudhon, deputado, no entra nas discusses e acata
pacificamente as opinies alheias. Defende a imitao do estrangeiro.
AO
A imprensa tambm largamente criticada por meio de vrios sucedidos. Ea pretende descrever a
situao do jornalismo portugus, confrontando-a com a situao do pas. Dois jornais so alvo de
crtica A Tarde e A Corneta do Diabo. Este ltimo, cujo diretor o imoral Palma Cavalo, tem
uma redao imunda. este jornal que publica o artigo de Dmaso por dinheiro, mas acaba por
vender todo esse nmero do jornal a Carlos, tambm por dinheiro. As suas publicaes so, assim,
de baixo nvel;
A Tarde, cujo diretor o deputado Neves, serve-se da carta de retratao de Dmaso, como meio de
vingana contra o inimigo poltico. Este jornal publica apenas artigos dos seus correligionrios
polticos. Assim, Ea pretende denunciar o baixo nvel, a intriga suja, o compadrio (intimidade)
poltico, desses jornais que considera espelhos do pas.
AO
Um sarau uma reunio festiva com oratria, msica e poesia. Em Os Maias, o sarau realizou-se
no Teatro da Trindade, e teve atuaes a todos estes nveis:
A crtica social: este sarau foi de beneficincia, para ajudar as vtimas de inundao do Ribatejo.
Verificou-se bastante adeso, principalmente por parte das classes mais altas e at da famlia real.
Ea quis com isto provocar um grande impacto, contrastando um clima de festa e um clima de
tragdia; caracterizao da sociedade: inculta, esttica e superficial, deformada pelos excessos e
lugares comuns do Ultra-romantismo.
PERSONAGENS
Dmaso, Cohen, Conde de Gouvarinho, Alencar, Eusebiozinho, Palma Cavalo, Cruges, entre
outros, so figurantes da crnica de costumes, cujo objetivo satirizar e criticar a sociedade
lisboeta da segunda metade do sculo XIX.
PERSONAGENS
PERSONAGENS
Processos de caracterizao:
Personagens da intriga
Afonso da Maia
PERSONAGENS
Personagens da intriga
Pedro da Maia
PERSONAGENS
-Enorme beleza fsica, parecenas fsicas e psicolgicas com sua me, M Eduarda Runa;
-Enorme instabilidade emocional que deixa entrever uma psique (alma) pouco equilibrada, fruto da
hereditariedade no corrigida pela educao;
-Cobardia moral (sua reao de suicdio face fuga da mulher);
Maria Monforte
Personagens da intriga
PERSONAGENS
-Protagonista masculino do romance Os Maias, filho de Pedro da Maia e de Maria Monforte, cresce na companhia do av, que lhe proporciona uma
educao inglesa, contrria que recebera o pai, Pedro. Carlos estuda Medicina em Coimbra, onde conhece Ega, e viaja demoradamente pela
Europa. Regressado a Lisboa, destaca-se pela sua superioridade: "Alto, bem feito, de ombros largos, com uma testa de mrmore sob os anis dos
cabelos pretos, e os olhos dos Maias, aqueles irresistveis olhos do pai, de um negro lquido, ternos como os dele, e mais graves. Trazia a barba
toda, castanha-escura, rente na face, aguada no queixo - o que lhe dava, com o bonito bigode arqueado aos cantos da boca, uma fisionomia de
belo cavaleiro da Renascena". Rapidamente impressiona a sociedade lisboeta, fascinando a condessa de Gouvarinho, com quem tem uma aventura,
e atraindo a admirao parola de Dmaso. Cheio de projetos profissionais - instalar um laboratrio, exercer a sua atividade de mdico, fundar uma
revista -, Carlos acaba por cair no diletantismo (que se dedica a algo por prazer e no como modo de ganhar a vida) e na inatividade. Envolve-se
com Maria Eduarda, ignorando que seu irmo. O desfecho trgico deste amor, sublinhado pela morte do av, marcar definitivamente o seu
percurso desistente. Acabar em Paris, assumindo a sua posio diletante de homem rico "que falhou na vida".
Maria Eduarda
-Personagem da obra Os Maias, filha de Maria Monforte e de Pedro da Maia, ignora totalmente as suas origens;
-Chega a Portugal como Mme. Castro Gomes, depois de um percurso de vida j atribulado, incluindo o casamento com um irlands, do qual nasce Rosa;
-Em Lisboa, "loira, alta, esplndida, vestida pela Laferrire, flor de uma civilizao superior", depressa se destaca das restantes mulheres, fascinando
Carlos, com quem acaba por envolver-se. Sensata, equilibrada, doce, imbuda de altos princpios morais, vtima inconsciente do incesto, que enfrenta
com dignidade;
-Depois do fim trgico do seu amor com Carlos, Maria Eduarda recolhe-se provncia francesa, onde vem a desposar um nobre.
Personagens da intriga
Joo da Ega
PERSONAGENS
-Personagem de Os Maias, de Ea de Queirs. Licenciado em Direito, destacou-se em Coimbra tanto pela rebeldia como
pelo sentimentalismo e pelos seus amores, tornando-se um amigo inseparvel de Carlos da Maia;
-Dependente economicamente da mesada da me, uma rica fidalga de Celorico de Basto, vive parasitariamente sombra
de Carlos. Trata-se de um fidalgo rico de provncia, audacioso e com fama de ser "o maior ateu, o maior demagogo que
jamais aparecera nas sociedades humanas". Sempre pronto a escandalizar, capaz de defender a escravatura ou a
revoluo, s para chocar os interlocutores. Gosta de se fazer notar e de ser lisonjeado nos crculos que frequenta;
-De entusiasmo fcil, arrebatado e violento, inicia vrios projetos, como a criao de uma revista que revolucionasse o
ambiente cultural portugus e um livro intitulado As memrias de um tomo, que nunca foram concludos. Rende-se a
uma intriga amorosa romntica e banal, envolvendo-se com a mulher do banqueiro Cohen;
-Do ponto de vista da narrativa, cabe-lhe um papel importante na evoluo da intriga trgica, pois ele quem toma
conhecimento da existncia de documentos que provam o parentesco de Carlos e Maria Eduarda.
-Quer pelo seu retrato fsico ("a sua figura esgrouviada e seca, os pelos do bigode arrebitados sob o nariz adunco, um
quadrado de vidro entalado no olho direito"), quer pela sua postura crtica e de certa forma distanciada de permanente
acusador dos males do pas, mas estando ele prprio no isento de ridculos, quer pela sua interveno em defesa do
realismo-naturalismo, j para no invocar a similitude dos nomes, Ega tem sido visto em muitos aspetos como uma
espcie de alter-ego de Ea.
Eusebiozinho
PERSONAGENS
- amigo de infncia de Carlos, com quem brincava em Santa Olvia, levando pancada constantemente, e com quem contrastava na
educao; molengo e tristonho; leva uma existncia doentia, mergulhada nos alfarrbios (calhamaos antigos). Desde cedo se
interessou pelos algarismos e letras, mas quando cresceu rapidamente os esqueceu; enviuvece cedo e para se distrair procurava a
sordidez dos bordis, mulherengo; representa a educao tradicional portuguesa;
Alencar
-defensor do Ultra-romantismo; ope-se contra o Naturalismo; poeta, bondoso, sentimental, idealista, sincero; desfasado do seu
tempo e defensor da crtica literria de natureza acadmica; por uma carta dele que Afonso da Maia toma conhecimento que a nora
Maria Monforte se encontra em Paris;
Cohen
- um judeu banqueiro, diretor do Banco Nacional, casado com Raquel Cohen; um personagem-tipo representando a alta finana, a
burguesia poderosa, mas nscia (ignorante); considera que Portugal caminha para a banca rota, mas no hesita aproveitar a situao
econmica do pas em proveito prprio;
Raquel Cohen
- uma mulher adltera, bela e refinada, que no hesita a pr em prtica o seu poder de seduo; amante de Ega, at o caso ser
descoberto, precisamente no dia em que Cohen ia dar um baile de mscaras praticamente organizado por Ega; representa a mulher
portuguesa de educao romntica e com casamentos falhados;
Dmaso Salcede
-mais que um homem, considerado um cabide de defeitos; representa o egocentrismo, o exibicionismo dos novos ricos, a decadncia
moral, a cobardia e a imoralidade;
Craft
PERSONAGENS
- um gentleman de boa raa inglesa, representa a formao britnica, a aristocracia inglesa; cultivado e
forte, de hbitos rijos; pensa com retido; Afonso acha-o deveras um homem;
Cruges
-simboliza um msico idealista, o talento no reconhecido; remete mediocridade cultural nacional; o seu
sonho era compr uma obra que o imortalizasse; uma pessoa sem gnio criativo;
Conde de Gouvarinho
- ministro e par do reino; personagem-tipo que representa o poder poltico incompetente, conservador,
decadente e limitado; casou com a filha de um comerciante rico do Porto, aliando o seu ttulo ao dinheiro
dela, portanto um casamento por convenincia;
Condessa de Gouvarinho
- amante de Carlos, at este se enfastiar e decidir abandon-la; sensual e provocante; uma personagemtipo simbolizando as mulheres adlteras, representa a mulher portuguesa de educao romntica e com
casamentos falhados; uma aristocrata que corporiza a decadncia moral e a ausncia de escala de valores
da alta sociedade, uma mulher fatal;
Guimares
PERSONAGENS
-trabalha no jornal Rappel; o portador da notcia/desgraa da famlia Maia; o recetor da caixa que encerra o segredo da
verdadeira origem de Maria Eduarda;
Palma Cavalo
- o diretor dA Corneta do Diabo; personagem-tipo smbolo do jornalismo corrupto, subornvel, corrompido, degradado,
parcial, devasso, insultuoso e sem fidedignidade; o seu acompanhante em sociedade Eusebiozinho, ambos consideram
importante conviver e saber lidar com prostitutas espanholas;
Sousa Neto
Vilaa
- o Administador da Famlia Maia. O seu pai anteriormente havia tomado conta dos negcios da famlia, para alm de ser
querido a todos em Santa Olvia, especialmente a Afonso da Maia. Quando morre, Vilaa Jnior assume o cargo de seu pai.
So os procuradores da familia Maia; foram sempre tratados com familiaridade;
- com Vilaa que Ega vai ter quando recebe as cartas de Guimares revelando a verdade da incestuosa relao de Carlos e
Maria Eduarda;
-Vilaa infelizmente perde o chapu pelo qual famoso e consequentemente perde qualquer senso crtico sobre moda. Nunca
mais encontra a sua outra metade, ou seja, o seu precioso chapu.
ESPAO
ESPAO FSICO
Espao geogrfico/exteriores:
A maior parte da narrativa ocorre em Portugal, sobretudo em Lisboa e arredores; este espao relaciona-se
com o percurso do protagonista ao longo da ao e motivo de representao de atributos
inerentes/inseparveis ao espao social;
Em Santa Olvia ocorre a infncia de Carlos; tambm para l que foge quando descobre a relao
incestuosa com a irm;
Em Lisboa ocorrem os acontecimentos que levam Afonso ao exlio; os acontecimentos essenciais da vida
de Pedro da Maia; e a vida de Carlos que justifica o romance a sua relao incestuosa com a irm;
Sintra aparece como palco de vrios encontros, quer relativos crnica de costumes, quer relao
amorosa dos protagonistas;
O estrangeiro surge-nos como um recurso para resolver problemas. Afonso exila-se em Inglaterra para
fugir intolerncia Miguelista; Pedro e Maria vivem em Itlia e Paris devido recusa deste casamento
pelo pai de Pedro; M Eduarda segue para Paris quando descobre a sua relao incestuosa com Carlos; este
resolve a sua vida falhada com a fixao definitiva em Paris;
ESPAO
ESPAO FSICO
A vila Balzac a casa de Ega. O nome escolhido remete para as caractersticas temperamentais de
Ega: a tendncia para a criao literria e a personalidade contraditria, pois escolhe Balzac, um
escritor realista, como padroeiro, sendo ele um adepto do Realismo e do Naturalismo. No entanto
promove reaes e comportamentos eivados/contaminados do Romantismo.
O quarto do Hotel Central e a casa na Rua de S. Francisco constituem cenrios que envolvem
Maria Eduarda, da que Carlos os observe, assim como os objetos que os constituem, tentando
adivinhar a personalidade de Maria Eduarda.
O Ramalhete surge como o cenrio que acompanha o evoluir da intriga. Este surge na obra
repartido em trs fases: a instalao de Carlos no Ramalhete, os dois anos que viveu em Lisboa e o
seu reencontro com este espao em 1887.
ESPAO
ESPAO SOCIAL
O espao social consiste no ambiente social vivido pelas personagens e cujos traos ilustram a
atmosfera social (caractersticas culturais, econmicas, polticas...) em que se movimentam.
Em Os Maias, o espao social est diretamente associado ao subttulo da obra Episdios da Vida
Romntica que, ao nvel da crnica de costumes, constitui uma ao aberta. Os episdios,
atravs de um programa narrativo de alternncia, integram-se no desenrolar da intriga principal
sem que haja, no entanto, qualquer relao de dependncia entre ambos; visando no s retratar,
como tambm criticar uma poca (o Portugal da Regenerao) e o ambiente social vividos pela
burguesia e alta aristocracia lisboeta: o jantar no Hotel Central (captulo VI), as corridas de cavalos
(captulo X), o jantar em casa dos Gouvarinhos (captulo XII), o incidente relacionado com a
Corneta do Diabo e A Tarde (captulo XV), o sarau literrio do Teatro da Trindade (captulo XVI),
o passeio final de Carlos e de Ega em Lisboa (captulo XVIII).
Os aspetos principais relativos ao espao social foram j apontados num momento anterior deste
powerpoint (Ao: Subttulo- Episdios da vida romntica-crnica de costumes).
ESPAO
ESPAO PSICOLGICO
O espao psicolgico corresponde s vivncias ntimas, pensamentos, sonhos, estados de esprito, memrias,
reflexes...das personagens, remete-nos para a sua conscincia, e caracterizam o ambiente a elas associado,
manifestando-se nos momentos de maior densidade dramtica.
Em Os Maias, medida que o desenlace da intriga principal se aproxima, o espao psicolgico assume maior
relevncia, sobretudo nas personagens de Carlos e Ega.
Exemplos:
O sonho (captulo VI) Carlos sonha com M Eduarda a passar em frente ao Hotel Central, evocando-a como uma
deusa;
A imaginao (captulo VIII) na personagem de Carlos relativamente s formas do corpo de M Eduarda, aquando
da ida a Sintra;
A reflexo (captulo XVI) aps ter sabido por Guimares a verdadeira identidade de M Eduarda, Ega revela uma
profunda inquietao relativamente descoberta de que ela e Carlos so irmos, meditando sobre este assunto;
A memria (captulo XVII) as recordaes do passeio familiar de Carlos, numa noite de bomia com Ega; a
recordao de Carlos do av Imagens do av, do av vivo e forte, cachimbando ao canto do fogo, regando de
manh as roseiras..., defronte do seu cadver.
A recordao coincide com os momentos fulcrais da intriga, porque as personagens esto dominadas pela emoo.
TEMPO
Tempo histrico
Uma vez que Os Maias narram a histria de uma famlia ao longo de trs geraes, estas correspondem a momentos
histrico-polticos e culturais diferentes:
TEMPO
Consiste no tempo durante o qual a ao se desenrola, segundo uma ordenao cronolgica, e em que surgem marcas objetivas
da passagem das horas, dias, meses, anos, etc.
Em Os Maias, em termos cronolgicos, a ao decorre entre 1820 e 1887, portanto, durante cerca de 67 anos. Ao longo da obra,
percebe-se esta passagem do tempo, no s na indicao de dias, meses e anos, como tambm no crescimento e/ou envelhecimento
das personagens (inclusive do gato Bonifcio).
TEMPO
Tempo do discurso
Por tempo do discurso entende-se aquele que se deteta no prprio texto organizado pelo narrador, ordenado ou alterado
logicamente, alargado ou resumido. Consiste no modo como o narrador conta os acontecimentos. O tempo do discurso pode
no ser igual ao da diegese/da histria, ou seja, os acontecimentos nem sempre so relatados pela ordem em que sucedem.
Quando ocorre esta alterao da ordem dos acontecimentos, h uma organizao do tempo do discurso atravs de vrios recursos:
analepse, prolepse, resumo e elipse.
O resumo um sumrio da histria que provoca uma reduo do tempo do discurso. Este fica reduzido a um intervalo de tempo
menor do que aquele que demoraria a ocorrer.
TEMPO
Tempo do discurso
Na obra, o discurso inicia-se no Outono de 1875, data em que Carlos, concluda a sua viagem de um ano pela Europa, aps a
formatura, veio com o av instalar-se definitivamente em Lisboa. Pelo processo de analepse, o narrador vai, at parte do captulo
IV, referir-se aos antepassados do protagonista (juventude e exlio de Afonso da Maia, educao, casamento e suicdio de Pedro da
Maia, e educao de Carlos da Maia e sua formatura em Coimbra) para recuperar o presente da histria que havia referido nas
primeiras linhas do livro. Esta primeira parte pode considerar-se uma novela introdutria que dura quase 60 anos. Esta analepse
ocupa apenas 90 pginas, apresentadas por meio de resumos e elipses. Assim, como vemos, o tempo da histria/diagese muito
mais longo do que o tempo do discurso anisocronia temporal o narrador omite (elipse) ou sumaria (resumos) o que aconteceu
em determinado perodo temporal. tambm anisocronia temporal, quando o tempo da histria/diegese menor que o tempo do
discurso; o narrador procede a descries, divagaes, reflexes... (pausas narrativas).
Do Outono de 1875 a Janeiro de 1877 - data em que Carlos abandona o Ramalhete - existe uma tentativa para que o tempo da
histria (pouco mais de um ano da vida de Carlos) seja idntico ao tempo do discurso - cerca de 600 pginas - para tal Ea serve-se
muitas vezes da cena dialogada - isocronia temporal.
O ltimo captulo uma elipse (salto no tempo) onde, passados 10 anos, Ega se encontra com Carlos em Lisboa.
NARRADOR
Autor versus narrador: o autor a entidade a quem se deve uma obra, o criador de uma histria; o narrador a entidade que
conta essa histria. o autor que cria o narrador; por sua vez, o narrador que nos vai transmitir toda a histria inventada
pelo autor.
O narrador, semelhana de qualquer outra personagem, uma entidade que tem a funo de contar (narrar) a histria.
Em Os Maias: o narrador heterodiegtico (note-se, por exemplo, o uso da 3 pessoa gramatical e, neste caso, o recurso ao
discurso indireto livre).
De salientar, no entanto, que, aquando da narrao do passado de Maria Eduarda pela prpria (captulo V), o narrador
NARRADOR
Focalizao omnisciente o narrador possui um conhecimento ilimitado de toda a histria, bem como do ntimo das personagens.
Ele sabe tudo, assumindo uma posio de transcendncia/superioridade no relato dos acontecimentos.
Focalizao interna o narrador relata os acontecimentos, assumindo o ponto de vista de uma personagem, da que neste caso o
seu conhecimento se restrinja ao que a personagem v/sabe.
Focalizao externa o narrador conhece apenas o que observvel exteriormente, sabendo menos do que a personagem.
Em Os Maias, a focalizao omnisciente, por exemplo, na narrao da juventude de Afonso da Maia, da educao e do suicdio
de Pedro e da formao de Carlos da Maia; e interna a partir do momento em que Afonso da Maia e seu neto se instalam
definitivamente no Ramalhete, assumindo principalmente o ponto de vista de Carlos, a sua viso sobre os ambientes e as
personagens que o rodeiam; mas tambm a perspetiva de Vilaa, nomeadamente, quando comenta a educao imposta a Carlos e a
Eusebiozinho (captulo III); e de Ega, por exemplo, nos episdios da Corneta do Diabo e A Tarde (captulo XV) e do Sarau da
Trindade (captulo XVI). Em alguns momentos de pausa ao servio da descrio usada a focalizao externa.
NARRADOR
Subjetiva o narrador defende uma posio/opinio face ao que conta, proferindo, explcita ou implicitamente, juzos de
valor, comentrios, orientaes ideolgicas, etc.;
Em Os Maias, a posio do narrador , fundamentalmente, subjetiva, o que se compreeende at pelo facto de ser
basicamente a viso crtica e opinativa de uma personagem que prevalece (a de Carlos da Maia).
Ideologia
Realismo: as caractersticas gerais do Realismo so: a anlise e sntese da realidade com objetividade, em
oposio subjetividade romntica; exatido, veracidade e abundncia de pormenores, com o retrato
fidelssimo da natureza; total indiferena perante o "Eu" subjetivo e pensante perante a natureza (o "Eu"
romntico); neutralidade de corao perante o bem e o mal, o feio e o bonito, vcio e virtude; anlise
corajosa de vcios e podrido da sociedade; relacionamento lgico entre as causas desse comportamento
(biolgicas ou sociais, e a natureza interior e exterior da personagem); admisso de temas cosmopolitas na
literatura; uso de expresses simples e sem convencionalismos (por oposio ao tom declamatrio
romntico).
Ideologia
O romance realista de carcter documental, procurando fazer o retrato de uma poca, dando conta dos
espaos sociais. isso que se observa em Os Maias, de Ea de Queirs e que se depreende desde o incio
com o subttulo Episdios da Vida Romntica.
A, atravs da crnica de costumes, procura-se observar diversos quadros sociais e denunciar a corrupo, a
superficialidade, a ignorncia e as mentalidades retrgradas. O romance realista surge orientado para a
anlise psicolgica da sociedade, criticando-a a partir do comportamento das personagens, nomeadamente
das que se consideram das classes dominantes, e procurando captar as condies mais miserveis e torpes
da vida real.
Ideologia
Naturalismo:
O Naturalismo surge muito prximo do Realismo e chega a ser confundido com ele. Mas, se tem semelhanas,
tambm tem diferenas. Pode definir-se como uma conceo filosfica que considera a Natureza como nica
realidade existente, recusando explicaes que transcendam as cincias naturais. Graas s teorias positivistas e
experimentais, passa a interessar-se pelo estudo analtico (de anlise). No lhe bastam os quadros objetivos da
realidade, mas analisa tambm as circunstncias sociais que envolvem cada personagem.
O Naturalismo difere do Realismo, mas no independente dele. Ambos crem que a arte a representao
mimtica (imitao) e objetiva da realidade exterior. Foi a partir desta tendncia geral para o Realismo mimtico
que o Naturalismo surgiu, sendo por isso muitas vezes encarado como uma intensificao do Realismo.
Ideologia
As caractersticas principais so: tentativa de aplicar literatura as descobertas e mtodos da cincia do sc.XIX
(filosofia, sociologia, fisiologia, psicopatologia, etc), tentando explicar as emoes atravs da sua manifestao
fsica (apresenta, assim, mais razes cientficas do que o simples descrever dos factos do Realismo); resultou
muitas vezes na escolha de assuntos mais chocantes (alcoolismo, jogo, adultrio, opresso social, doenas, as suas
causas e consequncias), vocabulrio mais terra-a-terra, motes mais cativantes ou detalhes mais fotogrficos.
O Naturalismo acabou por se tornar uma doutrina (instituiu que o indivduo era primria e fundamentalmente
modelado pela hereditariedade, meio e educao - pela "natureza"), com uma certa viso muito especfica (Ea de
Queirs chamou-lhe a "forma cientfica que a arte assume") do Homem e do seu comportamento, tornando-se
mais concreto, mas tambm mais limitado que o Realismo, embora que, como os olhos do observador/escritor no
so lentes inanimadas, a reproduo da realidade em cada uma das obras Naturalistas pode reconhecer-se como
sendo individual, e os Naturalistas acabam por afastar-se da prpria teoria.
Ideologia
Fatalismo: O termo "fatalismo" vem do latim "fatum" (destino) e significa a crena ou aceitao de um poder ou
lei superior a que ningum pode fugir.
A "moira" (entre os antigos gregos) e o "fatum" (entre os romanos) ou fado ou destino surgia como ameaa
implacvel e determinava a falta cometida por algum e o caminho da sua punio.
Ao longo de Os Maias, de Ea de Queirs, encontramos o fatalismo em trs sentidos prximos mas diferentes:
a conceo clssica, como doutrina que admite uma fora superior, um princpio ou necessidade absoluta e cega,
capaz de castigar o desafio hybris; tudo o que passa da medida; descomedimento - ordem estabelecida. Por
exemplo, se as personagens sofrem por causa do orgulho, do desafio ao velho Afonso (caso de Pedro da Maia)
ou do desafio sociedade (como sucede com Carlos);
Ideologia
a conceo popular que entende o destino como uma espcie de divindade caprichosa e dspota (autoritria) que
transforma tudo em infelicidade (como se v, quando afirma que as paredes do Ramalhete foram sempre fatais
aos Maias);
e um "fatalismo muulmano", que Carlos da Maia define como filosofia de vida que se resume a "Nada desejar e
nada recear... No se abandonar a uma esperana - nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o que vem e o que
foge, com a tranquilidade com que se acolhem as naturais mudanas de dias agrestes e de dias suaves".
O contacto de Ea de Queirs com o estrangeiro levou-o a dizer mal, por sistema, da sociedade portuguesa. Era
tamanho o pessimismo que revelava, que a determinada altura Joo da Ega, n`Os Maias, chega a afirmar que
Portugal s poderia endireitar-se com uma catstrofe que tudo arrasasse.
Ideologia
Os Smbolos
Apesar do tom realista, Os Maias esto povoados de smbolos cuja compreenso enriquece a leitura. Alguns
desses smbolos funcionam como indcios da tragdia amorosa, aos quais se acrescentam ainda a Toca
(escondirijo de amores proibidos) e o cofre que Maria Monforte entregou a Guimares (materializao do
destino). Outros como representao da decadncia nacional:
O Passeio final de Carlos e Ega: por Lisboa nos finais de 1886 (cap. XVIII): a glria do passado, o olhar triste
sobre a inrcia presente de um pas sem futuro ou sem estmulos para construir o futuro.
I. O Adjetivo
Os adjetivos abundam, quer na sua dimenso mais subjetiva (normalmente antepostos), quer objetiva (pospostos),
fornecendo com clareza e singularidade o contorno das coisas ao mesmo tempo que despertam sensaes e emoes
perante aquilo que descrito.
II. O Advrbio
Utilizao dos advrbios com valor de modo para exprimir estados de esprito subjetivos. Ea usa o advrbio de
maneira nica, de tal forma que chega mesmo a criar novos advrbios a partir de adjetivos aos quais acrescenta o
sufixo mente. Assim, o advrbio no s empregue com a funo de intensificar o sentido do verbo, adjetivo ou
outro advrbio, mas tambm a de descrever, adquirindo mesmo uma misso caracterizadora, caricatural e crtica.
III. O Verbo
Uso do verbo com valor hiperblico, com valor caricatural, no gerndio (conferindo uma ideia de
continuidade/durao, com grande teor descritivo, aos acontecimentos narrados), derivado de adjetivo de cor, com
valor zoomrfico (usado, por norma, em relao a animais);
Exemplos: O Dmaso, [...] de flor ao peito, mamando um grande charuto, e pasmaceando, com o ar regaladamente
embrutecido de um raminante farto e feliz. (pg.697)
[...] mas verdejando todo de plantas de estufa (pg. 524)
- Apoiado! mugiu na coxia o padre sebento. (pg. 483)
[...] o maestro, rubro, grunhia apenas um sim avaro. (pg.524)
O poltico furioso, ficou rosnando: ! Que asno!.. (pg. 686)
IV. O Diminutivo
Uso do diminutivo ao servio da ironia e crtica, sobretudo com uma carga pejorativa, e como elemento
caracterizador das personagens:
Exemplos: [...] o morgadinho, o Eusebiozinho, [...] com o craniozinho calvo de sbio [...] de perninhas
bambas, [...] com a linguazinha de fora. [...] a sua facezinha trombuda, [...]os seus olhinhos vagos e azulados
[...] sobre as perninhas flcidas [...]. (pg. 68-69)
V. O Neologismo
Recurso ao neologismo construindo novas palavras atravs do acrescento de certos prefixos e sufixos obtendo
um efeito de contraste, pela associao mental com palavras de significao muito diversa s que correntemente
esses prefixos se ligam.
Exemplos: [...] nessa noite, cervejando com os rapazes, ainda lhe chamou camlia melada; (pg.130-131)
Ega no veio buscar Carlos para se irem gouvarinhar. (pg. 141)
- Ele, o Gouvarinho, a continuava, palrador, escrevinhador, politicote, emprigadote, j grisalho,
VI. O Emprstimo
Ao longo das pginas de Os Maias predominam os termos de origem inglesa anglicismos e francesa
galicismos, no s pela necessidade de preencher lacunas da lngua portuguesa para designar determinadas
realidades, mas tambm com o intuito de criticar e, mesmo, ridicularizar, a elite lisboeta pelo facto de at na
lngua procurar imitar o estrangeiro.
Em Os Maias coexistem todos os registos de lngua, situando as personagens numa determinada classe
social, ao mesmo tempo que criado um tom oralizante (pelo uso do registo informal) que estabelece uma
relao de proximidade com o leitor.
Figuras de estilo
Hiplage
(atribuir a certas palavras qualidades
que pertencem a outra)
Exemplos
Ironia
Sinestesia
[...] misturado, ao perfume adocicado das flores do campo [...] numa luz fresca e loira. (pg.
65)
Gradao
Enumerao
Uma gente feissima, encardida, molenga, reles, amarelada, acabrunhada!... (pg. 697)
tnhamos de fazer um esforo desesperado para viver); Comparao (...no tornaria mais a farejar a cidade como um rafeiro
perdido...); Metfora (...todo ele uma bola entufada de plo branco malhado de oiro...) Personificao (O seu gabinete, no
consultrio, dormia numa paz tpida entre os espessos veludos escuros...).