Mostrar código-fonte de Distúrbios no Zaire em 1991

{{Formatar referências|data=fevereiro de 2022}}
{{Info/Conflito civil
| subconflitode    = colapso do [[Zaire]]
| período             = setembro-outubro de 1991
| local            = Várias cidades do Zaire
| coordinates      = 
| causas           =<br/>
*Corrupção governamental
* Pagamento falível e ruim para a maioria dos soldados das Forças Armadas Zairenses
* Repressão política
* Crise econômica
* Falha na implementação das reformas prometidas
| objetivos            =<br/>
*Fim do [[Mobutismo]]
* Melhoria na remuneração dos soldados
* Pilhagem
* Derrocada de [[Mobutu Sese Seko]]
| métodos          = [[Incêndio (crime)|Incêndio]], [[manifestações]], [[motim]], [[pilhagem]], [[tumulto]]s
| resultado           =<br/>
*Danos substanciais à propriedade, infraestrutura e economia do Zaire
*Treinamento de paraquedistas descontinuado
* O líder da oposição [[Étienne Tshisekedi]] nomeado primeiro-ministro do Zaire, mas demitido após três semanas
| lado1            = {{flagicon|Zaire}} [[Zaire|Governo Zairense]]
*militares lealistas
*SARM
{{flag|França}}<br/>{{flag|Bélgica}}<br/>'''Apoiado por:'''<br/>{{flag|Estados Unidos}}<br/>{{flag|Portugal}}
| lado2            = Militares amotinados<br/>Manifestantes civis, incluindo saqueadores
| líderes1     = [[Mobutu Sese Seko]]<br/>[[Donatien Mahele Lieko Bokungu]]
| líderes2     = ''Sem liderança centralizada''
| total1         = {{flagicon|Zaire}} ? (incluindo [[Divisão Especial Presidencial]], SARM)<br/>{{flagicon|France}} 1.000<br/>{{flagicon|Belgium}} 1.100
| total2         = Várias [[brigada]]s de amotinados<br/>Vários civis
| baixas3      = Mortos: 200+<br/>Feridos: 1.250+
}}
Em setembro e outubro de 1991, o '''[[Zaire]]''' (atual [[República Democrática do Congo]]) '''sofreu distúrbios violentos substanciais''', quando várias unidades das [[Forças Armadas Zairenses]] se amotinaram e se revoltaram, logo acompanhadas por manifestantes e saqueadores civis. Embora os soldados revoltosos exigissem salários mais confiáveis e mais altos, ainda não está claro se eles tinham motivos políticos, muitos civis exigiram o fim da ditadura repressiva e corrupta do presidente [[Mobutu Sese Seko]]. Os distúrbios começaram na capital do Zaire, [[Quinxassa]], e rapidamente se espalharam para outras cidades. Os saques em grande escala causaram enormes danos materiais e econômicos, porém os distúrbios não resultaram em mudanças políticas claras. O Zaire permaneceu preso a uma crise política até 1996-1997, quando Mobutu foi deposto durante a [[Primeira Guerra do Congo]].

== Antecedentes ==
=== Declínio do Zaire ===
[[File:Mobutu meets with President George Bush at the White House, June 1989, The White House - David Valdez.jpg|thumb|left|[[Mobutu Sese Seko]], fotografado com o presidente estadunidense [[George H. W. Bush]] em uma visita aos [[Estados Unidos]] em 1989.]]

Como resultado da [[crise do Congo]] de 1960-1965, o comandante do exército Mobutu Sese Seko tomou o poder no [[República do Congo (Léopoldville)|recém-independente Congo]],{{sfn|Abbott|2014|pp=6–7}}{{sfn|Prunier|2009|p=76}} renomeando o país para "Zaire" em 1972{{sfn|Abbott|2014|p=21}} e administrando-o como sua "propriedade privada mal gerida" por 32 anos.{{sfn|Prunier|2009|p=77}} O Exército Nacional Congolês (''Armée Nationale Congolaise'') e seu sucessor, as Forças Armadas do Zaire (''Forces Armées Zaïroises'', FAZ) foram um dos seus principais pilares de sustentação.{{sfn|Abbott|2014|p=21}}{{sfn|Kenyon|2018|p=22}} Mobutu estabeleceu uma [[ditadura militar]] [[totalitária]]{{sfn|Kenyon|2018|p=35}} e inicialmente presidiu um período de crescimento econômico.{{sfn|Kenyon|2018|p=37}} Seu governo retratou suas políticas como [[populista]]s{{sfn|Kenyon|2018|p=37}} e gastou muito dinheiro em subsídios econômicos e alimentares, ganhando uma substancial benevolência pela população.<ref name="yocum">{{citar jornal|último=Yocum |primeiro=Thomas |data= 15 de outubro de 2014|título= Forty years on from the Rumble in the Jungle, Kinshasa is a city of chaos | url = https://www.theguardian.com/cities/2014/oct/15/-sp-forty-years-rumble-in-the-jungle-kinshasa-muhammad-ali-george-foreman|obra= The Guardian}}</ref> No entanto, seu governo provou ser "um dos exemplos mais catastróficos de ditadura" na história africana.{{sfn|Prunier|2009|p=77}} Ele desviou bilhões de [[dólares americanos]],{{sfn|Kenyon|2018|pp=50, 52}} gastou grandes somas em projetos idiossincráticos e por seu estilo de vida luxuoso, enquanto desenvolvia um sistema nacional de apadrinhamento  que encorajava a [[corrupção]] extrema e o suborno.{{sfn|Kenyon|2018|pp=37–39, 42}} As forças de segurança zairenses reprimiram violentamente qualquer oposição.{{sfn|Kenyon|2018|pp=42–45}} A partir de 1974, a economia zairense começou a lutar visivelmente devido a mudanças na economia mundial, desgoverno e corrupção;{{sfn|Kenyon|2018|pp=46, 49}} no entanto, Mobutu conseguiu manter seu governo sobrevivendo graças aos extensos empréstimos de seus apoiadores internacionais, como os [[Estados Unidos]].{{sfn|Kenyon|2018|pp=46–50}} O [[mundo ocidental]] o considerava um aliado [[anticomunista]] confiável e estratégico na [[Guerra Fria]].{{sfn|Prunier|2009|p=77}}{{sfn|Kenyon|2018|pp=46–50}}

Na década de 1980, o Zaire sofria de crescentes discórdias internas e declínio econômico. Muitos zairenses ficaram ressentidos com a ditadura repressiva e corrupta de Mobutu,{{sfn|Abbott|2014|p=33}}{{sfn|Prunier|2009|pp=77, 83}} enquanto as Forças Armadas Zairenses sofriam de má gestão crônica e falhas no pagamento adequado das tropas. No início da década de 1980, o presidente tentou melhorar o treinamento, o equipamento e a logística das forças armadas. Essas iniciativas foram prejudicadas pelo [[tribalismo]], corrupção e o próprio desejo de Mobutu de impedir que rivais em potencial conquistassem o poder.{{sfn|Abbott|2014|pp=23–24, 33}}{{sfn|Prunier|2009|p=128}} O pagamento permaneceu tão pouco confiável e pobre que a maioria dos soldados teve que confiar em "bandidagem licenciada" para ganhar a vida e Mobutu consequentemente chamou seu próprio exército de "O Sétimo Flagelo".{{sfn|Abbott|2014|p=24}} Quando suas tentativas iniciais de reformas militares falharam, o presidente simplesmente parou de tentar e deixou a situação para o resto da década de 1980.{{sfn|Abbott|2014|p=24}} Além destes acontecimentos internos, o Zaire também foi um dos muitos países subsaarianos que foram forçados a reduzir os gastos militares na década de 1980, já que os blocos da Guerra Fria liderados pelos Estados Unidos e [[União Soviética]] reduziram seu apoio financeiro aos países africanos durante esta década. Isso fez com que a insatisfação aumentasse em vários militares africanos, com muitos soldados enfrentando atrasos e redução nos salários, bem como piora nos padrões de vida. Em última análise, isso levaria a uma maior disposição para o motim nas forças armadas em toda a [[África Subsaariana]].{{sfn|Dwyer|2017|pp=60–62}}

No final da década de 1980, a [[Divisão Especial Presidencial]] (''Division Spéciale Présidentielle''; DSP) eram supostamente as "únicas tropas operacionais" das Forças Armadas Zairenses.{{sfn|Abbott|2014|p=24}} Recrutada principalmente do grupo étnico de Mobutu, os [[Ngbandi]], a Divisão Especial Presidencial era geralmente favorecida e provida com o melhor equipamento.{{sfn|Abbott|2014|p=23}} Em 1989, o presidente ordenou que todo armamento pesado fosse entregue a divisão.{{sfn|Abbott|2014|p=24}} Apesar de seu desgoverno, Mobutu permaneceu firmemente no poder na década de 1980 devido ao apoio do mundo ocidental. Assim, o Zaire só começou a desmoronar com o colapso do [[Bloco Oriental]], pois isso removeu a justificativa de Mobutu para sua ditadura.{{sfn|Prunier|2009|p=77}}

=== Anúncio de reformas e a Conferência Nacional Soberana ===
Mobutu percebeu que a situação política estava mudando devido ao fim da Guerra Fria, uma impressão reforçada pela [[Revolução Romena de 1989|derrubada]] e [[Julgamento e execução de Nicolae e Elena Ceaușescu|morte]] de seu amigo [[Nicolae Ceaușescu]], ditador da [[Romênia]], em dezembro de 1989. Mobutu decidiu viajar pelo Zaire em janeiro e fevereiro de 1990. Como já havia se cercado de "bajuladores", a digressão "rudemente" o expôs ao nível considerável de descontentamento popular no país.{{sfn|Prunier|2009|p=77}} O país sofria com [[hiperinflação]],{{sfn|Beaugrand|1997|p=iii}}{{efn|A inflação aumentou de 56% em 1989 para 256% em 1990{{sfn|Beaugrand|1997|pp=iii, 2}} e 4.000% em 1991.<ref name="yocum" /> }} [[desemprego]] em massa e baixa renda em geral; muitas pessoas nas cidades só podiam comprar uma refeição por dia;<ref name="press">{{citar jornal|último=Press |primeiro=Robert M. |título=  Zaire Army Riots Test Regime | url = https://www.csmonitor.com/1991/0926/26041.html|obra= CS Monitor|data= 26 de setembro de 1991}}</ref> em muitas partes do país, 50% da população estava desnutrida.{{sfn|Kenyon|2018|pp=54–55}} Percebendo a necessidade de fazer algo, Mobutu anunciou o início das reformas políticas em 24 de abril de 1990. Proclamou uma "Terceira República" com imprensa livre, o fim da ''[[Authenticité (Zaire)|Authenticité]]'', a introdução da política multipartidária{{sfn|Prunier|2009|p=77}} e a entrega do poder a um governo democraticamente eleito dentro de um ano.<ref name="ap"/> O líder da oposição de longa data [[Étienne Tshisekedi]] foi libertado da [[prisão domiciliar]].{{sfn|Beaugrand|1997|p=3}} No entanto, o anúncio de reformas causou agitação política imediata de zairenses entusiasmados.{{sfn|Prunier|2009|pp=77–78}} A oposição organizou manifestações,{{sfn|Beaugrand|1997|pp=iii, 2}} assustando Mobutu, que pretendia manter o controle apesar das mudanças.{{sfn|Prunier|2009|pp=77–78}} Ele ordenou uma repressão violenta aos protestos,{{sfn|Beaugrand|1997|p=3}} e quando a Divisão Especial Presidencial foi enviada para reprimir os tumultos na [[Universidade de Lubumbashi]], a operação resultou na morte de dezenas de estudantes.{{sfn|Prunier|2009|pp=77–78}}{{sfn|Beaugrand|1997|p=3}}

[[File:First meeting of the Union Sacrée de l'Opposition Radicale (USOR).jpg|thumb|right|Uma recém-fundada aliança de oposição se reúne em 1991. [[Étienne Tshisekedi]] fala de um microfone à direita.]]

A ação causou indignação internacional e até mesmo aliados de longa data de Mobutu, como os Estados Unidos e a [[Bélgica]], finalmente o pressionaram a implementar mudanças reais.{{sfn|Prunier|2009|p=78}} Para apaziguar os manifestantes, o governo quase triplicou os salários dos funcionários públicos em outubro de 1990, embora não pudesse sustentar esse movimento devido à economia em dificuldades. Mobutu também legalizou o estabelecimento de novos partidos em dezembro de 1990, enquanto continuava a reprimir as manifestações em curso.{{sfn|Beaugrand|1997|pp=2–3}} Como a situação política e de segurança caótica dificultava a organização de eleições,{{sfn|Beaugrand|1997|p=3}} o presidente organizou a Conferência Nacional Soberana (''Conférence Nationale Souveraine'', CNS) em 7 de agosto de 1991. Esta conferência deveria discutir e preparar as reformas políticas. No entanto, Mobutu continuou a sabotar a democratização. Mais importante ainda, ele convidou tantos partidos políticos para a conferência que a tornou inadministrável.{{sfn|Prunier|2009|p=78}}{{efn|Mobutu sempre tentou justificar a limitação do número de partidos legais no Zaire alegando que a alta diversidade do país resultaria em fragmentação política e faccionalismo. Depois de permitir a fundação de novos partidos em 1990, o país realmente experimentou uma explosão no número de partidos com cerca de 300 em 1991. Alguns partidos consistiam em um único indivíduo. No entanto, Mobutu acabou apoiando esse processo pagando cidadãos para fundar seus próprios partidos, na esperança de explorar o faccionalismo antes mesmo do início da Conferência Nacional Soberana.{{sfn|Van Reybrouck|2013|p=471}} }} No geral, a Conferência Nacional Soberana incluiu 2.800 delegados de todo o país.{{sfn|Van Reybrouck|2013|p=471}} Pouco antes do início da conferência, um funcionário do governo distribuiu dinheiro em frente ao ''Palais du Peuple'' a todos os delegados que estavam dispostos a fundar um novo partido naquele mesmo lugar e que prometessem apoiar Mobutu.{{sfn|Van Reybrouck|2013|p=471}} A oposição acusou o presidente de encher a conferência com seus próprios seguidores.<ref name="press" /> Mobutu também nomeou [[Kalonji Mutambayi]] como presidente da Conferência Nacional Soberana; Mutambayi era idoso, meio surdo e leal ao governo.{{sfn|Van Reybrouck|2013|p=472}} O plano de Mobutu funcionou e a Conferência Nacional Soberana se desintegrou.{{sfn|Prunier|2009|p=78}} Como a conferência se desfez sem ter definido uma data para as eleições prometidas ou implementar quaisquer mudanças reais, no entanto, a frustração pública aumentou na capital do Zaire, [[Quinxassa]].{{sfn|Prunier|2009|p=78}}<ref name="ap">{{citar jornal|último= Massamba|primeiro= Bernard|data= 25 de setembro de 1991|título= Death Toll Rises Above 30 in Zaire; U.S. Aids Airlift of Troops| url = https://apnews.com/article/717a02bf1fcfba6164ff6ceaaeea9a7d|obra= Associated Press}}</ref>

== Crise ==
=== Distúrbios de setembro e intervenções franco-belgas ===
[[Imagem:31st Zairian Parachute Brigade.png|thumb|left|Soldados da 31.ª Brigada de Paraquedistas Zairenses em 1985]]

Em 22 de setembro{{sfn|Cooper|2013|p=8}} ou 23 de setembro de 1991,{{sfn|Van Reybrouck|2013|p=472}} cerca de 3.000 paraquedistas<ref>{{citar jornal|data= 27 de setembro de 1991|título= Unrest in Zaire Prompts Evacuation of Israelis, Other Foreign Nationals| url = https://www.jta.org/1991/09/27/archive/unrest-in-zaire-prompts-evacuation-of-israelis-other-foreign-nationals|obra= JTA}}</ref> da 31.ª Brigada Zairense de Paraquedistas se amotinaram{{sfn|Abbott|2014|p=33}} em sua base em Ndjili, nos arredores de Quinxassa.{{sfn|Van Reybrouck|2013|p=472}} Eles não eram pagos há meses{{sfn|Cooper|2013|p=8}}{{sfn|Prunier|2009|p=78}}<ref name="nyt">{{citar jornal|data= 24 de setembro de 1991|título= Thousands of Troops on Rampage Of Looting and Violence in Zaire| url = https://www.nytimes.com/1991/09/24/world/thousands-of-troops-on-rampage-of-looting-and-violence-in-zaire.html|agência= Associated Press|obra= New York Times|página=6}}</ref> e inicialmente exigiram seus retroativos, bem como salários mais altos.{{sfn|Beaugrand|1997|p=3}} Não ficou claro se os soldados amotinados tinham motivos políticos.<ref name="atlantic">{{citar jornal|último=Berkeley |primeiro=Bill |data= Agosto de 1993|título= Zaire: An African Horror Story| url = https://www.theatlantic.com/magazine/archive/1993/08/zaire-an-african-horror-story/305496/|obra= The Atlantic}}</ref> Os paraquedistas marcharam de sua base e ocuparam o [[Aeroporto de N'djili]] {{sfn|Cooper|2013|p=8}}{{sfn|Van Reybrouck|2013|p=473}} onde tomaram um depósito de suprimentos<ref name="nyt"/> e desativaram a torre de controle.{{sfn|Van Reybrouck|2013|p=473}}

Os amotinados então deslocaram-se para o centro da capital usando veículos militares,<ref name="nyt"/> atacando estabelecimentos comerciais, postos de gasolina, lojas de departamento e casas particulares. Levaram todos os itens móveis de valor, incluindo televisores, geladeiras e fotocopiadoras.{{sfn|Van Reybrouck|2013|p=473}} Os paraquedistas concentraram-se primeiro na rua principal, a Avenida 30 de Julho, e mais tarde expandiram os seus saques para os bairros de Mbinza e Gombe.<ref name="nyt"/> Muitos soldados rebelados ficaram bêbados.<ref name="husband">{{citar jornal|último= Husband|primeiro= Mark|data= 22 de outubro de 1991|título= Soldiers join civilians in Zaire looting| url = https://www.upi.com/Archives/1991/10/22/Soldiers-join-civilians-in-Zaire-looting/1863688104000/|obra= UPI}}</ref> Outros soldados das Forças Armadas Zairenses em Quinxassa, bem como civis das favelas do sul da cidade{{sfn|Cooper|2013|p=8}} logo se juntaram à "orgia de pilhagem", visando especificamente qualquer coisa que representasse o [[mobutismo]] {{sfn|Prunier|2009|p=78}} como escritórios do governo, mas também casas e empresas de propriedade estrangeira.{{sfn|Cooper|2013|p=8}} Os civis também saquearam os supermercados e começaram a desmantelar estabelecimentos inteiros, levando pias de cozinha, vasos sanitários, estruturas de edifícios, vigas de aço e outros materiais, mesmo que não pudessem usá-los ou vendê-los de forma realista.{{sfn|Kenyon|2018|p=57}} A chamada "Limete Industrial", uma área ao longo do rio Zaire dominada por fábricas, foi em grande parte destruída quando os desordeiros roubaram a maior parte do maquinário.<ref name="yocum" /> Em uma unidade da [[General Motors]] perto do aeroporto, os soldados roubaram centenas de carros, seguidos por saqueadores civis levando as máquinas, paredes, piso, teto e cabos no chão, deixando apenas um "esqueleto de vigas de aço".<ref name="dellios">{{citar jornal|último=Dellios |primeiro=Hugh |título= Zairians fear looting, riots in Mobutu's wake | url = https://www.chicagotribune.com/news/ct-xpm-1997-05-12-9705120078-story.html|obra= Chicago Tribune|data=12 de Maio de 1997}}</ref> A 31.ª Brigada Paraquedista também começou a entrar em confronto com a impopular Divisão Especial Presidencial, mas esta também começou a saquear a cidade em vez de reprimir o motim.{{sfn|Abbott|2014|p=33}} O historiador [[David Van Reybrouck]] caracterizou a extensa pilhagem como reação à corrupção do governo zairense; as pessoas comuns viam-se finalmente capazes de fazer o que a elite dominante havia feito aos seus olhos por décadas: roubar tudo.{{sfn|Van Reybrouck|2013|p=473}}

[[File:Commandos - Zairian Armed Forces.png|thumb|right|Comandos zairenses (foto de 1983) se revoltaram em [[Kisangani]]. ]]

Os distúrbios se espalharam rapidamente para outras unidades das Forças Armadas Zairenses em outras partes do país, como a 41.ª Brigada de Comando em [[Kisangani]]. Essas tropas também começaram a fazer tumultos e saques.{{sfn|Abbott|2014|p=33}} Mobutu fez pouco para parar o caos.{{sfn|Van Reybrouck|2013|p=473}} Transferiu-se para o seu iate no rio Zaire,<ref name="lat">{{citar jornal|data= 27 de setembro de 1991|título=  Riots, Anarchy in Zaire Bring Devastation | url = https://www.latimes.com/archives/la-xpm-1991-09-27-mn-2823-story.html|obra= Los Angeles Times}}</ref> e pediu apoio aos governos francês e belga.{{sfn|Cooper|2013|p=8}} Os dois países concordaram em enviar ajuda, oficialmente para auxiliar nos esforços de evacuação e proteger as embaixadas.<ref name="ap"/> Os dois países também foram motivados pelo desejo de manter alguma influência no Zaire. A oposição zairense protestou contra uma intervenção estrangeira, propondo um "governo de salvação pública" com Étienne Tshisekedi como primeiro-ministro do Zaire para trazer a situação de volta ao controle.{{sfn|Brecher|Wilkenfeld|1997|p=489}}

Mobutu também ordenou que o general [[Donatien Mahele Lieko Bokungu]] restabelecesse a ordem, usando um contingente de soldados pertencentes a Divisão Especial Presidencial e a Agência de Inteligência Militar Zairense (''Service d'Action et de Renseignement Militaire'', SARM). Mahele foi comandante dos paraquedistas até 1990, quando Mobutu o transferiu para o comando de uma unidade da Divisão Especial Presidencial por medo de que ele estivesse se tornando muito popular entre suas tropas. Mahele conhecia os soldados rebeldes e estes ainda o respeitavam. Assim, quando Mahele convocou os amotinados para que parassem com seus saques, muitos atenderam a seus apelos.<ref name="irin">{{citar web|título= IRIN Briefing Part III: Zaire Who's Who| url = https://reliefweb.int/report/democratic-republic-congo/irin-briefing-part-iii-zaire-whos-who|obra= IRIN|data= 27 de fevereiro de 1997| }}</ref> O embaixador francês ajudou na negociação com os amotinados.<ref name="nyt"/> Enquanto isso, os estrangeiros fugiram do país em massa ou foram evacuados. Embora os soldados rebeldes saqueassem as casas de muitos expatriados, eles geralmente se abstinham de ferir fisicamente os civis estrangeiros.<ref name="ap"/>

Em 23 de setembro, a [[França]] lançou a Operação Baumier. A [[Força Aérea Francesa]] enviou um primeiro destacamento de soldados que estavam estacionados na [[República Centro-Africana]] para Quinxassa, desembarcando no Aeroporto de N'djili depois de ter sido protegido pelas tropas da SARM comandadas por Mahele. Um destacamento do 2.º Regimento Estrangeiro de Infantaria que estava estacionado no [[Chade]] fez o mesmo. Os belgas lançaram a Operação Feixe Azul no dia seguinte, desembarcando tropas do Regimento de Paracomandos no [[Congo-Brazavile]] e transportando-as através do Rio Zaire até Quinxassa.{{sfn|Cooper|2013|p=8}} Juntamente com a Divisão Especial Presidencial e a SARM, os franceses e belgas asseguraram a capital, depois do qual a Bélgica trouxe mais tropas como parte da Operação Kir, desta vez usando o [[Aeroporto de N'Dolo]].{{sfn|Cooper|2013|p=8}} Os [[Estados Unidos]] forneceram apoio logístico e aviões de transporte.<ref name="ap"/>{{sfn|Cooper|2013|p=8}} No geral, a França e a Bélgica enviaram 1.000 e 1.100 soldados, respectivamente, para o Zaire.{{sfn|Cooper|2013|p=8}} Apesar de negar que iriam "sustentar" o governo zairense,<ref name="lat" /> as unidades francesas e belgas comprovaram serem cruciais para restaurar a ordem.{{sfn|Abbott|2014|p=33}}{{sfn|Cooper|2013|p=8}}<ref name="husband" /> Mahele também se moveu contra os amotinados que se recusaram a parar de pilhar e até mesmo ordenou que suas forças leais abrissem fogo contra os paraquedistas que haviam servido anteriormente sob seu comando, matando vários.<ref name="irin" />{{sfn|French|2005|p=206}} Em 24 de setembro, a Rádio Kinshasa afirmou que os amotinados haviam sido expulsos da capital.<ref name="nyt"/>

[[File:View of Kinshasa, with Pool de Malebo on the Congo River in the background.jpg|thumb|left|[[Quinxassa]] na década de 1980 ou início da década de 1990.]]

Em 25 de setembro, ''[[Médecins Sans Frontières]]'' estimou que 1.250 a 1.750 pessoas ficaram feridas apenas em Quinxassa. Nesse ponto, saques e tumultos haviam cessado principalmente em Quinxassa, com soldados lealistas tendo garantido a capital. No entanto, os tumultos continuaram em [[Likasi]], [[Camina]], [[Coluezi]] e [[Kinsangani]].<ref name="ap"/> No mesmo dia, [[Portugal]] enviou 25 soldados para ajudar nos esforços de evacuação de estrangeiros.<ref name="wp">{{citar jornal|título= Zaire Rioting diminishes | url = https://www.washingtonpost.com/archive/politics/1991/09/26/zaire-rioting-diminishes/4f93ca23-bc0d-4dd2-ac00-a9d0a212bd81/|obra= Washington Post|data= 25 de setembro de 1991}}</ref> Em 26 de setembro, os lealistas das Forças Armadas Zairenses abriram fogo contra manifestantes civis em Quinxassa que exigiam o fim do regime de Mobutu.<ref name="lat" /> No dia seguinte, os soldados franceses deslocaram-se para Kolwezi e Kinsangani, protegendo-as depois de encontrar alguma resistência leve. Os belgas usaram seus paraquedistas para proteger [[Lubumbashi]]. Tendo assumido o controle de todos os principais aeroportos importantes do Zaire, as forças francesas e belgas ajudaram na evacuação de estrangeiros usando aviões das Forças Aéreas Francesas, Belgas e Portuguesas. As tropas francesas e belgas evacuaram com sucesso de 2.000{{sfn|Cooper|2013|p=8}} a 10.000 cidadãos estrangeiros.{{sfn|Beaugrand|1997|p=4}} Muitos estrangeiros na província de [[Shaba]] fugiram por conta própria para o [[Zimbábue]] e a [[África do Sul]].<ref name="wp" /> No total, 20.000 estrangeiros fugiram do Zaire durante os distúrbios de setembro.<ref name="lat2">{{citar jornal|data= 2 de fevereiro de 1993|título= 1,000 Reported Dead in Zaire Rebellion  | url = https://www.latimes.com/archives/la-xpm-1993-02-02-mn-959-story.html|obra= Los Angeles Times}}</ref>

Em 29 de setembro, Mobutu e a oposição política chegaram a um acordo, segundo o qual Étienne Tshisekedi seria nomeado primeiro-ministro, seu gabinete conteria cinco partidários de Mobutu e seis líderes da oposição, e a Conferência Nacional Soberana seria convocada novamente.{{sfn|Meditz|Merrill|1993|p=215}} Diplomatas ocidentais argumentaram que esta concessão de Mobutu foi motivada pela ameaça da Bélgica e da França de retirar os seus soldados do Zaire.<ref name="husband" /> Os Estados Unidos também exerceram pressão diplomática sobre o governo zairense.{{sfn|Brecher|Wilkenfeld|1997|p=489}} No entanto, o presidente não concedeu nenhum poder real.<ref name="atlantic" /><ref>{{citar jornal|último= Richburg|primeiro= Keith B.|data= 3 de outubro de 1991|título= Mobutu: A rich man in poor standing| url = https://www.washingtonpost.com/archive/politics/1991/10/03/mobutu-a-rich-man-in-poor-standing/49e66628-3149-47b8-827f-159dff8ac1cd/?|obra= Washington Post}}</ref>  Após sua nomeação, Tshisekedi pediu à França e à Bélgica, em nome do presidente, que não retirassem suas tropas do país.{{sfn|Brecher|Wilkenfeld|1997|p=489}} Neste ponto, a fase principal do tumulto havia terminado e ficou posteriormente conhecida como a "pilhagem".<ref name="atlantic" /> As cidades afetadas pelos distúrbios sofreram danos substanciais,<ref name="lat" /> com grande parte do setor produtivo do Zaire destruído.<ref name="atlantic" /> Cerca de 30 a 40% de todas as empresas foram saqueadas e cerca de 70% dos negócios de varejo foram destruídos.{{sfn|Van Reybrouck|2013|p=473}} Várias infraestruturas foram seriamente danificadas.{{sfn|Beaugrand|1997|p=4}} Pelo menos 200 pessoas foram mortas,<ref name="atlantic" /> incluindo um paraquedista francês.<ref name="ap"/> Após a pilhagem, as bases militares em todo o país tornaram-se mercados ''ad hoc'' para bens roubados,<ref name="atlantic" /> enquanto pelo menos metade das empresas que anteriormente operavam em Quinxassa deixaram a cidade permanentemente. Muitos trabalhadores da capital perderam seus empregos como resultado dos distúrbios.<ref name="yocum" />

=== Distúrbios de outubro ===
Os distúrbios esporádicos e a violência continuaram. Tshisekedi foi empossado primeiro-ministro em 16 de outubro, mas foi demitido por Mobutu seis dias depois<ref name="atlantic" /> devido a uma disputa sobre a distribuição de pastas ministeriais.{{sfn|Meditz|Merrill|1993|p=215}} No geral, seu mandato contou apenas três semanas, o mais curto de qualquer primeiro-ministro zairense entre 1990 e 1997.{{sfn|Van Reybrouck|2013|p=474–475}} Com a oposição recusando-se a oferecer um novo candidato, Mobutu nomeou [[Bernardin Mungul Diaka]] como o novo primeiro-ministro.{{sfn|Meditz|Merrill|1993|p=215}} Seguiram-se mais distúrbios civis, com manifestantes incendiando uma das vilas presidenciais e saqueando a casa de Mungul Diaka. Manifestações ocorreram em frente às embaixadas francesa, belga e estadunidense, exigindo uma intervenção estrangeira para depor o presidente.<ref>{{citar jornal|último1= Massamba|primeiro1= Arm|último2= Massamba|primeiro2= Bernard|data= 26 de outubro de 1991|título= Chaos said to grow in Zaire| url = https://www.washingtonpost.com/archive/politics/1991/10/26/chaos-said-to-grow-in-zaire/6d42b509-241e-40e1-a691-6ea51ef2a0b5/|obra= Washington Post}}</ref> Os funcionários públicos entraram em greve.{{sfn|Meditz|Merrill|1993|p=215}} Em Lubumbashi, soldados descontentes fizeram uma onda de saques, logo acompanhados por civis.<ref name="nyt231091">{{citar jornal|data= 23 de outubro de 1991|título= New riots in Zaire; 300 are evacuated| url = https://www.nytimes.com/1991/10/23/world/new-riots-in-zaire-300-are-evacuated.html|agência= Reuters|obra= New York Times}}</ref> Os saqueadores levaram tudo o que era móvel, incluindo metal corrugado das casas, enquanto cerca de 700 estrangeiros se refugiaram em uma escola.<ref name="husband" /> Outros distúrbios ocorreram em [[Mbuji-Mayi]], Kolwezi e Likasi. As tropas belgas evacuaram mais 300 estrangeiros do país em resposta aos tumultos.<ref name="nyt231091" />

Em 27 de outubro, Mobutu anunciou que permaneceria presidente independentemente dos pedidos domésticos e internacionais para sua resignação; partes da oposição — conhecida como a "Coalizão Sagrada" — responderam tentando estabelecer um governo alternativo.{{sfn|Brecher|Wilkenfeld|1997|p=489}} A França e a Bélgica terminaram oficialmente a sua intervenção em 31 de outubro e 4 de novembro, respetivamente.{{sfn|Brecher|Wilkenfeld|1997|p=490}}

== O papel de Mobutu nos distúrbios ==
[[File:Gbadolite mobutu palace site.jpg|thumb|right|As ruínas do palácio de Mobutu em [[Gbadolite]] em 2011.]]

Os líderes da oposição acusaram Mobutu de planejar o motim inicial para provocar uma intervenção militar de seus aliados ocidentais.<ref name="ap"/> De acordo com o jornalista Hugh Dellios, alguns analistas teorizaram que Mobutu pretendia usar os distúrbios como parte de uma "tática de medo".<ref name="dellios" /> Até mesmo um de seus partidários, Kibambi Shintwa, mais tarde acusou o presidente de oportunismo em relação aos distúrbios de setembro. Shintwa disse a Van Reybrouck que Mobutu destruiu deliberadamente o Zaire por não querer deixar nada para a oposição, pois sabia que seu regime não sobreviveria à democratização. Ele alegou que Mobutu se instalou completamente em [[Gbadolite]] assim que a Conferência Nacional Soberana começou e não fez nada para deter os distúrbios, pois considerou a pilhagem como uma punição justa para as pessoas que o rejeitaram em favor da oposição.{{sfn|Van Reybrouck|2013|p=473}} Florentin Mokonda Bonza, que trabalhava no escritório de Mobutu na época, também acusou o presidente de organizar diretamente os distúrbios para mostrar a importância de seu regime rígido.{{sfn|Kenyon|2018|p=58}} O jornalista [[Paul Kenyon]] descreveu Mobutu como estando "satisfeito" com os tumultos, pois os via como prova de que os zairenses precisavam dele como líder para evitar a anarquia total.{{sfn|Kenyon|2018|p=57}}

== Consequências ==
{{VT|Primeira Guerra do Congo}}
[[File:Speech of General Mahele, 1991-1993.png|thumb|left|O general [[Donatien Mahele Lieko Bokungu]] faz um discurso em 1991 ou 1993, implorando aos soldados das Forças Armadas Zairenses que parem com os tumultos e saques.]]

Após os distúrbios, França, Bélgica, Israel e China decidiram retirar completamente suas equipes de treinamento que anteriormente apoiavam as Forças Armadas Zairenses.{{sfn|Abbott|2014|p=33}} A França também encerrou toda a assistência econômica.{{sfn|Meditz|Merrill|1993|p=215}} Todas as tropas estrangeiras deixaram o país em fevereiro de 1992, quando Mobutu usou a Divisão Especial Presidencial para reprimir "brutalmente" os protestos pacíficos exigindo a continuação da Conferência Nacional Soberana.{{sfn|Cooper|2013|p=8}} O fim do apoio estrangeiro reduziu ainda mais a capacidade de funcionamento das Forças Armadas Zairenses.{{sfn|Abbott|2014|p=33}} A 31.ª Brigada Zairense de Paraquedistas, tendo conquistado a reputação de geralmente estar do lado dos manifestantes - resultando no apelido de "Exército do Povo" - ganhou a desaprovação de Mobutu. Ele ordenou que o treinamento de paraquedistas fosse descontinuado, oficialmente devido à falta de equipamento, mas principalmente por medo de que a 31.ª Brigada pudesse tentar um ataque aéreo ao palácio presidencial para derrubá-lo.{{sfn|Abbott|2014|p=33}} No entanto, Mobutu absteve-se de processar ou disciplinar quaisquer soldados envolvidos nos motins e na pilhagem de 1991.<ref name="atlantic" /> A reputação do general Mahele emergiu fortalecida como resultado dos distúrbios. Os civis zairenses ficaram impressionados com sua conduta e capacidade de trazer muitos amotinados novamente sob controle; até os soldados ficaram muito ressentidos por serem responsáveis pela morte de alguns amotinados. Como resultado, Mobutu fez de Mahele Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Zairenses, mas o removeu do cargo quando o general pediu que os militares permanecessem apolíticos e que as condições de vida dos soldados fossem melhoradas.<ref name="irin" />

A Conferência Nacional Soberana se reuniu novamente em novembro de 1991,{{sfn|Meditz|Merrill|1993|p=216}} mas permaneceu incapaz de operar adequadamente.{{sfn|Prunier|2009|pp=78–79}} O governo zairense suspendeu-a em janeiro seguinte. O mandato constitucional de Mobutu como Presidente do Zaire expirou oficialmente em 4 de dezembro de 1991, mas ele se recusou a deixar o cargo até que as eleições fossem realizadas, embora esses pleitos não estivessem agendados.{{sfn|Meditz|Merrill|1993|p=216}} A [[comunidade internacional]] continuou a pressionar Mobutu para implementar reformas políticas e introduzir políticas multipartidárias.<ref name="ap"/> A crise política continuou,<ref name="atlantic" /> as reformas estagnaram, enquanto a segurança e a situação econômica se deterioravam em todo o país.{{sfn|Prunier|2009|pp=78–79}}<ref name="atlantic" /> Os distúrbios de 1991 agravaram ainda mais a crise econômica do país.{{sfn|Beaugrand|1997|p=4}} Os rebeldes começaram a lançar ataques em áreas de fronteira e a 41.ª Brigada de Comando se revoltou novamente em 1992.{{sfn|Cooper|2013|p=9}} Outro grande motim das Forças Armadas Zairenses eclodiu em 1993, com os soldados exigindo novamente o pagamento de seus salários atrasados<ref name="lat2"/> depois que Mobutu tentou introduzir uma nota de 5 milhões de [[Zaire (moeda)|zaires]]. Desta vez, a violência foi pior do que durante os distúrbios de 1991.<ref name="yocum" /> O presidente só conseguiu controlar a situação com o envio da Divisão Especial Presidencial e outras tropas leais contra os amotinados,<ref name="lat2"/>{{sfn|Beaugrand|1997|p=4}} resultando em até 2.000 mortes,<ref name="yocum" /> incluindo cerca de 1.000 soldados.<ref name="lat2"/>{{sfn|Beaugrand|1997|p=4}} Os tumultos renovados fizeram com que a maioria das empresas que permaneceram em Quinxassa até este ponto deixassem o país.<ref name="yocum" /> Não sendo mais pagos, os servidores públicos entraram em greve repetidas vezes.{{sfn|Beaugrand|1997|p=4}} Neste ponto, o sistema político do Zaire entrou em colapso efetivamente,{{sfn|Beaugrand|1997|p=iii}} enquanto a economia estava mergulhada no caos.{{sfn|Beaugrand|1997|p=4}} Em 1996, a [[Primeira Guerra do Congo]] eclodiu, resultando na derrubada violenta de Mobutu. Grande parte das Forças Armadas Zairenses mostrou-se extremamente não confiável durante este conflito.{{sfn|Abbott|2014|pp=33–35}} Seus soldados ressentidos  argumentaram que a unidade favorita de Mobutu, a Divisão Especial Presidencial, "deveria lutar" sozinha. Muitas tropas desertaram e até unidades inteiras desertaram para os rebeldes antigovernamentais.{{sfn|Abbott|2014|p=35}}

Os danos econômicos dos distúrbios de 1991 se estenderam até a década de 2010, quando o setor industrial de Quinxassa ainda não havia se recuperado.<ref name="yocum" /> Muitos civis na capital reconheceram o efeito destrutivo a longo prazo das ondas de pilhagens de 1991 e 1993 e, consequentemente, abstiveram-se de saquear durante a Primeira Guerra do Congo.<ref name="dellios" />

== Notas ==
{{notelist}}

{{referências|col=2}}

=== Obras citadas ===
{{refbegin}}
* {{citar livro|último=Abbott |primeiro=Peter |ano=2014 |título=Modern African Wars (4): The Congo 1960–2002 |local=Oxford; New York City |publicado=Osprey Publishing |url=https://books.google.com/books?id=j6ajCwAAQBAJ |isbn=978-1-78200-076-1 }}
* {{citar periódico|último=Beaugrand |primeiro=Philippe |ano=1997 |título=Zaïre's Hyperinflation, 1990-96 |local=	Washington, D.C. |publicado=International Monetary Fund |url=https://www.imf.org/external/pubs/ft/wp/wp9750.pdf }}
* {{citar livro|último1=Brecher |primeiro1=Michael |último2=Wilkenfeld |primeiro2=Jonathan |ano=1997 |título=A Study of Crisis |local=Berlin |publicado=University of Michigan Press |url=https://books.google.com/books?id=GjY7aV_6FPwC |isbn=0-472-10806-9 }}
* {{citar livro|último=Cooper |primeiro=Tom |título=Great Lakes Holocaust: First Congo War, 1996–1997 |data=2013 |publicado=Helion & Company |local=Solihull |url= https://books.google.com/books?id=SuXZAwAAQBAJ |isbn=978-1-909384-65-1}}
* {{citar livro|último=Dwyer |primeiro=Maggie |ano=2017 |título=Soldiers in Revolt. Army mutinies in Africa |local=London |publicado=Hurst & Company |url=https://books.google.com/books?id=i5NODwAAQBAJ |doi=10.1093/oso/9780190876074.001.0001 }}
* {{citar livro|último=French |primeiro=Howard W. |título=A Continent for the Taking: The Tragedy and Hope of Africa |data=2005 |publicado= First Vintage Books|local= |url= https://books.google.com/books?id=RRjPlT6CUToC |isbn=978-1400030279}}
* {{citar livro|último=Kenyon |primeiro=Paul |ano=2018 |título=Dictatorland. The men who stole Africa |local=London |publicado=Head of Zeus |url=https://books.google.com/books?id=WivXDgAAQBAJ |isbn=9781784972141 }}
*{{citar livro|editor-last1=Meditz|editor-first1=Sandra W.|url=https://www.loc.gov/item/94025092/|título=Zaire: A Country Study|editor-last2=Merrill|editor-first2=Tim|data=1993|publicado=[[Library of Congress Country Studies|Library of Congress]]|oclc=44238003}}
* {{citar livro|último=Prunier |primeiro=Gérard |ano=2009 |título=Africa's World War : Congo, the Rwandan Genocide, and the Making of a Continental Catastrophe: Congo, the Rwandan Genocide, and the Making of a Continental Catastrophe |local=Oxford |publicado=Oxford University Press |url=https://books.google.com/books?id=kp93kUfdhC0C |isbn=978-0-19-970583-2 }} 
* {{citar livro|último=Van Reybrouck |primeiro=David |ano=2013 |título=Kongo: Eine Geschichte |títulotrad=Congo: A history |local=Berlin |publicado=Suhrkamp |língua= de |url=https://books.google.com/books?id=EZ08CgAAQBAJ |isbn=978-3-518-46445-8 }}
{{refend}}

{{tradução/ref|en|1991 Zaire unrest}}
{{Conflitos na República Democrática do Congo}}

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