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Arte do Paleolítico: diferenças entre revisões

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Para uma abordagem mais próxima às primeiras criações artísticas é essencial relacioná-las com o seu plano de fundo [[cultura]]l, [[geografia|geográfico]] e [[sociedade|social]]. Indissociável do seu [[meio-ambiente]], o qual nem sempre é propício à vida humana, o Homem é por ele extremamente influenciado, levando a que as suas decisões (deslocamentos a outros locais, etc) sejam ditadas por condicionantes e factores [[natureza|naturais]]. Que os temas da arte paleolítica foquem, acima de tudo, elementos do seu meio-ambiente (como o reino [[Animalia|animal]], principalmente o alvo da sua [[caça]] – manadas de [[rena]]s das planícies e vales) surge assim como uma consequência lógica.
Para uma abordagem mais próxima às primeiras criações artísticas é essencial relacioná-las com o seu plano de fundo [[cultura]]l, [[geografia|geográfico]] e [[sociedade|social]]. Indissociável do seu [[meio-ambiente]], o qual nem sempre é propício à vida humana, o Homem é por ele extremamente influenciado, levando a que as suas decisões (deslocamentos a outros locais, etc) sejam ditadas por condicionantes e factores [[natureza|naturais]]. Que os temas da arte paleolítica foquem, acima de tudo, elementos do seu meio-ambiente (como o reino [[Animalia|animal]], principalmente o alvo da sua [[caça]] – manadas de [[rena]]s das planícies e vales) surge assim como uma consequência lógica.


===Influências culturais e especificidades regionais===
=== Especificidades regionais na arte rupestre do paleolítico ===


Durante os dois primeiros períodos do Paleolítico (Inferior e Médio) a área da ocupação humana vai estar reduzida à [[África]], [[Ásia]] e [[Europa]]. O achado arqueológico por excelência é o [[artefacto]] talhado em [[pedra]] (machados, etc), que se vai aperfeiçoando tecnicamente ao longo da Pré-História, e que transmite já uma certa preocupação [[estética]] pela procura da [[simetria]].
Durante um longo período de tempo os nossos ancestrais estavam distribuídos apenas em regiões da África, da Ásia e da Europa. Posteriormente houve uma expansão para a região das Américas. Os especialistas da área ainda buscam  respostas para o meio que ocorreu essa chegada e como foi o desenvolvimento desses seres nesta região. Nesta perspectiva, há evidências arqueológicas de que o ''Homo sapiens'', surgiu na África em 200.000 anos atrás e se dispersou pelos demais continentes, chegando a América por volta de 12000 anos atrás.


Embora existam características específicas de cada região, observa-se, simultaneamente, uma certa unidade entre os achados, unidade esta que espelha a existência de contactos entre diferentes grupos de diferentes regiões (p. ex.: a utilização generalizada do [[vermelho]]).
Assim, as populações de ''Homo sapiens'' estavam presentes apenas no continente africano e posteriormente houve uma dispersão dessa espécie para os outros continentes, entre eles a ásia e a Europa, onde era habitado pelos ''Neandertais'' .Neste sentido, há evidências arqueológicas que apontam a existência do convívio entre ''Homo sapiens'' e ''Neandertais'' por um determinado período, como apontam os achados arqueológicos. No Oriente Médio existem vários sítios com achados de fósseis de ambas as espécies, com datações próximas, além das semelhanças da produção de pedras lascadas. Além disso, com o auxílio da engenharia genética moderna foram mapeados genomas neandertais em diversas populações modernas. Por meio dessa análise genética é destacado que todas as pessoas modernas, exceto para os africanos, têm em seu DNA 4 % de genes de Neandertais. Isto significa que houve uma interação entre ''Homo sapiens'' e ''Homo neandertal'' que gerou descendentes comuns a ambos. Entretanto, os traços genéticos de Neandertais não foram encontrados em grande parte do DNA da oposição africana atual, o que demonstra uma redução do contato da população de Sapiens que permaneceram na África com os Neandertais. Entretanto,é importante mencionar que essa discussão ainda é palco de debate científico na atualidade, pois ainda ocorrem pesquisas que buscam compreender esse processo de convívio entre ambos os grupos e como houve essa união.


A partir do Paleolítico Médio dá-se um “''corte''” na continuidade da influência cultural entre os continentes, em que a África (exceptuando o norte) e a Ásia seguem caminhos distintos do da Europa. Durante o Paleolítico Superior, quando o ''[[Homo sapiens sapiens]]'' surge no lugar do ''[[Homo neanderthalensis]]'', segue-se o alargamento da área de ocupação humana na [[América]] e na [[Austrália]], possibilitado pela redução do nível do mar na Era glacial e o consequente surgimento de “''pontes''” de gelo de ligação a esses continentes.
É importante mencionar que em cada região do planeta houve uma expressão diferente das populações que nela viviam. Esses fatores são influenciados por condições como: o tipo de matérias presentes, os hábitos da população e o seu período. Isso destaca uma diversidade de produções e técnicas, como formas de lascamento de pedras, formas de pinturas e construção de objetos. No entanto,também observa-se, simultaneamente, algumas semelhanças entre os achados, o que expressa a existência de contatos entre diferentes grupos de diferentes regiões.


Os achados arqueológicos americanos denotam bem a sua proveniência da Ásia oriental, mas acabam também por evoluir para características próprias. No entanto, pouco se deixa reconstruir da produção artística deste continente durante o Paleolítico devido à reduzida informação arqueológica disponível. Quando a ligação natural à Austrália deixa de existir, a comunicação de outros povos estabelecida até então com este continente leva o mesmo caminho, e o isolamento que se segue resulta no “''empobrecimento''” da cultura aí presente.
A arte pré-histórica europeia e norte-americana possui maiores registros, mas isso não ocorre explicitamente por haver em maior quantidade ou ser mais complexa. O que ocorre é que nessas regiões há maiores investimentos em pesquisas arqueológicas e assim esses registros são encontrados em maior quantidade e de forma mais simples. Outro aspectos importante a ser mencionado é que a maior parte dos achados arqueológicos ligados à expressões artísticas do período paleolítico, estão datados no período do paleolítico superior, mas não descarta a existência de produções ainda mais antigas.


É por estes diversos factores que a Europa e a [[Índia]] são as regiões que oferecem, até ao momento, os melhores testemunhos de estudo da cultura paleolítica, a partir dos quais melhor se pode compreender a interpretação que o Homem paleolítico faz do seu mundo. Na [[França]] e norte de [[Espanha]] podem-se observar dos mais ricos exemplares de pintura rupestre, com base nos quais se pode afirmar a existência de um importante florescer artístico nestas áreas. Mesmo assim torna-se difícil precisar se terá tomado aqui lugar a origem do processo da consciencialização humana e, consequentemente, se terá aqui iniciado a sua evolução artística. A própria área actual dos achados a nível mundial não pode ser entendida como definitiva, uma vez que a preservação das obras muito depende das boas condições dos locais onde foram criadas.
É importante ressaltar que existem diversos estudos acerca do período paleolítico, bem como a arte rupestre, em andamento. Ainda há muitas perguntas a serem respondidas e lugares a serem pesquisados, como aspectos dos primeiros povos que chegaram às Américas. Uma dificuldade encontrada é devido à apresentação dos achados, uma vez que a preservação das obras depende muito das boas condições dos locais onde estavam, como os padrões climáticos da região.

'''Arte paleolítica na África:'''

Em Blombos, na África do Sul, foram encontrados achados associados à arte paleolítica. Foram encontrados “desenhos” feitos com uma cera ocre em um floco de silcrete, de aproximadamente 73.000 anos. Também foram encontradas contas de conchas e gravuras hachuradas em peças ocres.


'''Arte paleolítica na Ásia:'''

Foi encontrado na Ilha de Sulawesi, na Indonésia, a arte parietal (pintura) mais antiga de Homo sapiens, de aproximadamente 44 mil anos. Nessas pinturas há o registro de formas animalescas, que podem servir como base para a compreensão da fauna do período paleolítico nesta região.

'''Arte paleolítica na Europa:'''

Lembrando que nesse continente são encontradas formas de arte parietal e mobiliaria (portátil) muito preservadas, possivelmente devido ao clima favorável. Vale ressaltar que os sítios arqueológicos da Europa são muito estudados, por isso a maior parte dos conhecimentos que temos sobre essas formas de arte vem dessa região. Assim, a arte papelarias da Europa é a que tem mais informações registradas.

Na Gruta Chauvet, na  França, estão localizadas as pinturas mais antigas da Europa associadas a Homo sapiens (32 mil).

A Gruta Altamira, na Espanha, apresenta pinturas rupestres, tendo sido habitada durante milênios. Essa teoria de que de que ela foi muito habitada vem do grande número de achados na região, que são, além das obras, objetos de pedra lascada e esqueletos datados do período.

A Gruta de Lascaux, na França, abriga alguns dos exemplos mais famosos de pinturas rupestres. Nela há cerca de 600 pinturas, sendo a maioria de animais, espalhadas pelas paredes internas da caverna. Há uma grande conservação das imagens, o que possibilita maiores estudos sobre elas.


==O momento de transição==
==O momento de transição==
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===Abordagens sobre o objectivo da arte===
===Abordagens sobre o objectivo da arte===


O conceito de arte adquiriu um novo significado com a vinda do capitalismo, representando um objeto de valor econômico, distinto dos valores da arte antigamente. Sobre os objetivos e significados, existem muitas abordagens a respeito do objetivo da arte no paleolítico. Inicialmente após as primeiras descobertas arqueológicas acerca das pinturas rupestres, se defendia uma ideia de ''arte pela'' arte, sugerindo que as manifestações artísticas tinham   somente função estética, descartando as funções simbólicas e ritualísticas. A partir do aprofundamento dos estudos, foi trazida outra abordagem, que defendia que os primeiros objetos de arte não eram utilitários ou adornos, mas uma tentativa de controlar forças sobrenaturais e, segundo especulam os [[Arqueólogo|arqueólogos]], obter a simpatia dos deuses e bons resultados na [[caça]]. Considerando que as pinturas descobertas em cavernas se encontram em locais de difícil acesso, pode-se supor que o objetivo não é proporcionar uma imagem impressionante, a ''arte pela arte'', mas antes seguir um ritual [[Magia|mágico]] e transmitir crenças religiosas e espirituais. Assim, o resultado estético (de grande naturalismo) não será mais que uma consequência secundária do objetivo principal.  
De um modo geral, a hipótese mais defendida sobre o objectivo da arte paleolítica é a que os primeiros objetos de arte não eram utilitários ou adornos, mas uma tentativa de controlar forças sobrenaturais e, segundo especulam os [[arqueólogo]]s, obter a simpatia dos deuses e bons resultados na [[caça]]. Considerando que as pinturas descobertas em cavernas se encontram em locais de difícil acesso, e não à entrada ao olhar de todos, pode-se supor que o objectivo não é proporcionar uma imagem impressionante acessível a todo o grupo, a ''arte pela arte'', mas antes seguir um ritual [[magia|mágico]]. Assim, o resultado estético (de grande naturalismo) não será mais que uma consequência secundária do objectivo principal. De qualquer modo não se pode eliminar totalmente a hipótese de um objectivo estético consciente.

A arte também tinha grande papel na transmissão de conhecimentos e comunicação geral, as grandes representações rupestres de cenas de caça poderiam ser usadas como um “manual” de caça, visando entender os comportamentos desses animais, ou ainda pinturas poderiam ser usadas como uma espécie de mapa, indicando pontos geográficos estratégicos para o grupo (como fontes de água e tribos inimigas). As pinturas nas [[Caverna de Altamira|cavernas de Altamira]] e [[Lascaux]] podem ser exemplos dessa ligação da arte e sua funcionalidade.


Talvez existisse uma ténue linha divisória entre a [[realidade]] e a representação e que, ao se pintar um animal, fosse necessário recriá-lo com o maior realismo possível, para que a caça bem sucedida na pintura se transportasse para a realidade, ou ainda, que a criação pictórica de uma manada resultasse na sua criação real, e que o Homem pudesse assim beneficiar de muito alimento e prosperidade. Do mesmo modo se crê que as pequenas estatuetas femininas sejam amuletos relacionados com o culto da fertilidade, factor crucial para a sobrevivência do grupo.
De maneira semelhante, a arte, também a partir de sua representação não-material por meio de composições musicais, atuações e danças (apesar desse tipo de arte ter sido muito difícil de ser preservada) era utilizada como meio de construir uma coesão social e senso de unidade cultural entre os grupos. A partir de uma abordagem social, a arte é vista como decorrente das necessidades de criar e conservar um senso de unidade e solidariedade que ajudaria na sobrevivência e sucesso do grupo, a pintura corporal por exemplo, ajudava na diferenciação de outros grupos e na criação de tradições, aumentando o sentimento de pertencimento dos membros.


Porém é importante uma ressalva: precisamos pesar as ações do homem, no caso no campo da representação em imagens, como não estritamente vinculadas à representações religiosas ou a uma busca trancedental de "um algo maior". Assim como uma criança que brinca com lápis de cor e papel com formas e cores de forma lúdica, não podemos descartar a arte paleolítica como uma atividade lúdica, um descobrir formas sem maiores pretensões.
De qualquer modo não se pode eliminar totalmente a hipótese de um objetivo estético consciente. Apesar do sentido prático da arte ser enfatizado, existem abordagens que defendem que os humanos primitivos tinham um certo senso criativo e valorizavam a estética. A forma e variedade das representações mostram como cada indivíduo adicionava seu próprio “toque” nas representações, visto, por exemplo, na diversidade das figuras antropomorfas femininas, que como a [[Vénus de Willendorf|Vênus de Willendorf]] , são vistas como símbolos de fertilidade e abundância.


==Estatuetas de vénus==
==Estatuetas de vénus==

Revisão das 16h28min de 26 de junho de 2024

A arte do Paleolítico refere-se ao início da história da arte e à mais antiga produção artística de que se tem conhecimento. A arte deste período situa-se na Pré-História, no Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada, e tem início há cerca de dois milhões de anos estendendo-se até c. 8000 a.C..

O Paleolítico é um dos três períodos da Idade da Pedra, ao qual se segue o Mesolítico e, posteriormente, o Neolítico ou Idade da Pedra Polida, e que se situa, do ponto de vista geológico, na Idade do gelo, mais precisamente no Pleistoceno.

Somente no início do século XX são feitas as primeiras descobertas de achados pré-históricos e a primeira reação da classe especialista é a de cepticismo relativamente à aparente maturidade artística num nível tão embrionário da história da humanidade. Considerava-se até então que a primeira semente artística teria sido lançada no Antigo Egipto e na Mesopotâmia. Embora ainda hoje persistam dúvidas quanto ao efetivo objetivo das peças de arte paleolíticas, a verdade é que a qualidade e criatividade que revelam são inegáveis e de extrema importância para a compreensão da mentalidade do homem.

Neste período foram fabricados instrumentos de pedra talhada, decoração de objectos, joias para diferentes partes do corpo, pequenas estatuárias representando a figura feminina ou animais, relevos e pinturas parietais com temática de caça e figuras isoladas de animais ou caçadores.

História

Ver artigo principal: Paleolítico
Machados, Acheulense, Saint Acheul.

O período Paleolítico possui três subdivisões, sendo essas:

Considera-se que é no último período (Paleolítico Superior) que o homem dá o mais significativo passo na produção artística consciente, como resultado de uma necessidade espiritual. No entanto é possível que este nível seja o culminar de um longo processo de amadurecimento artístico e técnico, e que muito do que foi criado em épocas anteriores simplesmente não tenha sobrevivido até aos nossos dias. Por esta razão subsistem ainda muitas incógnitas e questões em aberto, podendo-se apenas especular sobre quais seriam as verdadeiras motivações artísticas do Homem pré-histórico.

Para uma abordagem mais próxima às primeiras criações artísticas é essencial relacioná-las com o seu plano de fundo cultural, geográfico e social. Indissociável do seu meio-ambiente, o qual nem sempre é propício à vida humana, o Homem é por ele extremamente influenciado, levando a que as suas decisões (deslocamentos a outros locais, etc) sejam ditadas por condicionantes e factores naturais. Que os temas da arte paleolítica foquem, acima de tudo, elementos do seu meio-ambiente (como o reino animal, principalmente o alvo da sua caça – manadas de renas das planícies e vales) surge assim como uma consequência lógica.

Influências culturais e especificidades regionais

Durante os dois primeiros períodos do Paleolítico (Inferior e Médio) a área da ocupação humana vai estar reduzida à África, Ásia e Europa. O achado arqueológico por excelência é o artefacto talhado em pedra (machados, etc), que se vai aperfeiçoando tecnicamente ao longo da Pré-História, e que transmite já uma certa preocupação estética pela procura da simetria.

Embora existam características específicas de cada região, observa-se, simultaneamente, uma certa unidade entre os achados, unidade esta que espelha a existência de contactos entre diferentes grupos de diferentes regiões (p. ex.: a utilização generalizada do vermelho).

A partir do Paleolítico Médio dá-se um “corte” na continuidade da influência cultural entre os continentes, em que a África (exceptuando o norte) e a Ásia seguem caminhos distintos do da Europa. Durante o Paleolítico Superior, quando o Homo sapiens sapiens surge no lugar do Homo neanderthalensis, segue-se o alargamento da área de ocupação humana na América e na Austrália, possibilitado pela redução do nível do mar na Era glacial e o consequente surgimento de “pontes” de gelo de ligação a esses continentes.

Os achados arqueológicos americanos denotam bem a sua proveniência da Ásia oriental, mas acabam também por evoluir para características próprias. No entanto, pouco se deixa reconstruir da produção artística deste continente durante o Paleolítico devido à reduzida informação arqueológica disponível. Quando a ligação natural à Austrália deixa de existir, a comunicação de outros povos estabelecida até então com este continente leva o mesmo caminho, e o isolamento que se segue resulta no “empobrecimento” da cultura aí presente.

É por estes diversos factores que a Europa e a Índia são as regiões que oferecem, até ao momento, os melhores testemunhos de estudo da cultura paleolítica, a partir dos quais melhor se pode compreender a interpretação que o Homem paleolítico faz do seu mundo. Na França e norte de Espanha podem-se observar dos mais ricos exemplares de pintura rupestre, com base nos quais se pode afirmar a existência de um importante florescer artístico nestas áreas. Mesmo assim torna-se difícil precisar se terá tomado aqui lugar a origem do processo da consciencialização humana e, consequentemente, se terá aqui iniciado a sua evolução artística. A própria área actual dos achados a nível mundial não pode ser entendida como definitiva, uma vez que a preservação das obras muito depende das boas condições dos locais onde foram criadas.

O momento de transição

Contorno de mão na caverna de Pech Merle, França.

Após o início da produção manual de objectos começam a surgir os primeiros indícios de decoração dos mesmos, mas só no Paleolítio Superior se fazem as primeiras tentativas de transpôr algo real para um determinado suporte. Para isto é necessário uma observação cuidada da natureza envolvente e a percepção de que é possível a reprodução do mundo visível através de um novo método.

Este método implica a captação da realidade e, no caso da pintura e do relevo, a passagem da tridimensionalidade para um plano bidimensional que resulta, inicialmente, em representações de grande naturalismo e realismo. O Homem faz também uso de rochas ou pedaços de osso ou madeira que se assemelhem a um determinado animal, tirando partido dessa associação e das características preexistentes do suporte para criar uma escultura ou relevo (por vezes também associando a pintura).

O Homem compreende que a arte lhe possibilita uma relação mais estreita com a natureza e que ele próprio pode usar a sua representação para exercer influência sobre o mundo que o rodeia. Através da imagem os factores essenciais à sua existência podem ser dominados e o Homem pode revelar as experiências dos seus sentidos. Mais tarde, quando começa a reflectir sobre si próprio e o mundo envolvente, passa progressivamente a representar imagens idealizadas, ao invés de simplesmente imagens observadas. A partir deste momento começa a aproximando-se cada vez mais da sintetização dos elementos e da sua esquematização simbólica (como o caso das estatuetas femininas onde se realçam as características da feminilidade em linhas simples).

Abordagens sobre o objectivo da arte

De um modo geral, a hipótese mais defendida sobre o objectivo da arte paleolítica é a que os primeiros objetos de arte não eram utilitários ou adornos, mas uma tentativa de controlar forças sobrenaturais e, segundo especulam os arqueólogos, obter a simpatia dos deuses e bons resultados na caça. Considerando que as pinturas descobertas em cavernas se encontram em locais de difícil acesso, e não à entrada ao olhar de todos, pode-se supor que o objectivo não é proporcionar uma imagem impressionante acessível a todo o grupo, a arte pela arte, mas antes seguir um ritual mágico. Assim, o resultado estético (de grande naturalismo) não será mais que uma consequência secundária do objectivo principal. De qualquer modo não se pode eliminar totalmente a hipótese de um objectivo estético consciente.

Talvez existisse uma ténue linha divisória entre a realidade e a representação e que, ao se pintar um animal, fosse necessário recriá-lo com o maior realismo possível, para que a caça bem sucedida na pintura se transportasse para a realidade, ou ainda, que a criação pictórica de uma manada resultasse na sua criação real, e que o Homem pudesse assim beneficiar de muito alimento e prosperidade. Do mesmo modo se crê que as pequenas estatuetas femininas sejam amuletos relacionados com o culto da fertilidade, factor crucial para a sobrevivência do grupo.

Porém é importante uma ressalva: precisamos pesar as ações do homem, no caso no campo da representação em imagens, como não estritamente vinculadas à representações religiosas ou a uma busca trancedental de "um algo maior". Assim como uma criança que brinca com lápis de cor e papel com formas e cores de forma lúdica, não podemos descartar a arte paleolítica como uma atividade lúdica, um descobrir formas sem maiores pretensões.

Estatuetas de vénus

Na escultura paleolítica, destacam-se as estatuetas femininas de pequenas dimensões designadas genericamente por vénus. Identificadas como possíveis ídolos para o culto da fertilidade e sexualidade estas figuras apresentam características semelhantes entre si; são representadas nuas, de pé e revelam os elementos mais representativos do corpo feminino em linhas exacerbadas. O exagero destes elementos traduz-se em seios, ventre e ancas volumosos em oposição a braços e pernas delicados e cabeça pequena. A face, tratada com linhas simples reduzidas ao essencial, onde não é possível reconhecer traços individuais, transforma-se, com o tempo, num elemento cada vez mais estilizado e simbólico, assim como todo o corpo da figura.

Estes ídolos surgem pela primeira vez durante o Paleolítico e são a origem dos ídolos da arte cicládica de 2000 a.C.. A mais antiga estatueta conhecida é a Vénus de Tan-Tan encontrada em Marrocos do período Acheulense e com 6 cm de altura. Entre as mais antigas, com 30.000 anos, contam-se as vénus encontradas na Europa, na área do Danúbio, como a Vénus de Willendorf da Áustria, a Dame de Sireuil da França, a Mulher com corno de Bisonte feita em relevo em rocha, na França, de formas realistas, ou a Vénus de Vĕstonice da República Checa de formas estilizadas.

Pintura paleolítica

Ver artigo principal: Pintura rupestre

No período do Paleolítico Superior são feitas as primeiras pinturas em cavernas e paredes externas de pedra, há aproximadamente 15 000 anos. A representação de vários animais (cavalos, mamutes, bois, veados) é comum, como se pode observar na caverna de Lascaux, França - sítio arqueológico descoberto em 1940.

Aproveitando-se das irregularidades naturais das pedras, o homem do paleolítico chega, com suas pinturas, próximo das formas reais da natureza. Utiliza para os seus trabalhos diversos materiais como carvão, terra e sangue, além de pincéis e osso oco como instrumento de sopro (ex.: para pulverizar o contorno da mão obtendo um negativo).

Outras importantes pinturas rupestres foram descobertas na caverna de Altamira, Espanha, por Marcelino Sanz de Sautuola. Em Altamira encontram-se pinturas nas paredes e no próprio teto da caverna, consideradas até hoje uma das maiores descobertas da história da arte.

Commons
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Ver também

Fontes

Bibliografia

  • ALARCÃO, Jorge, História da Arte em Portugal – do Paleolítico à arte visigótica, Publicações Alfa, Lisboa, 1986
  • HINDLEY, Geoffrey, O Grande Livro da Arte - Tesouros artísticos dos Mundo, Verbo, Lisboa/São Paulo, 1982
  • JANSON, H. W., História da Arte, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1992, ISBN 972-31-0498-9
  • MÜLLER_KARPE, Grundzüge früher Menschheitsgeschichte I – Von den Anfängen bis zum 3. Jahrtausend v. Chr., Theiss, Stuttgart, 1998, ISBN 3-8062-1309-7
  • STRICKLAND, Carol. Arte comentada: da pré-história ao pós moderno. 7. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.
  • THIELE, Carmela, Skulptur, Schnellkurs, DuMont Buchverlag, 1995, ISBN 3-7701-3537-7
  • TORBRÜGGE, Walter, Enzyklopädie der Weltkunst – Das Entstehen Europas, Holle Verlag, Baden-Baden, 1977, ISBN 397-355-18-02
  • WETZEL, Christoph, Das Reclam Buch der Kunst, Reclam, 2001, ISBN 3150104769

Referências