Tosireflexoes Iniciais

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Direitos Humanos e a DUDH

Parte I
TOSI, Giuseppe. Direitos humanos: reflexões iniciais. In TOSI,
Giuseppe (org) Direitos humanos: história, teoria e prática. João
Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2005. Cap. 1 - Direitos
humanos: reflexões iniciais. P. 18 a 35
Video: https://www.youtube.com/watch?v=DD87oOPK6C8
Criação da ONU e proclamação da
DUDH

 Criação da ONU em 26 de junho de 1945, em São


Francisco, a ONU (Organização das Nações Unidas).
 10 de dezembro de 1948 - Declaração Universal dos
Direitos Humanos
Direitos naturais na DUDH

 1º artigo da DUDH
“Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade
e em direitos. São dotadas de razão e de consciência e
devem agir em relação umas às outras com espírito de
fraternidade”.
Caráter “natural” dos direitos.
Palavras de ordem da Revolução Francesa de 1789:
liberdade, igualdade e fraternidade.
Busca do Consenso

DUDH – buscou reunir três grandes correntes do pensamento político moderno: o liberalismo,
o socialismo e o cristianismo social (liberdade, igualdade, fraternidade).
Negociação entre os dois grandes blocos do após guerra, o bloco socialista – que defendia os
direitos econômicos e sociais – e o bloco capitalista – que defendia os direitos civis e políticos.
A Declaração Universal:
 reafirma o conjunto de direitos das revoluções burguesas (direitos de liberdade, ou
direitos civis e políticos)
 Estende a uma série de sujeitos que anteriormente estavam deles excluídos (proíbe a
escravidão, proclama os direitos das mulheres, defende os direitos dos estrangeiros, etc.);
 Afirma os direitos da tradição socialista (direitos de igualdade, ou direitos econômicos e
sociais)
 Afirma os direitos do cristianismo social (direitos de solidariedade)
 Inclui os direitos culturais.
Pactos distintos para os blocos de
países

 1966 – transformar os artigos da DUDH em direitos jurídicos em cada


Estado pressupõe a criação de Pactos.

 Necessária a criação de dois pactos: “Pacto dos direitos civis e


políticos” (grande parte dos países socialistas não assinou) e “Pacto
dos direitos econômicos e sociais” (grande parte dos países
capitalistas se recusou a assinar entre eles os Estados Unidos que
ainda hoje não reconhecem tais direitos como “verdadeiros direitos”).

 DUDH proclamada em época de regimes colonialistas (assinaram, mas


continuaram a massacrar populações que lutavam por liberdade).
Tendências dos DH atualmente

 Universalização: em 1948, os Estados que aderiram à Declaração Universal da ONU


eram somente 48, hoje atingem quase a totalidade das nações do mundo, isto é,
184 países sobre os 191 países membros da comunidade internacional . Iniciou
assim um processo pelo qual os indivíduos estão se transformando de cidadãos de
um Estado em cidadãos do mundo;
 Multiplicação: nos últimos cinqüenta anos, a ONU promoveu uma série de
conferencias específicas que aumentaram a quantidade de bens que precisavam
ser defendidos: a natureza e o meio ambiente, a identidade cultural dos povos e
das minorias, o direito à comunicação e a imagem, etc.;
 Diversificação ou especificação: as Nações Unidas também definiram melhor quais
eram os sujeitos titulares dos direitos. A pessoa humana não foi mais considerada
de maneira abstrata e genérica, mas na sua especificidade e nas suas diferentes
maneiras de ser: como mulher, criança, idoso, doente, homossexual, etc...
Primeira geração de direitos

 A primeira geração inclui os direitos civis e políticos: os direitos à vida, a liberdade, à


propriedade, à segurança pública, a proibição da escravidão, a proibição da tortura, a
igualdade perante a lei, a proibição da prisão arbitrária, o direito a um julgamento
justo, o direito de habeas corpus, o direito à privacidade do lar e ao respeito de
própria imagem pública, a garantia de direitos iguais entre homens e mulheres no
casamento, o direito de religião e de livre expressão do pensamento, a liberdade de ir
e vir dentro do país e entre os países, o direito de asilo político e de ter uma
nacionalidade, a liberdade de imprensa e de informação, a liberdade de associação,a
liberdade de participação polí- tica direta ou indireta, o princípio da soberania popular
e regras básicas da democracia (liberdade de formar partidos, de votar e ser votado,
etc...).
 Para a tradição liberal, esses são os únicos direitos no sentido próprio da palavra,
porque podem ser exigidos diante de um tribunal e, por isso, são de aplicação
imediata, a diferença dos direitos de segunda geração que são considerados de
aplicação progressiva.
Segunda geração de direitos

 A segunda geração inclui os direitos econômicos, sociais e culturais: o


direito à seguridade social, o direito ao trabalho e a seguran- ça no trabalho,
ao seguro contra o desemprego, o direito a um salário justo e satisfatório, a
proibição da discriminação salarial, o direito a formar sindicatos, o direito ao
lazer a ao descanso remunerado,o direito à proteção do Estado do Bem-
Estar-Social, a proteção especial para a maternidade e a infância, o direito à
educação pública, gratuita e universal,o direito a participar da vida cultural
da comunidade e a se beneficiar do progresso científico e artístico, a
proteção dos direitos autorais e das patentes científicas.

 A maioria dos direitos de segunda geração não podem ser exigidos diante
de um tribunal, e por isso, são de aplicação “progressiva” ou
“programática” e existe um debate sobre a sua “justiciabilidade”.
Terceira geração de direitos

 A terceira geração inclui os direitos a uma nova ordem


internacional: o direito a uma ordem social e internacional em que
os direitos e liberdades estabelecidos na Declaração possam ser
plenamente realizados; o direito à paz, ao desenvolvimento, ao meio
ambiente, à proteção do patrimônio comum da humanidade, etc...
 O fundamento destes direitos está numa nova concepção da ordem
internacional baseada na ideia de uma “solidariedade” ou de uma
“sociedade” entre os povos.
 Um dos problemas desta definição está na ausência de uma
organização internacional com autoridade suficiente para tornar
efetiva a garantia e a aplicação destes direitos
Quarta geração de direitos

 A quarta geração é uma categoria nova de direitos ainda


em discussão e que se refere aos direitos das gerações
futuras que criariam uma obrigação para com a nossa
geração, isto é, um compromisso de deixar o mundo em
que vivemos, melhor, se for possível, ou menos pior, do
que o recebemos, para as gerações futuras.
 Isto implica uma série de discussões que envolvem todas
as três gerações de direitos, e a constituição de uma nova
ordem econômica, política, jurídica, e ética internacional.
Gerações ou indivisibilidade?

 Esta listagem é apenas indicativa, já que existe uma


controvérsia sobre a oportunidade de considerar
como direitos “efetivos” os de terceira e quarta
geração, porque não existe um poder coercitivo que
os garanta, assim como há divergência quanto à lista
dos direitos a serem incluídos nessas categorias.
 DH são indivisíveis. Ex: direito de ir e vir, implica em
todos as “gerações” de direitos articuladas.
Dimensões dos DH: ética

 DH: na verdade, não se trata simplesmente de “direitos” no sentido


estritamente jurídico da palavra, mas de um conjunto de “valores”
que implicam várias dimensões.
 Dimensão ética. A Declaração afirma que “todas as pessoas nascem
livres e iguais”; esta formulação é uma citação explícita da
“Declaração dos direitos do homem e do cidadão” da Revolução
Francesa. Ela quer significar o caráter natural dos direitos, enquanto
inerentes à natureza de cada ser humano, pelo reconhecimento de
sua intrínseca dignidade.
 Neste sentido, os direitos tornam-se um conjunto de valores éticos
universais que estão “acima” do nível estritamente jurídico e que
devem orientar a legislação dos Estados.
Dimensões dos DH: jurídica

 Dimensão jurídica. No momento em que os princípios


contidos na Declaração são especificados e determinados
em tratados, convenções e protocolos internacionais, eles
se tornam parte do Direito Internacional,
 Esses tratados possuem um valor e uma força jurídica.
Deixam, assim, de ser orientações éticas, ou de direito
natural, para se tornarem um conjunto de direitos positivos
que vinculam as relações internas e externas dos Estados,
assimilados e incorporados pelas Constituições e, através
delas, pelas leis ordinárias.
Dimensões dos DH: política

 Dimensão política. Enquanto conjunto de normas jurídicas,


os direitos humanos tornam-se critérios de orientação e de
implementação das políticas públicas institucionais nos
vários setores.
 O Estado assume, assim, o compromisso de ser o promotor
do conjunto dos direitos fundamentais, tanto do ponto de
vista “negativo”, isto é, não interferindo na esfera das
liberdades individuais dos cidadãos, quanto do ponto de
vista “positivo”, implementando políticas que garantam a
efetiva realização desses direitos para todos.
Dimensões dos DH: econômica

 Dimensão econômica. Esta dimensão não está desvinculada


da dimensão política, mas é uma sua explicitação
necessária. Significa afirmar que, sem a satisfação de um
mínimo de necessidades humanas básicas, isto é, sem a
realização dos direitos econômicos e sociais, não é possível
o exercício dos direitos civis e políticos.
 O Estado, portanto, não pode se limitar à garantia dos
direitos de liberdade (papel negativo), mas deve também
exercer um papel ativo na implementação dos direitos de
igualdade.
Dimensões dos DH: social

 Dimensão social. Não cabe somente ao Estado a


implementação dos direitos, também a sociedade civil
tem um papel importante na luta pela efetivação dos
mesmos, através dos movimentos sociais, sindicatos,
associações, centros de defesa e de educação e
conselhos de direitos.
 É somente a luta dos movimentos sociais que vai
determinar o alcance e a efetividade dos direitos no
cotidiano das pessoas.
Dimensões dos DH: histórica e
cultural

 Dimensão histórica e cultural. Os direitos humanos


implicam algo mais do que a mera dimensão jurídica, por
isso, é preciso que eles encontrem um respaldo na cultura,
na história, na tradição, nos costumes de um povo e se
tornem, de certa forma, parte do seu ethos coletivo, de sua
identidade cultural e de sue modo de ser.
 Esse é o motivo pelo qual, no Brasil, onde o processo de
efetivação dos direitos humanos é relativamente recente,
precisamos ainda de um certo tempo para que eles deitem
raízes na cultura e no comportamento coletivo.
Dimensões dos DH: educativa

 Dimensão educativa. Afirmar que os direitos humanos são


direitos “naturais”, que a pessoas “nascem” livres e iguais,
não significa afirmar que a consciência dos direitos seja algo
espontâneo.
 O ser humano é, ao mesmo tempo, natural e cultural, que
deve ser “educado” pela sociedade.
 A educação para a cidadania constitui, portanto, uma das
dimensões fundamentais para a efetivação dos direitos,
tanto na educação formal, quanto na educação informal ou
popular e nos meios de comunicação.
Indissociabilidade dos direitos
humanos

 Mais do que falar em “gerações” de direitos seria


mais correto afirmar a interconexão, a indivisibilidade
e a indissociabilidade de todas as dimensões dos
direitos. Elas não podem ser vistas, de fato, como
aspectos separados, mas como algo organicamente
relacionado, de tal forma que uma dimensão se
integre e se realize com todas as outras.
Paradoxo

As violações sistemáticas e maciças dos direitos


humanos aumentam com a mesma velocidade da
assinatura dos tratados e são tão universais quanto as
declarações que os proclamam, como denunciam
quotidianamente os relatórios das Nações Unidas e das
Organizações Não Governamentais e como podemos
constatar quotidianamente no nosso País.
Proclamamos direitos, mas não os efetivamos.
DIREITOS DE IGUALDADE VERSUS
DIREITOS DE LIBERDADE
 Duas concepções diferentes de democracia e Estado:
 Concepção puramente negativa da lei, que se preocupa de proibir toda
tentativa (do Estado, de grupos ou de indivíduos) que impeça ao
cidadão de gozar de suas liberdades nos limites de sua compatibilidade
com as liberdades do outro: uma lei que proíba de proibir e cuja função
tem como eixo a democracia política. [...]
 Consideração dos direitos sociais - Estado, através de suas leis,
intervenha na esfera social para assegurar uma melhor repartição da
riqueza e corrigir as desigualdades: a função, neste caso positiva, da lei é
de contribuir ao surgimento de uma democracia social que tenda não
somente para a igualdade política (“o direito igual de concorrer à
formação da lei”), mas para uma igualização, pelo menos parcial, das
condições.”
 A “democracia política” e a “democracia social” pressupõem uma
diversa concepção do Estado.
Dois Estados diferentes e os DH

 Doutrina dos direitos humanos – depara-se com a antiga contraposição


entre liberalismo e democracia, ou liberalismo e socialismo, ou democracia
social e democracia política
 DUDH - tentou conciliar agregando duas categorias e classes de direitos
heterogêneas.
 Na concepção liberal, o Estado nasce da agregação de indivíduos
supostamente auto-suficientes e livres no estado de natureza, com o
objetivo de garantir a liberdade (negativa) de cada um em relação ao outro.
 Por isso, a realização histórica dos direitos não é confiada à intervenção
positiva do Estado, mas é deixada ao livre jogo do mercado, partindo do
pressuposto liberal que o pleno desdobramento dos interesses individuais
de cada um - limitado somente pelo respeito formal dos interesses do
outro - possa transformar-se em benefício público pela mediação da mão
invisível do mercado.
Olhar o mundo pelo viés social

 Olhar o mundo do lugar social dos excluídos – mostra


que o projeto dos direitos humanos como hoje se
apresenta, não é de fato universal, e nem
“universalizável”, porque precisa reproduzir
continuamente a contradição excluídos/incluídos,
emancipação /exploração, dominantes/dominados.
Duas classes de direitos

 Civis e políticos: a grande maioria destes direitos são


direitos no sentido estrito do termo, uma vez que podem
ser reclamados diante de uma corte, a qual pode recorrer à
coerção pública para exigir o seu respeito.
 Econômicos e sociais: não são considerados auto-aplicáveis,
mas de aplicação programática ou progressiva.
 Exemplo: se minha liberdade de opinião ou de religião for
violada posso exigir do juiz o seu restabelecimento; se o
meu direito à moradia ou à alimentação é violado não posso
exigir diante de um juiz a sua reparação ou fazer com que o
juiz obrigue o Estado a me dar casa e comida.
Direitos Sociais:
Questão Ética ou Jurídica?

 Há quem opine que DS não são direitos no sentido


estrito do termo, pois carecem de força coercitiva,
são exigências éticas.
 Há quem opine que deveriam ter “justiciabilidade”.
 O problema transcende a questão jurídica. O que está
em jogo de novo nesta questão dos limites de
atuação do mercado e da capacidade do Estado de
intervir para garantir a todos as condições mínimas
necessárias.
Democracia: necessária mas não
suficiente

 A existência da democracia pode ser condição


necessária, mas não suficiente para a efetivação dos
direitos econômicos e sociais, como acontece no
Brasil e em grande parte dos países pobres, conviver
cronicamente com a existência de “amplas liberdades
democráticas” e de “amplas desigualdades sociais”.
 Necessário modificar efetivamente os mecanismos
centrais que controlam a produção e a concentração
da riqueza no Brasil e no mundo.
DH ou direitos ocidentais

 Críticos à universalidade dos DH: pretensa universalidade dos


DH esconde o seu caráter marcadamente europeu e cristão,
portanto, não podem, ser estendidos ao resto do mundo
onde permanecem tradições culturais e religiosas próprias,
estranhas quando não contrárias e incompatíveis com as
doutrinas ocidentais.
 Estas críticas se inserem num debate mais amplo sobre os
processos de homogeneização cultural que o Ocidente está
impondo ao mundo inteiro.
 Os DH correm o risco de se tornar um “pensamento único”
que justificam uma “pratica única”, politicamente correta,
nivelando as diferenças e as divergências culturais.
Ainda há um pensamento não
ocidental?
 Os defensores da universalidade dos DH entendem que a expansão e a
influencia das ideias e valores ocidentais se faz presente no mundo
inteiro. Nesta perspectiva, não ha mais um “outro”,
 As próprias categorias e os conceitos utilizados pelos povos não
ocidentais para se contrapor ao Ocidente e reivindicar a sua identidade
são encontradas e retiradas do arsenal conceitual do próprio Ocidente:
liberdade, igualdade, direitos dos indivíduos, tolerância, democracia,
socialismo, revolução, etc. Por exemplo, foram utilizados pelos
movimentos revolucionários dos países colonizados (como a China e o
Vietnã) que enviaram suas elites a estudarem na Europa, onde
aprenderam a utilizar “contra” os colonizadores as teorias socialistas e
revolucionárias elaboradas na metrópole. As recentes atribuição do
prêmio Nobel da paz a figuras a mulheres militantes da vários países do
mundo.
Disseminação da doutrina dos DH

 Apesar de ter surgido no Ocidente, a doutrina dos


direitos humanos está se espalhando a nível
planetário. Isto pode ser medido não somente pela
assinatura dos documentos internacionais por parte
de quase todos os governos do Mundo, mas
igualmente pelo surgimento de um movimento não
governamental de promoção dos direitos humanos
que constitui quase como que uma “sociedade civil”
organizada em escala mundial.
Direito internacional: limites

 No âmbito do direito internacional se confrontam


assim duas doutrina e duas práticas:
 Modelo hobbesiano - centrado na soberania dos
Estados, que não reconhecem nenhuma outra
autoridade internacional a eles superiores;
 Modelo kantiano - Federação Mundial de Estados
republicanos regida por um direito cosmopolita com
organismos internacionais supra-estatais.
 Cenário atual: prevalência de interesses econômicos.
Discurso do DH é usado para encobrir tais interesses.
Utopia?

 DH são um campo de contradições. A historia da


humanidade nos mostra a conquista de cada vez mais
direitos, mas também a sua violação.
 Contradições entre politicas econômicas de Estado e
a defesa de direitos sociais.
 Contudo, os DH são um fundamental indicador de
caminhos a serem seguidos.

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