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Laika: diferenças entre revisões

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{{Info/Animal
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|legenda = Em novembro de 1957, Laika se tornou o primeiro animal lançado na órbita da Terra, abrindo caminho para as viagens espaciais humanas nos anos seguintes. Esta fotografia mostra-a na cápsula do Sputnik 2.
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'''Laika''' ({{lang-ru|Ла́йка}}; {{circa|[[1954]]}} – [[3 de novembro]] de [[1957]]) foi uma [[Cães do programa espacial soviético|cadela espacial soviética]] que se tornou um dos primeiros animais a serem lançados no espaço e o primeiro deles a orbitar a [[Terra]]. Laika era uma cadela que vagava pelas ruas de [[Moscovo|Moscou]], ela foi selecionada para ser a ocupante da [[nave espacial]] soviética [[Sputnik 2]], que foi lançada ao [[espaço sideral]] em 3 de novembro de 1957.
'''Laika''' ({{lang-ru|Ла́йка}}; [[1954]] — {{dtlink|3|11|1957}}) foi uma [[Canis lupus familiaris|cadela]] russa que se tornou conhecida por ser o primeiro ser vivo terrestre a orbitar o planeta [[Terra]]. Ela foi lançada ao espaço a bordo da nave [[União das Repúblicas Socialistas Soviéticas|soviética]] [[Sputnik 2]], em [[3 de novembro]] de [[1957]], um mês depois do lançamento do satélite [[Sputnik 1]], o primeiro objeto artificial a entrar em [[órbita]]. Laika é o nome russo para várias raças de cães similares ao [[Husky Siberiano|husky]], oriundas da [[Sibéria]]. A sua raça verdadeira é desconhecida, mas considera-se que ela teria sido um cruzamento entre um husky ou outra raça nórdica com um terrier da raça [[Laika (raça)|Laika]].<ref>{{citar web |url=http://www.svengrahn.pp.se/histind/Sputnik2/SpaceViews%20November%201997%20Articles.htm |título=Sputnik 2: The First Animal in Orbit |acessodata=3 de novembro de 2012 |autor=Andrew J. LePage |coautores= |data= |ano= |mes= |formato= |obra= |publicado=svengrahn |páginas= |língua=en |citação= }}</ref>


Como na época da missão de Laika pouco se sabia sobre os efeitos que um voo espacial poderia ter sobre os seres vivos, e a tecnologia suborbital ainda não havia sido desenvolvida, não havia expectativa de que a cadela sobrevivesse. Alguns cientistas acreditavam que humanos não poderiam sobreviver ao lançamento ou às condições do espaço sideral, e, por isso, engenheiros viam os voos com animais como precursores necessários para as missões humanas. O experimento teve como objetivo demonstrar que um passageiro vivo poderia sobreviver sendo lançado em órbita e suportar um [[Microgravidade|ambiente de microgravidade]], abrindo caminho para os voos espaciais humanos e fornecendo aos cientistas alguns dos primeiros dados sobre como os organismos vivos reagem nestas condições. Depois de Laika, a [[União Soviética]] enviou mais doze cães para o espaço, dos quais cinco voltaram vivos à Terra.
Laika morreu entre cinco e sete horas depois do lançamento, bem antes do planejado. A causa de sua [[morte]], que só foi revelada décadas depois do [[voo]],<ref name="45YRSLATER">{{citar web|url=http://dogsinthenews.com/issues/0211/articles/021103a.htm|titulo=Message from the First Dog in Space Received 45 Years Too Late|publicado=Dogs in the News|data=03-11-2002|acessodata=27 de novembro de 2007|arquivourl=https://web.archive.org/web/20060108184335/http://www.dogsinthenews.com/issues/0211/articles/021103a.htm|arquivodata=2006-01-08|urlmorta=yes}}</ref> foi, provavelmente, uma combinação de [[estresse]] sofrido e o [[hipertermia|superaquecimento]], talvez ocasionado por uma falha no sistema de controle térmico da nave. Apesar do acidente, essa experiência demonstrou ser possível para um [[animal]] suportar as condições de [[microgravidade]], abrindo caminho assim para participação humana em voos espaciais.


Horas após o lançamento, Laika morreu por [[superaquecimento]], possivelmente causado por uma falha que levou o motor central do [[R-7 Semyorka|foguete R-7]] a não se separar de sua carga útil. A verdadeira causa e a hora de sua morte não foram divulgadas até 2002; em vez disso, foi amplamente divulgado que ela morreu no sexto dia de sua missão, quando seu oxigênio acabou, ou, como o governo soviético inicialmente alegou, que ela teria sido sacrificada antes do esgotamento do oxigênio.
== O Sputnik 2 ==
{{Artigo principal|[[Sputnik 2]]}}
Após o êxito do Sputnik 1, o líder soviético [[Nikita Khrushchev]] solicitou o lançamento de um segundo [[satélite artificial]] ao espaço para o dia do quadragésimo aniversário da [[revolução russa de 1917|revolução russa]], em 7 de novembro de 1957. Nessa época, os russos já construíam um satélite mais sofisticado que, porém, só estaria pronto após um mês da data requerida. Esse satélite, que foi descartado nessa missão, acabou sendo o [[Sputnik 3]].<ref>Harford, J. J. [http://history.nasa.gov/sputnik/harford.html Korolev's Triple Play: Sputniks 1, 2, and 3]</ref>


Em 11 de abril de 2008 autoridades russas inauguraram um monumento a Laika, construído perto do centro de pesquisa militar em Moscou que preparou o seu voo para o espaço. Ele apresenta a figura de um cão em pé, em cima de um [[Foguete espacial|foguete]]. Laika também aparece no [[Monumento aos Conquistadores do Cosmos]] em Moscou.
Foi necessário, então, construir outro satélite mais simples para poder cumprir a data limite de novembro. A decisão de lançar o satélite foi tomada entre 10 e 12 de outubro, e a equipe de construção tinha apenas quatro semanas para construir o novo artefato.<ref>Zak, Anatoly. [http://www.space.com/news/laika_anniversary_991103.html A verdadeira história da cadela Laika, em inglês]</ref> A apressada construção do Sputnik 2 foi complicada em razão da pretensão de levar um animal vivo em seu interior.<ref>{{Citar web|url=http://dogsinthenews.com/issues/0211/articles/021103a.htm|título=Dogs in the news|língua=|autor=|obra=|data=|acessodata=|arquivourl=https://web.archive.org/web/20060108184335/http://www.dogsinthenews.com/issues/0211/articles/021103a.htm|arquivodata=2006-01-08|urlmorta=yes}}</ref>


== Sputnik 2 ==
A nave estava equipada com instrumentos para medir a [[radiação solar]] e os [[raio cósmico|raios cósmicos]], um sistema de geração de [[oxigênio]] acompanhado de sistemas para absorver [[dióxido de carbono]], e outro para evitar o envenenamento por oxigênio, também conhecido como o ''[[efeito Paul Bert]]''. Se instalou um ventilador que operava quando a temperatura da nave superava os 15&nbsp;°C, para manter a temperatura do animal. Além disso, o satélite foi provido com [[Alimento|comida]] suficiente para um voo de sete dias. A comida estava em forma de [[gelatina]].
{{AP|Sputnik 2}}


Após o sucesso do [[Sputnik-1]], em outubro de 1957, o líder soviético [[Nikita Khrushchev]] solicitou o lançamento de uma segunda nave espacial em 7 de novembro de 1957, no aniversário de quarenta anos da [[Revolução de Outubro]]. Quando essa solicitação foi recebida, um satélite mais sofisticado já estava em construção, mas ele só estaria pronto em dezembro e, portanto, foi descartado; no entanto, este satélite mais tarde se tornaria o [[Sputnik 3]].<ref name="NASA3">{{Citar web |ultimo=Harford |primeiro=James J. |url=https://history.nasa.gov/sputnik/harford.html |titulo=Korolev's Triple Play: Sputniks 1, 2, and 3 |data=1997 |acessodata=26 de setembro de 2006 |publicado=NASA |lingua=inglês |arquivourl=https://web.archive.org/web/20010116002200/https://history.nasa.gov/sputnik/harford.html |arquivodata=16 de janeiro de 2001 |urlmorta=não |mode=cs2}}</ref>
Também foi feito um traje espacial para Laika. O animal foi equipado com uma bolsa para armazenar seus dejetos, e com uma cadeirinha que limitava seus movimentos ao sentar-se, pôr-se de pé ou encostar-se, já que na cabina não havia espaço para dar voltas. A [[freqüência cardíaca]] de Laika podia ser monitorada na [[bases de lançamentos espaciais|base espacial]], e outros instrumentos mediam seu ritmo respiratório, [[pressão arterial]] e seus movimentos básicos.<ref>Malashenkov, D.C. [http://adsabs.harvard.edu/abs/2002iaf..confE.288M Abstract:Some Unknown Pages of the Living Organisms' First Orbital Flight. ADS, 2002.]</ref><ref>Grahn, S. [http://www.svengrahn.pp.se/histind/Sputnik2/sputnik2more.html Sputnik-2, more news from distant history]</ref>


Para cumprir o prazo, uma nova nave precisaria ser construída. Khrushchev queria especificamente que seus engenheiros entregassem um "espetáculo espacial", uma missão que repetiria o triunfo do Sputnik-1 e deslumbrasse o mundo com os feitos soviéticos. Os responsáveis pela missão decidiram-se por um voo orbital com um cão. Desde longo tempo os engenheiros de foguetes soviéticos haviam planejado fazer orbitar um cão antes de avançar para um voo espacial humano; desde 1951 eles haviam lançado doze cães em voos balísticos suborbitais, trabalhando gradualmente em direção a uma missão orbital, possivelmente em algum momento de 1958. Para atender às demandas de Kruschev, o lançamento do voo orbital canino foi acelerado para novembro de 1957.<ref name="AJL">{{Citar web |ultimo=LePage |primeiro=Andrew J. |url=http://www.svengrahn.pp.se/histind/Sputnik2/SpaceViews%20November%201997%20Articles.htm |titulo=Sputnik 2: The First Animal in Orbit |data=1997 |acessodata=26 de setembro de 2006 |lingua=inglês |arquivourl=https://web.archive.org/web/20150924112148/http://www.svengrahn.pp.se/histind/Sputnik2/SpaceViews%20November%201997%20Articles.htm |arquivodata=24 de setembro de 2015 |urlmorta=não |mode=cs2}}</ref>
== A passageira ==


Segundo fontes russas, a decisão oficial de lançar o Sputnik 2 foi tomada em 10 ou 12 de outubro, deixando menos de quatro semanas para projetar e construir a nave.<ref name="AZ">{{Citar web |url=http://www.space.com/news/laika_anniversary_991103.html |titulo=The True Story ''of ''Laika the Dog |data=3 de novembro de 1999 |acessodata=28 de setembro de 2006 |autor=Anatoly Zak |lingua=inglês |arquivourl=https://web.archive.org/web/20060220234602/http://www.space.com/news/laika_anniversary_991103.html |arquivodata=20 de fevereiro de 2006}}</ref> O Sputnik 2, portanto, em certa medida foi construído às pressas, com a maioria dos seus elementos sendo produzidos a partir de esboços. Além da missão principal de enviar um passageiro vivo ao espaço, a sonda também conteria instrumentos para medir a [[irradiação solar]] e os [[raios cósmicos]].<ref name="NASA3" />
Laika era uma cadela que vivia solta nas ruas de [[Moscou]].<ref name="UOL"/> Pesava aproximadamente seis quilos e tinha três anos de idade quando foi capturada para o [[programa espacial soviético]]. Originalmente a chamaram ''Kudryavka'' (crespinha), depois ''Zhuchka'' (bichinho), e logo ''Limonchik'' (limãozinho), para finalmente chamá-la de Laika. Os cães capturados eram mantidos num centro de investigação nesta cidade, e três deles foram avaliados e treinados para as demandas da missão: Laika, Albina e Mushka.<ref>Whitehouse, D. [http://news.bbc.co.uk/1/hi/sci/tech/2367681.stm First dog in space died within hours], publicado por la [[BBC]], 28 de outubro de 2002.</ref>


A nave foi equipada com um [[Suporte à vida|sistema de suporte à vida]] composto por um gerador de oxigênio e dispositivos para evitar [[Efeito Paul Bert|envenenamento por oxigênio]] e absorver [[dióxido de carbono]]. Um ventilador, projetado para ativar sempre que a temperatura da cabine excedesse 15 ºC, foi adicionado para manter o animal refrescado. Comida suficiente (em forma de geleia) foi fornecida para um voo de sete dias, e Laika foi equipada com uma bolsa para coletar resíduos. Além disso, um [[arnês]] foi projetado para ser envergado por ela, acoplado a correntes que restringiam seus movimentos a sentar-se, permanecer em pé ou deitar-se, pois não havia espaço na cabine para que ela se virasse. Um [[eletrocardiograma]] monitorava a sua frequência cardíaca, e instrumentação adicional media sua frequência respiratória, pressão arterial máxima e e movimentos.<ref name="DM">{{citar jornal|título=Abstract: Some Unknown Pages of the Living Organisms' First Orbital Flight|autor=Malashenkov, D. C.|ano=2002|jornal=[[Astrophysics Data System]]|bibcode=2002iaf..confE.288M|página=288|publicado=Abstracts da [[International Astronautical Federation|IAF]]|língua=inglês}}</ref><ref name="SPUT1">{{Citar web |ultimo=Grahn |primeiro=Sven |url=http://www.svengrahn.pp.se/histind/Sputnik2/sputnik2more.html |titulo=Sputnik-2, more news from distant history |acessodata=2 de fevereiro de 2004 |lingua=inglês |arquivourl=https://web.archive.org/web/20150924112150/http://www.svengrahn.pp.se/histind/Sputnik2/sputnik2more.html |arquivodata=24 de setembro de 2015 |urlmorta=não |mode=cs2}}</ref>
=== Treinamento ===
Antes do lançamento do Sputnik 2, tanto a [[União Soviética]] como os [[Estados Unidos]] já haviam lançado animais vivos em voos suborbitais.<ref>{{Citar web |url=http://www.spacetoday.org/Astronauts/Animals/Dogs.html |título=Dogs in space, publicado por Space Today Online, 2004. |língua= |autor= |obra= |data= |acessodata=}}</ref> Esta missão exigia uma atenção especial ao treinamento dos cães, já que a duração do voo exigia dos animais uma adaptação em permanecer em espaços confinados por um período maior.


== Treinamento ==
Albina foi lançada duas vezes em um foguete para provar sua resistência nas grandes alturas, e Mushka foi utilizada para o teste da instrumentação e dos equipamentos de suporte vital. Laika foi selecionada para participar da missão orbital, e Albina como a principal substituta.
Laika foi encontrada [[Cães de rua em Moscovo|vagando pelas ruas de Moscou]]. Os cientistas soviéticos optaram por usar animais abandonados da cidade, pois supunham que eles já haviam desenvolvido a capacidade de suportar condições de frio e fome extremos.<ref name="AJL" /> Laika era uma fêmea [[vira-lata]] de cinco<ref name="laika">{{citar jornal|título=Muscovites Told Space Dog Is Dead |jornal=[[The New York Times]] |data=13 de novembro de 1957 |pagina=3|url=https://www.nytimes.com/1957/11/13/archives/muscovites-told-space-dog-is-dead-audience-at-planetarium-sighs-at.html|url-access=subscrição|último1 =Frankel|primeiro1 =Max|língua=inglês}}</ref> ou seis quilogramas,<ref name="AJL" /> com aproximadamente três anos de idade.<ref name="laika" /> Os funcionários soviéticos lhe deram vários nomes e apelidos, entre eles Kudriavka (''encaracoladinha''), Jutchka (''bichinho'') e Limontchik (''limãozinho''). Laika, o nome russo para [[Laika (raça)|várias raças]] de cães semelhantes ao [[husky siberiano|husky]], foi o nome que se popularizou em todo o mundo. A imprensa americana a apelidou de Muttnik (''vira-lata'', em inglês, junto com o sufixo {{nowrap|''-nik''}}) como um trocadilho com o [[Sputnik|Programa Sputnik]],<ref name="NASA">{{Citar web |ultimo=Gray |primeiro=Tara |url=https://history.nasa.gov/animals.html |titulo=A Brief History of Animals in Space |data=1998 |acessodata=26 de setembro de 2006 |publicado=NASA |lingua=inglês |arquivourl=https://web.archive.org/web/20041011053912/https://history.nasa.gov/animals.html |arquivodata=11 de outubro de 2004 |urlmorta=não |mode=cs2}}</ref> ou se referia a ela como Curly (''encaracolada'').<ref name="BL">{{Citar web |url=http://www.bl.uk/onlinegallery/features/frontpage/spacedog.html |titulo=Space Dog Lives |acessodata=26 de setembro de 2006 |publicado=The British Library |lingua=inglês |arquivourl=https://web.archive.org/web/20150923232547/http://www.bl.uk/onlinegallery/features/frontpage/spacedog.html |arquivodata=23 de setembro de 2015 |urlmorta=sim |mode=cs2}}</ref> Sua [[Lista de raças de cães|raça]] é desconhecida, embora seja geralmente aceito que ela era parte husky ou outra raça nórdica e possivelmente parte [[terrier]].<ref name="AJL" /> A [[NASA]] se refere a Laika como um "terrier parcialmente [[samoieda]]".<ref name="Sputnik2">{{Citar web |url=https://nssdc.gsfc.nasa.gov/nmc/spacecraft/display.action?id=1957-002A |titulo=Sputnik 2 |acessodata=3 de novembro de 2014 |publicado=National Space Science Data Center |lingua=inglês |mode=cs2}}</ref> Uma revista russa descreveu seu temperamento como [[wikt:fleumático|fleumático]], dizendo que ela não brigava com outros cães.<ref name="laika" />


A União Soviética e os Estados Unidos já haviam enviado animais vivos em [[Voo suborbital|voos suborbitais]].<ref name="STO">{{Citar web |url=http://www.spacetoday.org/Astronauts/Animals/Dogs.html |titulo=Dogs in space |data=2004 |acessodata=28 de setembro de 2006 |publicado=Space Today Online |lingua=inglês |arquivourl=https://web.archive.org/web/20151017033511/http://www.spacetoday.org/Astronauts/Animals/Dogs.html |arquivodata=17 de outubro de 2015 |urlmorta=não |mode=cs2}}</ref> Três cães foram treinados para embarcar no Sputnik 2: [[Cães do programa espacial soviético#Albina e Tsiganka|Albina]], [[Cães do programa espacial soviético#Pchelka e Mushka|Mushka]] e Laika.<ref name="BBC">{{citation |url=http://news.bbc.co.uk/1/hi/sci/tech/2367681.stm |título=First dog in space died within hours |publicado=BBC |primeiro =David |último =Whitehouse |data=28 de outubro de 2002 |acessodata=26 de setembro de 2006 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20150905205457/http://news.bbc.co.uk/2/hi/science/nature/2367681.stm |arquivodata=5 de setembro de 2015 |urlmorta= não|língua=inglês}}</ref> Os cientistas soviéticos Vladimir Yazdovsky e [[Oleg Gazenko]], especializados em vida no espaço, treinaram os cães.<ref name="NLM">{{Citar web |url=https://www.nlm.nih.gov/exhibition/animals/laika.html |titulo=Animals as Cold Warriors: Missiles, Medicine and Man's Best Friend |data=19 de junho de 2006 |acessodata=28 de setembro de 2006 |publicado=National Library of Medicine |lingua=inglês |arquivourl=https://web.archive.org/web/20151006132551/https://www.nlm.nih.gov/exhibition/animals/laika.html |arquivodata=6 de outubro de 2015 |urlmorta=não |mode=cs2}}</ref>
Seu treinamento estava a cargo do cientista [[Oleg Gazenko]].<ref>{{Citar web |url=http://www.nlm.nih.gov/exhibition/animals/laika.html |título=Animals as Cold Warriors:Missiles, Medicine and Man's Best Friend, publicado pela National Library of Medicine, 19 de junho de 2006 |língua= |autor= |obra= |data= |acessodata=}}</ref> O treinamento consistia em acostumar os cães ao ambiente que encontrariam na viagem, como o espaço reduzido da cápsula, os ruídos, vibrações e acelerações. Como parte do treinamento, a aceleração das decolagens era simulada através da [[força centrífuga]] imposta na cápsula onde os animais se introduziam. Durante estas atividades, seu pulso chegava a duplicar e sua [[pressão sanguínea]] aumentava em 30–65 [[torr]]. O mesmo processo geral seria utilizado mais tarde no treinamento dos [[cosmonauta]]s soviéticos.


Para adaptar os cães à pequena cabine do Sputnik 2, eles foram mantidos em gaiolas progressivamente menores por períodos de até vinte dias. O extenso confinamento fez com que parassem de urinar e defecar, os tornou inquietos e fez com que sua condição geral se deteriorasse. O uso de [[laxante]]s não melhorou a condição dos animais, e os pesquisadores descobriram que esse treinamento apenas se mostrava eficaz após longos períodos. Os cães foram colocados em centrífugas, que simulavam a aceleração do lançamento de foguetes, e em máquinas que simulavam os ruídos da nave. Isso fez com que seus impulsos cardíacos dobrassem e sua pressão arterial aumentasse de 30 a 60 T[[torr|orr]]. Os cães também foram treinados para comer um gel especial de alta nutrição, que seria sua comida no espaço.<ref name="SPUT1" />
A adaptação dos animais ao confinado espaço do Sputnik 2 exigiu que permanecessem em compartimentos cada vez menores por até vinte dias. O confinamento forçado provocou distúrbios nas funções excretoras dos animais, incrementando sua agitação e deteriorando sua condição física geral.


Antes do lançamento, Yazdovsky levou Laika para casa, para brincar com seus filhos. Em um livro que conta a história da medicina espacial soviética, ele escreveu: "Laika era quieta e encantadora [...] eu queria fazer algo de bom para ela: ela tinha tão pouco tempo de vida".<ref name="APSTAT">{{Citar web |ultimo=Isachenkov |primeiro=Vladimir |url=http://www.nbcnews.com/id/24069819 |titulo=Space dog monument opens in Russia |data=11 de abril de 2008 |acessodata=15 de abril de 2008 |publicado=NBC News |lingua=inglês |mode=cs2}}</ref>
== Missão ==
[[Ficheiro:Sputnik2 vsm.jpg|thumb|left|250px|Modelo do Sputnik 2, a nave espacial de Laika.]]
Em 31 de outubro de 1957, três dias antes do lançamento, Laika foi colocada no Sputnik 2, no [[cosmódromo de Baikonur]], no atual [[Cazaquistão]]. Dado que as temperaturas no local de lançamento eram extremamente baixas, a cápsula requereu conservação térmica, através de um aquecedor externo e de uma mangueira. Dois assistentes estavam encarregados de vigiar Laika constantemente antes do começo da missão. Bem antes do lançamento, em 3 de novembro de 1957, a pelagem da Laika foi limpa com uma solução de [[etanol]], e pintaram-na com [[iodo]] nas áreas onde ela levaria sensores para vigiar suas funções corporais.<ref>{{Citar web |url=http://www.novareinna.com/bridge/laika.html |título=Monumento a Laika |língua= en|autor= |obra= |data= |acessodata=}}</ref>


== Preparativos antes do voo ==
O Sputnik 2 foi lançado em 3 de novembro de 1957. Os sinais vitais da Laika eram seguidos [[telemetria|telemetricamente]] por controle em terra. Ao alcançar a máxima aceleração depois da decolagem, o ritmo respiratório do animal aumentou de três a quatro vezes em relação ao normal, e sua [[freqüência cardíaca]] passou de 103 a 240 batimentos por minuto. Ao alcançar a órbita, a ponta cônica do Sputnik 2 desprendeu-se com sucesso. A outra seção da nave que deveria desprender-se (o "Blok A") não o fez, impedindo que o sistema do controle térmico funcionasse corretamente. Parte do isolamento térmico desprendeu-se, permitindo que a cápsula alcançasse uma temperatura interior de 40&nbsp;°C.<ref>{{Citar web |url=http://nssdc.gsfc.nasa.gov/database/MasterCatalog?sc=1957-002A |título=Catálogo da NASA, seção sobre o Sputnik 2, de outubro de 2005 ({{en}}) |língua= |autor= |obra= |data= |acessodata=}}</ref> Após três horas de micro-gravidade, o pulso de Laika havia descido a 102 batimentos por minuto;<ref>West, J. B. [http://jap.physiology.org/cgi/content/full/91/4/1501 Journal of Applied Psychology, Vol. 91, 4, pp 1501-1511.]</ref> esta descida na frequência cardíaca havia tomado três vezes mais tempo que o experimentado durante o treinamento, o que indicava o alto [[estresse]] em que estava a cadela. Os dados telemétricos iniciais mostravam que, ainda que Laika estivesse agitada, estava comendo. A recepção de dados vitais parou entre cinco e sete horas depois da decolagem.
[[Imagem:Laika experimental space dog space suit.jpg|250px|thumb|O traje espacial experimental usado por Laika. Está exibido no Museu Memorial da Cosmonáutica em Moscou]]


Vladimir Yazdovsky fez a seleção final dos cães e designou as funções que cada um desempenharia. Laika seria o "cão de voo" – um sacrifício à ciência em uma missão apenas de ida ao espaço.<ref name="russianspaceweb1">{{Citar web |ultimo=Zak |primeiro=Anatoly |url=http://www.russianspaceweb.com/sputnik2_preflight.html |titulo=Sputnik-2 |acessodata=23 de maio de 2013 |publicado=Russianspaceweb.com |lingua=inglês |arquivourl=https://web.archive.org/web/20150924121712/http://www.russianspaceweb.com/sputnik2_preflight.html |arquivodata=24 de setembro de 2015 |urlmorta=não |mode=cs2}}</ref> Albina, que já havia voado duas vezes em um foguete de teste de alta altitude, atuaria como a substituta de Laika. O terceiro cão, Mushka, seria uma "cadela de controle" – ela permaneceria na Terra e seria usada para testar a instrumentação e o sistema de suporte à vida.<ref name="SPUT1" /><ref name="STO" />
No entanto, a informação que Moscou deu a conhecer dizia que o animal se comportava em calma em seu voo espacial, e que em poucos dias Laika desceria à Terra, primeiro em sua cápsula espacial, e logo em [[para-quedas]]. Todo mundo acreditava que o animal levava alimento suficiente e sua condição era estável, pelo que muitas pessoas estiveram esperando o regresso de Laika. Algumas pessoas aproveitaram para fazer brincadeiras: durante várias horas, a população de [[Santiago do Chile]] esteve convencida de que Laika havia caído na cidade. Os habitantes da zona suburbana viram descer um cão de para-quedas, e eles se convenceram naquele momento de que se tratava de Laika. Quando o animal chegou em terra, se comprovou que na realidade se tratava de um cão macho, e a montagem não era mais que uma brincadeira para aproveitar-se da neurose coletiva das "cadelas voadoras".<ref>{{Citar web |url=http://www.astroenlazador.com/article.php3?id_article=82 |título=A verdadeira história de Laika'', em Astroenlazador.com ({{es}}) |língua= |autor= |obra= |data= |acessodata=}}</ref>


Antes de partirem para o [[Cosmódromo de Baikonur]], Yazdovsky e Gazenko realizaram uma cirurgia nos cães, para conectar os cabos do transmissor aos sensores que mediam a sua respiração, pulso e pressão sanguínea.{{sfnp|Siddiqi|2000|p=173|ps=none}}
O Sputnik 2 não estava preparado para regressar à Terra de forma segura, pelo que já se sabia que Laika não sobreviveria à viagem. Os cientistas soviéticos planejaram dar-lhe comida [[Veneno|envenenada]], que Laika consumiria depois de dez dias. No entanto, isso não ocorreu como planejado. Durante anos, a [[União Soviética]] deu explicações contraditórias sobre a morte de Laika, dizendo às vezes que a cadela havia morrido por [[asfixia]] quando as baterias falharam, ou que haviam feito [[eutanásia]] conforme os planos originais. Em 1999 fontes russas asseguraram que Laika sobreviveu pelo menos quatro dias, e depois pereceu por causa do superaquecimento da nave. Em outubro de 2002, o cientista Dimitri Malashenkov, que participou no lançamento do Sputnik 2, revelou que Laika havia morrido entre cinco e sete horas depois da decolagem, devido ao estresse e superaquecimento. Ele declarou, num artigo que apresentou no Congresso Mundial do Espaço em [[Houston]]: "Foi praticamente impossível criar um controle de temperatura confiável em tão pouco tempo".<ref>Malashenkov, D. C. [http://adsabs.harvard.edu/abs/2002iaf..confE.288M ''Abstract: Some Unknown Pages of the Living Organisms' First Orbital Flight'' ADS, 2002.]</ref> O Sputnik 2 finalmente explodiu (junto com os restos de Laika) ao entrar em contato com a [[atmosfera]], em 14 de abril de 1958, após 163 dias e 2570 órbitas em volta da Terra.<ref name="story">{{Citar web|url=http://www.moscowanimals.org/laika/laika.html|título=The Story of Laika ({{en}})|língua=|autor=|obra=|data=|acessodata=|arquivourl=https://web.archive.org/web/20060816092218/http://www.moscowanimals.org/laika/laika.html|arquivodata=2006-08-16|urlmorta=yes}}</ref>


Como a pista de pouso existente em [[Tyuratam]], perto do cosmódromo, era pequena, os cães e a equipe tiveram que voar a bordo de um avião [[Tupolev Tu-104|Tu-104]] para [[Tashkent]]. De lá, um avião [[Ilyushin Il-14]], menor e mais leve, os levou para Tyuratam. O treinamento dos cães continuou na chegada; um após o outro, eles foram colocados nas cápsulas para se familiarizarem com o sistema de alimentação.<ref name="russianspaceweb1" />
== Legado ==
=== Controvérsia ===
Depois de Laika, nenhuma outra missão tripulada por cães foi lançada sem que existisse um sistema para o retorno seguro do animal. No que diz respeito a temas de [[exploração espacial]], o tema da [[corrida espacial]] entre os Estados Unidos e a União Soviética dominou a [[opinião pública]] durante muitos anos; temas como a exploração de animais não foram debatidos intensamente em seu momento. A imprensa de 1957 estava mais preocupada em informar o impacto do ponto de vista político, e a saúde e recuperação (ou a perda) de Laika eram temas muito pouco mencionados. Não foi senão muito mais tarde quando se originaram discussões sobre o destino final do animal.


Segundo um documento da NASA, Laika foi colocada na cápsula da nave em 31 de outubro de 1957, três dias antes do início da missão.<ref name="SPUT1" /> Naquela época do ano as temperaturas no local de lançamento eram extremamente baixas e uma mangueira conectada a um aquecedor era usada para manter a cabine aquecida. Dois assistentes foram designados para monitorar constantemente Laika antes do lançamento. Pouco antes da decolagem, em 3 de novembro, seu pelo foi limpo com uma solução a base de etanol e cuidadosamente escovado, e [[Tintura de iodo|iodo]] foi aplicado nas áreas em que ela levava os sensores que monitorariam suas funções corporais.<ref name="LM">{{Citar web |url=http://www.novareinna.com/bridge/laika.html |titulo=Memorial to Laika |acessodata=26 de setembro de 2006 |publicado=novareinna.com |lingua=inglês |mode=cs2}}</ref>
A deliberada morte de Laika desencadeou um debate mundial sobre o [[Crueldade para com os animais|maltrato aos animais]] e os avanços científicos à custa de testes com animais. Embora vários animais já houvessem morrido em missões dos Estados Unidos nos nove anos anteriores ao Sputnik 2, Laika foi o primeiro animal enviado ao espaço sem esperanças de ser recuperado.<ref>Nos Estados Unidos, entre 1948 e 1957, os [[primata]]s Albert, Albert II, Albert III, Albert IV (também chamado Yorick) e Albert V morreram durante suas missões poucas horas depois de regressar à Terra. As causas de suas mortes foram asfixia, explosão no espaço ou má aterrissagem.</ref> No [[Reino Unido]], a Liga Nacional de Defesa Canina (''NCDL'', atualmente ''Fundação para os Cães'') pediu para os donos de cães guardarem um minuto de silêncio em honra a Laika. Vários grupos protetores dos direitos animais protestaram em frente das embaixadas soviéticas.<ref>{{Citar web |url=http://news.bbc.co.uk/onthisday/hi/dates/stories/november/3/newsid_3191000/3191083.stm |título=On this day'', BBC, 3 de novembro de 1957. |língua= |autor= |obra= |data= |acessodata=}}</ref> No entanto, alguns cientistas norte-americanos ofereceram apoio a seus colegas soviéticos, pelo menos antes da morte de Laika.<ref>{{Citar web |url=http://www.nlm.nih.gov/exhibition/animals/images/laika7Big.jpg |título=Human Guinea Pigs and Sputnik 2. National Society for Medical Research, novembro de 1957. |língua= |autor= |obra= |data= |acessodata=}}</ref> Igor Ushakov, chefe da administração médico-militar do Ministério da Defesa russo, afirmou que "O voo de Laika permitiu mostrar a possibilidade de que um animal altamente organizado pode sobreviver em condições de falta de gravidade, e obter informação sobre o estado de seu organismo durante o voo orbital". Dentro da União Soviética houve menos controvérsia sobre o acidente, que não foi abertamente questionado nos meios de comunicação. Somente em 1988, após o colapso do regime soviético, que Oleg Gazenko, um dos cientistas responsáveis por mandar Laika ao espaço, expressou remorso por permitir a morte dela: "Quanto mais tempo passa, mais lamento o sucedido. Não deveríamos ter feito isso.... nem sequer aprendemos o suficiente desta missão, para justificar a perda do animal".<ref>{{Citar web|url=http://dogsinthenews.com/issues/0211/articles/021103a.htm|título=Message from the First Dog in Space Received 45 Years Too Late, tomado de ''Dogs in the News''|língua=|autor=|obra=|data=|acessodata=|arquivourl=https://web.archive.org/web/20060108184335/http://www.dogsinthenews.com/issues/0211/articles/021103a.htm|arquivodata=2006-01-08|urlmorta=yes}}</ref>


Um dos técnicos que preparava a cápsula antes da decolagem final declarou que "depois de colocar Laika na cápsula, e antes de fechar a escotilha, beijamos seu nariz e lhe desejamos boa viagem, sabendo que ela não sobreviveria ao voo".<ref name="russianspaceweb1" />
=== Na cultura popular ===
[[Ficheiro:Laika Stamp.jpg|thumb|300px|Selo postal da [[Romênia]] mostrando Laika.]]
A viagem da Laika transformou-a em um dos cães mais famosos do mundo. Em 1997, na [[Cidade das Estrelas]], foi inaugurada uma placa em homenagem aos cosmonautas mortos. Laika está representada em um canto da placa, espiando por entre as pernas de um dos cosmonautas.<ref name="story" /> Seu [[baixo-relevo]] está no Monumento aos Conquistadores do Espaço (1964), em Moscou, onde Laika e [[Lenin]] são os únicos personagens que se pode reconhecer por seu nome, entre todos os personagens que aparecem esculpidos no monumento, embora se pense que [[Yuri Gagarin]] e [[Sergei Korolev]] possam ser identificados, não por suas efígies, mas sim pelo contexto do relevo. Em vários países criaram-se [[selo postal|selos]] de correio com a imagem da cadela Laika, comemorando seu voo. Marcas de [[chocolate]]s e [[cigarro]]s foram nomeadas em sua memória, e uma grande coleção de souvenirs de Laika ainda aparece em leilões atualmente.<ref>{{Citar web |url=http://www.nlm.nih.gov/exhibition/animals/laika.html |título=Animals as Cold Warriors:Missiles, Medicine and Man's Best Friend''. National Library of Medicine (19/06/06). |língua= |autor= |obra= |data= |acessodata=25 de abril de 2008}}</ref>
[[Ficheiro:Opportunity-Laikia-soil-target-sol-400.jpg|thumb|left|250px|Objetivo em [[Marte (planeta)|Marte]] chamado Laika pela [[NASA]], durante a missão da [[Mars Exploration Rover]].]]


== Viagem ==
Em 9 de março de 2005, um pedaço de terreno no planeta Marte foi chamado ''Laika'', embora não oficialmente, pelos controladores da missão da [[Mars Exploration Rover]]. O lugar se localiza próximo da [[cratera]] ''Vostok'' em [[Meridiani Planum]].<ref>{{Citar web |url=http://www.marstoday.com/news/viewsr.html?pid=15832 |título=NASA Mars Rover Status Report: 17 March 2005. Jet Propulsion Laboratory, março de 2005 |língua= |autor= |obra= |data= |acessodata=}}</ref>
A hora exata do lançamento varia, de acordo com diferentes fontes, mas ocorreu entre 5h30min42 e 7h22min, no [[Horário de Moscovo|horário de Moscou]].<ref name="russianspaceweb1" /> No pico da aceleração após a decolagem, a respiração de Laika aumentou para três a quatro vezes a taxa de pré-lançamento.<ref name="SPUT1" /> Os sensores mostraram que sua frequência cardíaca era de 103 batimentos por minuto antes do lançamento e aumentou para 240 batimentos por minuto durante a aceleração inicial. Após atingir a órbita, a ponta cônica do Sputnik 2 foi descartada com sucesso; no entanto, o núcleo do "Bloco A" não se separou conforme planejado, impedindo o funcionamento correto do sistema de controle térmico. Parte do isolamento térmico se soltou, elevando a temperatura da cabine para 40 °C.<ref name="Sputnik2" /> A taxa de pulso de Laika retornou para 102 batimentos por minuto após três horas de microgravidade,<ref name="JAP">{{citation |periódico= Journal of Applied Physiology|título=Historical aspects of the early Soviet/Russian manned space program |volume=91 |número=4 |páginas=1501–1511 |primeiro =John B. |último =West |data=1 de outubro de 2001 |pmid=11568130 |df= |doi=10.1152/jappl.2001.91.4.1501 }}</ref> tempo três vezes maior que aquele identificado em testes anteriores e que serviu como indicação do estresse que a cadela estava sofrendo. A [[telemetria]] inicial indicou que ela estava agitada, mas estava se alimentando.<ref name="Sputnik2" /> Após aproximadamente cinco a sete horas de voo, sinais de vida deixaram de ser recebidos da nave.<ref name="SPUT1" />


Os cientistas soviéticos planejavam sacrificar Laika com uma porção de comida envenenada. Por muitos anos, a União Soviética deu declarações conflitantes de que ela havia morrido de asfixia<ref name="Beischer1962">{{citation |último1 =Beischer |primeiro1 =DE |último2 =Fregly |primeiro2 =AR |título=Animals and man in space. A chronology and annotated bibliography through the year 1960 |periódico=US Naval School of Aviation Medicine |volume=ONR TR ACR-64 |número=AD0272581 |data=1962 |url=http://archive.rubicon-foundation.org/9288 |acessodata=14 de junho de 2011 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20150811085105/http://archive.rubicon-foundation.org/xmlui/handle/123456789/9288 |arquivodata=11 de agosto de 2015 |urlmorta= não|língua=inglês}}</ref> quando as baterias falharam, ou que ela havia sido sacrificada. Muitos rumores circularam sobre a maneira exata de sua morte. Em 1999 várias fontes russas relataram que Laika morreu quando a cabine [[superaquecimento|superaqueceu]], em sua quarta órbita.<ref name="AZ" /> Em outubro de 2002 o cientista Dimitri Malashenkov, que participou do lançamento do Sputnik 2, revelou que Laika morreu de cinco a sete horas após a decolagem, devido ao estresse e ao superaquecimento. De acordo com um artigo que ele apresentou ao [[International Astronautical Federation|Congresso Espacial Mundial]] em Houston, nos Estados Unidos, "era praticamente impossível criar um controle de temperatura confiável em tão pouco tempo".<ref name="DM" />
Laika tem aparecido em numerosas obras literárias, mormente de [[ficção científica]] ou também de [[Literatura fantástica|fantasia]], que freqüentemente narram histórias sobre seu resgate ou sobrevivência. A novela ''Intervention'' (''Intervenção''), de Julian May, relata que Laika foi resgatada por [[extraterrestre]]s. Na novela ''Weight: The Myth of Atlas and Hercules'' (''Peso: O Mito de Atlas e Hércules''), de [[Jeanette Winterson]], o [[Titãs|titã]] [[Grécia|grego]] [[Atlas (mitologia)|Atlas]] encontra a cápsula em órbita, e adota o animal. No romance "Alien Bodies" da série ''[[Doctor Who]]'' se narrou uma história sobre seu funeral e na antológica ''Flight'' sobre sua viagem a um outro planeta. Em um capítulo da revista Flash Gordon aparece Laika resgatada por uma raça de [[alienígena]]s [[Lua|lunares]] com aspecto de cão.


Mais de cinco meses depois, após 2,57 mil órbitas, o Sputnik 2, incluindo os restos de Laika, se desintegrou durante sua reentrada na atmosfera, em 14 de abril de 1958.<ref name="MA">{{Citar web |url=http://www.moscowanimals.org/laika/laika.html |titulo=The Story of Laika |acessodata=26 de setembro de 2006 |publicado=moscowanimals.org |lingua=inglês |arquivourl=https://web.archive.org/web/20060816092218/http://www.moscowanimals.org/laika/laika.html |arquivodata=16 de agosto de 2006 |urlmorta=sim |mode=cs2}}</ref>
Os nomes de vários grupos musicais estão inspirados em Laika, entre eles, Laika Não Morreu!, Laika Dog, Laika & the Cosmonauts e Laika, cujos três primeiros [[Álbum musical|álbuns]] possuem uma cosmonauta canina na capa.


== Ética dos testes em animais ==
O grupo [[Língua castelhana|espanhol]] Mecano, a banda canadense [[Arcade Fire]], Moxy Früvous e a banda sueca [[The Cardigans]] têm uma canção chamada "Laika". Em 1986, a banda [[Alemanha|alemã]] C.C.C.P. lançou um álbum chamado ''Cosmos'' que tinha a música "Laika Laika", com tema girando em torno do [[programa espacial soviético]], e sendo completada com um coro militar russo. Laika apareceu em canções de (entre outros) Massacre Palestina ("Laika se Va"); Akino Arai ("Sputnik"); Åge Aleksandersen ("Laika"); The Divine Comedy ("Absent Friends" e "Laika's Theme"); Havalina ("Leica"); The Motorhomes ("Into the Night"); "Neighborhood #2 (Laïka)", pelo Arcade Fire; Mighty Sparrow ("Russian Satellite"); Pond ("My Dog is an Astronaut, Though"); Kyler England ("Laika"); Sticky Fingers ("Laika") e The Circle Jerks ("Dog"). Em 2002, o grupo [[Spacemonkeyz]] fez um [[remix]] do álbum homônimo do [[Gorillaz]], intitulado ''Laika Come Home''. A fita de composição de György Kurtág, ''Memoire de Laika'' (1990) incorpora texto falado sobre a cadela. Mais recentemente, a banda de rock japonesa [[Asian Kung-Fu Generation]] incluiu uma canção intitulada "Laika" em seu álbum ''World World World'' (2008). Em 2019, a banda brasileira Laika Não Morreu! lançou o clipe que dá nome à banda, onde dá vida às ilustrações de [https://www.nickabadzis.com/ Nick Abadzis], artista britânico que lançou a HQ “Laika”, em 2007.
Devido à questão sombria da [[corrida espacial]] entre os Estados Unidos e a União Soviética, as questões éticas levantadas por esse experimento praticamente não foram atendidas por algum tempo. A imprensa de 1957 estava mais preocupada em relatar o impacto de um ponto de vista político, enquanto a saúde e a recuperação de Laika - ou ausência - se tornaram apenas um problema menor.<ref name="45YRSLATER">{{Citar web |url=http://dogsinthenews.com/issues/0211/articles/021103a.htm |titulo=Message from the First Dog in Space Received 45 Years Too Late |data=3 de novembro de 2002 |acessodata=4 de outubro de 2006 |publicado=Dogs in the News |lingua=inglês |arquivourl=https://web.archive.org/web/20060108184335/http://www.dogsinthenews.com/issues/0211/articles/021103a.htm |arquivodata=8 de janeiro de 2006 |urlmorta=sim |mode=cs2}}</ref>


O Sputnik 2 não foi projetado para ser recuperável e sempre se teve o conhecimento de que Laika morreria.<ref name="AZ" /> A missão desencadeou um debate global sobre [[Crueldade com animais|abuso]] e [[testes com animais]] em geral para promover a ciência.<ref name="NLM" /> No [[Reino Unido]], a Liga Nacional de Defesa Canina pediu a todos os donos de cães que observassem um minuto de silêncio, enquanto a [[Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals|Sociedade Real para a Prevenção da Crueldade contra Animais]] (RSPCA) recebeu protestos antes mesmo da Rádio Moscou terminar de anunciar o lançamento. Grupos de [[direitos dos animais]] da época pediram aos membros da sociedade que protestassem nas embaixadas soviéticas.<ref name="BBCold">{{citation |url=http://news.bbc.co.uk/onthisday/hi/dates/stories/november/3/newsid_3191000/3191083.stm |título=On this day |publicado=BBC |data=3 de novembro de 1957 |acessodata=26 de setembro de 2006 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20151008161445/http://news.bbc.co.uk/onthisday/hi/dates/stories/november/3/newsid_3191000/3191083.stm |arquivodata=8 de outubro de 2015 |urlmorta= não|língua=inglês}}</ref> Outros se manifestaram em frente às [[Nações Unidas]] em Nova Iorque.<ref name="NLM" /> Esses protestos foram amplamente despertados e instrumentalizados como uma luta ideológica por vários grupos de interesse.<ref>{{Citar livro |título=Weltraumhunde im Kalten Krieg: Laika als Versuchstier, Propagandawaffe und Heldin |ultimo=Marek |primeiro=Roman |obra=Tiere im Krieg. Von der Antike bis zur Gegenwart |editora=Ferdinand Schöningh Verlag |ano=2009 |editor-sobrenome=Pöppinghege |editor-nome=Rainer |local=Paderborn |páginas=251–268 |lingua=alemão |isbn=978-3-506-76749-3}}</ref> Pesquisadores de laboratório nos Estados Unidos ofereceram apoio aos soviéticos, pelo menos antes da notícia da morte de Laika.<ref name="NLM" /><ref name="NSMR">{{Citar web |url=https://www.nlm.nih.gov/exhibition/animals/images/laika7Big.jpg |titulo=Human Guinea Pigs and Sputnik 2 |data=novembro de 1957 |acessodata=28 de setembro de 2006 |publicado=National Society for Medical Research |lingua=inglês |arquivourl=https://web.archive.org/web/20150520210547/http://www.nlm.nih.gov/exhibition/animals/images/laika7Big.jpg |arquivodata=20 de maio de 2015 |urlmorta=não |mode=cs2}}</ref>
O vídeo de 2007 para a música do Trentemøller, "Moan", era sobre Laika. No filme sueco de 1985 ''My Life as a Dog'' (Mitt liv som hund), o protagonista—um garoto que se sente impotente contra seu destino—compara a si mesmo com Laika.


Na União Soviética, houve menos controvérsia. Nem a mídia, nem os livros dos anos seguintes, nem o público questionaram abertamente a decisão de enviar um cão ao espaço. Somente em 1998, após o colapso do regime soviético, [[Oleg Gazenko]], um dos cientistas responsáveis pelo envio de Laika, se arrependeu de ter permitido que ela morresse: "Trabalhar com animais é uma fonte de sofrimento para todos nós. Nós os tratamos como bebês que não conseguem falar. Quanto mais o tempo passa, mais sinto muito. Não deveríamos ter feito isso ... Não aprendemos o suficiente desta missão para justificar a morte da cadela".<ref name="NLM" /><ref name="NSMR" />
No episódio "Brincadeira no Pântano", do [[desenho animado]] [[Woody Woodpecker|Pica-Pau]] se faz uma referência à Laika, onde é mostrado um cachorro voando no "[[espaço]]". Essa mesma cena (de uma forma engraçada), poderia também demonstrar a rivalidade entre Russos e Americanos na chamada [[Corrida Espacial]].


Em outros países do [[Pacto de Varsóvia]], as críticas abertas ao programa espacial soviético foram difíceis por causa da censura política, mas houve casos notáveis de críticas nos círculos científicos poloneses. Um periódico científico polonês, "Kto, Kiedy, Dlaczego" ("Quem, quando, por que"), publicado em 1958, discutiu a missão do Sputnik 2. Na seção do periódico dedicada à [[astronáutica]], Krzysztof Boruń descreveu a missão do Sputnik 2 como "lamentável" e criticou não trazer Laika de volta à Terra como "indubitavelmente uma grande perda para a ciência".<ref name="KKD">{{citation |periódico=Kto, Kiedy, Dlaczego |volume=2 |número=1 |páginas=330–331 |título=Astronautyka |primeiro =Krzysztof |último =Boruń |data=dezembro de 1958|língua=inglês}}</ref>
=== Homenagem ===
Em 11 de abril de 2008 foi inaugurado um monumento em honra à cadela Laika no centro de Moscou.<ref name="UOL">{{Citar web |url=http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2008/04/11/ult1809u14977.jhtm |título=Inauguração do monumento a Laika em Moscou |língua= |autor= |obra= |data= |acessodata=}}</ref>
O monumento foi colocado em uma alameda perto do Instituto de Medicina Militar, onde ocorreram há mais de meio século os experimentos científicos com a participação da célebre cadela. A figura de bronze, de dois metros de altura, representa um dos segmentos de um foguete espacial, que se transforma em uma mão humana, sobre a qual está o corpo de Laika.


== Legado ==
{{quote2|''Ainda hoje não sei se eu sou o 'primeiro homem' ou o 'último cachorro' a voar ao espaço''|[[Yuri Gagarin]], o primeiro cosmonauta da história.}}
[[Imagem:Posta Romana - 1959 - Laika 120 B.jpg|thumb|direita|Selo [[Romênia|romeno]] de 1959 com Laika. A legenda diz "Laika, primeira viajante do cosmos".]]


Laika foi lembrada na forma de uma estátua e placa na [[Cidade das Estrelas]], na Rússia, que era a instalação de treinamento de cosmonautas russos.<ref name="redOrbit">{{Citar web |ultimo=Savage |primeiro=Sam |url=http://www.redorbit.com/news/space/115234/first_in_orbit_laika_the_dog_made_history/ |titulo=First in Orbit, Laika the Dog Made History |data=2004-12-31 |acessodata=27 de julho de 2009 |publicado=redOrbit |lingua=inglês |arquivourl=https://web.archive.org/web/20150924125050/http://www.redorbit.com/news/space/115234/first_in_orbit_laika_the_dog_made_history/ |arquivodata=24 de setembro de 2015 |urlmorta=não |mode=cs2}}</ref> Levantada em 1997, a escultura mostra Laika atrás dos cosmonautas com os ouvidos eretos.<ref name="redOrbit" /> O [[Monumento aos Conquistadores do Cosmos]], construído em 1964, também a inclui.<ref name="Telstar">{{Citar web |url=http://telstarlogistics.typepad.com/telstarlogistics/2008/04/russia-remember.html |titulo=A New Monument for Laika, Russia's Heroic Space Dog |data=11 de abril de 2008 |lingua=inglês |arquivourl=https://web.archive.org/web/20151016172327/http://telstarlogistics.typepad.com/telstarlogistics/2008/04/russia-remember.html |arquivodata=16 de outubro de 2015 |urlmorta=não |mode=cs2}}</ref> Em 11 de abril de 2008,<ref>{{Citar web |url=https://www.atlasobscura.com/places/laika-monument |titulo=Laika Monument |lingua=inglês}}</ref> nas instalações de pesquisa militar onde os funcionários haviam sido responsáveis pela preparação de Laika para o voo, as autoridades revelaram um monumento dela em cima de um foguete espacial.<ref name="RussiaOpensMonument">{{citation |url=http://usatoday30.usatoday.com/news/world/2008-04-11-177105809_x.htm |título=Russia opens monument to space dog Laika |primeiro =Vladimir |último =Isachenkov |jornal=[[Associated Press]] |data=11 de abril de 2008 |acessodata=4 de agosto de 2014 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20150926033452/http://usatoday30.usatoday.com/news/world/2008-04-11-177105809_x.htm |arquivodata=26 de setembro de 2015 |urlmorta= não|língua=inglês}}</ref> Em 9 de março de 2005, um pedaço de terreno em [[Marte (planeta)|Marte]] foi chamado "Laika" de forma não-oficial pelos controladores da missão [[Mars Exploration Rovers|Mars Exploration Rover]].<ref>{{Citar livro |url=https://books.google.com.br/books?id=Sv_plWzWdeoC&pg=PA165&lpg=PA165&dq=Laika+mars+target&source=bl&ots=38DO-5IhhC&sig=ACfU3U1zdC-LLobh-JaVTjsmyO2jPsGuEA&hl=en&sa=X&ved=2ahUKEwjikfaVk77pAhXPHLkGHQEeB4YQ6AEwDnoECAoQAQ#v=onepage&q=Laika%20mars%20target&f=false |título=Animals in Space: From Research Rockets to the Space Shuttle |ultimo=Chris Dubbs |ultimo2=Colin Burgess |editora=Science |ano=2007 |página=165 |lingua=inglês |acessodata=18 de maio de 2020}}</ref> Em diferentes países, [[Selo postal|selos postais]] foram criados com a imagem dela em comemoração ao seu voo. Marcas de chocolate e charutos foram nomeadas em sua memória, e uma grande coleção de souvenirs da cadela ainda são destaque em leilões atuais.<ref>{{Citar web |url=http://www.nlm.nih.gov/exhibition/animals/laika.html |titulo=Animals as Cold Warriors: Missiles, Medicine and Man's Best Friend |data=19 de junho de 2006 |acessodata=25 de abril de 2008 |publicado=National Library of Medicine |lingua=inglês}}</ref>
== Referências ==
* Dubbs, Chris. ''Space Dogs: Pioneers of Space Travel'', Writer's Showcase Press, 2003, ISBN 0-595-26735-1
* Gowortschin, G. G. ''Soviets in Space - An historical Survey'', Spaceflight, Mayo 1965
* Nicogossian, A., Mohler, S., Gazenko, Oleg. ''Space and Its Exploration''. American Institute of Aeronautics & Ast, 1993. ISBN 1-56347-061-6.
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Futuras missões espaciais carregando cães seriam projetadas para eles serem recuperados. Quatro outros cães morreram em missões espaciais soviéticas: [[Cães do programa espacial soviético#Bars e Lisichka|Bars e Lisichka]] foram mortos quando seu foguete R-7 explodiu logo após o lançamento, em 28 de julho de 1960;{{sfnp|Siddiqi|2000|p=252|ps=none}} [[Cães do programa espacial soviético#Pchelka e Mushka|Pchyolka e Mushka]] morreram quando o [[Korabl-Sputnik 3]] foi propositalmente destruído com uma carga explosiva para impedir que potências estrangeiras inspecionassem a cápsula após uma trajetória errática de reentrada atmosférica em 1 de dezembro de 1960.{{sfnp|Siddiqi|2000|p=259|ps=none}}
{{Referências|Notas|col=2}}

Embora nunca tenha sido mostrada, Laika é mencionada de maneira proeminente no filme de 1985 ''[[Mitt liv som hund]]'', no qual o personagem principal (um jovem garoto sueco no final da década de 1950) se identifica fortemente com a cadela.{{sfnp|Dickson|2009|p=144|ps=none}} ''Laika'', um [[romance gráfico]] de 2007 criado por Nick Abadzis que conta uma história ficcional da vida de Laika, ganhou o Prêmio Eisner de melhor publicação para adolescentes.<ref name="comicsalliance">{{Citar web |ultimo=Khouri |primeiro=Andy |url=http://comicsalliance.com/laika-happy-endings-nick-abadzis/ |titulo=Laika the Space Dog Survives in Alternate Happy Endings by Nick Abadzis |data=8 de agosto de 2011 |website=ComicsAlliance |mode=cs2}}</ref> Ela também é mencionada na música de 2004 "Neighborhood #2 (Laika)", de [[Arcade Fire]], incluída no seu álbum de estreia, ''[[Funeral (álbum)|Funeral]]''. ''Lajka'', um filme animado de comédia e ficção científica checo de 2017 também foi inspirado em Laika.<ref name="CSFD">{{Citar web |url=https://www.csfd.cz/film/296429-lajka/zajimavosti/?type=film |titulo=Lajka (2017) |acessodata=23 de fevereiro de 2018 |website=Czech and Slovak Film Database |lingua=checo}}</ref>


== Ver também ==
== Ver também ==
* [[Animais no espaço]]
* [[Cães do programa espacial soviético]]

== Referências ==
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{{Referências|nível=3|título=Citações}}

=== Bibliografia ===
{{InícioRef}}
*{{citation |título=Challenge to Apollo: The Soviet Union and the Space Race, 1945–1974 |primeiro =Asif. A. |último =Siddiqi |ano=2000 |publicado=NASA|língua=inglês}} SP-2000-4408. [https://history.nasa.gov/SP-4408pt1.pdf Parte 1 (páginas 1-500)], [https://history.nasa.gov/SP-4408pt2.pdf Parte 2 (páginas 501-1011)].
*{{citation |título=Sputnik: The Shock of the Century |primeiro =Paul |último =Dickson |publicado=Bloomsbury Publishing USA |ano=2009 |isbn=978-0-8027-1804-4 |url=https://books.google.com/books?id=ZhgFUyCOhHcC&pg=PA144|língua=inglês}}
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{{Tradução/ref|en|Laika|oldid=950909227}}

== Leitura adicional ==
*Angliss, Sarah e Uttley, Colin. [https://web.archive.org/web/20060614193101/http://spacedog.biz/gscfiles/gscgazscript.htm Science in the Dock: The man who trained the space dogs]. Acesso em 28 de janeiro de 2005.
*Dubbs, Chris e Burgess, Colin. Animals In Space: From Research Rockets to the Space Shuttle, 2007.


== Ligações externas ==
== Ligações externas ==
{{commonscat|Laika}}
{{Wikiquote}}{{Commons cat|Laika}}
* [http://www.mentallandscape.com/S_Sputnik.htm História das missões Sputnik]
* {{Link|pt|2=http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2008/04/11/ult1809u14977.jhtm |3=Russos fazem monumento à cadela Laika, primeiro ser vivo a ir ao espaço}}
* [https://web.archive.org/web/20060831060945/http://astronautix.com/craft/sputnik2.htm Sputnik 2 na Astronautix]
* {{Link|es|2=http://www.astroenlazador.com/article.php3?id_article=82|3=A história de Laika em astroenlazador.com}}
* {{Link|en|2=http://www.moscowanimals.org/laika/laika.html|3=A história de Laika em moscowanimals.com}}
* {{Link|en|2=http://news.bbc.co.uk/2/hi/sci/tech/2367681.stm|3=Informativo da BBC sobre a missão}}


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Edição atual tal como às 04h13min de 6 de novembro de 2023

 Nota: Para outros significados, veja Laika (desambiguação).
Laika

Em novembro de 1957, Laika se tornou o primeiro animal lançado na órbita da Terra, abrindo caminho para as viagens espaciais humanas nos anos seguintes. Esta fotografia mostra-a na cápsula do Sputnik 2.
Informações
Nome de nascimento Лайка
Espécie Canis lupus familiaris
Raça Vira-lata, possivelmente parcialmente husky (ou samoiedo) e parcialmente terrier
Sexo Fêmea
Nascimento c. 1954
Moscou, União Soviética
Morte 3 de novembro de 1957 (3 anos)
Sputnik 2, na órbita terrestre baixa
Ocupação Cosmonauta
Período de atividade 1957
Conhecido por ser o primeiro ser vivo a orbitar a Terra
Proprietário Programa espacial soviético
Peso 5 kg

Laika (em russo: Ла́йка; c.19543 de novembro de 1957) foi uma cadela espacial soviética que se tornou um dos primeiros animais a serem lançados no espaço e o primeiro deles a orbitar a Terra. Laika era uma cadela que vagava pelas ruas de Moscou, ela foi selecionada para ser a ocupante da nave espacial soviética Sputnik 2, que foi lançada ao espaço sideral em 3 de novembro de 1957.

Como na época da missão de Laika pouco se sabia sobre os efeitos que um voo espacial poderia ter sobre os seres vivos, e a tecnologia suborbital ainda não havia sido desenvolvida, não havia expectativa de que a cadela sobrevivesse. Alguns cientistas acreditavam que humanos não poderiam sobreviver ao lançamento ou às condições do espaço sideral, e, por isso, engenheiros viam os voos com animais como precursores necessários para as missões humanas. O experimento teve como objetivo demonstrar que um passageiro vivo poderia sobreviver sendo lançado em órbita e suportar um ambiente de microgravidade, abrindo caminho para os voos espaciais humanos e fornecendo aos cientistas alguns dos primeiros dados sobre como os organismos vivos reagem nestas condições. Depois de Laika, a União Soviética enviou mais doze cães para o espaço, dos quais cinco voltaram vivos à Terra.

Horas após o lançamento, Laika morreu por superaquecimento, possivelmente causado por uma falha que levou o motor central do foguete R-7 a não se separar de sua carga útil. A verdadeira causa e a hora de sua morte não foram divulgadas até 2002; em vez disso, foi amplamente divulgado que ela morreu no sexto dia de sua missão, quando seu oxigênio acabou, ou, como o governo soviético inicialmente alegou, que ela teria sido sacrificada antes do esgotamento do oxigênio.

Em 11 de abril de 2008 autoridades russas inauguraram um monumento a Laika, construído perto do centro de pesquisa militar em Moscou que preparou o seu voo para o espaço. Ele apresenta a figura de um cão em pé, em cima de um foguete. Laika também aparece no Monumento aos Conquistadores do Cosmos em Moscou.

Ver artigo principal: Sputnik 2

Após o sucesso do Sputnik-1, em outubro de 1957, o líder soviético Nikita Khrushchev solicitou o lançamento de uma segunda nave espacial em 7 de novembro de 1957, no aniversário de quarenta anos da Revolução de Outubro. Quando essa solicitação foi recebida, um satélite mais sofisticado já estava em construção, mas ele só estaria pronto em dezembro e, portanto, foi descartado; no entanto, este satélite mais tarde se tornaria o Sputnik 3.[1]

Para cumprir o prazo, uma nova nave precisaria ser construída. Khrushchev queria especificamente que seus engenheiros entregassem um "espetáculo espacial", uma missão que repetiria o triunfo do Sputnik-1 e deslumbrasse o mundo com os feitos soviéticos. Os responsáveis pela missão decidiram-se por um voo orbital com um cão. Desde longo tempo os engenheiros de foguetes soviéticos haviam planejado fazer orbitar um cão antes de avançar para um voo espacial humano; desde 1951 eles haviam lançado doze cães em voos balísticos suborbitais, trabalhando gradualmente em direção a uma missão orbital, possivelmente em algum momento de 1958. Para atender às demandas de Kruschev, o lançamento do voo orbital canino foi acelerado para novembro de 1957.[2]

Segundo fontes russas, a decisão oficial de lançar o Sputnik 2 foi tomada em 10 ou 12 de outubro, deixando menos de quatro semanas para projetar e construir a nave.[3] O Sputnik 2, portanto, em certa medida foi construído às pressas, com a maioria dos seus elementos sendo produzidos a partir de esboços. Além da missão principal de enviar um passageiro vivo ao espaço, a sonda também conteria instrumentos para medir a irradiação solar e os raios cósmicos.[1]

A nave foi equipada com um sistema de suporte à vida composto por um gerador de oxigênio e dispositivos para evitar envenenamento por oxigênio e absorver dióxido de carbono. Um ventilador, projetado para ativar sempre que a temperatura da cabine excedesse 15 ºC, foi adicionado para manter o animal refrescado. Comida suficiente (em forma de geleia) foi fornecida para um voo de sete dias, e Laika foi equipada com uma bolsa para coletar resíduos. Além disso, um arnês foi projetado para ser envergado por ela, acoplado a correntes que restringiam seus movimentos a sentar-se, permanecer em pé ou deitar-se, pois não havia espaço na cabine para que ela se virasse. Um eletrocardiograma monitorava a sua frequência cardíaca, e instrumentação adicional media sua frequência respiratória, pressão arterial máxima e e movimentos.[4][5]

Laika foi encontrada vagando pelas ruas de Moscou. Os cientistas soviéticos optaram por usar animais abandonados da cidade, pois supunham que eles já haviam desenvolvido a capacidade de suportar condições de frio e fome extremos.[2] Laika era uma fêmea vira-lata de cinco[6] ou seis quilogramas,[2] com aproximadamente três anos de idade.[6] Os funcionários soviéticos lhe deram vários nomes e apelidos, entre eles Kudriavka (encaracoladinha), Jutchka (bichinho) e Limontchik (limãozinho). Laika, o nome russo para várias raças de cães semelhantes ao husky, foi o nome que se popularizou em todo o mundo. A imprensa americana a apelidou de Muttnik (vira-lata, em inglês, junto com o sufixo -nik) como um trocadilho com o Programa Sputnik,[7] ou se referia a ela como Curly (encaracolada).[8] Sua raça é desconhecida, embora seja geralmente aceito que ela era parte husky ou outra raça nórdica e possivelmente parte terrier.[2] A NASA se refere a Laika como um "terrier parcialmente samoieda".[9] Uma revista russa descreveu seu temperamento como fleumático, dizendo que ela não brigava com outros cães.[6]

A União Soviética e os Estados Unidos já haviam enviado animais vivos em voos suborbitais.[10] Três cães foram treinados para embarcar no Sputnik 2: Albina, Mushka e Laika.[11] Os cientistas soviéticos Vladimir Yazdovsky e Oleg Gazenko, especializados em vida no espaço, treinaram os cães.[12]

Para adaptar os cães à pequena cabine do Sputnik 2, eles foram mantidos em gaiolas progressivamente menores por períodos de até vinte dias. O extenso confinamento fez com que parassem de urinar e defecar, os tornou inquietos e fez com que sua condição geral se deteriorasse. O uso de laxantes não melhorou a condição dos animais, e os pesquisadores descobriram que esse treinamento apenas se mostrava eficaz após longos períodos. Os cães foram colocados em centrífugas, que simulavam a aceleração do lançamento de foguetes, e em máquinas que simulavam os ruídos da nave. Isso fez com que seus impulsos cardíacos dobrassem e sua pressão arterial aumentasse de 30 a 60 Torr. Os cães também foram treinados para comer um gel especial de alta nutrição, que seria sua comida no espaço.[5]

Antes do lançamento, Yazdovsky levou Laika para casa, para brincar com seus filhos. Em um livro que conta a história da medicina espacial soviética, ele escreveu: "Laika era quieta e encantadora [...] eu queria fazer algo de bom para ela: ela tinha tão pouco tempo de vida".[13]

Preparativos antes do voo

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O traje espacial experimental usado por Laika. Está exibido no Museu Memorial da Cosmonáutica em Moscou

Vladimir Yazdovsky fez a seleção final dos cães e designou as funções que cada um desempenharia. Laika seria o "cão de voo" – um sacrifício à ciência em uma missão apenas de ida ao espaço.[14] Albina, que já havia voado duas vezes em um foguete de teste de alta altitude, atuaria como a substituta de Laika. O terceiro cão, Mushka, seria uma "cadela de controle" – ela permaneceria na Terra e seria usada para testar a instrumentação e o sistema de suporte à vida.[5][10]

Antes de partirem para o Cosmódromo de Baikonur, Yazdovsky e Gazenko realizaram uma cirurgia nos cães, para conectar os cabos do transmissor aos sensores que mediam a sua respiração, pulso e pressão sanguínea.[15]

Como a pista de pouso existente em Tyuratam, perto do cosmódromo, era pequena, os cães e a equipe tiveram que voar a bordo de um avião Tu-104 para Tashkent. De lá, um avião Ilyushin Il-14, menor e mais leve, os levou para Tyuratam. O treinamento dos cães continuou na chegada; um após o outro, eles foram colocados nas cápsulas para se familiarizarem com o sistema de alimentação.[14]

Segundo um documento da NASA, Laika foi colocada na cápsula da nave em 31 de outubro de 1957, três dias antes do início da missão.[5] Naquela época do ano as temperaturas no local de lançamento eram extremamente baixas e uma mangueira conectada a um aquecedor era usada para manter a cabine aquecida. Dois assistentes foram designados para monitorar constantemente Laika antes do lançamento. Pouco antes da decolagem, em 3 de novembro, seu pelo foi limpo com uma solução a base de etanol e cuidadosamente escovado, e iodo foi aplicado nas áreas em que ela levava os sensores que monitorariam suas funções corporais.[16]

Um dos técnicos que preparava a cápsula antes da decolagem final declarou que "depois de colocar Laika na cápsula, e antes de fechar a escotilha, beijamos seu nariz e lhe desejamos boa viagem, sabendo que ela não sobreviveria ao voo".[14]

A hora exata do lançamento varia, de acordo com diferentes fontes, mas ocorreu entre 5h30min42 e 7h22min, no horário de Moscou.[14] No pico da aceleração após a decolagem, a respiração de Laika aumentou para três a quatro vezes a taxa de pré-lançamento.[5] Os sensores mostraram que sua frequência cardíaca era de 103 batimentos por minuto antes do lançamento e aumentou para 240 batimentos por minuto durante a aceleração inicial. Após atingir a órbita, a ponta cônica do Sputnik 2 foi descartada com sucesso; no entanto, o núcleo do "Bloco A" não se separou conforme planejado, impedindo o funcionamento correto do sistema de controle térmico. Parte do isolamento térmico se soltou, elevando a temperatura da cabine para 40 °C.[9] A taxa de pulso de Laika retornou para 102 batimentos por minuto após três horas de microgravidade,[17] tempo três vezes maior que aquele identificado em testes anteriores e que serviu como indicação do estresse que a cadela estava sofrendo. A telemetria inicial indicou que ela estava agitada, mas estava se alimentando.[9] Após aproximadamente cinco a sete horas de voo, sinais de vida deixaram de ser recebidos da nave.[5]

Os cientistas soviéticos planejavam sacrificar Laika com uma porção de comida envenenada. Por muitos anos, a União Soviética deu declarações conflitantes de que ela havia morrido de asfixia[18] quando as baterias falharam, ou que ela havia sido sacrificada. Muitos rumores circularam sobre a maneira exata de sua morte. Em 1999 várias fontes russas relataram que Laika morreu quando a cabine superaqueceu, em sua quarta órbita.[3] Em outubro de 2002 o cientista Dimitri Malashenkov, que participou do lançamento do Sputnik 2, revelou que Laika morreu de cinco a sete horas após a decolagem, devido ao estresse e ao superaquecimento. De acordo com um artigo que ele apresentou ao Congresso Espacial Mundial em Houston, nos Estados Unidos, "era praticamente impossível criar um controle de temperatura confiável em tão pouco tempo".[4]

Mais de cinco meses depois, após 2,57 mil órbitas, o Sputnik 2, incluindo os restos de Laika, se desintegrou durante sua reentrada na atmosfera, em 14 de abril de 1958.[19]

Ética dos testes em animais

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Devido à questão sombria da corrida espacial entre os Estados Unidos e a União Soviética, as questões éticas levantadas por esse experimento praticamente não foram atendidas por algum tempo. A imprensa de 1957 estava mais preocupada em relatar o impacto de um ponto de vista político, enquanto a saúde e a recuperação de Laika - ou ausência - se tornaram apenas um problema menor.[20]

O Sputnik 2 não foi projetado para ser recuperável e sempre se teve o conhecimento de que Laika morreria.[3] A missão desencadeou um debate global sobre abuso e testes com animais em geral para promover a ciência.[12] No Reino Unido, a Liga Nacional de Defesa Canina pediu a todos os donos de cães que observassem um minuto de silêncio, enquanto a Sociedade Real para a Prevenção da Crueldade contra Animais (RSPCA) recebeu protestos antes mesmo da Rádio Moscou terminar de anunciar o lançamento. Grupos de direitos dos animais da época pediram aos membros da sociedade que protestassem nas embaixadas soviéticas.[21] Outros se manifestaram em frente às Nações Unidas em Nova Iorque.[12] Esses protestos foram amplamente despertados e instrumentalizados como uma luta ideológica por vários grupos de interesse.[22] Pesquisadores de laboratório nos Estados Unidos ofereceram apoio aos soviéticos, pelo menos antes da notícia da morte de Laika.[12][23]

Na União Soviética, houve menos controvérsia. Nem a mídia, nem os livros dos anos seguintes, nem o público questionaram abertamente a decisão de enviar um cão ao espaço. Somente em 1998, após o colapso do regime soviético, Oleg Gazenko, um dos cientistas responsáveis pelo envio de Laika, se arrependeu de ter permitido que ela morresse: "Trabalhar com animais é uma fonte de sofrimento para todos nós. Nós os tratamos como bebês que não conseguem falar. Quanto mais o tempo passa, mais sinto muito. Não deveríamos ter feito isso ... Não aprendemos o suficiente desta missão para justificar a morte da cadela".[12][23]

Em outros países do Pacto de Varsóvia, as críticas abertas ao programa espacial soviético foram difíceis por causa da censura política, mas houve casos notáveis de críticas nos círculos científicos poloneses. Um periódico científico polonês, "Kto, Kiedy, Dlaczego" ("Quem, quando, por que"), publicado em 1958, discutiu a missão do Sputnik 2. Na seção do periódico dedicada à astronáutica, Krzysztof Boruń descreveu a missão do Sputnik 2 como "lamentável" e criticou não trazer Laika de volta à Terra como "indubitavelmente uma grande perda para a ciência".[24]

Selo romeno de 1959 com Laika. A legenda diz "Laika, primeira viajante do cosmos".

Laika foi lembrada na forma de uma estátua e placa na Cidade das Estrelas, na Rússia, que era a instalação de treinamento de cosmonautas russos.[25] Levantada em 1997, a escultura mostra Laika atrás dos cosmonautas com os ouvidos eretos.[25] O Monumento aos Conquistadores do Cosmos, construído em 1964, também a inclui.[26] Em 11 de abril de 2008,[27] nas instalações de pesquisa militar onde os funcionários haviam sido responsáveis pela preparação de Laika para o voo, as autoridades revelaram um monumento dela em cima de um foguete espacial.[28] Em 9 de março de 2005, um pedaço de terreno em Marte foi chamado "Laika" de forma não-oficial pelos controladores da missão Mars Exploration Rover.[29] Em diferentes países, selos postais foram criados com a imagem dela em comemoração ao seu voo. Marcas de chocolate e charutos foram nomeadas em sua memória, e uma grande coleção de souvenirs da cadela ainda são destaque em leilões atuais.[30]

Futuras missões espaciais carregando cães seriam projetadas para eles serem recuperados. Quatro outros cães morreram em missões espaciais soviéticas: Bars e Lisichka foram mortos quando seu foguete R-7 explodiu logo após o lançamento, em 28 de julho de 1960;[31] Pchyolka e Mushka morreram quando o Korabl-Sputnik 3 foi propositalmente destruído com uma carga explosiva para impedir que potências estrangeiras inspecionassem a cápsula após uma trajetória errática de reentrada atmosférica em 1 de dezembro de 1960.[32]

Embora nunca tenha sido mostrada, Laika é mencionada de maneira proeminente no filme de 1985 Mitt liv som hund, no qual o personagem principal (um jovem garoto sueco no final da década de 1950) se identifica fortemente com a cadela.[33] Laika, um romance gráfico de 2007 criado por Nick Abadzis que conta uma história ficcional da vida de Laika, ganhou o Prêmio Eisner de melhor publicação para adolescentes.[34] Ela também é mencionada na música de 2004 "Neighborhood #2 (Laika)", de Arcade Fire, incluída no seu álbum de estreia, Funeral. Lajka, um filme animado de comédia e ficção científica checo de 2017 também foi inspirado em Laika.[35]

Citações

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  34. Khouri, Andy (8 de agosto de 2011), «Laika the Space Dog Survives in Alternate Happy Endings by Nick Abadzis», ComicsAlliance 
  35. «Lajka (2017)». Czech and Slovak Film Database (em checo). Consultado em 23 de fevereiro de 2018 
  • Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Laika», especificamente desta versão.

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