História Do Pensamento Cristão II - Professor José Do Carmo Da Silva

Fazer download em ppt, pdf ou txt
Fazer download em ppt, pdf ou txt
Você está na página 1de 121

História do Pensamento

Cristão II
I A CRENÇA DA IGREJA CRISTÃ
NOS SÉCULO IV E V
Professor José do Carmo da
Silva
Os séculos IV e V foram o principal
período da história da Igreja no que
respeita à manifestação da sua
crença. A liberdade que o
Cristianismo desfrutava e o
desenvolvimento das suas riquezas
deram origem a importantes formas
de culto que seguiram certas linhas já
preestabelecidas. Surgiram muitas
liturgias e formas de oração.
O elemento musical do culto tornou-
se mais notável. Foram introduzidos
coros nas igrejas, cânticos e
antífonas. Os templos tornaram-se
maiores e cheios de decorações.
Desenvolveu-se a arquitetura, as
paredes e as colunas das igrejas
cobriram-se de pinturas, mosaicos e
desenhos.
Os cultos se tornaram mais solenes e
impressionantes. Agostinho narra
como ficou bem impressionado na
magnífica igreja de Ambrósio, em
Milão, com a música solene, com o
ritual, com a reverência das
multidões, e com a notável pregação
do bispo.
A celebração da Eucaristia tornou-se
uma cerimônia imponente com formas
fixas, com muita atenção dispensada
aos detalhes, tornando enfática a
idéia de que o sacramento era um
sacrifício oferecido pelo sacerdote a
favor do povo, sacrifício eficaz para a
salvação. Não obstante este fato
tornar a pregação menos importante,
colocando-a em plano secundário.
Houve nessa época grandes
pregadores entre os quais Ambrósio,
que teve a coragem de proibir o
imperador Teodósio de entrar na
igreja até que se arrependesse do
massacre aos tessalonicenses; e João
de Constantinopla, cuja eloquência
Ihe granjeou o titulo de Crisóstomo ou
"boca de ouro".
Opaganismo afetou o culto cristão
nesses séculos porque a Igreja viveu
no meio desse paganismo até 400
A.D. e também porque, depois de
Constantino, muitíssimos pagãos
entraram na igreja, sem conversão.
O culto dos santos e um exemplo
frisante dessa tendência. Era natural
que se tributasse veneração aos
mártires e a outros homens e
mulheres, famosos por sua santidade.
Para essa gente que estava
acostumada aos deuses das suas
cidades e aos seus lugares sagrados e
que não estava bastante cristianizada,
a veneração dos santos transformou-
se rapidamente em adoração.
Os santos passaram a ser
considerados como pequenas
divindades cuja intercessão era
valiosa diante de Deus. Os lugares
onde nasceram e viveram, passaram a
ser considerados santos. Surgiram as
peregrinações. Começaram a venerar
relíquias, partes dos corpos e objetos
que pertenceram aos santos e a
tributar a esses objetos poderes
miraculosos. Tudo isto foi fácil para
aqueles que ainda persistiam nas
superstições do paganismo.
II A CONTROVÉRSIA
CRISTOLÓGICA
Foi nesta época que surgiram os
credos ainda hoje aceitos pelos
cristãos de todo o mundo. No
período precedente, como vimos,
Jesus Cristo era o assunto
fundamental do pensamento da
Igreja.
Adiscussão quanto à natureza de
Cristo crescia cada vez mais. No
começo do século IV, Ário, presbítero
de Alexandria, ensinou que Cristo
nem era homem nem Deus, mas um
ser intermediário entre a divindade e
a humanidade.
Tal ponto de vista espalhou-se
rapidamente no oriente. A disputa sobre
este assunto dividiu a Igreja e causou
mesmo perturbação da ordem pública.
A fim de pacificar os ânimos,
Constantino convocou o primeiro
Concílio Geral da Igreja, em Nicéia, na
Ásia menor, em 325, ali, Atanásio teve
uma grande vitória, ele foi o principal
oponente de Ário e seu partido.
O Concílio afirmou a divindade de
Cristo, pela qual lutou Atanásio, e foi
declarado que Cristo "era da mesma
substância do Pai. Durante a intensa
disputa teológica no Concílio, verificou-
se que a maioria dos bispos não era
composta de teólogos, mas de pastores; e
o que os influenciou foi o apelo feito por
Atanásio à Fe, a convicção deles. Eles
criam que o Cristo a quem conheciam
como Redentor, não podia ser senão
Deus.
OCredo aceito pelo Concílio constitui a
maior parte do chamado Credo Niceno, o
qual foi confirmado pelo da Calcedônia
no século seguinte. O ensino desse
credo tem sido aceito desde então por
toda a Igreja Cristã.

O quarto Concílio Geral da Calcedônia,


451, apresentou o pronunciamento final
da Igreja sobre este assunto declarando
que em Cristo as duas naturezas, a
divina e a humana, existiam em plena
integridade.
As grandes verdades que são vitais à fé
cristã, como as da Encarnação e da
Trindade foram examinadas e expressas
pela Igreja nessa "Era dos Concílios".
Tais decisões têm sido aceitas desde
então pela cristandade. Ao lado dessa
vitória surgiu um prejuízo, em virtude da
tendência de se pensar que a coisa mais
importante no Cristianismo era defender
e guardar as definições corretas da
verdade cristã.
Aprova da fé cristã de uma pessoa não
era tanto a sua lealdade a Cristo, em
espírito e pelo comportamento moral,
senão a sua aquiescência ao que a Igreja
declarava ser a doutrina correta, isto é, a
sua ortodoxia. Quem não fosse
considerado ortodoxo era expulso como
herege, embora sua vida fosse um
testemunho continue de lealdade a
Cristo.
INFLUÊNCIA DE AGOSTINHO
E JERÔNIMO
Dois grandes homens que
influenciaram profundamente o
pensamento de toda a vida da Igreja
foram Jerônimo e Agostinho.
AGOSTINHO - Bispo e doutor da Igreja
(354-430)

Agostinho representa o final de uma


era, bem como o começo de outra. Ele
é o último dos escritores cristãos
clássicos e o precursor da teologia
medieval. As principais correntes da
teologia clássica convergiram nele, e
dele derivam os ramos, não apenas do
Escolasticismo Medieval, mas também
da teologia protestante do século XVI.
Sua teologia nasceu dentro do
contexto de várias questões que ele
teve de enfrentar durante sua vida.
Agostinho é visto pelos protestantes
como um precursor das ideias da
Reforma com sua ênfase sobre a
salvação do pecado original e atual
através da graça de Deus, que é
adquirida unicamente pela fé. Sua
insistência na consideração do sentido
inteiro da Bíblia na interpretação de
uma parte da Bíblia (Hermenêutica) é
um princípio de valor duradouro para a
Igreja.
A JUVENTUDE
Filósofo e Teólogo de Hipona, Norte da
África. Polemista capaz, pregador de
talento, administrador episcopal
competente, teólogo notável, ele criou
uma filosofia cristã da história que
continua válida até hoje em sua
essência. Vivendo num tempo em que a
velha civilização clássica parecia
sucumbir diante dos bárbaros,
Agostinho permaneceu em dois mundos,
o clássico e o novo medieval.
Nascido em 354, na casa de um oficial
romano na cidade de Tagasta em
Numidia, no norte da África, era filho de
um pai pagão, Patrício, e de uma mãe
crente, Mônica. Apesar de não serem
ricos, era uma família respeitada. Sua
mãe dedicou-se à sua formação e
conversão à fé cristã.
Com muito sacrifício, seus pais lhe
ofereceram o melhor estudo romano.
Seus primeiros anos de estudo foram
feitos na escola local, onde aprendeu
latim à força de muitos açoites. Aos
dezesseis anos de idade, na exuberância
da adolescência, foi estudar fora de casa.
Na oportunidade, envolveu-se com a
heresia maniqueísta e também passou a
conviver com uma moça cartaginense,
que lhe deu, em 372, um filho, Adeodato
Assim era Agostinho, um rapaz inquieto,
sempre envolvido em paixões e atitudes
contrárias aos ensinamentos da mãe e
dos cristãos. Possuidor de uma
inteligência rara, depois da fase de
desmandos da juventude centrou-se nos
estudos e formou-se, brilhantemente, em
retórica. Excelente escritor, dedicava-se
à poesia e à filosofia.
Longe da família, Agostinho se apartou
da fé ensinada por sua mãe, e entregou-
se aos deleites do mundo e a imoralidade
com seus amigos estudantes. Viveu
ilegitimamente com uma concubina
durante treze anos, a qual lhe concedeu
um filho, Adeodato, em 372. O mesmo
morreu cerca do ano 390.
Na busca pela verdade, ele aceitou o
ensino herético maniqueísta, o qual
ensinava um dualismo radical: o poder
absoluto do mal - o Deus do Antigo
Testamento, e o poder absoluto do bem -
o Deus do Novo Testamento. Nesta
cegueira ele permaneceu nove anos
sendo ouvinte, porém, não estando
satisfeito, voltou à filosofia e aos ensinos
do Neoplatonismo. Ensinou retórica em
sua cidade natal e em Cartago, até
quando foi para Milão, Itália, em 384.
Em Roma, foi apontado pelo senador
Símaco como professor de retórica em
Milão, e depois para a casa imperial.
Como parte de seu trabalho, ele deveria
fazer oratórias públicas honrando o
imperador Valenciano II.
CONVERSÃO

Em 386, aconteceu sua crise de


conversão. Um belo dia, meditando
num jardim sobre a sua situação
espiritual, ouviu uma voz próxima à
porta que dizia: “Tome e leia”.
Agostinho abriu sua Bíblia em
Romanos 13.13-14:
"Andemos honestamente, como
de dia; não em glutonarias, nem
em bebedeiras, nem em
desonestidades, nem em
dissoluções, nem em contendas
e inveja. Mas revesti-vos do
Senhor Jesus Cristo, e não
tenhais cuidado da carne em
suas concupiscências". 
Essa leitura trouxe-lhe a luz que
sua alma não havia conseguido
encontrar nem no maniqueísmo
nem no neoplatonismo. Separou-
se de sua concubina e abandonou
sua profissão de retórica. Sua mãe
que tanto orara por sua conversão,
morreu logo depois do seu
batismo, realizado por Ambrósio
na Páscoa de 387.
Uma vez batizado, regressou um ano
depois para Cartago, Norte da África,
onde foi ordenado sacerdote em 391.
Cinco anos depois, foi consagrado
bispo de Hipona por pedido daquela
congregação, onde permaneceu até
sua morte.
Até sua morte em 430, empenhou-se
nas responsabilidades do episcopado:
pregar, administrar os sacramentos,
julgar entre vários partidos em
desacordo, a prática e administração
da caridade, a administração de
fundos e propriedades da Igreja,
aconselhamento e cuidado pastorais,
etc.
Contudo o que o levou a produzir um
número de trabalhos de grande
significado para o desenvolvimento da
teologia cristã foi uma série de
controvérsias em que ele se envolveu,
principalmente com os maniqueístas,
os donatistas e os pelagianos. Ele é
apontado como o maior dos pais da
Igreja. Deixou mais de 100 livros, 500
sermões e 200 cartas.
Agostinho X Pelágio
PELÁGIO nasceu na Bretanha
(Irlanda) por volta de 354. Fez-se
monge e vivia em Roma. Associou-se
a Celéstio, outro monge, ex
advogado, de vida ascética.

Ambos otimistas em relação à


natureza humana e confiavam na
força da vontade. Conceberam a
seguinte nova doutrina:


- Não existiu pecado original, que
teria deixado a natureza humana
inclinada para o mal; por
conseguinte.
- O ser humano por si mesmo é
capaz de se manter sem pecado e de
praticar o bem.
- A graça de que fala S. Paulo seria
apenas a lei ou o exemplo de Cristo
ou, no máximo, uma iluminação do
Espírito Santo a respeito dos
mandamentos de Deus.
Relendo o Gênesis, Pelágio e
Celéstio diziam:
- Adão teria morrido mesmo
sem o pecado, i. é, não houve
estado especial de graça
posteriormente perdido por
desobediência.
- O pecado de Adão prejudicou
a ele só e não ao gênero
humano.
- A queda de Adão não acarretou
morte para todos os homens ,
como a ressurreição de Cristo não
é causa de ressurreição dos
homens.
- A Lei de Moisés leva à salvação
tanto quanto o Evangelho.
- As crianças conseguem a vida
eterna mesmo sem o Batismo.
Adoutrina de Pelágio é como uma
Moral filosófica, meramente
racional que- dispensava a
intervenção de Deus na salvação
do homem. O papel de Cristo
reduzia-se ao exemplo.
Reação de S. Agostinho

- Os primeiros pais (Adão e Eva)
foram elevados à filiação divina ou
à justiça (santidade). Esse estado
não era necessário à natureza,
mas dom; perderam essa graça
por soberba e desobediência.
Consequentemente, só podem
transmitir a natureza humana
despojada da graça; assim toda
criança nasce carente dos dons
gratuitos que deviam herdar dos
primeiros pais; todos precisam de
especial auxílio ou graça de Deus
para praticar o bem; essa graça é
o fortalecimento da vontade para
optar pela virtude; é imerecida e
gratuita.
Celéstio e Pelágio, tendo ido a
Cartago difundir suas doutrinas,
foram condenados por um Sínodo
daquela cidade em 411.
Enquanto S. Agostinho assim
expunha, Pelágio na Palestina
tentava ganhar adeptos. Isto lhe era
mais fácil no Oriente pois viviam sob
o pano de fundo do gnosticismo e do
maniqueísmo. Foi declarado
ortodoxo num sínodo de Dióspolis
(415).
Em 416 os concílios regionais de
Cartago e Milevo conderanam
novamente Pelágio e Celéstio como
hereges e obtiveram do Papa
Inocêncio I a confirmação da
sentença. Seu sucessor, Papa
Zósimo, os justificou por admitirem a
graça de Cristo. Com a insistência de
S. Agostinho, em 418 Zósimo
publicou encíclica intimando todos os
bispos a condenar o pelagianismo,
implicando seu fim.
Os poucos pelagianistas foram
acolhidos no Oriente por Teodoro de
Mopsuéstia e Nestório; por isso o
Concílio de Éfeso (431) condenou o
nestorianismo e renovou a
condenação ao pelagianismo.
Perdurou ainda na Gália até o século
VI o Semipelagianismo, que a admite
a necessidade da graça, mas o
primeiro passo para a salvação vem
do homem só; a graça de Deus o
levará adiante.
OBRAS DE AGOSTINHO
A vida de Agostinho, após sua
conversão, pode ser dividida em três
períodos: no primeiro, sua maior
preocupação era atacar e rejeitar os
maniqueístas; durante o segundo,
estava preocupado com os donatistas
e no terceiro com os Pelagianos.
Agostinho deixou mais de 100 livros,
500 sermões e 200 cartas. Suas obras
mais importantes foram:
Talvez a obra mais conhecida de sua lavra
sejam as Confissões, uma das maiores
obras autobiográficas de todos os tempos.
Nas páginas dessa obra, Agostinho abre a
sua alma. Os livros I a VII descrevem sua
vida antes da conversão; os dois livros
seguintes narram os acontecimentos
posteriores à sua conversão, inclusive a
morte de sua mãe e sua volta ao norte da
África; os livros XI a XIII são comentários
aos primeiros capítulos de Gênesis, em
que Agostinho recorre à alegoria com
frequência.

Confissões, obra autobiográfica antes
e depois de sua conversão;
Contra Acadêmicos, obra onde
demonstra que o homem jamais pode
alcançar a verdade completa através
do estudo filosófico e que a certeza
somente vem pela revelação na Bíblia;
Os cristãos de todos os tempos têm
sido abençoados com a leitura dessa
obra escrita por Agostinho para louvor
de Deus, cuja graça alcançou um
pecador como ele. O livro traz no
primeiro parágrafo a citadíssima
frase: “Tu nos fizestes para ti e nosso
coração não descansará enquanto não
repousar em ti”.
Aconsciência de seu pecado e a força
do mal, evidenciado por sua vida
imoral apaixonada, levaram-no a
clamar: “Dá-me a castidade e a
continência, mas não ainda”. Essa
necessidade só foi preenchida por sua
experiência da graça de Deus.
Agostinho escreveu ainda
tratados teológicos dos quais De
Trinitate, sua obra sobre a
Trindade, é o mais importante.
Os primeiros sete livros da obra
são dedicados a exposição
bíblica dessa doutrina.
Seu breve trabalho Enchiridion
ad Laurentium resume sua
ideias teológicas e de certo
modo completa outra de suas
obras,Retractationes, dando ao
leitor uma imagem mais nítida e
resumida de sua teologia.
Agostinho escreveu também
muitas obras polêmicas para
defender a fé dos falsos ensinos
e das heresias dos
maniqueístas, dos donatistas e,
principalmente dos pelagianos.
Sua De Haeresibus é uma
história das heresias.
De Civitate Dei, (413-426) obra
apologética conhecida como Cidade de
Deus. O próprio Agostinho
considerava ser essa sua grande obra.
Com o saque de Roma por Alarico, rei
dos bárbaros em 410, os romanos
creditaram este desastre ao fato de
terem abandonado a velha religião
clássica romana e adotado o
Cristianismo. Nesta obra, põe-se a
responder esta acusação a pedido de
seu amigo Marcelino.
Agostinho escreveu também muitas
obras práticas e pastorais, além de
muitas cartas, que tratam de
problemas práticos que um
administrador eclesiástico enfrenta no
decorrer dos anos do seu ministério.
Aformulação de uma interpretação
cristã da história deve ser tida como
uma das contribuições permanentes
deixadas por este grande erudito
cristão. Nem os historiadores gregos
ou romanos foram capazes de
compreender tão universalmente a
história do homem.
Agostinho exalta o poder espiritual
sobre o temporal ao afirmar a
soberania de Deus sobre a criação.
Esta e outras inspiradoras obras
mantiveram viva a Igreja através do
negro meio-milênio anterior ao ano
1000.
Agostinho é visto pelos protestantes
como um precursor das ideias da
Reforma com sua ênfase sobre a
salvação do pecado original e atual
através da graça de Deus, que é
adquirida unicamente pela fé. Sua
insistência na consideração do
sentido inteiro da Bíblia na
interpretação de uma parte da Bíblia
(Hermenêutica) é um princípio de
valor duradouro para a Igreja.
Igreja
 Os Reformadores encontraram em
Agostinho um aliado inestimável na
sua crença em que o homem
escravizado pelo pecado, necessita da
salvação através da graça de Deus
pela fé somente. No período entre
Paulo e Lutero, a Igreja não teve mais
ninguém da estatura moral e
espiritual de Agostinho.
SEUS ÚLTIMOS MESES

Durante os últimos meses de vida,


os exércitos de Vandal tomaram a
cidade fortificada de Hipona por
mar e terra. Eles haviam destruído
as cidades do Império Romano no
Norte da África e as evidências do
Cristianismo. A cidade estava
cheia de pobres e refugiados, e a
congregação de Agostinho não era
uma exceção.
No final de sua vida, ele foi submetido
a uma enfermidade fatal, e com 75
anos ele pediu que ficasse só, a fim de
se preparar para encontrar com o seu
Deus. Um ano depois da morte de
Agostinho em 430, os bárbaros
queimaram toda a cidade, mas
felizmente, a biblioteca de Agostinho
foi salva, e seus escritos se perpetuam
em nosso meio até a nossa era.
Jerônimo, cujo nome em latim era
Eusebius Hieronomous. Nasceu
em Stridone na Dalmácia (hoje ex-
Iugoslávia) no ano de 347, em
uma família de classe alta. Seus
pais eram católicos prósperos que
enviaram o filho para Roma, a fim
de receber uma educação
superior.
JERÔNIMO
Estudioso e tradutor da Bíblia que
tinha por alvo introduzir o melhor da
erudição grega no cristianismo
ocidental. Tinha consciência da
inferioridade do Ocidente, e labutava
para acrescentar a erudição à glória
pública da Igreja. Ali, ouviu o grande
gramático Donato, lançou os alicerces
da sua biblioteca de autores latinos
clássicos, e adotou Cícero como seu
modelo de estilo em latim.
No fim dos seus estudos, quando tinha
cerca de vinte anos de idade, viajou para
a Gália. Em Treves, a capital imperial,
experimentou um tipo de conversão, e
renunciou a carreira secular a favor da
meditação e da obra espiritual. Esta
mudança de carreira levou-o de volta
para casa e para Aquilia, ali perto, onde
conheceu Rufino e outros clérigos, bem
como mulheres devotas que se
interessavam pelo asceticismo. Desta
maneira, começou sua carreira de
cultivo de interesses ascéticos e
eruditos.
Em 373, Jerônimo resolveu viajar ao
Oriente. Estabeleceu-se durante algum
tempo no deserto da Síria ao sudeste de
Antioquia. Ali, dominou o hebraico e
aperfeiçoou seu conhecimento de grego.
Depois da ordenação em Antioquia, foi
para Constantinopla e estudou com
Gregório de Nazianzo. Em 382, voltou a
Roma, onde se tornou amigo e secretário
do Papa Damaso. Temos de agradecer a
Damaso o primeiro impulso em direção a
versão da Bíblia em latim, feita por
Jerônimo: a Vulgata.
Quando Damaso morreu, em fins de
384, Jerônimo resolveu ir para o Oriente
peia segunda vez. No início, depois de
andar um pouco por Antioquia e
Alexandria, estabeleceu-se em Belém,
onde passou o restante de sua vida.
Achou companheiros num mosteiro e
atuou como conselheiro espiritual para
algumas senhoras ricas que Ihe
seguiram de Roma.
Amaior realização de Jerônimo foi a
Vulgata. O caos da versão mais antiga
em latim era bem conhecido.
Trabalhando com o AT hebraico e o NT
grego, Jerônimo, depois de vinte e três
anos de labuta, deu novamente a Bíblia
a cristandade. Embora o texto tenha
sido deturpado durante a Idade Média,
sua supremacia foi reafirmada pelo
Concílio de Trento em 1546, e até hoje
continua sendo a Bíblia latina clássica.
Uma segunda parte da herança que
Jerônimo deixou, relacionada aquela
versão, acha-se nas suas exposições das
Escrituras. Como todos os interpretes
bíblicos da igreja primitiva, Jerônimo
afirmou um significado tríplice
(histórico, simbólico e espiritual) das
Escrituras, e repudiou como "judaica"
uma interpretação exclusivamente
histórica.
Amera letra mata. Ele exigia somente
que a interpretação histórica não fosse
considerada inferior a alegórica (ou
espiritual). Jerônimo não foi nenhum
teólogo criativo nem um grande mestre
da Igreja. Ocupava-se em amargas
controvérsias, uma após a outra, com
paixão vingativa. Contudo, apesar de
todas as suas fraquezas pessoais, a
reputação de Jerônimo como
estudioso bíblico permanece.
Jerônimo permanece em Belém por todo
o resto da vida, isto é, até 419. Esse
longo período de 33 anos poderia ser
dividido em três fases:

1- 386-393: o período inicial em Belém.


Nesse período, Jerônimo dá muitos
frutos. Talvez seja o período melhor e
mais harmonioso da sua vida. Faz a
tradução latina da Bíblia, com o Antigo
Testamento diretamente traduzido do
hebraico (Vulgata).
2 - 393-404: o período da primeira
controvérsia origenista. No contexto da
biografia global de Jerônimo, pode-se
dizer muito brevemente: Jerônimo, que
fora um grande admirador de Orígenes,
muda de opinião sob a influência de
Epifânio, o caçador dos hereges, e de
agora em diante combate violentamente
a influência de Orígenes.
3 - 404-419: do período da morte de
Paula* até a própria morte. Em 404
morre Paula e Jerônimo, vencido pela
dor, escreve a Carta 108, como um
grande elogio (Em memória de Paula).
Depois, sempre com dores, traduz a
coleção dos “Preceitos pacomianos”, que
tiveram uma grande influência sobre a
legislação monástica do Ocidente.

* Oriunda de uma das melhores famílias da aristocracia romana. Viúva, dedicou-


se ao estudo das Sagradas Escrituras sob a direção de São Jerônimo, e com ele
fundou mosteiros
Em 411, escreve a Carta 125 ao jovem
Rústico como uma espécie de “diretório”
da vida monástica. Por volta de 415,
Jerônimo se envolve em um outro
conflito, contra os pelagianos que negam
o papel da graça de Deus na luta
humana contra o pecado (que se deveria
fazer, segundo eles, exclusivamente com
a própria vontade). Em 418 morre
Eustáquia, e em 419, o próprio
Jerônimo.
TEOLOGIA OCIDENTAL APÓS
AGOSTINHO
Duas décadas antes da morte de
Agostinho, o mundo fora sacudido
pelas noticias da queda de Roma. O
império antigo agora pertence ao
passado, e seu lugar foi tornado por
uma variedade de reinos bárbaros -
embora muitos deles ainda se
considerassem súditos do Império
Romano.
As novas circunstâncias afetaram
profundamente a vida da igreja. Era
necessário agora tomar sob si a
responsabilidade da conversão dos
invasores pagãos. Aqueles dentre os
bárbaros que não eram pagãos eram
arianos, e, assim, uma questão teológica
que já parecia ter sido resolvida foi
levantada novamente.
Em meio à confusão daqueles tempos,
não era provável que um pensamento
original florescesse. A Teologia tornou-se
uma questão de compilação e
comentário, ao invés de reflexão e
ousadia. Assim, aquele foi um tempo de
poucas luzes. Mas assim mesmo, estas
poucas luzes esta­vam dando os
primeiros passos na direção do que
seriam, mais tarde, as grandes
realizações da teologia medieval.
Controvérsiassobre a teologia de
Agostinho:
A teologia agostiniana não se tornou
imediatamente aceita como um todo,
mas foi objeto de longas controvérsias
antes que sua autoridade fosse
amplamente reconhecida. As mais
importantes destas controvérsias
tiveram a ver com duas questões: a da
graça e predestinação, e a da natureza
da alma humana.
Graça e Predestinação

Arespeito da primeira destas questões,


os oponentes da doutrina de Agostinho
têm sido tradicionalmente chamados de
semi pelagianos, que rejeitavam as
doutrinas de Pelágio e admiravam e
respeitavam Agostinho, embora não
estivessem dispostos a seguir o bispo de
Hipona até as últimas conseqüências de
sua teologia.
Questões concernentes à doutrina de
Agostinho sobre graça e predestinação
foram levantadas primeiramente dentro
do círculo de seus discípulos e
seguidores. Dentre estes estava um certo
Vitalis, que propôs a Agostinho uma
doutrina de acordo com a qual todo bem
que alguém faz é devido à graça de Deus,
mas o primeiro passo para a salvação, o
de aceitar a salvação, fé inicial, é
somente nosso, e Deus não intervém
nisso. Agostinho respondeu expondo que
graça para ser verdadeira, tem que ser
inteiramente imerecida.
No sul da Gália, especialmente em
Marselha, o espírito de oposição à visão
de Agostinho sobre graça e
predestinação foi mais forte. Foram
enviadas a Agostinho duas cartas de
oposição por dois de seus defensores,
Próspero de Aquitânia e Hilário de Arles.
Outros líderes dessa oposição também
deixaram seus escritos, como João
Cassiano, Vincent de Lérins e Faustus
de Riez.
João Cassiano foi um monge que se
estabelecera em Marselha após ter
viajado o setor oriente do império,
onde se dizia que ele foi um discípulo
de João Crisóstomo, e que gastou
algum tempo dentre os monges
egípcios. Em Marselha, ele fundou
dois monastérios, e foi lá que escreveu
seus três trabalhos mais importantes:
Sobre a instituição do monasticismo,
Discursos espirituais e Sobre a
encarnação do Senhor, contra Nestor.
Textos de Cassiano, sutilmente
antiagostinianos, impediram a
aceitação completa da doutrina de
Agostinho, não somente quando elas
foram escritas e durante o movimento
antiagostiniano, mas mesmo muito
mais tarde, quando a autoridade de
Agostinho foi reconhecida
amplamente, mas ele foi interpretado
à luz de escritores tais como
Cassiano.
Vincent de Lérins em seu
Communitorium não ataca Agostinho
diretamente, mas vem em defesa das
doutrinas tradicionais contra
“inovadores” anônimos, que são
claramente Agostinho e seus
discípulos.
De acordo com Vincent, seu propósito
é o de “descrever aquelas coisas que
foram legadas a nós por nossos
ancestrais e deixadas conosco, e fazê-
lo com a fidelidade de um narrador, e
não com a presunção de um autor ”.
AEscritura é a fonte básica da
doutrina verdadeira. Mas, desde que
seu significado é difícil de descobrir, e
ela pode ter várias interpretações, o
Senhor deu a tradição como um meio
de determinar em que se deve
acreditar.
Fausto de Riez é o mais ardente
expoente das teses antiagostinianas.
Em seu tratado Sobre a graça de Deus
e livre-arbítrio, defende uma doutrina
de acordo coma qual o primeiro passo
da fé, depende da liberdade humana.
Esta liberdade nos dá a capacidade
natural de nos voltarmos para Deus e
procurar até que haja uma resposta.
“A Deus, a liberalidade de
recompensar; e ao ser humano, a
devoção de buscar”.
Contra estes vários ataques,
Agostinho e seus discípulos insistiram
que a fé inicial está na graça de Deus,
e que esta graça é dada de acordo
com uma predestinação eterna. Foi
contra as objeções de Cassiano que
Agostinho compôs seu tratado Sobre a
predestinação dos santos e Sobre o
dom da perseverança.
Os Cânones de Orange, resultado do
Sínodo que se reuniu em 529 d.C.,
são um bom exemplo da maneira
como a Idade Média leu os trabalhos
de Agostinho, visto terem sido
retirados principalmente dos
trabalhos de Agostinho e Próspero,
embora os próprios cânones não
foram conhecidos durante a maior
parte da Idade Média.
O Concílio de Orange
O Concílio de Orange foi um
florescimento da controvérsia entre
Agostinho e Pelágio. Esta
controvérsia tem a ver com o grau
com o qual o ser humano é
responsável para com sua própria
salvação, e o papel da graça de
Deus em trazer tal salvação.
Os Pelagianos sustentam que os seres
humanos nascem num estado de
inocência, isto é, não há uma tal coisa
como uma natureza pecaminosa ou
pecado original. Como resultado desta
visão, eles sustentavam que um
estado de perfeição impecável era
alcançável nesta vida.
OConcílio de Orange tratou com a
doutrina Semipelagiana de que a raça
humana, embora caída e possuidora
de uma natureza pecaminosa, ainda é
suficientemente “boa” para ser capaz
de responder à graça de Deus através
de um ato da vontade humana não
redimida. Na medida em que lermos
os Cânones do Concílio de Orange,
veremos de onde João Calvino derivou
suas visões da depravação total da
raça humana.
Roger Olson, em a História da
Teologia Cristã, publicada no Brasil
pela Editora Vida, escreve o seguinte
sobre Orange: “A controvérsia
semipelagiana finalmente terminou
em 529, quando houve uma reunião
de bispos ocidentais, conhecida como
Sínodo de Orange. Às vezes, é
chamada de Concílio de Orange, mas
não consta dos concílios ecumênicos
da igreja, nem pelo Oriente, nem pelo
Ocidente.
Em Orange, os bispos católicos
condenaram os principais aspectos do
semipelagianismo, endossaram o
conceito que Agostinho tinha da
necessidade e total suficiência da graça e
condenaram a crença na predestinação
divina para o mal ou para a perdição.
Como Agostinho nunca chegou a afirmar
especificamente que Deus predestina
alguém ao pecado ou ao inferno, seus
próprios ensinos passaram pelo Sínodo
de Orange sem serem em nada
criticados, mas também sem serem
plenamente confirmados.
O sínodo não defendeu a predestinação de
nenhuma forma. Entretanto, exigiu a
crença que qualquer ato de bondade ou
retidão dos seres humanos é resultado da
graça de Deus que opera neles. A teologia
católica ortodoxa, a partir de então,
incluiria as idéias de que a graça de Deus
é a única origem e causa de todos os atos
de retidão humana e que os homens não
são capazes de realizar obras merecedoras
da salvação sem a graça auxiliadora.
Todavia, como o Sínodo de Orange
deixou em aberto a questão da livre
cooperação humana com a graça, a
Igreja Católica passou a incluir e
enfatizar um sistema de obras meritórias
que são necessárias como credenciais de
graça e isso se reverteu a favor de um
tipo de sinergismo no qual o livre-
arbítrio precisa cooperar com a graça
para que a salvação chegue à
consumação perfeita.
ORGANIZAÇÃO DA IGREJA –
Pág. 13
Neste período apareceu um governo
geral da Igreja nos Concílios gerais ou
ecumênicos. A autoridade desses
concílios era exercida pela publicação
dos credos que decidiam quanto à
doutrina aprovada pela Igreja Católica.
Tais concílios eram, em teoria,
compostos de todos os bispos, embora
nem todos estivessem presentes aos
concílios do IV e do V séculos.
O engrandecimento do oficio do bispo
tinha ido tão longe que se considerava a
Igreja constituída somente deles; a Igreja
era o bispo e aqueles em comunhão com
ele. Quando se reuniam todos os bispos,
julgava-se que a Igreja toda estava
reunida. Daí julgar-se que um concílio
de bis­pos tinha a direção do Espírito
Santo prometido à Igreja.
Temos visto na Igreja Católica um
processo de centralização de autoridade
com o aparecimento do bispo com
caráter monárquico, isto é, do bispo que
a princípio é somente o dirigente de uma
igreja e depois aparece como o
governador de uma diocese. For essa
época a idéia de diocese tomou grande
desenvolvimento, tornando cada vez
maior o poder dos bispos.
Mais adiante, os bispos das capitais
das províncias romanas tornaram-se,
naturalmente, mais importantes que
os demais. Foram chamados bispos
metropolitanos e cada um exercia
superintendência sobre os demais
bispos e suas dioceses. Com um
passo mais adiante na centralização,
cinco bis­pos se levantaram acima dos
demais, e foram considerados
patriarcas:
o bispo de Roma, o de Constantinopla, o
de Alexandria, o de Antioquia e o de
Jerusalém.Pelo ano de 400 já se verifica
o completo desenvol­vimento da Igreja
Católica, com sua organização
hierárquica completa, o clero exercendo
demasiado domínio espiritual sobre o
povo, os concílios criando leis
eclesiásticas, o culto impressionante e
cheio de mistérios, seus dogmas
autoritários e a condenação, como
hereges, dos cristãos que não
concordavam ou não se conformavam
com eles.
Além disso, foi aceita a doutrina de
Agostinho a respeito de Igreja Católica.
Ele cria que os primeiros bispos da
Igreja foram escolhidos pelos apóstolos.
Estes receberam de Jesus os dons do
Espírito Santo para cuidarem da Igreja e
legaram esses dons aos seus sucessores.
Os primeiros bispos, que receberam seus
encargos numa sucessão regular,
possuindo, todos eles, desde o primeiro,
a plenitude desses dons do Espírito.
Por essa razão, somente eles
preservaram a fé pura e original,
podiam, por isso, ministrar o verdadeiro
ensino que conduz à salvação. Mais
ainda: unicamente foram os guardas dos
verdadeiros sacramentos, por meio dos
quais vêm os homens à divina graça
salvadora. Agostinho ensinava que a
verdadeira igreja se caracterizava por
seus bispos possuírem a legítima
sucessão apostólica. Somente na Igreja
Católica desses bispos, havia salvação.
A Separação do Oriente e do Ocidente
Os fatos que ocasionaram a divisão final
da Igreja Católica nas igrejas do oriente e
do ocidente foram triviais. Uma delas foi
a diferença de raça. No ocidente, a raça
dominante era a latina que se tornara
fortalecida pela fusão com os germanos.
No oriente, dominavam os gregos que
receberam grande infusão do sangue
oriental.
Esta foi a diferença que facilmente se
tornou a causa das incompreensões e
falta de simpatia, fortalecendo ainda
mais os outros fatores de separação.
Outra causa da divisão da Igreja foi o
estabelecimento de dois governos no
império, o do oriente e o do ocidente. O
abismo existente entre as duas partes do
império foi alargado quando desapareceu
a linha dos imperadores ocidentais e
ficaram somente os imperadores do
oriente.
O oeste ficou sem qualquer governo. Os
imperadores do oriente governaram a
igreja como qualquer outra coisa dos
seus domínios. Mas a Igreja do ocidente,
chefiada pelo bispo de Roma, não
podendo exercer seu domínio, rompeu,
finalmente, com os imperadores do
oriente quando o papa coroou Carlos
Magno imperador romano. Uma terceira
causa de divisão foi a pretensão, sempre
crescente, do bispo de Roma, a qual
nunca foi reconhecida pelo patriarca de
Constantinopla.
O primeiro rompimento foi em 867
quando por causa de uma desavença
entre o papa e o patriarca de
Constantinopla, um concílio no oriente
declarou papa deposto do seu bispado.
Isto foi feito por Concílio dois anos mais
tarde. Mas a contenda entre o Leste e o
Oeste continuou em discussões amargas
por causa de pequenas diferenças de
doutrina e ritos, até 1054.
Então, depois de nova contenda entre
o papa e o patriarca, o primeiro
pronunciou um anátema con­tra o
segundo e contra os que o apoiavam.
Este foi o rompimento final. Desde
então, as igrejas grega e romana
vivem 'separadas, cada qual
pretendendo ser a verdadeira Igreja
Católica e recusando a outra qual­quer
reconhecimento.
Aigreja grega ou do oriente
compreendia a Grécia, a maior parte
da península balcânica e a Rússia,
inclusive grande parte dos cristãos da
Ásia Menor, Síria e Palestina. O resto
da Europa ficou, portanto, prestando
obediência ao papa.
Daqui por diante daremos mais
atenção, principalmente, a Igreja
Romana ou do ocidente, pois esta
exerceu muito maior influência na
história do mundo, do que a igreja
grega ou do oriente; e porque, com a
primeira, a vida religiosa das
Américas ainda hoje tem muito maior
relação, do que com a oriental.
A IDADE DAS TREVAS
Um famoso historiador católico romano
chama o século X de um século de
trevas de chumbo e ferro. Estas palavras
podem ser corretamente aplicadas não
somente ao século X, mas também às
últimas décadas do nono e a maior parte
do século X. A guerra mutuamente
destrutiva entre as várias facções do
antigo Império Carolíngio - associada
com as invasões Normandas, Sarracenas
e Húngaras - criaram um constante
estado de turbulência.
Como antes, os monastérios tentaram
preservar algo da cultura e do
conhecimento do passado. Mas a
maioria deles não estava incluída
dentro dos muros das cidades e,
portanto, era facilmente saqueada
pelos invasores, resultando na
destruição de muitas bibliotecas
valiosas.
O assassinato de um papa era usual,
e mesmo papas mortos estavam
arriscados a serem julgados e
condenados por seus sucessores.
O papa Bonifacio VI em 896, morreu
15 dias após a sua posse.
O seu sucessor Estevão VII* mandou
exumar o cadáver, colocar num trono
vestido com as vestes pontificiais para
julgá-lo por suas ofensas cometidas
durante o reinado do Papa Formoso,
que foi o seu antecessor. 

 *Fonte: CRONICA DOS PAPAS - Editora Verbo.


Conrado II, o primeiro imperador da
Casa de Franconia (1024-1039), não
foi capaz de estabelecer ordem em
Roma. Enquanto isso, na igreja, um
movimento reformista se
desenvolvera, associado originalmente
com a reforma monástica de Cluny e,
mais tarde, com os nomes de
Hildebrando, Humberto, Bruno de
Toul e Gerard de Florenga.
Finalmente, com o apoio de Henrique III, este
partido tomou posse da Santa Se, colocando
nela Bru­no de Toul, sob o nome de Leão IX
(1049-1054). Dai em diante, com breves
interrupções, uma grande reforma eclesiástica
se desenvolveu, chegando ao auge durante o
pontificado de Hildebrando, que tomou o
nome Gregório VII (1073-1085). Assim a cena
estava pronta para o que seria a grande
renascença do século XII.
Ainda, a despeito das trevas desta era,
as atividades teológica e literária não
morreram totalmente. Elas continuaram
em muitos centros monásticos e escolas
catedrais, embora claramente Ilhes
faltasse originalidade.
No século IX, enquanto o Império
Carolíngio estava se dissolvendo, o mais
importante destes centros era o
monastério de Saint Germain, em
Auxerre. Foi lá que Heiric de Auxerre
surgiu.
Remigius de Auxerre, um discípulo de
Heiric, foi o principal pensador daquela
escola. Sua vida ilustra a crescente
importância das escolas catedrais, pois
em 893 d.C., a pedido do arcebispo de
Reims, ele deixou o monastério para se
tornar um mestre nas duas escolas que
se desenvolveram naquela cidade. Mais
tarde, por meio de um chamado similar,
Remigius mudou-se para Paris.
Lá ele teve dentre seus discípulos, Odo,
o future líder da reforma Cluniacense.
Assim, a carreira de Remigius mostra
como as escolas catedrais, que
receberam muitos dos seus primeiros e
melhores professores dos monastérios,
posteriormente contribuíram para a
renovação da vida monástica.
As opiniões de Remigius sobre questões
teológicas mais tradicionais podem ser
achadas em seus comentários sobre
Genesis e os Salmos. Nestes, ele
interpreta a Escritura alegoricamente de
tal forma que narrativas como as da
criação se refere, de uma maneira
velada, a Cristo, aos evangelistas e à
igreja. A respeito da criatura humana,
Remigius acredita que a imagem de
Deus está na racionalidade
e imortalidade, enquanto que a
semelhança consiste na santidade e
justiça originais. Quando Adão pecou e
caiu, ele perdeu a semelhança de Deus,
mas não a imagem. Remigius alega que
cada um de nós e um microcosmo que
reflete o universo, pois no corpo a alma
está presente em todo lugar e não está
localizada em nenhum lugar,
exatamente como Deus está presente em
todo o mundo, sem estar limitado a
lugar algum.
Fonte:

História da Igreja Cristã - Editora


Vida
O Cristianismo Através dos Séculos -
Editora Vida Nova

Você também pode gostar