R. Descartes

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O CONHECIMENTO E A RACIONALIDADE

CIENTÍFICO-TECNOLÓGICA

1. TEORIAS EXPLICATIVAS DO CONHECIMENTO

René Descartes
A dúvida metódica
Certeza
Objetivo: mostrar que
os céticos estão
enganados  encontrar um fundamento
inteiramente seguro para o
Se seguirmos o conhecimento
método que nos
propõe, poderemos  crenças ou convicções que não
mesmo ficar com um possam ser colocadas em dúvida,
conhecimento certo, a partir das quais seja possível
isto é, infalivelmente
justificado justificar infalivelmente outras
crenças ou convicções
Como haveremos de encontrar esse
fundamento seguro?

1. Examinar as nossas crenças, tentando


determinar se podemos colocá-las em dúvida

2. Rejeitar todas as nossas crenças em que


possamos imaginar a menor dúvida
 talvez algumas delas sejam verdadeiras, mas,
como não resistem aos argumentos dos céticos,
não podem servir de fundamento para o
conhecimento
 devemos tratá-las como se fossem falsas
Então:

 Vamos tentar colocar em dúvida as

meio para chegar à certeza


nossas crenças, rejeitando

O recurso à dúvida é um
provisoriamente todas aquelas que
não sejam inteiramente indubitáveis

 Crenças que resistem a todo e qualquer


argumento cético
 certas ou indubitáveis
 fundamento para o conhecimento
Dúvida cartesiana
 Opõe-se radicalmente à dúvida
cética

 Descartes teve a preocupação de o


não confundirem com os céticos
«que duvidam por duvidar e se A dúvida cética é definitiva e
mantêm sempre indecisos, enquanto não provisória; é uma
todo o meu desejo tende a conclusão e não um ponto de
esclarecer-me e a pôr de lado a partida; é destrutiva e não
terra movediça e a areia para construtiva
encontrar a rocha firme» (Discurso do
Método)
Dúvida cartesiana
Os argumentos céticos de Descartes

 A dúvida vai aplicar-se em primeiro lugar às informações


dos sentidos: enganam-nos algumas vezes (impressão de
ser redondo o que é quadrado, verde o que é amarelo, quebrado o
que está inteiro)
 Princípio hiperbólico que orienta a aplicação da dúvida:
devemos considerar como sempre enganador o que nos
engana algumas vezes sentidos não merecem qualquer
confiança

Descartes rejeita um dos fundamentos do saber


tradicional, de inspiração aristotélica

convicção de que o conhecimento


começará com a experiência/as informações dos sentidos
Os argumentos céticos de Descartes

 Descartes põe em causa outro dos fundamentos essenciais


do saber tradicional: a convicção ou a crença imediata na
existência das realidades físicas ou sensíveis

 Argumento: impossibilidade de encontrar um critério


absolutamente convincente que nos permita distinguir o sonho da
realidade (há acontecimentos que, vividos durante o sonho, são
vividos com tanta intensidade como quando estamos acordados)

 Suspeita de que aquilo que consideramos real não passe de um


sonho: os acontecimentos e as coisas que julgo reais nada mais
são do que figurantes de um sonho.

Todas as coisas sensíveis podem não passar de realidades que


só existem em sonho (incluindo o meu corpo)
Os argumentos céticos de Descartes

 Descartes vai pôr em causa aquilo que até então


considerara o modelo do saber verdadeiro: o
Maligno / Deus Enganador

conhecimento matemático
Argumento do Génio

 As matemáticas são produtos da atividade do


entendimento e por isso constituem a dimensão dos
objetos inteligíveis
 Sendo estas realidades inteligíveis consideradas as mais
evidentes, se as pudermos pôr em causa, todos os outros
produtos do entendimento serão postos em dúvida

 Estratégia
 encontrar um motivo/razão/argumento para suspeitar da
validade dos conhecimentos matemáticos
 se essa suspeita/dúvida for possível, esses conhecimentos
serão considerados falsos
Os argumentos céticos de Descartes

 Argumento: Deus, que supostamente me criou, criando ao mesmo


Maligno / Deus Enganador

tempo o meu entendimento, sendo um ser omnipotente, pode fazer


tudo, mesmo aquilo que eu acho incrível
Argumento do Génio

 O facto de Deus (cuja existência é uma hipótese) ser omnipotente e


me ter criado leva-me a suspeitar (por pouco que seja e por
fantasioso que pareça) de que Deus, ao criar o meu entendimento, ao
«depositar» nele as «verdades» matemáticas, pode tê-lo criado
«virado do avesso»/pervertido sem disso me informar

Enquanto a hipótese de Deus enganar não for rejeitada, não


podemos ter a certeza de que as mais elementares «verdades»
matemáticas são realmente verdadeiras. Se isso vale para as
«verdades» mais elementares e simples, mais se aplica ainda às
mais complexas
O cogito
 Descartes pensa que há algo de que não podemos
duvidar: se estamos a colocar as nossas crenças em
dúvida, estamos a duvidar, e duvidar é uma forma
de pensar. E, se estamos a pensar, então existimos -
Eu penso, logo existo/Cogito ergo sum

 O cogito constitui o fundamento certo do conhecimento,


pois nem mesmo um génio maligno poderia enganar-
nos no que respeita à nossa própria existência
(enquanto seres pensantes/res cogitans)

 A existência dos outros e a existência do nosso corpo


talvez sejam ilusões
O cogito
 O cogito proporciona um ponto de partida seguro para
o conhecimento. Como?

Estamos absolutamente certos de que o eu penso, logo


existo é uma verdade porque compreendemos com
toda a clareza e distinção que para pensar é preciso
existir

Descartes admite então a seguinte regra geral: é


verdadeiro tudo aquilo que concebemos muito
claramente e muito distintamente (critério das ideias
claras e distintas)
A existência de Deus
 Descartes tenta mostrar que a existência de Deus (res divina) é
algo que conseguimos conceber ou compreender com toda a
clareza e distinção

Apresenta diversos argumentos a priori a favor da existência de Deus:


1. A ideia de um ser mais perfeito do que nós tem a sua origem
em Deus:
 como duvido, sei que sou imperfeito, mas tenho a ideia de um ser
muito mais perfeito do que eu
 aquilo que é menos perfeito não pode criar aquilo que é mais perfeito
 a minha ideia de um ser mais perfeito do que eu não pode ter sido criada
por mim, mas tem de ter sido colocada em mim por um ser mais perfeito do
que eu
 esse ser tem de possuir todas as perfeições concebíveis, ou seja, tem de ser
Deus
A existência de Deus
2. (Versão do argumento ontológico) Ideia de que a existência é essencial à
perfeição:
 quando examino a ideia de triângulo, compreendo que os seus três
ângulos têm de ser iguais a dois ângulos retos. Do mesmo modo, quando
examino a ideia de um ser perfeito (ou seja, a ideia de Deus),
compreendo que este tem de existir
 a propriedade de existir é algo que um ser perfeito não pode deixar de ter; se não
existir, não será perfeito, pois faltar-Ihe-á essa perfeição

Estabelecida a existência de Deus


 a hipótese do génio maligno pode ser afastada
 como Deus não é malévolo, seguramente não pretende enganar-nos
 dado que as nossas ideias provêm de Deus, não podem deixar de ser
verdadeiras na medida em que forem claras e distintas
A existência de Deus
 Se usarmos bem as nossas
faculdades, confiando Deus valida as nossas
apenas no que pretensões ao conhecimento,
compreendemos clara e permitindo-nos afastar o
distintamente, chegaremos ceticismo
de certeza à verdade e
evitaremos o erro

Dado que Deus existe,


Podemos estar seguros de
podemos ter realmente
que aquilo que nos rodeia
conhecimento e não estar
não é uma ilusão: o mundo
(res extensa) exterior é real enganados a respeito
e nós podemos conhecê-lo daquilo que julgamos saber
Descartes: três tipos de ideias

 Formadas pela imaginação


 provêm da nossa capacidade de inventar a partir de coisas materiais,
ideias representativas de seres quiméricos, puras ficções do espírito
humano.
Factícias

 Podem ser geniais no contexto da arte, mas não têm a ver


com o conhecimento verdadeiro da realidade
Descartes: três tipos de ideias

 Provêm do exterior, dos objetos captados pelos sentidos


Adventícias

 Apresentam-se ao espírito de modo obscuro e confuso


pelo que há que duvidar delas, nada garantindo que
correspondam às coisas reais

 Como são enganadoras, também não podemos confiar


nelas, quando o objetivo é a obtenção de um
conhecimento verdadeiro
Descartes: três tipos de ideias

 Originárias da razão, fazendo parte da estrutura racional do


homem

 Colocadas na alma por Deus, são as únicas que se


Inatas

prestam a um verdadeiro conhecimento

 O único conhecimento seguro é o que se obtém pela


dedução de consequências lógicas dessas ideias

 Como as ideias inatas não resultam da contemplação de um


universo inteligível, antes são algo que faz parte da
estrutura da razão humana, a posição de Descartes é
conhecida por racionalismo imanente ou inatista
CRÍTICAS
O círculo cartesiano
Envolve uma falácia de
circularidade:
Descartes tenta provar que
1. Deus existe porque Deus existe mostrando que
concebemos clara e a sua existência é uma
distintamente a sua ideia clara e distinta. Mas o
existência, e tudo aquilo que que nos garante que as
concebemos clara e ideias claras e distintas são
distintamente é verdadeiro verdadeiras? Deus que é o
seu autor

2. Tudo aquilo que concebemos


clara e distintamente é
verdadeiro, porque Deus
existe
O círculo cartesiano
Circularidade
viciosa

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