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Bossa nova: diferenças entre revisões

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}}'''Bossa nova''' é o gênero musical resultante de um movimento de transformação do [[samba]] irradiado a partir da [[Zona Sul (Rio de Janeiro)|Zona Sul]] da cidade do [[Rio de Janeiro]] no final da [[década de 1950]] e que, por conseguinte, passou a dar nome ao estilo de interpretação e acompanhamento rítmico dele surgido, que ficou conhecido como “batida diferente”.{{nota de rodapé|"Ressalte-se que o acompanhamento rítmico do samba em estilo bossa-nova caracteriza-se pela “batida diferente” expressa em um tipo de sincopação não ortodoxo, o que levou, por exemplo, o compositor [[Cartola (compositor)|Cartola]] a assim se expressar sobre um de seus encontros musicais com o jovem colega [[Carlos Lyra]]: “Há um pouco de dificuldade tanto pra ele no antigo quanto para mim no moderno” (cf. Carvalho, 1986: 39). '''A “batida” da bossa nova, então, é característica de um estilo e não de um gênero autônomo.'''"{{sfn|Lopes|Simas|2015|p=48}}}} De acordo com o musicólogo [[Gilberto Mendes]], a vertente era uma das “três fases rítmicas do samba”, na qual a "batida" da bossa havia sido extraída a partir do "[[samba de raiz]]".{{nota de rodapé|"A primeira foi aquela, herdeira da habanera, que deu os “tanguinhos” de Ernesto Nazareth; a segunda, a do “samba de morro carioca”; e a terceira, a potencialização extraída por [[João Gilberto]] do samba de morro e do samba folclórico, para criar a “batida” de violão característica da bossa nova."{{sfn|Lopes|Simas|2015|p=48}}}} Segundo o jornalista [[Ruy Castro]], a bossa nova era ''“''uma simplificação extrema da batida da escola de samba”, como se dela tivessem sido retirados todos os instrumentos e conservado apenas o [[tamborim]].{{nota de rodapé|"Segundo Ruy Castro (2008: 9), a batida da bossa nova foi lançada nacionalmente em 1958 pelo baterista [[Milton Banana]]."{{sfn|Lopes|Simas|2015|p=48}}}}
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'''Bossa nova''' é o termo pelo qual ficou conhecido um movimento de transformação do [[samba]] irradiado a partir da [[Zona Sul (Rio de Janeiro)|Zona Sul]] da cidade do [[Rio de Janeiro]] no final da [[década de 1950]] e que, por conseguinte, passou a dar nome ao estilo de interpretação e acompanhamento rítmico dele surgido, que ficou conhecido como “batida diferente”.{{nota de rodapé|"Ressalte-se que o acompanhamento rítmico do samba em estilo bossa-nova caracteriza-se pela “batida diferente” expressa em um tipo de sincopação não ortodoxo, o que levou, por exemplo, o compositor [[Cartola (compositor)|Cartola]] a assim se expressar sobre um de seus encontros musicais com o jovem colega [[Carlos Lyra]]: “Há um pouco de dificuldade tanto pra ele no antigo quanto para mim no moderno” (cf. Carvalho, 1986: 39). '''A “batida” da bossa nova, então, é característica de um estilo e não de um gênero autônomo.'''"{{sfn|Lopes|Simas|2015|p=48}}}} De acordo com o musicólogo [[Gilberto Mendes]], a vertente era uma das “três fases rítmicas do samba”, na qual a "batida" da bossa havia sido extraída a partir do "[[samba de raiz]]".{{nota de rodapé|"A primeira foi aquela, herdeira da habanera, que deu os “tanguinhos” de Ernesto Nazareth; a segunda, a do “samba de morro carioca”; e a terceira, a potencialização extraída por [[João Gilberto]] do samba de morro e do samba folclórico, para criar a “batida” de violão característica da bossa nova."{{sfn|Lopes|Simas|2015|p=48}}}} Segundo o jornalista [[Ruy Castro]], a '''bossa nova''' era ''“uma simplificação extrema da batida da escola de samba”'', como se dela tivessem sido retirados todos os instrumentos e conservado apenas o [[tamborim]].{{nota de rodapé|"Segundo Ruy Castro (2008: 9), a batida da bossa nova foi lançada nacionalmente em 1958 pelo baterista [[Milton Banana]]."{{sfn|Lopes|Simas|2015|p=48}}}} A bossa nova daria lugar, no final da década de 1960, a [[MPB]], com a fusão da bossa nova com ritmos regionais e folclóricos brasileiros.<ref name="Fabiana">{{citar web |url=http://www.cult.ufba.br/wordpress/24585.pdf |titulo=Um estudo da Música Popular Brasileira como categoria nativa |data=25–27 de maio de 2010|acessodata=11/05/2014 |autor=Fabiana Majewski dos Santos (autora), e Juliana Abonizio (orientadora)}}</ref>


A Bossa Nova enquanto movimento ficou fortemente associada ao crescimento urbano brasileiro — impulsionado pela fase desenvolvimentista do [[Governo Juscelino Kubitschek]].<ref>{{Citar web|url=http://www.senado.gov.br/noticias/especiais/brasilia50anos/not04.asp|titulo=Senado Federal - 50 anos de Brasíia|acessodata=2020-01-19|obra=[[Senado Federal]]}}</ref> Suas letras abordavam temáticas leves e descompromissadas, contrastando com as letras dos sucessos de rádio da época, em que prevaleciam os chamados sambas de fossa.<ref name=":1">{{Citar livro|título=Eis Aqui Os Bossa-Nossa|data=2022-06-23|editora=Editora WMF Martins Fontes|lingua=pt-BR}}</ref> A forma de cantar também se diferenciava da que se tinha na época. Segundo o [[maestro]] [[Júlio Medaglia]], "desenvolver-se-ia a prática do ''canto-falado'' ou do ''cantar baixinho'', do texto bem pronunciado, do tom [[coloquial]] da narrativa musical, do acompanhamento e canto integrando-se mutuamente, em lugar da valorização da 'grande voz'".<ref>{{Citar web|ultimo=Amaral|primeiro=Euclides|url=http://dicionariompb.com.br/bossa-nova/dados-artisticos|titulo=Dicionário da Música Popular Brasileira - Bossa Nova|data=2008|acessodata=2020-01-19|obra=[[Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira|Dicionário da Música Popular Brasileira]]}}</ref>
O marco inicial da bossa nova é o samba "[[Chega de Saudade]]" (de autoria de [[Tom Jobim]] e [[Vinicius de Moraes]]), lançado originalmente por [[Elizeth Cardoso]] em 1958 e, pouco depois, por [[João Gilberto]], que tocou [[violão]] em ambas as gravações.<ref name="Cravo Albin">{{citar web|url=http://dicionariompb.com.br/bossa-nova/dados-artisticos|título=Bossa Nova|obra=Dicionário Cravo Albin|acessodata=07-07-2019}}</ref> Paralela e previamente a isso, o pianista e vocalista [[Johnny Alf]], desde a composição de “Rapaz de bem” três anos antes, em 1955, também se tornou um dos pioneiros da renovação do samba, tocando em bares cariocas com e inspirando Gilberto, [[João Donato]], [[Luiz Bonfá]] e Jobim desde 1950.{{sfn|Lopes|Simas|2015|p=46}}<ref>{{Citar web|url=https://www.allmusic.com/artist/johnny-alf-mn0000236366/biography|titulo=Johnny Alf Biography, Songs, & Albums|acessodata=2023-08-07|website=AllMusic|lingua=en}}</ref> Em 1959, com o LP "[[Chega de Saudade (álbum)|Chega de Saudade]]", Gilberto consolidaria esse novo estilo de tocar que alterava as [[Harmonia (música)|harmonias]] com a introdução de acordes não convencionais — como antes já realizavam violonistas como [[Garoto (músico)|Garoto]], [[Vadico]], [[Oscar Bellandi]], entre outros — e uma sincopação do samba inovadora a partir de uma divisão única realizada sobre sambas tradicionais como “Rosa morena” (de [[Dorival Caymmi]]), “Morena boca de ouro”, de [[Ary Barroso]], “Aos pés da cruz” (de [[Marino Pinto]] e Zé da Zilda) e “É luxo só” (de Ary Barroso e [[Luís Peixoto]]).{{sfn|Lopes|Simas|2015|p=46}} A partir e em torno de João Gilberto, um grupo de músicos, quase todos oriundos de [[classe média]], ajudaria a transformar as experiências formais do violonista baiano. O jeito suave de cantar foi influenciado pelo jazzista [[Chet Baker]].<ref>{{citar web|url=https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2016/01/18/interna_diversao_arte,514330/estilo-suave-de-chet-baker-expressar-tormento-pode-ter-influenciado-a.shtml|título=Estilo suave de Chet Baker expressar tormento pode ter influenciado a bossa|obra=Correio Braziliense|acessodata=17-07-2019}}</ref><ref>{{citar web|url=https://jornalggn.com.br/cultura/videos-do-dia/chet-baker-a-atuacao-que-mudou-a-vida-de-joao-gilberto/|título=Chet Baker, a atuação que mudou a vida de João Gilberto|obra=GGN|acessodata=17-07-2019}}</ref>


As figuras centrais do movimento Bossa Nova são [[Antônio Carlos Jobim]], [[Vinicius de Moraes]] e [[João Gilberto]]. O único show ("O Encontro") que reuniu este trio aconteceu em 1962, na boate carioca Au Bon Gourmet que também teve a participação do quarteto vocal [[Os Cariocas]] e do baterista [[Milton Banana]].<ref name=":0">{{citar livro|título=Uma história da música popular brasileira: das origens à modernidade.|ultimo=SEVERIANO|primeiro=Jairo|editora=Editora 34|ano=2008|local=São Paulo|página=330|páginas=340|isbn=978-85-7326-396-1}}</ref> A estreia foi em 2 de agosto de 1962 e a temporada durou seis semanas. Neste show aconteceu a primeira audição da música [[Garota de Ipanema|"Garota de Ipanema]]".<ref>{{citar livro|título=Amoroso: uma biografia de João Gilberto|ultimo=Homem de Mello|primeiro=Zuza|editora=Companhia das Letras|ano=2021|local=São Paulo|página=78|páginas=1|isbn=978-65-5921-314-6}}</ref>
A partir da [[década de 1960]], o samba de bossa nova consolidou-se definitivamente no cenário musical do Brasil, onde se destacaram, além de Gilberto e da dupla Tom e Vinícius, nomes como [[Newton Mendonça]], [[Billy Blanco]], [[Aloysio de Oliveira]], [[Baden Powell (músico)|Baden Powell]], [[Oscar Castro Neves]], [[Carlos Lyra]], [[Ronaldo Bôscoli]], [[Roberto Menescal]], [[Sérgio Mendes]], [[César Camargo Mariano]], [[Airto Moreira]], [[Eumir Deodato]], [[Milton Banana]], [[João Donato]], entre vários, além do surgimento de inúmeros conjuntos vocais, como [[Os Cariocas]], ou instrumentais, como [[Bossa Três]], [[Tamba Trio]], [[Bossa Rio]], [[Copa 5]], [[Sambalanço Trio]], [[Eumir Deodato|Os Catedráticos]], entre outros.<ref name="Cravo Albin"/> Foi nesse mesmo momento que o estilo experimentou uma projeção internacional em escala jamais vista com outra vertente da [[música popular brasileira]].{{sfn|Lopes|Simas|2015|p=48}} Em 1962, o saxofonista [[Stan Getz]] em conjunto com o guitarrista [[Charlie Byrd]] lançaram o LP "[[Jazz Samba]]", o que chamou a atenção do meio musical nos [[Estados Unidos]] para a bossa nova. Naquele mesmo ano, um concerto no [[Carnegie Hall]] de [[Nova York]], que reuniu Tom Jobim e João Gilberto, entre outros, abriu de vez as portas do mundo para o estilo.<ref name="Cravo Albin"/><ref>{{citar jornal |autor=Thales de Menezes |titulo=Concerto no Carnegie Hall, que lançou bossa nova nos EUA, será recriado |url=https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/04/1873022-concerto-no-carnegie-hall-que-lancou-bossa-nova-nos-eua-sera-recriado.shtml |jornal=[[Folha de S.Paulo]] |data=6 de abril de 2017 |acessodata=27 de fevereiro de 2020 }}</ref> No ano seguinte, com o lançamento do LP [[Getz/Gilberto]], parceira entre o violonista brasileiro e o saxofonista americano, tornou a vertente conhecida mundialmente, além de arrebatar o [[Grammy Award para álbum do ano]] de 1965. Dois anos depois, sob o título “The girl from Ipanema”, versão em inglês para o famoso samba [[Garota de Ipanema]], de Tom e Vinicius, foi gravado por [[Frank Sinatra]].


Outros nomes fundamentais da bossa nova são [[João Donato]], [[Carlos Lyra]], [[Roberto Menescal]], [[Ronaldo Bôscoli]], [[Nara Leão]], [[Luiz Bonfá]], [[Sérgio Ricardo]], [[Oscar Castro-Neves]], [[Baden Powell (músico)|Baden Powell]], [[Durval Ferreira]], [[Alaíde Costa]], [[Leny Andrade]] e [[Newton Mendonça]].<ref>{{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/title/259711844|título=Uma história da música popular brasileira: das origens à modernidade|ultimo=Severiano|primeiro=Jairo|data=2008|editora=Editora 34|edicao=1a Ed|local=São Paulo|oclc=259711844}}</ref>
No entanto, já em meados dos anos sessenta, o movimento bossa-novista passava por uma cisão. De um lado, um grupo manteve-se fiel a estética leve, caracterizada por letras de temas amenos e descompromissados com a realidade brasileira ou qualquer espécie de participação social, pelo tom suave e intimista (personalizado na voz de João Gilberto). De outro lado, outro grupo formado por compositores como Baden Powell, Sergio Ricardo e Carlos Lyra e por letristas como Vinicius de Moraes e Nelson Lins e Barros associou-se ao movimento geral da cultura brasileira no sentido de buscar uma base popular folclórica nas músicas e uma temática de realismo e participação social nas letras.{{sfn|Lopes|Simas|2015|pp=46-47}} Foi essa dissidência que veio estabelecer uma conexão importante entre o samba da bossa nova e o samba das camadas populares, geralmente conhecido como “do morro” ou "de raiz", fazendo com que nomes como [[Cartola (compositor)|Cartola]], [[Nelson Cavaquinho]], [[Zé Keti]] e [[Elton Medeiros]] — sambistas de prestígio no meio do "samba de raiz", mas alijados do mercado fonográfico de época — passassem a ser conhecidos por uma fatia do público jovem e universitário. É nesse novo contexto que o o cenário artístico brasileiro viu surgir uma nova geração de compositores, como [[Paulinho da Viola]], tido ali como um sucessor de [[Noel Rosa]] ou de [[Ismael Silva]], e [[Chico Buarque]], autor de composições que logo se tornariam sambas antológicos.{{sfn|Lopes|Simas|2015|p=47}}
== Origens ==
A palavra "bossa" apareceu pela primeira vez na [[década de 1930]], em "Coisas Nossas", samba de [[Noel Rosa]]: "O samba, a prontidão/e outras bossas,/são nossas coisas (...)".<ref name="origens">{{Citar web|url=http://radios.ebc.com.br/caderno-de-musica/2019/07/conheca-principais-caracteristicas-da-bossa-nova-no-caderno-de-musica|titulo=Conheça as principais características da Bossa nova, no Caderno de Música|data=2019-07-11|acessodata=2020-01-20|obra=EBC Rádios|lingua=pt-br}}</ref> A expressão "bossa nova" passou a ser utilizada também na [[década de 1940|década seguinte]] para aqueles [[samba de breque|sambas de breque]], baseado no talento de improvisar paradas súbitas durante a música para encaixar falas.<ref name="origens" />


Alguns críticos musicais destacam uma certa influência que a cultura [[Estados Unidos|americana]] do pós-guerra,{{nota de rodapé|De acordo com o sambista e pesquisador [[Nei Lopes]], desde o final da [[Segunda Guerra Mundial]], elementos de ''[[bebop]]'' e ''[[boogie-woogie]]'' já vinham sendo incorporados ao samba<ref>{{Citar web |url=https://web.archive.org/web/20070220205707/http://www.neilopes.blogger.com.br/2006_12_01_archive.html#39227421 |titulo=O sambalanço saúda o dia do samba |data=2006-12-06 |acessodata=2020-02-27 |obra=Internet Archive |lingua=pt-br}}</ref>}} de músicos como [[Stan Kenton]], combinada ao [[impressionismo]] erudito, de [[Debussy]] e [[Ravel]], teve na bossa nova, especialmente do [[cool jazz]]. Embora tenha influência da música estrangeira, a bossa nova possui elementos de [[samba sincopado]].{{sfn|Costa|2004}} Além disso, havia um inconformismo com a temática das letras dos [[Samba-canção|sambas-canções]] da época, os chamados sambas de fossa, que não eram adequados para uma juventude que vivia na praia e não nas boates sem janelas.<ref>{{Citar livro|título=O barquinho vai...|ultimo=Fonte|primeiro=Bruna|data=2010-08-23|editora=Irmãos Vitale|lingua=pt-BR}}</ref>
==Origens==
A palavra "bossa" apareceu pela primeira vez na [[década de 1930]], em ''São Coisas Nossas'', samba do popular cantor [[Noel Rosa]]: ''O samba, a prontidão/e outras bossas,/são nossas coisas (...)''.<ref name=origens>{{Citar web |url=http://radios.ebc.com.br/caderno-de-musica/2019/07/conheca-principais-caracteristicas-da-bossa-nova-no-caderno-de-musica |titulo=Conheça as principais características da Bossa nova, no Caderno de Música |data=2019-07-11 |acessodata=2020-01-20 |obra=EBC Rádios |lingua=pt-br}}</ref> A expressão "bossa nova" passou a ser utilizada também na [[década de 1940|década seguinte]] para aqueles [[samba de breque|sambas de breque]], baseado no talento de improvisar paradas súbitas durante a música para encaixar falas.<ref name=origens/>


=== Precursores da Bossa Nova ===
Alguns críticos musicais destacam uma certa influência que a cultura [[Estados Unidos|americana]] do pós-guerra,{{nota de rodapé|De acordo com o sambista e pesquisador [[Nei Lopes]], desde o final da [[Segunda Guerra Mundial]], elementos de ''[[bebop]]'' e ''[[boogie-woogie]]'' já vinham sendo incorporados ao samba<ref>{{Citar web |url=https://web.archive.org/web/20070220205707/http://www.neilopes.blogger.com.br/2006_12_01_archive.html#39227421 |titulo=O sambalanço saúda o dia do samba |data=2006-12-06 |acessodata=2020-02-27 |obra=Internet Archive |lingua=pt-br}}</ref>}} de músicos como [[Stan Kenton]], combinada ao [[impressionismo]] erudito, de [[Debussy]] e [[Ravel]], teve na bossa nova, uma especialmente do [[cool jazz]] e [[bebop]]. Embora tenha forte influência da música estrangeira, particularmente do ''jazz'', a bossa nova possui elementos de [[samba sincopado]].{{sfn|Costa|2004}} Além disso, havia um fundamental inconformismo com o formato musical de época. Os cantores [[Dick Farney]] e [[Lúcio Alves]], que fizeram sucesso nos anos da década de 1950 com um jeito suave e minimalista (em oposição a cantores de grande potência sonora) também são considerados influências positivas sobre os garotos que fizeram a bossa nova.<ref>{{Citar web |url=http://radios.ebc.com.br/todas-vozes/edicao/2016-03/no-radio-lucio-alves-e-o-sucesso-da-rivalidade-com-dick-farney |titulo=No rádio, Lúcio Alves e o sucesso da 'rivalidade' com Dick Farney |data=2016-03-29 |acessodata=2020-01-20 |obra=EBC Rádios |lingua=pt-br}}</ref>
Os cantores [[Dick Farney]] e [[Lúcio Alves]], que fizeram sucesso nos anos da década de 1950 com um jeito suave e [[Minimalismo|minimalista]] de cantar - em oposição a cantores de grande potência sonora de gerações anteriores como [[Vicente Celestino]], [[Nelson Gonçalves]], [[Sílvio Caldas|Silvio Caldas]] e [[Dorival Caymmi]] - foram influências nos futuros artistas da bossa nova.<ref name=":5">{{Citar web|ultimo=Moraes|primeiro=Felipe|url=https://www.metropoles.com/entretenimento/cinema/critica-onde-esta-voce-joao-gilberto-retrata-ausencia-de-um-idolo|titulo=Crítica: Onde está você João Gilberto ?}}</ref>


Dick Farney tocou piano na orquestra de Carlos Machado no [[Cassino da Urca]] e gravou a música "Copacabana" em julho de 1946, aos 25 anos. Com seu piano jazzístico passou dois anos e meio tocando nos [[Estados Unidos]]. Retornou ao [[Brasil]] em dezembro de 1948. Após sua volta foi fundado o Sinatra-Farney Fan Club, clube que segundo o escritor [[Ruy Castro]] foi uma espécie de manjedoura para a bossa nova, já que foi frequentado por muitos futuros destaques do movimento, exceto [[Tom Jobim]], [[Vinicius de Moraes]], [[Luiz Bonfá|Luis Bonfá]] e [[Billy Blanco]]. Em 1949 um grupo fundou o [[Dick Haymes]]-Lúcio Alves Fan Club. Haymes era um [[crooner]] de [[Big band|Big Bands]] norte americanas e Lúcio Alves era crooner, violonista e arranjador vocal de seu grupo ''Os Namorados da Lua''. Alves também tinha um jeito suave de cantar e como Farney também tentou fazer carreira nos EUA por um ano. Ao voltar ao Brasil, retomou sua carreira como cantor independente.<ref name=":6">{{citar livro|título=Chega de Saudade - A História e as Histórias da Bossa Nova|ultimo=Castro|primeiro=Ruy|editora=Companhia das Letras|ano=1990|local=São Paulo|página=32-55|páginas=14|isbn=85-7164-137-4}}</ref>
Um embrião do movimento, já na [[década de 1950]], eram as reuniões casuais, frutos de encontros de um grupo de músicos da classe média [[carioca]] em apartamentos da zona sul, como o de [[Nara Leão]], na Avenida Atlântica, em [[Copacabana]]. Nestes encontros, cada vez mais frequentes, a partir de 1957, um grupo se reunia para fazer e ouvir música. Dentre os participantes estavam novos compositores da música brasileira, como [[Billy Blanco]], [[Carlos Lyra]], [[Roberto Menescal]] e [[Sérgio Ricardo]], entre outros. O grupo foi aumentando, abraçando também Chico Feitosa, [[João Gilberto]], [[Luiz Carlos Vinhas]], [[Ronaldo Bôscoli]], entre outros.<ref>{{Citar web |url=https://copacabana.com/historia-de-copacabana-1 |titulo=História de Copacabana 1 |acessodata=2020-01-20 |obra=copacabana.com |lingua=pt-BR |arquivourl=http://web.archive.org/web/20200427232058/https://copacabana.com/historia-de-copacabana-1 |arquivodata=27 de abril de 2020 |urlmorta=não}}</ref>{{sfn|Gerolamo|2017|p=172–198}}


Completando os precursores da Bossa Nova, [[Johnny Alf]] foi pianista da boate Plaza - Copacabana, em 1954 e já tocava suas composições autorais como "Rapaz de Bem", "Céu e Mar", "O que é amar", entre outras, segundo Ruy Castro, predecessoras da Bossa Nova. Como a boate era pouco frequentada, os músicos mais jovens faziam romaria para ouví-lo e também fazer experimentações. Entre eles estavam Tom Jobim, [[João Donato]], [[João Gilberto]], Lúcio Alves, Dick Farney, [[Dolores Duran]], [[Paulo Moura]], [[Baden Powell (músico)|Baden Powell]], [[Carlos Lyra]], [[Sylvia Telles|Sylvinha Telles]], [[Luiz Eça]] e [[Maurício Einhorn|Mauricio Einhorn]]. Como Alf aceitou uma proposta para trabalhar em [[São Paulo]], não participou da explosão do movimento Bossa Nova que teve seu ponto de partida no [[Rio de Janeiro]].<ref name=":6" />
A popularidade da bossa nova na zona sul do Rio de Janeiro deu-se muito pela adesão do gênero no meio universitário. A repercussão dos encontros nos apartamentos em Copacabana e Ipanema despertou o interesse da organização de eventos do Clube Universitário Hebraico do Brasil, que realizou no primeiro semestre de 1958 a primeira apresentação pública de bossa nova. No palco, artistas como Roberto Menescal, Nara Leão, Luiz Eça e Sylvinha Telles, grande destaque da noite, executaram canções do repertório que viriam a se tornar clássicos como “Rapaz de Bem”, de [[Johnny Alf]].


O espírito bossa-novista já se encontrava na música que Jobim e Moraes fizeram, em 1956, para a peça [[Orfeu da Conceição|''Orfeu da Conceição'']], primeira parceria da dupla, que esteve perto de não acontecer, uma vez que Vinícius primeiro entrou em contato com Vadico, o famoso parceiro de Noel Rosa e ex-membro do [[Bando da Lua]], para fazer a trilha sonora. É dessa peça, baseada na tragédia Grega [[Orfeu]], uma das belas composições de Tom e Vinícius, "Se todos fossem iguais a você", já prenunciando os elementos melódicos da bossa nova.<ref>{{Citar web|ultimo=Ferreira|primeiro=Mauro|url=http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/post/musical-que-juntou-tom-com-vinicius-orfeu-da-conceicao-faz-60-anos.html|titulo=Musical que juntou Tom com Vinicius, 'Orfeu da Conceição' faz 60 anos|acessodata=2020-01-19|obra=[[G1]]|lingua=pt-br}}</ref>
A divulgação do evento no Clube Universitário Hebraico também tem parte na origem do nome “bossa nova” para o movimento. Uma secretária da instituição, responsável pela criação de cartazes de divulgação do show, divulgou-o como “Sylvinha Telles e um grupo bossa-nova”, visto que o conjunto não tinha um nome.<ref>{{citar livro|título=Chega de Saudade: A História e as Histórias da Bossa Nova|ultimo=CASTRO|primeiro=Ruy|editora=Companhia das Letras|ano=1990}}</ref>


Um embrião do movimento, no final da [[década de 1950]], eram as reuniões casuais, frutos de encontros de um grupo de músicos da classe média [[carioca]] em apartamentos da zona sul, como o de [[Nara Leão]], na Avenida Atlântica, em [[Copacabana]]. Nestes encontros, cada vez mais frequentes, a partir de 1957, um grupo se reunia para fazer e ouvir música. Dentre os participantes estavam novos compositores da música brasileira, como [[Billy Blanco]], [[Carlos Lyra]], [[Roberto Menescal]] e [[Sérgio Ricardo]], entre outros. O grupo foi aumentando, abraçando também [[Chico Feitosa]], [[João Gilberto]], [[Luiz Carlos Vinhas]], [[Ronaldo Bôscoli]] entre outros.<ref>{{Citar web|url=https://copacabana.com/historia-de-copacabana-1|titulo=História de Copacabana 1|acessodata=2020-01-20|obra=copacabana.com|lingua=pt-BR|arquivourl=http://web.archive.org/web/20200427232058/https://copacabana.com/historia-de-copacabana-1|arquivodata=27 de abril de 2020|urlmorta=não}}</ref>{{sfn|Gerolamo|2017|p=172–198}}
Outro evento universitário de grande repercussão foi realizado no Anfiteatro da Faculdade de Arquitetura da UFRJ, na Praia Vermelha em 20 de Maio de 1960, com a presença de João Gilberto, Astrud Gilberto, Nara Leão, Tom Jobim, Vinicius de Moraes e foi batizado como “A noite do amor, do sorriso e da flor” fazendo referência a canção “Meditação” de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.<ref>{{citar web |url=https://dicionariompb.com.br/a-noite-do-amor-do-sorriso-e-da-flor/dados-artisticos |titulo=A noite do amor, do sorriso e da flor |website=Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira}}</ref> Pouco a pouco aquilo que se tornaria a bossa nova foi ocupando bares do circuito de Copacabana, no chamado [[Beco das Garrafas]].<ref>{{Citar web |url=http://www.riodejaneiroaqui.com/portugues/bossa-nova-beco-garrafas.html |titulo=A Bossa Nova e Beco das Garrafas em Copacabana |acessodata=2020-01-20 |obra=Rio de Janeiro Aqui}}</ref>


Nara Leão trabalhou por um curto período no jornal ''[[Ultima Hora|Última Hora]]'', de seu cunhado [[Samuel Wainer]]. Lá conheceu Moisés Fuks, editor do ''Tablóide UH'' e também diretor artístico do ''Clube Universitário Hebraico do Brasil''. Em uma reunião no apartamento de Nara, Fuks propõe a Ronaldo Bôscoli uma apresentação no Clube Hebraico, no [[Flamengo (bairro do Rio de Janeiro)|Flamengo]].<ref name=":7">{{citar livro|título=Nara Leão: uma biografia|ultimo=Cabral|primeiro=Sergio|editora=Lumiar Editora|ano=2001|local=Rio de Janeiro|página=37|páginas=1|isbn=85-85426-71-3}}</ref> No primeiro semestre de 1958 aconteceu a primeira apresentação pública do que viria a ser a bossa nova. A divulgação desse evento também tem parte na origem do nome do movimento. Uma secretária da instituição, responsável pela criação de cartazes de divulgação do show, divulgou-o como “Sylvinha Telles e um grupo bossa-nova”, visto que o conjunto não tinha um nome.<ref name=":3">{{citar livro|título=Chega de Saudade: A História e as Histórias da Bossa Nova|ultimo=CASTRO|primeiro=Ruy|editora=Companhia das Letras|ano=1990|páginas=417-421}}</ref>
==Início oficial==
{{double image|right|Vinicius.jpg|220|Tom19.jpg|189|[[Vinicius de Moraes]], principal letrista de canções da bossa nova a partir de "Chega de Saudade", composição feita com [[Tom Jobim]] em 1958 e que consagrou o estilo.}}
Movimento que ficou associado ao crescimento urbano brasileiro — impulsionado pela fase desenvolvimentista do [[Governo Juscelino Kubitschek]] (1955–1960)<ref>{{Citar web |url=http://www.senado.gov.br/noticias/especiais/brasilia50anos/not04.asp |titulo=Senado Federal - 50 anos de Brasíia |acessodata=2020-01-19 |obra=[[Senado Federal]]}}</ref> — a bossa nova iniciou-se para muitos críticos quando foi lançado, em agosto de 1958, um [[compacto simples]] do violonista [[Bahia|baiano]] [[João Gilberto]] (considerado o ''papa'' do movimento),{{sfn|Gattai|2011}}<ref name="papa1">{{Citar web |url=https://www.dw.com/pt-br/morre-aos-88-anos-jo%C3%A3o-gilberto-um-dos-papas-da-bossa-nova/a-49501017 |titulo=Morre aos 88 anos João Gilberto, um dos papas da bossa nova - DW |acessodata=2020-01-19 |obra=[[Deutsche Welle|DW]] |ultimo=Welle |primeiro=Deutsche |lingua=pt-BR}}</ref>{{sfn|Tuta|2014}} contendo as canções ''Chega de Saudade'' ([[Tom Jobim]] e [[Vinicius de Moraes]]) e ''Bim Bom'' (do próprio cantor).<ref>{{Citar web |url=https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/07/morte-de-joao-gilberto-encerra-a-utopia-de-um-pais-do-futuro.shtml |titulo=Opinião: Morte de João Gilberto encerra a utopia de um país do futuro |data=2019-07-07 |acessodata=2020-01-19 |obra=[[Folha de S.Paulo]] |lingua=pt-BR}}</ref><ref name=gazeta>{{Citar web |url=https://www.agazeta.com.br/entretenimento/cultura/ha-60-anos-joao-gilberto-revolucionava-o-mundo-com-a-bossa-nova-0718 |titulo=Há 60 anos, João Gilberto revolucionava o mundo com a Bossa Nova |acessodata=2020-01-19 |obra=[[A Gazeta (Espírito Santo)|A Gazeta]] |lingua=pt-br}}</ref><ref name=jb>{{Citar web |url=http://www.jb.com.br/cadernob/2019/09/1015573-artigo---a-bossa-nova-e-joao-gilberto.html |titulo=ARTIGO - A bossa nova e João Gilberto |data=2019-09-03 |acessodata=2020-01-19 |obra=[[Jornal do Brasil]] |lingua=pt-br}}</ref>


== Início oficial ==
Meses antes, João participara de ''Canção do Amor Demais'', um álbum lançado em maio daquele mesmo ano e exclusivamente dedicado às canções da iniciante dupla Tom/Vinicius, interpretado pela cantora carioca [[Elizeth Cardoso]].<ref name=gazeta/><ref name=jb/> De acordo com o escritor [[Ruy Castro]] (em seu livro ''[[Chega de Saudade: A História e as Histórias da Bossa Nova|Chega de saudade]]'', de 1990), este LP não foi um sucesso imediato ao ser lançado, mas o disco pode ser considerado um dos marcos da bossa nova, não só por ter trazido algumas das mais clássicas composições do gênero - entre as quais, ''Luciana'', ''Estrada Branca'', ''Outra Vez'' e ''Chega de Saudade''-, como também pela célebre batida do violão de João Gilberto, com seus acordes dissonantes e inspirados no ''[[jazz]]'' norte-americano - influência esta que daria argumentos aos críticos da bossa nova.{{sfn|Castro|2016}}
[[Ficheiro:Elizete Cardozo (1955).tiff|miniaturadaimagem|Elizeth Cardoso]]
O marco inicial da bossa nova foi o lançamento da música "[[Chega de Saudade]]", de autoria de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, lançada originalmente por [[Elizeth Cardoso]] em abril de 1958, em seu álbum [[Canção do Amor Demais|''Canção do Amor Demais'']]. Convidado por Jobim, João Gilberto tocou violão nessa faixa e em "Outra Vez" (Tom Jobim).<ref>{{Citar web|url=https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2018/04/considerado-prologo-da-bossa-nova-cancao-do-amor-demais-completa-60-anos.shtml|titulo=Considerado prólogo da bossa nova, 'Canção do Amor Demais' completa 60 anos|data=2018-04-10|acessodata=2024-06-19|website=Folha de S.Paulo|lingua=pt-BR}}</ref><ref name=":10">{{Citar web|url=https://oglobo.globo.com/cultura/musica/cancao-do-amor-demais-tema-de-seminario-no-mis-22693524|titulo='Canção do amor demais' é tema de seminário no MIS|data=2018-05-18|acessodata=2024-06-19|website=O Globo|lingua=pt-BR}}</ref>


Canção do Amor Demais não foi um sucesso de vendas ao ser lançado pelo pequeno selo Festa, um selo não-comercial que não tinha sequer departamento de divulgação e dependia de outras gravadoras para ter os seus disco prensados e distribuídos. É considerado um disco histórico pelas primeiras gravações da batida de violão de bossa nova e pelo seu repertório, só de canções da dupla recém formada, Jobim e Vinícius.<ref name=":6" />
Outras das características do movimento eram suas letras que, contrastando com os sucessos de até então, abordavam temáticas leves e descompromissadas - exemplo disto, ''[[Meditação (música)|Meditação]]'', de Tom Jobim e [[Newton Mendonça]]. A forma de cantar também se diferenciava da que se tinha na época. Segundo o [[maestro]] [[Júlio Medaglia]], "desenvolver-se-ia a prática do ''canto-falado'' ou do ''cantar baixinho'', do texto bem pronunciado, do tom [[coloquial]] da narrativa musical, do acompanhamento e canto integrando-se mutuamente, em lugar da valorização da 'grande voz'".<ref>{{Citar web |url=http://dicionariompb.com.br/bossa-nova/dados-artisticos |titulo=Dicionário da Música Popular Brasileira - Bossa Nova |data=2008 |acessodata=2020-01-19 |obra=[[Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira|Dicionário da Música Popular Brasileira]] |ultimo=Amaral |primeiro=Euclides}}</ref>


Apesar da batida de violão presente na gravação da Elizeth, foi com a versão de Chega de Saudade por João Gilberto, lançada em agosto de 1958, que a revolução da bossa nova se completou: um modo diferente de cantar, sem [[vibrato]], quase falado, e uma forma inovadora de se tocar bateria no samba, usando apenas o contratempo e a caixa, tocada por vassourinhas.<ref name=":1" />
Em 1959, era lançado o primeiro LP de João Gilberto, ''Chega de saudade'', contendo a faixa-título - canção com cerca de 100 regravações feitas por artistas brasileiros e estrangeiros. A partir dali, a bossa nova era uma realidade.<ref>{{Citar web |url=https://www12.senado.leg.br/radio/1/improviso/jazz-versao-2018 |titulo=Os 60 anos de Chega de Saudade |acessodata=2020-01-19 |obra=[[Senado Federal]] |lingua=pt}}</ref> Além de João, parte do repertório clássico do movimento deve-se as parcerias de Tom Jobim e Vinícius de Moraes.<ref name=gazeta/><ref name=jb/> Consta-se, segundo muitos afirmam, que o espírito bossa-novista já se encontrava na música que Jobim e Moraes fizeram, em 1956, para a peça [[Orfeu da Conceição]], primeira parceria da dupla, que esteve perto de não acontecer, uma vez que Vinícius primeiro entrou em contato com Vadico, o famoso parceiro de Noel Rosa e ex-membro do [[Bando da Lua]], para fazer a trilha sonora. É dessa peça, baseada na tragédia Grega [[Orfeu]], uma das belas composições de Tom e Vinícius, "Se todos fossem iguais a você", já prenunciando os elementos melódicos da bossa nova.<ref>{{Citar web |url=http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/post/musical-que-juntou-tom-com-vinicius-orfeu-da-conceicao-faz-60-anos.html |titulo=Musical que juntou Tom com Vinicius, 'Orfeu da Conceição' faz 60 anos |acessodata=2020-01-19 |obra=[[G1]] |ultimo=Ferreira |primeiro=Mauro |lingua=pt-br}}</ref>


Tom Jobim afirmou que considerava Chega de Saudade, composta dois anos antes de ser gravada, uma canção ligada ao estilo tradicional de compor, com modulações clássicas que já existiam na música brasileira há muito tempo, e que a própria introdução da música, com flauta e violão, lembrava os conjuntos regionais.<ref>{{citar livro|título=Tons sobre Tom|ultimo=Souza|primeiro=Tárik de|editora=Ed. Revan Ltda|ano=1995|local=Rio de Janeiro|página=117}}</ref>
Além de ''Chega de saudade'', os dois compuseram ''[[Garota de Ipanema]]'', outra representativa canção da bossa nova, que se tornou a canção brasileira mais conhecida em todo o mundo, depois de ''Aquarela do Brasil'' ([[Ary Barroso]]), com mais de 169 gravações, entre as quais de [[Sarah Vaughan]], [[Stan Getz]], [[Frank Sinatra]] (com Tom Jobim), [[Ella Fitzgerald]] entre outros.<ref>{{citar web|url=http://globotv.globo.com/rede-globo/jornal-da-globo/v/musica-aquarela-do-brasil-se-tornou-uma-das-joias-da-mpb/2117800/|titulo=Música Aquarela do Brasil se tornou uma das joias da MPB|obra=[[Jornal da Globo]]|data=30 de agosto de 2013|acessodata=26 de junho de 2014}}</ref> É de Tom Jobim também, junto com [[Newton Mendonça]], as canções ''Desafinado'' e ''Samba de uma Nota Só'', dois dos primeiros clássicos do novo gênero musical brasileiro a serem gravados no mercado norte-americano a partir de 1960.<ref name=gazeta/><ref>{{Citar web |url=http://www1.folha.uol.com.br/folha/publifolha/ult10037u441821.shtml |titulo=Folha de S.Paulo - Publifolha - Entenda Tom Jobim da bossa nova e do jazz, do Rio e dos EUA, do popular e do erudito - 06/02/2009 |acessodata=2020-01-19 |obra=Folha online}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa6060/tom-jobim |titulo=Tom Jobim |acessodata=2020-01-19 |obra=Enciclopédia Itaú Cultural |local=[[Instituto Itaú Cultural]] |lingua=pt-br}}</ref>


O compacto seguinte gravado por João Gilberto e lançado em fevereiro de 1959 trazia a música "Desafinado" (Tom Jobim/Newton Mendonça), uma composição já inspirada por essa forma inovadora de cantar e tocar, uma composição bossa nova, e essa expressão está presente na letra, o que ajudou a divulgá-la. Essa gravação de João Gilberto mostra um jogo rítmico inovador entre o canto, o violão e a bateria.<ref name=":0" />
==Mudanças==
[[File:João Gilberto e Stan Getz em Nova York (1972).tif|thumb|João Gilberto e Stan Getz em Nova York (1972).]]
Em meados da década de 1960, o movimento apresentaria uma espécie de cisão ideológica, formada por [[Marcos Valle]], [[Dori Caymmi]], [[Edu Lobo]] e [[Francis Hime]] e estimulada pelo [[Centro Popular de Cultura]] da [[União Nacional dos Estudantes|UNE]]. Inspirada em uma visão popular e nacionalista,<ref name="nac">{{Citar web |url=http://enciclopedia.itaucultural.org.br/grupo399389/centro-popular-de-cultura-da-une |titulo=Centro Popular de Cultura (CPC) |acessodata=2020-02-07 |obra=Enciclopédia Itaú Cultural |local=[[Instituto Itaú Cultural]] |lingua=pt-br}}</ref> este grupo fez uma crítica das influências do jazz norte-americano na bossa nova e propôs sua reaproximação com compositores de morro, como o sambista [[Zé Keti]].<ref name="nac"/><ref name="unicamp">{{Citar web |url=https://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/outubro2006/ju341pag6a.html |titulo=No peito dos bossanovistas também batem outros ritmos |acessodata=2020-02-07 |obra=[[Unicamp]] |publicado=Jornal da Unicamp |ultimo=Kassab |primeiro=Álvaro}}</ref> Um dos pilares da bossa, [[Carlos Lyra]], aderiu a esta corrente, assim como [[Nara Leão]], que promoveu parcerias com artistas do samba como [[Cartola (compositor)|Cartola]] e [[Nelson Cavaquinho]] e baião e xote nordestinos como [[João do Vale]].<ref name="nac"/> Nesta fase de releituras da bossa nova, foi lançado em 1966 o antológico LP "[[Os Afro-sambas (1966)|Os Afro-sambas]]", de [[Vinicius de Moraes]] e [[Baden Powell (músico)|Baden Powell]].


Além de um gênero musical, bossa nova é um estilo, uma maneira de cantar, tocar e harmonizar, que pode ser aplicado a composições de outros gêneros. <ref name=":0" /> Isso está demonstrado no primeiro LP de João Gilberto, [[Chega de Saudade (álbum)|Chega de Saudade]], lançado em abril de 1959, em que composições bossanovísticas como "Saudade Fez um Samba" (Lyra/Bôscoli) e "Brigas Nunca Mais" (Tom/Vinícius) estão ao lado de sambas tradicionais como “Rosa Morena” (de [[Dorival Caymmi]]), “Morena Boca de Ouro”, de [[Ary Barroso]], “Aos Pés da Cruz” (de [[Marino Pinto]] e Zé da Zilda) e “É Luxo Só” (de Ary Barroso e [[Luís Peixoto]]),{{sfn|Lopes|Simas|2015|p=46}} todos interpretados na nova forma de cantar e tocar de João Gilberto.<ref name=":6" />
Entre os artistas que se destacaram nesta segunda geração (1962-1966) da bossa nova estão [[Paulo Sérgio Valle]], Edu Lobo, [[Marcos Vasconcelos]], Dori Caymmi, [[Nelson Motta]], Francis Hime, [[Wilson Simonal]], entre outros...


Segundo o historiador de música popular brasileira [[Jairo Severiano]], os três LPs que João Gilberto gravou na Odeon, Chega de saudade (1959), O amor, o sorriso e flor (1960) e João Gilberto (1961), constituem um documento sobre a Bossa Nova.<ref name=":0" />
==Fim do movimento, da bossa nova à MPB==
Um dos maiores expoentes da bossa nova comporia um dos marcos do fim do movimento. Em 1965, Vinícius de Moraes compôs, com Edu Lobo, ''Arrastão''. A canção seria defendida por [[Elis Regina]] no ''I [[Festival de Música Popular Brasileira]]'' (da extinta [[TV Excelsior]]), realizado no [[Guarujá]] naquele mesmo ano.{{sfn|Máximo|2002|p=4}}{{sfn|Vidal|Aguiar|2002|p=133}} Era o fim da bossa nova e o início do que se rotularia [[MPB]], gênero difuso que abarcaria diversas tendências da música brasileira até o início da [[década de 1980]] - época em que surgiu um [[pop rock]] nacional renovado.{{sfn|Echeverria|2007|p=41}}{{sfn|Zappa|2012}}{{sfn|Mello|2003|p=67}}


== Período áureo ==
A MPB nascia com artistas novatos, da segunda geração da bossa nova, como [[Geraldo Vandré]], [[Edu Lobo]] e [[Chico Buarque de Holanda]], que apareciam com frequência em festivais de música popular. Bem-sucedidos como artistas, eles tinham pouco ou quase nada de bossa nova. Vencedoras do ''II Festival de Música Popular Brasileira'', realizado em [[São Paulo (cidade)|São Paulo]] em 1966, ''Disparada'', de Geraldo, e ''A Banda'', de Chico, podem ser consideradas marcos desta ruptura e mutação da bossa em MPB.
Durante as décadas de 1940 e 1950 a música brasileira estava se modernizando, em termos harmônicos e melódicos, mas a chegada do ritmo novo na batida de violão de [[João Gilberto]] foi o estopim para a revolução que se chamou bossa nova. Segundo [[Tom Jobim]], a chegada de João trouxe novas perspectivas para a música brasileira, pois o ritmo é um fator vital.<ref name=":1" />

Jobim escreveu o texto na contracapa do disco [[Chega de Saudade (álbum)|''Chega de Saudade'']] que João Gilberto era um baiano "Bossa Nova" (grifo do texto original) que em pouco tempo tinha influenciado toda uma geração de músicos, e é a primeira vez que esse termo é utilizado num disco brasileiro. Músicos da geração seguinte e que na época eram adolescentes, como [[Chico Buarque]], [[Caetano Veloso]], [[Edu Lobo]] e [[Gilberto Gil]], foram impactados com a chegada da bossa nova e isso influenciou na escolha profissional deles.<ref name=":1" />

Tom Jobim e [[Newton Mendonça]] escreveram juntos, letra e música, dois manifestos musicais da bossa nova, "Desafinado" e "Samba de uma nota só", lançados respectivamente no primeiro e no segundo LP de João Gilberto. Na letra de "Desafinado" a expressão bossa nova é citada como substantivo e não como adjetivo, o que ajudou a popularizar o termo.<ref name=":3" /> Essa canção tem caminhos harmônicos e melódicos complexos, o que não a impediu de se transformar num grande sucesso nacional e também num ''standard'' de jazz.<ref name="gazeta">{{Citar web|url=https://www.agazeta.com.br/entretenimento/cultura/ha-60-anos-joao-gilberto-revolucionava-o-mundo-com-a-bossa-nova-0718|titulo=Há 60 anos, João Gilberto revolucionava o mundo com a Bossa Nova|acessodata=2020-01-19|obra=[[A Gazeta (Espírito Santo)|A Gazeta]]|lingua=pt-br}}</ref> Já "Samba de uma nota só" se caracteriza pela economia de notas na melodia com uma sequência de acordes dissonantes que harmonizam a mesma nota, em cada acorde a nota da melodia está fazendo uma função diferente. Essas duas canções são como os lados diferentes de uma mesma moeda, segundo Pedro Bustamante Teixeira.<ref>{{Citar livro|título=Do samba à bossa nova: Uma invenção de brasil|ultimo=Teixeira|primeiro=Pedro Bustamante|data=2020-10-24|editora=Appris Editora e Livraria Eireli - ME|local=Curitiba, PR|lingua=pt-BR}}</ref>

[[Ruy Castro]] chama este período de "o grande feriado”,<ref name=":3" /> no qual as canções da bossa nova se popularizaram entre os jovens e fez do violão o instrumento que todos os jovens queriam tocar. As academias de violão se multiplicaram pela zona sul do Rio de Janeiro, e as mais concorridas eram dos bossanovistas [[Carlos Lyra]] e [[Roberto Menescal]].<ref>{{Citar livro|título=Noites tropicais|ultimo=Motta|primeiro=Nelson|data=2022-08-15|editora=HarperCollins Brasil|local=Duque de Caxias, RJ|lingua=pt-BR}}</ref>

Ronaldo Bôscoli era jornalista e trabalhava na [[Revista Manchete]] e é considerado um dos responsáveis pela divulgação da então moderna música carioca. Ele teve a ideia de levar os shows ainda amadores para faculdades e colégios, para divulgar esse movimento entre os jovens, mas o nome bossa nova ainda não estava consolidado. Após o primeiro show no Centro Universitário Hebraico foi realizada na Escola Naval do Rio de Janeiro a ''Segunda Samba Session'', ou ''Segundo Comando da Operação Bossa Nova.'' Nesse show a cantora [[Nara Leão]] se apresentou em público pela pela primeira vez, e o show contou com a participação de cantoras como [[Alaíde Costa]] e [[Norma Bengell]] e cantores e músicos como [[Lúcio Alves]], [[Oscar Castro-Neves|Oscar Castro Neves]] e [[Luiz Eça|Luis Eça]].<ref name=":1" />

[[Sylvia Telles]] foi uma das primeiras cantoras a gravar as músicas de bossa nova e em 1959 lançou dois LP´s num intervalo de apenas 4 meses, e das 24 canções gravadas 18 eram do Tom Jobim, que se transformou no compositor mais gravado no Brasil do fim dos anos 1950.<ref name=":3" /> Em 1961 a cantora [[Maysa]], uma das cantoras mais importantes da época e ligada ao samba-canção de fossa, gravou o disco ''O Barquinho'', que lançou a música de mesmo nome composta por Menescal e Ronaldo Bôscoli e ajudou a divulgar nacionalmente a bossa nova.<ref>{{Citar web|url=https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/3/25/ilustrada/30.html|titulo=Folha de S.Paulo - 'Barquinho' uniu casal e rachou bossa nova - 25/3/1995|acessodata=2024-06-19|website=www1.folha.uol.com.br}}</ref>

A bossa nova encontrou refúgio numa travessa sem saída da Rua Duvivier, em [[Copacabana]], que foi apelidada pelo jornalista [[Sérgio Porto]] de Beco das Garrafadas, nome depois simplificado para [[Beco das Garrafas]]. Lá surgiu um tipo diferente de bossa nova, menos intimista, que passou a ser conhecido como ''[[Samba jazz|Samba Jazz]]'', ou ''Hard Bossa Nova'', em pocket shows muitas vezes dirigidos pela dupla [[Luís Carlos Miele|Miéle]] e Bôscoli. No Beco surgiram grupos como [[Tamba Trio]], de Luiz Eça, [[Bossa Três]], de [[Luís Carlos Vinhas]], Sexteto de [[Sérgio Mendes]], Copa Cinco de J.T. Meirelles e Quinteto Bottle's, de [[Tenório Jr.|Tenório Júnior]].<ref name=":3" /><ref>{{Citar web|url=https://veja.abril.com.br/cultura/beco-das-garrafas-no-rio-e-reinaugurado-apos-50-anos/|titulo=Beco das Garrafas, no Rio, é reinaugurado após 50 anos|acessodata=2024-06-19|website=VEJA|lingua=pt-BR}}</ref>

Em 1962, Tom Jobim e Vinícius de Moraes compuseram "Garota de Ipanema", talvez a mais representativa canção da bossa nova, que se tornou a canção brasileira mais conhecida em todo o mundo, junto com "Aquarela do Brasil" (Ary Barroso), com mais de 169 gravações, entre as quais de [[Sarah Vaughan]], [[Stan Getz]], [[Frank Sinatra]] (com Tom Jobim), [[Ella Fitzgerald]] entre outros.<ref>{{citar web|url=http://globotv.globo.com/rede-globo/jornal-da-globo/v/musica-aquarela-do-brasil-se-tornou-uma-das-joias-da-mpb/2117800/|titulo=Música Aquarela do Brasil se tornou uma das joias da MPB|data=30 de agosto de 2013|acessodata=26 de junho de 2014|obra=[[Jornal da Globo]]}}</ref> "Garota de Ipanema", junto com outras canções compostas pela dupla nesse ano de 1962, foram as últimas músicas dessa parceria tão fundamental para a música brasileira.<ref name=":3" />

O produtor [[Aloysio de Oliveira]], responsável pela gravação dos primeiros discos de João Gilberto na gravadora Odeon, montou a sua própria gravadora, a Elenco, em 1963. Esse selo foi o responsável por lançar os primeiros LP's de artistas como [[Vinicius de Moraes|Vinícius de Moraes]], Nara Leão, Roberto Menescal e [[Baden Powell (músico)|Baden Powell]]. A Elenco ficou marcada também pela estética minimalista das suas capas, quase sempre com fotos de Chico Pereira em preto e branco e processadas em alto contraste por [[Cesar Villela|César Vilela]], diretor de arte, que afirmou que essa economia estética se devia, também, à falta de dinheiro na gravadora.<ref>{{Citar web|url=https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1409201104.htm|titulo=Folha de S.Paulo - História da gravadora Elenco vira minissérie no Canal Brasil - 14/09/2011|acessodata=2024-06-19|website=www1.folha.uol.com.br}}</ref>

No mesmo ano de 1963, Carlos Lyra e Vinícius de Moraes escreveram a comédia musical “Pobre Menina Rica”, e antes de montá-la num teatro, apresentaram as canções em um show chamado ''Trailer'', com a Nara Leão cantando as músicas que caberiam à personagem que dá título à peça. Algumas letras do musical já apontavam para um outro caminho temático, com conteúdo mais político, como “Comedor de gilete” e “Maria Moita”, que já não cabiam nos cânones bossanovísticos do amor, do sorriso e da flor.<ref name=":8">{{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/title/262558512|título=Eu & a bossa: uma história da bossa nova|ultimo=Lyra|primeiro=Carlos|data=2008|editora=Casa da Palavra|edicao=1a ed|local=Rio de Janeiro|oclc=262558512}}</ref>

Antes do fim do período áureo da bossa nova surgiu ainda uma segunda geração do movimento, artistas que traziam novos elementos musicais, alguns mais ligados aos gêneros nacionais e outros já com influências do pop internacional. São dessa segunda geração nomes como [[Edu Lobo]], [[Marcos Valle]], [[Eumir Deodato]], [[Wanda Sá]], [[Francis Hime]] e [[Dori Caymmi]].<ref>{{Citar web|url=http://edulobo.com.br/|titulo=Edu Lobo - Site Oficial|acessodata=2024-06-19|website=Edu Lobo}}</ref><ref>{{Citar web|url=https://radiobatuta.ims.com.br/|titulo=Rádio Batuta {{!}} Marcos Valle e a segunda geração da bossa nova|acessodata=2024-06-19|website=Rádio Batuta|lingua=pt-br}}</ref>

== Internacionalização ==
[[File:João Gilberto e Stan Getz em Nova York (1972).tif|thumb|João Gilberto e Stan Getz em Nova York (1972).]]A bossa nova experimentou uma projeção internacional em escala jamais vista com outra vertente da [[música popular brasileira]].{{sfn|Lopes|Simas|2015|p=48}} Em 1962, o saxofonista [[Stan Getz]] em conjunto com o guitarrista [[Charlie Byrd]] lançaram o [[Disco de vinil|LP]] [[Jazz Samba|''Jazz Samba'']], o que chamou a atenção do meio musical nos [[Estados Unidos]] para a bossa nova. Naquele mesmo ano, um concerto no [[Carnegie Hall]] de [[Nova York]], que reuniu Tom Jobim e João Gilberto, entre outros, abriu de vez as portas do mundo para o estilo.<ref name="Cravo Albin">{{citar web|url=http://dicionariompb.com.br/bossa-nova/dados-artisticos|título=Bossa Nova|acessodata=07-07-2019|obra=Dicionário Cravo Albin}}</ref><ref>{{citar jornal |autor=Thales de Menezes |titulo=Concerto no Carnegie Hall, que lançou bossa nova nos EUA, será recriado |url=https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/04/1873022-concerto-no-carnegie-hall-que-lancou-bossa-nova-nos-eua-sera-recriado.shtml |jornal=[[Folha de S.Paulo]] |data=6 de abril de 2017 |acessodata=27 de fevereiro de 2020 }}</ref> Com o lançamento em 1964 do LP ''[[Getz/Gilberto]]'', parceria entre o violonista brasileiro e o saxofonista americano, tornou a vertente conhecida mundialmente, além de arrebatar o [[Grammy Award para álbum do ano]] de 1965. A versão cantada por [[Astrud Gilberto]] de "[[The Girl from Ipanema]]" ganhou o prêmio de melhor gravação no Grammy desse mesmo ano, e foi a primeira vez que uma mulher ganhou esse prêmio.<ref name=":4">{{Citar web|ultimo=Ferreira|primeiro=Mauro|url=https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2024/02/19/nara-leao-ganha-a-voz-de-zeze-polessa-em-musical-60-anos-apos-o-historico-primeiro-album-da-cantora.ghtml|titulo=Nara Leão ganha a voz de Zezé Polessa em musical, 60 anos após a edição do histórico primeiro álbum da cantora|data=19/02/2024|acessodata=16/05/2024|website=g1globo.com}}</ref> Em 1967, Frank Sinatra gravou essa música no disco [[Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim]], com arranjo de [[Claus Ogerman]].<ref>{{Citar web|url=https://www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/fj16059813.htm|titulo=Folha de S.Paulo - Encontro com Tom rendeu dois discos (com foto) - 16/05/98|acessodata=2024-05-08|website=www1.folha.uol.com.br}}</ref>

A parceria de Ogerman e Jobim foi importante para estabelecer a sonoridade bossa nova. Para seu primeiro disco a ser gravado nos EUA, ''[[The Composer of Desafinado, Plays|The Composer of Desafinado Plays]]'', Jobim gostaria que a gravadora contratasse [[Nelson Riddle]], o arranjador de Sinatra. Entretanto, o produtor [[Creed Taylor]] designou o alemão Claus Ogerman para o trabalho. Inicialmente desconfiado, Jobim mudou de ideia após ouvir o primeiro arranjo, tanto que estabeleceu esta parceria pelos próximos 17 anos. Entre 1963 e 1980, Ogerman escreveu os arranjos de 7 LPs de Tom Jobim. Também escreveu para discos de Astrud Gilberto e [[João Donato]] e fez os arranjos do disco [[Amoroso (álbum)|''Amoroso'']] de João Gilberto. Desta forma, contribuiu para a formatação sonora fonográfica da bossa nova, deixando sua assinatura - que tem entre seus traços, a economia rítmica, escolha particular da instrumentação, distribuição de vozes e harmonização característica de cordas e madeiras. Claus fez a arregimentação dos músicos do primeiro LP de Jobim nos Estados Unidos, a única exigência de Tom foi que o baterista fosse brasileiro,[[Edison Machado|Édson Machado]], afinal, o padrão rítmico é fator primordial e determinante de gênero. Sendo uma novidade musical vinda de outro país, a música não teria resultado satisfatório com um baterista norte americano às baquetas.<ref>{{citar livro|título=Cancioneiro Jobim, obras escolhidas|ultimo=JOBIM|primeiro=Paulo (coord) et al.|editora=Jobim Music, Casa da Palavra|ano=2000|local=Rio de Janeiro|página=p. 88|páginas=1|isbn=85-87220-19-5}}</ref>

==Da bossa nova à MPB==
{{double image|right|Vinicius.jpg|220|Tom19.jpg|189|[[Vinicius de Moraes]], principal letrista de canções da bossa nova a partir de "Chega de Saudade", composição feita com [[Tom Jobim]] em 1958 e que consagrou o estilo.}}
No fim da década de 1950 [[Carlos Lyra]] trabalhou em São Paulo com o [[Teatro de Arena (São Paulo)|Teatro de Arena]], participando das montagens de peças de dramaturgos e diretores como [[Augusto Boal]] e [[Gianfrancesco Guarnieri]].<ref name=":8" /> Junto com [[Vianinha|Oduvaldo Viana Filho]], [[Leon Hirszman|Leon Hirzman]] e [[Ferreira Gullar]], participou da fundação do [[Centro Popular de Cultura]] da [[União Nacional dos Estudantes]], o CPC da UNE. Como diretor musical do CPC, a ideia do Carlos Lyra era levar a bossa nova para as ruas, mas também levar a música do povo para a classe média universitária.<ref>{{Citar livro|título=Nara Leão: Nara - 1964|ultimo=Sukman|primeiro=Hugo|data=2022-01-18|editora=Editora Cobogó|series=O Livro do Disco|local=Rio de Janeiro, RJ|lingua=pt-BR}}</ref> Com o apoio de [[Sérgio Cabral]], ao mesmo tempo um intelectual da zona sul carioca e uma pessoa com trânsito com os então chamados sambistas de morro, o CPC promoveu shows de sambistas como [[Cartola (compositor)|Cartola]], [[Nelson Cavaquinho]], [[Ismael Silva]] e [[Zé Keti]], artistas que estavam à época ignorados pelas gravadoras e pela grande mídia.<ref name=":9">{{Citar livro|título=Nara Leão: uma biografia|ultimo=Cabral|primeiro=Sérgio|data=2001|editora=Lumiar Editora|local=Rio de Janeiro}}</ref>

Carlos Lyra promoveu reuniões em sua casa com esses sambistas e gravou fitas com o repertório dos mesmos. Fitas que foram repassadas por ele para [[Nara Leão]], durante a escolha do repertório para o seu primeiro disco, ''Nara''.<ref name=":8" /><ref name=":7" /> Nara estava próxima dos cineastas do [[Cinema novo|Cinema Novo]], que deram a ela uma nova consciência social. O repertório dos primeiros discos da Nara expressam a busca da artista por temáticas mais nacionalistas e distantes do lirismo da bossa nova, ainda que, formalmente, a sonoridade ainda seja bossa-novista.<ref name=":3" />

Nos seus dois primeiros discos, Nara gravou composições de uma nova parceria de [[Vinicius de Moraes|Vinícius de Moraes]], com o violonista [[Baden Powell (músico)|Baden Powell]]. “Berimbau”, “Consolação” e “Labareda” são composições pós-bossa nova, que foram classificadas como afro-sambas, pelas suas sonoridades afro e as suas letras com temáticas das igrejas de matriz africana.<ref>{{Citar livro|título=Uma história da música popular brasileira: das origens à modernidade|data=2021-08-10|editora=Editora 34|lingua=pt-BR}}</ref> Essas canções são reunidas em 1966 no LP ''Os Afro-sambas'', de Baden e Vinícius, com participação do Quarteto em Cy.<ref>{{Citar web|url=https://oglobo.globo.com/cultura/musica/divisor-de-aguas-os-afro-sambas-completa-50-anos-cheio-de-frutos-20251975|titulo=Divisor de águas, ‘Os Afro-sambas’ completa 50 anos cheio de frutos|data=2016-10-07|acessodata=2024-06-19|website=O Globo|lingua=pt-BR}}</ref>

Em 1965 é realizado o primeiro festival de música popular brasileira promovido e divulgado por uma emissora da televisão, a [[TV Excelsior]]. O idealizador do festival, [[Solano Ribeiro]], era um produtor de espetáculos em São Paulo contratado da Excelsior e que quis levar para a televisão a nova música brasileira que surgia nos bares e em shows universitários.<ref>{{Citar livro|título=A Era Dos Festivais|data=2021-08-11|editora=Editora 34|lingua=pt-BR}}</ref> A grande vencedora foi "Arrastão", de Vinícius de Moraes e [[Edu Lobo]] e interpretada por [[Elis Regina]], uma canção que mescla a influência da bossa nova com a aspereza da música nordestina.<ref name=":0" /> Era o início do que se rotularia [[MPB]], gênero difuso que abarcaria diversas tendências da música brasileira.{{sfn|Echeverria|2007|p=41}}{{sfn|Zappa|2012}}{{sfn|Mello|2003|p=67}}


==Legado==
==Legado==
Com a internacionalização, através do êxito nos [[Estados Unidos]] que a exportou para o resto do mundo, a bossa nova se tornou referência em escala global.<ref>{{citar livro|título=Balanço da Bossa e outras bossas|ultimo=Campos|primeiro=Augusto de|editora=Ed. Perspectiva|ano=1986|local=São Paulo|página=100}}</ref>
{{Sem fontes|Esta seção|data=março de 2019}}

O fim cronológico da bossa não significou a extinção estética do estilo. O movimento foi uma grande referência que para gerações posteriores de artistas, do ''[[jazz]]'' (a partir do sucesso estrondoso da versão instrumental de ''Desafinado'' pela dupla [[Stan Getz]] e [[Charlie Byrd]]) a uma corrente [[pós punk|pós-''punk'']] [[britânica]] (de artistas como [[Style Council]], [[Matt Bianco]] e [[Everything but the Girl]]). Hoje tem uma nova geração de artistas que revivem o estilo. Entre eles destacam-se Bogdan Plech, Eliane Elias, Irene Miranda Quartet, Rosa Passos, Shelley Dunstone e Lisa Ono, entre outros.
Em meados dos anos 80 surgiu na Europa a New Bossa, em trabalhos da cantora nigeriana [[Sade Adu]] e em grupos como [[Matt Bianco]] e [[The Style Council|Style Council]].<ref>{{Citar web|ultimo=Midias-metrica|url=https://www.abramus.org.br/noticias/20578/bossa-nova-65-anos-e-cada-vez-mais-jovem/|titulo=Bossa Nova: 65 anos e cada vez mais jovem|data=2023-01-25|acessodata=2024-06-19|website=ABRAMUS}}</ref> Nos anos 90, através de DJ´s como Joe Davis e Gilles Peterson, a bossa ressurgiu integrada com o [[Drum and bass|drum´n´bass]] e artistas como [[Marcos Valle]], [[Joyce Moreno]] a o grupo [[Azymuth]] passaram a dialogar com novas gerações com novos discos e turnês constantes.<ref>{{Citar web|url=https://oglobo.globo.com/cultura/brazilian-wave-musical-na-inglaterra-9867664|titulo=‘Brazilian wave’ musical na Inglaterra|data=2013-09-08|acessodata=2024-06-19|website=O Globo|lingua=pt-BR}}</ref><ref>{{Citar web|url=https://www1.folha.uol.com.br/fsp/acontece/ac06019901.htm|titulo=Folha de S.Paulo - Show: Bossa de Marcos Valle volta a SP (com foto) - 06/01/99|acessodata=2024-06-19|website=www1.folha.uol.com.br}}</ref> <ref>{{Citar web|url=https://www.estadao.com.br/cultura/musica/mpb-e-redescoberta-pelas-maos-de-djs-ingleses-e-belgas/|titulo=MPB é redescoberta pelas mãos de DJs ingleses e belgas|acessodata=2024-06-19|website=Estadão|lingua=pt-br}}</ref>

Novos artistas brasileiros com trabalhos muito inspirados em bossa nova fizeram trabalhos de repercussão internacional na virada para o século XXI, e o mais bem sucedido comercialmente foi o de [[Bebel Gilberto]], filha de [[João Gilberto]] e da cantora [[Miúcha]], que vendeu mais de um milhão de discos com o seu CD ''Tanto Tempo''.<ref>{{Citar web|url=https://oglobo.globo.com/cultura/bebel-gilberto-volta-ao-brasil-para-mini-turne-4135922|titulo=Bebel Gilberto volta ao Brasil para mini-turnê|data=2007-12-06|acessodata=2024-06-19|website=O Globo|lingua=pt-BR}}</ref> O grupo [[Bossacucanova]] (que tem entre os seus integrantes Marcio Menescal, filho de [[Roberto Menescal]])<ref>{{Citar web|url=https://monkeybuzz.com.br/materias/bossacucanova-bossa-novissima-e-atuante/|titulo=Bossacucanova: Bossa Novíssima e Atuante|data=2014-03-19|acessodata=2024-06-19|website=Monkeybuzz|lingua=pt-BR}}</ref>, a cantora Fernanda Porto e o DJ Patife também mesclaram a bossa nova com o drum´n´bass e tiveram boa aceitação nos EUA e na Europa no início dos anos 2000.<ref>{{Citar web|url=https://www.cliquemusic.com.br/materias/ver/fernanda-porto-o-drum-n-bass-encontra-a-bossa-nova.html|titulo=Cliquemusic : Matéria : Fernanda Porto: o drum‘n’bass encontra a bossa nova|acessodata=2024-06-19|website=www.cliquemusic.com.br}}</ref>

Cantoras internacionais surgidas já no século XXI também são diretamente influenciadas pela bossa nova, como é o caso da canadense [[Diana Krall]], que convidou o [[Claus Ogerman]], o arranjador de [[Tom Jobim|Jobim]] e João Gilberto, para escrever arranjos bossanovísticos para seus discos.<ref>{{Citar web|url=https://www.metropoles.com/metropoles-music/diana-krall-homenageia-bossa-nova-em-show-emocionante-em-brasilia|titulo=Diana Krall homenageia bossa nova em show emocionante em Brasília {{!}} Metrópoles|data=2023-11-13|acessodata=2024-06-19|website=www.metropoles.com|lingua=pt-BR}}</ref> A norte americana de ascendência francesa, [[Stacey Kent]], grava com frequência músicas brasileiras, especialmente bossa novas, e já gravou com Marcos Valle, Roberto Menescal e [[Danilo Caymmi]].<ref>{{Citar web|url=https://m.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/06/1467461-americana-stacey-kent-grava-album-dedicado-a-bossa-nova.shtml|titulo=Americana Stacey Kent grava álbum dedicado à bossa nova - 10/06/2014 - Ilustrada - Folha de S.Paulo|acessodata=2024-06-19|website=m.folha.uol.com.br}}</ref><ref>{{Citar web|url=https://oglobo.globo.com/cultura/musica/critica-danilo-caymmi-de-coadjuvante-interprete-perfeito-20845532|titulo=Crítica: Danilo Caymmi, de coadjuvante a intérprete perfeito|data=2017-01-31|acessodata=2024-06-19|website=O Globo|lingua=pt-BR}}</ref>

A bossa nova começou a perder espaço no Brasil no meio da década de 1960, especialmente a partir do golpe militar de 1964 e por conseguinte o surgimento das canções de protesto.<ref>{{Citar web|ultimo=pedrocamarao|url=https://fpabramo.org.br/focusbrasil/2023/03/26/as-vitrolas-em-1964/,%20https://fpabramo.org.br/focusbrasil/2023/03/26/as-vitrolas-em-1964/|titulo=As vitrolas em 1964 - Revista Focus Brasil|data=2023-03-26|acessodata=2024-06-19|website=fpabramo.org.br|lingua=pt-BR}}</ref> Os ambientes agitados e barulhentos dos festivais de música na televisão, com compositores concorrendo por altos prêmios em dinheiro, também não eram lugares ideias para a sonoridade bossanovística. Tom Jobim e João Gilberto ficaram muitos anos gravando discos fora do Brasil, e músicos como [[Oscar Castro-Neves|Oscar Castro Neves]], [[Sérgio Mendes]] e [[Eumir Deodato]] jamais voltaram a morar no Brasil.<ref name=":3" />

Entre o fim dos anos 1960 e até o fim da década de 1980 a bossa nova apareceu em raros momentos na parada de sucessos, como na gravação de João Gilberto de "Wave" (Jobim), que fez parte da trilha sonora da novela [[Água Viva (telenovela)|Água Viva]], exibida a partir de agosto de 1980 na [[TV Globo]]. Durante os anos do [[Rock Brasileiro|rock brasileiro]], há de se destacar tanto a regravação da composição de [[Lobão (músico)|Lobão]], "Me chama", por João Gilberto<ref>{{Citar web|url=https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq3105201118.htm|titulo=Folha de S.Paulo - Lobão critica João Gilberto e Chico Buarque em palestra - 31/05/2011|acessodata=2024-05-17|website=www1.folha.uol.com.br}}</ref> em 1986, quanto a canção "[[Faz Parte do Meu Show|Faz parte do meu show"]], composta por [[Cazuza]] e [[Renato Ladeira]], e gravada em 1988, com arranjo inspirado na bossa nova e com o violão fazendo a tradicional batida.<ref>{{Citar web|ultimo=Brasil|primeiro=Jornal do|url=https://www.jb.com.br/cultura/noticias/2008/07/07/parceiro-de-cazuza-lembra-criacao-de-faz-parte-do-meu-show.html|titulo=Parceiro de Cazuza lembra criação de 'Faz parte do meu show'|data=2023-05-11|acessodata=2024-05-17|website=Acervo|lingua=pt-br}}</ref>

Sob encomenda de uma gravadora do Japão, Roberto Menescal produziu, com a então cantora iniciante [[Leila Pinheiro]], o disco [[Bênção, bossa nova|Benção, Bossa Nova]], que foi lançado no Brasil em 1989 e vendeu a marca considerável de 300 mil cópias.<ref>{{Citar web|url=https://vejario.abril.com.br/programe-se/show-roberto-menescal-leila-pinheiro-bossa-nova/|titulo=Show celebra 25 anos do disco Benção, Bossa Nova|acessodata=2024-06-19|website=VEJA RIO|lingua=pt-BR}}</ref> O número é muito relevante, pois João Gilberto só conseguiu ultrapassar 100 mil cópias vendidas no seu álbum de 1991, João.<ref>{{Citar livro|título=A Onde Que Se Ergueu No Mar|data=2021-08-31|editora=Companhia das Letras|lingua=pt-BR}}</ref> Em 1990 o escritor [[Ruy Castro]] lançou o livro [[Chega de Saudade: A História e as Histórias da Bossa Nova|Chega de Saudade]], considerado a bíblia do movimento, com a história da bossa nova escrita como uma biografia romanceada, que vendeu muitos livros e reacendeu o interesse do público brasileiro pelo movimento.<ref>{{Citar web|url=https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2020/03/02/livro-chega-de-saudade-chega-aos-30-anos-como-biblia-da-bossa-nova.ghtml|titulo=Livro 'Chega de saudade' chega aos 30 anos como 'bíblia' da bossa nova|data=2020-03-02|acessodata=2024-06-19|website=G1|lingua=pt-br}}</ref><ref name=":10" />

A bossa nova segue ainda viva no século XXI: em 2021 a cantora [[Anitta]] lançcou o single [[Girl from Rio]], que usava um ''[[Sampler|sample]]'' de [[Garota de Ipanema|"Garota de Ipanema]]" e misturava no clipe o Rio de Janeiro estereotipado da época da bossa nova nos anos 1960 com a realidade do subúrbio em que a cantora cresceu.<ref>{{Citar web|ultimo=Blanco|primeiro=por Izaque|url=https://apistajornal.com/2021/05/03/girl-from-rio-anitta/|titulo=“Girl From Rio”: Anitta vai da estética sessentista ao pop norte-americano em novo single|data=2021-05-03|acessodata=2024-06-19|website=A Pista|lingua=pt-BR}}</ref>

A cantora pop [[Luísa Sonza|Luisa Sonza]] lançou em 2023 a música "Chico", com uma atmosfera que remetia à bossa nova e causou polêmica nas redes sociais e na mídia, que procurou experts para saber se a canção poderia ser classificada como uma legítima bossa. Roberto Menescal, um dos papas do movimento, defendia a tese de que poderia ser, e depois fez a produção musical da versão em inglês, dando definitivamente o seu aval.<ref>{{Citar web|url=https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2024/03/05/luisa-sonza-relanca-chico-em-ingles-com-producao-de-roberto-menescal.ghtml|titulo=Luísa Sonza relança 'Chico' em inglês com produção de Roberto Menescal|data=2024-03-05|acessodata=2024-06-19|website=G1|lingua=pt-br}}</ref> <ref>{{Citar web|url=https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2023/09/09/cancao-de-luisa-sonza-e-bossa-nova-porque-o-genero-musical-e-tambem-um-estado-de-espirito.ghtml|titulo=Canção de Luísa Sonza é bossa nova porque o gênero musical é também um estado de espírito|data=2023-09-09|acessodata=2024-06-19|website=G1|lingua=pt-br}}</ref>. Em 2024 um jovem cantor e compositor paulistano, Will Santt, lançou um disco com declarada influência de João Gilberto, depois de ter amealhado fãs pelo mundo cantando bossa nova em vídeos postados em rede sociais.<ref>{{Citar web|url=https://oglobo.globo.com/cultura/noticia/2024/06/11/quem-e-will-santt-musico-de-21-que-estourou-no-instagram-cantando-bossa-nova-e-lanca-seu-primeiro-album.ghtml|titulo=Quem é Will Santt, músico de 21 que estourou no Instagram cantando bossa nova e lança seu primeiro álbum|data=2024-06-11|acessodata=2024-06-19|website=O Globo|lingua=pt-br}}</ref>

== A Bossa Nova no teatro ==

==== ''Tom & Vinícius'' ====
A peça de teatro intitulada ''Tom & Vinicius – o Musical,'' foi encenada de 09 a 12 de 2008. Estrelado por [[Marcelo Serrado]], escrito por [[Daniela Pereira de Carvalho]] e [[Eucanaã Ferraz]] e dirigido por [[Daniel Herz (diretor)|Daniel Herz]]. A direção musical foi de Josimar Carneiro<ref>{{citar periódico |url=http://www.repositorio-bc.unirio.br:8080/xmlui/handle/unirio/11100 |título=O Design Musical em Canções de Antônio Carlos Jobim |data=2015 |acessodata=17/05/2024 |periódico=Tese de Doutorado - UNIRIO |publicado=UNIRIO |ultimo=Carneiro |primeiro=Josimar |pagina=7}}</ref><ref>{{citar web|ultimo=Editores Enciclopédia Itaú Cultural|primeiro=Editores|url=http://enciclopedia.itaucultural.org.br/evento401775/tom-vinicius-o-musical.|titulo=Tom & Vinicius - O Musical|data=2024|acessodata=17 de maio de 2024|website=Enciclopédia Itaú Cultural|urlmorta=não}}</ref>

==== ''Nara'' ====
Nara Leão rejeitava o título de "Musa da Bossa Nova" que foi atribuído a ela. Dada sua influência, obtida através da presença constante na atuação e inovação nas parcerias musicais e sua postura engajada.<ref>{{citar web|ultimo=Bravo!|primeiro=Redação|url=https://bravo.abril.com.br/musica/nara-leao-bossa-nova-carreira|titulo=Nara Leão e a história de uma das intérpretes mais ousadas da Bossa Nova|data=26/01/2024|acessodata=13/05/2024|website=Bravo!}}</ref>

Ainda assim, passados 35 anos de seu falecimento, sua contribuição para a Bossa Nova, se desdobrou em um espetáculo teatral em 29 de Fevereiro de 2024, que contou com [[Zezé Polessa]] na interpretação do papel da cantora, sob direção teatral de [[Miguel Falabella]] e direção musical de Josimar Carneiro. O espetáculo foi exibido no Teatro [[Firjan SESI|Firjan]] SESI Centro, na cidade do [[Rio de Janeiro]]. Neste espetáculo foram interpretadas diversas canções, sejam do período bossa novístico e do período que Nara inovou em outros gêneros musicais, como por exemplo o samba de raiz. Também foram mencionados diversos álbuns, como seu álbum de estréia. ''Nara'', de 1964.<ref name=":2">{{citar web|ultimo=Ferreira|primeiro=Mauro|url=https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2024/02/19/nara-leao-ganha-a-voz-de-zeze-polessa-em-musical-60-anos-apos-o-historico-primeiro-album-da-cantora.ghtml|título=Nara Leão ganha a voz de Zezé Polessa em musical, 60 anos após a edição do histórico primeiro álbum da cantora|data=19/02/2024|acessodata=13/05/2024|obra=g1globo.com}}</ref>[[Ficheiro:MusaNaraLeão.jpg|miniaturadaimagem|Nara Leão]]

O espetáculo foi encenado em formato de monólogo , onde são evocadas as lembranças da personagem e compartilhadas com o público a trajetória musical da cantora dramatizando e musicando momentos chave em sua carreira, inclusive a ruptura com o movimento da Bossa Nova, motivada por razões políticas por parte da cantora. Entre as diversas cenas é mostrada a ida para França, onde Nara gravou em 1971, em Paris o álbum ''Dez anos depois'', álbum duplo que a reconciliou com o repertório da Bossa Nova. Ao longo das cenas e das músicas de roteiro que inclui "[[Corcovado (canção)|Corcovado]]", "Diz que fui por aí" ([[Zé Keti|Zé Kétti]] e Hortênsio Rocha, 1964) , entre diversas canções de atuações em outros gêneros musicais e da própria Bossa Nova.<ref name=":4" />

== A Bossa Nova no Cinema ==
Esta seção lista alguns filmes onde a Bossa Nova é a temática principal do enredo e/ou também nos quais houve largo uso de seu repertório na sua trilha sonora.

==== ''Elis & Tom, Só tinha de ser com você'' ====
Em 2023 chegou às telas brasileiras o documentário "Elis & Tom, Só Tinha de ser com você". Dirigido por Jom Tob Azulay e Roberto de Oliveira, com roteiro de [[Nelson Motta]] e Roberto de Oliveira. O filme mostra o processo de gravação do disco "Elis & Tom", de 1974 no estúdio em Los Angeles com imagens guardadas por 50 anos<ref>{{citar web|ultimo=Cruz|primeiro=Felipe Branco|url=https://veja.abril.com.br/coluna/o-som-e-a-furia/documentario-musical-sobre-elis-regina-e-tom-jobim-estreia-no-streaming|titulo=Documentário musical sobre Elis Regina e Tom Jobim estreia no streaming|data=15/11/2023|acessodata=17/05/2024|website=Revista Veja - O Som e a Fúria|urlmorta=não}}</ref><ref>{{Citar web|ultimo=Pimentel|primeiro=Guilherme|url=https://g1.globo.com/guia/guia-sp/noticia/2023/09/21/elis-and-tom-documentario-que-estreia-nesta-quinta-conta-bastidores-de-parceria-entre-dois-icones-da-mpb.ghtml|titulo=Elis & Tom: documentário que estreia nesta quinta conta bastidores de parceria entre dois ícones da MPB|data=2023-09-21|acessodata=2024-05-28|website=G1.globo.com|lingua=pt-br}}</ref>. Os músicos que participaram foram:

* Antonio Carlos Jobim - piano, vocal, violão

* [[César Camargo Mariano]] - piano elétrico, piano e arranjos

* [[Hélio Delmiro]] - guitarra elétrica, violão
* [[Oscar Castro-Neves]] - violão
* [[Luizão Maia]] - baixo
* [[Paulo Braga]] - bateria
* [[Chico Batera]] - percussão
* Bill Hitchcock - regência
* [[Hubert Laws]] e [[Jerome Richardson]] - flautas
* [[Aloísio de Oliveira]] - produção

==== ''Onde está você João Gilberto'' ====
É um Documentário de 2018 dirigido por Georges Gachot que é Inspirado no livro ''HO-BA-LA-LÁ - À Procura de João Gilberto'', do escritor alemão Marc Fischer, jornalista alemão que tentou se encontrar com o pai da bossa nova. O cineasta francês Georges Gachot decide refazer os passos do autor no Rio de Janeiro em busca do recluso ícone da música brasileira. Contou com a participação de Miucha, Georges Gachot, João Donato, Marcos Valle.<ref name=":5" /><ref>{{Citar web|ultimo=Redação Folha Vitória|primeiro=|url=https://www.folhavitoria.com.br/entretenimento/noticia/06/2018/onde-esta-voce--joao-gilberto-abre-10-in-edit|titulo=Entretenimento e cultura 'Onde Está Você, João Gilberto?' abre 10º In-Edit|data=2018-06-06|acessodata=2024-05-28|website=Folha Vitória|lingua=pt-br}}</ref>


==== ''[[Os Desafinados|Os desafinados]]'' ====
No [[Rock Brasileiro|''rock'' brasileiro]], há de se destacar tanto a regravação da composição de [[Lobão (músico)|Lobão]], ''Me chama'', pelo músico bossa-novista [[João Gilberto]], em 1986, além da famosa música do cantor Cazuza composta por ele e outros músicos, ''Faz parte do meu show'', gravada em 1988, com arranjos fortemente inspirados na bossa nova.
Filme produzido em 2006 e lançado em 2008, dirigido por [[Walter Lima Jr.]]. Narra a trajetória de um grupo de jovens músicos e compositores que, na década de 60, partiu para Nova York buscando a realização do sonho do sucesso. Juntos, estes músicos formam o projeto musical Bossa Cinco. Teve como estrelas centrais os atores [[Aílton Graça|Ailton Graça]], [[Alessandra Negrini]], André Moraes, [[Angelo Paes Leme|Ângelo Paes Leme]], [[Cláudia Abreu]], [[Jair Oliveira]], [[Michel Bercovitch]], [[Rodrigo Santoro]], [[Selton Mello]] e [[Vanessa Gerbelli]].<ref>{{Citar web|ultimo=Bartolomei|primeiro=Sérgio|url=https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0505200512.htm|titulo=Folha de S.Paulo - Cinema: "Os Desafinados" leva a bossa nova à tela|data=05/05/2005|acessodata=28/05/2024|website=www1.folha.uol.com.br}}</ref><ref>{{citar web|ultimo=Adoro Cinema|primeiro=|url=https://www.adorocinema.com/filmes/filme-146094/|titulo=Os Desafinados - Filme 2008|data=29/08/2008|acessodata=28/05/2024|website=Adoro cinema}}</ref>


==== ''[[Bossa Nova (filme)|Bossa Nova]]'' ====
Seu legado é valioso, deixando várias joias da música nacional, dentre as quais ''[[Chega de Saudade]]'', ''[[Garota de Ipanema]]'', ''[[Desafinado]]'', ''O barquinho'', ''Eu Sei Que Vou Te Amar'', ''Se Todos Fossem Iguais A Você'', ''[[Águas de Março]]'', ''Outra Vez'', ''Coisa mais linda'', ''Corcovado'', ''Insensatez'', ''Maria Ninguém'', ''[[Samba de uma nota só]]'', ''O pato'', ''Lobo Bobo'', ''Saudade fez um Samba, Bossa Nova''
Comédia romântica de 2000, dirigida por Bruno Barreto com roteiro baseado no romance ''Miss Simpson'' de [[Sérgio Sant'Anna]], e roteirizado por [[Alexandre Machado (roteirista)|Alexandre Machado]], [[Fernanda Young]] e [[Sérgio Sant'Anna]]. Teve como estrelas centrais os atores [[Amy Irving|Amy Irving,]] [[Antônio Fagundes|Antônio Fagundes,]] [[Débora Bloch]], [[Alexandre Borges|Alexandre Borges,]] [[Drica Moraes|Drica Moraes,]] [[Pedro Cardoso|Pedro Cardoso,]] [[Giovanna Antonelli|Giovanna Antonelli,]] [[Rogério Cardoso]] e [[Stephen Tobolowsky]].<ref>{{Citar web|ultimo=Lima|primeiro=Karina|url=https://www.fundacaodecultura.ms.gov.br/cinecafe-exibe-filme-bossa-nova-no-mis/|titulo=CineCafé exibe filme Bossa Nova no MIS|data=04/09/2019|acessodata=28/05/2024|website=www.fundacaodecultura.ms.gov.br}}</ref><ref>{{Citar web|ultimo=Globo Filmes|primeiro=|url=https://globofilmes.globo.com/filmografia/comedia-romantica/filme/bossanova.ghtml|titulo=Catálogo comédia romântica Bossa Nova|data=2000-04-28|acessodata=2024-05-28|website=globofilmes|lingua=pt-br}}</ref><ref>{{citar web|ultimo=Adoro Cinema|primeiro=|url=https://www.adorocinema.com/filmes/filme-30063/|titulo=Bossa Nova - Filme 2000|data=31/03/2000|acessodata=28/05/2024|website=adorocinema.com}}</ref><ref>{{Citar web|ultimo=Menezes|primeiro=Cynara|url=https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq3103200029.htm|titulo=Na bossa nova globalizada|data=31/03/2000|acessodata=2024-05-28|website=www1.folha.uol.com.br}}</ref>


==Ver também ==
==Ver também ==
* [[Samba]]
*[[Sambalanço]]
* ''[[Jazz]]rock''
*''[[Blues]]''


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Revisão das 16h45min de 26 de junho de 2024

Bossa nova
Bossa nova
Vinicius de Moraes e Baden Powell no Teatro da Praia
Origens estilísticas
Contexto cultural Final da década de 1950 na Zona Sul do Rio de Janeiro
Instrumentos típicos
Popularidade Amplamente conhecido no Brasil; também significativo nos Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão
Formas derivadas

Bossa nova é o gênero musical resultante de um movimento de transformação do samba irradiado a partir da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro no final da década de 1950 e que, por conseguinte, passou a dar nome ao estilo de interpretação e acompanhamento rítmico dele surgido, que ficou conhecido como “batida diferente”.[nota 1] De acordo com o musicólogo Gilberto Mendes, a vertente era uma das “três fases rítmicas do samba”, na qual a "batida" da bossa havia sido extraída a partir do "samba de raiz".[nota 2] Segundo o jornalista Ruy Castro, a bossa nova era uma simplificação extrema da batida da escola de samba”, como se dela tivessem sido retirados todos os instrumentos e conservado apenas o tamborim.[nota 3]

A Bossa Nova enquanto movimento ficou fortemente associada ao crescimento urbano brasileiro — impulsionado pela fase desenvolvimentista do Governo Juscelino Kubitschek.[2] Suas letras abordavam temáticas leves e descompromissadas, contrastando com as letras dos sucessos de rádio da época, em que prevaleciam os chamados sambas de fossa.[3] A forma de cantar também se diferenciava da que se tinha na época. Segundo o maestro Júlio Medaglia, "desenvolver-se-ia a prática do canto-falado ou do cantar baixinho, do texto bem pronunciado, do tom coloquial da narrativa musical, do acompanhamento e canto integrando-se mutuamente, em lugar da valorização da 'grande voz'".[4]

As figuras centrais do movimento Bossa Nova são Antônio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes e João Gilberto. O único show ("O Encontro") que reuniu este trio aconteceu em 1962, na boate carioca Au Bon Gourmet que também teve a participação do quarteto vocal Os Cariocas e do baterista Milton Banana.[5] A estreia foi em 2 de agosto de 1962 e a temporada durou seis semanas. Neste show aconteceu a primeira audição da música "Garota de Ipanema".[6]

Outros nomes fundamentais da bossa nova são João Donato, Carlos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, Nara Leão, Luiz Bonfá, Sérgio Ricardo, Oscar Castro-Neves, Baden Powell, Durval Ferreira, Alaíde Costa, Leny Andrade e Newton Mendonça.[7]

Origens

A palavra "bossa" apareceu pela primeira vez na década de 1930, em "Coisas Nossas", samba de Noel Rosa: "O samba, a prontidão/e outras bossas,/são nossas coisas (...)".[8] A expressão "bossa nova" passou a ser utilizada também na década seguinte para aqueles sambas de breque, baseado no talento de improvisar paradas súbitas durante a música para encaixar falas.[8]

Alguns críticos musicais destacam uma certa influência que a cultura americana do pós-guerra,[nota 4] de músicos como Stan Kenton, combinada ao impressionismo erudito, de Debussy e Ravel, teve na bossa nova, especialmente do cool jazz. Embora tenha influência da música estrangeira, a bossa nova possui elementos de samba sincopado.[10] Além disso, havia um inconformismo com a temática das letras dos sambas-canções da época, os chamados sambas de fossa, que não eram adequados para uma juventude que vivia na praia e não nas boates sem janelas.[11]

Precursores da Bossa Nova

Os cantores Dick Farney e Lúcio Alves, que fizeram sucesso nos anos da década de 1950 com um jeito suave e minimalista de cantar - em oposição a cantores de grande potência sonora de gerações anteriores como Vicente Celestino, Nelson Gonçalves, Silvio Caldas e Dorival Caymmi - foram influências nos futuros artistas da bossa nova.[12]

Dick Farney tocou piano na orquestra de Carlos Machado no Cassino da Urca e gravou a música "Copacabana" em julho de 1946, aos 25 anos. Com seu piano jazzístico passou dois anos e meio tocando nos Estados Unidos. Retornou ao Brasil em dezembro de 1948. Após sua volta foi fundado o Sinatra-Farney Fan Club, clube que segundo o escritor Ruy Castro foi uma espécie de manjedoura para a bossa nova, já que foi frequentado por muitos futuros destaques do movimento, exceto Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Luis Bonfá e Billy Blanco. Em 1949 um grupo fundou o Dick Haymes-Lúcio Alves Fan Club. Haymes era um crooner de Big Bands norte americanas e Lúcio Alves era crooner, violonista e arranjador vocal de seu grupo Os Namorados da Lua. Alves também tinha um jeito suave de cantar e como Farney também tentou fazer carreira nos EUA por um ano. Ao voltar ao Brasil, retomou sua carreira como cantor independente.[13]

Completando os precursores da Bossa Nova, Johnny Alf foi pianista da boate Plaza - Copacabana, em 1954 e já tocava suas composições autorais como "Rapaz de Bem", "Céu e Mar", "O que é amar", entre outras, segundo Ruy Castro, predecessoras da Bossa Nova. Como a boate era pouco frequentada, os músicos mais jovens faziam romaria para ouví-lo e também fazer experimentações. Entre eles estavam Tom Jobim, João Donato, João Gilberto, Lúcio Alves, Dick Farney, Dolores Duran, Paulo Moura, Baden Powell, Carlos Lyra, Sylvinha Telles, Luiz Eça e Mauricio Einhorn. Como Alf aceitou uma proposta para trabalhar em São Paulo, não participou da explosão do movimento Bossa Nova que teve seu ponto de partida no Rio de Janeiro.[13]

O espírito bossa-novista já se encontrava na música que Jobim e Moraes fizeram, em 1956, para a peça Orfeu da Conceição, primeira parceria da dupla, que esteve perto de não acontecer, uma vez que Vinícius primeiro entrou em contato com Vadico, o famoso parceiro de Noel Rosa e ex-membro do Bando da Lua, para fazer a trilha sonora. É dessa peça, baseada na tragédia Grega Orfeu, uma das belas composições de Tom e Vinícius, "Se todos fossem iguais a você", já prenunciando os elementos melódicos da bossa nova.[14]

Um embrião do movimento, no final da década de 1950, eram as reuniões casuais, frutos de encontros de um grupo de músicos da classe média carioca em apartamentos da zona sul, como o de Nara Leão, na Avenida Atlântica, em Copacabana. Nestes encontros, cada vez mais frequentes, a partir de 1957, um grupo se reunia para fazer e ouvir música. Dentre os participantes estavam novos compositores da música brasileira, como Billy Blanco, Carlos Lyra, Roberto Menescal e Sérgio Ricardo, entre outros. O grupo foi aumentando, abraçando também Chico Feitosa, João Gilberto, Luiz Carlos Vinhas, Ronaldo Bôscoli entre outros.[15][16]

Nara Leão trabalhou por um curto período no jornal Última Hora, de seu cunhado Samuel Wainer. Lá conheceu Moisés Fuks, editor do Tablóide UH e também diretor artístico do Clube Universitário Hebraico do Brasil. Em uma reunião no apartamento de Nara, Fuks propõe a Ronaldo Bôscoli uma apresentação no Clube Hebraico, no Flamengo.[17] No primeiro semestre de 1958 aconteceu a primeira apresentação pública do que viria a ser a bossa nova. A divulgação desse evento também tem parte na origem do nome do movimento. Uma secretária da instituição, responsável pela criação de cartazes de divulgação do show, divulgou-o como “Sylvinha Telles e um grupo bossa-nova”, visto que o conjunto não tinha um nome.[18]

Início oficial

Elizeth Cardoso

O marco inicial da bossa nova foi o lançamento da música "Chega de Saudade", de autoria de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, lançada originalmente por Elizeth Cardoso em abril de 1958, em seu álbum Canção do Amor Demais. Convidado por Jobim, João Gilberto tocou violão nessa faixa e em "Outra Vez" (Tom Jobim).[19][20]

Canção do Amor Demais não foi um sucesso de vendas ao ser lançado pelo pequeno selo Festa, um selo não-comercial que não tinha sequer departamento de divulgação e dependia de outras gravadoras para ter os seus disco prensados e distribuídos. É considerado um disco histórico pelas primeiras gravações da batida de violão de bossa nova e pelo seu repertório, só de canções da dupla recém formada, Jobim e Vinícius.[13]

Apesar da batida de violão presente na gravação da Elizeth, foi com a versão de Chega de Saudade por João Gilberto, lançada em agosto de 1958, que a revolução da bossa nova se completou: um modo diferente de cantar, sem vibrato, quase falado, e uma forma inovadora de se tocar bateria no samba, usando apenas o contratempo e a caixa, tocada por vassourinhas.[3]

Tom Jobim afirmou que considerava Chega de Saudade, composta dois anos antes de ser gravada, uma canção ligada ao estilo tradicional de compor, com modulações clássicas que já existiam na música brasileira há muito tempo, e que a própria introdução da música, com flauta e violão, lembrava os conjuntos regionais.[21]

O compacto seguinte gravado por João Gilberto e lançado em fevereiro de 1959 trazia a música "Desafinado" (Tom Jobim/Newton Mendonça), uma composição já inspirada por essa forma inovadora de cantar e tocar, uma composição bossa nova, e essa expressão está presente na letra, o que ajudou a divulgá-la. Essa gravação de João Gilberto mostra um jogo rítmico inovador entre o canto, o violão e a bateria.[5]

Além de um gênero musical, bossa nova é um estilo, uma maneira de cantar, tocar e harmonizar, que pode ser aplicado a composições de outros gêneros. [5] Isso está demonstrado no primeiro LP de João Gilberto, Chega de Saudade, lançado em abril de 1959, em que composições bossanovísticas como "Saudade Fez um Samba" (Lyra/Bôscoli) e "Brigas Nunca Mais" (Tom/Vinícius) estão ao lado de sambas tradicionais como “Rosa Morena” (de Dorival Caymmi), “Morena Boca de Ouro”, de Ary Barroso, “Aos Pés da Cruz” (de Marino Pinto e Zé da Zilda) e “É Luxo Só” (de Ary Barroso e Luís Peixoto),[22] todos interpretados na nova forma de cantar e tocar de João Gilberto.[13]

Segundo o historiador de música popular brasileira Jairo Severiano, os três LPs que João Gilberto gravou na Odeon, Chega de saudade (1959), O amor, o sorriso e flor (1960) e João Gilberto (1961), constituem um documento sobre a Bossa Nova.[5]

Período áureo

Durante as décadas de 1940 e 1950 a música brasileira estava se modernizando, em termos harmônicos e melódicos, mas a chegada do ritmo novo na batida de violão de João Gilberto foi o estopim para a revolução que se chamou bossa nova. Segundo Tom Jobim, a chegada de João trouxe novas perspectivas para a música brasileira, pois o ritmo é um fator vital.[3]

Jobim escreveu o texto na contracapa do disco Chega de Saudade que João Gilberto era um baiano "Bossa Nova" (grifo do texto original) que em pouco tempo tinha influenciado toda uma geração de músicos, e é a primeira vez que esse termo é utilizado num disco brasileiro. Músicos da geração seguinte e que na época eram adolescentes, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Edu Lobo e Gilberto Gil, foram impactados com a chegada da bossa nova e isso influenciou na escolha profissional deles.[3]

Tom Jobim e Newton Mendonça escreveram juntos, letra e música, dois manifestos musicais da bossa nova, "Desafinado" e "Samba de uma nota só", lançados respectivamente no primeiro e no segundo LP de João Gilberto. Na letra de "Desafinado" a expressão bossa nova é citada como substantivo e não como adjetivo, o que ajudou a popularizar o termo.[18] Essa canção tem caminhos harmônicos e melódicos complexos, o que não a impediu de se transformar num grande sucesso nacional e também num standard de jazz.[23] Já "Samba de uma nota só" se caracteriza pela economia de notas na melodia com uma sequência de acordes dissonantes que harmonizam a mesma nota, em cada acorde a nota da melodia está fazendo uma função diferente. Essas duas canções são como os lados diferentes de uma mesma moeda, segundo Pedro Bustamante Teixeira.[24]

Ruy Castro chama este período de "o grande feriado”,[18] no qual as canções da bossa nova se popularizaram entre os jovens e fez do violão o instrumento que todos os jovens queriam tocar. As academias de violão se multiplicaram pela zona sul do Rio de Janeiro, e as mais concorridas eram dos bossanovistas Carlos Lyra e Roberto Menescal.[25]

Ronaldo Bôscoli era jornalista e trabalhava na Revista Manchete e é considerado um dos responsáveis pela divulgação da então moderna música carioca. Ele teve a ideia de levar os shows ainda amadores para faculdades e colégios, para divulgar esse movimento entre os jovens, mas o nome bossa nova ainda não estava consolidado. Após o primeiro show no Centro Universitário Hebraico foi realizada na Escola Naval do Rio de Janeiro a Segunda Samba Session, ou Segundo Comando da Operação Bossa Nova. Nesse show a cantora Nara Leão se apresentou em público pela pela primeira vez, e o show contou com a participação de cantoras como Alaíde Costa e Norma Bengell e cantores e músicos como Lúcio Alves, Oscar Castro Neves e Luis Eça.[3]

Sylvia Telles foi uma das primeiras cantoras a gravar as músicas de bossa nova e em 1959 lançou dois LP´s num intervalo de apenas 4 meses, e das 24 canções gravadas 18 eram do Tom Jobim, que se transformou no compositor mais gravado no Brasil do fim dos anos 1950.[18] Em 1961 a cantora Maysa, uma das cantoras mais importantes da época e ligada ao samba-canção de fossa, gravou o disco O Barquinho, que lançou a música de mesmo nome composta por Menescal e Ronaldo Bôscoli e ajudou a divulgar nacionalmente a bossa nova.[26]

A bossa nova encontrou refúgio numa travessa sem saída da Rua Duvivier, em Copacabana, que foi apelidada pelo jornalista Sérgio Porto de Beco das Garrafadas, nome depois simplificado para Beco das Garrafas. Lá surgiu um tipo diferente de bossa nova, menos intimista, que passou a ser conhecido como Samba Jazz, ou Hard Bossa Nova, em pocket shows muitas vezes dirigidos pela dupla Miéle e Bôscoli. No Beco surgiram grupos como Tamba Trio, de Luiz Eça, Bossa Três, de Luís Carlos Vinhas, Sexteto de Sérgio Mendes, Copa Cinco de J.T. Meirelles e Quinteto Bottle's, de Tenório Júnior.[18][27]

Em 1962, Tom Jobim e Vinícius de Moraes compuseram "Garota de Ipanema", talvez a mais representativa canção da bossa nova, que se tornou a canção brasileira mais conhecida em todo o mundo, junto com "Aquarela do Brasil" (Ary Barroso), com mais de 169 gravações, entre as quais de Sarah Vaughan, Stan Getz, Frank Sinatra (com Tom Jobim), Ella Fitzgerald entre outros.[28] "Garota de Ipanema", junto com outras canções compostas pela dupla nesse ano de 1962, foram as últimas músicas dessa parceria tão fundamental para a música brasileira.[18]

O produtor Aloysio de Oliveira, responsável pela gravação dos primeiros discos de João Gilberto na gravadora Odeon, montou a sua própria gravadora, a Elenco, em 1963. Esse selo foi o responsável por lançar os primeiros LP's de artistas como Vinícius de Moraes, Nara Leão, Roberto Menescal e Baden Powell. A Elenco ficou marcada também pela estética minimalista das suas capas, quase sempre com fotos de Chico Pereira em preto e branco e processadas em alto contraste por César Vilela, diretor de arte, que afirmou que essa economia estética se devia, também, à falta de dinheiro na gravadora.[29]

No mesmo ano de 1963, Carlos Lyra e Vinícius de Moraes escreveram a comédia musical “Pobre Menina Rica”, e antes de montá-la num teatro, apresentaram as canções em um show chamado Trailer, com a Nara Leão cantando as músicas que caberiam à personagem que dá título à peça. Algumas letras do musical já apontavam para um outro caminho temático, com conteúdo mais político, como “Comedor de gilete” e “Maria Moita”, que já não cabiam nos cânones bossanovísticos do amor, do sorriso e da flor.[30]

Antes do fim do período áureo da bossa nova surgiu ainda uma segunda geração do movimento, artistas que traziam novos elementos musicais, alguns mais ligados aos gêneros nacionais e outros já com influências do pop internacional. São dessa segunda geração nomes como Edu Lobo, Marcos Valle, Eumir Deodato, Wanda Sá, Francis Hime e Dori Caymmi.[31][32]

Internacionalização

João Gilberto e Stan Getz em Nova York (1972).

A bossa nova experimentou uma projeção internacional em escala jamais vista com outra vertente da música popular brasileira.[1] Em 1962, o saxofonista Stan Getz em conjunto com o guitarrista Charlie Byrd lançaram o LP Jazz Samba, o que chamou a atenção do meio musical nos Estados Unidos para a bossa nova. Naquele mesmo ano, um concerto no Carnegie Hall de Nova York, que reuniu Tom Jobim e João Gilberto, entre outros, abriu de vez as portas do mundo para o estilo.[33][34] Com o lançamento em 1964 do LP Getz/Gilberto, parceria entre o violonista brasileiro e o saxofonista americano, tornou a vertente conhecida mundialmente, além de arrebatar o Grammy Award para álbum do ano de 1965. A versão cantada por Astrud Gilberto de "The Girl from Ipanema" ganhou o prêmio de melhor gravação no Grammy desse mesmo ano, e foi a primeira vez que uma mulher ganhou esse prêmio.[35] Em 1967, Frank Sinatra gravou essa música no disco Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim, com arranjo de Claus Ogerman.[36]

A parceria de Ogerman e Jobim foi importante para estabelecer a sonoridade bossa nova. Para seu primeiro disco a ser gravado nos EUA, The Composer of Desafinado Plays, Jobim gostaria que a gravadora contratasse Nelson Riddle, o arranjador de Sinatra. Entretanto, o produtor Creed Taylor designou o alemão Claus Ogerman para o trabalho. Inicialmente desconfiado, Jobim mudou de ideia após ouvir o primeiro arranjo, tanto que estabeleceu esta parceria pelos próximos 17 anos. Entre 1963 e 1980, Ogerman escreveu os arranjos de 7 LPs de Tom Jobim. Também escreveu para discos de Astrud Gilberto e João Donato e fez os arranjos do disco Amoroso de João Gilberto. Desta forma, contribuiu para a formatação sonora fonográfica da bossa nova, deixando sua assinatura - que tem entre seus traços, a economia rítmica, escolha particular da instrumentação, distribuição de vozes e harmonização característica de cordas e madeiras. Claus fez a arregimentação dos músicos do primeiro LP de Jobim nos Estados Unidos, a única exigência de Tom foi que o baterista fosse brasileiro,Édson Machado, afinal, o padrão rítmico é fator primordial e determinante de gênero. Sendo uma novidade musical vinda de outro país, a música não teria resultado satisfatório com um baterista norte americano às baquetas.[37]

Da bossa nova à MPB

Vinicius de Moraes, principal letrista de canções da bossa nova a partir de "Chega de Saudade", composição feita com Tom Jobim em 1958 e que consagrou o estilo.

No fim da década de 1950 Carlos Lyra trabalhou em São Paulo com o Teatro de Arena, participando das montagens de peças de dramaturgos e diretores como Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri.[30] Junto com Oduvaldo Viana Filho, Leon Hirzman e Ferreira Gullar, participou da fundação do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes, o CPC da UNE. Como diretor musical do CPC, a ideia do Carlos Lyra era levar a bossa nova para as ruas, mas também levar a música do povo para a classe média universitária.[38] Com o apoio de Sérgio Cabral, ao mesmo tempo um intelectual da zona sul carioca e uma pessoa com trânsito com os então chamados sambistas de morro, o CPC promoveu shows de sambistas como Cartola, Nelson Cavaquinho, Ismael Silva e Zé Keti, artistas que estavam à época ignorados pelas gravadoras e pela grande mídia.[39]

Carlos Lyra promoveu reuniões em sua casa com esses sambistas e gravou fitas com o repertório dos mesmos. Fitas que foram repassadas por ele para Nara Leão, durante a escolha do repertório para o seu primeiro disco, Nara.[30][17] Nara estava próxima dos cineastas do Cinema Novo, que deram a ela uma nova consciência social. O repertório dos primeiros discos da Nara expressam a busca da artista por temáticas mais nacionalistas e distantes do lirismo da bossa nova, ainda que, formalmente, a sonoridade ainda seja bossa-novista.[18]

Nos seus dois primeiros discos, Nara gravou composições de uma nova parceria de Vinícius de Moraes, com o violonista Baden Powell. “Berimbau”, “Consolação” e “Labareda” são composições pós-bossa nova, que foram classificadas como afro-sambas, pelas suas sonoridades afro e as suas letras com temáticas das igrejas de matriz africana.[40] Essas canções são reunidas em 1966 no LP Os Afro-sambas, de Baden e Vinícius, com participação do Quarteto em Cy.[41]

Em 1965 é realizado o primeiro festival de música popular brasileira promovido e divulgado por uma emissora da televisão, a TV Excelsior. O idealizador do festival, Solano Ribeiro, era um produtor de espetáculos em São Paulo contratado da Excelsior e que quis levar para a televisão a nova música brasileira que surgia nos bares e em shows universitários.[42] A grande vencedora foi "Arrastão", de Vinícius de Moraes e Edu Lobo e interpretada por Elis Regina, uma canção que mescla a influência da bossa nova com a aspereza da música nordestina.[5] Era o início do que se rotularia MPB, gênero difuso que abarcaria diversas tendências da música brasileira.[43][44][45]

Legado

Com a internacionalização, através do êxito nos Estados Unidos que a exportou para o resto do mundo, a bossa nova se tornou referência em escala global.[46]

Em meados dos anos 80 surgiu na Europa a New Bossa, em trabalhos da cantora nigeriana Sade Adu e em grupos como Matt Bianco e Style Council.[47] Nos anos 90, através de DJ´s como Joe Davis e Gilles Peterson, a bossa ressurgiu integrada com o drum´n´bass e artistas como Marcos Valle, Joyce Moreno a o grupo Azymuth passaram a dialogar com novas gerações com novos discos e turnês constantes.[48][49] [50]

Novos artistas brasileiros com trabalhos muito inspirados em bossa nova fizeram trabalhos de repercussão internacional na virada para o século XXI, e o mais bem sucedido comercialmente foi o de Bebel Gilberto, filha de João Gilberto e da cantora Miúcha, que vendeu mais de um milhão de discos com o seu CD Tanto Tempo.[51] O grupo Bossacucanova (que tem entre os seus integrantes Marcio Menescal, filho de Roberto Menescal)[52], a cantora Fernanda Porto e o DJ Patife também mesclaram a bossa nova com o drum´n´bass e tiveram boa aceitação nos EUA e na Europa no início dos anos 2000.[53]

Cantoras internacionais surgidas já no século XXI também são diretamente influenciadas pela bossa nova, como é o caso da canadense Diana Krall, que convidou o Claus Ogerman, o arranjador de Jobim e João Gilberto, para escrever arranjos bossanovísticos para seus discos.[54] A norte americana de ascendência francesa, Stacey Kent, grava com frequência músicas brasileiras, especialmente bossa novas, e já gravou com Marcos Valle, Roberto Menescal e Danilo Caymmi.[55][56]

A bossa nova começou a perder espaço no Brasil no meio da década de 1960, especialmente a partir do golpe militar de 1964 e por conseguinte o surgimento das canções de protesto.[57] Os ambientes agitados e barulhentos dos festivais de música na televisão, com compositores concorrendo por altos prêmios em dinheiro, também não eram lugares ideias para a sonoridade bossanovística. Tom Jobim e João Gilberto ficaram muitos anos gravando discos fora do Brasil, e músicos como Oscar Castro Neves, Sérgio Mendes e Eumir Deodato jamais voltaram a morar no Brasil.[18]

Entre o fim dos anos 1960 e até o fim da década de 1980 a bossa nova apareceu em raros momentos na parada de sucessos, como na gravação de João Gilberto de "Wave" (Jobim), que fez parte da trilha sonora da novela Água Viva, exibida a partir de agosto de 1980 na TV Globo. Durante os anos do rock brasileiro, há de se destacar tanto a regravação da composição de Lobão, "Me chama", por João Gilberto[58] em 1986, quanto a canção "Faz parte do meu show", composta por Cazuza e Renato Ladeira, e gravada em 1988, com arranjo inspirado na bossa nova e com o violão fazendo a tradicional batida.[59]

Sob encomenda de uma gravadora do Japão, Roberto Menescal produziu, com a então cantora iniciante Leila Pinheiro, o disco Benção, Bossa Nova, que foi lançado no Brasil em 1989 e vendeu a marca considerável de 300 mil cópias.[60] O número é muito relevante, pois João Gilberto só conseguiu ultrapassar 100 mil cópias vendidas no seu álbum de 1991, João.[61] Em 1990 o escritor Ruy Castro lançou o livro Chega de Saudade, considerado a bíblia do movimento, com a história da bossa nova escrita como uma biografia romanceada, que vendeu muitos livros e reacendeu o interesse do público brasileiro pelo movimento.[62][20]

A bossa nova segue ainda viva no século XXI: em 2021 a cantora Anitta lançcou o single Girl from Rio, que usava um sample de "Garota de Ipanema" e misturava no clipe o Rio de Janeiro estereotipado da época da bossa nova nos anos 1960 com a realidade do subúrbio em que a cantora cresceu.[63]

A cantora pop Luisa Sonza lançou em 2023 a música "Chico", com uma atmosfera que remetia à bossa nova e causou polêmica nas redes sociais e na mídia, que procurou experts para saber se a canção poderia ser classificada como uma legítima bossa. Roberto Menescal, um dos papas do movimento, defendia a tese de que poderia ser, e depois fez a produção musical da versão em inglês, dando definitivamente o seu aval.[64] [65]. Em 2024 um jovem cantor e compositor paulistano, Will Santt, lançou um disco com declarada influência de João Gilberto, depois de ter amealhado fãs pelo mundo cantando bossa nova em vídeos postados em rede sociais.[66]

A Bossa Nova no teatro

Tom & Vinícius

A peça de teatro intitulada Tom & Vinicius – o Musical, foi encenada de 09 a 12 de 2008. Estrelado por Marcelo Serrado, escrito por Daniela Pereira de Carvalho e Eucanaã Ferraz e dirigido por Daniel Herz. A direção musical foi de Josimar Carneiro[67][68]

Nara

Nara Leão rejeitava o título de "Musa da Bossa Nova" que foi atribuído a ela. Dada sua influência, obtida através da presença constante na atuação e inovação nas parcerias musicais e sua postura engajada.[69]

Ainda assim, passados 35 anos de seu falecimento, sua contribuição para a Bossa Nova, se desdobrou em um espetáculo teatral em 29 de Fevereiro de 2024, que contou com Zezé Polessa na interpretação do papel da cantora, sob direção teatral de Miguel Falabella e direção musical de Josimar Carneiro. O espetáculo foi exibido no Teatro Firjan SESI Centro, na cidade do Rio de Janeiro. Neste espetáculo foram interpretadas diversas canções, sejam do período bossa novístico e do período que Nara inovou em outros gêneros musicais, como por exemplo o samba de raiz. Também foram mencionados diversos álbuns, como seu álbum de estréia. Nara, de 1964.[70]

Nara Leão

O espetáculo foi encenado em formato de monólogo , onde são evocadas as lembranças da personagem e compartilhadas com o público a trajetória musical da cantora dramatizando e musicando momentos chave em sua carreira, inclusive a ruptura com o movimento da Bossa Nova, motivada por razões políticas por parte da cantora. Entre as diversas cenas é mostrada a ida para França, onde Nara gravou em 1971, em Paris o álbum Dez anos depois, álbum duplo que a reconciliou com o repertório da Bossa Nova. Ao longo das cenas e das músicas de roteiro que inclui "Corcovado", "Diz que fui por aí" (Zé Kétti e Hortênsio Rocha, 1964) , entre diversas canções de atuações em outros gêneros musicais e da própria Bossa Nova.[35]

A Bossa Nova no Cinema

Esta seção lista alguns filmes onde a Bossa Nova é a temática principal do enredo e/ou também nos quais houve largo uso de seu repertório na sua trilha sonora.

Elis & Tom, Só tinha de ser com você

Em 2023 chegou às telas brasileiras o documentário "Elis & Tom, Só Tinha de ser com você". Dirigido por Jom Tob Azulay e Roberto de Oliveira, com roteiro de Nelson Motta e Roberto de Oliveira. O filme mostra o processo de gravação do disco "Elis & Tom", de 1974 no estúdio em Los Angeles com imagens guardadas por 50 anos[71][72]. Os músicos que participaram foram:

  • Antonio Carlos Jobim - piano, vocal, violão

Onde está você João Gilberto

É um Documentário de 2018 dirigido por Georges Gachot que é Inspirado no livro HO-BA-LA-LÁ - À Procura de João Gilberto, do escritor alemão Marc Fischer, jornalista alemão que tentou se encontrar com o pai da bossa nova. O cineasta francês Georges Gachot decide refazer os passos do autor no Rio de Janeiro em busca do recluso ícone da música brasileira. Contou com a participação de Miucha, Georges Gachot, João Donato, Marcos Valle.[12][73]

Filme produzido em 2006 e lançado em 2008, dirigido por Walter Lima Jr.. Narra a trajetória de um grupo de jovens músicos e compositores que, na década de 60, partiu para Nova York buscando a realização do sonho do sucesso. Juntos, estes músicos formam o projeto musical Bossa Cinco. Teve como estrelas centrais os atores Ailton Graça, Alessandra Negrini, André Moraes, Ângelo Paes Leme, Cláudia Abreu, Jair Oliveira, Michel Bercovitch, Rodrigo Santoro, Selton Mello e Vanessa Gerbelli.[74][75]

Comédia romântica de 2000, dirigida por Bruno Barreto com roteiro baseado no romance Miss Simpson de Sérgio Sant'Anna, e roteirizado por Alexandre Machado, Fernanda Young e Sérgio Sant'Anna. Teve como estrelas centrais os atores Amy Irving, Antônio Fagundes, Débora Bloch, Alexandre Borges, Drica Moraes, Pedro Cardoso, Giovanna Antonelli, Rogério Cardoso e Stephen Tobolowsky.[76][77][78][79]

Ver também

Notas

  1. "Ressalte-se que o acompanhamento rítmico do samba em estilo bossa-nova caracteriza-se pela “batida diferente” expressa em um tipo de sincopação não ortodoxo, o que levou, por exemplo, o compositor Cartola a assim se expressar sobre um de seus encontros musicais com o jovem colega Carlos Lyra: “Há um pouco de dificuldade tanto pra ele no antigo quanto para mim no moderno” (cf. Carvalho, 1986: 39). A “batida” da bossa nova, então, é característica de um estilo e não de um gênero autônomo."[1]
  2. "A primeira foi aquela, herdeira da habanera, que deu os “tanguinhos” de Ernesto Nazareth; a segunda, a do “samba de morro carioca”; e a terceira, a potencialização extraída por João Gilberto do samba de morro e do samba folclórico, para criar a “batida” de violão característica da bossa nova."[1]
  3. "Segundo Ruy Castro (2008: 9), a batida da bossa nova foi lançada nacionalmente em 1958 pelo baterista Milton Banana."[1]
  4. De acordo com o sambista e pesquisador Nei Lopes, desde o final da Segunda Guerra Mundial, elementos de bebop e boogie-woogie já vinham sendo incorporados ao samba[9]

Referências

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Bibliografia

Ligações externas

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