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Ritmo no poema

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O Ritmo apresenta-se de forma diferente no poema e na música, embora as duas artes apresentem afinidades e um tal parentesco histórico que chega-se a classificar um determinado gênero de poesia como lírico.

A música se rege pelo compasso, que é dividido em tempos.

O ritmo é representado, na pauta musical, pelas figuras (notas musicais e pausas).

No poema, há a figura da métrica que não é, como na música, uma regência implacável sobre o ritmo.

É o ritmo que dá beleza à música, na visão de muitos músicos, bem como ao poema, na visão de muitos poetas, como o simbolista francês Paul Verlaine, que em versos famosos diz: "Antes de tudo, música". Naturalmente, Verlaine se refere ao ritmo no poema, além dos efeitos sonoros que se pode atingir através do uso de vogais e consoantes. Aliás, o ritmo era caro a todo o Simbolismo.

O ritmo pode assumir importância tamanha no poema, que, mesmo um poeta vanguardista como Ezra Pound afirma que quando um poema se afasta muito da música, começa a degenerar. Também Maiakovski em "Como fazer versos" descreve como, a partir de uma percepção de um ritmo (como o do seu próprio caminhar), podemos transformar o ritmo em sons e palavras, logo em versos.

É interessante notar que, a partir da poesia do também simbolista Mallarmé, a noção de ritmo pode não estar mais alinhada à noção de verso, inclusive, podendo a distribuição espacial do texto poético na página determinar o seu ritmo de leitura, embora possa-se contestar a isto afirmando que esta distribuição espacial apenas delimite as pausas de leitura entre um verso (livre) e outro. Apesar da delimitação de pausas em uma página, explorando os seus espaços em branco e criando uma espécie de pauta, aí está o ritmo poético novamente.

Ritmo e métrica

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A quantidade de sílabas determina a métrica do verso, enquanto a posição das sílabas tônicas lhe define o ritmo.[1]

Alguns desses ritmos têm denominação própria.

Paralelamente ao ritmo, em um poema, encontramos a métrica.

Um poema de versos livres não obedece rigorosamente a uma métrica. Mas, para que seja agradável, pode ter em sua construção um ritmo, ou, de outra forma, se aproximará da prosa. No entanto, mesmo sem a existência do verso[2][3], uma prosa pode conter ritmo, como no caso da prosa poética de Uma estação no inferno, do poeta francês Arthur Rimbaud.

Ao contrário, um verso que obedece metricamente ao número de sílabas esperado nem sempre soa agradável, em função da posição das sílabas tônicas, que lhe dão o ritmo. Esse efeito de desconforto métrico pode, eventualmente, ser intencional por parte do poeta, como na poesia de Ezra Pound, que relaciona a isto o seu conceito de "dureza". Pretendia assim, o poeta, criar um ritmo menos melodioso, evitando desviar a atenção do leitor ou ouvinte do tema.

Em função do número de sílabas poéticas existentes, o verso é classificado, quanto à métrica, em:[1]

  1. Monossilábico;
  2. Dissilábico;
  3. Trissilábico;
  4. Tetrassilábico;
  5. Pentassilábico, ou Redondilha menor;
  6. Hexassilábico;
  7. Heptassilábico, ou Redondilha maior ou apenas Redondilha;
  8. Octossilábico:
  9. Eneassilábico:
  10. Decassilábico (muito utilizado em sonetos);
  11. Hendecassilábico (utilizado nos versos dantescos da Divina Comédia e no Galope à beira-mar);
  12. Dodecassilábico (utilizado nos sonetos alexandrinos);
  13. Bárbaro, quando tem mais de 12 sílabas.

Um poema pode, no entanto, usar uma métrica mista, variando quanto ao número de sílabas entre um verso e outro, como em velhas cantigas medievais em galego-português. Pode, inclusive, com maior variação que estes, os quais alternavam a métrica dos versos com uma certa regularidade, usar de maior liberdade, alternando de forma mais assimétrica a contagem de sílabas poéticas. Desta forma, temos um poema que está a meio caminho entre o verso livre e o metrificado, porém com muito ritmo.

O é a unidade rítmica do poema.

Antigamente, o poeta recitava seus poemas acompanhado de lira ou marcando o ritmo com o pé, de onde lhe veio o nome.

Pés básicos

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Os tipos básicos de pé, mais frequentes, são:[4][1]

  • Troqueu ou Coreu: pé formado por uma sílaba longa (tônica) e uma breve (átona): porta;
  • Jambo ou Iambo: pé formado por uma sílaba curta (átona) e uma sílaba longa (tônica): portão;
  • Dátilo: pé formado por uma sílaba longa (tônica) e duas sílabas curtas (átonas): tala;
  • Anapesto: pé formado por duas sílabas curtas (átonas) e uma sílaba longa (tônica): coração.

Pés compostos

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A partir dos pés básicos, são construídos e conhecidos os pés compostos, ou metros, que são elementos estruturais criados pela junção de mais de um pé ou formações complexas.

São eles:[5][4][1]

  • Espondeu: formado por duas sílabas longas;[6]
  • Molosso: três sílabas longas;
  • Dispondeu: quatro sílabas longas (dois espondeus);
  • Díbraco ou Pirríquio: formado por duas sílabas breves;
  • Tríbraco: três sílabas breves;
  • Proceleusmático: quatro sílabas breves;
  • Báquio: uma sílaba breve e duas longas;
  • Antibáquio ou Palimbáquio: duas sílabas longas e uma breve;
  • Jônico duas sílabas longas e duas breves;
  • Anfímacro ou Crético: uma sílaba breve entre duas longas;
  • Anfíbraco: formado por uma sílaba longa entre duas breves;
  • Coriambo: metro formado pela junção de um Coreu (ou Troqueu) e um Iambo;
  • Antispasto: formado pela junção de um Iambo e um Troqueu;
  • Dócmio: junção de um Iambo e um Crético;
  • Hipodócmio: junção de um Troqueu e um Crético;
  • Peônio: formado por uma sílaba longa e três breves, podendo a sílaba longa aparecer em qualquer das 4 posições, sendo chamado de Peônio de primeira, segunda, terceira ou quarta;
  • Epitrito: formado por uma sílaba breve e três longas, podendo a sílaba breve aparecer em qualquer das 4 posições, a exemplo do Peônio.

O Heptassílabo, ou Redondilha maior, apresenta sílabas tônicas em posições variadas.

Assim, essas sílabas tônicas podem aparecer com o seguinte arranjo:

  • 2, 4, 7;
  • 2, 5, 7;
  • 3, 5, 7;
  • 4, 7;
  • 3, 7.

A primeira e a sexta sílabas devem sempre ser breves ou átonas, para que o ritmo seja agradável. A tonicidade caindo em uma dessas posições modifica o ritmo, formando o que se denomina "verso de pé quebrado".

Heroico

Apresenta obrigatoriamente sílabas tônicas nas posições 6 e 10. Uma outra sílaba tônica (ou mais de uma) pode aparecer na posição 2 ou 4.

Sáfico

Apresenta sílabas tônicas obrigatoriamente nas posições 4, 8 e 10.

Obs.
Os poemas com versos decassílabos em muitas ocasiões misturam os ritmos heroico e sáfico em uma mesma estrofe. Longe de quebrar esse ritmo, a sua composição assim mista se complementa.
Ex:
"Feixes de prata sobre a minha fronte,
Calças de chumbo pesam-me nos passos,
Olhando os campos, vejo os vultos baços,
Cuja paisagem perco no horizonte.
(“Meu tempo” – Carlos Severiano Cavalcanti)
Pentâmetro iâmbico
Apresenta tonicidade em todas as sílabas pares, ou seja, é a junção de cinco iambos. Na prática, é a mistura do ritmo sáfico com o heroico.
Martelo agalopado

É uma variação do verso heroico. Caracteriza-se por apresentar sílabas tônicas nas posições 3, 6 e 10, ritmo em galope, característico dos versos compostos por anapestos.

É composto por dois anapestos e um peônio de quarta, ou por dois anapestos e dois iambos. Neste caso, apresenta também tônica na posição 8.

Gaita galega

Também chamada Moinheira,[nota 1] é o decassílabo que apresenta sílabas tônicas nas posições 4, 7 e 10.

De rara apresentação nos poemas latinos, aparece, no entanto, algumas vezes em letras de música.

Ex:

"Deixa a cidade, formosa morena,
linda pequena, e volta ao sertão,
beber da água da fonte que canta,
que se levanta no meio do chão."
("Chuá-chuá" - Pedro de Sá Pereira e Ary Machado)

Hendecassílabo

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O verso hendecassílabo tem esquema rítmico quase uniforme. Sua forma mais utilizada (entre os cantadores do Nordeste do Brasil), é o Galope à beira-mar.

Caracteriza-se por apresentar as sílabas tônicas nas posições 2, 5, 8 e 11. É formado por um iambo e 3 anapestos.

Dodecassílabo

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Nos versos dodecassílabos sobressaem-se dois ritmos:

Trímetro peônico

Caracteriza-se por apresentar sílabas tônicas nas posições 4, 8 e 12, numa junção de 3 peônios de quarta.

Ex:

"De manhãzinha, quando eu sigo pela estrada,
minha boiada pra invernada eu vou levar.
São dez cabeças, muito pouco, é quase nada,
mas não tem outras mais bonitas no lugar."
(“Boiadeiro” – Armando CavalcantiKlécius Caldas)
Alexandrino

Utilizado por sonetistas, que lhe dão preferência depois dos decassílabos.

Caracteriza-se por apresentar uma divisão ao meio, a cesura, mostrando dois hemistíquios, ou seja, o verso dodecassílabo pode ser dividido em dois hexassílabos. Tem sílabas tônicas nas posições 6 e 12, obrigatoriamente.

Cada hemistíquio, por sua parte, pode apresentar tônicas nas posições 3 e 6, ou 4 e 6, ou 2 e 6, ou ainda 2, 4 e 6.

A interação rítmica entre os dois hemistíquios é que vai dar maior ou menor beleza ao alexandrino.

Ex:

"Vento vai... vento vem... sou escravo do vento,
ansioso que sou pr’encontrar meu amor.
Corro solto e veloz, onde esteja, onde for,
à procura de quem me emprestou sentimento
...
("Ao açoite do vento" - Paulo Camelo)

Prevalência do ritmo

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A métrica é utilizada na construção poética tendo-se sempre por meta e fim o ritmo.
Muitos, por conta disso, dão valor ortodoxo à métrica. No que não estão errados, se puderem considerar formas métricas menos regulares como portadoras de métrica, pelo simples fato de possuírem ritmo. Há casos em que o ritmo sobrepuja a métrica.

Quando o ritmo do conjunto se impõe sobre o ritmo individual do verso, podemos encontrar poemas com métrica variada, onde a sílaba átona de paroxítono final pode se unir à vogal da primeira sílaba do verso seguinte, compondo um todo e não partes individualizadas do todo.

Poemas cantados (como o martelo agalopado) carecem muito mais desse ritmo holístico, para que o cantador não quebre, ao fim de cada verso - ou de um ou outro verso – o ritmo cadenciado e forte do martelo.

Há que se entender, também, que o ritmo deve permitir a inspiração entre a pronúncia de algumas sílabas, para que o declamador do poema não se precipite ou perca a respiração, prejudicando a apresentação.
O poeta norte-americano Allen Ginsberg cria o conceito de "fôlego", retirado de suas leituras dos versículos bíblicos, que como bem demonstra o poeta, linguista e tradutor da Bíblia Henri Meschonnic, determinava seu ritmo pela respiração. por outro lado, poemas de Ginsberg como Howl (Uivo), são formados por "versos" intermináveis, que mais se assemelham na página à parágrafos, num ritmo alucinante, onde poderíamos perder facilmente o fôlego, caso não encontremos o ponto exato de inspirar na tentativa de nos atermos à noção de verso em uma leitura em voz alta.

Em alguns poemas podemos encontrar – vez ou outra – um verso com uma sílaba a menos ou a mais. Produto da ação descuidada ou proposital do poeta, esse verso muitas vezes está ali cumprindo um papel de manter o ritmo do conjunto. Visto isoladamente, notamos sua suposta anomalia. Porém, no conjunto, ele passa despercebido aos olhos menos aguçados, e é realçado aos de um cultor do ritmo.

Exemplo
"Estava à toa na vida,
o meu amor me chamou
pra ver a banda passar
cantando coisas de amor.
A minha gente sofrida
despediu-se da dor
pra ver a banda passar
cantando coisas de amor."
(“A banda” – Chico Buarque de Hollanda)

Neste exemplo, um poema em redondilhas, encontramos o sexto verso com apenas 6 sílabas métricas. No entanto, seu declamar (e seu cantar) demonstra ser ritmicamente uma redondilha, com a utilização da sílaba átona restante do verso anterior.

Casos há, ainda, em que uma sílaba átona de um verso suprassilábico toma seu lugar como sílaba átona restante do verso anterior. Esta sílaba, conhecida como anacrusa, ao ser colocada em sua posição na declamação ou no canto, restabelece a métrica rítmica.

Exemplo
"Eu vou mostrar pra vocês
como se dança o baião
e quem quiser aprender
é favor prestar atenção."
(“Baião” – Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)

Exemplo forte de prevalência do ritmo sobre a métrica é o poema ritmado denominado Rap, onde a métrica não tem nenhuma importância. Apenas o ritmo. Apesar de ser declamado, o Rap comporta-se como se fosse musicado, marcado por uma percussão. É, talvez, o exemplo mais marcante da ascendência da música sobre o poema, embora não exista diferença, a princípio, entre a origem do conceito de "pés" e a ideia da fala estar acompanhada por qualquer outra marcação rítmica.

Também se aproximam desta maneira de produzir ritmo o blues e muitos tipos de "repentes" brasileiros.

A poesia de Walt Whitman também demonstra, como na Ode triunfal de Fernando Pessoa, de estilo semelhante à poesia do norte-americano a inexistência da métrica.

O que ocorre nestes poemas, é que há uma prevalência de ritmos naturais da fala sobre os ritmos mais musicais ou metrificados, enquanto em outras obras poéticas é possível uma mescla de todos estes tipos de ritmos.

Exemplo do RAP
"Deixe que digam,
que pensem, que falem,
deixe isso pra lá,
vem pra cá, que é que tem?
Eu não estou fazendo nada,
você também...
Faz mal bater um papo
assim gostoso com alguém?"
(“Deixe isso pra lá” – Alberto Paz e Edson Menezes)

Verso anapéstico

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O verso anapéstico é o verso ritmado apenas por anapestos, embora a métrica nem sempre se apresente assim.

Nesses casos, podemos encontrar no poema sílabas mudas, silêncios ou pausas, como os há na música, que mantêm o ritmo de anapesto em todo o poema. Encontramos, também, a transposição de sílabas átonas para o verso imediatamente anterior ou posterior, para a manutenção do ritmo.

Poemas assim ritmados apresentam misturas de métricas, como hendecassílabos e dodecassílabos alexandrinos, em uma mesma estrofe e em seu todo.

Notas e referências

Notas

  1. A Moinheira é um ritmo galego cujas músicas são tocadas por um tipo de gaita de fole, a Gaita Galega.

Referências

  1. a b c d CAMELO, Paulo. O ritmo no poema. Recife:Paulo Camelo, 2004. ISBN 978-85-904262-2-6
  2. BILAC, Olavo; Guimarães Passos. Tratado de versificação. Olinda: Babecco, 2012. ISBN 978-85-62883-35-4
  3. DINELLI, Rosa Lia. A poesia revelada : Do popular ao clássico. Olinda: Babecco, 2016. ISBN 978-85-8394-038-8
  4. a b AZZI, Nilza. O verso medido : Teoria e prática. São Paulo: Edicon, 2015. ISBN 978-85-29009-85-8
  5. CAMPOS, Geir. Pequeno dicionário de arte poética. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1960.
  6. LIMA, Alceu Dias (2003). «De metrificação e poesia latina». ALFA: Revista de Linguística. 47 (1). ISSN 1981-5794 

Ligações externas

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