Consciência: diferenças entre revisões
Desfeita a edição 68029848 de Xnunolibx Acréscimo de informação não referenciada; inserção de opinião pessoal sobre o artigo. Etiqueta: Desfazer |
+ ampliação Etiqueta: Inserção de predefinição obsoleta |
||
Linha 1: | Linha 1: | ||
{{Ver desambig| |
{{Ver desambig|não_confundir=[[Conscienciosidade]] ou [[Consciência (moral)]]|outros significados|Consciência (desambiguação)}}[[Ficheiro:RobertFuddBewusstsein17Jh.png|thumb|Representação gráfica de consciência do século XVII.]] |
||
{{mais fontes|data=abril de 2010}} |
|||
[[Ficheiro:RobertFuddBewusstsein17Jh.png|thumb|Representação gráfica de consciência do século XVII.]] |
|||
A '''consciência''' ou '''consciez''' é uma qualidade da [[mente]], considerando abranger qualificações tais como [[subjetividade]], [[autoconsciência]], [[senciência]], [[sapiência]], e a capacidade de perceber a relação entre si e um ambiente. É um assunto muito pesquisado na [[filosofia da mente]], na [[psicologia]], [[neurologia]] e [[ciência cognitiva]]. |
|||
'''Consciência''', na sua forma mais simples, é a consciência da existência interna e [[Realidade|externa]].<ref name="consciousness">{{Citar enciclopédia|url=http://www.merriam-webster.com/dictionary/consciousness|titulo=consciousness|acessodata=4 de junho de 2012}}</ref> No entanto, a sua natureza levou a milênios de análises, explicações e debates por parte de [[Filosofia|filósofos]], [[teólogos]] e [[cientistas]]. As opiniões divergem sobre o que exatamente precisa ser estudado ou mesmo considerado como "consciência". |
|||
Alguns filósofos dividem consciência em consciência fenomenal, que é a experiência propriamente dita, e consciência de acesso, que é o processamento das coisas que vivenciamos durante a experiência (Block, 2004). Consciência fenomenal é o estado de estar ciente, tal como quando dizemos "estou ciente" e consciência de acesso se refere a estar ciente de algo ou alguma coisa, tal como quando dizemos "estou ciente destas palavras". |
|||
<!-- Os seguintes artigos discutem várias formas de consciência de acesso: A consciência, autoconsciência, Consciência, Córrego de consciência, consciência de classe, phenomenology do Husserl e Intentionality. Consciência fenomenal proximamente é relacionada a consciência de criatura e para sentience. //--> |
|||
Consciência é uma qualidade psíquica, isto é, que pertence à esfera da [[psique]] humana, por isso diz-se também que ela é um atributo do espírito, da [[mente]], ou do pensamento humano. Ser consciente não é exatamente a mesma coisa que perceber-se no mundo, mas ser no mundo e do mundo, para isso, a [[intuição]], a [[dedução]] e a [[indução]] tomam parte. |
|||
Em algumas explicações, o termo é sinônimo de [[mente]] e, em outras ocasiões, de um aspecto da mente. No passado, era a “vida interior”, o mundo da [[introspecção]], do [[pensamento]] privado, da [[imaginação]] e da [[volição]].<ref name="JJ90">{{Citar livro|título=The Origin of Consciousness in the Breakdown of the Bicameral Mind|ultimo=Jaynes|primeiro=Julian|editora=Houghton Mifflin|ano=2000|isbn=0-618-05707-2|autorlink=Julian Jaynes|anooriginal=1976}}</ref> Atualmente, muitas vezes inclui qualquer tipo de [[cognição]], [[Experiência (filosofia)|experiência]], [[sentimento]] ou [[percepção]]. Pode ser consciência da consciência, [[metacognição]] ou [[autoconsciência]], mudando continuamente ou não.<ref name="Rochat 2003 717–731">{{Citar periódico |url=http://psychology.emory.edu/cognition/rochat/Five%20levels%20.pdf |título=Five levels of self-awareness as they unfold early in life |periódico=Consciousness and Cognition |número=4 |ultimo=Rochat |primeiro=Philippe |ano=2003 |paginas=717–731 |doi=10.1016/s1053-8100(03)00081-3 |pmid=14656513 |arquivourl=https://ghostarchive.org/archive/20221009/http://psychology.emory.edu/cognition/rochat/Five%20levels%20.pdf |arquivodata=2022-10-09 |volume=12}}</ref><ref name="Guertin 2019 406-412">{{Citar periódico |url=https://jcer.com/index.php/jcj/article/view/829/825 |título=A novel concept introducing the idea of continuously changing levels of consciousness |acessodata=2021-08-19 |periódico=Journal of Consciousness Exploration & Research |número=6 |ultimo=P.A. Guertin |ano=2019 |paginas=406–412 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20211215112848/https://jcer.com/index.php/jcj/article/view/829/825 |arquivodata=2021-12-15 |volume=10}}</ref> A diversidade de pesquisas, noções e especulações desperta a curiosidade sobre se as perguntas certas estão sendo feitas sobre esse tema.<ref name="Hacker2012">{{Citar periódico |url=http://info.sjc.ox.ac.uk/scr/hacker/docs/ConsciousnessAChallenge.pdf |título=The Sad and Sorry History of Consciousness: being, among other things, a challenge to the "consciousness-studies community" |data=2012 |periódico=Royal Institute of Philosophy |ultimo=Hacker |primeiro=P.M.S. |autorlink=Peter Hacker |arquivourl=https://ghostarchive.org/archive/20221009/http://info.sjc.ox.ac.uk/scr/hacker/docs/ConsciousnessAChallenge.pdf |arquivodata=2022-10-09 |volume=supplementary volume 70}}</ref> |
|||
==Etimologia== |
|||
"Consciência" vem do termo [[Latim|latino]] ''conscientia'', de ''consciens'', [[particípio presente]] de ''conscire'' = estar ciente (''cum'' = ''com'', partícula de intensidade e ''scire'' = sei).<ref name="bonomi">[http://www.etimo.it/?term=coscienza Vocabolario ''Etimologico della Lingua Italiana'', Francesco Bonomi]</ref> Também encontramos uma possível raiz formada de junção de duas palavras do latim; ''conscius+sciens'': ''conscius'' (que sabe bem o que deve fazer) e ''sciens'' (conhecimento que se obtém através de leituras; de estudos; instrução e erudição).<ref>{{citar livro|título = Dicionario da Língua Portuguesa|sobrenome = C. L. SANTOS|nome = WELLINGTON|edição = Editora Nova Cultural|local = São Paulo-SP|editora = Nova Cultural|ano = 1992|página = 220;262|isbn = 85-85222-23-9}}</ref> |
|||
Exemplos da ampla gama de descrições, definições ou explicações são: distinção ordenada entre o [[Eu (psicologia)|eu]] e o ambiente, a simples [[Acordar|vigília]], o senso de [[Si mesmo|individualidade]] ou [[alma]] explorado pelo "[[Fenomenologia|olhar para dentro]]"; sendo um "[[Fluxo de consciência (psicologia)|fluxo]]" metafórico de conteúdos, ou sendo um [[estado mental]], [[evento mental]] ou [[Cognição|processo mental]] do cérebro. |
|||
==Consciência - função alta da mente== |
|||
== Etimologia == |
|||
Duas abordagens comuns à consciência são aqueles que (1) adotam o "modelo de bloco de construção" do tipo "[[LEGO]]", segundo a qual qualquer campo consciente é feita de [[Correlato neural da consciência|suas diversas partes]], e o (2) "modelo do campo unificado", segundo o qual devemos tentar explicar o caráter unificado de estados subjetivos de consciência. |
|||
As palavras "consciente" e "consciência" derivam do [[latim]] ''conscius'' (''con-'' “juntos” e [[wiktionary:scio|''scio'']] “conhecer”) que significava “conhecer com” ou “ter [[conhecimento]] conjunto ou comum com outro”, especialmente no que diz respeito a compartilhar um segredo.<ref>{{Citar livro|título=Studies in words|ultimo=C. S. Lewis|editora=Cambridge University Press|ano=1990|capitulo=Ch. 8: Conscience and conscious|isbn=978-0-521-39831-2|autorlink=C. S. Lewis}}</ref> [[Thomas Hobbes]] em ''[[Leviatã (livro)|Leviathan]]'' (1651) escreveu: "Onde dois ou mais homens conhecem um e o mesmo fato, diz-se que estão conscientes dele um para o outro."<ref>{{Citar livro|url=https://archive.org/details/leviathan00hobbgoog|título=Leviathan: or, The Matter, Forme & Power of a Commonwealth, Ecclesiasticall and Civill|ultimo=Thomas Hobbes|editora=University Press|ano=1904|isbn=9783932392382|autorlink=Thomas Hobbes}}</ref> Houve também muitas ocorrências nos escritos latinos da frase ''conscius sibi'', que se traduz literalmente como "conhecer consigo mesmo", ou em outras palavras, "compartilhar conhecimento consigo mesmo sobre algo".<ref>{{Citar livro|título=The whole works, Volume 2|ultimo=[[James Ussher]], Charles Richard Elrington|editora=Hodges and Smith|ano=1613}}</ref> |
|||
O latim ''[[:la:conscientia|conscientia]]'', literalmente 'conhecimento com', aparece pela primeira vez em textos jurídicos [[Roma Antiga|romanos]] de escritores como [[Cícero]]. Significa um tipo de conhecimento partilhado com valor [[moral]], especificamente o que uma testemunha sabe dos actos de outra pessoa.<ref>{{Citar livro|url=https://archive.org/details/dictionaryofuntr0000unse/page/176|título=Dictionary of Untranslatables. A Philosophical Lexicon|ultimo=Barbara Cassin|editora=Princeton University Press|ano=2014|isbn=978-0-691-13870-1}}</ref><ref>{{Citar periódico |título=Seneca's Use of the Term Conscientia |periódico=Mnemosyne |número=2 |ultimo=G. Molenaar |ano=1969 |paginas=170–180 |doi=10.1163/156852569x00670 |volume=22}}</ref> Embora [[René Descartes]] (1596-1650), escrevendo em latim, seja geralmente considerado o primeiro filósofo a usar ''conscientia'' de uma forma menos parecida com o significado tradicional e mais parecida com a forma moderna usada para o "consciência", seu significado e definição não estão em lugar nenhum.<ref name="Hennig">{{Citar periódico |título=Cartesian Conscientia |periódico=British Journal for the History of Philosophy |número=3 |ultimo=Boris Hennig |ano=2007 |paginas=455–484 |doi=10.1080/09608780701444915 |volume=15}}</ref> Em ''{{Lang|la|Regulæ ad directionem ingenii ut et inquisitio veritatis per lumen naturale}}'', Amsterdã 1701) ele escreveu a palavra ''conscientiâ, vel interno testimonio'' (traduzível como "consciência, ou testemunho interno").<ref>Charles Adam, [[Paul Tannery]] (eds.), ''Oeuvres de Descartes'' X, [https://archive.org/stream/oeuvresdedescar10desc#page/524/mode/2up 524] (1908).</ref><ref>{{Citar livro|título=Consciousness: from perception to reflection in the history of philosophy|editora=Springer|ano=2007|editor-sobrenome=Sara Heinämaa|páginas=205–206|isbn=978-1-4020-6081-6|editor-sobrenome2=Vili Lähteenmäki|editor-sobrenome3=Pauliina Remes}}</ref> Pode significar o conhecimento do valor dos próprios pensamentos.<ref name="Hennig" /> |
|||
=== Modelo de bloco de construção === |
|||
[[Ficheiro:JohnLocke.png|miniaturadaimagem| [[John Locke]], um filósofo britânico do século XVII do [[Iluminismo]]]] |
|||
Função mental de perscrutar o mundo, conforme afirma [[Steven Pinker]], a consciência é a faculdade de segundo momento – ninguém pode ter consciência de alguma coisa (objeto, processo ou situação) no primeiro contato com essa coisa; no máximo se pode referenciá-la com algum registro próximo, o que permite afirmar que a coisa é parecida com essa ou com aquela outra coisa, de domínio. |
|||
A origem do conceito moderno de consciência é frequentemente atribuída a [[John Locke]] que definiu a palavra em sua obra ''[[Ensaio acerca do Entendimento Humano]]'', publicada em 1690, como “a percepção do que se passa na própria mente de um homem”.<ref>{{Citar web|ultimo=Locke|primeiro=John|url=https://ebooks.adelaide.edu.au/l/locke/john/l81u/B2.27.html|titulo=An Essay Concerning Human Understanding (Chapter XXVII)|acessodata=20 de agosto de 2010|publicado=Universidade de Adelaide|local=Australia|arquivourl=https://web.archive.org/web/20180508053707/https://ebooks.adelaide.edu.au/l/locke/john/l81u/B2.27.html|arquivodata=8 de maio de 2018|urlmorta=dead}}</ref><ref>{{Citar enciclopédia|url=https://www.britannica.com/EBchecked/topic/133274/consciousness|titulo=Science & Technology: consciousness|acessodata=20 de agosto de 2010|enciclopédia=Encyclopædia Britannica}}</ref> O ensaio influenciou fortemente a filosofia britânica do século XVIII e a definição de Locke apareceu no célebre ''[[Um Dicionário da Língua Inglesa]]'' de [[Samuel Johnson]] (1755).<ref>{{Citar livro|url=https://archive.org/details/dictionaryofengl01john|título=A Dictionary of the English Language|ultimo=Samuel Johnson|editora=Knapton|ano=1756|autorlink=Samuel Johnson}}</ref> |
|||
A consciência, provavelmente, é a estrutura mais complexa que se pode imaginar atualmente. |
|||
O termo francês ''conscience'' é definidono volume de 1753 da ''[[Encyclopédie]]'' de [[Denis Diderot|Diderot]] e [[Jean le Rond d'Alembert|d'Alembert]] como "a opinião ou sentimento interno que nós mesmos temos a partir do que fazemos".<ref>Jaucourt, Louis, chevalier de. "Consciousness." The Encyclopedia of Diderot & d'Alembert Collaborative Translation Project. Translated by Scott St. Louis. Ann Arbor: Michigan Publishing, University of Michigan Library, 2014. [http://hdl.handle.net/2027/spo.did2222.0002.986. Originally published as "Conscience," Encyclopédie ou Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers], 3:902 (Paris, 1753).</ref> |
|||
[[António Damásio]], em ''O Mistério da consciência'', divide a consciência em dois tipos: [[consciência central]] e [[consciência ampliada]]. Inspirados na tese damasiana, entende-se que a faculdade em pauta é constituída com uma espécie de anatomia, que pode ser dividida, didaticamente, em três partes: |
|||
== Problema da definição == |
|||
#dimensão fonte - onde as coisas acontecem de fato, o aqui agora: o meu ato de escrever e dominar o ambiente e os equipamentos dos quais faço uso, o ato do internauta de ler, compreender a leitura e o ambiente que o envolve a todo os instantes etc. Essa dimensão da consciência não retrocede muito ao passado e, da mesma forma, não avança para o futuro; ela se limita a registrar os atos presentes, com um [[espaço-tempo]] (passado/futuro) suficiente para que os momentos (presentes) tenham continuidade. |
|||
{{Caixa de citação |
|||
#dimensão processual - amplitude de sistema que abriga expectativas, perspectivas, planos e qualquer registros mental em aberto; aquelas questões que causam ruídos e impulsionam o ser humano à busca de soluções. Essa amplitude de consciência permite observar questões do passado e investigar também um pouco do futuro. |
|||
| citação = Cerca de quarenta significados atribuídos ao termo “consciência” podem ser identificados e categorizados com base em “funções” e “experiências”. As perspectivas de alcançar qualquer definição de consciência única, acordada e independente da teoria parecem remotas.<ref>{{cite journal | last1 = Vimal | first1 = RLP | last2 = Sansthana | first2 = DA | year = 2010 | title = On the Quest of Defining Consciousness | url = http://sites.google.com/site/rlpvimal/Home/2010-Vimal-DefineC-LVCR-3-2.pdf | journal = Mind and Matter | volume = 8 | issue = 1| pages = 93–121 }}{{Dead link|date=Janeiro de 2024}}</ref> |
|||
#dimensão ampla - região de sistema que, sem ser um dispositivo de memória, alberga os conhecimentos e experiências que uma pessoa incorpora na existência. Todo os conhecimentos do passado e experimentações pela qual o ser atravessou na vida: uma antiga profissão que não se tem mais qualquer habilidade para exercer, guarda registros importantes que servirão como experiência em outras práticas. Qual dimensão processual, esse amplitude da consciência permite examinar o passado e avançar no futuro - tudo dentro de limites impostos pelo próprio desenvolvimento mental do indivíduo. |
|||
| autor = |
|||
| posição = right |
|||
| largura = 25% |
|||
| posição-autor = right |
|||
| citado = true |
|||
}} |
|||
Os estudiosos estão divididos quanto à questão de saber se [[Aristóteles]] tinha um conceito de consciência. Ele não usa nenhuma palavra ou [[terminologia]] que seja claramente semelhante ao [[Fenómeno|fenômeno]] ou [[conceito]] definido por [[John Locke]]. [[Victor Caston]] afirma que Aristóteles tinha um conceito mais claramente semelhante à [[Percepção|consciência perceptiva]].<ref name="caston02">{{Citar livro|url=http://ancphil.lsa.umich.edu/-/downloads/faculty/caston/aristotle-consciousness.pdf|título=Mind|ultimo=Caston|primeiro=Victor|data=2002|editora=Oxford University Press|capitulo=Aristotle on Consciousness|arquivourl=https://ghostarchive.org/archive/20221009/http://ancphil.lsa.umich.edu/-/downloads/faculty/caston/aristotle-consciousness.pdf|arquivodata=2022-10-09}}</ref> |
|||
As definições modernas da palavra nos dicionários evoluíram ao longo de vários séculos e refletem uma série de significados aparentemente relacionados, com algumas diferenças que têm sido controversas, como a distinção entre 'consciência interior' e 'percepção' do mundo físico, ou a distinção entre 'consciente' e 'inconsciente', ou a noção de uma "entidade mental" ou "atividade mental" que não é física. O Cambridge Dictionary define consciência como "''o estado de compreensão e realização de algo".''<ref>{{Citar web|url=https://dictionary.cambridge.org/dictionary/english/consciousness|titulo=CONSCIOUSNESS – meaning in the Cambridge English Dictionary|acessodata=2018-10-23|website=dictionary.cambridge.org|arquivourl=https://web.archive.org/web/20210307210954/https://dictionary.cambridge.org/dictionary/english/consciousness|arquivodata=2021-03-07|urlmorta=live}}</ref> O Oxford Living Dictionary define consciência como "o ''estado de estar consciente e responsivo ao ambiente''", "''a consciência ou percepção de algo por uma pessoa''" e "''a consciência de si mesma e do mundo pela mente''".<ref>{{Citar web|url=https://en.oxforddictionaries.com/definition/consciousness|titulo=consciousness – Definition of consciousness in English by Oxford Dictionaries|website=Oxford Dictionaries – English|arquivourl=https://web.archive.org/web/20160925102008/https://en.oxforddictionaries.com/definition/consciousness|arquivodata=25 de setembro de 2016|urlmorta=dead}}</ref> |
|||
Além da anatomia de constituição, listada acima, a consciência humana também guarda alguns estados: |
|||
Filósofos tentaram esclarecer as distinções técnicas usando um [[jargão]] próprio. Por exemplo, em 1998, a ''Enciclopédia de Filosofia Routledge'' define a consciência da seguinte forma: |
|||
Condições de consciência (vigília normal, vigília alterada e sono com sonhos), modos de consciência (passivo, ativo e ausente) e focos de consciência (central, periférico e distante). |
|||
{{Quote|'''Consciência'''—Os filósofos usaram o termo 'consciência' para quatro tópicos principais: conhecimento em geral, intencionalidade, introspecção (e o conhecimento que ela gera especificamente) e experiência fenomenal... Algo dentro da mente de alguém é 'introspectivamente consciente' apenas no caso de alguém introspectá-lo (ou estar preparado para fazê-lo). Muitas vezes acredita-se que a introspecção fornece o conhecimento primário da vida mental. Uma experiência ou outra entidade mental é “fenomenalmente consciente” apenas no caso de haver “algo como” para alguém tê-la. Os exemplos mais claros são: experiência perceptiva, como degustações e visitas; experiências corporais sensacionais, como dores, cócegas e coceiras; experiências imaginativas, como as das próprias ações ou percepções; e fluxos de pensamento, como na experiência de pensar “em palavras” ou “em imagens”. A introspecção e a fenomenalidade parecem independentes ou dissociáveis, embora isto seja controverso.<ref name=Craig>{{cite book |author=Edward Craig |title=Routledge Encyclopedia of Philosophy |publisher=Routledge |chapter=Consciousness |year=1998 |isbn=978-0-415-18707-7|author-link=Edward Craig (philosopher) }}</ref>}} |
|||
=== |
=== Metáforas tradicionais para 'mente' === |
||
Durante o início de 1800, a [[geologia]] estava descobrindo camadas enterradas de história na [[crosta terrestre]], inspirando uma [[metáfora]] popular de que a mente também havia escondido "camadas que registravam o passado do indivíduo".{{Referências múltiplas|JJ76|p=3}}Em 1875, a maioria dos psicólogos acreditava que "a consciência era apenas uma pequena parte da vida mental"{{Referências múltiplas|JJ76|p=3}} e essa ideia está subjacente ao objetivo da [[Psicanálise|terapia freudiana]], de expor a {{Em|camada inconsciente}} da mente. |
|||
Em 1892, [[William James]] observou que a "palavra ambígua 'conteúdo' foi recentemente inventada em vez de 'objeto'" e que a metáfora da mente como um {{Em|recipiente}} parecia minimizar o problema dualista de como "estados de consciência podem {{Em|reconhecer}}" as coisas, ou objetos;{{Referências múltiplas|WJames92|p=465}} em 1899, os psicólogos estavam ocupados estudando o "conteúdo da experiência consciente por meio da [[introspecção]] e da [[Experimentação|experiência]]".<ref name=Thomas67 />{{Rp|365}} Outra metáfora popular foi a "doutrina do" [[Fluxo de consciência (psicologia)|fluxo de consciência]]" de James, com sua continuidade, suas "franjas e transições"".{{Referências múltiplas|WJames92|p=vii}} Ele discutiu as dificuldades de descrever e estudar fenômenos psicológicos, reconhecendo que a terminologia comumente usada era um ponto de partida necessário e aceitável para uma linguagem mais precisa e cientificamente justificada. Os principais exemplos foram frases como “experiência interior” e “consciência pessoal”: |
|||
O modelo do campo unificado é defendido pelo filósofo [[John Searle]] |
|||
{{Quote|O primeiro e mais importante fato concreto que cada um afirmará pertencer à sua experiência interior é o fato de que {{em|algum tipo de consciência continua. 'Estados de espírito' se sucedem nele.}} [...] Mas todos sabem o que os termos significam [apenas] de uma forma aproximada; [...] Quando digo {{em|todo 'estado' ou 'pensamento' faz parte de uma consciência pessoal,}} 'consciência pessoal' é um dos termos em questão. Conhecemos seu significado enquanto ninguém nos pede para defini-lo, mas dar-lhe um relato preciso é a mais difícil das tarefas filosóficas. [...] Os únicos estados de consciência com os quais lidamos naturalmente são encontrados nas consciências pessoais, mentes, eus, eus e vocês particulares concretos.<ref name=WJames92/>{{rp|152-153}}}} |
|||
== Consciência, autoconsciência e autoconhecimento == |
|||
Manfred Frank (em "Self-consciousness and Self-knowledge", ver bibliografia abaixo) apresenta a relação entre consciência, [[autoconsciência]] e [[autoconhecimento]] da seguinte maneira: |
|||
=== Da introspecção à consciência === |
|||
#Consciência pressupõe autoconsciência. Não há como alguém estar consciente de alguma coisa sem estar consciente de estar consciente dessa coisa. |
|||
Na filosofia antes do século XX, a consciência como fenômeno era o 'mundo interior' da 'própria mente' e [[Introspecção|a introspecção]] era a mente "atentando" a si mesma,<ref name=Landesman67>{{cite encyclopedia |last1=Landesman |first1=Charles Jr. |editor1-last=Edwards |editor1-first=Paul |encyclopedia=The Encyclopedia of Philosophy |contribution=Consciousness |volume= 2|date=1967 |publisher=Macmillan, Inc. |pages=191–195 |edition=Reprint 1972 }}</ref>{{rp|191–192}} uma atividade aparentemente distinta daquela de perceber o 'mundo exterior' e seus fenômenos físicos. Em 1892, [[William James]] notou a distinção juntamente com dúvidas sobre o caráter “interior” da mente: |
|||
#A autoconsciência é pré-reflexiva. Se a autoconsciência fosse o resultado da [[reflexão]], então só teríamos autoconsciência após termos consciência de alguma coisa que fosse dada à reflexão. Mas isso não pode ser o caso, pois, como dissemos antes, consciência pressupõe autoconsciência. Logo, a autoconsciência é anterior à reflexão. |
|||
{{Quote|“Coisas” foram postas em dúvida, mas pensamentos e sentimentos nunca foram postos em dúvida. O mundo exterior, mas nunca o mundo interior, foi negado. Todos presumem que temos um conhecimento introspectivo direto da nossa atividade pensante como tal, da nossa consciência como algo interno e contrastado com os objetos externos que ela conhece. Contudo, devo confessar que, de minha parte, não posso ter certeza desta conclusão. ... Parece que a consciência como atividade interna era mais um ''postulado'' do que um fato dado sensatamente...<ref name=WJames92>{{cite book |last1=James |first1=William |title=Psychology |date=1948 |date=1892 |publisher=Fine Editions Press, World Publishing Co. |location=Cleveland}}</ref>{{rp|467}}}} |
|||
#Autoconsciência e consciência são distintas logicamente, mas funcionam de maneira unitária. |
|||
Na década de 1960, para muitos filósofos e psicólogos que falavam sobre consciência, a palavra não significava mais o 'mundo interior', mas uma categoria grande e indefinida chamada {{Em|[[conscientização]]}}, como no exemplo a seguir: |
|||
#O autoconhecimento isto é, a consciência reflexiva ou consciência de segunda ordem pressupõe a consciência pré-reflexiva, isto é, a autoconsciência. |
|||
{{Quote|É difícil para o homem ocidental moderno compreender que os gregos não tinham realmente nenhum conceito de consciência, na medida em que não classificavam fenômenos tão variados como a resolução de problemas, a recordação, a imaginação, a percepção, o sentimento de dor, o sonho e a ação, com base em que todas estas são manifestações de estar consciente ou consciente.<ref name="EPhil-Psyc" >{{cite encyclopedia |last1=Peters |first1=R. S. |last2=Mace |first2=C. A. |editor1-last=Edwards |editor1-first=Paul |encyclopedia=The Encyclopedia of Philosophy |contribution=Psychology |volume= 7|date=1967 |publisher=Macmillan, Inc. |pages=1–27 |edition=Reprint 1972 }}</ref>{{rp|4}}}} |
|||
Muitos filósofos e cientistas têm ficado insatisfeitos com a dificuldade de produzir uma definição que não envolva circularidade ou imprecisão. No ''Dicionário Macmillan de Psicologia'' (edição de 1989), Stuart Sutherland enfatizou a consciência externa e expressou mais uma atitude cética do que uma definição: |
|||
{{Quote|'''Consciência''' - Ter percepções, pensamentos e [[sentimentos]]; conhecimento. O termo é impossível de definir, exceto em termos que são ininteligíveis sem uma compreensão do que significa consciência. Muitos caem na armadilha de equiparar consciência com [[autoconsciência]] – para estar consciente, é necessário apenas estar ciente do mundo externo. A consciência é um fenômeno fascinante, mas elusivo: é impossível especificar o que é, o que faz ou por que evoluiu. Nada que valha a pena ler foi escrito nele.<ref name=Sutherland>{{cite book |author=Stuart Sutherland |title=Macmillan Dictionary of Psychology |publisher=Macmillan |chapter=Consciousness |year=1989 |isbn=978-0-333-38829-7}}</ref>}} |
|||
Usar “conscientização”, entretanto, como definição ou sinônimo de consciência não é uma questão simples: |
|||
{{Quote|texto=Se a consciência do meio ambiente... é o critério da consciência, então até os protozoários são conscientes. Se a consciência da consciência for necessária, então é duvidoso que os grandes símios e as crianças humanas estejam conscientes.<ref name=Thomas67>{{cite encyclopedia |last= Thomas |first= Garth J. |encyclopedia= Encyclopædia Britannica |date=1967 |volume=6 |pages=366 |title= Consciousness}}</ref>}} |
|||
=== Influência na pesquisa === |
|||
De acordo com o esquema acima, a autoconsciência é o elemento fundamental da consciência. Sem ela não há consciência nem reflexão sobre a consciência. |
|||
Muitos filósofos argumentaram que a consciência é um conceito unitário que é compreendido pela maioria das pessoas, apesar da dificuldade que tiveram para defini-la.<ref name="Antony2001">{{Citar periódico |título=Is ''consciousness'' ambiguous? |periódico=Journal of Consciousness Studies |ultimo=Michael V. Antony |ano=2001 |paginas=19–44 |volume=8}}</ref> Max Velmans propôs que a "compreensão cotidiana da consciência" incontroversamente "refere-se à própria experiência e não a qualquer coisa particular que observamos ou experimentamos" e acrescentou que a consciência "é [portanto] exemplificada por {{Em|todas}} as coisas que observamos ou experimentamos",{{Referências múltiplas|Velmans2009|p=4}} sejam pensamentos, sentimentos ou percepções. Velmans observou, no entanto, a partir de 2009, que havia um nível profundo de "confusão e divisão interna"<ref name="Velmans2009">{{Citar periódico |título=How to define consciousness—and how not to define consciousness |periódico=Journal of Consciousness Studies |ultimo=Max Velmans |ano=2009 |paginas=139–156 |volume=16}}</ref> entre os especialistas sobre o fenômeno da consciência, porque os pesquisadores não tinham "um uso suficientemente bem especificado do termo... para concordar que eles estão investigando a mesma coisa".{{Referências múltiplas|Velmans2009|p=3}} |
|||
Dentro da comunidade de "estudos modernos da consciência", a frase técnica 'consciência fenomenal' é um sinônimo comum para todas as formas de consciência, ou simplesmente '[[Experiência (filosofia)|experiência]]',{{Referências múltiplas|Velmans2009|p=4}} sem diferenciar entre tipos internos e externos, ou entre tipos superiores e inferiores. Com os avanços na pesquisa do cérebro, "a presença ou ausência de ''fenômenos experimentados''"{{Referências múltiplas|Velmans2009|p=3}} de qualquer tipo está subjacente ao trabalho daqueles [[Neurocientista|neurocientistas]] que procuram “analisar a relação precisa da [[Fenomenologia (psicologia)|fenomenologia consciente]] com o processamento de informação associado” no cérebro.{{Referências múltiplas|Velmans2009|p=10}} <sup class="reference nowrap"><span title="Page: 10"> </span></sup>Este objetivo [[Neurociência|neurocientífico]] é encontrar os “correlatos neurais da consciência”. Uma crítica a este objetivo é que ele começa com um compromisso teórico com a origem neurológica de todos os "fenômenos experienciados", sejam eles internos ou externos.<ref name="Gomez2019">{{cite journal |last1=Gomez-Marin |first1=Alex |last2=Arnau |first2=Juan |title=The False Problem of Consciousness |journal=Behavior of Organisms Laboratory |date=2019 |url=http://philsci-archive.pitt.edu/15699/1/MS_GomezMarin_Arnau.pdf}}</ref> Além disso, o fato de que o 'conteúdo da consciência' mais fácil de ser analisado é "o mundo tridimensional experienciado (o mundo fenomênico) além da superfície do corpo"{{Referências múltiplas|Velmans2009|p=4}} convida a outra crítica, a de que a maior parte da pesquisa sobre a consciência desde a década de 1990, talvez devido a preconceitos, se concentrou em processos de [[Percepção|percepção externa]].<ref name="Frith2016">{{Citar livro|url=https://www.researchgate.net/publication/304657860|título=The Pragmatic Turn: Toward Action-Oriented Views in Cognitive Science|ultimo=Frith|primeiro=Chris|ultimo2=Metzinger|primeiro2=Thomas|data=Março de 2016|editor-sobrenome=Engel|páginas=193–214|capitulo=What's the Use of Consciousness? How the Stab of Conscience Made Us Really Conscious|doi=10.7551/mitpress/9780262034326.003.0012|isbn=9780262034326|autorlink1=Chris Frith|autorlink2=Thomas Metzinger}}</ref> |
|||
== Definições do Senso Comum == |
|||
* Ação do [[indivíduo]] ou grupo sem o intuito ou vigilância da área central de consciência. |
|||
* Conjunto de processos e/ou fatos que atuam na conduta do indivíduo ou construindo a mesma, mas escapam ao âmbito da ferramenta de leitura e interpretação e não podem, por esta área, ser trazidos a custo de nenhum esforço que possa fazer um agente cujo [[sistema]] [[Mente|mental]] não possui o treinamento adequado. Essas atividades, entretanto, costumam aflorar em [[sonho]]s, em atos involuntários (sejam eles corretos e inteligentes ou falhos e inconsistentes) e nos estados alterados de consciência. |
|||
Do ponto de vista da [[história da psicologia]], [[Julian Jaynes]] rejeitou "visões populares, mas superficiais, da consciência"{{Referências múltiplas|JJ90|p=447}} especialmente aqueles que o equiparam a “o mais vago dos termos, a [[Experiência (filosofia)|experiência]]”.<ref name="JJ76">{{Citar livro|url=https://archive.org/details/originofconsciou0000unse|título=The Origin of Consciousness in the Breakdown of the Bicameral Mind|ultimo=Jaynes|primeiro=Julian|data=1976|editora=Houghton Mifflin|isbn=0-395-20729-0|autorlink=Julian Jaynes}}</ref>{{Rp|8}} Em 1976, ele insistiu que, se não fosse pela [[introspecção]], que durante décadas foi ignorada ou tida como certa em vez de explicada, não poderia haver "concepção do que é a consciência"{{Referências múltiplas|JJ76|p=18}} e em 1990, reafirmou a ideia tradicional do fenômeno denominado 'consciência', escrevendo que "sua [[Denotação|definição denotativa]] é, como foi para [[René Descartes|Descartes]], [[John Locke|Locke]] e [[David Hume|Hume]], o que é introspectável".{{Referências múltiplas|JJ90|p=450}} Jaynes via a consciência como uma parte importante, mas pequena, da mentalidade humana e afirmou: "não pode haver progresso na ciência da consciência até que ... o que é introspectável é nitidamente distinto"{{Referências múltiplas|JJ90|p=447}} dos processos {{Em|inconscientes}} de [[Cognição|cognição,]] como [[percepção]], consciência reativa e [[atenção]], além de formas automáticas de [[aprendizagem]], [[resolução de problemas]] e [[tomada de decisão]].{{Referências múltiplas|JJ76|p=21-47}} |
|||
== Definições concorrentes == |
|||
* Visão determinista: alguns entendem o inconsciente como ações inconscientes baseadas em informações do passado, experienciadas ou noticiadas. |
|||
* Visão reducionista: o inconsciente é entendido como um neologismo científico reducionista para não explicar ou negar os estados alterados da consciência. |
|||
O ponto de vista da [[ciência cognitiva]] — com uma perspectiva interdisciplinar envolvendo campos como [[psicologia]], [[linguística]] e [[antropologia]]<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=PKCHAgAAQBAJ&q=Consciousness+in+anthropology&pg=PP1|título=Questions of Consciousness|ultimo=Cohen A.P., Rapport N.|editora=Routledge|ano=1995|localização=London|isbn=9781134804696}}</ref> — não requer uma definição consensual de 'consciência', mas estuda a interação de muitos processos além da percepção. Para alguns pesquisadores, a consciência está ligada a algum tipo de "individualidade", por exemplo, a certas questões pragmáticas, como o sentimento de agência e os efeitos do arrependimento<ref name="Frith2016"/> e a ação na 'autoexperiência' do próprio corpo ou identidade social.<ref name="Seth2016">{{Citar livro|url=|título=The Pragmatic Turn: Toward Action-Oriented Views in Cognitive Science|ultimo=Seth|primeiro=Anil|data=Março de 2016|editor-sobrenome=Engel|páginas=261–282|capitulo=Action-Oriented Understanding of Consciousness and the Structure of Experience|doi=10.7551/mitpress/9780262034326.003.0012|isbn=9780262034326|autorlink1=Anil Seth}}</ref> Da mesma forma, [[Daniel Kahneman]], que se concentrou em erros sistemáticos na percepção, memória e tomada de decisão, diferenciou entre dois tipos de processos mentais, ou "sistemas" cognitivos:<ref name="Kahneman2011">{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=ZuKTvERuPG8C|título=Thinking, Fast and Slow|ultimo=Daniel Kahneman|editora=Macmillan|ano=2011|isbn=978-1-4299-6935-2}}</ref> as atividades "rápidas" que são primárias, automáticas e "não podem ser desligadas";{{Referências múltiplas|Kahneman2011|p=22}} e as atividades "lentas", deliberadas e esforçadas de um sistema secundário "frequentemente associadas à experiência subjetiva de agência, escolha e concentração".{{Referências múltiplas|Kahneman2011|p=13}} Os dois sistemas de Kahneman foram descritos como "correspondendo aproximadamente a processos inconscientes e conscientes".<ref name="Kuijsten2016">{{Citar livro|título=Gods, Voices, and the Bicameral Mind: The Theories of Julian Jaynes|ultimo=Kuijsten|primeiro=Marcel|data=2016|editora=Julian Jaynes Society|editor-sobrenome=Kuijsten|editor-nome=Marcel|localização=Henderson, Nevada|páginas=1–15|capitulo=Introduction|isbn=978-0-9790744-3-1}}</ref>{{Rp|8}}Os dois sistemas podem interagir, por exemplo, na partilha do controle da atenção {{Referências múltiplas|Kahneman2011|p=22}} <sup class="reference nowrap"><span title="Page: 22"> </span></sup>Embora o Sistema 1 possa ser impulsivo, "o Sistema 2 é responsável pelo autocontrole"{{Referências múltiplas|Kahneman2011|p=26}} e "quando pensamos em nós mesmos, nos identificamos com o Sistema 2, o eu consciente e racional que tem crenças, faz escolhas e decide o que pensar e o que fazer."{{Referências múltiplas|Kahneman2011|p=21}} |
|||
== Alterações da consciência == |
|||
* Alterações Normais: [[sono]] (é um comportamento e uma fase normal e necessária. Tem duas fases distintas, que são: [[Sono REM]] -Rapid Eye Movement- e o sono NÃO REM) e [[sonho]] (vivências predominantemente visuais classificadas por [[Freud]] como um fenômeno psicológico "rico e revelador de desejos e temores") |
|||
* Alterações patológicas: qualitativas e quantitativas. |
|||
* Quantitativas: |
|||
- Rebaixamento do nível de consciência: compreendido por graus, está dividido em 3 grupos principais: obnubilação da consciência(grau leve a moderado - compreensão dificultada), sopor(incapacidade de ação espontânea) e coma(grau profundo - impossível qualquer atividade voluntária consciente e ausência de qualquer indício de consciência). |
|||
Alguns argumentaram que deveríamos eliminar o conceito da nossa compreensão da mente, uma posição conhecida como semanticismo da consciência.<ref>{{Citar livro|título=Biologically Inspired Cognitive Architectures 2021|ultimo=Anthis|primeiro=Jacy|data=2022|series=Studies in Computational Intelligence|volume=1032|páginas=20–41|capitulo=Consciousness Semanticism: A Precise Eliminativist Theory of Consciousness|doi=10.1007/978-3-030-96993-6_3|isbn=978-3-030-96992-9|acessodata=7 de agosto de 2022|arquivourl=https://web.archive.org/web/20220807144036/https://link.springer.com/chapter/10.1007/978-3-030-96993-6_3|url=https://link.springer.com/chapter/10.1007/978-3-030-96993-6_3|arquivodata=7 de agosto de 2022}}</ref> |
|||
- Síndromes psicopatológicas associadas ao rebaixamento do nível de consciência: |
|||
Na [[medicina]], uma terminologia de "nível de consciência" é usada para descrever a excitação e a capacidade de resposta de um paciente, que pode ser vista como uma série de estados que vão desde total alerta e [[compreensão]], passando por desorientação, [[Delirium|delírio]], perda de comunicação significativa e, finalmente, perda de movimento em resposta a [[Estímulo (fisiologia)|estímulos]] dolorosos.<ref>{{Citar livro|título=The Nature of Consciousness: Philosophical debates|ultimo=Güven Güzeldere|editora=MIT Press|ano=1997|editor-sobrenome=Ned Block|localização=Cambridge, MA|páginas=1–67|editor-sobrenome2=Owen Flanagan|editor-sobrenome3=Güven Güzeldere}}</ref> Questões de preocupação prática incluem como o nível de consciência pode ser avaliado em pessoas gravemente doentes, em [[coma]] ou anestesiadas, e como tratar condições nas quais a consciência está prejudicada ou perturbada.<ref>{{Citar periódico |título=Late recovery from the minimally conscious state: ethical and policy implications |periódico=Neurology |número=4 |ultimo=J.J. Fins |ultimo2=N.D. Schiff |ano=2007 |paginas=304–307 |doi=10.1212/01.wnl.0000252376.43779.96 |pmid=17242341 |ultimo3=K.M. Foley |volume=68}}</ref> O grau ou nível de consciência é medido por escalas padronizadas de observação de comportamento, como a [[Escala de coma de Glasgow|Escala de Coma de Glasgow]].<ref name=":0">{{cite journal |vauthors=Teasdale G, Jennett B |title=Assessment of coma and impaired consciousness. A practical scale |journal=[[The Lancet]] |volume=2 |issue=7872 |pages=81–4 |date=Julho de 1974 |pmid=4136544 |doi=10.1016/s0140-6736(74)91639-0 |url=https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(74)91639-0/fulltext }}</ref> |
|||
#Delirium (diferente do "delírio", é uma desorientação tempo espacial com surtos de ansiedade, além de ilusões e/ou alucinações visuais) |
|||
#Estado onírico (o indivíduo entra em um estado semelhante a um sonho muito vívido; estado decorrente de psicoses tóxicas, síndromes de abstinência a drogas e quadros febris tóxico-infecciosos) |
|||
#Amência (excitação psicomotora, incoerência do pensamento, perplexidade e sintomas alucinatórios oniroides) |
|||
#Síndrome do cativeiro (a destruição da base da ponte promove uma paralisia total dos nervos cranianos baixos e dos membros) |
|||
* Qualitativas: |
|||
#Estados crepusculares (surge e desaparece de forma abrupta e tem duração variável - de poucas horas a algumas semanas) |
|||
#Dissociação da consciência (perda da unidade psíquica comum do ser humano, na qual o indivíduo "desliga" da realidade para parar de sofrer) |
|||
#Transe: (espécie de sonho acordado com a presença de atividade motora automática e estereotipada acompanhada de suspensão parcial dos movimentos voluntários) |
|||
#Estado hipnótico (técnica refinada de concentração da atenção e de alteração induzida do estado da consciência). |
|||
{{Referências}} |
|||
== Ver também == |
== Ver também == |
||
Linha 83: | Linha 74: | ||
* [[Eletroencefalografia]] |
* [[Eletroencefalografia]] |
||
{{referências}} |
|||
=== Bibliografia === |
|||
{{refbegin|2}} |
|||
* {{cite book |last1=Dehaene |first1=Stanislas |author1-link=Stanislas Dehaene |title=Consciousness and the Brain: Deciphering How the Brain Codes Our Thoughts |date=2014 |publisher=Viking Press |isbn=978-0-670-02543-5 |ref=none}} |
|||
* {{cite book |last1=Frankish |first1=Keith |title=Consciousness: The Basics |date=2021 |publisher=Routledge |isbn=978-1-138-65598-0 |ref=none}} |
|||
* {{cite book|last=Harley|first=Trevor|title=The Science of Consciousness: Waking, Sleeping, and Dreaming|year=2021|publisher=Cambridge University Press|doi=10.1017/9781316408889 |isbn=978-1-107-56330-8|s2cid=233977060 |ref=none}} |
|||
* {{cite book |last1=Irvine |first1=Elizabeth |title=Consciousness as a Scientific Concept: A Philosophy of Science Perspective |date=2013 |publisher=Springer |location=Dordrecht, Netherlands |isbn=978-94-007-5172-9 |doi=10.1007/978-94-007-5173-6 |ref=none}} |
|||
* {{cite book|last=Koch|first=Christof|title= The Feeling of Life Itself: Why Consciousness Is Widespread but Can't Be Computed |year=2019 |publisher=MIT Press|isbn=978-0-262-04281-9 |ref=none}} |
|||
* {{cite book |editor1-last=Overgaard |editor1-first=Morten |editor2-last=Mogensen |editor2-first=Jesper |editor3-last=Kirkeby-Hinrup |editor3-first=Asger |title=Beyond Neural Correlates of Consciousness |date=2021 |publisher=Routledge |isbn=978-1-138-63798-6 |ref=none}} |
|||
* {{cite book |last1=Prinz |first1=Jesse |title=The Conscious Brain: How Attention Engenders Experience |date=2012 |publisher=Oxford University Press |isbn=9780195314595 |doi=10.1093/acprof:oso/9780195314595.001.0001 |ref=none}} |
|||
* {{cite book |editor1-last=Schneider |editor1-first=Susan |editor2-last=Velmans |editor2-first=Max |title=The Blackwell Companion to Consciousness |date=2017 |publisher=Wiley-Blackwell |isbn=978-0-470-67406-2 |edition=2nd |ref=none}} |
|||
* {{cite book |last1=Seth |first1=Anil |author1-link=Anil Seth |title=Being You: A New Science of Consciousness |date=2021 |publisher=Penguin Random House |isbn=978-1-5247-4287-4 |ref=none}} |
|||
* {{cite book |last1=Thompson |first1=Evan |author1-link=Evan Thompson |title=Waking, Dreaming, Being: Self and Consciousness in Neuroscience, Meditation, and Philosophy |date=2014 |publisher=Columbia University Press |isbn=978-0-231-13695-2 |ref=none}} |
|||
* {{cite book|editor1-last=Zelazo |editor1-first=Philip David |editor2-last=Moscovitch |editor2-first=Morris |editor3-last=Thompson |editor3-first=Evan |title=The Cambridge Handbook of Consciousness|year=2007|publisher=Cambridge University Press|isbn=978-0-521-67412-6 |doi=10.1017/CBO9780511816789 |ref=none}} |
|||
{{refend}} |
|||
== Ligações externas == |
|||
{{wikiquote|Consciência}} |
{{wikiquote|Consciência}} |
||
*{{commonscat-inline|Consciousness}} |
|||
{{Ética|estado=autocollapse}} |
{{Ética|estado=autocollapse}} |
||
{{Portal3|Filosofia|Medicina}} |
|||
{{controle de autoridade}} |
|||
[[Categoria:Consciência| ]] |
[[Categoria:Consciência| ]] |
||
[[Categoria:Conceitos psicológicos]] |
[[Categoria:Conceitos psicológicos]] |
||
[[Categoria:Conceitos na filosofia da mente]] |
|||
[[Categoria:Si mesmo]] |
[[Categoria:Si mesmo]] |
||
[[Categoria:Neuropsicologia]] |
[[Categoria:Neuropsicologia]] |
Revisão das 03h52min de 9 de julho de 2024
Consciência, na sua forma mais simples, é a consciência da existência interna e externa.[1] No entanto, a sua natureza levou a milênios de análises, explicações e debates por parte de filósofos, teólogos e cientistas. As opiniões divergem sobre o que exatamente precisa ser estudado ou mesmo considerado como "consciência".
Em algumas explicações, o termo é sinônimo de mente e, em outras ocasiões, de um aspecto da mente. No passado, era a “vida interior”, o mundo da introspecção, do pensamento privado, da imaginação e da volição.[2] Atualmente, muitas vezes inclui qualquer tipo de cognição, experiência, sentimento ou percepção. Pode ser consciência da consciência, metacognição ou autoconsciência, mudando continuamente ou não.[3][4] A diversidade de pesquisas, noções e especulações desperta a curiosidade sobre se as perguntas certas estão sendo feitas sobre esse tema.[5]
Exemplos da ampla gama de descrições, definições ou explicações são: distinção ordenada entre o eu e o ambiente, a simples vigília, o senso de individualidade ou alma explorado pelo "olhar para dentro"; sendo um "fluxo" metafórico de conteúdos, ou sendo um estado mental, evento mental ou processo mental do cérebro.
Etimologia
As palavras "consciente" e "consciência" derivam do latim conscius (con- “juntos” e scio “conhecer”) que significava “conhecer com” ou “ter conhecimento conjunto ou comum com outro”, especialmente no que diz respeito a compartilhar um segredo.[6] Thomas Hobbes em Leviathan (1651) escreveu: "Onde dois ou mais homens conhecem um e o mesmo fato, diz-se que estão conscientes dele um para o outro."[7] Houve também muitas ocorrências nos escritos latinos da frase conscius sibi, que se traduz literalmente como "conhecer consigo mesmo", ou em outras palavras, "compartilhar conhecimento consigo mesmo sobre algo".[8]
O latim conscientia, literalmente 'conhecimento com', aparece pela primeira vez em textos jurídicos romanos de escritores como Cícero. Significa um tipo de conhecimento partilhado com valor moral, especificamente o que uma testemunha sabe dos actos de outra pessoa.[9][10] Embora René Descartes (1596-1650), escrevendo em latim, seja geralmente considerado o primeiro filósofo a usar conscientia de uma forma menos parecida com o significado tradicional e mais parecida com a forma moderna usada para o "consciência", seu significado e definição não estão em lugar nenhum.[11] Em Regulæ ad directionem ingenii ut et inquisitio veritatis per lumen naturale, Amsterdã 1701) ele escreveu a palavra conscientiâ, vel interno testimonio (traduzível como "consciência, ou testemunho interno").[12][13] Pode significar o conhecimento do valor dos próprios pensamentos.[11]
A origem do conceito moderno de consciência é frequentemente atribuída a John Locke que definiu a palavra em sua obra Ensaio acerca do Entendimento Humano, publicada em 1690, como “a percepção do que se passa na própria mente de um homem”.[14][15] O ensaio influenciou fortemente a filosofia britânica do século XVIII e a definição de Locke apareceu no célebre Um Dicionário da Língua Inglesa de Samuel Johnson (1755).[16]
O termo francês conscience é definidono volume de 1753 da Encyclopédie de Diderot e d'Alembert como "a opinião ou sentimento interno que nós mesmos temos a partir do que fazemos".[17]
Problema da definição
Cerca de quarenta significados atribuídos ao termo “consciência” podem ser identificados e categorizados com base em “funções” e “experiências”. As perspectivas de alcançar qualquer definição de consciência única, acordada e independente da teoria parecem remotas.[18]
Os estudiosos estão divididos quanto à questão de saber se Aristóteles tinha um conceito de consciência. Ele não usa nenhuma palavra ou terminologia que seja claramente semelhante ao fenômeno ou conceito definido por John Locke. Victor Caston afirma que Aristóteles tinha um conceito mais claramente semelhante à consciência perceptiva.[19]
As definições modernas da palavra nos dicionários evoluíram ao longo de vários séculos e refletem uma série de significados aparentemente relacionados, com algumas diferenças que têm sido controversas, como a distinção entre 'consciência interior' e 'percepção' do mundo físico, ou a distinção entre 'consciente' e 'inconsciente', ou a noção de uma "entidade mental" ou "atividade mental" que não é física. O Cambridge Dictionary define consciência como "o estado de compreensão e realização de algo".[20] O Oxford Living Dictionary define consciência como "o estado de estar consciente e responsivo ao ambiente", "a consciência ou percepção de algo por uma pessoa" e "a consciência de si mesma e do mundo pela mente".[21]
Filósofos tentaram esclarecer as distinções técnicas usando um jargão próprio. Por exemplo, em 1998, a Enciclopédia de Filosofia Routledge define a consciência da seguinte forma:
Consciência—Os filósofos usaram o termo 'consciência' para quatro tópicos principais: conhecimento em geral, intencionalidade, introspecção (e o conhecimento que ela gera especificamente) e experiência fenomenal... Algo dentro da mente de alguém é 'introspectivamente consciente' apenas no caso de alguém introspectá-lo (ou estar preparado para fazê-lo). Muitas vezes acredita-se que a introspecção fornece o conhecimento primário da vida mental. Uma experiência ou outra entidade mental é “fenomenalmente consciente” apenas no caso de haver “algo como” para alguém tê-la. Os exemplos mais claros são: experiência perceptiva, como degustações e visitas; experiências corporais sensacionais, como dores, cócegas e coceiras; experiências imaginativas, como as das próprias ações ou percepções; e fluxos de pensamento, como na experiência de pensar “em palavras” ou “em imagens”. A introspecção e a fenomenalidade parecem independentes ou dissociáveis, embora isto seja controverso.[22]
Metáforas tradicionais para 'mente'
Durante o início de 1800, a geologia estava descobrindo camadas enterradas de história na crosta terrestre, inspirando uma metáfora popular de que a mente também havia escondido "camadas que registravam o passado do indivíduo".[23]:3Em 1875, a maioria dos psicólogos acreditava que "a consciência era apenas uma pequena parte da vida mental"[23]:3 e essa ideia está subjacente ao objetivo da terapia freudiana, de expor a camada inconsciente da mente.
Em 1892, William James observou que a "palavra ambígua 'conteúdo' foi recentemente inventada em vez de 'objeto'" e que a metáfora da mente como um recipiente parecia minimizar o problema dualista de como "estados de consciência podem reconhecer" as coisas, ou objetos;[24]:465 em 1899, os psicólogos estavam ocupados estudando o "conteúdo da experiência consciente por meio da introspecção e da experiência".[25]:365 Outra metáfora popular foi a "doutrina do" fluxo de consciência" de James, com sua continuidade, suas "franjas e transições"".[24]:vii Ele discutiu as dificuldades de descrever e estudar fenômenos psicológicos, reconhecendo que a terminologia comumente usada era um ponto de partida necessário e aceitável para uma linguagem mais precisa e cientificamente justificada. Os principais exemplos foram frases como “experiência interior” e “consciência pessoal”:
O primeiro e mais importante fato concreto que cada um afirmará pertencer à sua experiência interior é o fato de que algum tipo de consciência continua. 'Estados de espírito' se sucedem nele. [...] Mas todos sabem o que os termos significam [apenas] de uma forma aproximada; [...] Quando digo todo 'estado' ou 'pensamento' faz parte de uma consciência pessoal, 'consciência pessoal' é um dos termos em questão. Conhecemos seu significado enquanto ninguém nos pede para defini-lo, mas dar-lhe um relato preciso é a mais difícil das tarefas filosóficas. [...] Os únicos estados de consciência com os quais lidamos naturalmente são encontrados nas consciências pessoais, mentes, eus, eus e vocês particulares concretos.[24]:152-153
Da introspecção à consciência
Na filosofia antes do século XX, a consciência como fenômeno era o 'mundo interior' da 'própria mente' e a introspecção era a mente "atentando" a si mesma,[26]:191–192 uma atividade aparentemente distinta daquela de perceber o 'mundo exterior' e seus fenômenos físicos. Em 1892, William James notou a distinção juntamente com dúvidas sobre o caráter “interior” da mente:
“Coisas” foram postas em dúvida, mas pensamentos e sentimentos nunca foram postos em dúvida. O mundo exterior, mas nunca o mundo interior, foi negado. Todos presumem que temos um conhecimento introspectivo direto da nossa atividade pensante como tal, da nossa consciência como algo interno e contrastado com os objetos externos que ela conhece. Contudo, devo confessar que, de minha parte, não posso ter certeza desta conclusão. ... Parece que a consciência como atividade interna era mais um postulado do que um fato dado sensatamente...[24]:467
Na década de 1960, para muitos filósofos e psicólogos que falavam sobre consciência, a palavra não significava mais o 'mundo interior', mas uma categoria grande e indefinida chamada conscientização, como no exemplo a seguir:
É difícil para o homem ocidental moderno compreender que os gregos não tinham realmente nenhum conceito de consciência, na medida em que não classificavam fenômenos tão variados como a resolução de problemas, a recordação, a imaginação, a percepção, o sentimento de dor, o sonho e a ação, com base em que todas estas são manifestações de estar consciente ou consciente.[27]:4
Muitos filósofos e cientistas têm ficado insatisfeitos com a dificuldade de produzir uma definição que não envolva circularidade ou imprecisão. No Dicionário Macmillan de Psicologia (edição de 1989), Stuart Sutherland enfatizou a consciência externa e expressou mais uma atitude cética do que uma definição:
Consciência - Ter percepções, pensamentos e sentimentos; conhecimento. O termo é impossível de definir, exceto em termos que são ininteligíveis sem uma compreensão do que significa consciência. Muitos caem na armadilha de equiparar consciência com autoconsciência – para estar consciente, é necessário apenas estar ciente do mundo externo. A consciência é um fenômeno fascinante, mas elusivo: é impossível especificar o que é, o que faz ou por que evoluiu. Nada que valha a pena ler foi escrito nele.[28]
Usar “conscientização”, entretanto, como definição ou sinônimo de consciência não é uma questão simples:
Se a consciência do meio ambiente... é o critério da consciência, então até os protozoários são conscientes. Se a consciência da consciência for necessária, então é duvidoso que os grandes símios e as crianças humanas estejam conscientes.[25]
Influência na pesquisa
Muitos filósofos argumentaram que a consciência é um conceito unitário que é compreendido pela maioria das pessoas, apesar da dificuldade que tiveram para defini-la.[29] Max Velmans propôs que a "compreensão cotidiana da consciência" incontroversamente "refere-se à própria experiência e não a qualquer coisa particular que observamos ou experimentamos" e acrescentou que a consciência "é [portanto] exemplificada por todas as coisas que observamos ou experimentamos",[30]:4 sejam pensamentos, sentimentos ou percepções. Velmans observou, no entanto, a partir de 2009, que havia um nível profundo de "confusão e divisão interna"[30] entre os especialistas sobre o fenômeno da consciência, porque os pesquisadores não tinham "um uso suficientemente bem especificado do termo... para concordar que eles estão investigando a mesma coisa".[30]:3
Dentro da comunidade de "estudos modernos da consciência", a frase técnica 'consciência fenomenal' é um sinônimo comum para todas as formas de consciência, ou simplesmente 'experiência',[30]:4 sem diferenciar entre tipos internos e externos, ou entre tipos superiores e inferiores. Com os avanços na pesquisa do cérebro, "a presença ou ausência de fenômenos experimentados"[30]:3 de qualquer tipo está subjacente ao trabalho daqueles neurocientistas que procuram “analisar a relação precisa da fenomenologia consciente com o processamento de informação associado” no cérebro.[30]:10 Este objetivo neurocientífico é encontrar os “correlatos neurais da consciência”. Uma crítica a este objetivo é que ele começa com um compromisso teórico com a origem neurológica de todos os "fenômenos experienciados", sejam eles internos ou externos.[31] Além disso, o fato de que o 'conteúdo da consciência' mais fácil de ser analisado é "o mundo tridimensional experienciado (o mundo fenomênico) além da superfície do corpo"[30]:4 convida a outra crítica, a de que a maior parte da pesquisa sobre a consciência desde a década de 1990, talvez devido a preconceitos, se concentrou em processos de percepção externa.[32]
Do ponto de vista da história da psicologia, Julian Jaynes rejeitou "visões populares, mas superficiais, da consciência"[2]:447 especialmente aqueles que o equiparam a “o mais vago dos termos, a experiência”.[23]:8 Em 1976, ele insistiu que, se não fosse pela introspecção, que durante décadas foi ignorada ou tida como certa em vez de explicada, não poderia haver "concepção do que é a consciência"[23]:18 e em 1990, reafirmou a ideia tradicional do fenômeno denominado 'consciência', escrevendo que "sua definição denotativa é, como foi para Descartes, Locke e Hume, o que é introspectável".[2]:450 Jaynes via a consciência como uma parte importante, mas pequena, da mentalidade humana e afirmou: "não pode haver progresso na ciência da consciência até que ... o que é introspectável é nitidamente distinto"[2]:447 dos processos inconscientes de cognição, como percepção, consciência reativa e atenção, além de formas automáticas de aprendizagem, resolução de problemas e tomada de decisão.[23]:21-47
O ponto de vista da ciência cognitiva — com uma perspectiva interdisciplinar envolvendo campos como psicologia, linguística e antropologia[33] — não requer uma definição consensual de 'consciência', mas estuda a interação de muitos processos além da percepção. Para alguns pesquisadores, a consciência está ligada a algum tipo de "individualidade", por exemplo, a certas questões pragmáticas, como o sentimento de agência e os efeitos do arrependimento[32] e a ação na 'autoexperiência' do próprio corpo ou identidade social.[34] Da mesma forma, Daniel Kahneman, que se concentrou em erros sistemáticos na percepção, memória e tomada de decisão, diferenciou entre dois tipos de processos mentais, ou "sistemas" cognitivos:[35] as atividades "rápidas" que são primárias, automáticas e "não podem ser desligadas";[35]:22 e as atividades "lentas", deliberadas e esforçadas de um sistema secundário "frequentemente associadas à experiência subjetiva de agência, escolha e concentração".[35]:13 Os dois sistemas de Kahneman foram descritos como "correspondendo aproximadamente a processos inconscientes e conscientes".[36]:8Os dois sistemas podem interagir, por exemplo, na partilha do controle da atenção [35]:22 Embora o Sistema 1 possa ser impulsivo, "o Sistema 2 é responsável pelo autocontrole"[35]:26 e "quando pensamos em nós mesmos, nos identificamos com o Sistema 2, o eu consciente e racional que tem crenças, faz escolhas e decide o que pensar e o que fazer."[35]:21
Alguns argumentaram que deveríamos eliminar o conceito da nossa compreensão da mente, uma posição conhecida como semanticismo da consciência.[37]
Na medicina, uma terminologia de "nível de consciência" é usada para descrever a excitação e a capacidade de resposta de um paciente, que pode ser vista como uma série de estados que vão desde total alerta e compreensão, passando por desorientação, delírio, perda de comunicação significativa e, finalmente, perda de movimento em resposta a estímulos dolorosos.[38] Questões de preocupação prática incluem como o nível de consciência pode ser avaliado em pessoas gravemente doentes, em coma ou anestesiadas, e como tratar condições nas quais a consciência está prejudicada ou perturbada.[39] O grau ou nível de consciência é medido por escalas padronizadas de observação de comportamento, como a Escala de Coma de Glasgow.[40]
Ver também
- Consciência (moral)
- Consciência animal
- Inconsciente
- Estado vegetativo
- Vigília
- Sono / Sonho
- Neuropsicologia
- Conscienciologia
- Eletroencefalografia
Referências
- ↑ consciousness. Consultado em 4 de junho de 2012
- ↑ a b c d Jaynes, Julian (2000) [1976]. The Origin of Consciousness in the Breakdown of the Bicameral Mind. [S.l.]: Houghton Mifflin. ISBN 0-618-05707-2
- ↑ Rochat, Philippe (2003). «Five levels of self-awareness as they unfold early in life» (PDF). Consciousness and Cognition. 12 (4): 717–731. PMID 14656513. doi:10.1016/s1053-8100(03)00081-3. Cópia arquivada (PDF) em 9 de outubro de 2022
- ↑ P.A. Guertin (2019). «A novel concept introducing the idea of continuously changing levels of consciousness». Journal of Consciousness Exploration & Research. 10 (6): 406–412. Consultado em 19 de agosto de 2021. Cópia arquivada em 15 de dezembro de 2021
- ↑ Hacker, P.M.S. (2012). «The Sad and Sorry History of Consciousness: being, among other things, a challenge to the "consciousness-studies community"» (PDF). Royal Institute of Philosophy. supplementary volume 70. Cópia arquivada (PDF) em 9 de outubro de 2022
- ↑ C. S. Lewis (1990). «Ch. 8: Conscience and conscious». Studies in words. [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-39831-2
- ↑ Thomas Hobbes (1904). Leviathan: or, The Matter, Forme & Power of a Commonwealth, Ecclesiasticall and Civill. [S.l.]: University Press. ISBN 9783932392382
- ↑ James Ussher, Charles Richard Elrington (1613). The whole works, Volume 2. [S.l.]: Hodges and Smith
- ↑ Barbara Cassin (2014). Dictionary of Untranslatables. A Philosophical Lexicon. [S.l.]: Princeton University Press. ISBN 978-0-691-13870-1
- ↑ G. Molenaar (1969). «Seneca's Use of the Term Conscientia». Mnemosyne. 22 (2): 170–180. doi:10.1163/156852569x00670
- ↑ a b Boris Hennig (2007). «Cartesian Conscientia». British Journal for the History of Philosophy. 15 (3): 455–484. doi:10.1080/09608780701444915
- ↑ Charles Adam, Paul Tannery (eds.), Oeuvres de Descartes X, 524 (1908).
- ↑ Sara Heinämaa; Vili Lähteenmäki; Pauliina Remes, eds. (2007). Consciousness: from perception to reflection in the history of philosophy. [S.l.]: Springer. pp. 205–206. ISBN 978-1-4020-6081-6
- ↑ Locke, John. «An Essay Concerning Human Understanding (Chapter XXVII)». Australia: Universidade de Adelaide. Consultado em 20 de agosto de 2010. Arquivado do original em 8 de maio de 2018
- ↑ «Science & Technology: consciousness». Encyclopædia Britannica. Consultado em 20 de agosto de 2010
- ↑ Samuel Johnson (1756). A Dictionary of the English Language. [S.l.]: Knapton
- ↑ Jaucourt, Louis, chevalier de. "Consciousness." The Encyclopedia of Diderot & d'Alembert Collaborative Translation Project. Translated by Scott St. Louis. Ann Arbor: Michigan Publishing, University of Michigan Library, 2014. Originally published as "Conscience," Encyclopédie ou Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers, 3:902 (Paris, 1753).
- ↑ Vimal, RLP; Sansthana, DA (2010). «On the Quest of Defining Consciousness» (PDF). Mind and Matter. 8 (1): 93–121[ligação inativa]
- ↑ Caston, Victor (2002). «Aristotle on Consciousness». Mind (PDF). [S.l.]: Oxford University Press. Cópia arquivada (PDF) em 9 de outubro de 2022
- ↑ «CONSCIOUSNESS – meaning in the Cambridge English Dictionary». dictionary.cambridge.org. Consultado em 23 de outubro de 2018. Arquivado do original em 7 de março de 2021
- ↑ «consciousness – Definition of consciousness in English by Oxford Dictionaries». Oxford Dictionaries – English. Arquivado do original em 25 de setembro de 2016
- ↑ Edward Craig (1998). «Consciousness». Routledge Encyclopedia of Philosophy. [S.l.]: Routledge. ISBN 978-0-415-18707-7
- ↑ a b c d e Jaynes, Julian (1976). The Origin of Consciousness in the Breakdown of the Bicameral Mind. [S.l.]: Houghton Mifflin. ISBN 0-395-20729-0
- ↑ a b c d James, William (1892). Psychology. Cleveland: Fine Editions Press, World Publishing Co.
- ↑ a b Thomas, Garth J. (1967). «Consciousness». Encyclopædia Britannica. 6. 366 páginas
- ↑ Landesman, Charles Jr. (1967). «Consciousness». In: Edwards, Paul. The Encyclopedia of Philosophy. 2 Reprint 1972 ed. Macmillan, Inc. pp. 191–195
- ↑ Peters, R. S.; Mace, C. A. (1967). «Psychology». In: Edwards, Paul. The Encyclopedia of Philosophy. 7 Reprint 1972 ed. Macmillan, Inc. pp. 1–27
- ↑ Stuart Sutherland (1989). «Consciousness». Macmillan Dictionary of Psychology. [S.l.]: Macmillan. ISBN 978-0-333-38829-7
- ↑ Michael V. Antony (2001). «Is consciousness ambiguous?». Journal of Consciousness Studies. 8: 19–44
- ↑ a b c d e f g Max Velmans (2009). «How to define consciousness—and how not to define consciousness». Journal of Consciousness Studies. 16: 139–156
- ↑ Gomez-Marin, Alex; Arnau, Juan (2019). «The False Problem of Consciousness» (PDF). Behavior of Organisms Laboratory
- ↑ a b Frith, Chris; Metzinger, Thomas (Março de 2016). «What's the Use of Consciousness? How the Stab of Conscience Made Us Really Conscious». In: Engel. The Pragmatic Turn: Toward Action-Oriented Views in Cognitive Science. [S.l.: s.n.] pp. 193–214. ISBN 9780262034326. doi:10.7551/mitpress/9780262034326.003.0012
- ↑ Cohen A.P., Rapport N. (1995). Questions of Consciousness. London: Routledge. ISBN 9781134804696
- ↑ Seth, Anil (Março de 2016). «Action-Oriented Understanding of Consciousness and the Structure of Experience». In: Engel. The Pragmatic Turn: Toward Action-Oriented Views in Cognitive Science. [S.l.: s.n.] pp. 261–282. ISBN 9780262034326. doi:10.7551/mitpress/9780262034326.003.0012
- ↑ a b c d e f Daniel Kahneman (2011). Thinking, Fast and Slow. [S.l.]: Macmillan. ISBN 978-1-4299-6935-2
- ↑ Kuijsten, Marcel (2016). «Introduction». In: Kuijsten, Marcel. Gods, Voices, and the Bicameral Mind: The Theories of Julian Jaynes. Henderson, Nevada: Julian Jaynes Society. pp. 1–15. ISBN 978-0-9790744-3-1
- ↑ Anthis, Jacy (2022). «Consciousness Semanticism: A Precise Eliminativist Theory of Consciousness». Biologically Inspired Cognitive Architectures 2021. Col: Studies in Computational Intelligence. 1032. [S.l.: s.n.] pp. 20–41. ISBN 978-3-030-96992-9. doi:10.1007/978-3-030-96993-6_3. Consultado em 7 de agosto de 2022. Cópia arquivada em 7 de agosto de 2022
- ↑ Güven Güzeldere (1997). Ned Block; Owen Flanagan; Güven Güzeldere, eds. The Nature of Consciousness: Philosophical debates. Cambridge, MA: MIT Press. pp. 1–67
- ↑ J.J. Fins; N.D. Schiff; K.M. Foley (2007). «Late recovery from the minimally conscious state: ethical and policy implications». Neurology. 68 (4): 304–307. PMID 17242341. doi:10.1212/01.wnl.0000252376.43779.96
- ↑ Teasdale G, Jennett B (Julho de 1974). «Assessment of coma and impaired consciousness. A practical scale». The Lancet. 2 (7872): 81–4. PMID 4136544. doi:10.1016/s0140-6736(74)91639-0
Bibliografia
- Dehaene, Stanislas (2014). Consciousness and the Brain: Deciphering How the Brain Codes Our Thoughts. [S.l.]: Viking Press. ISBN 978-0-670-02543-5
- Frankish, Keith (2021). Consciousness: The Basics. [S.l.]: Routledge. ISBN 978-1-138-65598-0
- Harley, Trevor (2021). The Science of Consciousness: Waking, Sleeping, and Dreaming. [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 978-1-107-56330-8. doi:10.1017/9781316408889
- Irvine, Elizabeth (2013). Consciousness as a Scientific Concept: A Philosophy of Science Perspective. Dordrecht, Netherlands: Springer. ISBN 978-94-007-5172-9. doi:10.1007/978-94-007-5173-6
- Koch, Christof (2019). The Feeling of Life Itself: Why Consciousness Is Widespread but Can't Be Computed. [S.l.]: MIT Press. ISBN 978-0-262-04281-9
- Overgaard, Morten; Mogensen, Jesper; Kirkeby-Hinrup, Asger, eds. (2021). Beyond Neural Correlates of Consciousness. [S.l.]: Routledge. ISBN 978-1-138-63798-6
- Prinz, Jesse (2012). The Conscious Brain: How Attention Engenders Experience. [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 9780195314595. doi:10.1093/acprof:oso/9780195314595.001.0001
- Schneider, Susan; Velmans, Max, eds. (2017). The Blackwell Companion to Consciousness 2nd ed. [S.l.]: Wiley-Blackwell. ISBN 978-0-470-67406-2
- Seth, Anil (2021). Being You: A New Science of Consciousness. [S.l.]: Penguin Random House. ISBN 978-1-5247-4287-4
- Thompson, Evan (2014). Waking, Dreaming, Being: Self and Consciousness in Neuroscience, Meditation, and Philosophy. [S.l.]: Columbia University Press. ISBN 978-0-231-13695-2
- Zelazo, Philip David; Moscovitch, Morris; Thompson, Evan, eds. (2007). The Cambridge Handbook of Consciousness. [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-67412-6. doi:10.1017/CBO9780511816789
Ligações externas
- Media relacionados com Consciência no Wikimedia Commons