Sopa primordial: diferenças entre revisões
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A '''sopa primordial''', ou '''sopa prebiótica''' (às vezes também chamada de '''caldo prebiótico'''), é o conjunto [[Hipótese|hipotético]] de condições presentes na Terra há cerca de 3700 a 4000 milhões de anos. É um aspecto da '''teoria heterotrófica''' da origem da vida, proposta pela primeira vez por [[Aleksandr Oparin|Alexander Oparin]] em 1924 e [[J. B. S. Haldane]] em 1929.<ref>{{Citar web|url=http://breadtagsagas.com/wp-content/uploads/2015/12/AI-Oparin-The-Origin-of-Life.pdf|título=The Origin of Life|último=Oparin|primeiro=Alexander}}</ref><ref name=":0">{{Citar web|url=http://www.uv.es/~orilife/textos/Haldane.pdf|título=The Origin of Life|último=Haldane|primeiro=John B. S.}}</ref> |
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'''Sopa primordial''' ou '''caldo primordial''' é uma mistura teórica de [[compostos orgânicos]] que podem ter dado origem à vida na Terra.<ref name="LQES">{{Cite web| title = LQES - LQES Responde - lápis-lazúli| accessdate = 2012-11-15| url = http://lqes.iqm.unicamp.br/canal_cientifico/lqes_responde/lqes_responde_sopa_primordial.html}}</ref> O termo foi introduzido pelo biólogo soviético [[Aleksandr Oparin]]. Em 1924, ele propôs a teoria da [[origem da vida]] na Terra, através da transformação, durante a evolução química gradual de [[moléculas]] que contêm [[carbono]] na sopa primordial. Originalmente, a Terra não continha compostos orgânicos. As condições existentes então seriam muito diferentes das atuais. A [[atmosfera]] não continha [[oxigénio]], sendo antes rica em [[nitrogénio]], [[amónia]], [[hidrogénio]], [[metano]] e [[água]]. Através da acção de [[Raio (meteorologia)|raios eléctricos]] ou [[calor]], estes elementos ter-se-iam combinado em [[aminoácido]]s. Estes aminoácidos iriam posteriormente juntar-se e propiciariam a formação de organismos.<ref name="LQES"/> |
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== Contexto histórico == |
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Apoio a esta teoria surgiria mais tarde em 1953, com a [[experiência de Miller e Urey]].<ref name="LQES"/> |
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A noção de que os seres vivos se originaram de materiais inanimados vem dos gregos antigos – a teoria conhecida como [[geração espontânea]]. [[Aristóteles]] no século IV a.C. deu uma explicação adequada, escrevendo: |
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{{quote |Assim com os animais, alguns provêm de animais progenitores de acordo com a sua espécie, enquanto outros crescem espontaneamente e não a partir de uma linhagem afim; e desses exemplos de geração espontânea alguns vêm da putrefação da terra ou da matéria vegetal, como é o caso de vários insetos, enquanto outros são gerados espontaneamente no interior dos animais a partir das secreções de seus vários órgãos.<ref name="HistAnimV">{{citar livro|autor=Aristotle |autorlink=Aristotle |others=translated by D'Arcy Wentworth Thompson |título=The History of Animals |url=http://ebooks.adelaide.edu.au/a/aristotle/history/ |acessodata=2008-12-20 |anooriginal=c. 343 BCE |ano=1910 |publicado=Clarendon Press |local=Oxford |capítulo=Book V |capítulourl=http://ebooks.adelaide.edu.au/a/aristotle/history/book5.html |isbn=90-6186-973-0}}</ref> |Aristóteles||fonte=''Sobre a História dos Animais'', Livro V, Parte 1}} |
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Aristóteles também afirma que não é apenas que os [[Animalia|animais]] se originam de outros animais semelhantes, mas também que os [[Organismo|seres vivos]] surgem e sempre surgiram da [[matéria]] sem vida. Sua teoria permaneceu a ideia dominante sobre a origem da vida (fora da divindade como agente causal) dos [[Filosofia antiga|filósofos antigos]] aos pensadores da [[Renascimento|Renascença]] em várias formas.<ref>{{citar livro|url=https://books.google.com/books?id=5oQ_SQAACAAJ |título=Historical Encyclopedia of Natural and Mathematical Sciences |último1=Ben-Menahem |primeiro1=Ari |data=2009 |publicado=Springer |isbn=978-3-540-68834-1 |edição=1st |local=Berlin |páginas=270–280 |capítulo=The Spontaneous Generation Controversy}}</ref> Com o nascimento da ciência moderna, surgiram refutações experimentais. O [[médico]] [[Italianos|italiano]] [[Francesco Redi]] demonstrou em 1668 que as [[larva]]s se desenvolveram a partir de [[carne]] podre apenas em uma jarra onde as [[Diptera|moscas]] podiam entrar, mas não em uma jarra com tampa fechada. Ele concluiu que: ''omne vivum ex vivo'' (Toda vida vem da vida).<ref>{{citar periódico|último1=Gottdenker |primeiro1=P. |data=1979 |título=Francesco Redi and the fly experiments |periódico=Bulletin of the History of Medicine |volume=53 |número=4 |páginas=575–592 |pmid=397843}}</ref> |
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O experimento do [[químico]] [[Franceses|francês]] [[Louis Pasteur]] em 1859 é considerado o golpe mortal para a geração espontânea. Ele mostrou experimentalmente que [[organismo]]s ([[Micro-organismo|micróbios]]) não podem crescer em água esterilizada, a menos que seja exposta ao [[ar]]. O experimento lhe rendeu o Prêmio Alhumbert em 1862 da [[Académie des sciences|Academia Francesa de Ciências]], e ele concluiu: "Nunca a doutrina da geração espontânea se recuperará do golpe mortal desse experimento simples."<ref>{{citar periódico|último1=Schwartz |primeiro1=M. |data=2001 |título=The life and works of Louis Pasteur |periódico=Journal of Applied Microbiology |volume=91 |número=4 |páginas=597–601 |doi=10.1046/j.1365-2672.2001.01495.x |pmid=11576293 |s2cid=39020116 |doi-access=free}}</ref> |
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Os [[Biologia|biólogos]] [[Evolução|evolucionistas]] acreditavam que uma espécie de geração espontânea, mas diferente da simples doutrina aristotélica, deve ter funcionado para o surgimento da vida. O biólogo francês [[Jean-Baptiste de Lamarck]] especulou que a primeira forma de vida começou a partir de materiais não vivos. "A [[natureza]], por meio de [[calor]], [[luz]], [[eletricidade]] e [[Humidade|umidade]]", escreveu ele em 1809 em ''[[Philosophie Zoologique]]'' (''A Filosofia da Zoologia''), "forma a geração direta ou espontânea naquela extremidade de cada [[Reino (biologia)|reino]] de corpos vivos, onde o mais simples desses corpos são encontrados".<ref name="lazcano10" /> |
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Quando o [[naturalista]] [[Ingleses|inglês]] [[Charles Darwin]] introduziu a teoria da [[seleção natural]] em seu livro de 1859, ''[[A Origem das Espécies]]'', seus apoiadores, como o [[Zoologia|zoólogo]] [[Alemães|alemão]] [[Ernst Haeckel]], o criticaram por não usar sua teoria para explicar a [[Cosmogonia|origem da vida]]. Haeckel escreveu em 1862: "O principal defeito da teoria darwiniana é que ela não esclarece a origem do organismo primitivo — provavelmente uma célula simples — da qual todos os outros descenderam. Quando Darwin assume um ato criativo especial para este primeiro espécie, ele não é consistente e, eu acho, não muito sincero."<ref>{{citar livro|url=https://books.google.com/books?id=P9AoDwAAQBAJ |título=What is Life? On Earth and Beyond |último=Losch |primeiro=Andreas |data=2017 |publicado=Cambridge University Press |isbn=978-1-107-17589-1 |local=Cambridge |página=79}}</ref> |
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Embora Darwin não tenha falado explicitamente sobre a origem da vida em ''A Origem das Espécies'', ele mencionou um "pequeno lago quente" em uma carta a [[Joseph Dalton Hooker]] datada de 1.º de fevereiro de 1871:<ref name="pereto">{{citar periódico|último1=Peretó |primeiro1=Juli |último2=Bada |primeiro2=Jeffrey L. |último3=Lazcano |primeiro3=Antonio |título=Charles Darwin and the Origin of Life |periódico=Origins of Life and Evolution of Biospheres |data=2009 |volume=39 |número=5 |páginas=395–406 |doi=10.1007/s11084-009-9172-7 |pmid=19633921 |pmc=2745620}}</ref> |
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=== Teoria heterotrófica === |
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Um argumento [[Ciência|científico]] coerente foi introduzido pelo [[bioquímico]] [[Soviéticos|soviético]] [[Aleksandr Oparin|Alexander Oparin]] em 1924. De acordo com Oparin, na superfície da [[Proto-Terra|Terra primitiva]], [[carbono]], [[Hidrogénio|hidrogênio]], [[vapor de água]] e [[Amoníaco|amônia]] reagiram para formar os primeiros [[Composto orgânico|compostos orgânicos]]. Sem o conhecimento de Oparin, cuja escrita circulou apenas em [[Russos|russo]], um cientista inglês [[J. B. S. Haldane]] chegou a uma conclusão semelhante em 1929.<ref name="Oparin">{{Citar web|url=http://breadtagsagas.com/wp-content/uploads/2015/12/AI-Oparin-The-Origin-of-Life.pdf |título=The Origin of Life |último=Oparin |primeiro=Alexander}}</ref><ref>{{Citar web|url=http://www.uv.es/~orilife/textos/Haldane.pdf |título=The Origin of Life |último=Haldane |primeiro=John B. S.}}</ref> Foi Haldane quem primeiro usou o termo "[[sopa]]" para descrever o acúmulo de material orgânico e água na Terra primitiva.<ref name=":0" /><ref name="lazcano10">{{citar periódico|último1=Lazcano |primeiro1=A. |título=Historical Development of Origins Research |periódico=Cold Spring Harbor Perspectives in Biology |data=2010 |volume=2 |número=11 |páginas=a002089 |doi=10.1101/cshperspect.a002089 |pmid=20534710 |pmc=2964185}}</ref> |
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{{Quote |text=Quando a luz ultravioleta age sobre uma mistura de água, [[dióxido de carbono]] e amônia, uma grande variedade de substâncias orgânicas é produzida, incluindo açúcares e, aparentemente, alguns dos materiais a partir dos quais as proteínas são construídas. [...] antes da origem da vida eles devem ter se acumulado até os oceanos primitivos atingirem a consistência de uma sopa quente diluída. |sign=J. B. S. Haldane |source=A Origem da Vida}} |
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Segundo a teoria, compostos orgânicos essenciais para as formas de vida foram sintetizados na Terra primitiva sob condições pré-bióticas. A mistura de compostos inorgânicos e orgânicos com [[água]] na Terra primitiva tornou-se a sopa prebiótica ou primordial. Ali, a vida se originou e as primeiras formas de vida puderam usar as moléculas orgânicas para [[Sobrevivencialismo|sobreviver]] e se [[Reprodução|reproduzir]]. Hoje, a teoria é conhecida como teoria heterotrófica, teoria da origem heterotrófica da vida ou [[Hipótese de Oparin e Haldane|hipótese de Oparin-Haldane]].<ref name="fry">{{citar periódico|último=Fry |primeiro=Iris |título=The origins of research into the origins of life |periódico=Endeavour |data=2006 |volume=30 |número=1 |páginas=24–28 |doi=10.1016/j.endeavour.2005.12.002 |pmid=16469383}}</ref> O bioquímico [[Robert Shapiro]] resumiu os pontos básicos da teoria em sua "forma madura" da seguinte forma:<ref>{{citar livro|último=Shapiro |primeiro=Robert |título=Origins: A Skeptic's Guide to the Creation of Life on Earth |publicado=Bantam Books |ano=1987 |página=[https://archive.org/details/originsskepticsg0000shap/page/110 110] |isbn=0-671-45939-2 |url=https://archive.org/details/originsskepticsg0000shap/page/110 }}</ref> |
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# A Terra primitiva tinha uma atmosfera quimicamente [[Atmosfera redutora|redutora]]. |
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# Essa [[atmosfera]], exposta à energia em várias formas, produzia compostos orgânicos simples ("[[monômero]]s"). |
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# Esses compostos se acumularam na sopa prebiótica, que pode ter se concentrado em locais como litorais e [[Fonte hidrotermal|fontes oceânicas]]. |
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# Por transformação adicional, [[polímero]]s orgânicos mais complexos – e, finalmente, vida – se desenvolveram na sopa. |
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== Teoria de Haldane == |
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J.B.S. Haldane postulou independentemente sua teoria primordial da sopa em 1929 em um artigo de oito páginas "A origem da vida" no ''The Rationalist Annual''.<ref name="lazcano10"/> De acordo com Haldane, a [[atmosfera da Terra]] primitiva era essencialmente redutora, com pouco ou nenhum oxigênio. Os [[Radiação ultravioleta|raios ultravioleta]] do [[Sol]] induzem reações em uma mistura de água, dióxido de carbono e amônia. Substâncias orgânicas como [[Carboidrato|açúcares]] e componentes proteicos ([[aminoácido]]s) foram sintetizadas. Essas moléculas "se acumularam até os [[oceano]]s primitivos atingirem a consistência de uma sopa quente diluída". As primeiras coisas de reprodução foram criadas a partir desta sopa.<ref>{{citar periódico|último1=Haldane|primeiro1=J.B.S.|título=The origin of life|periódico=The Rationalist Annual|data=1929|volume=148|páginas=3–10|url=http://breadtagsagas.com/j-b-s-haldane-the-origin-of-life-1929/}}</ref> |
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Quanto à prioridade sobre a teoria, Haldane aceitou que Oparin vinha primeiro, dizendo: "Tenho poucas dúvidas de que o professor Oparin tem prioridade sobre mim."<ref>{{citar periódico|último1=Miller|primeiro1=Stanley L.|último2=Schopf|primeiro2=J. William|último3=Lazcano|primeiro3=Antonio|título=Oparin's "Origin of Life'': Sixty Years Later|periódico=Journal of Molecular Evolution|data=1997|volume=44|número=4|páginas=351–353|doi=10.1007/PL00006153|pmid=9089073|bibcode=1997JMolE..44..351M|s2cid=40090531}}</ref> |
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== Formação de monômeros == |
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{{Artigo principal|Experiência de Miller e Urey}} |
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Uma das peças mais importantes de suporte experimental para a teoria da "sopa" veio em 1953. Um estudante de [[pós-graduação]], [[Stanley Miller]], e seu professor, [[Harold Clayton Urey|Harold Urey]], realizaram um experimento que demonstrou como moléculas orgânicas poderiam ter se formado espontaneamente a partir de precursores [[Química inorgânica|inorgânicos]], sob condições como as postuladas pela Hipótese Oparin-Haldane. O agora famoso "[[Experiência de Miller e Urey|experimento de Miller-Urey]]" usou uma mistura altamente reduzida de [[Gás|gases]] — [[metano]], amônia e hidrogênio — para formar monômeros orgânicos básicos, como aminoácidos.<ref>{{citar periódico|último=Miller |primeiro=Stanley L. |ano=1953 |título=A Production of Amino Acids Under Possible Primitive Earth Conditions|periódico=Science |volume=117 |páginas=528–9 |doi=10.1126/science.117.3046.528 |pmid=13056598 |número=3046 |bibcode = 1953Sci...117..528M |s2cid=38897285 |url=https://semanticscholar.org/paper/c82119aed73838366ea5e8728be939df4fba6109 }}</ref> Isso forneceu suporte experimental direto para o segundo ponto da teoria da "sopa", e é um dos dois pontos restantes da teoria que grande parte do debate agora se concentra. |
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Além do experimento de Miller-Urey, o próximo passo mais importante na pesquisa sobre a [[síntese orgânica]] prebiótica foi a demonstração por [[Joan Oró]] de que a base de [[ácido nucleico]] [[purina]], [[adenina]], foi formada pelo aquecimento de [[Solução aquosa|soluções aquosas]] de [[cianeto de amônio]].<ref>{{citar periódico|último=Oró |primeiro=J. |ano=1961 |título=Mechanism of synthesis of adenine from hydrogen cyanide under possible primitive Earth conditions|periódico=Nature |volume=191 |páginas=1193–4 |doi=10.1038/1911193a0 |pmid=13731264 |número=4794|bibcode = 1961Natur.191.1193O |s2cid=4276712 }}</ref> Em apoio à [[abiogênese]] em [[gelo]] [[Mistura eutética|eutético]], trabalhos mais recentes demonstraram a formação de estriazinas ([[nucleobase]]s alternativas), [[pirimidina]]s (incluindo [[citosina]] e [[Uracilo|uracila]]) e [[adenina]] a partir de soluções de [[ureia]] submetidas a ciclos de congelamento-descongelamento sob uma atmosfera redutiva (com descargas de faísca como fonte de [[energia]]).<ref>{{citar periódico|vauthors=Menor-Salván C, Ruiz-Bermejo DM, Guzmán MI, Osuna-Esteban S, Veintemillas-Verdaguer S |título= Synthesis of pyrimidines and triazines in ice: implications for the prebiotic chemistry of nucleobases |periódico= Chemistry |ano= 2007 | volume = 15 |páginas= 4411–8 | doi = 10.1002/chem.200802656 | pmid = 19288488 |número= 17 }}</ref> |
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[[Categoria:Origem da vida]] |
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Lembrando isso é apenas uma teoria quem vem diminuindo nos dias de hoje por faltar as provas! |
Edição atual tal como às 16h37min de 15 de novembro de 2024
A sopa primordial, ou sopa prebiótica (às vezes também chamada de caldo prebiótico), é o conjunto hipotético de condições presentes na Terra há cerca de 3700 a 4000 milhões de anos. É um aspecto da teoria heterotrófica da origem da vida, proposta pela primeira vez por Alexander Oparin em 1924 e J. B. S. Haldane em 1929.[1][2]
Contexto histórico
[editar | editar código-fonte]A noção de que os seres vivos se originaram de materiais inanimados vem dos gregos antigos – a teoria conhecida como geração espontânea. Aristóteles no século IV a.C. deu uma explicação adequada, escrevendo:
Assim com os animais, alguns provêm de animais progenitores de acordo com a sua espécie, enquanto outros crescem espontaneamente e não a partir de uma linhagem afim; e desses exemplos de geração espontânea alguns vêm da putrefação da terra ou da matéria vegetal, como é o caso de vários insetos, enquanto outros são gerados espontaneamente no interior dos animais a partir das secreções de seus vários órgãos.[3]— AristótelesSobre a História dos Animais, Livro V, Parte 1
Aristóteles também afirma que não é apenas que os animais se originam de outros animais semelhantes, mas também que os seres vivos surgem e sempre surgiram da matéria sem vida. Sua teoria permaneceu a ideia dominante sobre a origem da vida (fora da divindade como agente causal) dos filósofos antigos aos pensadores da Renascença em várias formas.[4] Com o nascimento da ciência moderna, surgiram refutações experimentais. O médico italiano Francesco Redi demonstrou em 1668 que as larvas se desenvolveram a partir de carne podre apenas em uma jarra onde as moscas podiam entrar, mas não em uma jarra com tampa fechada. Ele concluiu que: omne vivum ex vivo (Toda vida vem da vida).[5]
O experimento do químico francês Louis Pasteur em 1859 é considerado o golpe mortal para a geração espontânea. Ele mostrou experimentalmente que organismos (micróbios) não podem crescer em água esterilizada, a menos que seja exposta ao ar. O experimento lhe rendeu o Prêmio Alhumbert em 1862 da Academia Francesa de Ciências, e ele concluiu: "Nunca a doutrina da geração espontânea se recuperará do golpe mortal desse experimento simples."[6]
Os biólogos evolucionistas acreditavam que uma espécie de geração espontânea, mas diferente da simples doutrina aristotélica, deve ter funcionado para o surgimento da vida. O biólogo francês Jean-Baptiste de Lamarck especulou que a primeira forma de vida começou a partir de materiais não vivos. "A natureza, por meio de calor, luz, eletricidade e umidade", escreveu ele em 1809 em Philosophie Zoologique (A Filosofia da Zoologia), "forma a geração direta ou espontânea naquela extremidade de cada reino de corpos vivos, onde o mais simples desses corpos são encontrados".[7]
Quando o naturalista inglês Charles Darwin introduziu a teoria da seleção natural em seu livro de 1859, A Origem das Espécies, seus apoiadores, como o zoólogo alemão Ernst Haeckel, o criticaram por não usar sua teoria para explicar a origem da vida. Haeckel escreveu em 1862: "O principal defeito da teoria darwiniana é que ela não esclarece a origem do organismo primitivo — provavelmente uma célula simples — da qual todos os outros descenderam. Quando Darwin assume um ato criativo especial para este primeiro espécie, ele não é consistente e, eu acho, não muito sincero."[8]
Embora Darwin não tenha falado explicitamente sobre a origem da vida em A Origem das Espécies, ele mencionou um "pequeno lago quente" em uma carta a Joseph Dalton Hooker datada de 1.º de fevereiro de 1871:[9]
Costuma-se dizer que todas as condições para a primeira produção de um ser vivo estão agora presentes, o que poderia ter estado presente. Mas se (e que grande se) pudéssemos conceber em algum pequeno lago quente com todo tipo de amônia e sais fosfóricos – luz, calor, eletricidade presentes, que um composto proteico fosse formado quimicamente, pronto para sofrer mudanças ainda mais complexas, no presente, tal matéria seria instantaneamente devorada, ou absorvida, o que não teria sido o caso antes da formação dos seres vivos [...].— Charles DarwinCarta a Joseph Dalton Hooker em 1.º de fevereiro de 1871
Teoria heterotrófica
[editar | editar código-fonte]Um argumento científico coerente foi introduzido pelo bioquímico soviético Alexander Oparin em 1924. De acordo com Oparin, na superfície da Terra primitiva, carbono, hidrogênio, vapor de água e amônia reagiram para formar os primeiros compostos orgânicos. Sem o conhecimento de Oparin, cuja escrita circulou apenas em russo, um cientista inglês J. B. S. Haldane chegou a uma conclusão semelhante em 1929.[10][11] Foi Haldane quem primeiro usou o termo "sopa" para descrever o acúmulo de material orgânico e água na Terra primitiva.[2][7]
Quando a luz ultravioleta age sobre uma mistura de água, dióxido de carbono e amônia, uma grande variedade de substâncias orgânicas é produzida, incluindo açúcares e, aparentemente, alguns dos materiais a partir dos quais as proteínas são construídas. [...] antes da origem da vida eles devem ter se acumulado até os oceanos primitivos atingirem a consistência de uma sopa quente diluída.— J. B. S. HaldaneA Origem da Vida
Segundo a teoria, compostos orgânicos essenciais para as formas de vida foram sintetizados na Terra primitiva sob condições pré-bióticas. A mistura de compostos inorgânicos e orgânicos com água na Terra primitiva tornou-se a sopa prebiótica ou primordial. Ali, a vida se originou e as primeiras formas de vida puderam usar as moléculas orgânicas para sobreviver e se reproduzir. Hoje, a teoria é conhecida como teoria heterotrófica, teoria da origem heterotrófica da vida ou hipótese de Oparin-Haldane.[12] O bioquímico Robert Shapiro resumiu os pontos básicos da teoria em sua "forma madura" da seguinte forma:[13]
- A Terra primitiva tinha uma atmosfera quimicamente redutora.
- Essa atmosfera, exposta à energia em várias formas, produzia compostos orgânicos simples ("monômeros").
- Esses compostos se acumularam na sopa prebiótica, que pode ter se concentrado em locais como litorais e fontes oceânicas.
- Por transformação adicional, polímeros orgânicos mais complexos – e, finalmente, vida – se desenvolveram na sopa.
Teoria de Haldane
[editar | editar código-fonte]J.B.S. Haldane postulou independentemente sua teoria primordial da sopa em 1929 em um artigo de oito páginas "A origem da vida" no The Rationalist Annual.[7] De acordo com Haldane, a atmosfera da Terra primitiva era essencialmente redutora, com pouco ou nenhum oxigênio. Os raios ultravioleta do Sol induzem reações em uma mistura de água, dióxido de carbono e amônia. Substâncias orgânicas como açúcares e componentes proteicos (aminoácidos) foram sintetizadas. Essas moléculas "se acumularam até os oceanos primitivos atingirem a consistência de uma sopa quente diluída". As primeiras coisas de reprodução foram criadas a partir desta sopa.[14]
Quanto à prioridade sobre a teoria, Haldane aceitou que Oparin vinha primeiro, dizendo: "Tenho poucas dúvidas de que o professor Oparin tem prioridade sobre mim."[15]
Formação de monômeros
[editar | editar código-fonte]Uma das peças mais importantes de suporte experimental para a teoria da "sopa" veio em 1953. Um estudante de pós-graduação, Stanley Miller, e seu professor, Harold Urey, realizaram um experimento que demonstrou como moléculas orgânicas poderiam ter se formado espontaneamente a partir de precursores inorgânicos, sob condições como as postuladas pela Hipótese Oparin-Haldane. O agora famoso "experimento de Miller-Urey" usou uma mistura altamente reduzida de gases — metano, amônia e hidrogênio — para formar monômeros orgânicos básicos, como aminoácidos.[16] Isso forneceu suporte experimental direto para o segundo ponto da teoria da "sopa", e é um dos dois pontos restantes da teoria que grande parte do debate agora se concentra.
Além do experimento de Miller-Urey, o próximo passo mais importante na pesquisa sobre a síntese orgânica prebiótica foi a demonstração por Joan Oró de que a base de ácido nucleico purina, adenina, foi formada pelo aquecimento de soluções aquosas de cianeto de amônio.[17] Em apoio à abiogênese em gelo eutético, trabalhos mais recentes demonstraram a formação de estriazinas (nucleobases alternativas), pirimidinas (incluindo citosina e uracila) e adenina a partir de soluções de ureia submetidas a ciclos de congelamento-descongelamento sob uma atmosfera redutiva (com descargas de faísca como fonte de energia).[18]
Referências
- ↑ Oparin, Alexander. «The Origin of Life» (PDF)
- ↑ a b Haldane, John B. S. «The Origin of Life» (PDF)
- ↑ Aristotle (1910) [c. 343 BCE]. «Book V». The History of Animals. translated by D'Arcy Wentworth Thompson. Oxford: Clarendon Press. ISBN 90-6186-973-0. Consultado em 20 de dezembro de 2008
- ↑ Ben-Menahem, Ari (2009). «The Spontaneous Generation Controversy». Historical Encyclopedia of Natural and Mathematical Sciences 1st ed. Berlin: Springer. pp. 270–280. ISBN 978-3-540-68834-1
- ↑ Gottdenker, P. (1979). «Francesco Redi and the fly experiments». Bulletin of the History of Medicine. 53 (4): 575–592. PMID 397843
- ↑ Schwartz, M. (2001). «The life and works of Louis Pasteur». Journal of Applied Microbiology. 91 (4): 597–601. PMID 11576293. doi:10.1046/j.1365-2672.2001.01495.x
- ↑ a b c Lazcano, A. (2010). «Historical Development of Origins Research». Cold Spring Harbor Perspectives in Biology. 2 (11): a002089. PMC 2964185. PMID 20534710. doi:10.1101/cshperspect.a002089
- ↑ Losch, Andreas (2017). What is Life? On Earth and Beyond. Cambridge: Cambridge University Press. p. 79. ISBN 978-1-107-17589-1
- ↑ Peretó, Juli; Bada, Jeffrey L.; Lazcano, Antonio (2009). «Charles Darwin and the Origin of Life». Origins of Life and Evolution of Biospheres. 39 (5): 395–406. PMC 2745620. PMID 19633921. doi:10.1007/s11084-009-9172-7
- ↑ Oparin, Alexander. «The Origin of Life» (PDF)
- ↑ Haldane, John B. S. «The Origin of Life» (PDF)
- ↑ Fry, Iris (2006). «The origins of research into the origins of life». Endeavour. 30 (1): 24–28. PMID 16469383. doi:10.1016/j.endeavour.2005.12.002
- ↑ Shapiro, Robert (1987). Origins: A Skeptic's Guide to the Creation of Life on Earth. [S.l.]: Bantam Books. p. 110. ISBN 0-671-45939-2
- ↑ Haldane, J.B.S. (1929). «The origin of life». The Rationalist Annual. 148: 3–10
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