Mostrar código-fonte de Magia

{{ver desambig|não_confundir=[[Ilusionismo]]}}
[[Imagem:John_William_Waterhouse_-_Magic_Circle.JPG|miniaturadaimagem|419x419px|[[O Circulo Mágico (pintura)|''O Circulo Mágico'']], [[pintura]] de 1886 de [[John William Waterhouse]]]]
'''Magia''' é a aplicação de [[crenças]], [[rituais]] ou ações empregadas na convicção de que elas podem subjugar ou manipular seres e forças [[Sobrenatural|naturais ou sobrenaturais]]<ref>Hutton, R., (2017), The Witch, p. x</ref> É uma categoria na qual foram colocadas várias crenças e práticas, às vezes consideradas separadas tanto da [[religião]] quanto da [[ciência]].<ref>Hutton, R., (2017), The Witch p. x</ref>

Embora as conotações tenham variado de positivas a negativas às vezes ao longo da história,{{Sfn|Bailey|2018|pp=1-5}} o mágico "continua a ter um importante papel religioso e medicinal em muitas culturas hoje".<ref>{{Citar periódico |titulo=The Magic Art of Witchcraft and Black Magic |ultimo=Baglari |primeiro=M.H. |ano=2015 |pagina=20 |citeseerx=10.1.1.736.7031 |periódico=International Journal of Scientific and Research}}</ref>

Na [[cultura ocidental]], a magia foi ligada a ideias do [[Outro]],{{sfnm|1a1=Bogdan|1y=2012|1p=2|2a1=Graham|2y=2018|2p=255}} do estrangeiro{{Sfn|Bailey|2018|p=89}} e primitivismo;{{Sfn|Davies|2012|p=1}} indicando que é "um poderoso marcador de diferença cultural"{{Sfn|Styers|2004|p=14}} e, da mesma forma, um fenômeno não moderno.{{Sfn|Styers|2004|p=8}} Durante o final do {{séc|XIX}} e início do XX, os intelectuais ocidentais percebiam a prática da magia como um sinal de uma mentalidade primitiva e também a atribuíram comumente a grupos marginalizados de pessoas.{{Sfn|Styers|2004|p=14}}

No [[ocultismo]] moderno e nas [[Neopaganismo|religiões neopagãs]], muitos autodenominados magos e bruxas praticam regularmente magia ritual;{{Sfn|Berger|Ezzy|2007|p=24}} definindo magia como uma técnica para trazer mudanças no mundo físico por meio da força de vontade. Esta definição foi popularizada por [[Aleister Crowley]] (1875-1947), um influente ocultista britânico, e desde então outras religiões (por exemplo a [[Wicca]] e [[Satanismo LaVey]]ano) e sistemas mágicos (por exemplo, [[Magia do Caos|magia do caos]]) adotaram-na.

== Etimologia ==
[[Imagem:Herodotos_Met_91.8.jpg|miniaturadaimagem|225x225px|Um dos primeiros relatos sobreviventes dos [[magos]] persas (''mágoi'') foi fornecido pelo historiador grego [[Heródoto]]{{Sfn|Bremmer|1999|p=5}}]]
As palavras [[wikt:magia|magia]], [[wikt:mago|mago]] e [[wikt:mágico|mágico]] vêm do [[latim]] ''magus'', através do [[Língua grega|grego]] μάγος, que vem do [[Língua persa antiga|antigo persa]] ''maguš''. ([[wiktionary:𐎶𐎦𐎢𐏁|𐎶𐎦𐎢𐏁]], mago).{{sfnm|1a1=Hanegraaff|1y=2012|1p=169|2a1=Otto|2a2=Stausberg|2y=2013|2p=16}} Em persa antigo ''magu-'' é derivado do [[protoindo-europeu]] [[wiktionary:Reconstruction:Proto-Indo-European/megʰ-|''*magh'']] (poder). O termo persa pode ter levado ao [[Chinês antigo|sinítico antigo]] ''*M<sup>γ</sup>ag'' (mago ou [[Xamanismo|xamã]]).{{Sfn|Mair|2015|p=47}} A forma persa antiga parece ter permeado as [[línguas semíticas]] antigas como o ''magosh'' [[Língua hebraica|hebraico]] [[Talmude|talmúdico]], o ''amgusha'' [[aramaico]] ("mago") e os ''maghdim'' [[Caldeia|caldeus]] ("sabedoria e filosofia"); do {{-séc|I}} em diante, os ''magusai'' sírios ganharam notoriedade como mágicos e adivinhos.{{Sfn|Mair|2015|p=36}}

Durante o final do {{-séc|VI}} e início do {{-séc|V}} esse termo encontrou seu caminho no [[Língua grega antiga|grego antigo]], onde foi usado também com conotações negativas para se aplicar a ritos considerados fraudulentos, não convencionais e perigosos.{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|p=16}} A [[Latim|língua latina]] adotou este significado do termo no {{-séc|I}}. Via latim, o conceito foi incorporado à [[teologia cristã]] durante o {{+séc|I}}. Os [[História do cristianismo|primeiros cristãos]] associavam magia a [[Demónio|demônios]] e, portanto, consideravam-na como contrária à religião cristã. Este conceito permaneceu difundido durante a [[Idade Média]], quando os autores cristãos categorizaram uma ampla gama de práticas—como encantamento, [[Bruxaria|feitiçaria]], [[adivinhação]], [[necromancia]] e [[astrologia]]—<nowiki/>sob o rótulo de magia. No início da Europa moderna, os [[Protestantismo|protestantes]] muitas vezes afirmavam que o [[Igreja Católica|catolicismo romano]] era mágico em vez de religião, e, à medida que os europeus cristãos começaram a colonizar outras partes do mundo no {{séc|XVI}}, eles rotularam as crenças não-cristãs que encontraram como mágicas. Nesse mesmo período, os [[Humanismo|humanistas]] italianos reinterpretaram o termo em um sentido positivo para expressar a ideia de magia natural. Tanto a compreensão negativa quanto a positiva do termo se repetiram na cultura ocidental nos séculos seguintes.

Desde o {{séc|XIX}}, acadêmicos de várias disciplinas empregaram o termo magia, mas o definiram de maneiras diversas e usaram-no em referência a coisas diferentes. Uma abordagem, associada aos [[Antropologia|antropólogos]] [[Edward Burnett Tylor|Edward Tylor]] {{nwrap||1832|1917}} e [[James Frazer|James G. Frazer]] (1854-1941), usa o termo para descrever crenças em [[Envultamento|simpatias ocultas]] entre objetos que permitem que alguém influencie o outro. Definida dessa forma, a magia é retratada como o oposto da ciência. Uma abordagem alternativa, associada aos [[Sociologia|sociólogos]] [[Marcel Mauss]] (1872-1950) e seu tio [[Émile Durkheim]] (1858-1917), emprega o termo para descrever ritos e cerimônias privadas e o contrasta com a religião, que define como uma atividade comunal e organizada. Na década de 1990, muitos estudiosos rejeitaram a utilidade do termo para a academia. Eles argumentaram que o rótulo traçou linhas arbitrárias entre crenças e práticas semelhantes que eram alternativamente consideradas religiosas, e que se constituía [[Etnocentrismo|etnocêntrico]] aplicar as conotações de magia - enraizadas na história ocidental e cristã - a outras culturas.

== Magia branca, cinza e negra ==
{{Artigo principal|Magia branca|Magia negra|Magia neutra}}
A magia branca tem sido tradicionalmente entendida como o uso da magia para propósitos altruístas ou úteis, enquanto a magia negra era usada para propósitos egoístas, prejudiciais ou malignos.<ref>{{Citar periódico |url=https://www.sprachwiss.uni-muenchen.de/ueber_uns/personen/lmu/miller/publ_miller/black_magic_2010.pdf |titulo=Practice and perception of black magic among the Hittites |data=2010 |ultimo=Miller |primeiro=JL |doi=10.1524/aofo.2010.0015 |volume=37 |periódico=Altorientalische Forschungen}}</ref><ref>{{Citar periódico |titulo=The Magic Art of Witchcraft and Black Magic |data=2015 |ultimo=Baglari |primeiro=MH |pagina=20 |citeseerx=10.1.1.736.7031 |periódico=International Journal of Scientific and Research}}</ref> Com respeito à dicotomia do [[caminho da mão esquerda e caminho da mão direita]], a magia negra é a contraparte maliciosa e sinistra da benevolente magia branca. Não há consenso sobre o que constitui magia branca, cinza ou negra, como diz [[Phil Hine]], "como muitos outros aspectos do ocultismo, o que é denominado 'magia negra' depende muito de quem está definindo".<ref>{{Citar livro|título=Contemporary religious Satanism: A Critical Anthology|ultimo=Jesper Aagaard Petersen|editora=Ashgate Publishing, Ltd.|ano=2009|isbn=978-0-7546-5286-1}}</ref> A magia cinza, também chamada de magia neutra, é a magia que não é realizada por razões especificamente benevolentes, mas também não é voltada para práticas completamente hostis.<ref>Smoley, R. & Kinney, J. (2006) Hidden Wisdom: A Guide to the Western Inner Traditions'. Quest Books. p. 121.</ref><ref name="EssenGD">[[Chic Cicero|Cicero, Chic]] & [[Sandra Tabatha Cicero|Cicero, Sandra Tabatha]] The Essential Golden Dawn: An Introduction to High Magic. Llewellyn Books. p. 87.</ref>

== Alta e baixa magia ==
Historiadores e antropólogos têm distinguido entre os praticantes que praticam a alta magia e os que praticam a baixa magia.{{Sfn|Bailey|2018|p=40}} Nesta estrutura, a alta magia é vista como mais complexa, envolvendo rituais longos e detalhados, bem como parafernália sofisticada, às vezes cara.{{Sfn|Bailey|2018|p=40}} Baixa magia está associada a camponeses e [[folclore]],{{Sfn|Greenwood|2000|p=7}} e a rituais mais simples, como breves feitiços falados.{{Sfn|Bailey|2018|p=40}} Greenwood escreve que "Desde a Renascença, a alta magia tem se preocupado em atrair forças e energias do céu" e alcançar a unidade com a divindade.{{Sfn|Greenwood|2000|p=6}} A alta magia geralmente é realizada em ambientes fechados, enquanto a bruxaria costuma ser realizada ao ar livre.{{Sfn|Greenwood|2000|p=89}}

== Antiguidade ==
=== Mesopotâmia ===
{{VT|Zisurrû}}
[[Imagem:Lamashtu_plaque_9167.jpg|miniaturadaimagem|Placa de proteção de bronze da [[Império Neoassírio|era neoassíria]] mostrando o demônio [[Lamastu]]]]
A magia era invocada em muitos tipos de rituais e fórmulas médicas, e para neutralizar os maus presságios. Magia defensiva ou legítima na Mesopotâmia (''asiputu'' ou ''masmassutu'' na [[língua acadiana]]) eram encantamentos e práticas rituais destinadas a alterar realidades específicas. Os antigos [[Mesopotâmia|mesopotâmicos]] acreditavam que a magia era a única defesa viável contra [[Demónio|demônios]], [[fantasmas]] e feiticeiros do mal.{{Sfn|Sasson|1995|pp=1896–1898}} Para se defenderem contra os espíritos daqueles que eles haviam ofendido, deixavam ofertas conhecidas como ''kispu'' na tumba da pessoa na esperança de apaziguá-los.{{Sfn|Sasson|1995|p=1897}} Se isso falhasse, eles às vezes também pegavam uma estatueta do falecido e a enterravam no chão, exigindo que os deuses erradicassem o espírito ou forçando-o a deixar a pessoa em paz.{{Sfn|Sasson|1995|pp=1898–1898}}

Os antigos mesopotâmicos também usavam magia com a intenção de se proteger de feiticeiros malignos que poderiam lançar maldições sobre eles.{{Sfn|Sasson|1995|p=1898}} A magia negra como categoria não existia na antiga Mesopotâmia, e uma pessoa que usasse magia legitimamente para se defender contra a magia ilegítima usaria exatamente as mesmas técnicas.{{Sfn|Sasson|1995|p=1898}} A única grande diferença era o fato de que as maldições eram decretadas em segredo;{{Sfn|Sasson|1995|p=1898}} enquanto uma defesa contra a feitiçaria era conduzida ao ar livre, na frente de uma audiência, se possível.{{Sfn|Sasson|1995|p=1898}} Um ritual para punir um feiticeiro era conhecido como [[Maqlû]], ou "A Queima".{{Sfn|Sasson|1995|p=1898}} A pessoa considerada afligida por bruxaria criava uma [[efígie]] do feiticeiro e a colocava em julgamento à noite.{{Sfn|Sasson|1995|p=1898}} Então, uma vez que a natureza dos crimes do feiticeiro tivesse sido determinada, a pessoa queimaria a efígie e, assim, quebraria o poder do feiticeiro sobre eles.{{Sfn|Sasson|1995|p=1898}}

Os antigos mesopotâmicos também realizavam rituais mágicos para se purificar dos pecados cometidos sem saber.{{Sfn|Sasson|1995|p=1898}} Um desses rituais era conhecido como [[Šurpu]], ou "Queima",{{Sfn|Sasson|1995|p=1899}} no qual o lançador do feitiço transferia a culpa por todos os seus delitos para vários objetos, como uma tira de tâmaras, uma cebola e um tufo de lã.{{Sfn|Sasson|1995|p=1899}} A pessoa então queimaria os objetos e assim se purificaria de todos os pecados que ela pudesse ter cometido sem saber.{{Sfn|Sasson|1995|p=1899}} Todo um gênero de [[Feitiço de amor|feitiços de amor]] existia.{{Sfn|Sasson|1995|pp=1900–1901}} Acreditava-se que tais feitiços faziam com que uma pessoa se apaixonasse por outra pessoa, restaurassem o amor que havia desaparecido ou fizessem com que um parceiro sexual masculino fosse capaz de sustentar uma ereção quando antes fora incapaz.{{Sfn|Sasson|1995|pp=1900–1901}} Outros feitiços eram usados para reconciliar um homem com sua divindade padroeira ou para reconciliar uma esposa com um marido que a estava negligenciando.{{Sfn|Sasson|1995|p=1901}}

Os antigos mesopotâmicos não faziam distinção entre ciência racional e magia.{{Sfn|Sasson|1995|p=1895}}<ref name="Abusch">{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=Slhv-0ewLHwC|título=Mesopotamian Witchcraft: Towards a History and Understanding of Babylonian Witchcraft Beliefs and Literature|ultimo=Abusch|primeiro=Tzvi|editora=Brill|ano=2002|localização=Leiden, The netherlands|isbn=9789004123878}}</ref><ref name="Brown">{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=KCzmNKnLqMkC|título=Israel's Divine Healer|ultimo=Brown|primeiro=Michael|data=1995|editora=Zondervan|localização=Grand Rapids, Michigan|isbn=9780310200291}}</ref> Quando uma pessoa ficava doente, os médicos prescreviam fórmulas mágicas para serem recitadas, bem como tratamentos medicinais.<ref name="Abusch" /><ref name="Brown" /> {{Sfn|Sasson|1995|pp=1901–1902}} A maioria dos rituais mágicos era para ser realizada por um ''[[Asipu|āšipu]]'', um especialista em artes mágicas.<ref name="Abusch" /><ref name="Brown" /> {{Sfn|Sasson|1995|pp=1901–1902}}<ref>{{Citar livro|título=Mesopotamia: The World's Earliest Civilization|ultimo=Kuiper|primeiro=Kathleen|editora=The Rosen Publishing Group|ano=2010|páginas=178|isbn=978-1615301126}}</ref> A profissão geralmente era passada de geração em geração{{Sfn|Sasson|1995|pp=1901–1902}} e tida em altíssima consideração, frequentemente serviam como conselheiros de reis e grandes líderes.{{Sfn|Sasson|1995|pp=1901–1904}} Um āšipu provavelmente servia não apenas como mágico, mas também como médico, sacerdote, escriba e erudito.{{Sfn|Sasson|1995|pp=1901–1904}}

O deus sumério [[Enqui|Enki]], que mais tarde foi sincretizado com o deus semita oriental Ea, estava intimamente associado à magia e aos encantamentos;{{Sfn|Sasson|1995|p=1843}} ele era o deus patrono do ''bārȗ'' e do ''ašipū'' e amplamente considerado como a fonte final de todo o conhecimento arcano.{{Sfn|Sasson|1995|p=1866}}<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=LQtUAQAAQBAJ&pg=PA152|título=Mesopotamia|ultimo=Delaporte|primeiro=Louis-Joseph|data=2013|editora=Routledge|língua=en|isbn=978-1-136-19924-0|autorlink=Louis-Joseph Delaporte}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=Z7qmCUkx60sC&pg=PA24|título=Mesopotamian Magic: Textual, Historical, and Interpretative Perspectives|ultimo=Abusch|primeiro=I. Tzvi|ultimo2=Toorn|primeiro2=Karel Van Der|data=1999|editora=BRILL|língua=en|isbn=978-90-5693-033-2}}</ref> Os antigos mesopotâmicos também acreditavam em [[presságios]], que podiam surgir quando solicitados ou não.{{Sfn|Sasson|1995|pp=1899–1900}} Independentemente de como vinham, presságios sempre eram tomados com a maior seriedade.{{Sfn|Sasson|1995|pp=1899–1900}}

=== Bacias de encantamento ===
[[Imagem:Bowl_with_incantation_for_Buktuya_and_household,_Mandean_in_Mandaic_language_and_script,_Southern_Mesopotamia,_c._200-600_AD_-_Royal_Ontario_Museum_-_DSC09714.JPG|miniaturadaimagem|[[Bacia de Encantamento|Tigela de encantamento]] em [[língua mandeia]]]]
Um conjunto comum de suposições compartilhadas sobre as causas do mal e como evitá-lo é encontrado em uma forma de magia protetora antiga chamada bacia de encantamento ou tigelas mágicas. As [[tigela]]s eram produzidas no Oriente Médio, principalmente na [[Mesopotâmia Superior|Alta Mesopotâmia]] e na [[Síria]], onde hoje são o [[Iraque]] e o [[Irã]], e foram bastante populares durante os séculos VI a VIII.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=gb-jl0nef-4C&pg=PA83|título=Prayer, Magic, and the Stars in the Ancient and Late Antique World|ultimo=Noegel|primeiro=Scott|ultimo2=Walker|primeiro2=Joel Walker|data=2010|editora=Penn State Press|língua=en|isbn=978-0-271-04600-6}}</ref><ref>{{Citar web |ultimo=Severn Internet Services - www.severninternet.co.uk |url=http://www.bmagic.org.uk/objects/1961A316 |titulo=Incantation bowls |acessodata=2013-09-06 |publicado=Bmagic.org.uk}}</ref> Eram enterradas com a face para baixo e foram feitas para capturar [[Demónio|demônios]]. Comumente colocavam-nas sob a soleira, pátios, nos cantos das casas dos recém-falecidos e em [[cemitério]]s.<ref>{{Citar web |url=https://deepblue.lib.umich.edu/bitstream/handle/2027.42/108169/def2.html |titulo=Babylonian Demon Bowls |acessodata=2013-09-06 |website=Michigan Library |publicado=Lib.umich.edu}}</ref> Uma subcategoria de bacias de encantamento são aquelas usadas na prática mágica judaica e cristã. As tigelas de encantamento [[Arameus|aramaicas]] são uma fonte importante de conhecimento sobre as práticas mágicas judaicas.<ref>C. H. Gordon: "Aramaic Incantation Bowls" in Orientalia, Rome, 1941, Vol. X, p. 120ff (Text 3).</ref><ref>''Orientalia'' 65 3-4 Pontificio Istituto biblico, Pontificio Istituto biblico. Facoltà di studi dell'antico oriente - 1996 "may have been Jewish, but Aramaic incantation bowls also commonly circulated in pagan communities". ... Lilith was, of course, the frequent subject of concern in incantation bowls and amulets, since her presence was ."</ref><ref>J. A. Montgomery, "A Syriac Incantation Bowl with Christian Formula," AJSLL 34</ref><ref>''The International Standard Bible Encyclopedia'' p217 Geoffrey W. Bromiley 1986 2007 "D. Aramaic Incantation Bowls. One important source of knowledge about Jewish magical practices is the nearly eighty extant incantation bowls made by Jews in Babylonia during the Sassanian period (ad 226-636). ... Though the exact use of the bowls is disputed, their function is clearly [[Apotropaic magic|apotrapaic]] in that they are meant to ward off the evil effects of several malevolent supernatural beings and influences, e.g., the evil eye, Lilith, and Bagdana."</ref><ref>''A Dictionary of biblical tradition in English literature'' p454 David L. Jeffrey - 1992 "Aramaic incantation bowls of the 6th cent, show her with disheveled hair and tell how"</ref>

=== Egito ===
[[Imagem:Eye of Ra pendant.jpg|miniaturadaimagem|Amuleto egípcio antigo do [[Olho de Hórus]]]]
No [[Antigo Egito]] (Quemete na língua egípcia), Magia (personificada como o deus ''[[Heka]]'') era uma parte integrante da religião e da cultura que nos é conhecida através de um corpus substancial de textos que são produtos da tradição egípcia.<ref>Bell, H.I., Nock, A.D., Thompson, H., Magical Texts From A Bilingual Papyrus In The British Museum, Proceedings of The British Academy, Vol, XVII, Londres, p 24.</ref>

Embora a categoria magia tenha sido controversa para a [[egiptologia]] moderna, há um claro suporte para sua aplicabilidade na terminologia antiga.{{Sfn|Ritner|2001|pp=321}} O termo [[Língua copta|copta]] ''hik'' é descendente do termo [[Língua egípcia|faraônico]] ''heka'', que, ao contrário de sua contraparte copta, não tinha conotação de impiedade ou ilegalidade, e é atestado desde o [[Reino Antigo]] até a [[Egito Romano|Era Romana]].{{Sfn|Ritner|2001|pp=321}} ''Heka'' era considerada moralmente neutro e aplicado às práticas e crenças de estrangeiros e egípcios.{{Sfn|Ritner|2001|pp=321-322}} As ''[[Instruções de Mericare]]'' informam que ''heka'' fora uma beneficência doada pelo criador à humanidade "... para ser uma arma para repelir o golpe dos acontecimentos".{{Sfn|Ritner|2001|pp=322}}

A magia era praticada tanto pela hierarquia sacerdotal letrada quanto por fazendeiros e pastores analfabetos, e o princípio de ''heka'' era a base de toda atividade ritual, tanto nos templos quanto em ambientes privados.{{Sfn|Ritner|2001|pp=323}}

O princípio mais importante de ''heka'' é centrado no poder das palavras para fazer as coisas acontecerem.<ref name="BriarHobbs">{{Citar livro|título=Ancient Egypt: Everyday Life in the Land of the Nile|ultimo=Brier|primeiro=Bob|ultimo2=Hobbs|primeiro2=Hoyt|data=2009|editora=Sterling|localização=Nova Iorque|isbn=978-1-4549-0907-1}}</ref>{{Rp|54}} [[Maulana Karenga]]{{Sfn|Karenga|2006|p=187}} explica o poder fundamental das palavras e seu papel ontológico vital como a principal ferramenta usada pelo criador para trazer o mundo manifesto à existência. Como os humanos foram entendidos como compartilhando uma natureza divina com os deuses, ''snnw ntr'' (imagens do deus), o mesmo poder de usar palavras criativamente que os deuses têm é compartilhado pelos humanos.{{Sfn|Karenga|2006|p=216}}

==== O Livro dos Mortos ====
[[Imagem:Opening_of_the_mouth_ceremony.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|Ilustração do [[Livro dos Mortos]] de [[Hunefer]] mostrando a [[Abertura da boca|cerimônia da Abertura da Boca]] sendo realizada diante da tumba]]

As paredes internas da [[pirâmide de Unas]], o último faraó da Quinta Dinastia egípcia, são cobertas por centenas de feitiços e inscrições mágicas, que vão do chão ao teto em colunas verticais. Essas inscrições são conhecidas como [[Textos das Pirâmides]] e contêm feitiços necessários ao faraó para sobreviver na [[Religião no Antigo Egito|vida após]] a morte.<ref name="BriarHobbs" /> {{Rp|54}} Os Textos da Pirâmide eram estritamente para a realeza; os feitiços eram mantidos em segredo dos plebeus e foram escritos apenas dentro de tumbas reais. Durante o caos e a agitação do [[Primeiro Período Intermediário]], entretanto, os ladrões de tumbas invadiram as pirâmides e viram as inscrições mágicas. Os plebeus começaram a aprender os feitiços e, no início do [[Império Médio]], os plebeus começaram a inscrever escritos semelhantes nas laterais de seus próprios caixões, na esperança de que isso garantiria sua própria sobrevivência após a morte. Esses escritos são conhecidos como [[Textos dos Sarcófagos]].<ref name="BriarHobbs" /> {{Rp|56}}

Depois que uma pessoa morria, seu cadáver era mumificado e envolto em bandagens de linho para garantir que o corpo do falecido sobreviveria o maior tempo possível, porque os egípcios acreditavam que a alma de uma pessoa só poderia sobreviver na vida após a morte por tanto tempo quanto seu corpo físico sobrevivia aqui na terra. A última cerimônia antes de o corpo de uma pessoa ser selado dentro da tumba era conhecida como [[Abertura da boca|Abertura da Boca]]. Nesse ritual, os sacerdotes tocavam vários instrumentos mágicos em várias partes do corpo do falecido, dando assim ao falecido a capacidade de ver, ouvir, saborear e cheirar na vida após a morte.<ref name="Mark2017">{{Citar web |ultimo=Mark |primeiro=Joshua |url=http://www.ancient.eu/article/1019/ |titulo=Magic in Ancient Egypt |data=2017 |website=ancient.eu |publicado=Ancient History Encyclopedia}}</ref>

==== Amuletos ====
O uso de [[amuletos]] (''meket'') era comum entre os antigos egípcios vivos e mortos.{{Sfn|Teeter|2011|pp=170}}<ref name="BriarHobbs" />{{Rp|66}} Eles eram usados para proteção e como um meio de "... reafirmar a justiça fundamental do universo".{{Sfn|Teeter|2011|pp=118}} Os amuletos mais antigos encontrados são do período pré-dinástico [[Cultura de Badari|badariano]] e persistiram até a época romana.<ref>Andrews, C., (1994), Amulets of Ancient Egypt, University of Texas Press, p1.</ref>

=== O Levante ===
A [[Halacá]] (lei religiosa judaica) proíbe a [[adivinhação]] e outras formas de contar sortes, e o [[Talmude]] lista muitas práticas de adivinhação persistentes, porém condenadas.<ref>W. Gunther Plaut, David E. Stein. ''The Torah: A Modern Commentary''. Union for Reform Judaism, 2004. {{ISBN|0-8074-0883-2}}</ref> A [[Cabala Prática]] no Judaísmo histórico, é um ramo da [[Misticismo judaico|tradição mística judaica]] que se refere ao uso da magia. Era considerada [[magia branca]] permitida por seus praticantes, reservada para a elite, que poderia separar sua fonte espiritual dos reinos do mal de [[Kelipót|Qliphoth]] se realizada em circunstâncias que eram [[Sagrado|sagradas]] ([[Q-D-Š]]) e [[Tumá e Tahará|puras]] (טומאה וטהרה, ''tvmh vthrh''<ref>{{Citar web |url=http://www.alittlehebrew.com/transliterate/ |titulo=A Little Hebrew |acessodata=2014-03-26}}</ref>). A preocupação de ultrapassar as [[Bruxaria e adivinhação na Bíblia Hebraica|fortes proibições]] do judaísmo à magia impura garantiu que continuasse sendo uma tradição menor na história judaica. Seus ensinamentos incluem o uso de [[YHWH|nomes divinos]] e angelicais para [[amuleto]]s e encantamentos.<ref name="Elber">Elber, Mark. ''The Everything Kabbalah Book: Explore This Mystical Tradition--From Ancient Rituals to Modern Day Practices'', p. 137. Adams Media, 2006. {{ISBN|1-59337-546-8}}</ref> Essas práticas mágicas da religião popular judaica, que se tornaram parte da Cabala prática, datam dos tempos do Talmude.<ref name="Elber" /> O Talmude menciona o uso de feitiços para cura, e uma ampla gama de curas mágicas foram sancionadas pelos rabinos. Foi decidido que qualquer prática que realmente produzisse uma cura não deveria ser considerada supersticiosa e tem havido a prática generalizada de amuletos medicinais e remédios populares ''(segullot)'' nas sociedades judaicas ao longo do tempo e geografia.<ref>Person, Hara E. ''The Mitzvah of Healing: An Anthology of Jewish Texts, Meditations, Essays, Personal Stories, and Rituals'', p.4-6. Union for Reform Judaism, 2003. {{ISBN|0-8074-0856-5}}</ref>

Embora a magia fosse proibida pela [[Levítico|lei levítica]] na [[Tanakh|Bíblia Hebraica]], ela era amplamente praticada no final do período do [[Período do Segundo Templo|Segundo Templo]], e particularmente bem documentada no período após a destruição do templo nos séculos III, IV e V EC.<ref>[https://www.academia.edu/1798780/Book_Review_Gideon_Bohak_Ancient_Jewish_Magic]</ref><ref>{{Citar livro|url=https://www.academia.edu/1798780|título=Ancient Jewish Magic: A History|ultimo=Bohak|primeiro=Gideon|data=2011|editora=Cambridge University Press|páginas=70–142|língua=en|capitulo=2|isbn=978-0-521-18098-6}}</ref><ref>Clinton Wahlen ''Jesus and the impurity of spirits in the Synoptic Gospels'' 2004 p19 "The Jewish magical papyri and incantation bowls may also shed light on our investigation.79 However, the fact that all of these sources are generally dated from the third to fifth centuries and beyond requires us to exercise particular ..."</ref>

=== Mundo greco-romano ===
{{Artigo principal|Magia no mundo greco-romano}}
[[Imagem:Hecate Chiaramonti Inv1922.jpg|miniaturadaimagem|[[Hécate]], uma antiga deusa grega associada à magia. Estátua de [[Chiaramonti]], cópia romana baseada em um modelo original [[helenístico]]]]
A palavra "magia" tem suas origens na [[Grécia Antiga]].{{Sfn|Bremmer|1999|p=1}} Durante o final do sexto e início do {{-séc|V}}, o ''maguš'' persa (em referência aos [[Mago|sacerdotes persas]]) foi grecizado e introduzido na língua grega antiga como ''μάγος'' e ''μαγεία''.{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|p=16}} Ao fazer isso, transformou-se o significado, ganhando conotações negativas, com o ''magos'' sendo considerados um charlatão cujas práticas rituais eram fraudulentas, estranhas, não convencionais e perigosas.{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|p=16}} Conforme observado por Davies, para os antigos gregos—e subsequentemente para os antigos romanos—"a magia não era distinta da religião, mas sim uma expressão indesejada e imprópria dela—a religião do outro".{{Sfn|Davies|2012|p=41}} O historiador Richard Gordon sugeriu que, para os gregos antigos, ser acusado de praticar magia era "uma forma de insulto".{{Sfn|Gordon|1999|p=163}}

Essa mudança de significado foi influenciada pelos conflitos militares que as [[cidades-estado gregas]] travaram contra o Império Persa.{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|p=16}} Nesse contexto, o termo faz aparições em textos remanescentes como ''[[Édipo Rei]] de'' [[Sófocles]], ''[[Da Doença Sagrada]]'' de [[Hipócrates]] e ''Encômio de Helena'' de [[Górgias]].{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|p=16}} Na peça de Sófocles, por exemplo, o personagem [[Édipo]] se refere depreciativamente ao vidente [[Tirésias|Tirésio]] como um ''magos—''neste contexto, significando algo semelhante a charlatão — refletindo como este epíteto não era mais reservado apenas para os persas.{{sfnm|1a1=Gordon|1y=1999|1pp=163–64|2a1=Bremmer|2y=1999|2pp=2–3|3a1=Bailey|3y=2018|3p=19}}

No {{-séc|I}}, o conceito grego de ''magos'' foi adotado para o [[latim]] e usado por vários [[Roma Antiga|escritores romanos]] antigos como ''magus'' e ''magia''.{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|p=16}} O uso latino mais antigo conhecido do termo se encontra na ''[[Écloga]]'' de [[Virgílio]], escrita por volta de 40 a.C., que faz referência a ''magicis ... sacris'' (ritos mágicos).{{Sfn|Gordon|1999|p=165}} Os romanos já tinham outros termos para o uso negativo de poderes sobrenaturais, como ''veneficus'' e ''saga''.{{Sfn|Gordon|1999|p=165}} O uso romano do termo era semelhante ao dos gregos, mas colocava maior ênfase na aplicação judicial dele.{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|p=16}} Dentro do [[Império Romano]], leis seriam introduzidas criminalizando coisas consideradas mágica.{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|p=17}}

Na antiga sociedade romana, a magia era associada às sociedades do leste do império; o escritor do {{+séc|I}}, [[Plínio, o Velho]], por exemplo, afirmou que a magia foi criada pelo filósofo iraniano [[Zaratustra|Zoroastro]] e que foi trazida ao oeste para a Grécia pelo mago [[Ostanes (pseudônimo)|Ostanes]], que acompanhou as campanhas militares do rei persa [[Xerxes I|Xerxes]].{{Sfn|Davies|2012|pp=32–33}}

Os estudos da Grécia Antiga do {{séc|XX}}, quase certamente influenciados por preconceitos cristianizantes dos significados de [[magia e religião]], e o desejo de estabelecer a cultura grega como a base da racionalidade ocidental, desenvolveram uma teoria da magia grega antiga como primitiva e insignificante, essencialmente separada da [[Homero|religião homérica]], comunal (''polis''). Desde a última década do século, no entanto, reconhecendo a onipresença e respeitabilidade de atos como ''[[Katádesmos|katadesmoi]]'' (feitiços de ligação), descritos como magia por observadores modernos e antigos, os estudiosos foram obrigados a abandonar esse ponto de vista.<ref name="Kindt">{{Citar livro|título=Rethinking Greek Religion|ultimo=Kindt|primeiro=Julia|data=2012|editora=Cambridge University Press|localização=Cambridge|isbn=978-0521110921}}</ref>{{Rp|90–95}} A própria palavra grega ''mageuo'' (praticar magia) deriva da palavra ''[[Mago]]s'', originalmente simplesmente o nome grego para uma [[Irã|tribo persa]] conhecida por praticar religião.<ref>{{Citar livro|título=Magic in Western Culture: From Antiquity to the Enlightenment|ultimo=Copenhaver|primeiro=Brian P.|data=2015|editora=Cambridge University Press|localização=Cambridge|isbn=9781107070523}}</ref> [[Religião de mistérios|Cultos de mistério]] não cívicos foram reavaliados da mesma forma:<ref name="Kindt" />{{Rp|97–98}}<blockquote>"as escolhas que estavam fora da gama de cultos não apenas adicionavam opções adicionais ao menu cívico, mas ... às vezes incorporavam críticas aos cultos cívicos e mitos pan-helênicos ou eram alternativas genuínas a eles." —Simon Price, ''Religions of the Ancient Greeks'' (1999)<ref>{{citar livro|titulo=Religions of the Ancient Greeks|ultimo1=Price|primeiro1=Simon|data=1999|editora=Cambridge University Press|isbn=978-0521388672|local=Cambridge, UK|página=115|edição=Reprint}}</ref></blockquote>''Katadesmoi'' (latim: ''defixiones''), maldições inscritas em cera ou tabuletas de chumbo e enterradas no subsolo, eram frequentemente executadas por todos os estratos da sociedade grega, às vezes para proteger a ''pólis'' inteira.<ref name="Kindt" /> {{Rp|95–96}} As maldições comunais realizadas em público diminuíram após o período clássico grego, mas as maldições privadas permaneceram comuns ao longo da antiguidade.<ref>{{Citar livro|título=The Penguin Handbook of Ancient Religions|ultimo=Hinnells|primeiro=John|data=2009|editora=Penguin|localização=Londres|isbn=978-0141956664}}</ref> Eles foram distinguidas como mágicas por suas qualidades individualistas, instrumentais e sinistras.<ref name="Kindt" /> {{Rp|96}} Essas qualidades, e seu desvio percebido de construções culturais inerentemente mutáveis de normalidade, mais claramente delineiam a magia antiga dos rituais religiosos dos quais faz parte.<ref name="Kindt" />{{Rp|102–103}}

Um grande número de [[papiro]]s mágicos, em [[Língua grega|grego]], [[Língua copta|copta]] e [[Egípcio demótico|demótico]], foram recuperados e traduzidos.<ref>{{Citar livro|título=The Greek Magical Papyri in Translation, Including the Demotic Spells|ultimo=Betz|primeiro=Hans Dieter|data=1986|editora=University of Chicago Press|localização=Chicago|páginas=xii–xlv|isbn=978-0226044446}}</ref> Eles contêm instâncias iniciais de:

* o uso de [[Feitiço (magia)|palavras mágicas]] ditas como tendo o poder de comandar [[espírito]]s;<ref>{{Citar livro|título=Oracles and Theurgy: Mysticism, Magic and Platonism in the Later Roman Empire|ultimo=Lewy|primeiro=Hans|data=1978|editora=Études Augustiniennes|localização=Paris|isbn=9782851210258}}</ref>
* o uso de [[símbolo]]s ou [[Sigilo (magia)|sigilos]] misteriosos que são considerados úteis ao invocar ou evocar espíritos.<ref name="Betz">{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=K0hCj5u3HNQC&q=The+Greek+Magical+Papyri+in+Translation+betz|título=The Greek Magical Papyri in Translation|ultimo=Betz|primeiro=Hans|data=1996|editora=University of Chicago Press|localização=Chicago|isbn=978-0226044477}}</ref>

A prática da magia foi proibida no final do mundo romano, e o ''[[Código de Teodósio]]'' (ano de 438) afirma:<ref name="Drijvers">{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=ks_cMZBEVb4C&pg=PA208|título=The Late Roman World and Its Historian: Interpreting Ammianus Marcellinus|ultimo=Drijvers|primeiro=Jan Willem|ultimo2=Hunt|primeiro2=David|data=1999|editora=Routledge|localização=Londres|páginas=208–|isbn=9780415202718|edição=1st}}</ref>{{Quote|"Se algum feiticeiro, portanto, ou pessoa imbuída de contaminação mágica que é chamada pelo costume do povo de mago... for apreendido em minha comitiva, ou na de César, ele não escapará da punição e tortura pela proteção de sua posição."}}

== Idade Média ==
{{Artigo principal|Magia medieval europeia}}

No {{séc|I}}, os primeiros autores cristãos absorveram o [[Mundo greco-romano|conceito greco-romano]] de magia e o incorporaram ao desenvolvimento da [[teologia cristã]].{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|p=17}} Esses cristãos mantiveram os estereótipos negativos greco-romanos já implícitos do termo e os ampliaram incorporando padrões conceituais emprestados do pensamento judaico, em particular a oposição de magia e milagre.{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|p=17}} Alguns dos primeiros autores cristãos seguiram o pensamento grego-romano, atribuindo a origem da magia ao reino humano, principalmente a Zoroastro e Ostanes. A visão judaico-cristã era de que a magia era um produto dos babilônios, persas ou egípcios.{{Sfn|Davies|2012|p=33-34}} Os cristãos compartilhavam com a cultura clássica anterior a ideia de que a magia era algo distinto da religião adequada, embora traçasse sua distinção entre as duas de maneiras diferentes.{{Sfn|Bailey|2006|p=8}}

Para os primeiros escritores cristãos, como [[Agostinho de Hipona]], a magia não constituía meramente práticas rituais fraudulentas e não sancionadas, mas era o oposto da religião porque dependia da cooperação de [[Demónio|demônios]], os capangas de [[Satanás]].{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|p=17}} Nisso, as ideias cristãs de magia estavam intimamente ligadas à categoria cristã de [[paganismo]],{{Sfn|Davies|2012|pp=41–42}} e tanto a magia quanto o paganismo eram considerados pertencentes à categoria mais ampla de ''superstitio'' ([[superstição]]), outro termo emprestado da cultura romana pré-cristã.{{Sfn|Bailey|2006|p=8}} Esta ênfase cristã na imoralidade e erro inerente da magia como algo em conflito com a boa religião era muito mais gritante do que a abordagem em outras grandes [[Monoteísmo|religiões monoteístas]] do período, o judaísmo e o islamismo.{{Sfn|Bailey|2018|p=72}} Por exemplo, enquanto os cristãos consideravam os demônios como inerentemente maus, os [[Gênio (mitologia árabe)|''jinn'']]—entidades comparáveis na [[mitologia islâmica]] — eram vistos como figuras mais ambivalentes pelos muçulmanos.{{Sfn|Bailey|2018|p=72}}

O modelo do mágico no pensamento cristão foi fornecido por [[Simão Mago]], (Simão, o Mago), uma figura que se opôs a [[Pedro (apóstolo)|São Pedro]] tanto em ''[[Atos dos Apóstolos]]'' quanto no apócrifo, porém influente, ''[[Atos de Pedro]]''.{{Sfn|Bailey|2018|p=99}} O historiador Michael D. Bailey afirmou que na Europa medieval, a magia era uma "categoria relativamente ampla e abrangente".{{Sfn|Bailey|2018|p=21}} Teólogos cristãos acreditavam que havia várias formas diferentes de magia, a maioria das quais eram tipos de [[adivinhação]]; por exemplo, [[Isidoro de Sevilha]] produziu um catálogo de coisas que ele considerou como magia no qual listou a adivinhação pelos quatro elementos, ou seja, [[geomancia]], [[hidromancia]], [[aeromancia]], [[piromancia]], bem como pela observação de fenômenos naturais, por exemplo, o [[Auspício|voo dos pássaros]] e [[astrologia]]. Ele também mencionou o encantamento e as ligaduras (o uso médico de objetos mágicos ligados ao paciente) como sendo mágicos.{{Sfn|Kieckhefer|2000|pp=10–11}} A Europa medieval também viu a magia passar a ser associada à figura de [[Salomão]] no Antigo Testamento; vários [[grimório]]s, ou livros delineando práticas mágicas, foram escritos que afirmavam ter sido escritos por Salomão, mais notavelmente [[A Chave de Salomão|''A'' ''Chave de Salomão'']].{{Sfn|Davies|2012|p=35}}

No início da Europa medieval, ''magia'' era um termo de condenação.{{Sfn|Flint|1991|p=5}} Na Europa medieval, os cristãos frequentemente suspeitavam que muçulmanos e judeus se engajassem em práticas mágicas;{{sfnm|1a1=Davies|1y=2012|1p=6|2a1=Bailey|2y=2018|2p=88}} em certos casos, esses ritos mágicos percebidos—incluindo o [[Libelo de sangue|suposto sacrifício judaico de crianças cristãs]]—resultaram em cristãos massacrando essas minorias religiosas.{{Sfn|Davies|2012|p=6}} Grupos cristãos muitas vezes também acusavam outros grupos cristãos rivais—que eles consideravam [[Heresia|heréticos]]—de se envolver em atividades mágicas.{{Sfn|Bailey|2018|p=99}} A Europa medieval também viu o termo ''maleficium'' aplicado a formas de magia que eram conduzidas com a intenção de causar danos.{{Sfn|Bailey|2018|p=21}} O final da Idade Média viu palavras para esses praticantes de atos mágicos nocivos aparecerem em várias línguas europeias: ''sorcière'' em francês, ''Hexe'' em alemão, ''strega'' em italiano e ''bruja'' em espanhol.{{Sfn|Bailey|2018|p=22}} O termo inglês para praticantes malévolos de magia, ''witch'', derivado do antigo termo [[inglês antigo]] ''wicce''.{{Sfn|Bailey|2018|p=22}}
[[Ficheiro:Ethiopian magical recipe book.png|esquerda|miniaturadaimagem|No século XV, o imperador [[Zara-Jacó]] perseguiu mágicos na [[Etiópia]] como [[hereges]].<ref>Dickinson, Shawn Michael Augustine (2017). [[hdl:10012/11887|''The Refutation of Magic in the'' Dərsanat ''of Zärʾa Yaʿəqob'']]. University of Waterloo.</ref><ref>{{Citar web|ultimo=Gnisci|primeiro=Jacopo|url=https://www.apollo-magazine.com/ethiopian-manuscripts-virgin-mary/|titulo=The emperor who rooted out magic in medieval Ethiopia|data=2020-02-15|website=Apollo Magazine|lingua=en-US}}</ref> Na foto, talismãs de defesa contra as "artes das trevas" em um manuscrito de um exorcista etíope (''däbtära'') de 1750;<ref>{{Citar web|url=https://artsandculture.google.com/asset/ethiopian-magical-recipe-book/UgFAT5BfomYrrA|titulo=Ethiopian magical recipe book|website=Google Arts & Culture|lingua=pt-BR}}</ref> [[pergaminho]]s de amuleto nessa [[magia africana]] são encontrados em grande quantidade a partir do século XVI.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=j_qdDwAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA121&hl=pt-BR|título=Toward a Global Middle Ages: Encountering the World through Illuminated Manuscripts|ultimo=Derillo|primeiro=Eyob|data=2019-09-03|editora=Getty Publications|editor-sobrenome=Keene, Brian C.|lingua=en|capitulo=Traveling Medicine: Medieval Ethiopian Amulet Scrolls and Practitioners' Handbooks}}</ref>]]
''Ars Magica'' ou magia é um importante componente e contribuição de apoio à crença e prática da cura espiritual e, em muitos casos, da cura física durante a Idade Média. Emanando de muitas interpretações modernas, há um rastro de equívocos sobre magia, um dos maiores dos quais revolvendo em torno da maldade ou da existência de seres nefastos que a praticam. Essas interpretações errôneas resultam de inúmeros atos que foram realizados ao longo da antiguidade e, devido ao seu exotismo a partir da perspectiva do homem comum, os rituais evocavam inquietação e um sentimento ainda mais forte de rejeição.<ref>{{Citar livro|título=The Rise of Magic in Early Medieval Europe|ultimo=Flint|primeiro=Valerie I.J.|data=1990|editora=Princeton University Press|localização=Princeton, New Jersey|páginas=4, 12, 406|isbn=978-0691031651|edição=1st}}</ref><ref name="Kieckhefer 1994">{{Citar periódico |titulo=The Specific Rationality of Medieval Magic |data=junho de 1994 |ultimo=Kieckhefer |primeiro=Richard |paginas=813–818 |doi=10.2307/2167771 |jstor=2167771 |pmid=11639314 |volume=99 |periódico=The American Historical Review}}</ref>

[[Imagem:Sefer_raziel_segulot.png|miniaturadaimagem|208x208px|Um trecho do [[Sefer Raziel HaMalakh]], com vários [[Sigilo (magia)|símbolos]] mágicos (סגולות ''segulot'' em hebraico)]]

Na visão judaica medieval, a separação dos [[Misticismo|elementos místicos]] e mágicos da Cabala, dividindo-a em [[Cabala|Cabala teológica]] especulativa (''Kabbalah Iyyunit'') com suas tradições meditativas e Cabala teúrgica prática (''Kabbalah Ma'asit''), ocorreu no início do {{séc|XIV}}.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=6TPXAAAAMAAJ&q=Magic+%26+Superstition+in+the+Jewish+Tradition|título=Magic & Superstition in the Jewish Tradition: An Exhibition Organized by the Maurice Spertus Museum of Judaica|ultimo=Josephy|primeiro=Marcia Reines|data=1975|editora=Spertus College of Judaica Press|língua=en}}</ref>

Uma força social na Idade Média mais poderosa do que o plebeu singular, a [[Igreja Católica]], rejeitou a magia como um todo porque era vista como um meio de interferir no mundo natural de uma maneira sobrenatural associada aos [[Bíblia|versículos bíblicos]] de Deuteronômio 18:9-2. Apesar das muitas conotações negativas que cercam o termo magia, existem muitos elementos que são vistos sob uma luz divina ou sagrada.<ref>{{Citar livro|título=The Beginnings of Western Science: The European Scientific Tradition in Philosophical, Religious, and Institutional Context, 600 B.C. to A.D. 1450|ultimo=Lindberg|primeiro=David C.|data=2007|editora=University of Chicago Press|localização=Chicago|isbn=978-0226482057|edição=2nd}}</ref>

Instrumentos diversificados ou rituais usados na magia medieval incluem, mas não estão limitados a: vários amuletos, talismãs, poções, bem como cantos, danças e orações específicos. Junto com esses rituais estão as noções adversamente imbuídas de participação demoníaca que os influenciam. A ideia de que a magia foi inventada, ensinada e operada por demônios teria parecido razoável para qualquer um que lesse os [[papiros mágicos gregos]] ou o [[Sefer ha-Razim|Sefer-ha-Razim]] e descobrisse que a magia de cura aparecia ao lado de rituais para matar pessoas, ganhar riqueza ou vantagem pessoal e coagir as mulheres à submissão sexual.{{Sfn|Kieckhefer|1994|p=818}} A arqueologia está contribuindo para uma compreensão mais completa das práticas rituais realizadas em casa, no corpo e em ambientes monásticos e de igreja.<ref>{{Citar periódico |url=http://centaur.reading.ac.uk/3556/1/MED52_05.pdf |titulo=Magic for the Dead? The Archaeology of Magic in Later Medieval Burials |data=1 de novembro de 2008 |ultimo=Gilchrist |primeiro=Roberta |paginas=119–159 |doi=10.1179/174581708x335468 |issn=0076-6097 |volume=52 |periódico=Medieval Archaeology}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=T3EwHTrRZEsC|título=Medieval Life: Archaeology and the Life Course|ultimo=Gilchrist|primeiro=Roberta|data=2012|editora=Boydell Press|localização=Woodbridge|língua=en|isbn=9781843837220|edição=Reprint}}</ref>

A reação [[islâmica]] em relação à magia não condena a magia em geral e faz distinção entre a magia que pode curar doenças e [[Possessão demoníaca|possessão]] e a feitiçaria. A primeira é, portanto, um presente especial de [[Deus no Islã|Deus]], enquanto a última é alcançado com a ajuda de [[Gênio (mitologia árabe)|''jinn'']] e diabos ([[iblis]]). [[Ibne Nadim|Ibne al-Nadim]] mantém que os [[exorcista]]s ganham seu poder pela obediência a Deus, enquanto os feiticeiros agradam aos demônios com atos de desobediência e sacrifícios e estes, em troca, fazem-lhe um favor.<ref>{{Citar livro|título=Islam, Arabs, and the Intelligent World of the Jinn|ultimo=El-Zein|primeiro=Amira|data=2009|editora=Syracuse University Press|localização=Syracuse, Nova Iorque|isbn=9780815650706}}</ref> De acordo com [[Ibn Arabi]], [[Al-Ḥajjāj ibn Yusuf al-Shubarbuli]] foi capaz de andar sobre as águas devido à sua piedade.<ref>{{Citar livro|título=Legends of the Fire Spirits: Jinn and Genies from Arabia to Zanzibar|ultimo=Lebling|primeiro=Robert|data=2010|editora=I.B.Tauris|isbn=9780857730633}}</ref> Com base no [[Alcorão]], a respeito das lendas islâmicas de [[Salomão no islamismo|Salomão]], a magia foi ensinada por demônios aos humanos. Salomão tomou os [[Testamento de Salomão|escritos]] do feiticeiro e os escondeu sob seu trono. Após sua morte, Iblis, incapaz de se aproximar da corte de Salomão, disse ao povo que eles encontrariam um tesouro sob o trono e assim os conduzirão à feitiçaria. Outra narrativa sustenta que a feitiçaria veio com os [[Anjo caído|anjos caídos]] [[Harut e Marut]] para a humanidade.<ref>{{Citar livro|título=The Study Quran; A New Translation and Commentary|ultimo=Nasr|primeiro=Seyyed Hossein|ultimo2=Dagli|primeiro2=Caner K.|ultimo3=Dakake|primeiro3=Maria Massi|ultimo4=Lumbard|primeiro4=Joesph E.B.|ultimo5=Rustom|primeiro5=Mohammed|data=2015|editora=Harper Collins|isbn=9780062227621}}</ref>

== A Renascença e Iluminismo ==
{{Artigo principal|Magia renascentista}}
[[Imagem:Natural_Magick_by_Giambattista_della_Porta.jpg|miniaturadaimagem|Frontispício de uma tradução inglesa de ''Natural Magick'' publicada em Londres em 1658|280x280px]]
O [[humanismo]] do [[Renascimento]] viu um ressurgimento no [[hermetismo]] e nas variedades [[neoplatônica]]s de [[magia cerimonial]]. Por outro lado, viu também o surgimento da [[ciência]], em formas como o destronamento da [[Geocentrismo|teoria ptolomaica]] do universo, a distinção da astronomia da [[astrologia]] e da química da [[alquimia]].<ref name="Kiekhefer">{{Citar livro|título=Forbidden Rites: A Necromancer's Manual of the Fifteenth Century|ultimo=Kieckhefer|primeiro=Richard|data=2002|editora=Pennsylvania State University Press|localização=University Park, Pennsylvania|isbn=978-0271017518|edição=2nd}}</ref>
[[Imagem:Amphitheatrum sapientiae aeternae - Alchemist's Laboratory.jpg|miniaturadaimagem|367x367px|''Anfiteatro da Sabedoria Eterna'' (1595), xilogravura de [[Hans Vredeman de Vries]] ao livro, representando o laboratório de alquimia de [[Heinrich Khunrath]]|esquerda]]
Durante o início do [[Idade Moderna|período moderno]], o conceito de magia passou por uma reavaliação mais positiva através do desenvolvimento do conceito de ''magia naturalis'' ([[magia natural]]).{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|p=17}} Este foi um termo introduzido e desenvolvido por dois humanistas italianos, [[Marsílio Ficino|Marsilio Ficino]] e [[Giovanni Pico della Mirandola]].{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|p=17}} Para eles, ''magia'' era vista como uma força elemental que permeia muitos processos naturais,{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|p=17}} e, portanto, era fundamentalmente distinta da ideia cristã dominante de magia demoníaca.{{sfnm|1a1=Kieckhefer|1y=2000|1p=12|2a1=Hanegraaff|2y=2012|2p=170}} Suas ideias influenciaram uma série de filósofos e escritores posteriores, entre eles [[Paracelso]], [[Giordano Bruno]], [[Johann Reuchlin|Johannes Reuchlin]], [[Johannes Trithemius]] e [[Heinrich Cornelius Agrippa]].{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|p=17}} De acordo com o historiador [[Richard Kieckhefer]], o conceito de ''magia naturalis'' ganhou "firmeza na cultura europeia" durante os séculos XIV e XV,{{Sfn|Kieckhefer|2000|p=12}} atraindo o interesse de [[Filosofia natural|filósofos naturais]] de várias orientações teóricas, incluindo [[Aristotelismo|aristotélicos]], [[Neoplatonismo|neoplatônicos]] e [[Hermetismo|hermetistas]].{{Sfn|Styers|2004|p=35}}

[[Imagem:The Tragicall History of the Life and Death of Doctor Faustus (1628) - woodcut.png|miniaturadaimagem|[[Xilogravura]] no frontispício das publicações do ''[[A Trágica História do Doutor Fausto|Doutor Fausto]]'' (início do {{séc|XVII}}), retratando-o como magista invocando [[Mefistófeles]]]]

Os adeptos dessa posição argumentaram que a ''magia'' pode aparecer tanto nas formas boas quanto nas más; em 1625, o bibliotecário francês [[Gabriel Naudé]] escreveu sua ''Apologia para todos os Sábios Falsamente Suspeitos de Magia'', na qual distinguia "Magia de [[Moisés]]"—que ele afirmava vir de Deus e incluía profecias, milagres e [[Glossolalia religiosa|falar em línguas—]]<nowiki/>da magia goética causada por demônios.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=u9diAAAAcAAJ&pg=PA20&dq=%22mo%C3%AFse%22|título=Apologie pour tous les grands hommes qui ont esté accusez de magie|ultimo=Naudé|primeiro=Gabriel|data=1669|editora=Cotin|lingua=fr}}</ref>{{Sfn|Davies|2012|pp=35–36}} Enquanto os proponentes da ''magia naturalis'' insistiam que isso não dependia das ações dos demônios, os críticos discordaram, argumentando que os demônios simplesmente enganaram esses magos.{{Sfn|Hanegraaff|2006b|p=739}} Por volta do {{séc|XVII}}, o conceito de ''magia naturalis'' havia se movido em direções cada vez mais "naturalistas", com as distinções entre ele e a ciência se tornando confusas.{{Sfn|Hanegraaff|2006b|p=738}} A validade da ''magia naturalis'' como um conceito para a compreensão do universo passou então a ser cada vez mais criticada durante a [[Iluminismo|Era do Iluminismo]] no {{séc|XVIII}}.{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|p=18}}

Apesar da tentativa de reivindicar o termo ''magia'' para uso em um sentido positivo, ela não substituiu as atitudes tradicionais em relação à magia no Ocidente, que permaneceram amplamente negativas.{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|p=18}} Ao mesmo tempo que ''magia naturalis'' estava atraindo interesse e era amplamente tolerada, a Europa viu uma perseguição ativa de [[bruxa]]s acusadas que se acreditava serem culpadas de ''maleficia''.{{Sfn|Styers|2004|p=35}} Refletindo as associações negativas contínuas do termo, os [[Protestantismo|protestantes]] frequentemente procuraram denegrir [[Igreja Católica|práticas sacramentais e devocionais católicas romanas]] como sendo mágicas ao invés de religiosas.{{sfnm|1a1=Styers|1y=2004|1pp=9, 36–37|2a1=Davies|2y=2012|2p=7}} Muitos católicos romanos ficaram preocupados com esta alegação e por vários séculos vários escritores católicos romanos devotaram atenção à argumentação de que suas práticas eram religiosas ao invés de mágicas.{{Sfn|Styers|2004|p=9}} Ao mesmo tempo, os protestantes frequentemente usavam acusações de magia contra outros grupos protestantes com os quais estavam competindo.{{Sfn|Styers|2004|p=37}} Desta forma, o conceito de magia foi usado para prescrever o que era apropriado como crença e prática religiosa.{{Sfn|Styers|2004|p=9}} Reivindicações semelhantes também estavam sendo feitas no mundo islâmico durante este período. O clérigo árabe [[Maomé ibne Abdal Uaabe]]—<nowiki/>fundador do [[wahhabismo]]—por exemplo, condenou uma série de costumes e práticas, como adivinhação e veneração de espíritos como ''sihr'', que ele, por sua vez, alegou ser uma forma de ''[[shirk]]'', o pecado da idolatria.{{Sfn|Davies|2012|p=9}}

Havia grande incerteza em distinguir práticas de superstição, ocultismo e conhecimento erudito perfeitamente sólido ou ritual piedoso. As tensões intelectuais e espirituais irromperam na [[Caça às bruxas|mania das bruxas]] da Idade Moderna, ainda mais reforçada pela turbulência da [[Reforma Protestante]], especialmente na Alemanha, Inglaterra e [[Escócia]].<ref name="Kiekhefer" />

No [[Judaísmo chassídico|hassidismo]], o deslocamento da Cabala prática usando meios mágicos diretos, por [[Meditação judaica|tendências conceituais e meditativas]], ganhou muito mais ênfase, ao mesmo tempo que instituiu a [[teurgia]] meditativa para bênçãos materiais no cerne de seu misticismo social.<ref>''Hasidism: Between Ecstasy and Magic'', [[Moshe Idel]], SUNY Press 1995, p. 72-74. O termo magia usado aqui para denotar teurgia divina afetando bênção material, ao invés de magia talismânica diretamente da Cabala prática</ref> O hassidismo internalizou a Cabala por meio da psicologia de ''[[deveikut]]'' (apego a Deus) e apego ao [[Tsadic]] (Rebe hassídico). Na doutrina hassídica, o tsadic canaliza a abundância espiritual e física divina para seus seguidores alterando a Vontade de Deus (revelando uma Vontade oculta mais profunda) por meio de seu próprio deveikut e [[Ayin e Yesh|auto-anulação]]. [[Dov Ber de Mezeritch]] preocupou-se em distinguir do processo diretamente mágico esta teoria da vontade do Tzadik alterando e decidindo a Vontade Divina.<ref>''Studies in East European Jewish Mysticism and Hasidism'', Joseph Weiss, Littman Library; chapter: "The Saddik - Altering the Divine Will'', p. 192''</ref>

No {{séc|XVI}}, as sociedades europeias começaram a conquistar e colonizar outros continentes ao redor do mundo e, ao fazê-lo, aplicaram os conceitos europeus de magia e feitiçaria às práticas encontradas entre os povos que encontraram.{{sfnm|1a1=Styers|1y=2004|1p=60|2a1=Bailey|2y=2018|2p=23}} Normalmente, esses colonialistas europeus consideravam os nativos como primitivos e selvagens cujos sistemas de crenças eram diabólicos e precisavam ser erradicados e substituídos pelo cristianismo.{{Sfn|Bailey|2018|p=23}} Como os europeus normalmente viam esses povos não europeus como sendo moral e intelectualmente inferiores a eles próprios, esperava-se que tais sociedades fossem mais propensas a praticar magia.{{Sfn|Bailey|2018|p=98}} Mulheres que praticavam ritos tradicionais foram rotuladas como bruxas pelos europeus.{{Sfn|Bailey|2018|p=98}}

[[Imagem:Affaire_de_Bizoton_1864.png|esquerda|miniaturadaimagem|No {{séc|XIX}}, o governo haitiano começou a legislar contra o vodu, descrevendo-o como uma forma de feitiçaria; isso entrava em conflito com a compreensão dos próprios praticantes de Vodu sobre sua religião{{Sfn|Bailey|2018|p=25}}|280x280px]]

Em vários casos, esses conceitos e termos europeus importados sofreram novas transformações à medida que se fundiram com os conceitos indígenas.{{Sfn|Bailey|2018|p=24}} Na África Ocidental, por exemplo, os viajantes portugueses introduziram o seu termo e conceito de ''feitiçaria'' e ''feitiço'' para a população nativa, onde foi transformado no conceito de [[Fetichismo (religião)|fetiche]]. Quando os europeus mais tarde encontraram essas sociedades da África Ocidental, eles erroneamente acreditaram que ''fetiche'' era um termo indígena africano, e não o resultado de encontros intercontinentais anteriores.{{Sfn|Bailey|2018|p=24}} Às vezes, as próprias populações colonizadas adotaram esses conceitos europeus para seus próprios fins. No início do {{séc|XIX}}, o governo haitiano recém-independente de [[Jean Jacques Dessalines|Jean-Jacques Dessalines]] começou a suprimir a prática do [[Vodu haitiano|vodu]] e, em 1835, os códigos legais haitianos categorizaram todas as práticas do vodu como ''sortilège'' (sortilégio/feitiçaria), sugerindo que tudo era conduzido com intenção prejudicial, enquanto entre os praticantes do Vodu, a realização de ritos prejudiciais já recebia uma categoria separada e distinta, conhecida como ''maji''.{{Sfn|Bailey|2018|p=25}}

== Modernidade ==
No {{séc|XIX}}, os intelectuais europeus não viam mais a prática da magia através da estrutura do [[pecado]] e, em vez disso, consideravam as práticas e crenças mágicas como "um modo aberracional de pensamento antitético à lógica cultural dominante – um sinal de comprometimento psicológico e marcador de racismo ou inferioridade cultural".{{Sfn|Styers|2004|p=27}}

[[Imagem:Frontispiece - The Astrologer in the Nineteenth Century.jpg|miniaturadaimagem|Frontispício de ''The Astrologer in the Nineteenth Century'' (1825), assinado por "Merlinus Anglicus", com ilustração em [[aquatinta]] por [[Robert Cross Smith]] ("Raphael")]]

À medida que as elites educadas nas sociedades ocidentais cada vez mais rejeitavam a eficácia das práticas mágicas, os sistemas jurídicos pararam de ameaçar os praticantes de atividades mágicas com punição pelos crimes de diabolismo e feitiçaria e, em vez disso, os ameaçaram com a acusação de que estavam fraudando pessoas ao prometer fornecer coisas que eles não podiam.{{Sfn|Bailey|2018|p=103}} Por outro lado, esse tema de fascínio ganhava atração na era do [[romantismo]] (também em oposição ao Iluminismo) e o mágico foi popularizado na literatura, tanto através do imaginário do arcano em mitos nativos, filosofias e práticas locais na Europa (como o [[mesmerismo]] e [[Sociedade secreta|sociedades iniciáticas]]), quanto pelo [[orientalismo]], no exotismo do [[hinduísmo]] e pelos contos árabes das ''[[Mil e Uma Noites]]''.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=IbuuCwAAQBAJ&pg=PA174|título=A Handbook to English Romanticism|ultimo=Watson|primeiro=J. R.|data=1992-09-15|editora=Springer|editor-sobrenome=Raimond, Jean; Watson, Richard|página=174|lingua=en|capitulo=The Marvellous and Occult}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=JigTEAAAQBAJ&pg=PA92|título=The Occult Nineteenth Century: Roots, Developments, and Impact on the Modern World|ultimo=Zoehrer|primeiro=D. S.|data=2021-01-09|editora=Springer Nature|editor-sobrenome=Pokorny, Lukas; Winter, Franz|lingua=en|capitulo=From ''Fluidum'' to ''Prāṅa'': Reading Mesmerism}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=gJZGCgAAQBAJ&pg=PT549|título=Companion to Literary Myths, Heroes and Archetypes|ultimo=Lévy|primeiro=Ann-Déborah|data=2015-07-30|editora=Routledge|editor-sobrenome=Brunel|editor-nome=Pierre|lingua=en|capitulo=Isis}}</ref>

A disseminação do poder colonial europeu em todo o mundo influenciou como os acadêmicos viriam a enquadrar o conceito de magia.{{Sfn|Styers|2004|p=61}} No {{séc|XIX}}, vários estudiosos adotaram o conceito tradicional negativo de magia.{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|p=18}} Que eles escolheram fazer isso não era inevitável, pois eles poderiam ter seguido o exemplo adotado por [[Esoterismo ocidental|esoteristas]] proeminentes ativos na época como [[Helena Blavatsky]], que escolheu usar o termo e o conceito de magia em um sentido positivo.{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|p=18}} Vários escritores também usaram o conceito de magia para criticar a religião, argumentando que a última ainda exibia muitos dos traços negativos da primeira. Um exemplo disso foi o jornalista americano [[H. L. Mencken]] em sua polêmica obra de 1930, ''[[Treatise on the Gods]]''; ele procurou criticar a religião comparando-a com a magia, argumentando que a divisão entre as duas estava errada.{{Sfn|Styers|2004|pp=9–10}} O conceito de magia também foi adotado por teóricos no novo campo da [[psicologia]], onde era frequentemente usado como sinônimo de [[superstição]], embora o último termo tenha se mostrado mais comum nos primeiros textos psicológicos.{{Sfn|Davies|2012|pp=63–64}}
[[Imagem:An Arch Druid in His Judicial Habit.jpg|miniaturadaimagem|Representação imaginária de um [[druida]] (1815). [[Ciclo Arturiano|Lendas medievais]] e [[contos de fadas]], e a [[Renascença céltica|Celtomania]] dos séculos XVIII e XIX contribuíram para a difusão literária de figuras mágicas como [[Merlin]] e [[Fada Morgana]].<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=ohqKnFU-kSsC&pg=PA9|título=Welsh Mythology and Folklore in Popular Culture: Essays on Adaptations in Literature, Film, Television and Digital Media|ultimo=Sullivan III|primeiro=C. W.|data=2011-09-07|editora=McFarland|editor1=Becker, Audrey L.|editor2= Noone, Kristin|editor3= Palumbo, Donald E.|lingua=en|capitulo=Celtic Studies and Modern Fantasy Literature}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=6dBHDwAAQBAJ&pg=PA84|título=A Green and Pagan Land: Myth, Magic and Landscape in British Film and Television|ultimo=Huckvale|primeiro=David|data=2018-01-18|editora=McFarland|lingua=en}}</ref>|esquerda]]
No final do {{séc|XIX}} e no XX, os [[Estudos folclóricos|folcloristas]] examinaram comunidades rurais em toda a Europa em busca de práticas mágicas, que na época eles normalmente entendiam como sobreviventes de sistemas de crenças ancestrais.{{Sfn|Davies|2012|p=29}} Foi apenas na década de 1960 que antropólogos como [[Jeanne Favret-Saada]] também começaram a olhar em profundidade para a magia em contextos europeus, tendo anteriormente se concentrado em examinar a magia em contextos não ocidentais.{{Sfn|Davies|2012|pp=30–31}} No {{séc|XX}}, a magia também se mostrou um tópico de interesse para os [[Surrealismo|surrealistas]], um movimento artístico baseado principalmente na Europa; o surrealista [[André Breton|Andre Breton,]] por exemplo, publicou ''L'Art magique'' em 1957, discutindo o que ele considerava as ligações entre magia e arte.{{Sfn|Davies|2012|p=101}}

A aplicação acadêmica da magia como uma categoria ''sui generis'' que pode ser aplicada a qualquer contexto sociocultural estava ligada à promoção da [[modernidade]] para públicos ocidentais e não ocidentais.{{Sfn|Hanegraaff|2012|p=167}}

O termo magia se difundiu na imaginação e no idioma populares.{{Sfn|Davies|2012|p=1}} Em contextos contemporâneos, a palavra magia é às vezes usada para "descrever um tipo de excitação, de maravilha ou deleite repentino", e em tal contexto pode ser "um termo de grande elogio".{{Sfn|Flint|1991|p=3}} Apesar de seu contraste histórico contra a ciência, cientistas também adotaram o termo em sua aplicação a diversos conceitos, tais como [[ácido mágico]], [[Bala mágica|balas mágicas]], e [[Ângulo mágico|ângulos mágicos]].{{Sfn|Davies|2012|p=1}}
[[Imagem:The Illustrated Key to the Tarot p. 41.png|miniaturadaimagem|352x352px|[[O Mago (tarô)|O Mago]] (I), uma ilustração do [[Tarot Rider-Waite|baralho de tarô Rider-Waite]] publicado pela primeira vez em 1910]]
A magia ocidental moderna desafiou preconceitos amplamente difundidos sobre a religião e [[espiritualidade]] contemporâneas.{{Sfn|Bogdan|2012|pp=1–2}} Os polêmicos discursos sobre magia influenciaram a autocompreensão dos mágicos modernos, vários dos quais—como [[Éliphas Lévi]], [[Papus]], [[Aleister Crowley]]—eram bem versados na literatura acadêmica sobre o assunto.{{Sfn|Bogdan|2012|p=11}} O mágico tornou-se constituinte básico das doutrinas modernas de ocultismo e [[esoterismo ocidental]], e sistemas [[vitorianos]] de [[magia ritual]], tal como a [[Ordem Hermética da Aurora Dourada]] e [[Martinismo|Ordem Martinista]], popularizaram a teoria e prática antiga, assimilando grimórios medievais e sistemas da Renascença, tal como a [[Cabala cristã]] e [[magia enoquiana]], além de incorporar [[Ferramenta|parafernália]] como [[pentagrama]], [[tarô]] e conjunto de [[altar]].<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=nEh9DAAAQBAJ&pg=PA48|título=Victorian Occultism and the Making of Modern Magic: Invoking Tradition|ultimo=Butler|primeiro=A.|data=2011-01-05|editora=Springer|lingua=en}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=1X2bEHOk8L4C&pg=PA135|título=Magic and Mysticism: An Introduction to Western Esotericism|ultimo=Versluis|primeiro=Arthur|data=2007|editora=Rowman & Littlefield|lingua=en}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=TWMZBwAAQBAJ&pg=PA259|título=Seeing with Different Eyes: Essays in Astrology and Divination|ultimo=Curry|primeiro=Patrick|data=2009-05-05|editora=Cambridge Scholars Publishing|lingua=en}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=LRfgT5S-iLwC&pg=PA28|título=Arguing with Angels: Enochian Magic and Modern Occulture|ultimo=Asprem|primeiro=Egil|data=2012-04-02|editora=SUNY Press|lingua=en}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&id=herJDwAAQBAJ|título=Llewellyn's Complete Book of Ceremonial Magick: A Comprehensive Guide to the Western Mystery Tradition|ultimo=DuQuette|primeiro=Lon Milo|ultimo2=Shoemaker|primeiro2=David|ultimo3=Skinner|primeiro3=Stephen|ultimo4=Hauck|primeiro4=Dennis William|ultimo5=Rankine|primeiro5=David|ultimo6=Leitch|primeiro6=Aaron|ultimo7=Cicero|primeiro7=Chic|ultimo8=Cicero|primeiro8=Sandra Tabatha|ultimo9=Webster|primeiro9=Sam|data=2020-02-08|editora=Llewellyn Worldwide|lingua=ar}}</ref>

De acordo com o estudioso da religião Henrik Bogdan, "indiscutivelmente a definição [[Êmica e ética|êmica]] mais conhecida" do termo magia foi fornecida por Crowley.{{Sfn|Bogdan|2012|p=11}} Crowley—que favorecia em inglês a grafia "magick" sobre "magic" para distingui-la do [[ilusionismo]] de palco{{sfnm|1a1=Bogdan|1y=2012|1p=12|2a1=Bailey|2y=2018|2pp=22–23}}—era da opinião de que "Mágicka é a Ciência e Arte de fazer a Mudança ocorrer em conformidade com a Vontade".{{Sfn|Bogdan|2012|p=11}} A definição de Crowley influenciou a dos mágicos subsequentes.{{Sfn|Bogdan|2012|p=11}} [[Dion Fortune]] da [[Fraternidade da Luz Interior]], por exemplo, afirmou que "Magia é a arte de mudar a consciência de acordo com a Vontade".{{Sfn|Bogdan|2012|p=11}} [[Gerald Gardner]], o fundador da [[Wicca Gardneriana]], afirmou que magia era "tentar causar o fisicamente incomum",{{Sfn|Bogdan|2012|p=11}} enquanto [[Anton LaVey]], o fundador do [[satanismo LaVey]]ano, descreveu a magia como "a mudança em situações ou eventos de acordo com com a própria vontade, que, usando métodos normalmente aceitáveis, seriam imutáveis."{{Sfn|Bogdan|2012|p=11}}

O movimento da [[Magia do Caos|magia do caos]] surgiu durante o final do {{séc|XX}}, como uma tentativa de retirar os [[Símbolo|aspectos simbólicos]], [[ritual]]ísticos, [[Teologia|teológicos]] ou ornamentais de outras tradições ocultas e destilar a magia até um conjunto de técnicas básicas.<ref name="Urban">{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=6wVBx9yriTUC&pg=PA240|título=Magia Sexualis: Sex, Magic, and Liberation in Modern Western Esotericism|ultimo=Urban|primeiro=Hugh|editora=University of California Press|ano=2006|páginas=240–43|isbn=978-0520932883|ref=refUrban|autorlink=Hugh Urban}}</ref>

Esses modernos conceitos ocidentais de magia se baseiam na crença em [[Correspondência (teologia)|correspondências]] conectadas a uma força oculta desconhecida que permeia o universo.{{Sfn|Hanegraaff|2006b|p=741}} Como observado por Hanegraaff, isso operava de acordo com "um ''novo'' significado da magia, que não poderia ter existido em períodos anteriores, precisamente porque é elaborado em reação ao "[[desencantamento do mundo]]"."{{Sfn|Hanegraaff|2006b|p=741}} Para muitos, e talvez a maioria dos magos ocidentais modernos, o objetivo da magia é considerado o desenvolvimento espiritual pessoal.{{Sfn|Hanegraaff|2006b|p=743}} A percepção da magia como uma forma de autodesenvolvimento é central para a forma como as práticas mágicas foram adotadas nas formas do [[Neopaganismo|paganismo moderno]] e no fenômeno da [[New age|Nova Era]].{{Sfn|Hanegraaff|2006b|p=743}} Um desenvolvimento significativo nas práticas modernas de magia ocidental foi a [[magia sexual]].{{Sfn|Hanegraaff|2006b|p=743}} Esta foi uma prática promovida nos escritos de [[Paschal Beverly Randolph]] e posteriormente exerceu um forte interesse em magos ocultistas como Crowley e [[Hans Merlin|Theodor Reuss]].{{Sfn|Hanegraaff|2006b|p=743}}

A adoção do termo magia pelos ocultistas modernos pode, em alguns casos, ser uma tentativa deliberada de defender aquelas áreas da sociedade ocidental que foram tradicionalmente marginalizadas como meio de subverter os sistemas de poder dominantes.{{Sfn|Styers|2004|p=19}} A influente [[wicca]]na americana e autora [[Starhawk]], por exemplo, afirmou que "Magia é outra palavra que deixa as pessoas desconfortáveis, então eu a uso deliberadamente, porque as palavras com as quais nos sentimos confortáveis, as palavras que soam aceitáveis, racionais, científicas e intelectualmente corretas, são confortáveis precisamente porque são a linguagem do estranhamento."{{Sfn|Styers|2004|pp=19–20}} Nos dias atuais, "entre alguns subgrupos [[contracultura]]is, o rótulo é considerado 'maneiro'".{{Sfn|Berger|Ezzy|2007|p=78}}

Feitiçaria é um conceito legal na lei de [[Papua-Nova Guiné]], que diferencia entre boa magia legal, como cura e fertilidade, e magia negra ilegal, considerada responsável por mortes inexplicáveis.<ref>{{Citar jornal |url=http://www.nzherald.co.nz/world/news/article.cfm?c_id=2&objectid=10817610 |titulo=Cannibal cult members arrested in PNG |data=2012-07-05 |acessodata=2015-11-28 |website=New Zealand Herald |lingua=en-NZ |issn=1170-0777}}</ref>

=== Desenvolvimento conceitual ===
Inicialmente, o olhar europeu era de que os [[Pensamento mágico|pensamentos mágicos]] seriam erros e distorções da interpretação de [[Causalidade|causa e efeito]] no mundo, tal como defendiam [[James Frazer]] e [[Edward B. Tylor]], este último afirmando que eram baseados em relações que confundiam "conexões ideais por conexões reais". Depois, outros [[antropólogos]] começaram a realizar abordagens mais [[Êmica e ética|êmicas]], tal como como [[Lucien Lévy-Bruhl]], que rejeitou a noção de [[Evolução unilinear|evolucionismo social unilinear]] e propôs que a magia não era [[Irracionalidade|irracional]], porém baseada na mentalidade primitiva de crença aguçada em uma realidade que chamou de [[Misticismo|mística]], da percepção de forças, entidades, divindades e influências invisíveis na natureza segundo a chamada "lei de participação" (''[[participation mystique]]'').<ref name=":0">{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=_wq7PgIy8RgC&pg=PA3|título=Magic in the Ancient Greek World|ultimo=Collins|primeiro=Derek|data=2008-04-30|editora=John Wiley & Sons|lingua=en}}</ref>

O estudo [[etnográfico]] de [[E. E. Evans-Pritchard|Edward Evan Evans-Pritchard]], ''Bruxaria, Oráculos e Magia entre os [[Azande]]'' (1937), foi um marco na antropologia da magia ao investigar que os sistemas mágicos possuíam [[racionalidade]], diferentemente do que era comumente veiculado no discurso europeu, e que estruturas sociais poderiam se sustentar logicamente sobre elas. Baseando-se também no que sugeria Lévy-Bruhl, observou que padrões de ideias e comportamentos possuíam sentido dentro de uma visão de mundo holística das sociedades e a magia formava também uma estrutura racional de crenças e conhecimento em algumas culturas, como a [[feitiçaria zande]] da África; porém, sua obra teve conclusão oposta à de Levy-Bruhl, pois pautava-a mais na [[lógica]] do que no misticismo e não afirmava que a mentalidade primitiva era qualitativamente diferente.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=pUMHEAAAQBAJ&pg=PT78|título=The Anthropology of Magic|ultimo=Greenwood|primeiro=Susan|data=2020-05-28|editora=Routledge|lingua=en}}</ref><ref name="Hum_Drury_2013">{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=_7BmacKsEYoC&pg=PR9|título=The Varieties of Magical Experience: Indigenous, Medieval, and Modern Magic|ultimo=Hum|primeiro=Lynne L.|ultimo2=Drury|primeiro2=Nevill|data=2013|editora=ABC-CLIO|língua=en|isbn=978-1-4408-0419-9}}</ref><ref name=":0" />

O historiador [[Owen Davies (historiador)|Owen Davies]] afirmou que a palavra magia estava "além de uma definição simples",{{Sfn|Davies|2012|p=2}} e tinha "uma variedade de significados".{{Sfn|Davies|2012|p=113}} Da mesma forma, o historiador Michael D. Bailey caracterizou a magia como "uma categoria profundamente contestada e um rótulo muito carregado";{{Sfn|Bailey|2018|p=8}} como categoria, observou ele, era "profundamente instável", uma vez que as definições do termo "variaram dramaticamente ao longo do tempo e entre as culturas".{{Sfn|Bailey|2006|p=2}} Os estudiosos têm se envolvido em extensos debates sobre como definir a magia,{{Sfn|Styers|2004|p=3}} com tais debates resultando em intensa disputa.{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|p=1}} Ao longo desses debates, a comunidade acadêmica falhou em concordar sobre uma definição de magia, de uma maneira semelhante a como eles falharam em concordar sobre uma definição de religião.{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|p=1}} De acordo com o estudioso da religião [[Michael Stausberg]], o fenômeno das pessoas que aplicam o conceito de magia para se referir a si mesmas e às suas próprias práticas e crenças remonta à antiguidade tardia. No entanto, mesmo entre aqueles ao longo da história que se descreveram como mágicos, não houve um terreno comum sobre o que é magia.{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|p=7}}

[[Magia africana|Na África]], a palavra magia pode simplesmente ser entendida como denotando gerenciamento de forças, que, como uma atividade, não tem peso moral e é, portanto, uma atividade neutra desde o início de uma prática mágica, mas que, pela vontade do mago, é pensada como se tornando e tendo um resultado que representa o [[Bem e mal|bem ou o mal]].<ref name="J. Ki-Zerbo">{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=LNlt1AnERAIC&q=African+Magic&pg=PA63|título=Methodology and African Prehistory, Volume 92, Issues 3-102588|ultimo=J. Ki-Zerbo|data=1990|editora=James Currey Publishers|isbn=085255091X}}</ref><ref name="Molefi Kete Asanti">{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=uMv0CAAAQBAJ&q=African+Magic&pg=PT548|título=Encyclopedia of African Religion|ultimo=[[Molefi Asante|Molefi Kete Asanti]]|data=2008-11-26|editora=SAGE Publications|isbn=978-1506317861}}</ref> A cultura africana antiga costumava sempre discernir a diferença entre a magia e um grupo de outras coisas, que não são mágicas, essas coisas incluindo a [[Medicina tradicional africana|medicina]], a [[Adivinhação africana|adivinhação]], a [[Bruxaria|feitiçaria]] e o [[Sortes (adivinhação)|sortilégio]].<ref name="M. Labahn">{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=EPHTAwAAQBAJ&q=African+medicine+man+magic&pg=PA27|título=A Kind of Magic: Understanding Magic in the New Testament and Its Religious Environment|ultimo=Dr. M. Labahn (Martin-Luther University)|data=2007|editora=A&C Black|isbn=978-0567030757}}''Volume 306 of European studies on Christian origins''</ref> As opiniões divergem sobre como a religião e a magia estão relacionadas entre si no que diz respeito ao desenvolvimento ou a partir de qual cada uma se desenvolveu, alguns pensando que se desenvolveram juntas a partir de uma origem comum, outros que a religião se desenvolveu da magia e ainda alguns o contrário, a magia da religião.<ref name="M. Konaté Deme">{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=GQXHBQAAQBAJ&q=African+Magic&pg=PT38|título=Heroism and the Supernatural in the African Epic|ultimo=M. Konaté Deme ([[Western Michigan University]])|data=2010-09-13|editora=Routledge|isbn=978-1136932649}}''African Studies''</ref>

As teorias antropológicas e sociológicas da magia geralmente servem para demarcar nitidamente certas práticas de outras, de outro modo semelhantes, em uma dada sociedade.{{Sfn|Bailey|2006|p=8}} De acordo com Bailey: "Em muitas culturas e em vários períodos históricos, as categorias de magia frequentemente definem e mantêm os limites das ações social e culturalmente aceitáveis em relação a entidades ou forças [[Numinoso|numinosas]] ou ocultas. Ainda mais, basicamente, eles servem para delinear arenas de crença apropriada."{{Sfn|Bailey|2006|p=9}}; ele observou que "traçar essas distinções é um exercício de poder".{{Sfn|Bailey|2006|p=9}} Esta tendência teve repercussões para o estudo da magia, com acadêmicos autocensurando suas pesquisas por causa dos efeitos em suas carreiras.{{Sfn|Blain|Ezzy|Harvey|2004|pp=118-119}}

Randall Styers observou que a tentativa de definir a magia representa "um ato de demarcação" pelo qual ela é justaposta a "outras práticas sociais e modos de conhecimento", como religião e ciência.{{Sfn|Styers|2004|p=25}} A historiadora Karen Louise Jolly descreveu a magia como "uma categoria de exclusão, usada para definir uma forma inaceitável de pensar como o oposto da religião ou da ciência".{{Sfn|Jolly|1996|p=17}}

A academia moderna produziu várias definições e teorias de magia.{{Sfn|Bailey|2006|p=3}} De acordo com Bailey, "estas normalmente enquadram a magia em relação a, ou mais frequentemente em distinção de, religião e ciência."{{Sfn|Bailey|2006|p=3}} Desde o surgimento do [[Ciência da religião|estudo da religião]] e das [[ciências sociais]], a magia tem sido um "tema central na literatura teórica" produzida por estudiosos que atuam nessas disciplinas acadêmicas.{{Sfn|Styers|2004|p=3}} Magia é um dos conceitos mais fortemente teorizados no estudo da religião,{{Sfn|Hanegraaff|2012|p=164}} e também desempenhou um papel fundamental nas primeiras teorizações dentro da antropologia.{{Sfn|Davies|2012|p=21}} Styers acreditava que ele tinha um forte apelo para os teóricos sociais porque fornece "um espaço tão rico para articular e contestar a natureza e os limites da modernidade".{{Sfn|Styers|2004|p=21}} Os estudiosos costumam usá-lo como um contraste para o conceito de religião, considerando a magia como a "irmã ilegítima (e efeminada)" da religião.{{Sfn|Styers|2004|p=6}} Alternativamente, outros o usaram como uma categoria intermediária localizada entre religião e ciência.{{Sfn|Styers|2004|p=6}}

O contexto em que os estudiosos enquadraram suas discussões sobre magia foi informado pela disseminação do poder colonial europeu em todo o mundo no período moderno.{{Sfn|Styers|2004|p=61}} Essas repetidas tentativas de definir magia ressoaram com preocupações sociais mais amplas,{{Sfn|Styers|2004|p=8}} e a flexibilidade do conceito permitiu que fosse "prontamente adaptável como uma ferramenta polêmica e ideológica".{{Sfn|Styers|2004|p=9}} As ligações que os intelectuais fizeram entre a magia e aqueles que eles caracterizavam como primitivos ajudaram a legitimar o imperialismo e o colonialismo europeu e euro-americano, já que esses colonialistas ocidentais expressaram a visão de que aqueles que acreditavam e praticavam magia eram incapazes de se governar e deveriam ser governados por aqueles que, ao invés de acreditar na magia, acreditavam na ciência e/ou religião (cristã).{{Sfn|Styers|2004|p=14}} Nas palavras de Bailey, "a associação de certos povos [sejam não europeus ou pobres europeus rurais] com a magia serviu para distanciá-los e diferenciá-los daqueles que os governavam, e em grande parte para justificar essa regra."{{Sfn|Bailey|2018|p=89}}

Muitas definições diferentes de magia foram oferecidas por estudiosos, embora—de acordo com Hanegraaff—elas possam ser entendidas como variações de um pequeno número de teorias fortemente influentes.{{Sfn|Hanegraaff|2012|p=164}}

==== Abordagem intelectualista ====
[[Imagem:Edward_Burnett_Tylor.jpg|miniaturadaimagem|271x271px|Edward Tylor, um antropólogo que usou o termo magia em referência à [[Simpatia|magia simpática]], uma ideia que ele associou ao seu conceito de animismo]]

A abordagem intelectualista para definir magia está associada a dois [[Antropologia|antropólogos]] britânicos proeminentes, [[Edward Burnett Tylor|Edward Tylor]] e [[James Frazer|James G. Frazer]].{{Sfn|Hanegraaff|2012|pp=164–65}} Esta abordagem via a magia como o oposto teórico da [[ciência]],{{sfnm|1a1=Hanegraaff|1y=2012|1p=165|2a1=Otto|2a2=Stausberg|2y=2013|2p=4}} e veio a preocupar muito do pensamento antropológico sobre o assunto.{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|p=4}} Ela foi situada dentro dos modelos evolucionários que sustentaram o pensamento nas ciências sociais durante o início do {{séc|XIX}}.{{Sfn|Davies|2012|pp=14–15}} O primeiro cientista social a apresentar a magia como algo que antecedeu a religião em um desenvolvimento evolucionário foi [[Herbert Spencer]];{{Sfn|Davies|2012|p=15}} em seu ''A System of Synthetic Philosophy'', ele usou o termo magia em referência à [[Simpatia|magia simpática]] ou [[Envultamento]].{{Sfn|Cunningham|1999|pp=16–17}} Spencer considerava magia e religião enraizadas em falsas especulações sobre a natureza dos objetos e sua relação com outras coisas.{{Sfn|Cunningham|1999|p=17}}

A compreensão de Tylor sobre magia estava ligada ao seu conceito de [[animismo]].{{sfnm|1a1=Davies|1y=2012|1p=15|2a1=Bailey|2y=2018|2p=15}} Em seu livro de 1871 ''Cultura Primitiva'', Tylor caracterizou a magia como crenças baseadas no "erro de confundir analogia ideal com analogia real".{{sfnm|1a1=Hanegraaff|1y=2006|1p=716|2a1=Hanegraaff|2y=2012|2p=164}} Na opinião de Tylor, "o homem primitivo, tendo vindo a associar em pensamento as coisas que ele descobriu pela experiência como conectadas de fato, passou erroneamente para inverter esta ação e concluir que a associação no pensamento deve envolver conexão semelhante na realidade. Ele, assim, tentou descobrir, prever e causar eventos por meio de processos que agora podemos ver ter apenas um significado ideal".{{Sfn|Hanegraaff|2006|p=716}} Tylor rejeitou a magia, descrevendo-a como "uma das ilusões mais perniciosas que já incomodou a humanidade".{{sfnm|1a1=Cunningham|1y=1999|1p=18|2a1=Davies|2y=2012|2p=16}} As opiniões de Tylor provaram ser altamente influentes,{{Sfn|Davies|2012|p=16}} e ajudaram a estabelecer a magia como um tópico principal da pesquisa antropológica.{{Sfn|Davies|2012|p=15}}

[[Imagem:JamesGeorgeFrazer.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|188x188px|James Frazer considerou a magia como o primeiro estágio no desenvolvimento humano, a ser seguido pelo da religião e depois pela ciência]]

As ideias de Tylor foram adotadas e simplificadas por James Frazer.{{sfnm|1a1=Hanegraaff|1y=2006|1p=716|2a1=Davies|2y=2012|2p=16}} Ele usou o termo magia para significar magia simpática,{{sfnm|1a1=Hanegraaff|1y=2006|1p=716|2a1=Bailey|2y=2018|2pp=15–16}} descrevendo-a como uma prática baseada na crença do mago "que as coisas agem umas sobre as outras à distância através de uma simpatia secreta", algo que ele descreveu como "um invisível [[Éter (elemento)|éter]]".{{Sfn|Hanegraaff|2006|p=716}} Ele dividiu essa magia em duas formas, a "homeopática (imitativa, mimética)" e a "contagiosa".{{Sfn|Hanegraaff|2006|p=716}} A primeira era a ideia de que "semelhante produz semelhante", ou que a semelhança entre dois objetos poderia resultar em um influenciando o outro. A última se baseava na ideia de que o contato entre dois objetos permitia que os dois continuassem se influenciando à distância.{{sfnm|1a1=Cunningham|1y=1999|1p=19|2a1=Hanegraaff|2y=2006|2p=716}} Como Taylor, Frazer viu a magia negativamente, descrevendo-a como "a irmã bastarda da ciência", surgindo de "uma grande falácia desastrosa".{{Sfn|Cunningham|1999|p=19}}

Onde Frazer diferia de Tylor era caracterizar a crença na magia como um estágio importante no desenvolvimento cultural da humanidade, descrevendo-a como parte de uma divisão tripartida em que a magia vinha em primeiro lugar, a religião vinha em segundo lugar e, eventualmente, a ciência vinha em terceiro.{{sfnm|1a1=Cunningham|1y=1999|1p=19|2a1=Hanegraaff|2y=2006|2p=716|3a1=Davies|3y=2012|3p=16|4a1=Bailey|4y=2018|4pp=15–16}} Para Frazer, todas as sociedades primitivas começaram como crentes na magia, com algumas delas mudando-se para a religião.{{Sfn|Cunningham|1999|p=20}} Ele acreditava que tanto magia quanto religião envolviam a crença em espíritos, mas que eles diferiam na maneira como respondiam a esses espíritos. Para Frazer, a magia "restringe ou coage" esses espíritos, enquanto a religião se concentra em "conciliá-los ou propiciá-los".{{Sfn|Cunningham|1999|p=20}} Ele reconheceu que o seu terreno comum resultou em um cruzamento de elementos mágicos e religiosos em vários casos; por exemplo, ele afirmava que o [[Hieros gamos|casamento sagrado]] era um [[ritual de fertilidade]] que combinava elementos de ambas as visões de mundo.{{Sfn|Cunningham|1999|pp=20–21}}

Alguns estudiosos mantiveram a estrutura evolutiva usada por Frazer, mas mudaram a ordem de seus estágios; o etnólogo alemão [[Wilhelm Schmidt]] argumentou que a religião—com o que se referia ao [[monoteísmo]]—era o primeiro estágio da crença humana, que mais tarde degenerou em magia e [[politeísmo]].{{Sfn|Davies|2012|pp=18–19}} Outros rejeitaram a estrutura evolucionária inteiramente. A noção de Frazer de que a magia deu lugar à religião como parte de uma estrutura evolucionária foi posteriormente desconstruída pelo folclorista e antropólogo [[Andrew Lang]] em seu ensaio "Magic and Religion"; Lang fez isso destacando como a estrutura de Frazer confiava em relatos etnográficos de crenças deturpados e praticados entre os australianos indígenas para se adequar ao seu conceito de magia.{{Sfn|Davies|2012|p=17}}

==== Abordagem funcionalista ====
A abordagem funcionalista para definir magia está associada aos [[Sociologia|sociólogos]] franceses [[Marcel Mauss]] e [[Émile Durkheim|Emile Durkheim]].{{sfnm|1a1=Hanegraaff|1y=2006|1p=716|2a1=Hanegraaff|2y=2012|2p=165}} Nesta abordagem, a magia é entendida como sendo o oposto teórico da religião.{{Sfn|Hanegraaff|2012|p=165}}

Mauss expôs sua concepção de magia em um ensaio de 1902, "Uma Teoria Geral da Magia".{{sfnm|1a1=Davies|1y=2012|1p=18|2a1=Bailey|2y=2018|2p=16}} Mauss usou o termo "magia" em referência a "qualquer rito que não faça parte de um culto organizado: um rito que é privado, secreto, misterioso e, em última análise, tendendo para um que é proibido".{{sfnm|1a1=Hanegraaff|1y=2006|1p=716|2a1=Hanegraaff|2y=2012|2p=165}} Por outro lado, ele associou religião com culto organizado.{{Sfn|Cunningham|1999|p=47}} Ao dizer que a magia era inerentemente não social, Mauss foi influenciado pelo entendimento cristão tradicional do conceito.{{Sfn|Hanegraaff|2006|p=717}} Mauss rejeitou deliberadamente a abordagem intelectualista promovida por Frazer, acreditando que era impróprio restringir o termo magia à magia simpática, como Frazer havia feito.{{sfnm|1a1=Cunningham|1y=1999|1p=47|2a1=Hanegraaff|2y=2006|2p=716}} Ele expressou a opinião de que "não só existem ritos mágicos que não são simpáticos, mas também a simpatia não é uma prerrogativa da magia, uma vez que existem práticas simpáticas na religião".{{Sfn|Cunningham|1999|p=47}}

As ideias de Mauss foram adotadas por Durkheim em seu livro de 1912, ''[[As Formas Elementares da Vida Religiosa]]''.{{sfnm|1a1=Hanegraaff|1y=2006|1p=716|2a1=Davies|2y=2012|2p=17}} Durkheim era da opinião de que tanto a magia quanto a religião pertenciam a "coisas sagradas, isto é, coisas separadas e proibidas".{{Sfn|Cunningham|1999|p=44}} Onde ele as via como sendo diferentes era em sua organização social. Durkheim usou o termo magia para descrever coisas que eram inerentemente antissociais, existindo em contraste com o que ele chamou de Igreja, as crenças religiosas compartilhadas por um grupo social; em suas palavras, "Não há nenhuma Igreja da magia."{{sfnm|1a1=Hanegraaff|1y=2012|1p=165|2a1=Davies|2y=2012|2pp=17–18}} Durkheim expressou a opinião de que "há algo inerentemente antirreligioso nas manobras do mágico",{{Sfn|Hanegraaff|2012|p=165}} e que a crença na magia "não resulta em unir aqueles que aderem a ela, nem em uni-los em um grupo que leva uma vida comum."{{Sfn|Cunningham|1999|p=44}} A definição de Durkheim encontra problemas em situações—como os ritos realizados por wiccanos—em que atos realizados em comunidade foram considerados, tanto por praticantes quanto por observadores, como sendo mágicos.{{Sfn|Bailey|2006|p=4}}

Os estudiosos criticaram a ideia de que magia e religião podem ser diferenciadas em duas categorias distintas e separadas.{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|pp=5–6}} O antropólogo social [[Alfred Radcliffe-Brown]] sugeriu que "uma simples dicotomia entre magia e religião" era inútil e, portanto, ambas deveriam ser incluídas na categoria mais ampla de [[ritual]].{{Sfn|Cunningham|1999|p=49}} Muitos antropólogos posteriores seguiram seu exemplo {{Sfn|Cunningham|1999|p=49}} No entanto, esta distinção ainda é frequentemente feita por estudiosos que discutem este tópico.{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|pp=5–6}}

==== Abordagem emocionalista ====
A abordagem emocionalista da magia está associada ao antropólogo inglês [[Robert Ranulph Marett]], ao austríaco [[Sigmund Freud]] e ao antropólogo polonês [[Bronisław Malinowski]].{{Sfn|Cunningham|1999|p=23}}

Marett via a magia como uma resposta ao estresse.{{Sfn|Cunningham|1999|p=24}} Em um artigo de 1904, ele argumentou que a magia era uma prática catártica ou estimulante projetada para aliviar a sensação de tensão.{{Sfn|Cunningham|1999|p=24}} Com o desenvolvimento de seu pensamento, ele rejeitou cada vez mais a ideia de uma divisão entre magia e religião e começou a usar o termo "mágico-religioso" para descrever o desenvolvimento inicial de ambas. {{Sfn|Cunningham|1999|p=24}} Malinowski entendeu magia de forma semelhante a Marett, abordando a questão em um artigo de 1925, ''Magia, Ciência e Religião'';{{Sfn|Cunningham|1999|pp=28–29}} nele, propôs a divisão do sagrado, constituído da magia e religião, e do profano, baseado em atividades práticas, e indicou que a magia possuía função simbólica à necessidade individual.<ref name=":0" /> Ele rejeitou a hipótese evolucionária de Frazer de que a magia foi seguida pela religião e depois pela ciência como uma série de estágios distintos no desenvolvimento social, argumentando que todos os três estavam presentes em cada sociedade.{{Sfn|Cunningham|1999|p=29}} Em sua opinião, tanto a magia quanto a religião "surgem e funcionam em situações de estresse emocional", embora enquanto a religião seja principalmente expressiva, a mágica é principalmente prática,{{Sfn|Cunningham|1999|p=29}} e tenha afirmado também que um supre a ausência de outro, de tal modo que a magia se iniciaria quando a tecnologia era insuficiente.<ref name=":0" /> Ele, portanto, definiu magia como "uma arte prática que consiste em atos que são apenas meios para um fim definido que se espera que venha mais tarde".{{Sfn|Cunningham|1999|p=29}} Para Malinowski, os atos mágicos deviam ser realizados para um fim específico, enquanto os religiosos eram fins em si mesmos.{{Sfn|Bailey|2006|p=4}} Ele, por exemplo, acreditava que os rituais de fertilidade eram mágicos porque eram realizados com a intenção de atender a uma necessidade específica.{{Sfn|Cunningham|1999|p=29}} Como parte de sua [[Funcionalismo (ciências sociais)|abordagem funcionalista]], Malinowski viu a magia não como irracional, mas como algo que tinha uma função útil, sendo sensível dentro de um determinado contexto social e ambiental.{{Sfn|Davies|2012|p=22}}
[[Imagem:Sigmund_Freud,_by_Max_Halberstadt_(cropped).jpg|esquerda|miniaturadaimagem|Ideias sobre magia também foram promovidas por Sigmund Freud]]
O termo magia foi usado liberalmente por Freud.{{Sfn|Davies|2012|p=61}} Ele também viu a magia emergindo da emoção humana, mas interpretou-a de forma muito diferente para Marett.{{Sfn|Cunningham|1999|p=25}} Freud explica que "a teoria associada da magia apenas explica os caminhos ao longo dos quais a magia prossegue; ela não explica sua verdadeira essência, ou seja, o mal-entendido que a leva a substituir as leis da natureza por leis psicológicas".{{Sfn|Freud|Strachey|1950|p=83}} Freud enfatiza que o que levou os homens primitivos a inventarem a magia é o poder dos desejos: “Seus desejos são acompanhados por um impulso motor, a vontade, que mais tarde se destina a alterar toda a face da terra para satisfazer seus desejos. Este impulso motor é inicialmente empregado para dar uma representação da situação satisfatória de tal forma que seja possível experimentar a satisfação por meio do que pode ser descrito como [[Alucinação|alucinações]] motoras. Este tipo de representação de um desejo satisfeito é bastante comparável às brincadeiras infantis, que sucedem sua técnica anterior puramente sensorial de satisfação. [...] Conforme o tempo passa, o acento psicológico muda dos ''motivos'' para o ato mágico para as ''medidas'' pelas quais ele é realizado—isto é, ao próprio ato em si. [...] Assim, passa a parecer que é o próprio ato mágico que, devido à sua semelhança com o resultado desejado, é o único que determina a ocorrência desse resultado."{{Sfn|Freud|Strachey|1950|p=84}}

No início dos anos 1960, os antropólogos Murray e Rosalie Wax apresentaram o argumento de que os estudiosos deveriam olhar para a cosmovisão mágica de uma dada sociedade em seus próprios termos, em vez de tentar racionalizá-la em termos de ideias ocidentais sobre o conhecimento científico.{{Sfn|Davies|2012|pp=25–26}} Suas ideias foram fortemente criticadas por outros antropólogos, que argumentaram que eles haviam estabelecido uma falsa dicotomia entre cosmovisões ocidentais não mágicas e cosmovisões não ocidentais mágicas.{{Sfn|Davies|2012|p=26}} O conceito de cosmovisão mágica, no entanto, ganhou amplo uso na história, folclorística, filosofia, teoria cultural e psicologia.{{Sfn|Davies|2012|p=27}} A noção de [[pensamento mágico]] também foi utilizada por vários psicólogos.{{Sfn|Davies|2012|p=107}} Na década de 1920, o psicólogo [[Jean Piaget]] usou o conceito como parte de seu argumento de que as crianças eram incapazes de diferenciar claramente entre o mental e o físico.{{Sfn|Davies|2012|p=107}} De acordo com essa perspectiva, as crianças começam a abandonar seu pensamento mágico entre as idades de seis e nove anos.{{Sfn|Davies|2012|p=107}}

De acordo com [[Stanley Jeyaraja Tambiah|Stanley Tambiah]], magia, ciência e religião têm sua própria "qualidade de racionalidade" e foram influenciadas pela política e pela ideologia.{{Sfn|Tambiah|1991|p=2}} Ao contrário da religião, Tambiah sugere que a humanidade tem um controle muito mais pessoal sobre os eventos. A ciência, de acordo com Tambiah, é "um sistema de comportamento pelo qual o homem adquire o domínio do meio ambiente".{{Sfn|Tambiah|1991|p=8}}

==== Mana ====
Em um estudo de 1891 sobre ''Os Melanésios'', o antropólogo [[Robert Henry Codrington]] apresentou o conceito de [[Mana (magia)|mana]] encontrado nos [[polinésios]], descrito como o elemento ativo da magia "nativa": "força totalmente distinta do poder físico, que atua de todas as maneiras para o bem e o mal". Porém, o mana deixou de ser considerado em seus aspectos êmicos e tornou-se uma categoria generalizante que passou a ser adotada na antropologia europeia para descrever a suposta força, poder ou energia impessoal e universal fundante de todo imaginário da efetuação do mágico e/ou religioso, em qualquer cultura. Assim, o termo será considerado por Frazer em sua abordagem da religião, mas adotado também por Mauss e [[Henri Hubert]], e a partir desses por Durkheim na analogia de forças e energias sociais. Mas será Marett quem difunde a ideia de ''mana'' pareada juntamente com um modo sobrenatural negativo, designado pela palavra austronésia ''[[tabu]]''.<ref name=":5">{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=TeEqDwAAQBAJ&pg=PA63|título=Mana: A History of a Western Category|ultimo=Meylan|primeiro=Nicolas|data=2017-07-10|editora=BRILL|lingua=en}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=TLeNAgAAQBAJ&pg=PA439|título=Encyclopedia of Social and Cultural Anthropology|ultimo=Lindstrom|primeiro=Lamont|data=2009-12-04|editora=Routledge|editor-sobrenome=Barnard, Alan; Spencer, Jonathan|lingua=en|capitulo=Mana}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=vUfpDwAAQBAJ&pg=PA51|título=Electrifying Anthropology: Exploring Electrical Practices and Infrastructures|ultimo=Abram|primeiro=Simone|ultimo2=Winthereik|primeiro2=Brit Ross|ultimo3=Yarrow|primeiro3=Thomas|data=2020-05-27|editora=Routledge|lingua=en}}</ref> Ela chega a afirmar: "Sugiro que a contribuição peculiar da magia ... para a religião foi a ideia de mana". A partir disso, segundo o acadêmico Nicolas Meylan, a noção vulgarizou-se a um ponto em que, no começo do século XX, ela se tornara "uma categoria de segunda ordem e aplicação universal projetada para explicar a magia e a religião. Mana, portanto, passou de exemplo a rótulo, com o significado genérico de poder sobrenatural acompanhado pela emoção mágico-religiosa de temor, uma categoria que poderia ser aplicada em qualquer local geográfico e cultural".<ref name=":5" />

==== Etnocentrismo ====
O triângulo magia-religião-ciência se desenvolveu na sociedade europeia com base nas ideias evolucionárias, ou seja, que a magia evoluiu para a religião, que por sua vez evoluiu para a ciência.{{Sfn|Hanegraaff|2012|p=165}} No entanto, usar uma ferramenta analítica ocidental ao discutir culturas não ocidentais, ou formas pré-modernas da sociedade ocidental, levanta problemas, pois pode impor categorias ocidentais estranhas a eles.{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|p=6}} Embora a magia continue sendo um termo êmico (interno) na história das sociedades ocidentais, ela permanece um [[Êmica e ética|termo ético]] (externo) quando aplicado a sociedades não ocidentais e mesmo dentro de sociedades ocidentais específicas. Por esse motivo, acadêmicos como Michael D. Bailey sugerem abandonar totalmente o termo como uma categoria acadêmica.{{Sfn|Bailey|2018|p=27}} Durante o {{séc|XX}}, muitos estudiosos com foco em sociedades asiáticas e africanas rejeitaram o termo magia, bem como conceitos relacionados como [[bruxaria]], em favor de termos e conceitos mais precisos que existiam dentro dessas sociedades específicas.{{Sfn|Bailey|2018|p=19}} Uma abordagem semelhante foi adotada por muitos estudiosos que estudam sociedades pré-modernas na Europa, como a [[Antiguidade Clássica|antiguidade clássica]], que consideram o conceito moderno de magia impróprio e favorecem termos mais específicos originados na estrutura das culturas antigas que estão estudando. Alternativamente, este termo implica que todas as categorias de magia são etnocêntricas e que tais preconceitos ocidentais são um componente inevitável da pesquisa acadêmica.{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|p=6}} Este século viu uma tendência para estudos etnográficos êmicos por profissionais acadêmicos que exploram explicitamente a divisão êmica/ética.{{Sfn|Blain|Ezzy|Harvey|2004|p=125}}

Muitos estudiosos argumentaram que o uso do termo como uma ferramenta analítica dentro dos estudos acadêmicos deveria ser rejeitado por completo.{{sfnm|1a1=Hutton|1y=2003|1p=103|2a1=Styers|2y=2004|2p=7|3a1=Otto|3a2=Stausberg|3y=2013|3p=1|4a1=Bailey|4y=2018|4p=3}} O estudioso de religião [[Jonathan Z. Smith]], por exemplo, argumentou que não tinha utilidade como um termo ético que os estudiosos deveriam usar.{{Sfn|Hanegraaff|2012|p=166}} O historiador da religião [[Wouter Hanegraaff]] concordou, alegando que seu uso é baseado em concepções de superioridade ocidental e "... serviu como uma justificativa 'científica' para converter povos não europeus de superstições obscuras ..." afirmando que "o termo magia é um objeto importante ''de'' pesquisa histórica, mas não é intencionado ''para'' fazer pesquisa."{{Sfn|Hanegraaff|2012|pp=167-168}}

Bailey observou que, a partir do início do {{séc|XXI}}, poucos estudiosos buscaram grandes definições de magia, mas em vez disso focaram com "atenção cuidadosa a contextos particulares", examinando o que um termo como magia significava para uma determinada sociedade; esta abordagem, ele observou, "questionou a legitimidade da magia como uma categoria universal".{{Sfn|Bailey|2006|p=5}} Os estudiosos da religião Berndt-Christian Otto e [[Michael Stausberg]] sugeriram que seria perfeitamente possível para os estudiosos falar sobre [[amuleto]]s, [[Maldição|maldições]], procedimentos de cura e outras práticas culturais muitas vezes consideradas mágicas na cultura ocidental, sem qualquer recurso ao conceito da própria magia.{{Sfn|Otto|Stausberg|2013|p=11}} A ideia de que magia deve ser rejeitada como um termo analítico se desenvolveu na antropologia antes de passar para os [[estudos clássicos]] e [[estudos bíblicos]] na década de 1980.{{Sfn|Hutton|2003|p=100}} Desde a década de 1990, o uso do termo entre os estudiosos da religião diminuiu.{{Sfn|Hanegraaff|2012|p=166}}

== Bruxaria ==
{{Artigo principal|Bruxaria}}

O historiador [[Ronald Hutton]] nota a presença de quatro significados distintos do termo bruxaria na língua inglesa. Historicamente, o termo se referia principalmente à prática de causar danos a outras pessoas por meios sobrenaturais ou mágicos. Esta continua a ser, de acordo com Hutton, "a compreensão mais difundida e frequente" do termo.{{Sfn|Hutton|2017|p=ix}} Além disso, Hutton também observa três outras definições em uso atual; para referir-se a qualquer pessoa que realiza atos mágicos, com intenção benevolente ou malévola; para praticantes da moderna religião pagã da [[Wicca]]; ou como um símbolo de mulheres resistindo à autoridade masculina e afirmando uma autoridade feminina independente.{{Sfn|Hutton|2012|pp=ix-x}} Crença em feitiçaria está frequentemente presente em sociedades e grupos cuja [[estrutura cultural]] inclui uma [[Cosmovisão|visão]] mágica do mundo.<ref name="Russell">{{Citar livro|url=https://archive.org/details/witchcraftinmidd0000russ|título=Witchcraft in the Middle Ages|ultimo=Russell|primeiro=Jeffrey Burton|data=1972|editora=[[Cornell University Press]]|localização=Ithaca, Nova Iorque|páginas=[https://archive.org/details/witchcraftinmidd0000russ/page/4 4]-10|isbn=978-0801492891|citação=witchcraft definition.}}</ref>

Aqueles considerados mágicos frequentemente enfrentam suspeitas de outros membros de sua sociedade.{{Sfn|Bailey|2018|p=68}} Este é particularmente o caso se esses mágicos percebidos foram associados a grupos sociais já considerados moralmente suspeitos em uma sociedade particular, como estrangeiros, mulheres ou as classes mais baixas.{{Sfn|Bailey|2018|p=71}} Em contraste com essas associações negativas, muitos praticantes de atividades que foram rotuladas de mágicas enfatizaram que suas ações são benevolentes e benéficas.{{Sfn|Bailey|2018|pp=71–72}} Isso entrava em conflito com a visão cristã comum de que todas as atividades categorizadas como sendo formas de magia eram intrinsecamente ruins, independentemente da intenção do mago, porque todas as ações mágicas dependiam da ajuda de demônios.{{Sfn|Bailey|2018|p=72}} Pode haver atitudes conflitantes em relação às práticas de um mágico; na história europeia, as autoridades muitas vezes acreditavam que [[curandeiros]] tradicionais eram prejudiciais porque suas práticas eram consideradas mágicas e, portanto, decorrentes do contato com demônios, enquanto uma comunidade local poderia valorizar e respeitar esses indivíduos porque suas habilidades e serviços eram considerados benéficos.{{Sfn|Bailey|2018|p=90}}

Nas sociedades ocidentais, a prática da magia, especialmente quando prejudicial, costumava ser associada às mulheres.{{Sfn|Bailey|2018|p=92}} Por exemplo, durante os [[julgamentos de bruxas no início da Idade Moderna]], cerca de três quartos dos executados como bruxas eram mulheres, e apenas um quarto eram homens.{{Sfn|Bailey|2018|p=93}} O fato de as mulheres serem mais propensas a serem acusadas e condenadas por bruxaria neste período pode ter ocorrido porque sua posição era legalmente mais vulnerável, com as mulheres tendo pouca ou nenhuma situação legal independente de seus parentes homens.{{Sfn|Bailey|2018|p=93}} A ligação conceitual entre mulheres e magia na cultura ocidental pode ser porque muitas das atividades consideradas mágicas—de ritos para encorajar a fertilidade a poções para induzir o [[aborto]]—estavam associadas à esfera feminina.{{Sfn|Bailey|2018|p=94}} Isso também pode estar conectado ao fato de que muitas culturas retrataram as mulheres como sendo inferiores aos homens em um nível intelectual, moral, espiritual e físico.{{Sfn|Bailey|2018|p=96}}

No [[catolicismo]], o [[Concílio de Paderborn]], em 785, proibiu explicitamente a condenação de pessoas como bruxas e condenou à morte qualquer pessoa que queimasse uma bruxa. O código lombardo de 643 declara: "Que ninguém se atreva a matar uma criada estrangeira ou serva como bruxa, pois isso não é possível, nem deve ser acreditado pelas mentes cristãs".<ref>Hutton, Ronald (1993) [1991]. "The Clash of Faiths (AD c.300–c.1000)". ''[[:en:The_Pagan_Religions_of_the_Ancient_British_Isles|The Pagan Religions of the Ancient British Isles: Their Nature and Legacy]]'' (pbk. ed.). Oxford, UK: Blackwell. p. 257. ISBN <bdi>0-631-18946-7</bdi>.</ref> No entanto, durante a [[Idade Média]] e início da [[Idade Moderna]], mulheres acusadas em diversos países como sendo bruxas e feiticeiras foram perseguidas, julgadas e torturadas pela [[Igreja Católica]] através da [[Inquisição]], pois esta acreditava que a magia estava relacionada com o [[diabo]] e suas manifestações, principalmente após a permissão da bula papal ''[[Summis Desiderantis Affectibus|Summis desiderantis affectibus]]'' e do livro ''[[Malleus Maleficarum|Malleus Malleficarum]]'' no {{séc|XV}}. Ocorreram diversas [[Caça às bruxas|caças às bruxas]], com algumas incluindo julgamentos populares e tribunais seculares, exigindo intervenção dos próprios tribunais inquisitórios para abrandar o procedimento, mas por vezes elas eram queimadas vivas.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?redir_esc=y&hl=pt-BR&id=Qr6_q-chR6MC&pg=PA237|título=Witch Hunts in Europe and America: An Encyclopedia|ultimo=Burns|primeiro=William E.|data=2003|editora=Greenwood Publishing Group|lingua=en}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=n7EYDAAAQBAJ&pg=PA50|título=Burning Women: Widows, Witches, and Early Modern European Travelers in India|ultimo=Banerjee|primeiro=P.|data=2016-04-30|editora=Springer|lingua=en}}</ref><ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.4324/9781315838014 |titulo=The Witch-Hunt in Early Modern Europe |data=2013-11-05 |ultimo=Levack |primeiro=Brian P. |doi=10.4324/9781315838014}}</ref> [[Protestantes]] também justificavam essas perseguições, como no caso do julgamento das [[bruxas de Salém]].<ref>Ellerbe, Helen. ''The Dark Side of Christian History''.</ref>

== Magos ==
[[Imagem:Magician_visconti.jpg|miniaturadaimagem|A carta do Mágico em um baralho de tarô do {{séc|XV}}]]
Muitas das práticas rotuladas como mágicas podem ser realizadas por qualquer pessoa.{{sfnm|1a1=Davies|1y=2012|1p=82|2a1=Bailey|2y=2018|2p=85}} Por exemplo, alguns encantos podem ser recitados por indivíduos sem nenhum conhecimento especializado nem qualquer reivindicação de ter um poder específico.{{Sfn|Bailey|2018|p=85}} Outras requerem treinamento especializado para realizá-los.{{sfnm|1a1=Davies|1y=2012|1p=82|2a1=Bailey|2y=2018|2p=85}} Alguns dos indivíduos que realizaram atos mágicos em uma base mais do que ocasional passaram a ser identificados como magos, ou com conceitos relacionados, como feiticeiros/feiticeiras, [[Bruxaria|bruxas]]/bruxos.{{Sfn|Bailey|2018|p=85}} Identidades como um mago podem derivar das próprias afirmações de um indivíduo sobre si mesmo, ou pode ser um rótulo colocado sobre ele por outros.{{Sfn|Bailey|2018|p=85}} No último caso, um indivíduo poderia abraçar esse rótulo, ou poderia rejeitá-lo, às vezes com veemência.{{Sfn|Bailey|2018|p=85}}

Pode haver incentivos econômicos que incentivem os indivíduos a se identificarem como mágicos.{{Sfn|Bailey|2018|p=103}} Nos casos de várias formas do curandeiro tradicional, bem como dos mágicos ou ilusionistas de estágio posterior, o rótulo de mágico pode se tornar uma descrição de trabalho.{{Sfn|Bailey|2018|p=85}} Outros reivindicam tal identidade por acreditarem genuinamente que possuem poderes ou talentos incomuns específicos.{{Sfn|Bailey|2018|p=105}} Diferentes sociedades têm diferentes regulamentos sociais sobre quem pode assumir tal papel; por exemplo, pode ser uma questão de hereditariedade familiar, ou pode haver restrições de gênero sobre quem tem permissão para se envolver em tais práticas.{{Sfn|Davies|2012|p=90}} Uma variedade de características pessoais podem ser creditadas por dar poder mágico, e frequentemente estão associadas a um nascimento incomum no mundo.<ref>{{Citar livro|título=The End of Magic|ultimo=Glucklich|primeiro=Ariel|data=1997|editora=Oxford University Press|localização=Nova Iorque|isbn=978-0195355239}}</ref> Por exemplo, na Hungria acreditava-se que um ''[[táltos]]'' nasceria com dentes ou um dedo adicional.{{Sfn|Davies|2012|p=92}} Em várias partes da Europa, acreditava-se que nascer com uma [[Coifa (obstetrícia)|coifa]] associava a criança a habilidades sobrenaturais,{{Sfn|Davies|2012|p=92}} tal como entre os [[Benandanti|andarilhos do bem]], ''kersniki'' e no folclore [[Xamanismo|xamânico]] dos [[Lobisomem|lobisomens]].<ref>[[Carlo Ginzburg|Guinzburg, Carlo]] (1989). ''Mitos, Emblemas, Sinais''. Companhia das Letras. p. 209</ref> Em alguns casos, uma iniciação ritual é necessária antes de assumir o papel de especialista em tais práticas e, em outros, espera-se que um indivíduo receba orientação de outro especialista.{{Sfn|Davies|2012|p=93}}

Davies observou que era possível "dividir grosseiramente os especialistas em magia em categorias religiosas e leigas".{{Sfn|Davies|2012|p=88}} Ele observou, por exemplo, que os padres católicos romanos, com seus ritos de [[exorcismo]] e acesso a [[água benta]] e ervas abençoadas, podiam ser concebidos como praticantes de magia.{{Sfn|Davies|2012|p=89}} Tradicionalmente, o método mais comum de identificar, diferenciar e estabelecer praticantes de magia de pessoas comuns é por [[iniciação]]. Por meio de ritos, a relação do mago com o [[sobrenatural]] e sua entrada em uma classe profissional fechada é estabelecida (geralmente por meio de rituais que simulam a morte e o renascimento em uma nova vida).{{Sfn|Mauss|Bain|Pocock|2007|pp=41–44}} No entanto, desde a ascensão do [[neopaganismo]], Berger e Ezzy explicam que, "Como não há burocracia central ou dogma para determinar a autenticidade, a autodeterminação de um indivíduo como bruxa, wiccano, pagão ou neopagão é geralmente tomada pelo valor de face".{{Sfn|Berger|Ezzy|2007|p=24-25}} Ezzy argumenta que as visões de mundo dos praticantes foram negligenciadas em muitos estudos sociológicos e antropológicos e que isso se deve a "uma compreensão culturalmente estreita da ciência que desvaloriza as crenças mágicas".{{Sfn|Blain|Ezzy|Harvey|2004|p=120}}

Mauss argumenta que os poderes dos mágicos especialistas e comuns são determinados por padrões culturalmente aceitos das fontes e da amplitude da magia: um mago não pode simplesmente inventar ou reivindicar uma nova magia. Na prática, o mago é tão poderoso quanto seus colegas acreditam que ele seja.{{Sfn|Mauss|Bain|Pocock|2007|pp=33, 40}}

Ao longo da história registrada, os mágicos frequentemente enfrentaram ceticismo em relação a seus supostos poderes e habilidades.{{Sfn|Davies|2012|p=49}} Por exemplo, na Inglaterra do {{séc|XVI}}, o escritor [[Reginald Scot]] escreveu ''[[The Discoverie of Witchcraft]]'', no qual ele argumentou que muitos dos acusados de bruxaria ou de outra forma alegando habilidades mágicas estavam enganando as pessoas usando o ilusionismo.{{Sfn|Davies|2012|p=51}}

Na [[cultura popular]], as representações do [[Mago (fantasia)|mago]] sábio são abundantes na ficção de [[Fantasia (gênero)|fantasia]] e formam adaptações em continuidade inspiradas pelas lendas antigas.<ref name="Frye">{{Citar livro|url=https://archive.org/details/anatomyofcritici00frye|título=Anatomy of Criticism; Four Essays|ultimo=Frye|primeiro=Northrop|data=1971|localização=Princeton|isbn=0691012989|publicação=Princeton University Press|edição=2nd}}</ref>{{Rp|195}}<ref name="Clute">{{Citar livro|título=The Encyclopedia of Fantasy|ultimo=Clute, John; Grant, John; Ashley, Michael; Hartwell, David G.; Westfahl, Gary|data=1999|editora=St. Martin's Griffin|edicao=1ª|localização=Nova Iorque|isbn=0312198698}}</ref>

== Tradições locais ==
=== Brasil ===
No Brasil, há um conjunto de práticas ritualísticas que já foram ou são consideradas dentro da terminologia "mágicas", tanto popularmente, quanto por estudiosos ou pelos próprios adeptos e crentes. Sistemas mágico-religiosos e fenômenos místicos associados a essa percepção estão presentes no [[espiritualismo]] e [[catolicismo popular]]es,<ref>Wissenbach, Maria Cristina Cortez (1997). ''[https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-02082012-122254/publico/1997_MariaCristinaCortezWissenbach.pdf Ritos de Magia e Sobrevivência: Sociabilidades e práticas mágico-religiosas no Brasil (1980/1940)]''. São Paulo: Universidade de São Paulo.</ref><ref>{{Citar periódico |url=https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/18976/21039 |titulo=A mercantilização da magia na urbanização de São Paulo, 1910-1940 |data=2004-06-30 |acessodata=2021-04-07 |jornal=Revista de História |número=150 |ultimo=Wissenbach |primeiro=Maria Cristina Cortez |paginas=11–39 |lingua=pt |doi=10.11606/issn.2316-9141.v0i150p11-39 |issn=2316-9141}}</ref> nesse último como nas "[[crendice]]s", cultos [[santo]]riais,<ref>{{Citar periódico |url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S2175-33692012000100010&lng=en&nrm=iso&tlng=pt |titulo=Magia e cidade: considerações sobre as afinidades entre as práticas mágico-religiosas e o advento da urbanidade no Brasil |data=junho de 2012 |acessodata=2021-04-07 |jornal=urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana |número=1 |ultimo=Ciarallo |primeiro=Gilson |paginas=141–157 |lingua=pt |doi=10.1590/S2175-33692012000100010 |issn=2175-3369}}</ref> [[Devoção|devoções]] carismáticas como a [[Padre Cícero]],<ref>{{citar periódico |titulo=Messiahs, Miracle Workers and 'Catholic Duality' in Brazil |jornal=International Social Science Journal |número=2 |ultimo=Queiroz |primeiro=Maria Isaura Pereira de |ano=1977 |pagina=298-312 |volume=29}}</ref> movimentos do [[messianismo]] e práticas como o "[[Bumba meu boi|boi-santo]]";<ref>Polese, Edna da Silva (2010). ''[https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/25007/TESE.pdf?sequence=1&isAllowed=y Movimentos Messiânicos na Produção Ficcional da Segunda Metade do {{séc|XX}}]''. Curitiba: Universidade Federal do Paraná.</ref> e ainda no [[neopentecostalismo]], pela ênfase ritual em [[milagre]]s como [[Cura pela fé|curas sobrenaturais]].<ref>{{Citar periódico |url=https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/csr/article/view/12700/8072 |titulo=A taumaturgia na Igreja Mundial do Poder de Deus: magia e pensamento mágico? |data=2014 |acessodata=2021-04-07 |jornal=Ciencias Sociales y Religión/Ciências Sociais e Religião |número=20 |ultimo=Lopes |primeiro=Marcelo |paginas=24–38 |lingua=pt |doi=10.22456/1982-2650.50067 |issn=1982-2650 |volume=Ano 16}}</ref><ref name=":3">{{Citar periódico |url=https://periodicos.ufsc.br/index.php/ilha/article/view/14957/15665 |titulo=Neopentecostalismo: dinheiro e magia |data=2001-01-01 |acessodata=2021-04-07 |jornal=Ilha Revista de Antropologia |número=1 |ultimo=Oro |primeiro=Ari Pedro |paginas=071–085 |lingua=pt |issn=2175-8034 |volume=3}}</ref><ref name=":4">Leite, Lucas Farias de Vasconcelos (2010). ''[http://tede2.unicap.br:8080/bitstream/tede/306/1/dissertacao_lucas_farias.pdf A Dimensão Institucional da Magia no Neopentecostalismo: O Papel Decisório do Poder Mágico como Atrativo a Adesão Religiosa na Igreja Universal do Reino de Deus]''. Recife: Universidade Federal de Pernambuco</ref> São também encontrados em [[religiões afro-americanas]] e [[Religião indígena|indígenas]], tal como o [[candomblé]] e suas [[Nação (candomblé)|nações]], como na devoção a [[orixá]]s, [[inquice]]s e [[Vodum|voduns]], incluindo o [[Tambor de Mina]],<ref name=":02">Souza, André Luís Nascimento de (2016). ''[https://repositorio.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/22119/1/AndreLuisNascimentoDeSouza_DISSERT.pdf A mística do catimbó-jurema representada na palavra, no tempo e no espaço]''. Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte.</ref> e na [[pajelança]], [[jurema sagrada]], [[catimbó]] e [[encantaria]] do Nordeste e Norte.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books/about/Encantaria_brasileira.html?id=ql9ZAAAAMAAJ|título=Encantaria Brasileira: o livro dos mestres, caboclos e encantados|ultimo=Prandi|primeiro=J. Reginaldo|data=2001|editora=Pallas|lingua=pt}}</ref> Todos esses passaram por [[sincretismo]] entre si, tal como no [[Catimbó-Jurema]], [[terecô]], [[candomblé de caboclo]], [[jarê]] e [[umbanda]]. Os rituais e práticas ganharam aspectos únicos em sua presença no contexto e formação do [[folclore brasileiro]]. Conceitos fortemente associados ao imaginário popular do mágico incluem o [[descarrego]], [[encosto]],<ref name=":3" /><ref name=":4" /> fechamento de corpo, o [[transe]] e [[Mediunidade|incorporação mediúnica]], [[vidência]], como pelo [[jogo de búzios]], simpatia, [[Benzedor|benzedura]], [[Mau-olhado|quebranto]], [[Mandinga (feitiço)|mandinga]], [[envultamento]], e, como um exemplo de item, o ''[[Livro de São Cipriano|Livro de São Cipriano da Capa Preta]].''<ref name=":02" /><ref>Araújo, Alceu Maynard (1961). ''[https://bdor.sibi.ufrj.br/bitstream/doc/73/1/300%20PDF%20-%20OCR%20-%20RED.pdf Medicina rústica]''. São Paulo: Editora Nacional</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?redir_esc=y&hl=pt-BR&id=fZZOAQAAIAAJ|título=Imaginário da magia, magia do imaginário|ultimo=Augras|primeiro=Monique|data=2009|editora=Vozes|lingua=pt-BR}}</ref><ref>Maggie, Yvonne (1992). ''Medo do feitiço: relações entre magia e poder no Brasil''. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional.</ref>

Pela diferença cultural e sentido pejorativo da magia, principalmente os ritos e religiões de matriz africana e indígena foram marginalizados, sofreram perseguição e ainda recebem preconceito e hostilidade. O antropólogo [[Roger Bastide]], por exemplo, realizou uma distinção entre [[macumba]]/[[quimbanda]] e umbanda respectivamente como "ocultismo" e "bruxaria", enquanto seu viés defendia o candomblé como ortodoxo; sua visão foi amplamente criticada e combatida.<ref name=":2">{{Citar periódico |url=https://www.persee.fr/doc/assr_0335-5985_1992_num_79_1_1552 |titulo=Umbanda and Quimbanda Magic in Brazil : Rethinking Aspects of Bastide's Works |data=1992 |acessodata=2021-04-07 |jornal=Archives de Sciences Sociales des Religions |número=79 |ultimo=Hess |primeiro=David J. |paginas=135–153 |doi=10.3406/assr.1992.1552}}</ref> [[Lísias Nogueira Negrão]] não nega que houvesse prática da "macumba" relacionada à criminalidade no início do {{séc|XX}} em São Paulo e Rio de Janeiro, mas discorda que os [[terreiros]] de umbanda fossem [[Anomia|anômicos]]; ele cita a distinção binária moral das [[Linhas da Umbanda|linhas de umbanda]], a da "[[Esquerda e direita (Umbanda)|direita]]", tendo por guias [[orixá]]s-santos, [[Caboclo de Umbanda|caboclos]] e [[Preto-Velho|Pretos-Velhos]], por exemplo, e a de "esquerda", na qual [[Exu (orixá)|exus]] e [[Pombajira|pomba-giras]] são associados a "[[Oferendas nas religiões afro-brasileiras|despachos]]" independentes da moral, vistos por isso como mais perigosos e capazes de serem maléficos.<ref>{{Citar periódico |url=https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/25977 |titulo=Magia e Religião na Umbanda |data=1996-11-30 |acessodata=2021-04-07 |jornal=Revista USP |número=31 |ultimo=Negrão |primeiro=Lísias Nogueira |paginas=76–89 |lingua=pt |doi=10.11606/issn.2316-9036.v0i31p76-89 |issn=2316-9036}}</ref> [[David J. Hess|David Hess]] afirma que, apesar de popularmente ter havido separação de "magia negra" para quimbanda e "magia branca" para umbanda, o que ocorre são categorias mistas e união de algumas práticas entre ambas, de maneira que ele as considera no campo da magia "cinza". Exemplos de rituais e oferendas no "trabalho" a exus [[Tranca Ruas]], Pomba-Gira e [[Iemanjá]] se assemelham nas instruções, com intersecções em ingredientes e fórmulas, apesar de divergirem nas intenções malévolas ou benéficas—a isso, Hess conclui que as duas são tendências dentro de um mesmo sistema coeso.<ref name=":2" />

No [[Código Penal dos Estados Unidos do Brasil|Código Penal de 1890]], vigente até 1942, constava na seção de "crimes contra a saúde pública" proibição contra o espiritismo e magia:<ref name=":1">{{Citar periódico |url=https://www.scielo.br/pdf/ha/v9n19/v9n19a10.pdf |titulo=O "baixo espiritismo" e a história dos cultos mediúnicos |data=julho de 2003 |acessodata=2021-04-07 |jornal=Horizontes Antropológicos |número=19 |ultimo=Giumbelli |primeiro=Emerson |paginas=247–281 |lingua=pt |doi=10.1590/S0104-71832003000100011 |issn=0104-7183}}</ref>{{Quote|Art. 157: Praticar o espiritismo, a magia e seus sortilégios, usar de talismans e cartomancias, para despertar sentimentos de ódio ou amor, inculcar cura de molestais curáveis ou incuráveis, enfim, para fascinar e subjugar a credulidade publica.}}Ela previa a inclusão dessas práticas como exercício ilegal da medicina, pelas promessas de curas a elas associadas, tal como na [[cartomancia]] e venda de [[talismã]]s, também cada vez mais reprimidas até a metade do {{séc|XX}}. Porém, conforme estudou [[Yvonne Maggie]] em ''Medo do Feitiço: Relações Entre Magia e Poder no Brasil'' (1988), a partir da década de 20 começou a aparecer a designação magistrativa de "baixo espiritismo" nos processos, indicando que a sanção penal recaía mais sobre práticas religiosas africanas, nos autos constando como infrações nomeadamente o "curandeirismo", "magia", "candomblé", "magia negra", "macumba"; isso conferiu distinção ao [[espiritismo kardecista]], que, no entanto, também sofreu de autuações em algumas práticas de [[mediunidade]] direcionadas a fins terapêuticos, como os [[Passe espírita|passes]], conselhos e receituário de homeopatia mediúnicos.<ref name=":1" />

== Ver também ==
* [[Ilusionismo]] (mágica)
* [[Leis de Clarke]]
* [[Magia rúnica]]
* [[Psiônica]]
* [[Magia negra]]
* [[Taumaturgia]]

{{Referências}}

== Bibliografia ==
{{InícioRef|2}}
* {{citar periódico |titulo=The Meanings of Magic |ultimo=Bailey |primeiro=Michael D. |data=2006 |pagina=1–23 |doi=10.1353/mrw.0.0052 |volume=1 |periódico=Magic, Ritual, and Witchcraft |número=1}}
* {{citar livro|titulo=Magic: The Basics|ultimo=Bailey|primeiro=Michael D.|editora=Routledge|isbn=978-1-138-80961-1|local=Abingdon and Nova Iorque|data=2018}}
* {{citar livro|titulo=Teenage Witches|ultimo1=Berger|primeiro1=Helen A.|ultimo2=Ezzy|primeiro2=Dougal|editora=Rutgers University Press|local=Nova Brunswick|data=2007}}
* {{citar livro|titulo=Researching Paganisms|ultimo1=Blain|primeiro1=Jenny D.|ultimo2=Ezzy|primeiro2=Dougal|ultimo3=Harvey|primeiro3=Graham|editora=AltaMira Press|local=Oxford, Nova Iorque|data=2004}}
* {{Citar periódico |url=https://www.jstor.org/stable/20190410 |titulo=The Birth of the Term 'Magic' |data=1999 |acessodata=2021-03-28 |jornal=Zeitschrift für Papyrologie und Epigraphik |ultimo=Bremmer |primeiro=Jan N. |paginas=1–12 |issn=0084-5388}}
* {{citar periódico |titulo=Introduction: Modern Western Magic |ultimo=Bogdan |primeiro=Henrik |data=2012 |pagina=1–16 |doi=10.1163/147783512X614812 |volume=12 |periódico=Aries |número=1}}
* {{citar livro|titulo=Religion and Magic: Approaches and Theories|ultimo=Cunningham|primeiro=Graham|editora=Edinburgh University Press|isbn=9780748610136|local=Edinburgh|data=1999}}
* {{citar livro|url=https://books.google.com/books?id=ntYUDAAAQBAJ|titulo=Magic: A Very Short Introduction|ultimo=Davies|primeiro=Owen|editora=Oxford University Press|isbn=9780199588022|local=Oxford|data=2012}}
* {{citar livro|titulo=The Rise of Magic in Early Medieval Europe|ultimo=Flint|primeiro=Valerie I. J.|editora=Princeton University Press|isbn=978-0691031651|local=Princeton|data=1991}}
* {{citar livro|url=https://archive.org/details/totemtaboosomepo00fre_y0d|titulo=Totem and Taboo: Some Points of Agreement Between the Mental Lives of Savages and Neurotics|ultimo1=Freud|primeiro1=Sigmund|ultimo2=Strachey|primeiro2=James|editora=W.W. Norton & Co.|isbn=978-0393001433|data=1950|local=Nova Iorque|edição=Repint}}
* {{citar livro|ultimo=Gordon|primeiro=Richard|data=1999|capitulo=Imagining Greek and Roman Magic|titulo=The Athlone History of Witchcraft and Magic in Europe|volume=2: Ancient Greece and Rome|local=Londres|editora=Athlone Press|editor-sobrenome1=Ankarloo, Bengt; Clark, Stuart|pagina=159–275|isbn=978-0485890020}}
* {{citar periódico |titulo=Do You Believe in Magic? |ultimo=Graham |primeiro=Elizabeth |data=2018 |pagina=255–257 |doi=10.1080/17432200.2018.1443843 |volume=14 |periódico=Material Religion: The Journal of Objects, Art and Belief |número=2}}
* {{citar livro|titulo=Magic, Witchcraft and the Otherworld|ultimo=Greenwood|primeiro=Susan|data=2000|local=Oxford|editora=Berg|isbn=978-1859734506}}
* {{citar enciclopédia |ultimo=Hanegraaff |primeiro=Wouter J. |titulo=Magic I: Introduction |editora=Brill |data=2006 |editor=Wouter J. Hanegraaff |pagina=716–719 |isbn=9789004152311 |enciclopédia=Dictionary of Gnosis and Western Esotericism}}
* {{citar enciclopédia |ultimo=Hanegraaff |primeiro=Wouter J. |titulo=Magic V: 18th-20th Century |editora=Brill |data=2006b |editor=Wouter J. Hanegraaff |pagina=738–744 |isbn=978-9004152311 |enciclopédia=Dictionary of Gnosis and Western Esotericism}}
* {{citar livro|titulo=Esotericism and the Academy: Rejected Knowledge in Western Culture|ultimo=Hanegraaff|primeiro=Wouter|editora=Cambridge University Press|isbn=9780521196215|data=2012|local=Cambridge, England}}
* {{citar livro|url=https://archive.org/details/witchesdruidskin00hutt|titulo=Witches, Druids and King Arthur|ultimo=Hutton|primeiro=Ronald|editora=Hambledon and Londres|isbn=9781852853976|local=Londres e Nova Iorque|data=2003}}
* {{citar livro|titulo=Popular Religion in Late Saxon England: Elf Charms in Context|ultimo=Jolly|primeiro=Karen Louise|editora=University of North Carolina Press|isbn=978-0807845653|local=Chapel Hill and Londres|data=1996}}
* {{citar livro|titulo=Maat: The Moral Ideal in Ancient Egypt|ultimo=Karenga|primeiro=Maulana|editora=University of Sankore Press|local=Los Angeles|data=2006}}
* {{citar livro|titulo=Magic in the Middle Ages|ultimo=Kieckhefer|primeiro=Richard|editora=Cambridge University Press|isbn=9780521785761|data=2000|edição=2nd|local=Cambridge, England}}
* {{citar periódico |titulo=Old Sinitic *M<sup>γ</sup>ag, Old Persian Maguš, and English "Magician" |ultimo=Mair |primeiro=Victor H. |data=2015 |pagina=27–47 |doi=10.1017/S0362502800004995 |issn=0362-5028 |volume=15 |periódico=Early China}}
* {{citar livro|titulo=A General Theory of Magic|ultimo1=Mauss|primeiro1=Marcel|ultimo2=Bain|primeiro2=Robert|ultimo3=Pocock|primeiro3=D. F.|editora=Routledge|isbn=978-0415253963|data=2007|local=Londres|edição=Reprint}}
* {{citar livro|url=https://books.google.com/books?id=B2R_BAAAQBAJ|titulo=Defining Magic: A Reader|ultimo1=Otto|primeiro1=Berndt-Christian|ultimo2=Stausberg|primeiro2=Michael|editora=Equinox|isbn=9781908049803|data=2013|local=Durham}}
* {{citar livro|titulo=Oxford Encyclopedia Of Ancient Egypt|ultimo=Ritner|primeiro=Robert K.|capitulo=Magic: An Overview|editor-sobrenome1=Redford, Donald B.|editora=Oxford University Press|isbn=9781908049803|data=2001|local=Nova Iorque}}
* {{citar livro|titulo=Civilizations of the ancient Near East|ultimo=Sasson|primeiro=Jack M.|editora=Scribner|isbn=978-0-684-19722-7|data=1995|língua=en}}
* {{citar livro|titulo=Making Magic: Religion, Magic, and Science in the Modern World|ultimo=Styers|primeiro=Randall|editora=Oxford University Press|isbn=9780195169416|data=2004|local=Londres}}
* {{citar livro|titulo=Magic, Science, Religion, and the Scope of Rationality|ultimo=Tambiah|primeiro=Stanley Jeyaraja|editora=Cambridge University Press|isbn=978-0521376310|data=1991|local=Cambridge|edição=Reprint}}
* {{citar livro|titulo=Religion and Ritual in Ancient Egypt|ultimo=Teeter|primeiro=Emily|editora=Cambridge University Press|data=2011|local=Cambridge|edição=Reprint}}
{{-fim}}

== Leitura adicional ==
{{InícioRef}}
* {{citar periódico |titulo=The Magic of Anthropology |ultimo=Coleman |primeiro=Simon |data=2008 |pagina=8–11 |doi=10.1111/an.2004.45.8.8 |volume=45 |periódico=Anthropology News |número=8}}
* {{citar livro|titulo=Magic and Magicians in the Greco-Roman World|ultimo=Dickie|primeiro=Matthew W.|local=Londres|data=2001}}
* {{citar livro|titulo=Magic: A History: From Alchemy to Witchcraft, from the Ice Age to the Present|ultimo1=Gosden|primeiro1=Chris|data=2020|editora=Farrar, Straus and Giroux|local=Nova Iorque}}
* {{citar periódico |titulo=How Far Have We Traveled? Magic, Science and Religion Revisited |ultimo=Gusterson |primeiro=Hugh |data=2004 |pagina=7–11 |doi=10.1111/an.2004.45.8.7.1 |volume=45 |periódico=Anthropology News |número=8}}
* {{citar periódico |titulo=Magic: A Problem in Semantics |ultimo=Hammond |primeiro=Dorothy |data=1970 |pagina=1349–1356 |doi=10.1525/aa.1970.72.6.02a00080 |volume=72 |periódico=American Anthropologist |número=6}}
* {{citar livro|título=Stolen Lightning: The Social Theory of Magic|ultimo=O'Keefe|primeiro=Daniel|local=Oxford|data=1982}}
* {{citar periódico |titulo=The Notion of Magic |ultimo2=Wax |primeiro2=Rosalie |data=1963 |pagina=495–518 |doi=10.1086/200420 |volume=4 |ultimo1=Wax |primeiro1=Murray |periódico=Current Anthropology |número=5}}
* Meyer, Marvin; Smith, Richard (1994). ''Ancient Christian Magic: Coptic Texts of Ritual Power''. Harper SanFrancisco.
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== Ligações externas ==
{{commonscat|Magic}}

{{Bruxaria}}{{Religião}}{{Paganismo}}{{Fantasia}}
{{Portal3|Religião|Ocultismo}}

[[Categoria:Magia| ]]