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Norberto Bobbio: diferenças entre revisões

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'''Norberto Bobbio''' ([[Turim]], [[18 de outubro]] de [[1909]] – Turim, [[9 de janeiro]] de [[2004]]) foi um [[filosofia política|filósofo político]], historiador do [[Ciência Política|pensamento político]], escritor e [[senador vitalício]] [[Itália|italiano]]. Conhecido por sua ampla capacidade de produzir escritos concisos, lógicos e, ainda assim, densos. Defensor da democracia [[Socialismo liberal|social-liberal]] e do [[positivismo jurídico]] e crítico de [[Marx]], do [[fascismo]] italiano, do [[Bolchevismo]] e do primeiro-ministro [[Silvio Berlusconi]]. Norberto Bobbio faleceu em 9 de janeiro de 2004, em Turim, aos 94 anos de idade.<ref name="Não_nomeado-y8vN-1">{{Citar web|ultimo=Bellamy|primeiro=Richard|url=http://www.theguardian.com/news/2004/jan/13/guardianobituaries.obituaries|titulo=Obituary: Norberto Bobbio|data=2004-01-13|acessodata=2022-01-16|website=the Guardian|lingua=en}}</ref>


Segundo Ferrajoli, Bobbio é considerado "ao mesmo tempo o maior teórico do direito e o maior filósofo [italiano] da política […] da segunda metade do [[século XX]] ''", foi "'' certamente aquele que deixou a marca mais profunda do filosófico-jurídico e da cultura político-filosófica e que várias gerações de estudiosos, mesmo de formações muito diferentes, têm considerado como um mestre".<ref>'''^''' Luigi Ferrajoli, L'itinerario di Norberto Bobbio: dalla teoria generale del diritto alla teoria della democrazia (<abbr>PDF</abbr>), in Teoria politica, n. 3, 2004, p. 127. URL consultato il 4 luglio 2019.</ref>
'''Norberto Bobbio''' ([[Turim]], [[18 de outubro]] de [[1909]] — [[Turim]], [[9 de janeiro]] de [[2004]]) foi um [[filosofia política|filósofo político]], historiador do [[Ciência Política|pensamento político]], escritor e [[senador vitalício]] [[Itália|italiano]]. Conhecido por sua ampla capacidade de produzir escritos concisos, lógicos e, ainda assim, densos. Defensor da democracia [[Socialismo liberal|social-liberal]] e do [[positivismo jurídico]] e crítico de [[Marx]], do [[fascismo]] italiano, do [[Bolchevismo]] e do primeiro-ministro [[Silvio Berlusconi]].<ref>http://www.theguardian.com/news/2004/jan/13/guardianobituaries.obituaries</ref>


== Vida, estudos e carreira ==
== Vida, estudos e carreira ==
=== Primeiros anos e vida acadêmica ===
=== Primeiros anos e vida acadêmica ===
Norberto Bobbio nasceu em Turim capital de [[Piemonte]], filho de um médico-cirurgião, Luigi Bobbio, neto de António Bobbio, professor primário, depois diretor escolar, católico liberal que se interessava por filosofia e colaborava, periodicamente, nos jornais. Viveu durante a infância e adolescencia em uma família abastada, com criadas e motorista. Inicia-se no gosto da leitura com [[George Bernard Shaw]], [[Honoré de Balzac]], [[Stendhal]], [[Percy Bysshe Shelley]], [[Benedetto Croce]], [[Thomas Mann]] e vários outros. Foi amigo de infância de [[Cesare Pavese]] com quem conviveu e aprendeu o inglês através da leitura de alguns clássicos. Lia, depois traduzia e comentava.
Norberto Bobbio nasceu em Turim capital de [[Piemonte]], filho de um médico-cirurgião, Luigi Bobbio, neto de António Bobbio, professor primário, depois diretor escolar, católico liberal que se interessava por filosofia e colaborava, periodicamente, nos jornais. Viveu durante a infância e [[adolescência]] em uma família abastada, com criadas e motorista. Inicia-se no gosto da leitura com [[George Bernard Shaw]], [[Honoré de Balzac]], [[Stendhal]], [[Percy Bysshe Shelley]], [[Benedetto Croce]], [[Thomas Mann]] e vários outros. Foi amigo de infância de [[Cesare Pavese]] com quem conviveu e aprendeu o inglês através da leitura de alguns clássicos. Lia, depois traduzia e comentava.


Uma condição familiar confortável permitiu-lhe uma infância tranquila. O jovem Norberto escreve versos, ama [[Johann Sebastian Bach|Bach]] e La ''Traviata'', mas desenvolverá, devido a uma doença infantil não bem definida "a sensação de cansaço de viver, de um cansaço permanente e invencível" que se agravou com a idade, traduzindo-se num ''taedium vitae'', num sentimento de melancolia, que se revelará essencial para o seu amadurecimento intelectual.<ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.36311/1982-8004.2017.v10n1.02.p11 |titulo=O MODELO POLÍTICO DE NORBERTO BOBBIO: CONSIDERAÇÕES PARA UMA TENTATIVA DE RECONSTRUÇÃO SISTEMÁTICA |data=2017-11-07 |acessodata=2021-03-20 |jornal=Revista Aurora |número=1 |ultimo=CATTANEO |primeiro=Fabrizio |doi=10.36311/1982-8004.2017.v10n1.02.p11 |issn=1982-8004}}</ref>
Não obstante as origens abastadas e o estrato social elevado a que pertence por força da posição social do pai, é marcado por uma educação liberal. Diz na ''Autobiografia'': "''na minha família nunca tive a impressão do conflicto de classe entre burgueses e proletários. Fomos educados a considerar todos os homens iguais e a pensar que não há nenhuma diferença entre quem é culto e quem não é culto, entre quem é rico e quem não é rico.''" E registra: "''recordei esta educação para um estilo de vida democrático numa página de Direita e Esquerda em que confesso ter-me sentido pouco à vontade diante do espectáculo das diferenças entre ricos e pobres, entre quem está por cima e por debaixo na escala social, enquanto o populismo fascista tinha em mira arregimentar os italianos dentro de uma organização social que cristalizasse as desigualdades.''"


Ele estudou primeiro no ginásio e depois no colégio clássico Massimo D'Azeglio, onde conheceu Leone Ginzburg, Vittorio Foa e Cesare Pavese, que mais tarde se tornaram figuras importantes na cultura da Itália republicana. A partir de 1928, como muitos jovens da época, foi finalmente inscrito no Partido Nacional Fascista. Sua juventude, como ele mesmo descreveu, foi: “vivida entre um convicto fascismo patriótico na família e um igualmente firme antifascismo aprendido na escola, com conhecidos professores antifascistas, como Umberto Cosmo e Zino Zini, e igualmente camaradas antifascistas intransigentes como Leone Ginzburg e Vittorio Foa".<ref>{{Citar web |ultimo=Ficara |primeiro=Aldo Domenico |url=https://www.tecnicadellascuola.it/esami-di-stato-anniversari-e-tototema |titulo=Esami di stato: anniversari e tototema - Notizie Scuola |data=2014-06-02 |acessodata=2021-03-20 |website=Tecnica della Scuola |lingua=it-IT}}</ref>
Mesmo tardiamente, adquiriu consciência política, e relembra: "''não foi no cortiço familiar que amadureci a aversão ao regime [[mussolini]]ano. Eu fazia parte de uma família filofascista como de resto o era grande parte da burguesia."'' Adquire a educação política no liceu Massimo d’Azeglio, nas aulas de [[Augusto Monti]], amigo de [[Piero Gobetti]] e colaborador na revista ''Le revoluzioni liberali'', na convivência com [[Leone Ginzburg]], [[judeu]] russo, de quem se diz impressionado por uma inteligência viva, um "antifascista absoluto". Completa os estudos na Universidade na companhia de [[Vittorio Foà]], "antifascista desde sempre". Ambos, registra, fizeram-no sair, pouco a pouco, do "filofascismo familiar".


Aluno de Gioele Solari e Luigi Einaudi, formou-se em Direito em 11 de julho de 1931 com a tese intitulada ''Filosofia e Dogmática do Direito'', obtendo a nota 110/110 cum laude com dignidade de imprensa. Em 1932 frequentou um curso de verão na Universidade de Marburg, na Alemanha, junto com Renato Treves e Ludovico Geymonat, onde aprenderá sobre as teorias de [[Karl Jaspers|Jaspers]] e os valores do [[existencialismo]]. No ano seguinte, em dezembro de 1933, formou-se em Filosofia sob a orientação de Hannibal Shepherd com uma tese sobre a fenomenologia de [[Edmund Husserl|Husserl]], trazendo um voto de 110/110 cum laude e dignidade da imprensa, e em 1934 obteve a habilitação docente em [[Filosofia do direito|Filosofia do Direito]], que abriu as portas em 1935 para o ensino, primeiro na Universidade de Camerino, depois na Universidade de Siena e Pádua (de 1940 a 1948 ). Em 1934, ele publicou seu primeiro livro, ''The Phenomenological Address in Social and Legal Philosophy.''<ref>{{Citar web |url=http://www.larapedia.com/storia_Norberto_Bobbio/Norberto_Bobbio_vita_e_opere.html |titulo=Norberto Bobbio biografia vita e opere |acessodata=2021-03-20 |website=www.larapedia.com}}</ref>
Acaba o liceu em 1927 e inscreve-se na Faculdade de Jurisprudência da [[Universidade de Turim]]. Convive com professores notáveis, que lhe ajudam a moldar a personalidade, os gostos e a traçar o seu próprio caminho. Em 1931, licencia-se em [[Jurisprudência]] com uma tese de Filosofia do Direito.


== A prisão em 1935 e a Carta a Mussolini ==
=== Ativismo político ===
Seus contatos indesejáveis ​​com o regime lhe renderam, em 15 de maio de 1935, uma primeira prisão em Turim, junto com amigos do grupo antifascista Giustizia e Libertà; foi, portanto, obrigado, após uma liminar, a comparecer perante a Comissão Provincial da Prefeitura para se inocentar, a encaminhar uma carta a [[Benito Mussolini]]. A clara fama fascista de que gozava a família, no entanto, permitiu-lhe uma reabilitação plena, tanto que, poucos meses depois, com a intervenção necessária de Mussolini e Gentile, obteve a cátedra de filosofia do direito no Camerino, que ocupou por outro professor titular judeu, expulso em decorrência de leis raciais.<ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.35305/ac.v13i14.594 |titulo=Fascistas y antifascistas en las elecciones de la Sociedad Italia Unita de Bahía Blanca (enero de 1927) |data=2016-07-08 |acessodata=2021-03-20 |jornal=Avances del Cesor |número=14 |ultimo=Cimatti |primeiro=Bruno |paginas=117–136 |doi=10.35305/ac.v13i14.594 |issn=2422-6580}}</ref> Após uma recusa inicial devido à detenção de três anos antes, foi reintegrado graças à intervenção de Emilio De Bono, amigo da família, enquanto o católico e declarado antifascista Giuseppe Capograssi era presidente da comissão.<ref>{{Citar web |url=https://ricerca.repubblica.it/repubblica/archivio/repubblica/2004/01/10/una-vita-per-la-democrazia-nel-secolo.html |titulo=Una vita per la democrazia nel secolo delle dittature - la Repubblica.it |acessodata=2021-03-20 |website=Archivio - la Repubblica.it |lingua=it}}</ref>
Na década de 1930, freqüenta o círculo de oposição ao regime de [[Barbara Allason]] e é preso em maio de 1934, juntamente com Vittorio Foà numa ação policial do regime contra o grupo liberal ''[[Giustizia e Libertà]]'', não obstante não militar nele. É condenado à pena mais leve, a de advertência.


É durante estes anos que Norberto Bobbio delineia parte dos interesses que estarão na base da sua investigação e dos seus estudos futuros: a [[filosofia do direito]], a filosofia contemporânea e os estudos sociais, um desenvolvimento cultural que Bobbio vive ao mesmo tempo que o temporal (contexto político). Um ano depois das leis raciais, na verdade, exatamente em 3 de março de 1939, ele jurou lealdade ao fascismo para obter a cátedra na Universidade de Siena. E renovou seu juramento em 1940, quando a guerra foi declarada, para ocupar o lugar do professor Giuseppe Capograssi, que por sua vez assumiu o cargo em 1938 na cadeira do professor Adolfo Ravà, expulso da Universidade de Pádua por ser judeu.<ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.2307/40116244 |titulo=Dizionario biografico degli italiani. I, II |data=1961 |acessodata=2021-03-20 |jornal=Books Abroad |número=4 |ultimo=D. |primeiro=B. G. |paginas=386 |doi=10.2307/40116244 |issn=0006-7431}}</ref> Esse episódio de sua vida - muitas vezes relatado como se Bobbio tivesse assumido diretamente o lugar de Ravà - foi então objeto de várias controvérsias.<ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.2307/j.ctvswx894.10 |titulo=Il professore magnifico |data=2019-11-22 |acessodata=2021-03-20 |publicado=Quodlibet |ultimo=Bergounioux |primeiro=Pierre |paginas=49–52 |isbn=978-88-229-1052-3}}</ref>
A sua entrada no antifascismo ativo em Camerino faz-se por via do movimento [[Socialismo liberal|socialista-liberal]] reunido à volta de [[Guido Calogero]], [[Aldo Capitini]], [[Umberto Morra di Lavriano]], [[Cesare Luporini]] que irá incorporar alguns anos mais tarde o ''[[Partito d'Azione]]''. O [[proselitismo]], escrevia um companheiro seu da frente socialista-liberal, [[Rugero Zangrandi]], era "''a actividade de base aguardando o dia em que as coisas mudariam, integrada por tímidas ações de propaganda que se transformavam, no entanto, numa aprendizagem para a luta". O movimento era uma rede de grupos de oposição que se constitui espontaneamente nas universidades, nas coletividades recreativas, nas associações religiosas e nos organismos culturais, perante o que Zangrandi designa pelo 'degelo das consciências' na sequência da promulgação das leis raciais e constitui o primeiro movimento cultural [[antifascista]] de inspiração não marxista que se afasta da tradição crociana e que consegue exprimir as suas aspirações sociais e libertárias, 'dando resposta às exigências mais vivas da juventude intelectual'''".


Em 1942, um jovem Bobbio afirmou perante a Sociedade Italiana de Filosofia do Direito que Capograssi cresceu naquele "renascimento idealista do século XX, em nosso campo de estudos iniciado, estimulado e, o que é mais, criticamente fundado por Giorgio Del Vecchio".<ref>{{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/oclc/860444344|título=Filosofia giuridica della guerra e della pace : Atti del 25. Congresso della Società italiana di filosofia del diritto, Milano e Courmayeur, 21-23 settembre 2006|ultimo=Società italiana di filosofia del diritto|data=2008|editora=FrancoAngeli|outros=Vincenzo Ferrari|local=Milano|oclc=860444344}}</ref>
Como Norberto Bobbio sublinhará, décadas mais tarde, em ''Maestri e Compagni'': ''"embora proclamando-se liberal-socialista, desde o princípio o movimento fez questão de distinguir o seu liberal-socialismo do dos outros pelo empenho ético-religioso e não apenas político de que o animara. Refutou sempre tenazmente a absolutização da política (que era a saída do totalitarismo) e por isso a resolução de todas as atividade humanas na atividade política, na confusão dos movimentos sociais com os partidos. O liberal-socialismo não era ao princípio (e nunca deveria tornar-se) um partido; era uma atitude de espírito, uma abertura numa direção, uma certeza e uma esperança em contínua renovação, uma orientação de consciência''".


== Adesão ao Partito d'azione ==
É por via dessa postura mais ética e valorativa que politicamente militante que prefigurará anos mais tarde a ponte entre as sensibilidades liberal-socialista de Guido Calogero e Aldo Capitini e o [[socialismo liberal]] pós-marxista de [[Carlo Rosselli]]. Em 1941 é fundado o Partido de Ação e o movimento liberal-socialista conflui nele, forçando a entrada da Itália na guerra a passagem do movimento à oposição.
Em 1942 participou do movimento socialista liberal fundado por Guido Calogero e Aldo Capitini e, em outubro do mesmo ano, ingressou no clandestino "Partito d'azione". Nos primeiros meses de 1943 ele rejeitou o "convite" do Ministro Biggini (que logo depois elaborou a constituição da República de Salò por iniciativa de Mussolini) para participar de uma cerimônia na [[Universidade de Pádua]] durante a qual uma lâmpada votiva seria colocada no santuário dos caídos da revolução fascista no cemitério da cidade. Em 1943 ele se casou com Valeria Cova: seus filhos Luigi, Andrea e Marco nasceram de sua união. Em 6 de dezembro de 1943, ele foi preso em Pádua por atividades clandestinas e permaneceu na prisão por três meses. Em 1944 foi publicado o ensaio "A filosofia da Decadência", no qual criticava o existencialismo e as correntes irracionalistas, ao mesmo tempo que defendia as necessidades da razão iluminista.<ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.5944/endoxa.11.1999.4942 |titulo=RESEÑA de : Abbagnano, Nicola. Dizzionario di Filosofía. Torino : Utet, 1998 |data=1999-01-01 |acessodata=2021-03-20 |jornal=ENDOXA |número=11 |ultimo=Martínez Bisbal |primeiro=Josep |paginas=384 |doi=10.5944/endoxa.11.1999.4942 |issn=2174-5676}}</ref>


Depois da libertação, ele colaborou regularmente com ''Giustizia e Libertà'', o jornal de Turim [[Partito d'Azione|Partito d'azione]], dirigido por Franco Venturi. Colaborou na atividade do Centro de Estudos Metodológicos com o objetivo de promover o encontro entre a cultura científica e a cultura humanística e, posteriormente, com a Sociedade Europeia de Cultura. Em 1945 publicou uma antologia de escritos de Carlo Cattaneo, com o título ''Estados Unidos da Itália'', apresentando um estudo, escrito entre a primavera de 1944 e a de 1945, onde argumentava que o federalismo como união de diferentes estados deveria ser considerado ultrapassado após a unificação nacional ocorreu. O federalismo pensado por Bobbio era aquele pretendido como um "teórico da liberdade" com uma pluralidade de centros de participação que pudessem se expressar em formas de democracia direta moderna.<ref>{{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/oclc/797637348|título=Tra due repubbliche : alle origini della democrazia italiana|ultimo=Bobbio|primeiro=Norberto|data=1996|editora=Donzelli|outros=Tommaso Greco|local=Roma|oclc=797637348}}</ref>
Critica os elementos autoritários e anti-democráticos do Marxismo, defendendo que o socialismo deve ser baseado na [[Separação de poderes]], limitação dos poderes políticos, [[justiça social]] e do [[Estado de direito]].<ref>Bobbio, Norberto, Esquerda e Direita. 1997, University of Chicago Press. ISBN 0-226-06246-5</ref>


== Atividade Acadêmica ==
Mais que um verdadeiro e organizado partido de massas, o ''[[Partito d'Azione]]'' une os conspiradores contra o fascismo, alimenta o sonho do derrube do mussolinismo e da transição para a democracia, ao mesmo tempo que concebe a ideia de uma combinação harmoniosa entre a tradição européia e britânica de um [[liberalismo]] ético materializado nas instituições da democracia representativa e um programa de ampla justiça social que liberte a Itália e os italianos da pecha do subdesenvolvimento. A origem do seu antifascismo e a sua ideia classista do papel do intelectual, como consciência crítica da Nação e pedagogo, devem procurar-se na tradição do [[Risorgimento]], na tradição laica e anticlerical que andou sempre associada aos meios intelectuais, no liberalismo ético de um [[Benedetto Croce]], no liberalismo europeu de [[Guido de Ruggiero]], no [[socialismo liberal]] de [[Piero Gobetti]], [[Guido de Calogero]] e [[Aldo Capitini]] ou mais remotamente, no [[século XIX]], no pensamento de [[Carlo Cattaneo]].
Em 1948, ele deixou seu cargo em Pádua e foi chamado para a cadeira de filosofia do direito na [[Universidade de Turim]], incluindo cursos de considerável importância, como ''Teoria da ciência jurídica'' (1950), ''Teoria das normas jurídicas'' (1958), ''Teoria do sistema jurídico'' (1960) e ''Positivismo jurídico'' (1961).<ref name="Não_nomeado-y8vN-2">{{Citar web |url=https://www.retidigiustizia.it/leggi-e-diritto/bobbio-il-compito-degli-intellettuali |titulo=Norberto Bobbio: "Il compito degli intellettuali? Seminare dubbi" |data=1970-01-01 |acessodata=2021-03-20 |website=Reti di Giustizia |lingua=it-it}}</ref>


A partir de 1962 passou a lecionar Ciências Políticas, que ocupará até 1971; foi um dos fundadores da atual faculdade de ciências políticas da Universidade de Turim juntamente com Alessandro Passerin d'Entrèves, que assumiu a cadeira de filosofia política em 1972, mantendo-a até 1979 também para o ensino de filosofia do direito e política Ciência. De 1973 a 1976 tornou-se reitor do corpo docente por acreditar que enquanto os cargos acadêmicos eram "onerosos e sem honras", o magistério era a principal atividade de sua vida: "um hábito e não apenas uma profissão".<ref name="Não_nomeado-y8vN-2"/>
=== Carreira docente ===
Em 1935 obtém um lugar de docente de Filosofia do Direito na [[Universidade de Camerino]], mas são-lhe levantadas dificuldades dada a prisão e a pena de advertência a que é condenado no ano anterior. Escreve a [[Benito Mussolini]] pedindo que lhe seja removida a pena. A carta é pungente e será sessenta anos mais tarde citada como prova de fraqueza e de cedência dos intelectuais antifascistas. Declara a este propósito ao jornalista [[Giorgio Fabre]] que subscrevera a peça no semanário ''Panorama'': "''quem viveu a experiência do Estado de ditadura sabe que é um Estado diferente de todos os outros. E até esta minha carta, que agora me parece vergonhosa o demonstra (…) A ditadura corrompe o espírito das pessoas. Constrange à hipocrisia à mentira ao servilismo.''"


A política, por outro lado, gradualmente se tornou um tema fundamental em sua trajetória intelectual e acadêmica e, paralelamente às publicações de natureza jurídica, iniciou um debate com os intelectuais da época; em 1955 escreveu ''Política e Cultura'', considerada um de seus marcos, enquanto em 1969 publicou o livro ''Ensaios sobre ciência política na Itália''.<ref name="Não_nomeado-y8vN-2"/>
Conquistada a cátedra em [[Camerino]] é chamado para a [[Universidade de Siena]] em fins de 1938, onde permanece dois anos. Em dezembro de 1940 obtém a cátedra de Filosofia de Direito na Faculdade de Jurisprudência da [[Universidade de Pádua]].


Nos vinte e cinco anos acadêmicos à sombra da Mole Antonelliana, Bobbio também ministrou diversos cursos sobre Kant, Locke, obras sobre Hobbes e Marx, [[Hans Kelsen]], Carlo Cattaneo, Hegel, [[Vilfredo Pareto]], Gaetano Mosca, Piero Gobetti, Antonio Gramsci, e contribuiu com uma pluralidade de ensaios, escritos, artigos e intervenções de grande importância que o levaram, posteriormente, a se tornar membro da Accademia dei Lincei e da British Academy.<ref name="Não_nomeado-y8vN-2"/>
Em 1948, Bobbio transfere-se para a Universidade de Turim cabendo-lhe primeiro a regência da cadeira de Filosofia do Direito e depois, a partir de 1972, a de Filosofia Política. A sua dupla atração pelo direito e pela filosofia mas também pela história das ideias, influenciam um percurso acadêmico distinto do que era tradicional, na Itália, para um professor de direito. Ao lecionamento das matérias da filosofia do direito e da teoria das relações jurídicas, Bobbio associa cursos monográficos, de caráter histórico, destinados a divulgar o pensamento dos grandes filósofos e das principais correntes da ''História das'' ide''ias'' (e da Filosofia). Estes cursos, como o sublinha Celso Lafer, inspiram-se no seu mentor e mestre, Gieole Salori, que divulgara através de apostilas e monografias pensadores como Grotius, Spinoza, Locke, Kant e Hegel "''à maneira de um professor da Faculdade de Filosofia e não de uma Faculdade de Direito''".


Tornou-se co-diretor com Nicola Abbagnano da ''Revista de Filosofia a'' partir de 1953, tendo, assim, se tornado membro da Academia de Ciências de Turim, da qual ingressou em 9 de março do mesmo ano para ser confirmado membro nacional e residente a partir de 26 de abril de 1960.<ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.30682//ildia1901f |titulo=JOURNAL CLUB, MARZO 2019 |data=2019-03-15 |acessodata=2021-03-20 |jornal=il Diabete |número=N. 1, marzo 2019 |paginas=55–56 |doi=10.30682//ildia1901f |issn=1720-8335}}</ref> É significativa a colaboração, sobre o tema pacifista, com o filósofo e amigo antifascista Aldo Capitini, cujas reflexões comuns conduzirão à obra ''Os problemas da guerra e os caminhos da paz'' (1979).
O seu interesse pela história das ideias leva-o a partir de 1962 a lecionar Ciência Política, juntamente com ''Filosofia de Direito'', constituindo a sua cátedra em Turim paralelamente à de [[Giovanni Sartori]], em Florença, as primeiras na área das Ciências Sociais, em Itália. Em 1972, transita para a Faculdade de Ciências Políticas da mesma cidade, indo substituir Alessandro Passarin d’Entrèves" na cátedra de Filosofia Política. Dirige vários cursos, nomeadamente "Teoria das formas do governo na história do pensamento político" em que perspectiva a partir da trilogia clássica das formas de governo ([[monarquia]], [[aristocracia]] e [[democracia]]) a história das tipologias e a formação do pensamento democrático.


== Atividade Política ==
Sete anos depois (1979) jubila-se da atividade docente, com setenta anos, mas mantém-se ativo na reflexão e na escrita. É substituído pelo seu discípulo [[Michelangelo Bovero]] que organizará no fim dos [[anos 90]] uma compilação de apontamentos das suas aulas sob o título ''Teoria Geral da Política – a filosofia política e as lições dos clássicos''. É membro nacional da Academia dei Lincei, desde 1966 e membro correspondente da ''[[British Academy]]'', desde 1965.
Em 1953 participou da luta liderada pelo movimento da Unidade Popular contra a lei eleitoral majoritária e em 1967 na Assembleia Constituinte do Partido Socialista Unificado. Na época dos protestos juvenis, Turim foi a primeira cidade a comandar o protesto, e Bobbio, defensor do diálogo, não escapou de um confronto difícil com os estudantes, inclusive com seu próprio filho mais velho, Luigi, que era militante na época. em Lotta Continue. Paralelamente, foi também nomeado pelo Ministério da Educação Pública como membro da Comissão Técnica para a criação da Faculdade de Sociologia de Trento.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=F1OzDwAAQBAJ&pg=PT369&lpg=PT369&dq=Nel+1953+partecip%C3%B2+alla+lotta+condotta+dal+movimento+di+Unit%C3%A0+Popolare+contro+la+legge+elettorale+maggioritaria+e+nel+1967+alla+Costituente+del+Partito+Socialista+Unificato.+Nel+tempo+delle+contestazioni+giovanili,+Torino+fu+la+prima+citt%C3%A0+a+farsi+carico+della+protesta,+e+Bobbio,+fautore+del+dialogo,+non+si+sottrasse+a+un+difficile+confronto+con+gli+studenti,+tra+i+quali+il+suo+stesso+primogenito+Luigi+che+militava+all'epoca+in+Lotta+Continua.+Nel+contempo,+venne+anche+incaricato+dal+Ministero+per+la+Pubblica+Istruzione+quale+membro+della+Commissione+tecnica+per+la+creazione+della+facolt%C3%A0+di+sociologia+di+Trento.&source=bl&ots=cpnfeQvXe4&sig=ACfU3U38qx8ZCH_gGmkdoDP3KZFjgozKkQ&hl=pt-BR&sa=X&ved=2ahUKEwimoZThiMDvAhXLLLkGHY3zBwoQ6AEwA3oECBMQAw|título=Economia, politica, etica nel dispiegarsi del pensiero occidentale: Una narrazione sulla storia d’Italia per fatti essenziali: radici, tappe fondamentali, realtà attuale|ultimo=Marzano|primeiro=Ferruccio|data=2019-07-19|editora=Marcianum Press|lingua=it}}</ref>


Em 1971, Bobbio estava entre os signatários da carta aberta publicada no semanário ''L'Espresso'' sobre o caso Pinelli. Em 1998, Norberto Bobbio, em carta dirigida a Adriano Sofri publicada no ''La Repubblica,'' repudiou o tom da linguagem utilizada na apelação, mas sem se retratar de sua adesão ao conteúdo das críticas sobre os fatos relacionados à Piazza Fontana.<ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.3280/for2014-099020 |titulo=Big World. Quello che i formatori non osano chiedere.. |data=outubro de 2015 |acessodata=2021-03-20 |jornal=FOR Rivista per la formazione |número=99 |ultimo=Martinelli |primeiro=Chiara |paginas=66–68 |doi=10.3280/for2014-099020 |issn=1828-1966}}</ref>
=== Últimas décadas de vida ===
Dedica os vinte anos seguintes à escrita, ao comentário político e ensaístico, à polêmica, ao sabor dos acontecimentos que marcam a vida política italiana. Assume-se a maior parte das vezes como observador e analista independente, incapaz de se acomodar a uma militância e alinhamento partidários que no fundo julga inibidor e desinteressante. Recusa ostracizar os comunistas, sustenta um diálogo democrático com eles, vendo "não adversários, mas interlocutores".


Em 14 de fevereiro de 1972, escrevendo a Guido Fassòem torno do problema democrático, Bobbio desabafou argumentando que “esta nossa democracia tornou-se cada vez mais uma casca vazia, ou melhor, uma tela atrás da qual se esconde um poder cada vez mais corrupto, cada vez mais descontrolado, cada vez mais exorbitante [... ] fora, na fachada. Mas por trás da tradicional arrogância dos poderosos que não querem abrir mão nem de um grama de seu poder, e mantê-lo por todos os meios, antes de tudo com a corrupção [...] A democracia não é apenas um método, mas também é um ideal: é o ideal igualitário. Onde este ideal não inspira os governantes de um regime autoproclamado democrático, democracia é um nome vão. Não posso separar a democracia formal da substantiva. Tenho o pressentimento de que onde há é só a primeira que um regime democrático não está destinado a durar [...] estou muito amargo, meu amigo. Mas vejo este nosso sistema político se desintegrando aos poucos [...] por causa de suas degenerações internas, profundas, talvez irrefreáveis​​».<ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.18290/rnp.2018.28.4-13 |titulo=Paolo Gherri, Introduzione al Diritto amministrativo canonico. Metodo, Milano: Giuffre Editore 2018 |data=2018 |acessodata=2021-03-20 |jornal=Roczniki Nauk Prawnych |número=4 |ultimo=Michowicz |primeiro=Przemysław |paginas=201–205 |doi=10.18290/rnp.2018.28.4-13 |issn=1507-7896}}</ref>
Inconformado com o beco sem saída que o socialismo italiano se remete, Bobbio traz, sobretudo nos anos 70, uma contribuição central ao debate político italiano na revisão dos postulados do socialismo, perguntando em ''Quale socialismo?'' o que é que poderia ajudar a resolver a grande contradição entre os dois modelos contrapostos, porquanto quer um quer outro se revelam amplamente insatisfatórios. Polemiza com Togliatti e com Galvano Della Volpe, estudiosos marxistas, tentando reconhecer as razões que podem ter as pessoas com ideias diferentes das suas.


Em meados dos anos setenta, na esteira de um compromisso civil cada vez mais vivo, e no limiar de um dos períodos mais dramáticos da Itália (culminando com o sequestro e assassinato de Aldo Moro), provocou um debate animado, ambos negando a existência de uma cultura fascista é lidar extensivamente com as relações entre democracia e socialismo.<ref>{{Citar web |url=https://www.retidigiustizia.it/leggi-e-diritto/norberto-bobbio-perche-dico-no-alla-pena-di-morte |titulo=Norberto Bobbio: "Perché dico no alla pena di morte" |data=1970-01-01 |acessodata=2021-03-20 |website=Reti di Giustizia |lingua=it-it}}</ref>
Na sequência do envolvimento no debate socialista, quebra a promessa que fizera a si próprio de se afastar definitivamente da política partidária, quando o sonho de uma alternativa política liberal se esfumara perante a realidade dos dois partidos de massas dominantes: a [[Democracia Cristã]] e o partido comunista.


Em 8 de maio de 1981, na véspera do referendo sobre o aborto, ele deu uma entrevista ao Corriere della Sera na qual declarou sua oposição à interrupção da gravidez.<ref>{{Citar web |url=https://www.corriere.it/editoriali/08_febbraio_19/magris_715d3ad8-deb1-11dc-9d37-0003ba99c667.shtml |titulo=Bobbio e l'aborto Corriere della Sera |acessodata=2021-03-20 |website=www.corriere.it}}</ref>
Empenha-se na batalha política que em 1976 leva o PSI das mãos de Francesco de Martino às de [[Bettino Craxi]]. Faz parte do grupo de dissidentes que tenta opor-se a Craxi defendendo a candidatura de Giolitti no Congresso de Turim (30 de março a 2 de abril de 1978), mas Craxi vence e abre nos dias seguintes ao Congresso as hostilidades contra os comunistas e [[Giovanni Berlinguer]]. Bobbio discorda e di-lo numa carta a Craxi. O afastamento em relação à linha oficial prefigurada por [[Bettino Craxi]] acentua-se. No Congresso de Verona de Maio de 1984, que reforça o poder pessoal do secretário do PSI, eleito por aclamação, Bobbio escreve em ''[[La Stampa]]'' uma contundente denúncia dos meandros do poder partidário sob o título irónico ''La democrazia dell’applauso'' a que Craxi responde. O desencontro entre os dois reatar-se-á em 1987 e 1990 a propósito das reformas introduzidas no programa eleitoral do PSI para as eleições de 14 de Junho de 1987 e de uma conferência organizada pelos socialistas sobre as reformas institucionais e o diálogo com os comunistas.


Posteriormente a sua atenção estava concentrada em favor de uma "política de paz", com distinção motivada em apoio do direito internacional por ocasião do 1991 Guerra do Golfo.<ref name="Não_nomeado-y8vN-2"/>
A carta de 12 de novembro de 1990 citada na sua ''Autobiografia'' é a todos os títulos um espelho de uma postura e de uma independência incómoda e incomodada: "''Nunca fui comunista, como sabes, mas agora que com o ruir do comunismo histórico teria surgido a ocasião propícia para uma grande iniciativa unitária, a pequena polémica quotidiana parece-me absolutamente estéril.'' (Bobbio refere-se ao editorial do Avanti órgão oficial do PSI que é dedicado nove em cada dez vezes a qualquer tareia polémica com os comunistas, sic). ''Na minha opinião não basta mudar o nome do partido, pôr a unidade no título e aguardar que o filho pródigo retorne à casa paterna. Sem uma grande iniciativa, receio que não vá tornar (…) Mas eu não sou político, sou apenas um observador. Não exprimo propriamente uma opinião e muito menos faço propostas. Limito-me a expressar uma impressão.''" Essa reflexão sobre os caminhos irreconciliáveis entre uma postura cívica digna e as contradições do envolvimento partidário é continuada em [[Liberalismo]] e Democracia e em inúmeros artigos recolhidos em "L'utopia capovolta" ainda inédito fora de Itália.


Das vinte e cinco cartas inéditas que fazem parte da correspondência que Bobbio tinha com Danilo Zolo e que agora são divulgadas no volume ''O sopro da liberdade'', editado pelo próprio Zolo, interessante é a de 25 de fevereiro de 1991 sobre a "Guerra do Golfo" cujos protagonistas em janeiro de 1991 os Estados Unidos de George Bush pai, as forças da '[[ONU]] e vários países árabes se aliaram contra' o Iraque de [[Saddam Hussein]], que havia [[Invasão do Kuwait|invadido o Kuwait]].<ref name="Não_nomeado-y8vN-3">{{Citar web |url=https://www.retidigiustizia.it/leggi-e-diritto/bobbio-soltanto-la-democrazia-puo-garantire-la-pace |titulo=Norberto Bobbio: "Soltanto la democrazia può garantire la pace" |data=1970-01-01 |acessodata=2021-03-20 |website=Reti di Giustizia |lingua=it-it}}</ref>
Em 18 de Julho de 1984 é nomeado [[senador vitalício]] pelo presidente [[Sandro Pertini]] (juntamente com o escritor católico [[Carlo Bo]]).


Bobbio definiu esta guerra como "apenas" não perceber que aquela palavra "... poderia ser interpretada de uma maneira diferente de como eu a entendia... como uma guerra" justificada "por responder a uma agressão". Bobbio então reclamou da polêmica que surgiu a esse respeito pelos " pacifistas exagerados ". O fato de a ONU, escreveu Bobbio, ter autorizado a intervenção na guerra contra o Iraque tornava-a "legal", nesse sentido, "justa".<ref name="Não_nomeado-y8vN-3"/>
Nesse mesmo ano, Bobbio deixa definitivamente a vida universitária, com setenta e cinco anos, e a Faculdade de Ciência Políticas concede-lhe por unanimidade o título de professor emérito. Inicia uma nova actividade pública - a colaboração em ''La Stampa'' – e trata matérias da sua predilecção: o pluralismo, os conteúdos do socialismo, a relação com a violência, a terceira via, a crise das instituições. Parte dos artigos serão compilados em ''Le ideologie e il potere en crisi '' que sairá em 1981, seguida anos mais tarde por ''L'utopia capovolta''.


Bobbio, no entanto, reconheceu que a ONU posteriormente foi posta de lado durante a guerra e o "bombardeio impiedoso" em Bagdá significava que se poderia temer que "... se a paz for estabelecida com a mesma falta de sabedoria com que a guerra foi conduzida, esta guerra também terá sido, como tantas outras, inútil."<ref name="Não_nomeado-y8vN-3"/>
A traumática reconfiguração política italiana iniciada em 1992, quando o sistema político italiano se desmorona como um castelo de cartas em razão da corrupção, das ligações entre a [[Máfia]] e a Democracia Cristã de [[Giulio Andreotti]], da inépcia da classe política de perceber as mudanças profundas ocorridas na sociedade, de um sistema político que titubeia ao sabor dos governos que se formam e caem, mobilizam-no para o combate ético e moral, alertando os seus concidadãos para a frágil sustentabilidade da vida democrática, num país com grandes tradições autoritárias e que só conheceu, tardiamente, a unidade política.


== A nomeação para o cargo de senador vitalício ==
Perturba-o uma sociedade que leva muito tempo a recuperar do trauma do assassinato de Aldo Moro às mãos das [[Brigadas Vermelhas]] que se contenta com uma justiça parcial face à nuvem de acusações, nunca deslindadas, da cumplicidade da Democracia Cristã, da polícia e dos serviços secretos italianos na sua eliminação. Como escreve [[Gregorio Peces-Barba Martínez]], ao ser visitado na sua casa no dia em que perfaz 90 anos, pelo presidente do Senado, [[Nicola Mancino]], que o felicita pelo aniversário, Bobbio relembra a idéia do labirinto a propósito da vida política italiana: "''A política italiana faz pensar num labirinto…do labirinto, claro está, pode-se sair, embora seja difícil encontrar um caminho para consegui-lo.''" E sublinha o caminho para o concretizar: "''Acreditamos saber que existe uma única saída mas não sabemos onde está. Não havendo ninguém do lado de fora que nos possa indicá-la, devemos procurá-la por nós mesmos. O que o labirinto ensina não é onde está a saída, mas quais os caminhos que levam a lado algum.''"
Em 1979 foi nomeado professor emérito da Universidade de Torino e em 1984, nos termos do segundo parágrafo do artigo 59 da [[Constituição italiana]], tendo "ilustrado a pátria com altíssimos méritos" no campo social e científico, foi nomeado senador vitaliciamente pelo Presidente da República Sandro Pertini. Como deputado ao Senado, inscreveu-se primeiro como independente no grupo socialista, depois a partir de 1991 no grupo misto e finalmente a partir de 1996 no grupo parlamentar do Partido Democrático de Esquerda, que mais tarde se tornou os Democratas de Esquerda.<ref>{{Citar web |url=http://www.senato.it/leg/13/BGT/Schede/Attsen/00000288.htm |titulo=senato.it - Scheda di attività di Norberto BOBBIO - XIII Legislatura |acessodata=2021-03-21 |website=www.senato.it}}</ref> Em 1994, após a temporada de mãos limpas e o chamado fim da Primeira República, foi publicado o ensaio "''Direita e Esquerda"'', cujo conteúdo provocou um notável debate cultural, sacudindo a política italiana. O livro atingiu os quinhentos mil exemplares vendidos em poucos meses e foi republicado no ano seguinte, revisado e ampliado, com respostas às críticas.<ref name="Não_nomeado-y8vN-4">{{Citar web |url=https://www.retidigiustizia.it/leggi-e-diritto/bobbio-il-compito-degli-intellettuali |titulo=Norberto Bobbio: "Il compito degli intellettuali? Seminare dubbi" |data=1970-01-01 |acessodata=2021-03-21 |website=Reti di Giustizia |lingua=it-it}}</ref>


Em reconhecimento a uma vida inteira dedicada às ciências do direito, política, filosofia e sociedade, entre a dúvida e o método, entre o ethos e o [[secularismo]], Bobbio recebeu títulos honorários de várias universidades, incluindo as de Paris (Nanterre), Buenos Aires, Madrid (três, em particular na Complutense) e em Bolonha, e ganhou o Prêmio Europeu Charles Veillon de não ficção em 1981, o Prêmio Balzan de 1994, e o Prêmio Agnelliem 1995.<ref>{{Citar web |url=http://www.iniziativalaica.it/?p=5573 |titulo=Accadde oggi: nasce Norberto Bobbio « Iniziativa Laica |acessodata=2021-03-21 |website=www.iniziativalaica.it}}</ref>
Sua esposa Valéria faleceu em 2001 e Norberto Bobbio faleceu em 9 de janeiro de 2004, em Turim, aos 94 anos de idade. Deixaram três filhos.


Em 1997 publicou sua autobiografia. Em 1999, uma terceira edição atualizada de seu best-seller foi lançada, agora traduzida para cerca de vinte idiomas. Em 2001, sua esposa Valeria faleceu e Bobbio começou a se aposentar gradativamente da vida pública, enquanto continuava no negócio e era curador de outras publicações. Seus comentários críticos contra Silvio Berlusconi e a ''política'' partidária (ou seja, a falta de partidos) fizeram barulho, e suas reflexões sobre a crise da esquerda e da social-democracia europeia. 18 de outubro de 2003, recebeu o "Selo Cívico" de Turim "pelo seu empenho político e pela sua contribuição para a reflexão histórica e cultural".<ref>{{Citar web |url=http://www.larapedia.com/storia_Norberto_Bobbio/Norberto_Bobbio_vita_e_opere.html |titulo=Norberto Bobbio biografia vita e opere |acessodata=2021-03-21 |website=www.larapedia.com}}</ref>
== Pensamento ==
[[File:Posti di Italia Centenario nascita Norberto Bobbio.gif|thumb|[[Filatelia|Homenagem filatélica]] do correio do governo italiano ao centenário de nascimento de Norberto Bobbio em 2009.]]
Bobbio foi um ator importante no combate intelectual que conduziu ao confronto entre as três principais [[ideologia]]s do [[século XX]]: o [[nazismo|nazi]]-[[fascismo]], o [[comunismo]] e a [[democracia]] liberal. Confronto que é responsável, em grande parte, pela arquitectura do sistema internacional e pela divisão do mundo em dois blocos políticos, militares e ideológicos que subsistiu até 1989.


Depois de passar a maior parte de sua vida lá, Norberto Bobbio morreu em Torino em 9 de janeiro de 2004. De acordo com sua vontade, poucos dias após sua morte, o corpo foi sepultado, com cerimônia civil estritamente particular, no cemitério de Rivalta Bormida, município piemontês da província de Alessandria.<ref>{{Citar web |url=https://www.repubblica.it/2004/a/sezioni/spettacoli_e_cultura/bobbio/volont/volont.html |titulo=Repubblica.it/spettacoli_e_cultura: "Né ateo né agnostico ma lontano dalla Chiesa" |acessodata=2021-03-21 |website=www.repubblica.it}}</ref> Sua esposa Valéria faleceu três anos antes deixaram três filhos.<ref name="Não_nomeado-y8vN-1"/>
No século XX, a [[Itália]] conhecera famosos pensadores, ao redor dos quais se deram os enfrentamentos ideológicos e culturais. Um deles era o filósofo [[Giovanni Gentile]] (1875-1944), que apoiou o regime fascista; outro fora o historiador [[Benedetto Croce]] (1866-1952), senador vitalício e personagem maior do [[liberalismo]] italiano; o outro era o pensador marxista [[Antonio Gramsci]] (1891-1937), líder do partido [[comunista]]. Bobbio, ao colocar-se ao lado da Resistência antifascista, rejeitando Gentile, de certo modo tentou realizar a síntese entre os outros dois: Croce e Gramsci.


== Pensamento ==
Seu pensamento, durante grande parte da maturidade de sua carreira, esteve circunscrito ao círculo restrito dos meios intelectuais italianos, mas vem se tornando gradualmente conhecido em todo o mundo, primeiro por força dos seus estudos de [[filosofia do direito]], sobre o [[jusnaturalismo jurídico|jusnaturalismo]] e [[positivismo jurídico|positivismo]] jurídicos, sobre a constructibilidade dos sistemas constitucionais, depois, pelos seus ensaios e polémicas sobre a democracia representativa, o ofício dos intelectuais, a natureza e as múltiplas dimensões do poder, a díade esquerda-direita, o futuro de um [[socialismo]] não-[[marx]]ista e democrático, e finalmente os problemas da relação truculenta entre ética e política.
O pensamento de Norberto Bobbio se formou nas primeiras décadas do século XX em um clima filosófico dominado pelo idealismo. No entanto, como muitos estudiosos de Turim, ele nunca abraçou essa visão de mundo: após uma abordagem inicial da fenomenologia, significativamente atestada por seus trabalhos sobre a filosofia de Husserl, ele se aproxima de uma perspectiva neonacionalista e neoempirista que floresceu na Europa, especialmente além os Alpes na Alemanha e ao redor do [[Círculo de Viena]].<ref name="Não_nomeado-y8vN-4"/>


Nas décadas de 1940 e 1950, Bobbio entra em contato com a [[filosofia analítica]] da tradição anglo-saxônica. Realiza estudos de análise da linguagem, traçando as primeiras linhas de pesquisa da escola analítica italiana de filosofia do direito, da qual é ainda hoje reconhecido como eminente figura de referência. Nesse sentido, pelo menos os dois ensaios devem ser mencionados: ''Ciência do direito e análise da linguagem'' de 1950 e ''Ser e ter que estar na ciência'' do ''direito'' de 1967.<ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.35948/2532-9006/2020.4391 |titulo=Ci può essere qualcosa di <em>inarrivabile</em> |data=2020-09-11 |acessodata=2021-03-21 |jornal=XIV, 2020/3 (luglio-settembre) |número=3 |ultimo=D'Achille |primeiro=Paolo |doi=10.35948/2532-9006/2020.4391 |issn=2532-9006}}</ref>
A leveza, a erudição e o classicismo de seu pensamento filosófico e político naquilo que, já no ocaso da vida, designou pela visão do velho e o reencontro das memórias são, porventura, responsáveis por um novo interesse pela sua obra e pensamento, nomeadamente com a reedição em várias línguas dos seus ensaios políticos e filosóficos.


Ele dedica estudos específicos a Hobbes, a Pareto e a muitos filósofos e teóricos políticos dos quais já mencionamos. Ele vê no [[Iluminismo]] um modelo de rigor e rejeição do dogmatismo a partir do qual retira o ideal racionalista, traduzindo-o também na análise do sistema democrático e parlamentar. Desde a década de 1950 vem lidando com questões como a guerra e a legitimidade do poder, dividindo sua produção entre a filosofia jurídica, a história da filosofia e as questões políticas atuais.<ref>{{Citar web |url=https://www.retidigiustizia.it/leggi-e-diritto/norberto-bobbio-perche-dico-no-alla-pena-di-morte |titulo=Norberto Bobbio: "Perché dico no alla pena di morte" |data=1970-01-01 |acessodata=2021-03-21 |website=Reti di Giustizia |lingua=it-it}}</ref>
Ensaios que guardam um irresistível sabor narrativo e ético-histórico, mas que o combinam com uma básica actualidade na revisitação dos eternos postulados teóricos do debate filosófico, como a liberdade, a igualdade, a tolerância, o pluralismo etc., os quais como que matizam uma concepção de justiça que tem sido avaro em reconhecer.


Durante os últimos anos no fascismo, Bobbio amadureceu a convicção da necessidade de um estado democrático, que limparia o campo do perigo de uma política ideologizada e de ideologias totalitárias tanto à direita quanto à esquerda Ele espera uma gestão laica da política e uma abordagem filosófico-cultural dela, que ajudará a superar a oposição entre capitalismo e comunismo e a promover a liberdade e a justiça.<ref name="Não_nomeado-y8vN-5">{{Citar web |url=https://www.retidigiustizia.it/leggi-e-diritto/bobbio-soltanto-la-democrazia-puo-garantire-la-pace |titulo=Norberto Bobbio: "Soltanto la democrazia può garantire la pace" |data=1970-01-01 |acessodata=2021-03-21 |website=Reti di Giustizia |lingua=it-it}}</ref>
A modéstia intelectual condu-lo por vezes a reconhecer a insipiência ou a desactualização de algumas das suas análises mais antigas, ditadas ou pela pressão das circunstâncias ou pela concentração num ou noutro ponto de análise. Como refere o seu editor italiano da obra dos anos 90, "Entre duas repúblicas: as origens da democracia italiana": "''a bem poucas pessoas do nosso país acontece serem protagonistas durante o curso inteiro de meio século de vida intelectual e civil, exercendo com uma autoridade próxima da sobriedade um magistério moral de extraordinária eficácia. Talvez a ninguém, como a Norberto Bobbio, é concedido poder confrontar, à distância de cinqüenta anos, a própria reflexão pessoal a respeito de dois diferentes períodos de transição, dois acontecimentos decisivos para a história política italiana".''


No ensaio ''Qual Socialismo?'' (1976), Bobbio critica tanto a dialética marxista quanto os objetivos dos movimentos revolucionários, argumentando que as conquistas burguesas devem se estender também à classe proletária. Bobbio acredita que só a experiência marxista-leninista estava falida, enquanto ele prevê que as demandas de justiça reivindicadas pelos marxistas podem, no futuro, ressurgir no cenário político.<ref name="Não_nomeado-y8vN-5"/>
Será portanto difícil integrar a sua figura de pesquisador incansável, pensador persistente, de homem da cultura com relevante influência política e social, que não se esgota na actual estratificação político-partidária. Homem da escrita, da polémica acutilante e contundente, de convicções e temores, professa um pensamento coerente e exigente que se estriba nos valores de uma sociedade livre, democrática e laica que seja capaz pela prática do diálogo e da tolerância de vencer as suas dificuldades e realizar as promessas de progresso e desenvolvimento com que se comprometeu.


O pensamento de Bobbio torna-se assim, sobretudo entre os intelectuais da área socialista, um modelo exemplar, graças ao seu 'saber empenhado', certamente “mais preocupado em semear dúvidas do que em angariar apoios”. Ele mesmo retomará a reflexão sobre um tema que lhe é caro, o da relação entre política e cultura, propondo, uma "autonomia relativa da cultura em relação à política" segundo a qual "a cultura não pode e não deve ser reduzido integralmente à esfera do político ».<ref name="Não_nomeado-y8vN-4"/>
Por isso o seu pensamento político, constitucional e filosófico casa mal com escolas e fidelidades e não enjeita uma dimensão ética e transcendental a que paulatinamente se acerca.
Parte de uma reverência especial das lições dos seus mestres intelectuais e de vida: Kant, Rousseau, Hobbes, Kelsen mas também [[Benedetto Croce]], [[Max Weber]], Solari, [[Schmitt]], nos primeiros – Passerin d’Entreves, [[Luigi Einaudi]], Renato Treves, Giole Solari, nos segundos. Continua nos exemplos dos seus companheiros: Aldo Capitani, Rodolfo Monfoldo, Leone Ginzburg que marcam a sua ligação a: "''essa minoria de nobres espíritos que defenderam até ao fim, uns com o sacrifico da própria vida, nos anos duríssimos, a liberdade contra a tirania, a tolerância contra o atropelo, a unidade dos homens acima das raças, das classes e das pátrias, contra a divisão entre eleitos e réprobos''" para preencher os caminhos de uma vida intelectual plena como homem da razão e da tolerância.


Em 1994 ''foi lançada'' a obra ''Direita e Esquerda'', na qual Bobbio enfoca as diferenças entre as duas ideologias e as duas direções político-sociais; a direita, segundo o autor, é caracterizada por tendências à desigualdade, ao conservadorismo e é inspirada por interesses, enquanto a esquerda busca a igualdade, a transformação e é movida por ideais. Nesse trabalho, Bobbio também se expressou a favor dos direitos dos animais.<ref>{{Citar web |url=http://apk.pubh.site/jsn |titulo=Destra i Sinistra |acessodata=21-03-2021 |website=apk.pubh.site}}</ref>
Esta postura de homem da razão é constante na sua vida ensaística e filosófica: analisar com rigor os conceitos, expressar com clareza o pensamento, explicitar os seus fundamentos inspiradores, seriá-los pelo crivo da crítica e da contraposição analítico-linguística e através de inúmeros exemplos procurar convencer o seu (ou seus) interlocutor(es) pelo exclusivo exercício da Razão e da Argumentação. É esta mesma postura que lhe permite peneirar doutrinas filosóficas com que não concorda como o marxismo mas que acha terem dado um contributo especializado para a história das ideias ou polemizar o fracasso do [[socialismo científico]] e da sociedade socialista do [[leste europeu]], colocando-se na perspectiva do adversário (sem partir de uma posição de antagonismo e exclusão absoluta) e explicitando as contradições e lacunas da sua argumentícia.


Na obra A Era dos Direitos (1990), Bobbio identifica os direitos fundamentais que permitem o desenvolvimento de uma democracia real e de uma paz justa e duradoura. Uma participação coletiva e não coercitiva nas decisões da comunidade, uma negociação das partes, a expansão do modelo democrático para todo o mundo, a fraternidade entre os homens, o respeito aos oponentes, a alternância sem o auxílio da violência, uma série de condições liberais, são apontados por Bobbio como pedras angulares de uma democracia, que embora ruim, é preferível a uma ditadura.<ref>{{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/oclc/817045966|título=A era dos direitos|ultimo=Bobbio|primeiro=Norberto|data=2004|editora=Elsevier|local=Rio de Janeiro (RJ)|oclc=817045966}}</ref>
No campo da [[Filosofia do Direito]] Norberto Bobbio incorpora-se na corrente dos que identificam no corpo doutrinal três áreas de discussão: uma área ontológica, da Teoria do Direito, que se preocupa com o direito com existe, procurando alcançar uma compreensão consensualizada dos resultados da Ciência Jurídica, da Sociologia Jurídica, da História do Direito e outras abordagens complementares; uma área metodológica que compreende uma Teoria da Ciência do Direito e que recai no estudo da metodologia e dos procedimentos lógicos usados na argumentação jurídica e no trabalho de aplicação do Direito; e, por fim, uma área filosófica materializada numa Teoria da Justiça como análise que determina a valoração ideológica da interpretação e aplicação do Direito, no sentido da valorização crítica do direito positivo.


Ao longo de sua vida, escritor de inúmeros artigos, inclusive através de entrevistas, Norberto Bobbio encarna o ideal da filosofia crítica e militante que também o vê como o protagonista do Centro de Estudos Metodológicos de Turim e um dos fundadores do Centro de Estudos Piero Gobetti em Turim, os quais ainda preserva na sua biblioteca e o seu arquivo.<ref name="Não_nomeado-y8vN-4"/>
A democracia é um tema de grande importância para Bobbio, pois ele apresenta definições mínimas para exercer esta, sendo a melhor forma de governo que os indivíduos criaram, uma vez que pretende conciliar o ideal de liberdade com o ideal de igualdade. Para Bobbio por em prática esta regime político, exige  estabelecer um conjunto de regras básicas que ditam quem está autorizado a tomar decisões coletivas e quais procedimentos tomar. Para que as decisões tomadas pelos indivíduos possam ser aceitas, é necessário regras básicas que estabelecem quais os indivíduos autorizados a assumir tais decisões e procedimentos. A democracia é a regra da maioria ‘‘um conjunto de regras de procedimento para a formação de decisões, que está prevista e facilitada a participação mais ampla possível dos interessados’’ (BOBBIO, 2009, p. 22). Mas para a escolha, não basta que um número elevado de cidadãos vote, é preciso que estes tenham opções reais, que sejam colocados diante de alternativas em que realmente possam escolher entre uma e outra.


== Sobre o Papel do Intelectual ==
Bobbio coloca alguns pontos relevantes para que realmente seja excercido a [[Democracia]], como: Todos os cidadãos têm o direito de expressar suas opiniões, ou escolher quem as exprima; Peso igual para os votos de todos os cidadãos; Liberdade para votar de acordo com sua própria opinião; Liberdade justa para poder escolher entre alternativas reais ;Deve valer a regra da maioria numérica; As decisões tomadas pela maioria não deve limitar os direitos da minoria.
Disse, Bobbio, certa vez, sobre o papel do intelectual "Considero-me um homem de dúvida e de diálogo. Da dúvida, porque todo o meu raciocínio sobre uma das grandes questões quase sempre termina, seja expondo a gama de respostas possíveis, seja fazendo outra grande questão. Do diálogo, porque não presumo que sei o que não sei, e o que sei testo continuamente com aqueles que presumo saber mais do que eu".<ref name="Não_nomeado-y8vN-6">{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.1177/039219219604417602 |titulo=In Praise of La Mitezza |data=dezembro de 1996 |acessodata=2021-03-21 |jornal=Diogenes |número=176 |ultimo=Bobbio |primeiro=Norberto |paginas=3–18 |doi=10.1177/039219219604417602 |issn=0392-1921}}</ref>


Ao contrário da figura do "Profeta" intelectual,<ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.2307/40092102 |titulo=Il mestiere di vivere (Diario 1935-1950) |data=1953 |acessodata=2021-03-21 |jornal=Books Abroad |número=3 |ultimo=Ragusa |primeiro=Olga |ultimo2=Pavese |primeiro2=Cesare |paginas=269 |doi=10.2307/40092102 |issn=0006-7431}}</ref> preferindo o papel de "Mediador" engajado "na difícil arte do diálogo" (e isso também é atestado pela conversa mantida com os marxistas para um reexame crítico de seu "dogmatismo e sectarismo» que também envolveu [[Palmiro Togliatti|Palmito Togliatti]]<ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.5944/endoxa.11.1999.4942 |titulo=RESEÑA de : Abbagnano, Nicola. Dizzionario di Filosofía. Torino : Utet, 1998 |data=1999-01-01 |acessodata=2021-03-21 |jornal=ENDOXA |número=11 |ultimo=Martínez Bisbal |primeiro=Josep |paginas=384 |doi=10.5944/endoxa.11.1999.4942 |issn=2174-5676}}</ref><ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.17951/rh.2015.39.311 |titulo=Maurizio Bettini, Vertere. Un’antropologia della traduzione nella cultura antica, Einaudi, Torino 2012 (Piccola Biblioteca Einaudi), pp. XX+316 |data=2015-12-16 |acessodata=2021-03-21 |jornal=Res Historica |número=39 |ultimo=Busetto |primeiro=Anna |paginas=311 |doi=10.17951/rh.2015.39.311 |issn=2082-6060}}</ref><ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.30687/978-88-6969-400-4/001 |titulo=1 Il ritorno dalla guerra |data=2020-03-27 |acessodata=2021-03-21 |publicado=Edizioni Ca' Foscari |ultimo=Di Qual |primeiro=Anna |local=Venice |isbn=978-88-6969-401-1}}</ref>), sua atitude teórica foi marcada por uma "ambivalência" positiva entre uma posição realista e uma idealista que não se esquivou das complexidades do discurso,<ref name="Não_nomeado-y8vN-7">{{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/oclc/801257873|título=Autobiografia|ultimo=Bobbio|primeiro=Norberto|data=1999|editora=Laterza|outros=Alberto Papuzzi|local=Roma|oclc=801257873}}</ref> muitas vezes recorrendo ao paradoxo. Isso lhe valeu, em virtude do amor pelo debate que considera "os prós e os contras" de cada questão, o título de filósofo "da indecisão" (Rafael de Asís Roig<ref>{{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/oclc/865471707|título=Etica e politica : scritti di impegno civile|ultimo=Bobbio|primeiro=Norberto|data=2013|editora=Mondadori|outros=Marco Revelli|edicao=Edizione speciale con cofanetto firmato da Tullio Pericoli I Meridiani|local=Milano|oclc=865471707}}</ref>), já que todo o seu "raciocínio sobre uma das grandes questões [terminava] quase sempre, seja por expor a gama de respostas possíveis, seja por fazer mais uma outra grande questão".<ref name="Não_nomeado-y8vN-6"/><ref name="Não_nomeado-y8vN-7"/>
Contudo ele ressalta que nenhum regime político fez uso dessas seis regras, havendo então graus de cumprimento da democracia, e não a democracia ideal como seria se todos esses pontos fossem cumpridos.

Bobbio também expõe que é preciso a garantia dos direitos à liberdade, de opinião, expressão. Direitos à base dos quais nasceu o Estado Liberal. Isto porquê para Bobbio, o [[Liberalismo]] é pressuposto jurídico e histórico do [[Estado de direito]], havendo uma relação de interdependência no sentido de que são necessárias certas liberdades para se exercer corretamente a democracia, assim como também é necessário poder democrático para garantir a existência de liberdades fundamentais. 

Sobre a democracia representativa  dos modernos ,em contraposto com  a direta dos antigos, ele tambem se posicionou. Para Bobbio: ‘‘a democracia representativa e a democracia direta são dois sistemas alternativos (no sentido de que onde existe uma não pode existir a outra), mas são dois sistemas que podem se integrar reciprocamente.’’ (BOBBIO, 2009. Pag.65). A representatividade é uma forma indireta de democracia, renuncia o princípio de liberdade como autonomia. Porém, o estado moderno, extenso territorialmente encontra dificuldade em realizar a forma direta como a dos antigos, que consistia no ato de deliberação pelo próprio cidadão, não por um representante. A democracia direta não é possível nos atuais estados democráticos devido aos problemas já citados como o grande número de habitantes, extensão territorial, etc. Para Bobbio, é possível programar alguns elementos desse tipo de democracia na representativa. Essa implementaçao de democracia direta se dá pelo fato do indivíduo não estar mais apenas contentado com um representante, mas de querer opinar soberanamente em questões que dizem respeito diretamente as suas vidas.


== Obra ==
== Obra ==

A mais recente bibliografia dos seus escritos enumera 2025 títulos entre obras de ensaio, direito, ética, filosofia, peças de comentário político. Mas se há um traço comum que une esta vasta e diversificada obra intelectual é a postura do professor que procura de forma simples e intuitiva transmitir a quem o ouve (ou lê) as ideias matrizes de uma riquíssima história das ideias ocidentais e a perseverante defesa das regras do jogo democrático como indispensável à própria sobrevivência da democracia.
A mais recente bibliografia dos seus escritos enumera 2025 títulos entre obras de ensaio, direito, ética, filosofia, peças de comentário político. Mas se há um traço comum que une esta vasta e diversificada obra intelectual é a postura do professor que procura de forma simples e intuitiva transmitir a quem o ouve (ou lê) as ideias matrizes de uma riquíssima história das ideias ocidentais e a perseverante defesa das regras do jogo democrático como indispensável à própria sobrevivência da democracia.


Entre suas obras mais usadas no meio acadêmico, destacam-se o "Dicionário de Política", escrito ao lado de [[Nicola Matteucci]] e [[Gianfranco Pasquino]], publicada em dois volumes; e "Política e Cultura", que vendeu mais de 300 mil cópias só na Itália e foi traduzido para 19 idiomas.<ref>{{Citar web|url=http://web.archive.org/web/20161011050501/http://www.filoczar.com.br/Dicionarios/Dicionario_De_Politica.pdf|titulo=Dicionário de Política|data=2016-10-11|acessodata=2018-05-09|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref>
Entre suas obras mais usadas no meio acadêmico, destacam-se o "Dicionário de Política", escrito ao lado de [[Nicola Matteucci]] e [[Gianfranco Pasquino]], publicada em dois volumes; e "Política e Cultura", que vendeu mais de 300 mil cópias só na Itália e foi traduzido para 19 idiomas.<ref>{{Citar web|url=http://web.archive.org/web/20161011050501/http://www.filoczar.com.br/Dicionarios/Dicionario_De_Politica.pdf|titulo=Dicionário de Política|data=2016-10-11|acessodata=2018-05-09|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref>

- Estado, Governo, Sociedade
* Estado, Governo, Sociedade
- Ensaios sobre [[Gramsci]]
* Ensaios sobre [[Gramsci]]
- Teoria da Norma Jurídica
- Teoria do Ordenamento Jurídico
* Teoria da Norma Jurídica
* Teoria do Ordenamento Jurídico
- Elogio da Serenidade
* Elogio da Serenidade
===Elenco de algumas obras em português===

*[[A Era dos Direitos]]<ref>[http://www.pazeterra.com.br/livro.asp?pp=370 Estado, Governo e Sociedade: Para uma Teoria Geral da Política] - Tradução de Marco Aurélio Nogueira. Editora Paz e Terra 1ª Edição - 1986; 16ª Reimpressão - 2010</ref>
=== Algumas obras em português ===
*A Era dos Direitos<ref>[http://www.pazeterra.com.br/livro.asp?pp=370 Estado, Governo e Sociedade: Para uma Teoria Geral da Política]{{ligação inativa|data=maio de 2019 }} - Tradução de Marco Aurélio Nogueira. Editora Paz e Terra 1ª Edição - 1986; 16ª Reimpressão - 2010</ref>
*Igualdade e Liberdade
*Igualdade e Liberdade
*Liberalismo e Democracia (São Paulo, Editora Edipro, 2017, ISBN 9788572839952)
*O Positivismo Jurídico, lições de filosofia do direito
*O Positivismo Jurídico, lições de filosofia do direito
*Dicionário de Política (co-autor)
*Dicionário de Política (co-autor)
*Teoria da Norma Jurídica
*Teoria da Norma Jurídica (Editora Edipro, 2016, ISBN 9788572839037)
*Teoria do Ordenamento Jurídico
*Teoria do Ordenamento Jurídico (São Paulo, Editora Edipro, 2014, ISBN 9788572836142)
*Teoria das Formas de Governo
*Teoria das Formas de Governo (São Paulo, Editora Edipro, 2017, ISBN 9788572839921)
*Direito e Estado no pensamento de Emanuel Kant
*Direito e Estado no pensamento de Emanuel Kant
*As ideologias e o poder em crise
*As ideologias e o poder em crise
*[http://www.libertarianismo.org/livros/nbdee.pdf Direita e esquerda: razões e significados de uma distinção política]
*{{Link||2=https://web.archive.org/web/20161009182449/http://www.libertarianismo.org/livros/nbdee.pdf |3=Direita e esquerda: razões e significados de uma distinção política}}
*O Futuro da Democracia
*O Futuro da Democracia
*'''Da estrutura à função: novos estudos de teoria do direito'''. 2007.
*Da estrutura à função: novos estudos de teoria do direito. 2007.


==Obras sobre Bobbio em Português==
== Obras sobre Bobbio em Português ==
* NAPOLI, Ricardo Bins di; GALLINA, A. L. (orgs.) '''Norberto Bobbio: Direito, Ética e Política.'''Ijuí: EdUnijuí, 2005.
* NAPOLI, Ricardo Bins di; GALLINA, A. L. (orgs.) Norberto Bobbio: Direito, Ética e Política. Ijuí: EdUnijuí, 2005.
* BOBBIO, Norberto. Direita e Esquerda. São Paulo: UNESP, 2001.
* BOBBIO, Norberto. Direita e Esquerda. São Paulo: UNESP, 2001.


== Obras - Em Língua Italiana<ref name="Não_nomeado-y8vN-8">{{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/oclc/37640387|título=Bibliografia degli scritti di Norberto Bobbio : 1934-1993|ultimo=Violi|primeiro=Carlo|data=1995|editora=G. Laterza|outros=Norberto Bobbio|local=Roma-Bari|oclc=37640387}}</ref> ==
== Ver também ==
Os escritos de Bobbio, em língua italiana:<ref name="Não_nomeado-y8vN-8"/>

* Norberto Bobbio, ''L'indirizzo fenomenologico nella filosofia sociale e giuridica'', a cura di P. Di Lucia, Torino, Giappichelli, 2018 [1934], <nowiki>ISBN 978-88-921-0936-0</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''Scienza e tecnica del diritto'', Torino, Istituto giuridico della Regia Università, 1934.
* Norberto Bobbio, ''L'analogia nella logica del diritto'', a cura di P. Di Lucia, Milano, Giuffrè, 2006 [1938], <nowiki>ISBN 978-88-14-13218-6</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''La consuetudine come fatto normativo'', introduzione di P. Grossi, Torino, Giappichelli, 2010 [1942], <nowiki>ISBN 978-88-348-1745-2</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''La filosofia del decadentismo'', Torino, Chiantore, 1944.
* Carlo Cattaneo e Norberto Bobbio, ''Stati Uniti d'Italia. Scritti sul federalismo democratico'', prefazione di N. Urbinati, Roma, Donzelli, 2010 [1945], <nowiki>ISBN 978-88-6036-505-7</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''Teoria della scienza giuridica'', Torino, Giappichelli, 1950.
* Norberto Bobbio, ''Politica e cultura'', introduzione e cura di F. Sbarberi, Torino, Einaudi, 2005 [1955], <nowiki>ISBN 978-88-06-17292-3</nowiki>.
* · Norberto Bobbio, ''Studi sulla teoria generale del diritto'', Torino, Giappichelli, 1955.
* Norberto Bobbio, ''Teoria della norma giuridica'', Torino, Giappichelli, 1958.
* Norberto Bobbio, ''Teoria dell'ordinamento giuridico'', Torino, Giappichelli, 1960.
* · I corsi di lezione sulla norma e sull'ordinamento giuridico sono stati rifusi in Norberto Bobbio, ''Teoria generale del diritto'', Torino, Giappichelli, 1993, <nowiki>ISBN 88-348-3071-7</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''Il positivismo giuridico'', Lezioni di Filosofia del diritto raccolte dal dott. Nello Morra, Torino, Giappichelli, 1996 [1961], <nowiki>ISBN 88-348-6167-1</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''Locke e il diritto naturale'', introduzione di Gaetano Pecora, Torino, 2017 [1963], <nowiki>ISBN 978-88-921-0945-2</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''Da Hobbes a Marx. Saggi di storia della filosofia'', 2ª ed., Napoli, Morano, 1971 [1964].
* Norberto Bobbio, ''Italia civile. Ritratti e testimonianze'', 2ª ed., Firenze, Passigli, 1986 [1964], <nowiki>ISBN 978-88-368-0315-6</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''Giusnaturalismo e positivismo giuridico'', prefazione di L. Ferrajoli, 4ª ed., Roma-Bari, Laterza, 2018 [1965], <nowiki>ISBN 978-88-420-8668-0</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''Profilo ideologico del Novecento italiano'', in ''Storia della letteratura italiana'', 9 voll., direttori E. Cecchi e N. Sapegno, vol. 9 (''Il Novecento''), Milano, Garzanti, 1965-69, pp.&nbsp;105–200.. Ristampato come opera a sé stante, per Einaudi, nel 1986 (<nowiki>ISBN 88-06-59313-7</nowiki>), quindi, nuovamente per Garzanti, nel 1990 (<nowiki>ISBN 88-11-67410-7</nowiki>).
* Norberto Bobbio, ''Saggi sulla scienza politica in Italia'', 2ª ed., Roma-Bari, Laterza, 2005 [1969], <nowiki>ISBN 978-88-420-6387-2</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''Diritto e Stato nel pensiero di Emanuele Kant'', lezioni raccolte dallo studente Gianni Sciorati, 2ª ed., Torino, Giappichelli, 1969 [1957],
* Norberto Bobbio, ''Una filosofia militante. Studi su Carlo Cattaneo'', Torino, Einaudi, 1971,
* Norberto Bobbio, ''La teoria delle forme di governo nella storia del pensiero politico'', anno accademico 1975-76, Torino, Giappichelli, 1976, <nowiki>ISBN 978-88-348-0525-1</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''Quale socialismo? Discussione di un'alternativa'', 5ª ed., Torino, Einaudi, 1977.
* Norberto Bobbio, ''Il problema della guerra e le vie della pace'', 4ª ed., Bologna, Il Mulino, 2009 [1979], <nowiki>ISBN 978-88-15-13300-7</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''Studi hegeliani. Diritto, società civile, Stato'', Torino, Einaudi, 1981.
* Norberto Bobbio, ''Le ideologie e il potere in crisi. Pluralismo, democrazia, socialismo, comunismo, terza via e terza forza'', Firenze, Le Monnier, 1981, <nowiki>ISBN 88-00-84034-5</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''Il futuro della democrazia. Una difesa delle regole del gioco'', Torino, Einaudi, 1984, <nowiki>ISBN 88-06-57547-3</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''Maestri e compagni'', 3ª ed., Firenze, Passigli, 1994 [1984], <nowiki>ISBN 88-368-0309-1</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''Il terzo assente. Saggi e discorsi sulla pace e sulla guerra'', 2ª ed., Casale Monferrato, Sonda, 2013 [1989], <nowiki>ISBN 978-88-7106-007-1</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''Thomas Hobbes'', Torino, Einaudi, 2004 [1989], <nowiki>ISBN 978-88-06-16968-8</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''Saggi su Gramsci'', Collana Campi del sapere, Milano, Feltrinelli, 1990, <nowiki>ISBN 978-88-07-10135-9</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''L'età dei diritti'', Torino, Einaudi, 2014 [1990], <nowiki>ISBN 978-88-06-22343-4</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''Il dubbio e la scelta. Intellettuali e potere nella società contemporanea'', Roma, Carocci, 2001 [1993], <nowiki>ISBN 88-430-1838-8</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''Elogio della mitezza e altri scritti morali'', Milano, Il Saggiatore, 2014 [1994], <nowiki>ISBN 978-88-428-1882-3</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''Destra e sinistra. Ragioni e significati di una distinzione politica'', edizione del ventennale con una introduzione di M.L. Salvadori e due commenti vent'anni dopo di D. Cohn-Bendit e di M. Renzi, Roma, Donzelli, 2014 [1994], <nowiki>ISBN 978-88-6843-262-1</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''Tra due repubbliche. Alle origini della democrazia italiana'', con una nota storica di T. Greco, Roma, Donzelli, 1996, <nowiki>ISBN 978-88-7989-211-7</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''Eguaglianza e libertà'', Torino, Einuadi, 2009 [1995], <nowiki>ISBN 978-88-06-19868-8</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''De senectute e altri scritti autobiografici'', a cura di P. Polito, prefazione di G. Zagrebelsky, Torino, Einaudi, 2006 [1996], <nowiki>ISBN 978-88-06-18493-3</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''Né con Marx né contro Marx'', a cura di C. Violi, Roma, Editori Riuniti, 2016 [1997], <nowiki>ISBN 978-88-6473-197-1</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''Autobiografia'', a cura di A. Papuzzi, 3ª ed., Roma-Bari, Laterza, 2014 [1997], <nowiki>ISBN 978-88-420-5752-9</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''Teoria generale della politica'', a cura di M. Bovero, Torino, Einaudi, 2009 [1999], <nowiki>ISBN 978-88-06-19985-2</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''Trent'anni di storia della cultura a Torino (1920-1950)'', introduzione di A. Papuzzi, Torino, Einaudi, 2002 [1977], <nowiki>ISBN 88-06-16250-0</nowiki>.
* Norberto Bobbio e Maurizio Viroli, ''Dialogo intorno alla repubblica'', Roma-Bari, Laterza, 2003 [2001], <nowiki>ISBN 978-88-420-6953-9</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''Liberalismo e Democrazia'', introduzione di F. Manni, Milano, Simonelli, 2006 [1985], <nowiki>ISBN 978-88-9320-148-3</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''Contro i nuovi dispotismi. Scritti sul berlusconismo'', premessa di E. Marzo, postfazione di F. Sbarberi, Bari, Dedalo, 2008, <nowiki>ISBN 978-88-220-5508-8</nowiki>.
* Norberto Bobbio, ''Etica e politica. Scritti di impegno civile'', progetto editoriale e saggio introduttivo di M. Revelli, Mondadori, 2013 [2009], <nowiki>ISBN 978-88-04-63388-4</nowiki>

{{Referências}}

== Ligações externas ==
{{wikiquote|Norberto Bobbio}}
{{wikiquote|Norberto Bobbio}}
* {{Link|en|2=http://www.erasmo.it/gobetti/eng/default2.asp |3=Obras de Bobbio}}
* [[Ciência Política]]
* [http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/17973/material/Norberto-Bobbio-Dicionario-de-Politica.pdf Dicionário de política]
* [[Filosofia Política]]
* [https://web.archive.org/web/20110225042059/http://www.estig.ipbeja.pt/~ac_direito/Bobbio_Positivismo.pdf O positivismo juridico, Norberto Bobbio]
* [[Literatura jurídica]]
*{{Link||2=http://www.academia.org.br/abl/media/prosa13.pdf |3=Legados de Norberto Bobbio, Miguel Reale}}
*{{Link||2=http://www.acessa.com/gramsci/?page=visualizar&id=75 |3=Bobbio e os socialismo liberal}}


{{Controle de autoridade}}
{{referências}}
{{Portal3|Biografias|Filosofia|Itália|Política}}


{{DEFAULTSORT:Bobbio, Norberto}}
==Ligações externas==
[[Categoria:Alunos da Universidade de Turim]]
* [http://www.erasmo.it/gobetti/ As obras de Bobbio] (em italiano)
[[Categoria:Anticomunistas da Itália]]
{{biografias}}
[[Categoria:Antifascistas da Itália]]
* [http://www.estig.ipbeja.pt/~ac_direito/Bobbio_Positivismo.pdf O positivismo juridico, Norberto Bobbio ]
[[Categoria:Filósofos da Itália]]
*[http://www.academia.org.br/abl/media/prosa13.pdf Legados de Norberto Bobbio, Miguel Reale]
*[http://www.acessa.com/gramsci/?page=visualizar&id=75 Bobbio e os socialismo liberal]
[[Categoria:Filósofos da Itália|Bobbio, Norberto]]
[[Categoria:Políticos da Itália|Bobbio, Norberto]]
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[[Categoria:Filósofos do direito]]
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[[Categoria:Mortos em 2004]]
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[[Categoria:Anticomunistas da Itália|Bobbio]]
[[Categoria:Antifascistas|Bobbio]]

Edição atual tal como às 03h57min de 6 de outubro de 2024

Norberto Bobbio
Norberto Bobbio
Em 1988.
Nascimento Norberto Bobbio
18 de outubro de 1909
Turim, província de Turim Itália
Morte 9 de janeiro de 2004 (94 anos)
Turim, província de Turim
Nacionalidade italiano
Alma mater Universidade de Turim
Ocupação
Principais trabalhos
Prêmios
Gênero literário
Movimento literário literatura jurídica
Assinatura

Norberto Bobbio (Turim, 18 de outubro de 1909 – Turim, 9 de janeiro de 2004) foi um filósofo político, historiador do pensamento político, escritor e senador vitalício italiano. Conhecido por sua ampla capacidade de produzir escritos concisos, lógicos e, ainda assim, densos. Defensor da democracia social-liberal e do positivismo jurídico e crítico de Marx, do fascismo italiano, do Bolchevismo e do primeiro-ministro Silvio Berlusconi. Norberto Bobbio faleceu em 9 de janeiro de 2004, em Turim, aos 94 anos de idade.[1]

Segundo Ferrajoli, Bobbio é considerado "ao mesmo tempo o maior teórico do direito e o maior filósofo [italiano] da política […] da segunda metade do século XX ", foi " certamente aquele que deixou a marca mais profunda do filosófico-jurídico e da cultura político-filosófica e que várias gerações de estudiosos, mesmo de formações muito diferentes, têm considerado como um mestre".[2]

Vida, estudos e carreira

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Primeiros anos e vida acadêmica

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Norberto Bobbio nasceu em Turim capital de Piemonte, filho de um médico-cirurgião, Luigi Bobbio, neto de António Bobbio, professor primário, depois diretor escolar, católico liberal que se interessava por filosofia e colaborava, periodicamente, nos jornais. Viveu durante a infância e adolescência em uma família abastada, com criadas e motorista. Inicia-se no gosto da leitura com George Bernard Shaw, Honoré de Balzac, Stendhal, Percy Bysshe Shelley, Benedetto Croce, Thomas Mann e vários outros. Foi amigo de infância de Cesare Pavese com quem conviveu e aprendeu o inglês através da leitura de alguns clássicos. Lia, depois traduzia e comentava.

Uma condição familiar confortável permitiu-lhe uma infância tranquila. O jovem Norberto escreve versos, ama Bach e La Traviata, mas desenvolverá, devido a uma doença infantil não bem definida "a sensação de cansaço de viver, de um cansaço permanente e invencível" que se agravou com a idade, traduzindo-se num taedium vitae, num sentimento de melancolia, que se revelará essencial para o seu amadurecimento intelectual.[3]

Ele estudou primeiro no ginásio e depois no colégio clássico Massimo D'Azeglio, onde conheceu Leone Ginzburg, Vittorio Foa e Cesare Pavese, que mais tarde se tornaram figuras importantes na cultura da Itália republicana. A partir de 1928, como muitos jovens da época, foi finalmente inscrito no Partido Nacional Fascista. Sua juventude, como ele mesmo descreveu, foi: “vivida entre um convicto fascismo patriótico na família e um igualmente firme antifascismo aprendido na escola, com conhecidos professores antifascistas, como Umberto Cosmo e Zino Zini, e igualmente camaradas antifascistas intransigentes como Leone Ginzburg e Vittorio Foa".[4]

Aluno de Gioele Solari e Luigi Einaudi, formou-se em Direito em 11 de julho de 1931 com a tese intitulada Filosofia e Dogmática do Direito, obtendo a nota 110/110 cum laude com dignidade de imprensa. Em 1932 frequentou um curso de verão na Universidade de Marburg, na Alemanha, junto com Renato Treves e Ludovico Geymonat, onde aprenderá sobre as teorias de Jaspers e os valores do existencialismo. No ano seguinte, em dezembro de 1933, formou-se em Filosofia sob a orientação de Hannibal Shepherd com uma tese sobre a fenomenologia de Husserl, trazendo um voto de 110/110 cum laude e dignidade da imprensa, e em 1934 obteve a habilitação docente em Filosofia do Direito, que abriu as portas em 1935 para o ensino, primeiro na Universidade de Camerino, depois na Universidade de Siena e Pádua (de 1940 a 1948 ). Em 1934, ele publicou seu primeiro livro, The Phenomenological Address in Social and Legal Philosophy.[5]

A prisão em 1935 e a Carta a Mussolini

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Seus contatos indesejáveis ​​com o regime lhe renderam, em 15 de maio de 1935, uma primeira prisão em Turim, junto com amigos do grupo antifascista Giustizia e Libertà; foi, portanto, obrigado, após uma liminar, a comparecer perante a Comissão Provincial da Prefeitura para se inocentar, a encaminhar uma carta a Benito Mussolini. A clara fama fascista de que gozava a família, no entanto, permitiu-lhe uma reabilitação plena, tanto que, poucos meses depois, com a intervenção necessária de Mussolini e Gentile, obteve a cátedra de filosofia do direito no Camerino, que ocupou por outro professor titular judeu, expulso em decorrência de leis raciais.[6] Após uma recusa inicial devido à detenção de três anos antes, foi reintegrado graças à intervenção de Emilio De Bono, amigo da família, enquanto o católico e declarado antifascista Giuseppe Capograssi era presidente da comissão.[7]

É durante estes anos que Norberto Bobbio delineia parte dos interesses que estarão na base da sua investigação e dos seus estudos futuros: a filosofia do direito, a filosofia contemporânea e os estudos sociais, um desenvolvimento cultural que Bobbio vive ao mesmo tempo que o temporal (contexto político). Um ano depois das leis raciais, na verdade, exatamente em 3 de março de 1939, ele jurou lealdade ao fascismo para obter a cátedra na Universidade de Siena. E renovou seu juramento em 1940, quando a guerra foi declarada, para ocupar o lugar do professor Giuseppe Capograssi, que por sua vez assumiu o cargo em 1938 na cadeira do professor Adolfo Ravà, expulso da Universidade de Pádua por ser judeu.[8] Esse episódio de sua vida - muitas vezes relatado como se Bobbio tivesse assumido diretamente o lugar de Ravà - foi então objeto de várias controvérsias.[9]

Em 1942, um jovem Bobbio afirmou perante a Sociedade Italiana de Filosofia do Direito que Capograssi cresceu naquele "renascimento idealista do século XX, em nosso campo de estudos iniciado, estimulado e, o que é mais, criticamente fundado por Giorgio Del Vecchio".[10]

Adesão ao Partito d'azione

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Em 1942 participou do movimento socialista liberal fundado por Guido Calogero e Aldo Capitini e, em outubro do mesmo ano, ingressou no clandestino "Partito d'azione". Nos primeiros meses de 1943 ele rejeitou o "convite" do Ministro Biggini (que logo depois elaborou a constituição da República de Salò por iniciativa de Mussolini) para participar de uma cerimônia na Universidade de Pádua durante a qual uma lâmpada votiva seria colocada no santuário dos caídos da revolução fascista no cemitério da cidade. Em 1943 ele se casou com Valeria Cova: seus filhos Luigi, Andrea e Marco nasceram de sua união. Em 6 de dezembro de 1943, ele foi preso em Pádua por atividades clandestinas e permaneceu na prisão por três meses. Em 1944 foi publicado o ensaio "A filosofia da Decadência", no qual criticava o existencialismo e as correntes irracionalistas, ao mesmo tempo que defendia as necessidades da razão iluminista.[11]

Depois da libertação, ele colaborou regularmente com Giustizia e Libertà, o jornal de Turim Partito d'azione, dirigido por Franco Venturi. Colaborou na atividade do Centro de Estudos Metodológicos com o objetivo de promover o encontro entre a cultura científica e a cultura humanística e, posteriormente, com a Sociedade Europeia de Cultura. Em 1945 publicou uma antologia de escritos de Carlo Cattaneo, com o título Estados Unidos da Itália, apresentando um estudo, escrito entre a primavera de 1944 e a de 1945, onde argumentava que o federalismo como união de diferentes estados deveria ser considerado ultrapassado após a unificação nacional ocorreu. O federalismo pensado por Bobbio era aquele pretendido como um "teórico da liberdade" com uma pluralidade de centros de participação que pudessem se expressar em formas de democracia direta moderna.[12]

Atividade Acadêmica

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Em 1948, ele deixou seu cargo em Pádua e foi chamado para a cadeira de filosofia do direito na Universidade de Turim, incluindo cursos de considerável importância, como Teoria da ciência jurídica (1950), Teoria das normas jurídicas (1958), Teoria do sistema jurídico (1960) e Positivismo jurídico (1961).[13]

A partir de 1962 passou a lecionar Ciências Políticas, que ocupará até 1971; foi um dos fundadores da atual faculdade de ciências políticas da Universidade de Turim juntamente com Alessandro Passerin d'Entrèves, que assumiu a cadeira de filosofia política em 1972, mantendo-a até 1979 também para o ensino de filosofia do direito e política Ciência. De 1973 a 1976 tornou-se reitor do corpo docente por acreditar que enquanto os cargos acadêmicos eram "onerosos e sem honras", o magistério era a principal atividade de sua vida: "um hábito e não apenas uma profissão".[13]

A política, por outro lado, gradualmente se tornou um tema fundamental em sua trajetória intelectual e acadêmica e, paralelamente às publicações de natureza jurídica, iniciou um debate com os intelectuais da época; em 1955 escreveu Política e Cultura, considerada um de seus marcos, enquanto em 1969 publicou o livro Ensaios sobre ciência política na Itália.[13]

Nos vinte e cinco anos acadêmicos à sombra da Mole Antonelliana, Bobbio também ministrou diversos cursos sobre Kant, Locke, obras sobre Hobbes e Marx, Hans Kelsen, Carlo Cattaneo, Hegel, Vilfredo Pareto, Gaetano Mosca, Piero Gobetti, Antonio Gramsci, e contribuiu com uma pluralidade de ensaios, escritos, artigos e intervenções de grande importância que o levaram, posteriormente, a se tornar membro da Accademia dei Lincei e da British Academy.[13]

Tornou-se co-diretor com Nicola Abbagnano da Revista de Filosofia a partir de 1953, tendo, assim, se tornado membro da Academia de Ciências de Turim, da qual ingressou em 9 de março do mesmo ano para ser confirmado membro nacional e residente a partir de 26 de abril de 1960.[14] É significativa a colaboração, sobre o tema pacifista, com o filósofo e amigo antifascista Aldo Capitini, cujas reflexões comuns conduzirão à obra Os problemas da guerra e os caminhos da paz (1979).

Atividade Política

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Em 1953 participou da luta liderada pelo movimento da Unidade Popular contra a lei eleitoral majoritária e em 1967 na Assembleia Constituinte do Partido Socialista Unificado. Na época dos protestos juvenis, Turim foi a primeira cidade a comandar o protesto, e Bobbio, defensor do diálogo, não escapou de um confronto difícil com os estudantes, inclusive com seu próprio filho mais velho, Luigi, que era militante na época. em Lotta Continue. Paralelamente, foi também nomeado pelo Ministério da Educação Pública como membro da Comissão Técnica para a criação da Faculdade de Sociologia de Trento.[15]

Em 1971, Bobbio estava entre os signatários da carta aberta publicada no semanário L'Espresso sobre o caso Pinelli. Em 1998, Norberto Bobbio, em carta dirigida a Adriano Sofri publicada no La Repubblica, repudiou o tom da linguagem utilizada na apelação, mas sem se retratar de sua adesão ao conteúdo das críticas sobre os fatos relacionados à Piazza Fontana.[16]

Em 14 de fevereiro de 1972, escrevendo a Guido Fassòem torno do problema democrático, Bobbio desabafou argumentando que “esta nossa democracia tornou-se cada vez mais uma casca vazia, ou melhor, uma tela atrás da qual se esconde um poder cada vez mais corrupto, cada vez mais descontrolado, cada vez mais exorbitante [... ] fora, na fachada. Mas por trás da tradicional arrogância dos poderosos que não querem abrir mão nem de um grama de seu poder, e mantê-lo por todos os meios, antes de tudo com a corrupção [...] A democracia não é apenas um método, mas também é um ideal: é o ideal igualitário. Onde este ideal não inspira os governantes de um regime autoproclamado democrático, democracia é um nome vão. Não posso separar a democracia formal da substantiva. Tenho o pressentimento de que onde há é só a primeira que um regime democrático não está destinado a durar [...] estou muito amargo, meu amigo. Mas vejo este nosso sistema político se desintegrando aos poucos [...] por causa de suas degenerações internas, profundas, talvez irrefreáveis​​».[17]

Em meados dos anos setenta, na esteira de um compromisso civil cada vez mais vivo, e no limiar de um dos períodos mais dramáticos da Itália (culminando com o sequestro e assassinato de Aldo Moro), provocou um debate animado, ambos negando a existência de uma cultura fascista é lidar extensivamente com as relações entre democracia e socialismo.[18]

Em 8 de maio de 1981, na véspera do referendo sobre o aborto, ele deu uma entrevista ao Corriere della Sera na qual declarou sua oposição à interrupção da gravidez.[19]

Posteriormente a sua atenção estava concentrada em favor de uma "política de paz", com distinção motivada em apoio do direito internacional por ocasião do 1991 Guerra do Golfo.[13]

Das vinte e cinco cartas inéditas que fazem parte da correspondência que Bobbio tinha com Danilo Zolo e que agora são divulgadas no volume O sopro da liberdade, editado pelo próprio Zolo, interessante é a de 25 de fevereiro de 1991 sobre a "Guerra do Golfo" cujos protagonistas em janeiro de 1991 os Estados Unidos de George Bush pai, as forças da 'ONU e vários países árabes se aliaram contra' o Iraque de Saddam Hussein, que havia invadido o Kuwait.[20]

Bobbio definiu esta guerra como "apenas" não perceber que aquela palavra "... poderia ser interpretada de uma maneira diferente de como eu a entendia... como uma guerra" justificada "por responder a uma agressão". Bobbio então reclamou da polêmica que surgiu a esse respeito pelos " pacifistas exagerados ". O fato de a ONU, escreveu Bobbio, ter autorizado a intervenção na guerra contra o Iraque tornava-a "legal", nesse sentido, "justa".[20]

Bobbio, no entanto, reconheceu que a ONU posteriormente foi posta de lado durante a guerra e o "bombardeio impiedoso" em Bagdá significava que se poderia temer que "... se a paz for estabelecida com a mesma falta de sabedoria com que a guerra foi conduzida, esta guerra também terá sido, como tantas outras, inútil."[20]

A nomeação para o cargo de senador vitalício

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Em 1979 foi nomeado professor emérito da Universidade de Torino e em 1984, nos termos do segundo parágrafo do artigo 59 da Constituição italiana, tendo "ilustrado a pátria com altíssimos méritos" no campo social e científico, foi nomeado senador vitaliciamente pelo Presidente da República Sandro Pertini. Como deputado ao Senado, inscreveu-se primeiro como independente no grupo socialista, depois a partir de 1991 no grupo misto e finalmente a partir de 1996 no grupo parlamentar do Partido Democrático de Esquerda, que mais tarde se tornou os Democratas de Esquerda.[21] Em 1994, após a temporada de mãos limpas e o chamado fim da Primeira República, foi publicado o ensaio "Direita e Esquerda", cujo conteúdo provocou um notável debate cultural, sacudindo a política italiana. O livro atingiu os quinhentos mil exemplares vendidos em poucos meses e foi republicado no ano seguinte, revisado e ampliado, com respostas às críticas.[22]

Em reconhecimento a uma vida inteira dedicada às ciências do direito, política, filosofia e sociedade, entre a dúvida e o método, entre o ethos e o secularismo, Bobbio recebeu títulos honorários de várias universidades, incluindo as de Paris (Nanterre), Buenos Aires, Madrid (três, em particular na Complutense) e em Bolonha, e ganhou o Prêmio Europeu Charles Veillon de não ficção em 1981, o Prêmio Balzan de 1994, e o Prêmio Agnelliem 1995.[23]

Em 1997 publicou sua autobiografia. Em 1999, uma terceira edição atualizada de seu best-seller foi lançada, agora traduzida para cerca de vinte idiomas. Em 2001, sua esposa Valeria faleceu e Bobbio começou a se aposentar gradativamente da vida pública, enquanto continuava no negócio e era curador de outras publicações. Seus comentários críticos contra Silvio Berlusconi e a política partidária (ou seja, a falta de partidos) fizeram barulho, e suas reflexões sobre a crise da esquerda e da social-democracia europeia. 18 de outubro de 2003, recebeu o "Selo Cívico" de Turim "pelo seu empenho político e pela sua contribuição para a reflexão histórica e cultural".[24]

Depois de passar a maior parte de sua vida lá, Norberto Bobbio morreu em Torino em 9 de janeiro de 2004. De acordo com sua vontade, poucos dias após sua morte, o corpo foi sepultado, com cerimônia civil estritamente particular, no cemitério de Rivalta Bormida, município piemontês da província de Alessandria.[25] Sua esposa Valéria faleceu três anos antes deixaram três filhos.[1]

O pensamento de Norberto Bobbio se formou nas primeiras décadas do século XX em um clima filosófico dominado pelo idealismo. No entanto, como muitos estudiosos de Turim, ele nunca abraçou essa visão de mundo: após uma abordagem inicial da fenomenologia, significativamente atestada por seus trabalhos sobre a filosofia de Husserl, ele se aproxima de uma perspectiva neonacionalista e neoempirista que floresceu na Europa, especialmente além os Alpes na Alemanha e ao redor do Círculo de Viena.[22]

Nas décadas de 1940 e 1950, Bobbio entra em contato com a filosofia analítica da tradição anglo-saxônica. Realiza estudos de análise da linguagem, traçando as primeiras linhas de pesquisa da escola analítica italiana de filosofia do direito, da qual é ainda hoje reconhecido como eminente figura de referência. Nesse sentido, pelo menos os dois ensaios devem ser mencionados: Ciência do direito e análise da linguagem de 1950 e Ser e ter que estar na ciência do direito de 1967.[26]

Ele dedica estudos específicos a Hobbes, a Pareto e a muitos filósofos e teóricos políticos dos quais já mencionamos. Ele vê no Iluminismo um modelo de rigor e rejeição do dogmatismo a partir do qual retira o ideal racionalista, traduzindo-o também na análise do sistema democrático e parlamentar. Desde a década de 1950 vem lidando com questões como a guerra e a legitimidade do poder, dividindo sua produção entre a filosofia jurídica, a história da filosofia e as questões políticas atuais.[27]

Durante os últimos anos no fascismo, Bobbio amadureceu a convicção da necessidade de um estado democrático, que limparia o campo do perigo de uma política ideologizada e de ideologias totalitárias tanto à direita quanto à esquerda Ele espera uma gestão laica da política e uma abordagem filosófico-cultural dela, que ajudará a superar a oposição entre capitalismo e comunismo e a promover a liberdade e a justiça.[28]

No ensaio Qual Socialismo? (1976), Bobbio critica tanto a dialética marxista quanto os objetivos dos movimentos revolucionários, argumentando que as conquistas burguesas devem se estender também à classe proletária. Bobbio acredita que só a experiência marxista-leninista estava falida, enquanto ele prevê que as demandas de justiça reivindicadas pelos marxistas podem, no futuro, ressurgir no cenário político.[28]

O pensamento de Bobbio torna-se assim, sobretudo entre os intelectuais da área socialista, um modelo exemplar, graças ao seu 'saber empenhado', certamente “mais preocupado em semear dúvidas do que em angariar apoios”. Ele mesmo retomará a reflexão sobre um tema que lhe é caro, o da relação entre política e cultura, propondo, uma "autonomia relativa da cultura em relação à política" segundo a qual "a cultura não pode e não deve ser reduzido integralmente à esfera do político ».[22]

Em 1994 foi lançada a obra Direita e Esquerda, na qual Bobbio enfoca as diferenças entre as duas ideologias e as duas direções político-sociais; a direita, segundo o autor, é caracterizada por tendências à desigualdade, ao conservadorismo e é inspirada por interesses, enquanto a esquerda busca a igualdade, a transformação e é movida por ideais. Nesse trabalho, Bobbio também se expressou a favor dos direitos dos animais.[29]

Na obra A Era dos Direitos (1990), Bobbio identifica os direitos fundamentais que permitem o desenvolvimento de uma democracia real e de uma paz justa e duradoura. Uma participação coletiva e não coercitiva nas decisões da comunidade, uma negociação das partes, a expansão do modelo democrático para todo o mundo, a fraternidade entre os homens, o respeito aos oponentes, a alternância sem o auxílio da violência, uma série de condições liberais, são apontados por Bobbio como pedras angulares de uma democracia, que embora ruim, é preferível a uma ditadura.[30]

Ao longo de sua vida, escritor de inúmeros artigos, inclusive através de entrevistas, Norberto Bobbio encarna o ideal da filosofia crítica e militante que também o vê como o protagonista do Centro de Estudos Metodológicos de Turim e um dos fundadores do Centro de Estudos Piero Gobetti em Turim, os quais ainda preserva na sua biblioteca e o seu arquivo.[22]

Sobre o Papel do Intelectual

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Disse, Bobbio, certa vez, sobre o papel do intelectual "Considero-me um homem de dúvida e de diálogo. Da dúvida, porque todo o meu raciocínio sobre uma das grandes questões quase sempre termina, seja expondo a gama de respostas possíveis, seja fazendo outra grande questão. Do diálogo, porque não presumo que sei o que não sei, e o que sei testo continuamente com aqueles que presumo saber mais do que eu".[31]

Ao contrário da figura do "Profeta" intelectual,[32] preferindo o papel de "Mediador" engajado "na difícil arte do diálogo" (e isso também é atestado pela conversa mantida com os marxistas para um reexame crítico de seu "dogmatismo e sectarismo» que também envolveu Palmito Togliatti[33][34][35]), sua atitude teórica foi marcada por uma "ambivalência" positiva entre uma posição realista e uma idealista que não se esquivou das complexidades do discurso,[36] muitas vezes recorrendo ao paradoxo. Isso lhe valeu, em virtude do amor pelo debate que considera "os prós e os contras" de cada questão, o título de filósofo "da indecisão" (Rafael de Asís Roig[37]), já que todo o seu "raciocínio sobre uma das grandes questões [terminava] quase sempre, seja por expor a gama de respostas possíveis, seja por fazer mais uma outra grande questão".[31][36]

A mais recente bibliografia dos seus escritos enumera 2025 títulos entre obras de ensaio, direito, ética, filosofia, peças de comentário político. Mas se há um traço comum que une esta vasta e diversificada obra intelectual é a postura do professor que procura de forma simples e intuitiva transmitir a quem o ouve (ou lê) as ideias matrizes de uma riquíssima história das ideias ocidentais e a perseverante defesa das regras do jogo democrático como indispensável à própria sobrevivência da democracia.

Entre suas obras mais usadas no meio acadêmico, destacam-se o "Dicionário de Política", escrito ao lado de Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, publicada em dois volumes; e "Política e Cultura", que vendeu mais de 300 mil cópias só na Itália e foi traduzido para 19 idiomas.[38]

  • Estado, Governo, Sociedade
  • Ensaios sobre Gramsci
  • Teoria da Norma Jurídica
  • Teoria do Ordenamento Jurídico
  • Elogio da Serenidade

Algumas obras em português

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Obras sobre Bobbio em Português

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  • NAPOLI, Ricardo Bins di; GALLINA, A. L. (orgs.) Norberto Bobbio: Direito, Ética e Política. Ijuí: EdUnijuí, 2005.
  • BOBBIO, Norberto. Direita e Esquerda. São Paulo: UNESP, 2001.

Obras - Em Língua Italiana[40]

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Os escritos de Bobbio, em língua italiana:[40]

  • Norberto Bobbio, L'indirizzo fenomenologico nella filosofia sociale e giuridica, a cura di P. Di Lucia, Torino, Giappichelli, 2018 [1934], ISBN 978-88-921-0936-0.
  • Norberto Bobbio, Scienza e tecnica del diritto, Torino, Istituto giuridico della Regia Università, 1934.
  • Norberto Bobbio, L'analogia nella logica del diritto, a cura di P. Di Lucia, Milano, Giuffrè, 2006 [1938], ISBN 978-88-14-13218-6.
  • Norberto Bobbio, La consuetudine come fatto normativo, introduzione di P. Grossi, Torino, Giappichelli, 2010 [1942], ISBN 978-88-348-1745-2.
  • Norberto Bobbio, La filosofia del decadentismo, Torino, Chiantore, 1944.
  • Carlo Cattaneo e Norberto Bobbio, Stati Uniti d'Italia. Scritti sul federalismo democratico, prefazione di N. Urbinati, Roma, Donzelli, 2010 [1945], ISBN 978-88-6036-505-7.
  • Norberto Bobbio, Teoria della scienza giuridica, Torino, Giappichelli, 1950.
  • Norberto Bobbio, Politica e cultura, introduzione e cura di F. Sbarberi, Torino, Einaudi, 2005 [1955], ISBN 978-88-06-17292-3.
  • · Norberto Bobbio, Studi sulla teoria generale del diritto, Torino, Giappichelli, 1955.
  • Norberto Bobbio, Teoria della norma giuridica, Torino, Giappichelli, 1958.
  • Norberto Bobbio, Teoria dell'ordinamento giuridico, Torino, Giappichelli, 1960.
  • · I corsi di lezione sulla norma e sull'ordinamento giuridico sono stati rifusi in Norberto Bobbio, Teoria generale del diritto, Torino, Giappichelli, 1993, ISBN 88-348-3071-7.
  • Norberto Bobbio, Il positivismo giuridico, Lezioni di Filosofia del diritto raccolte dal dott. Nello Morra, Torino, Giappichelli, 1996 [1961], ISBN 88-348-6167-1.
  • Norberto Bobbio, Locke e il diritto naturale, introduzione di Gaetano Pecora, Torino, 2017 [1963], ISBN 978-88-921-0945-2.
  • Norberto Bobbio, Da Hobbes a Marx. Saggi di storia della filosofia, 2ª ed., Napoli, Morano, 1971 [1964].
  • Norberto Bobbio, Italia civile. Ritratti e testimonianze, 2ª ed., Firenze, Passigli, 1986 [1964], ISBN 978-88-368-0315-6.
  • Norberto Bobbio, Giusnaturalismo e positivismo giuridico, prefazione di L. Ferrajoli, 4ª ed., Roma-Bari, Laterza, 2018 [1965], ISBN 978-88-420-8668-0.
  • Norberto Bobbio, Profilo ideologico del Novecento italiano, in Storia della letteratura italiana, 9 voll., direttori E. Cecchi e N. Sapegno, vol. 9 (Il Novecento), Milano, Garzanti, 1965-69, pp. 105–200.. Ristampato come opera a sé stante, per Einaudi, nel 1986 (ISBN 88-06-59313-7), quindi, nuovamente per Garzanti, nel 1990 (ISBN 88-11-67410-7).
  • Norberto Bobbio, Saggi sulla scienza politica in Italia, 2ª ed., Roma-Bari, Laterza, 2005 [1969], ISBN 978-88-420-6387-2.
  • Norberto Bobbio, Diritto e Stato nel pensiero di Emanuele Kant, lezioni raccolte dallo studente Gianni Sciorati, 2ª ed., Torino, Giappichelli, 1969 [1957],
  • Norberto Bobbio, Una filosofia militante. Studi su Carlo Cattaneo, Torino, Einaudi, 1971,
  • Norberto Bobbio, La teoria delle forme di governo nella storia del pensiero politico, anno accademico 1975-76, Torino, Giappichelli, 1976, ISBN 978-88-348-0525-1.
  • Norberto Bobbio, Quale socialismo? Discussione di un'alternativa, 5ª ed., Torino, Einaudi, 1977.
  • Norberto Bobbio, Il problema della guerra e le vie della pace, 4ª ed., Bologna, Il Mulino, 2009 [1979], ISBN 978-88-15-13300-7.
  • Norberto Bobbio, Studi hegeliani. Diritto, società civile, Stato, Torino, Einaudi, 1981.
  • Norberto Bobbio, Le ideologie e il potere in crisi. Pluralismo, democrazia, socialismo, comunismo, terza via e terza forza, Firenze, Le Monnier, 1981, ISBN 88-00-84034-5.
  • Norberto Bobbio, Il futuro della democrazia. Una difesa delle regole del gioco, Torino, Einaudi, 1984, ISBN 88-06-57547-3.
  • Norberto Bobbio, Maestri e compagni, 3ª ed., Firenze, Passigli, 1994 [1984], ISBN 88-368-0309-1.
  • Norberto Bobbio, Il terzo assente. Saggi e discorsi sulla pace e sulla guerra, 2ª ed., Casale Monferrato, Sonda, 2013 [1989], ISBN 978-88-7106-007-1.
  • Norberto Bobbio, Thomas Hobbes, Torino, Einaudi, 2004 [1989], ISBN 978-88-06-16968-8.
  • Norberto Bobbio, Saggi su Gramsci, Collana Campi del sapere, Milano, Feltrinelli, 1990, ISBN 978-88-07-10135-9.
  • Norberto Bobbio, L'età dei diritti, Torino, Einaudi, 2014 [1990], ISBN 978-88-06-22343-4.
  • Norberto Bobbio, Il dubbio e la scelta. Intellettuali e potere nella società contemporanea, Roma, Carocci, 2001 [1993], ISBN 88-430-1838-8.
  • Norberto Bobbio, Elogio della mitezza e altri scritti morali, Milano, Il Saggiatore, 2014 [1994], ISBN 978-88-428-1882-3.
  • Norberto Bobbio, Destra e sinistra. Ragioni e significati di una distinzione politica, edizione del ventennale con una introduzione di M.L. Salvadori e due commenti vent'anni dopo di D. Cohn-Bendit e di M. Renzi, Roma, Donzelli, 2014 [1994], ISBN 978-88-6843-262-1.
  • Norberto Bobbio, Tra due repubbliche. Alle origini della democrazia italiana, con una nota storica di T. Greco, Roma, Donzelli, 1996, ISBN 978-88-7989-211-7.
  • Norberto Bobbio, Eguaglianza e libertà, Torino, Einuadi, 2009 [1995], ISBN 978-88-06-19868-8.
  • Norberto Bobbio, De senectute e altri scritti autobiografici, a cura di P. Polito, prefazione di G. Zagrebelsky, Torino, Einaudi, 2006 [1996], ISBN 978-88-06-18493-3.
  • Norberto Bobbio, Né con Marx né contro Marx, a cura di C. Violi, Roma, Editori Riuniti, 2016 [1997], ISBN 978-88-6473-197-1.
  • Norberto Bobbio, Autobiografia, a cura di A. Papuzzi, 3ª ed., Roma-Bari, Laterza, 2014 [1997], ISBN 978-88-420-5752-9.
  • Norberto Bobbio, Teoria generale della politica, a cura di M. Bovero, Torino, Einaudi, 2009 [1999], ISBN 978-88-06-19985-2.
  • Norberto Bobbio, Trent'anni di storia della cultura a Torino (1920-1950), introduzione di A. Papuzzi, Torino, Einaudi, 2002 [1977], ISBN 88-06-16250-0.
  • Norberto Bobbio e Maurizio Viroli, Dialogo intorno alla repubblica, Roma-Bari, Laterza, 2003 [2001], ISBN 978-88-420-6953-9.
  • Norberto Bobbio, Liberalismo e Democrazia, introduzione di F. Manni, Milano, Simonelli, 2006 [1985], ISBN 978-88-9320-148-3.
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Referências

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