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Júlio Bressane

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Júlio Bressane

Bressane em 2006
Nome completo Júlio Eduardo Bressane de Azevedo
Nascimento 13 de fevereiro de 1946 (78 anos)
Rio de Janeiro, RJ
Nacionalidade Brasil brasileiro
Ocupação roteirista, produtor e diretor

Júlio Eduardo Bressane de Azevedo (Rio de Janeiro, 13 de fevereiro de 1946) é um cineasta brasileiro. Ele é um dos principais expoentes do chamado Cinema Marginal, movimento dos anos 1960 e 1970 conhecido pela independência criativa, pela subversão das convenções cinematográficas tradicionais e pelo uso de recursos de baixo orçamento.[1] Bressane é ganhador de vários prêmios, incluindo um APCA e sete troféus do Festival de Brasília, além de ter recebido indicações para dois prêmios Grande Otelo.

Em suas obras, caracterizadas por uma estrutura poética e ensaística, Bressane frequentemente substitui narrativas lineares por omissões deliberadas, privilegiando atmosferas subjetivas e fragmentadas. Seus filmes exploram trocadilhos, citações literárias e culturais, além de utilizar a música como um elemento central na construção do significado e da experiência estética.[1]

Biografia e carreira

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Início da carreira e ascensão (1968—1971)

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Júlio Eduardo Bressane de Azevedo é amplamente reconhecido como um cineasta experimental, com uma carreira marcada pela inovação e pela exploração de linguagens alternativas no cinema brasileiro. Seu longa-metragem de estreia, Cara a Cara (1968), destacou-se por sua abordagem poética, alinhada às propostas do Cinema Novo, movimento que buscava retratar a realidade social e política do Brasil com um olhar crítico e inovador.[2][3]

Em 1969, Bressane deu início a uma nova estética cinematográfica que ficou conhecida como Cinema Marginal, com dois filmes icônicos: O Anjo Nasceu e Matou a Família e Foi ao Cinema. Essas obras subverteram as convenções narrativas e estilísticas, desafiando o cinema tradicional. Seu nome ganhou mais notoriedade após a realização do documentário sobre Maria Bethânia, cantora que estreou nacionalmente em 1965 e logo virou uma das maiores estrelas brasileiras. Bethânia Bem de Perto - A Propósito de um Show tornou-se um emblema na carreira do diretor e foi lançado em DVD décadas depois.[4]

No início da década de 1970, Bressane, junto a Rogério Sganzerla, fundou a Belair Filmes, uma produtora que se tornou símbolo de liberdade criativa. Em um período de apenas três meses, dirigiu três filmes: A Família do Barulho, Barão Olavo, o Horrível e Cuidado Madame (1970). No ano seguinte, exilado devido à repressão da ditadura militar, realizou no exterior os longas A Fada do Oriente, Crazy Love (Amor Louco) e Memórias de um Estrangulador de Loiras (1971), seguidos por Lágrima Pantera em 1972. Ele chegou a se exilar em Londres, no início dos anos 1970, mas voltou ao Brasil alguns anos depois e fez um filme atrás do outro, usando a chanchada e o deboche como suas principais características.[5]

Volta ao Brasil e cinema experimental (1973—presente)

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De volta ao Brasil, Bressane passou a trabalhar com artistas populares, expandindo as possibilidades de sua filmografia. O Rei do Baralho (1973) trouxe Grande Otelo no papel principal, enquanto O Monstro Caraíba (1975) contou com Carlos Imperial, e Jece Valadão protagonizou O Gigante da América (1978). Durante esse período, realizou também Agonia (1976), onde radicalizou ainda mais suas experimentações estéticas e narrativas.[3]

Nos anos seguintes, sua obra encontrou novas conexões com a cultura brasileira e temas literários e históricos. Entre os destaques estão Tabu (1982), inspirado na literatura brasileira; Brás Cubas (1985), adaptação da obra de Machado de Assis; e Sermões – A História de Antônio Vieira (1990), que mergulha na vida do célebre orador e missionário. Outros filmes notáveis incluem O Mandarim (1995), Miramar (1997) e São Jerônimo (1999), que dialogam com questões culturais, sociais e filosóficas.[3]

A partir dos anos 2000, Bressane intensificou sua abordagem reflexiva e estética, explorando temas da cultura erudita, como em Dias de Nietzsche em Turim (2002), que revisita momentos da vida do filósofo alemão. Seguiram-se obras de grande impacto como Filme de Amor (2003), Cleópatra (2007), A Erva do Rato (2008) e Educação Sentimental (2013), consolidando sua reputação como um dos mais importantes e ousados cineastas brasileiros.[3] Cleópatra foi apresentado no Festival de Cinema de Veneza de 2007, fora da competição,[6] além de ter sido premiado como melhor filme do 40º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em novembro de 2007.[7]

Key
Indica um docomuntário Indica um curta-metragem
Year Original title Título em Inglês Notes
1966 Lima Barreto: Trajetória Curto documentário sobre Lima Barreto.
1966 Bethânia Bem de Perto - A Propósito de um Show Co-dirigido por Eduardo Escorel. Short documentary and concert film on Brazilian singer Maria Bethânia.
1967 Cara a Cara Face to Face
1969 Matou a Família e Foi ao Cinema Killed the Family and Went to the Movies
1969 O Anjo Nasceu The Angel Was Born
1970 Cuidado Madame
1970 Barão Olavo, o Horrível Baron Olavo, the Horrible
1970 A Família do Barulho
1971 Memórias de um Estrangulador de Loiras Memories of a Blonde Strangler
1971 Amor Louco Crazy Love
1971 A Fada do Oriente
1972 Lágrima Pantera Co-produção entre Brasil e Estados Unidos
1973 O Rei do Baralho
1975 O Monstro Caraíba
1977 Viola Chinesa Chinese Viola: My Encounter with Brazilian Cinema Short documentary.
1978 O Gigante da América The Giant of America
1978 Agonia
1979 Cinema Inocente
1982 Tabu
1986 Brás Cubas
1989 Sermões: A História de Antônio Vieira Baseado na vida de António Vieira.
1992 Quem Seria o Feliz Conviva de Isadora Duncan? Segmento de Oswaldianas (1992).
1995 O Mandarim The Mandarin Based on the life of Mário Reis.
1997 Miramar
1999 São Jerônimo
2001 Dias de Nietzsche em Turim Days of Nietzsche in Turin Baseado na vida de Friedrich Nietzsche.
2003 Filme de Amor A Love Movie
2007 Ver Viver Reviver Short documentary.
2007 Cleópatra Cleopatra
2007 Passagem em Ferrara Curto documentário dedicado a Michelangelo Antonioni.
2008 A Erva do Rato The Herb of the Rat
2012 Rua Aperana 52 Aperana Street 52
2012 O Batuque dos Astros Drumming Beat of the Stars Documentary on Fernando Pessoa.
2013 Educação Sentimental
Venice 70: Future Reloaded Direção de um segmento.
2015 Garoto Kid
2016 Beduíno
2018 Sedução da Carne Seduction of the Flesh
2019 Nietzsche sils Maria Rochedo de Surlej Co-direção com Rosa Dias e Rodrigo Lima.
2021 Capitu e o Capítulo Capitu and the Chapter
2023 A Longa Viagem do Ônibus Amarelo The Long Voyage of the Yellow Bus
Leme do Destino Rudder of Destiny

Livros publicados

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  • Alguns. Rio de Janeiro: Imago, 1996
  • Cinemancia. 99 páginas, Rio de Janeiro, Imago, 2000
  • Ensaios sobre Robert Bresson,Brás Cubas,Vidas Secas, Augusto de Campos e Ralph Waldo Emerson.
  • Fotodrama. 72 páginas, Rio de Janeiro, Imago, 2005
  • Bressane discute o cinema de Jean Marie Straub.
  • "Deslimite". Rio de Janeiro: Imago, 2011

Prêmios e indicações

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Ano Associações Categoria Nomeações Resultado Ref.
1982 Festival de Cinema de Brasília Melhor Filme de Longa-metragem Tabu Venceu [8]
1986 Festival de Cinema de Gramado Melhor Filme de Longa-metragem Brás Cubas Indicado [9]
1991 Festival Sesc Melhores Filmes Melhor Filme Sermões: A História de Antônio Vieira Venceu
1997 Festival de Cinema de Brasília Melhor Filme de Longa-metragem Miramar Venceu [10]
Melhor Direção Venceu
1999 Fantasporto Conjunto da Obra (Homenagem Especial) Venceu [11]
Festival de Cinema de Brasília Melhor Direção São Jerônimo Venceu [12]
2000 Grande Prêmio do Cinema Brasileiro Melhor Roteiro Indicado
2001 Festival de Cinema de Brasília Melhor Roteiro (com Rosa Dias) Dias de Nietzsche em Turim Venceu
Festival Internacional de Cinema de Veneza Prêmio da Crítica Venceu [13]
2003 Festival de Cinema de Brasília Melhor Filme de Longa-metragem Filme de Amor Venceu [14]
2005 Festival de Cinema de Países de Língua Portuguesa Melhor Diretor Venceu
Festival Sesc Melhores Filmes Melhor Filme Venceu
Troféu APCA Melhor Diretor Venceu [15]
2007 Festival de Cinema de Brasília Melhor Filme de Longa-metragem Cleópatra Venceu [16]
2008 Festival de Cinema de Gramado Troféu Eduardo Abelin Venceu [17]
Festival dos 3 Continentes de Nantes Melhor Filme A Erva do Rato Venceu
Festival Internacional de Cinema de Veneza Melhor Filme Indicado
2013 Festival Internacional de Cinema de Locarno Melhor Filme (Leopardo de Ouro) Educação Sentimental Indicado [18]
Melhor Filme (da crítica) Venceu
Panorama Coisa De Cinema Melhor Filme Venceu [19]
Melhor Filme (Prêmio Ficunam) Venceu
2014 Las Palmas Film Festival Melhor Filme Venceu
2018 Grande Prêmio do Cinema Brasileiro Melhor Trilha Sonora Beduíno Indicado [20]
Lisboa Film Festival Grande Prêmio do Júri Sedução da Carne Venceu
2021 Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro Melhor Filme do Júri Capitu e o Capítulo Venceu [21]
Melhor Filme da Crítica Venceu
Melhor Diretor Venceu

Referências

  1. a b Cultural, Instituto Itaú. «Julio Bressane». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 4 de dezembro de 2024 
  2. AdoroCinema, Cara a Cara, consultado em 4 de dezembro de 2024 
  3. a b c d «Bressane, Júlio - Portal Contemporâneo da América Latina e Caribe». sites.usp.br. Consultado em 4 de dezembro de 2024 
  4. «Folha de S.Paulo - DVDs- Crítica/"Bethânia Bem de Perto'e "Pedrinha de Aruanda": Documentários unem o passado e o presente de Maria Bethânia - 28/10/2007». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 4 de dezembro de 2024 
  5. Mediação, Equipe (8 de junho de 2019). «"Memórias De Um Estrangulador De Loiras" constrói assassino com paisagens e sons de animais». mediacao. Consultado em 4 de dezembro de 2024 
  6. Uol[ligação inativa]
  7. «Folha de S.Paulo - "Cleópatra" vence Festival de Brasília - 28/11/2007». feeds.folha.uol.com.br. Consultado em 4 de dezembro de 2024 
  8. «15º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (1982)». www.metropoles.com. 14 de agosto de 2017. Consultado em 4 de dezembro de 2024 
  9. Disner, Elton. «1986». 53° Festival de Cinema de Gramado. Consultado em 4 de dezembro de 2024 
  10. «30º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (1997)». www.metropoles.com. 18 de agosto de 2017. Consultado em 4 de dezembro de 2024 
  11. «Fantasporto 1999». www.cinedie.com. Consultado em 4 de dezembro de 2024 
  12. «32º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (1999)». www.metropoles.com. 19 de agosto de 2017. Consultado em 4 de dezembro de 2024 
  13. «Julio Bressane». www.filmeb.com.br. Consultado em 4 de dezembro de 2024 
  14. «36º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (2003)». www.metropoles.com. 17 de agosto de 2017. Consultado em 4 de dezembro de 2024 
  15. Redação (7 de dezembro de 2004). «APCA elege documentários sobre Lula como melhores filmes do ano». TELA VIVA News. Consultado em 4 de dezembro de 2024 
  16. «40º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (2007)». www.metropoles.com. 11 de agosto de 2017. Consultado em 4 de dezembro de 2024 
  17. «Folha de S.Paulo - Festival de Gramado: Bressane recebe prêmio como um sinal de "reconciliação" - 15/08/2008». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 4 de dezembro de 2024 
  18. «Crítica internacional elogia 'Educação Sentimental', de Júlio Bressane». Diário do Litoral. 23 de agosto de 2013. Consultado em 4 de dezembro de 2024 
  19. «Filme de Júlio Bressane vence o Panorama Internacional Coisa de Cinema – Revista de Cinema». 9 de novembro de 2013. Consultado em 4 de dezembro de 2024 
  20. «Com 15 indicações, 'Bingo' é favorito no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2018». O Globo. 19 de julho de 2018. Consultado em 4 de dezembro de 2024 
  21. «Veja os vencedores do Fest Aruanda 2021 | Paraíba». G1. 16 de dezembro de 2021. Consultado em 4 de dezembro de 2024 

Ligações externas

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