Sofia Martins de Souza
Sofia de Souza | |
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Pintura a óleo "Autorretrato com Chapéu" (1900) de Sofia Martins de Souza | |
Pseudônimo(s) | S. Martins |
Nascimento | 23 de fevereiro de 1870 Porto, Portugal |
Morte | 28 de novembro de 1960 (90 anos) Porto, Portugal |
Nacionalidade | portuguesa |
Cidadania | Portuguesa |
Progenitores |
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Irmão(ã)(s) | Aurélia de Sousa |
Alma mater | Academia Portuense de Belas Artes, École des Beaux-Arts e Academia Julian |
Ocupação | pintora |
Movimento estético | Naturalismo com influências realistas, impressionistas e pós-impressionistas |
Sofia Martins de Souza (Porto, Portugal, 23 de fevereiro de 1870 - Porto, Portugal, 28 de novembro de 1960), também conhecida apenas por Sofia de Souza, foi uma pintora portuguesa.[1] Era irmã da pintora Aurélia de Sousa e tia da pintora e coleccionadora de arte Marta Ortigão Sampaio, detentora original do espólio exposto na Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio do Porto.
Biografia
Sofia Martins de Souza nasceu a 23 de fevereiro de 1870 na freguesia do Bonfim, cidade do Porto, filha de António Martins de Souza, natural da freguesia de Raiva, Castelo de Paiva, e de Olinda Peres, ambos emigrantes portugueses que fizeram fortuna na América do Sul, nomeadamente na construção do caminho-de-ferro do Brasil e do Chile, sendo a mais nova dos sete filhos do casal. Durante a sua infância residiu na Quinta da China, junto ao rio Douro, e em 1874, com apenas quatro anos de idade, ficou orfã de pai. Apesar de terem passado algumas dificuldades financeiras, até a sua mãe voltar a casar em 1880, tal como as sua irmã Aurélia de Sousa, Sofia aprendeu a tocar piano, bordar, falar francês e ainda recebeu lições de pintura particulares de Caetano Moreira da Costa Lima, discípulo de Auguste Roquemont.
Em 1885, inscreveu-se na Academia Portuense de Belas-Artes, tendo sido discípula do mestre João Marques de Oliveira. Anos mais tarde, juntamente com a sua irmã Aurélia, prosseguiu os seus estudos na mesma academia, ingressando em aulas de Desenho Histórico e Pintura Histórica, contudo sem o direito a uma bolsa financeira as duas não puderam terminar o curso.[2]
Cinco anos depois, Sofia partiu para Paris, França, durante a Exposição Universal, com a ajuda monetária da sua sobrinha D. Lucinda Augusta Dias Gaspar e da sua irmã mais velha Maria Estela Souza Sampaio, casada com Vasco Ortigão Sampaio, engenheiro, colecionador e mecenas das artes, sobrinho de Ramalho Ortigão, para frequentar a École de Beaux-Arts, que somente três anos antes havia passado a aceitar a inscrição de mulheres, e a Academia Julian, tendo sido pupila dos mestres Jean-Paul Laurens e Jean-Joseph Benjamin-Constant.[3] Durante a sua estadia em terras francesas, viveu com a sua irmã Aurélia, frequentou museus, salões culturais, concertos, conviveu com Teixeira Lopes, Aurélio Paz dos Reis, Ramalho Ortigão e Eça de Queiroz (na altura cônsul em Paris), realizou as suas primeiras exposições além fronteiras e começou a explorar novas técnicas de pintura a óleo e pastel. Um ano depois, as duas irmãs, apelidadas pelas colegas da academia como “Grand Sou” e “Petit Sou”, dedicaram-se a viajar pela Europa, tendo visitado os museus de Bruxelas, Antuérpia, Berlim, Roma, Florença, Veneza, Madrid e Sevilha.[4]
De regresso a Portugal, Sofia começou a frequentar vários espaços artísticos e culturais da cidade portuense, expondo as suas obras de estilo naturalista muito pessoal, onde figuravam naturezas-mortas e paisagens registadas nos seus longos passeios de bicicleta com a sua irmã Aurélia e irmão mais novo Victor, para além de vários retratos, autorretratos e cenas de interiores, assinados por vezes como S. Martins.[5] Entre as suas obras destacavam-se os temas das cenas do quotidiano feminino, onde as mulheres eram retratadas a bordar, a fiar, a ler ou no campo[6], como "A rapariga de Avintes", "Menina das tranças" ou "Rapariga de Vila da Feira", vários retratos encomendados por senhoras da alta sociedade, como o "Retrato da Baronesa de Nova Sintra", ou ainda os seus exuberantes auto-retratos, como "Autorretrato com Chapéu"[7], onde era revelado o seu gosto vibrante e audaz pela moda com o recurso ao uso de adereços e cores fora do comum para a sociedade portuguesa, bastante conservadora no início do século XX, sendo essa uma das suas mais conhecidas obras.[8]
Em 1906, Sofia e a sua irmã Aurélia começaram a dar aulas particulares e, nesse mesmo ano, doaram à Academia Portuense de Belas Artes várias pinturas a óleo, esboços e desenhos a carvão produzidos, em grande parte, durante a sua estadia em Paris e nas suas viagens.
Dez anos depois, em 1916, participou na XIII Exposição na Sociedade Nacional de Belas-Artes, em Lisboa, assim como nas seguintes exposições da sociedade artística lisboeta.
Após a morte de Aurélia, em 1922, especulando-se a causa do seu falecimento por tuberculose prolongada, Sofia começou a apresentar sinais de hipocondria, refugiando-se em casa, longe do olhar público e dos eventos sociais que tanto frequentava na cidade do Porto, sendo ainda relatado o facto de que regia a sua alimentação com um extremo cuidado, comendo sempre os mesmos pratos ao almoço e ao jantar, tomava sempre banhos frios e, posteriormente, deixou temporariamente de pintar após a morte da Madame Curie em 1934, por recear o efeito nocivo das tintas na sua saúde.
Nos últimos anos de sua vida, Sofia Martins de Souza viveu quase sempre em reclusão na Quinta da China, casa onde nasceu, cresceu e quase sempre ali viveu.
Faleceu a 28 de novembro de 1960 em casa, na cidade do Porto, aos 90 anos de idade.[9]
Homenagens e Legado
Grande parte do seu espólio artístico encontra-se em colecções privadas e museológicas, sendo possível ver algumas das suas obras expostas no Museu Nacional de Soares dos Reis, no Museu da Misericórdia do Porto e na Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio, todos situados na cidade do Porto, assim como, esporadicamente, em leilões para coleccionadores de arte.
Em 1984, foi realizada a Exposição de Obras de Aurélia de Souza e Sophia Martins de Souza Pertencentes à Casa-Museu de Artes Decorativas SOSS, uma exposição de retrospectiva da sua obra, na Casa Tait do Porto.[10]
Referências
- ↑ Tannock, Michael (1978). Portuguese 20th Century Artists: A Biographical Dictionary (em inglês). [S.l.]: Phillimore
- ↑ «U. Porto - Antigos Estudantes Ilustres da Universidade do Porto: Sofia Martins de Souza». Universidade do Porto
- ↑ Oliveira, Maria João Lello Ortigão de (2006). Aurélia de Sousa em contexto: a cultura artística no fim de século. [S.l.]: Imprensa Nacional-Casa da Moeda
- ↑ «Viagem à Paris de 1900 e ao encontro das pintoras Aurélia e Sofia de Souza». Portal de Notícias do Porto
- ↑ Vasconcelos, Emília Albertina Sá Pereira de (2011). «Sofia de Sousa e o retrato». Universidade do Porto - Repositório Aberto
- ↑ «Interior [Rapariga fazendo renda de bilros] - Sofia de Souza». Google Arts & Culture
- ↑ «"Autorretrato com Chapéu", Obra de Sofia Martins de Souza». Câmara Municipal do Porto
- ↑ «[PDF] Sofia de Sousa e o retrato». silo.tips
- ↑ Tannock, Michael (1978). Portuguese 20th Century Artists: A Biographical Dictionary (em inglês). [S.l.]: Phillimore
- ↑ «Antigos Estudantes Ilustres da Universidade do Porto - Aurélia de Sousa e Sofia Martins de Souza: Exposições». Universidade do Porto
Ligações Externas