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Massacre do Paralelo 11

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O Massacre do Paralelo 11 ocorreu em 1963, quando homens contratados por uma empresa de extração de borracha mataram trinta membros do povo indígena Cinta Larga da Amazônia e destruíram sua aldeia.[1][2] Apenas dois aldeões sobreviveram ao massacre.[1] O massacre foi parte do genocídio maior e contínuo dos povos indígenas no Brasil.

Contexto histórico

No final do século 19, houve um boom da borracha na Amazônia. Isso foi um desastre para as tribos indígenas da região, pois eram usadas como mão-de-obra escrava nas plantações de seringueiras.[3] A população indígena diminuiu em 90% conforme morriam de doenças e violência.[3][4] Muitos dos sobreviventes fugiram para partes mais remotas da selva, onde seus descendentes ainda vivem hoje.[3][4]

A partir da década de 1920, o conflito entre o grupo Cinta Larga e os seringueiros aumentou até a década de 1960.[3] Em 1960 a situação piorou, quando a rodovia Cuiabá-Porto Velho (BR-364) foi inaugurada.[5] Os Cinta Larga enfrentaram ameaças não só de seringueiros, mas também de garimpeiros que buscavam suas terras por ouro e diamantes.[5]

Massacre e depois

O Massacre do 11º Paralelo aconteceu nas cabeceiras do rio Aripuanã, no Mato Grosso, no paralelo 11, sul , onde a empresa Arruda, Junqueira & Co coletava borracha.[3] O massacre foi planejado pelo chefe da empresa, Antonio Mascarenhas Junqueira. Ele queria remover os Cinta Larga da área que ele planejava explorar.[3] Ele disse: 'Esses índios são parasitas, são vergonhosos. É hora de acabar com eles, é hora de eliminar essas pragas. Vamos liquidar esses vagabundos.[3]

Ele contratou um avião, que derrubou dinamite na aldeia.[3] Depois disso, homens armados atacaram a aldeia a pé com metralhadoras, para matar qualquer sobrevivente.[3] Em um incidente, eles pegaram um bebê de uma mulher amamentando e atiraram na cabeça do bebê.[3] Eles então penduraram a mulher de cabeça para baixo e a cortaram ao meio.[3] Trinta aldeões foram mortos no ataque.[1] Apenas dois sobreviveram.[1]

O atentado chamou a atenção quando um dos agressores, Atayde Pereira dos Santos, denunciou e os responsáveis da Inspetoria do SPI em Cuiabá , aparentemente depois de não receber a quantia prometida.[5] No julgamento de um dos acusados, o juiz disse: "Nunca ouvimos um caso em que havia tanta violência, tanta ignomínia, egoísmo e selvageria e tão pouca apreciação da vida humana".[3] Em 1975, um dos perpetradores, José Duarte de Prado, foi condenado a 10 anos de prisão, mas foi perdoado no final daquele ano.[3] Ele declarou durante o julgamento: "É bom matar índios - eles são preguiçosos e traiçoeiros".[3]

Detalhes do massacre foram incluídos no Relatório Figueiredo de 1967, um marco que levou à substituição do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI).[1][6]

Mais recentemente, o grupo de defesa dos direitos dos indígenas Survival International usou este massacre como um exemplo do motivo pelo qual as tribos isoladas evitam contato com o mundo exterior, em um artigo intitulado "Por que elas se escondem?" [3]

Veja também

Referências

  1. a b c d e «'Lost' report exposes Brazilian Indian genocide» 
  2. dos Santos, Júlio César (2015). «O PROCESSO DE MULTITERRITORIALIZAÇÃO NO NOROESTE DE MATO GROSSO: UMA REFLEXÃO SOBRE OS IMPACTOS SOCIAIS NAS VIDAS DE INDÍGENAS, SERINGUEIROS, COLONOS E GARIMPEIROS» (PDF). Consultado em 25 de janeiro de 2019 
  3. a b c d e f g h i j k l m n o «Why do they hide?» 
  4. a b «Uncontacted Tribes By Choice or By Chance?» 
  5. a b c «Cinta larga». pib.socioambiental.org 
  6. «Cintas-largas, garimpeiros e o Massacre do Paralelo 11». Observatório da Imprensa. 20 de abril de 2004. Consultado em 25 de janeiro de 2019