Pessoa e Florbela

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MODERNISMO

Portugal
Em PORTUGAL
1920
Florbela Espanca destaca-se,
1922 individualmente, por sua produção

1930

1945 Fernando Pessoa e seus heterônimos


revolucionam a lírica portuguesa

1950
Eu …
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho,e desta sorte
Sou a crucificada … a dolorida …

Sombra de névoa tênue e esvaecida,


E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!…

Sou aquela que passa e ninguém vê…


Sou a que chamam triste sem o ser…
Sou a que chora sem saber por quê…

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,


Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!
Florbela Espanca
8 dez. 1894 — 8 dez. 1930. Foi a primeira
mulher em Portugal a ingressar em um curso
de Direito. Casou-se três vezes e, apesar de
falecer jovem, aos 36 anos, deixou uma
produção vasta e diversificada. É na poesia,
sobretudo, que se destaca.
Sua obra é permeada por um forte teor
confessional, trazendo revelações de
acontecimentos que diziam respeito à sua
condição sentimental. Não fez parte de
nenhum movimento literário, mas o seu estilo
remete à poesia romântica, com forte teor
emocional.

Trovadorismo Parnasianismo
Romantismo Simbolismo
Doce certeza – Florbela Espanca

Por essa vida fora hás de adorar


Lindas mulheres, talvez; em ânsia louca,
Em infinito anseio hás de beijar
Estrelas d’oiro fulgindo em muita boca!

Hás de guardar em cofre perfumado


Cabelos d’oiro e risos de mulher,
Muito beijo d’amor apaixonado;
E não te lembrarás de mim sequer!..

Hás de tecer uns sonhos delicados...


Hão de por muitos olhos magoados,
Os teus olhos de luz andar imersos!...

Mas nunca encontrarás p’la vida fora,


Amor assim como este amor que chora
Neste beijo d’amor que são meus versos!
Passeio ao campo

Meu Amor! Meu Amante! Meu Amigo!


Colhe a hora que passa, hora divina,
Bebe-a dentro de mim, bebe-a comigo!
Sinto-me alegre e forte! Sou menina!

Eu tenho, Amor, a cinta esbelta e fina...


Pele doirada de alabastro antigo...
Frágeis mãos de madona florentina...
– Vamos correr e rir por entre o trigo! –

Há rendas de gramíneas pelos montes...


Papoilas rubras nos trigais maduros...
Água azulada a cintilar nas fontes...

E à volta, Amor... tornemos, nas alfombras


Dos caminhos selvagens e escuros,
Num astro só as nossas duas sombras!...


Os versos que te fiz – Florbela Espanca

Deixa dizer-te os lindos versos raros


Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Têm dolências de veludos caros,


São como sedas brancas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...


Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei…


E, nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!
A MINHA DOR
Os sinos têm dobres de agonia
Ao gemer, comovidos, o seu mal...
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias...

A minha Dor é um convento. Há lírios


Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!

Nesse triste convento aonde eu moro,


Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém ouve... ninguém vê... ninguém...
FLORBELA ULTRARROMÂNTICA
A MINHA DOR

A minha Dor é um convento ideal


Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.
Pseudônimos de Fernando Pessoa

PARA SER GRANDE, SÊ INTEIRO: NADA

Para ser grande, sê inteiro: nada


Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
Enfoque no presente.

Pseudônimos de Fernando Pessoa


Alberto Caeiro
16 de abril de 1889 - 1915
(tuberculose)
Poeta-filósofo, nasceu no campo
e, tornando-se logo órfão de pai
e mãe, viveu com a tia.
Defesa da simplicidade da vida;
Rejeição à metafísica;
Objetividade.

Há aproximações com o neoclassicismo, mas o poeta se opõe ao


conhecimento científico, concebendo a natureza/ o mundo
sensível como fonte de sabedoria.
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia,

O Tejo tem grandes navios


E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.

O Tejo desce de Espanha


E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

[...]
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
É tão suave a fuga deste dia,
Lídia, que não parece, que vivemos.
Sem dúvida que os deuses
Nos são gratos esta hora,

Em paga nobre desta fé que temos


Na exilada verdade dos seus corpos
Nos dão o alto prêmio
De nos deixarem ser

Convivas lúcidos da sua calma,


Herdeiros um momento do seu jeito
De viver toda a vida
Dentro dum só momento,

Dum só momento, Lídia, em que afastados


Das terrenas angústias recebemos
Olímpicas delícias
Pessimismo – decadência da sociedade.

Ricardo Reis

19 nov. 1887. Monarquista,


educado em colégio jesuíta,
médico, amante da cultura
clássica, viveu a maior parte de
sua vida no Brasil.
Busca da perfeição e do
equilíbrio
Intelectualismo;
Presença da mitologia Greco-
cristã.
Arcadismo (carpe diem, fugere urbem, ideias iluministas)
Tabacaria

Não sou nada.


Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

[...]
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

https://www.youtube.com/watch?v=3dRchZ-vRAI
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
Álvaro de Campos

15 out.1890. Nasceu em Távira e formou-


se engenheiro, em Glasgow. Sua poesia
apresentou três fases: decadentista,
futurista e pessoal. Na fase decadentista
há uma ligação com o simbolismo, um
descontentamento, o tédio em relação ao
mundo presente; na fase futurista, a
ligação com o moderno e o tempo
presente da modernização; na fase
pessoal, aparecem questionamentos
sobre si próprio, descontentamentos e
certo abatimento.

Simbolismo
Vanguarda futurista (modernismo)
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,


Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,


Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje


As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,


Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Fernando Pessoa

13 jun. 1888 — 30 nov. 1935.


Poeta, filósofo, dramaturgo,
ensaísta, tradutor, é considerado
um dos maiores poetas
portugueses. Sua poesia é
multifacetada, mas apresenta
alguns traços marcantes, como a
reflexão metalinguística, o
nacionalismo e o saudosismo.

É um poeta múltiplo. Nos poemas de “Mensagem”,


estabelece relações intertextuais com “Os lusíadas”.
Pessoa metalinguista
AUTOPSICOGRAFIA
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,


Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda


Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Análise – poema 1
AUTOPSICOGRAFIA Decomponha o título em duas partes.
Explique o significado de cada uma.
Procure relacioná-lo ao texto.
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
O poeta sente ou não dor,
Que chega a fingir que é dor considerando-se sua existência
A dor que deveras sente. física?

E os que lêem o que escreve,


Na dor lida sentem bem, O leitor é capaz de sentir sua própria
Não as duas que ele teve, dor ao ler o poema?

Mas só a que eles não têm.


E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Pessoa nacionalista
MENSAGEM – D. DINIS

Na noite escreve um seu Cantar de Amigo


O plantador de naus a haver,
E ouve um silêncio múrmuro consigo:
É o rumor dos pinhais que, como um trigo
De Império, ondulam sem se poder ver.

Arroio, esse cantar, jovem e puro,


Busca o oceano por achar;
E a fala dos pinhais, marulho obscuro,
É o som presente desse mar futuro,
É a voz da terra ansiando pelo mar.
Pessoa amoroso
O AMOR, QUANDO SE REVELA,

O amor, quando se revela,


Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente


Não sabe o que há-de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,


Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!
Pessoa amoroso

Mas quem sente muito, cala;


Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe


O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
Pessoa melancólico e pessimista
Natal

Natal. Na província neva.


Nos lares aconchegados
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.

Coração oposto ao mundo,


Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo:
Por isso tenho saudade.

E como é branca de graça


A paisagem que não sei,
Vista por trás da vidraça
Do lar que nunca terei!

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