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Mikhail Gorbatchov

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(Redirecionado de Mikhail Gorbachev)
Mikhail Gorbatchov
Михаил Горбачёв
Mikhail Gorbatchov
Gorbatchov em 1989.
7.º Secretário-Geral do Partido Comunista
da União Soviética
Período 11 de março de 1985
a 24 de agosto de 1991
10.° Presidente do Presidium do Soviete Supremo
Período 11 de março de 1988
a 24 de agosto de 1989
Antecessor(a) Andrei Gromyko
Sucessor(a) Ele mesmo como Presidente da URSS
1.º Presidente da União Soviética [nota 1]
Período 1 de outubro de 1988
a 25 de dezembro de 1991
Antecessor(a) Ele mesmo como Presidente do Presidium
Sucessor(a) Posição abolida
Dados pessoais
Nome completo Mikhail Sergueievich Gorbatchov
Nascimento 2 de março de 1931
Stavropol, União Soviética
Morte 30 de agosto de 2022 (91 anos)
Moscou, Rússia
Progenitores Mãe: Maria Gopkalo
Pai: Serguei Gorbatchov
Alma mater Universidade de Moscou
Prêmio(s) Nobel da Paz (1990)
Prêmio da Paz Albert Einstein (1990)
Esposa Raíssa Gorbachova (1953–1999)
Filhos(as) 1
Partido PCUS (1952–1991)
PSDUR (2000–2001)
PSDR (2001–2007)
USD (2007–2017)
Religião Ateísmo
Profissão Jurista e agrônomo
Assinatura Assinatura de Mikhail Gorbatchov
Website The Gorbatchov Foundation
Líder da União Soviética
Chernenko  · Último titular

Mikhail Sergeevitch Gorbatchov[1] ou Gorbachev; [nota 2] em russo: Михаи́л Серге́евич Горбачёв, GLC, (Stavropol, 2 de março de 1931Moscou, 30 de agosto de 2022) foi um estadista e político russo. Último líder da União Soviética, foi Secretário-Geral do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) de 1985 a 1991. Foi chefe de Estado do país de 1988 a 1991, na posição de Presidente do Presidium do Soviete Supremo de 1988 a 1989, Presidente do Soviete Supremo de 1989 a 1990 e Presidente da União Soviética de 1990 a 1991. Ideologicamente, sua identificação inicial era com os ideais marxistas-leninistas, tendo, entretanto, no início da década de 1990, se inclinado à social-democracia.

De origens russas e ucranianas, Gorbatchov nasceu em Privolnoye, Krai de Stavropol em uma família pobre, de camponeses. Nascido e criado durante o governo de Josef Stalin, operava colheitadeiras em uma fazenda coletiva durante sua juventude, antes de filiar-se ao Partido Comunista, que, à época, governava a União Soviética sob um regime unipartidário de orientação marxista-leninista. Durante seus estudos na Universidade Estatal de Moscou, casou-se com sua colega de faculdade Raíssa Titarenko em 1953, dois anos antes de graduar-se em direito. Ao mudar-se para Stavropol, trabalhou para a Komsomol, organização juvenil do PCUS e, após a morte de Stalin, tornou-se um forte apoiador das reformas desestalinizadoras do líder soviético Nikita Khrushchov. Foi nomeado Primeiro Secretário do Comitê Regional de Stavropol do PCUS em 1970, posição na qual supervisionou a construção do Grande Canal de Stavropol. Em 1978, retornou a Moscou para tornar-se Secretário do Comitê Central do PCUS e, em 1979, entrou para o Politburo. Após os três anos que se seguiram desde a morte do líder soviético Leonid Brezhnev, após os breves governos de Yuri Andropov e Konstantin Chernenko, o Politburo elegeu Gorbatchov Secretário-Geral, tornando-o chefe de governo de facto, em 1985.

Apesar de seu compromisso de preservar o estado soviético e seus ideais socialistas, Gorbatchov acreditava que reformas políticas significativas eram necessárias, especialmente após o acidente nuclear de Chernobyl de 1986. Ordenou a retirada soviética da Guerra do Afeganistão e participou de diversos encontros com o presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan para limitar a proliferação de armas nucleares e acabar com a Guerra Fria. No que diz respeito à política interna, implementou a glasnost ("transparência"), política que aumentava as liberdades de expressão e imprensa, e a perestroika ("reestruturação"), política que objetivava descentralizar a tomada de decisões no âmbito econômico, com o propósito de aumentar a eficiência econômica. Suas medidas democratizantes e a formação do Congresso dos Deputados do Povo enfraqueceram o sistema estatal unipartidário. Gorbatchov recusou-se a intervir militarmente nos vários países do Bloco do Leste que abandonaram suas orientações marxistas-leninistas nos anos de 1989 e 1990. Um sentimento nacionalista crescente ameaçava o colapso da União Soviética, levando partidários marxistas-leninistas a tentarem um golpe de Estado contra o governo de Gorbatchov em agosto de 1991. Subsequentemente, houve a dissolução da União Soviética contra os desejos de Gorbatchov, levando-o a renunciar em dezembro. Após deixar o cargo, criou a Fundação Gorbatchov, tornou-se crítico dos governos dos presidentes russos Boris Yeltsin e Vladimir Putin, e fez campanha pelo movimento social-democrata russo.

Considerado uma das figuras mais importantes da segunda metade do século XX, Gorbatchov continua uma figura controversa. Galardoado com um grande número de prémios, incluindo o Prêmio Nobel da Paz, foi amplamente elogiado por seu papel pelo fim da Guerra Fria, pela redução dos abusos de direitos humanos na União Soviética e por sua tolerância tanto à queda dos governos socialistas do leste europeu quanto à reunificação da Alemanha. Por outro lado, na Rússia, é constantemente escarnecido por não ter impedido o colapso soviético, evento que resultou em um declínio da influência russa no mundo e precedeu uma crise econômica.

Infância e juventude

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Mikhail Sergueievitch Gorbatchov (em russo: Михаи́л Серге́евич Горбачёв, IPA: mʲɪxɐˈil sʲɪrˈgʲeɪvʲɪʨ gərbɐˈʨof) nasceu em 2 de março de 1931, no território de Stavropol. Filho de cristãos, seu pai, Serguei Gorbatchov (1909-1976), era russo, e sua mãe, Maria Gopkalo (1911-1993), era ucraniana.

Durante a guerra, quando o jovem Gorbatchov ainda tinha dez anos, o território onde sua família morava foi ocupado por tropas alemãs, e seu pai partiu à frente de batalha. Após a libertação da cidade, chegou à família a notícia de que o pai havia perecido entre os heróis, más ele foi erroneamente declarado morto e conseguiu, com a derrota alemã e a vitória dos aliados, regressar para casa ferido.

Aos 13 anos, passou a dividir a escola com o trabalho de campesino, em um kolkhoz. A partir dos 15, começou a trabalhar de auxiliar de eletricista em uma maquinaria. Em 1948, foi laureado com a Ordem do Estandarte Vermelho do Trabalho, como eletricista exemplar. Aos 19 anos, candidatou-se a uma vaga no PCUS, mas seria aceito somente dois anos mais tarde, com recomendações do diretor e dos professores de sua escola. Ainda em 1950, ingressou na faculdade de Direito da Universidade Federal de Moscou, onde graduou-se em 1955. Em setembro de 1953, casou-se com Raíssa Titarenko, que conhecera na universidade. Já licenciado, trabalhou na promotoria de Stavropol, enquanto na vida política ficou encarregado da direção do departamento de agitação e propaganda do Komsomol da região, até 1962.

Em 1961, Gorbatchov foi um dos delegados do XXII Congresso do Partido Comunista que, entre outros assuntos, definiu a ruptura sino-soviética. Em 1966, então com 35 anos, completou os estudos no Instituto Agrícola como economista-agrónomo. Começou, então, a progredir rapidamente na sua carreira política. Em 1970, foi nomeado ministro da Agricultura e, no ano seguinte, membro do Comitê Central. Em 1972, dirigiu uma delegação soviética à Bélgica e, dois anos mais tarde, em 1974, tornou-se representante do Soviete Supremo. Passou a fazer parte do Politburo em 1979. Lá recebeu a proteção de Iuri Andropov, chefe do KGB, também natural de Stavropol, e foi promovido durante o breve período em que Andropov fora líder da União Soviética, antes da sua morte, em 1984.

As posições que tomou no partido deram-lhe a oportunidade de realizar viagens a diversas partes do mundo, o que terá influenciado o seu ponto de vista político e social, como líder do seu país. Em 1975, dirigiu uma delegação à República Federal da Alemanha e em 1983 liderou outra ao Canadá, onde se encontrou com o primeiro-ministro Pierre Trudeau, com os membros da Câmara dos Comuns e do Senado.

Gorbatchov presidindo sessão do Soviete Supremo da URSS.

Mikhail Gorbachev foi eleito secretário-geral pelo Politburo em 11 de março de 1985, pouco mais de quatro horas depois que seu antecessor Konstantin Chernenko morreu aos 73 anos.[2] Gorbachev, de 54 anos, era o membro mais jovem do Politburo, o primeiro – e único – líder soviético a nascido após a Revolução Russa e, portanto, o único a ter soviético nato. Seu objetivo inicial como secretário-geral era reviver a estagnada economia soviética, e ele percebeu que isso exigiria a reforma das estruturas políticas e sociais subjacentes, como a democratização das instituições e uma considerável reestruturação econômica. Com a morte de Konstantin Chernenko, Mikhail Gorbatchov foi eleito pelo Politburo como líder da União Soviética, a 11 de março de 1985.

No posto, inaugurou diversas reformas e campanhas, que a longo prazo conduziriam o país a uma economia de mercado, ao fim do monopólio do poder central do PCUS e, posteriormente, à desintegração da União Soviética.

Uma de suas primeiras atividades políticas foi a contraditória campanha contra o alcoolismo, criada em 1985, que levou a um aumento de 45% nos preços das bebidas alcoólicas,[3] e consequentemente a uma redução na produção de álcool e vinhos e à escassez de açúcar nos mercados por conta da produção clandestina de bebidas alcoólicas.[4] Por outro lado, a sociedade registou um aumento na expectativa de vida e uma considerável redução no número de crimes cometido sob efeito do álcool.

Em 1986, Gorbatchov teria de lidar com o acidente nuclear de Chernobil, após a explosão do reator da usina da cidade, localizada na Ucrânia, que provocou uma onda de radiação por toda a Europa.

Em seus últimos anos, a União Soviética passava por uma profunda crise econômica, porém, ela sozinha não é o suficiente para explicar sua desagregação territorial. A Economia da União Soviética era organizada aos moldes do “Socialismo Real” – também chamado de Socialismo Realmente Existente” – onde a propriedade, ao invés de privada como no modelo capitalista, era estatal; e os preços eram “escolhidos” por uma burocracia. Todos os setores econômicos – agricultura, pecuária, indústria, etc. e etc. – estavam sujeitos ao planejamento econômico estatal. Isso significa que a burocracia, previamente, planeja a quantidade que vai produzir, onde vai produzir, etc.

A economia da União Soviética foi a segunda do mundo em termos de PIB (paridade do poder de compra) sistema de relações sociais na esfera da produção, troca e distribuição de produtos de vários setores da economia nacional. A participação da economia soviética representou cerca de 20% da produção industrial mundial. No entanto, esses indicadores são macroeconômicos absolutos, em termos de indicadores macroeconômicos relativos, a URSS não estava no nível dos trinta primeiros desta lista, ou seja: era inferior a todos os Estados capitalistas desenvolvidos (países da Europa Ocidental, EUA, Canadá e Japão). Ao mesmo tempo, a URSS produziu 4 vezes menos caminhões que os EUA, 8 vezes menos materiais sintéticos, dez vezes menos computadores eletrônicos, 7 vezes menos papel e papelão, dezenas de vezes menos eletrodomésticos, o comprimento das ferrovias era de 2,5 vezes menos do que nos EUA, estradas pavimentadas - 10 vezes menos, o número de telefones instalados - 15 vezes menos do que nos EUA.

Durante a Guerra Fria, o país continuou registrando taxas de crescimento elevadas, embora a maior parte de seus esforços estivessem voltados para a indústria pesada e os bens de consumo foram deixados a segundo plano. Nos anos 1970-80, a URSS estava em primeiro lugar no mundo na produção de quase todos os tipos de produtos das indústrias básicas, aço, ferro fundido, máquinas-ferramentas, locomotivas diesel, locomotivas elétricas, tratores, colheitadeiras, estruturas de concreto pré-moldado, minério de ferro, coque, geladeiras, tecidos de lã, sapatos de couro, óleo animal, leite, produção de gás natural, produção de fertilizantes à base de potássio, madeira serrada, urânio de reator (50% da produção mundial produção), borracha sintética, tecidos de algodão, açúcar granulado, tubos de aço, tijolos, transporte ferroviário de mercadorias e passageiros, produção de vários tipos de equipamentos militares, de acordo com o número total de lançamentos de naves espaciais (50% do total de lançamentos no mundo), colheita bruta de batata, beterraba sacarina; em segundo lugar no mundo em termos de captura de peixes e outros frutos do mar, o número de ovelhas, o número de porcos, a produção de eletricidade, mineração de ouro, a produção de cimento, alumínio primário, fertilizantes nitrogenados, fertilizantes fosfatados, mineração de carvão, mineração de carvão, o comprimento total das ferrovias, volume de negócios de carga de automóveis, frete aéreo e de trafego de passageiros.

Taxas de crescimento anual médio da União Soviética (1950-1985)[5]
1950-1959 5,7%
1960-1969 5,2%
1970-1975 3,7%
1976-1979 2,6%
1980-1985 2%

Os indicadores econômicos soviéticos mostram um expressivo crescimento nos 5 anos entre 1965-70 registrando neste tempo uma média de 8,5% anuais em crescimento industriais, mas a partir desta data eles começaram a declinar. No período de 1981-1985 essa taxa havia caído para 3,5%.[6] Em um período de 20 anos, a produtividade soviética declinou de 6,3% para menos de 3% e investimentos, de 7,8% para apenas 1,8%.[7]

A máxima econômica adotada no início da gestão Gorbatchov foi a aceleração (Uskorenie, em russo), frequentemente associada ao aumento da produção industrial e consequente melhora no bem-estar da população em um rápido período.[8] A Uskorenie foi abandonada pouco tempo depois e com a Perestroika foram adotadas as medidas que resultaram na flexibilização do planejamento central e na formação das primeiras cooperativas, entre outras medidas adotadas.[8][9] A transformação das companhias financiadas pelo estado em companhias autossuficientes, junto da retirada das restrições ao mercado externo, representou a introdução dos primeiros elementos de uma economia de mercado dentro da União Soviética, até então um país primordialmente de economia centralmente planejada.[9][10] Esse conjunto de medidas implementadas em um período curto de tempo resultou, antes do fim da década de 80, na formação de estoques especulativos pelas empresas, escassez e falta de produtos nas lojas e no aumento significativo da inflação.[9] Sob Gorbatchov, a dívida externa da União Soviética só crescia. Em 1985, a dívida externa era de 14,9 bilhões de dólares, enquanto em 1989, o valor alcançou o valor de 45,4 bilhões de dólares.[9][11]

Índice 1985 1991
Reservas de ouro 2500 t. 240 t.
Dívida externa US$ 31,3 bilhões US$ 70,3 bilhões
Rublo/dólar 0,64 rublos/dólar 90 rublos/dólar
Crescimento econômico +2,3% -11%

Angelo Segrillo argumenta que gastos excessivos com setores não produtivos – como gastos militares com forças armadas e KGB – não foram determinantes para o desmoronamento, já que os gastos soviéticos nesta área não cresceram significativamente – e em seus últimos anos, diminuíram – quando comparada com dados de períodos anteriores. Para ele, o colapso econômico deveu-se principalmente a mudança do paradigma mundial de produção iniciado na década de 1970, substituindo o modelo Fordista, onde a produção era centralizada e com pouca flexibilidade – adotada com sucesso até então pela rígida e inflexível “economia de comando” planejada – para o modelo toyotista, que exigia uma flexibilidade, descentralização da produção e dinamismo – incompatível com o modelo econômico soviético.[5]

Vários fatores explicam esse declínio da produtividade soviética. Houve uma palpável agitação entre os trabalhadores da URSS, registrando-se greves e tentativas – todas fracassadas – de se formarem sindicatos livres, independentes do PCUS. Haviam outros problemas como o desperdício e falta de disciplina no trabalho, expressas no popular ditado “eles fingem que nos pagam e nós fingimos que trabalhamos”.[12]

Contudo, a retração economia, sozinha, ainda é incapaz de explicar o colapso do regime soviético. Nos seus últimos anos, a URSS foi capaz de manter uma taxa de crescimento quase constante e só registrou índices negativos dois anos antes de sua dissolução – em 1990, -4%; e 1991, -9%, o que demonstra que as reformas implantadas por Gorbatchev a partir de sua ascensão, em 1985, foram, em partes, as grandes responsáveis pelo agravamento – e não a causa – da crise. O historiador Eric Hobsbawm observa que:[13]

“A julgar pela completa falta de preparo dos governos ocidentais para o súbito colapso de 1989-91, as previsões do iminente falecimento do inimigo ideológico não passavam de rebotalhos de retórica pública. O que levou a União Soviética com rapidez crescente para o precipício foi a combinação de glasnost, que equivalia à desintegração de autoridade, com uma perestroika que equivalia à destruição dos velhos mecanismos que faziam a economia mundial funcionar, sem oferecer qualquer alternativa; e consequentemente o colapso cada vez mais dramático do padrão de vida dos cidadãos. (...) Foi uma combinação explosiva, porque solapou as rasas fundações da unidade econômica e política da URSS”.

O governo de Mikhail Gorbatchev introduziu reformas liberalizantes. Em meados de novembro de 1986, foi aprovado uma lei que aprovava o trabalho individual privado.[9] No maio do ano seguinte, outro estatuto foi aprovado, admitindo a existência de empresas privadas – chamadas juridicamente de “cooperativas” – más pouco funcionou, já que a permissão veio acompanhada de uma série de restrições e mais burocracias que, na prática, desestimulava o que queria encorajar.[10]

No ano seguinte, outro passo formal: um novo pacote de medidas foi aprovado, entre elas A Lei sobre empresa estatal que permitia uma certa liberdade das empresas tomarem decisões, fixarem decidir preços e fornecedores sem, necessariamente, uma burocracia elaborada, enquanto os planos quinquenais seriam apenas indicativos, limitando-se a fixar índices de produtividade fixados pelas empresas.[9] Porém, essas medidas pouco surtiram efeito, já que não vieram com uma regulamentação jurídica que previa a admissão e demissão de trabalhadores, os requisitos para falência, ou um sistema bancário definido para apoiar a iniciativa privada.

O principal desafio as reformas de Gorbatchev nos anos 1980 foi o esgotamento dos recursos para o desenvolvimento extensivo: matérias-primas naturais, recursos humanos. O único crescimento econômico possível tornou-se com o uso de fatores intensivos, usando as conquistas da revolução científica e tecnológica, a transição para a produção totalmente automatizada e o uso de novas tecnologias. No entanto, o modelo econômico que existiu nas últimas décadas da URSS não estimulou o interesse das empresas em utilizar as conquistas da revolução científica e tecnológica. Um maior desenvolvimento econômico foi possível retornando ao modelo stalinista da economia de comando e informatização total dos processos econômicos.

As reformas políticas de Gorbatchov introduziram eleições para o Soviete Supremo e comitês regionais, a anistia ao cientista e crítico Andrei Sakharov, seguida do término da perseguição a dissidentes, a remoção da censura na mídia e em trabalhos culturais e a supressão de conflitos locais, com destaque à manifestação dos jovens em Alma-Ata, à intervenção no Azerbaijão e à repressão aos movimentos nacionalistas das repúblicas do Báltico. Eventos importantes marcaram o modelo político de Gorbatchov, incluindo:

  • A reforma interna no PCUS, resultando na formação de diversas plataformas políticas e na consequente abolição do sistema unipartidário, com a remoção constitucional do artigo que definia o Partido como a força motriz e guia da nação;[14]
  • A reabilitação das vítimas do regime de Stálin, após décadas de silêncio;
  • O fim da Guerra do Afeganistão e a retirada das tropas soviéticas;[14]
  • A intervenção do exército em Baku, na madrugada de 20 de janeiro de 1990, contra a Frente Popular do Azerbaijão. Mais de 130 pessoas morreram, incluindo mulheres e crianças.

A política da Glasnost foi um dos pontos principais do governo de Gorbatchov. Apresentado em 1986, em meio a conflitos nacionalistas e à insatisfação social, o projeto consistia na abertura política, que tinha por objetivo trazer ao país a transparência e a liberdade de expressão.

Política externa

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Em 1985, Gorbatchov viajou ao Reino Unido, onde encontrou-se com Margaret Thatcher, após um período de tensas relações entre a primeira-ministra britânica e os antecessores de Gorbatchov no Kremlin. Em 1988, o presidente soviético anuncia que a o país abandonava oficialmente a Doutrina da Soberania Limitada, ao admitir que a Europa de Leste tinham o direito de adotar regimes democráticos, se desejassem. Seu porta-voz, Guennadi Guerassimov, em tom cômico, denominou esta disposição como Doutrina Sinatra. Isto levou à corrente de revoluções ocorridas nos países do Pacto de Varsóvia, através das quais o socialismo entrou em colapso. Essas revoluções ocorreram de forma pacífica e diplomática, como na Alemanha, com a queda do muro de Berlim, sendo a única exceção a Romênia, cujo recém-instalado governo revolucionário julgou e executou o ditador Nicolae Ceausescu. Terminava assim a Guerra Fria, o que justificou a atribuição do Nobel da Paz a Gorbatchov, em 15 de outubro de 1990.

Gorbatchov em 1987

A expressão “Império Soviético” havia sido cunhada, em plena Guerra Fria para descrever a postura hostil e o controle de Moscou sob países em sua zona de influência. Tendo a União Soviética se posicionado contra o Imperialismo como e tendo, inclusive, financiando movimentos pela independência na África e Ásia, portanto, não via com bons olhos essa expressão.

No entanto, alguns historiadores contemporâneos utilizam essa expressão, não como uma crítica ao modo como a União Soviética interferiu nos Estados sob sua influência, mas sua existência em si como país e sua identidade nacional.[15]

Para Serhii Plokhy, em “O Último Império: os Últimos Dias da União Soviética”, a Revolução Russa possibilitou aos bolcheviques salvar o império tzarista ao transformá-lo num Estado federal – ao menos em tese. Após o fim da primeira guerra mundial, praticamente todos os impérios coloniais europeus entraram em colapso e ruíram a pó: o alemão, dos Hohenzollern, o Austro-húngaro dos Habsburgo e o Otomano dos Otomanos. Porém, com a exceção dos territórios perdidos pelo tratado de paz separado com a Alemanha – diga-se de passagem, recuperados pelo Tratado de Não-Agressão de agosto de 1939 com Hitler e a seguinte Segunda Guerra Global -, o território do antigo império dos Romanov permaneceu praticamente intacto.

Essa experiência prolongou a história imperial da Rússia, mas a longo prazo não lhe permitiu escapar ao destino de outros impérios que haviam entrado em colapso antes dela naquele mesmo século. Em 1990, a maior parte das repúblicas soviéticas tinha presidentes, ministros das Relações Exteriores e parlamentos eleitos relativamente democraticamente. Somente em 1991 – com seu desmantelamento - o mundo finalmente compreendeu que a União Soviética não era a Rússia, mas um conjunto de outras unidades que a compunham. Por essa lógica, o colapso da União Soviética está na mesma categoria que os colapsos, no século XX, dos grandes impérios do mundo, inclusive o austro-húngaro, o otomano, o britânico, o francês e o português. O Império Russo tinha em sua composição étnica diversos povos com tradições, culturas, línguas e religião diferentes entre si. Com a convulsão revolucionária da Rússia, esses povos não seguiram, como na maioria dos outros impérios contemporâneos, os seus próprios caminhos, mas acabaram dentro das fronteiras do que viria a ser a União Soviética.[16]

Ao contrário da fragmentação que vitimou os grandes impérios europeus ao fim da Primeira Guerra Mundial, a Revolução Bolchevique preservou a maior parte da unidade territorial multinacional do velho Estado czarista pelo menos por mais 74 anos até, por fim, o colapso soviético. Sob esta interpretação, a queda da União Soviética pode ser vista como resultado, pelo menos em partes, de nacionalismos e aspirações de autodeterminação dos povos que a compunham:[17]

“(...) a corrida armamentista perdida, o declínio econômico, a ressurgência democrática e a falência dos ideais comunistas, ainda que tenham contribuído para a implosão da União Soviética, não predeterminaram sua desintegração, causada pelos fundamentos imperiais, pela composição multiétnica e pela estrutura pseudofederal do Estado soviético (...) Chamo a União Soviética de último império não por acreditar que não existirão outros, mas porque ela foi o último Estado a dar continuidade ao legado dos impérios europeus e eurasiáticos ‘clássicos’ da era moderna.”

A gradual democratização da União Soviética levou à perda de poder por parte do Partido Comunista, resultando na divisão do Partido entre as alas liberal, moderada e conservadora. A ala liberal, chefiada por Boris Iéltsin e Anatoli Sobtchak, defendia uma abertura completa do país para o capitalismo e a independência de todas as repúblicas que estavam sob domínio soviético. A ala moderada, liderada pelo próprio Gorbatchov, defendia a manutenção do Estado soviético e a continuação das reformas políticas e econômicas, enquanto a ala conservadora, liderada por Egor Ligatchov e Guennadi Ianaiev e composta dos políticos conhecidos como linhas-duras, era partidária da instalação de um novo regime que desse fim às reformas neoliberais e iniciassem um novo período político e econômico para a URSS. Em poucos dias, um impasse político se instauraria na União Soviética.

Em agosto de 1991, os conservadores se aliaram ao KGB para derrubar Gorbatchov e dar fim às suas reformas. Os liberais, porém, com o comando de Boris Iéltsin, enfrentaram os golpistas para manter Gorbatchov no poder. Entre 19 e 21 de agosto, o presidente soviético foi encarcerado em uma dacha na Crimeia. Enquanto isso, em Moscou, os liberais detinham os golpistas, e passados os três dias, Gorbatchov retornou ao poder.

Os planos de Iéltsin, contudo, não eram favoráveis a Gorbatchov. Conforme o líder liberal ganhava cada vez mais partidários, a popularidade de Gorbatchov abaixava constantemente. O presidente demitiu e encomendou a prisão dos membros do Politburo que tomaram a iniciativa do golpe e que mais tarde ficariam conhecidos como a Gangue dos Oito.

Boris Iéltsin, que antes defendera Gorbatchov, agora tomava o poder de suas mãos. Declarando a Rússia uma república independente da União Soviética, Iéltsin proibiu a atividade do PCUS em solo russo, e em 8 de dezembro aliou-se aos presidentes de Ucrânia e Bielorrússia para apresentar a soberania destes países sobre o poder central soviético. Neste momento, os dois poderes se conflitavam. Sem qualquer domínio ou autoridade, Gorbatchov, representando a URSS, reconheceu a vitória de Iéltsin e a independência das ex-repúblicas soviéticas, e então resignou ao cargo, sem antes declarar a União Soviética oficialmente extinta. Toda a estrutura governamental soviética tornava-se nula, bem como o posto de Gorbatchov. Na noite de 25 de dezembro de 1991, a bandeira soviética foi retirada do mastro do Kremlin, o mais alto símbolo de poder na Rússia.

Vida pós-soviética

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Em termos gerais, Gorbatchov é bem-visto no mundo Ocidental graças à sua contribuição para o fim da Guerra Fria. Contudo, na Rússia, a sua reputação não é tão favorável devido à crise económica e social que se instalou logo após a queda da URSS.

Criou a Fundação Gorbatchov em 1992. Em 1993, fundou também a Cruz Verde Internacional. Foi um dos principais promotores da Carta da Terra, em 1994. Tornou-se, igualmente, membro do Clube de Roma.

Edifício da Fundação Gorbachev em Moscou.

A 17 de Junho de 1995 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade de Portugal.[18]

Obteve menos de um por cento dos votos na eleição presidencial de 1996.[19]

Gorbatchov encontra-se com o presidente Vladimir Putin.

Em 1997, Gorbatchov entrou num anúncio da Pizza Hut, que passou na televisão norte-americana.

A 26 de novembro de 2001, Gorbatchov fundou, igualmente, o Partido Social Democrata Russo, como resultado da união de vários partidos que partilhavam esta ideologia. Demitiu-se como líder partidário em julho de 2004 em consequência de desacordos com o presidente do partido em relação às opções tomadas durante as eleições de dezembro de 2003.

No início de 2004, Gorbatchov registrou a sua marca de nascença, na testa, devido à sua utilização por uma marca de vodka que lhe fazia referência. O caso é tanto mais curioso quanto Gorbatchov implementou algumas leis de combate ao alcoolismo enquanto líder da União Soviética. A referida marca de vodka entretanto mudou de rótulo.

Em 8 de Fevereiro de 2004, foi galardoado com um Grammy, juntamente com Bill Clinton e Sophia Loren pela narração conjunta do disco Prokofiev: Peter and the Wolf/Beintus: Wolf Tracks sobre Pedro e o lobo, de Prokofiev, uma versão moderna da história, com intuitos ecológicos - o que vai ao encontro das preocupações ambientais que têm marcado os últimos anos.

Foi considerado crítico do presidente Vladimir Putin. Em 2011, vinte anos após sua renúncia, Gorbatchov aconselhou que Putin deixasse a presidência, por conta da onda de protestos em massa que tomaram conta do país após as eleições legislativas daquele ano, afirmando que para salvar tudo o que o presidente já fez de positivo, ele teria de renunciar. Putin respondeu às críticas de Gorbatchov através de seu porta-voz, enfatizando que um ex-líder que conseguiu quebrar o país hoje pede a renúncia de outro líder que salvou a Rússia do mesmo destino.

Gorbatchov morreu no Hospital Clínico Central de Moscou em 30 de agosto de 2022,[20] aos 91 anos de idade.[21] O hospital afirmou que se tratou de uma "doença grave e prolongada", estando sob supervisão contínua dos médicos desde o início de 2020.[22][23][24] Gorbachov foi sepultado no Cemitério Novodevichy de Moscou, ao lado de sua esposa Raisa, que morreu em 1999, segundo seu testamento.[25]

Na época de sua morte, Gorbatchov era o governante mais longevo da Rússia na história, derrotando Alexander Kerensky e o líder nominal da URSS Vasili Kuznetsov, que ambos viveram até ter 89 anos.[26]

O presidente da Rússia Vladimir Putin expressou suas condolências pela morte de Gorbachev, segundo o porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov.[27] Dois dias após a morte, Putin deixou flores ao lado do caixão de Gorbachev e fez o sinal da cruz ortodoxo, conforme a tradição russa. Segundo o porta-voz do Kremlin, a agenda de trabalho de Putin não permitiu que ele fosse ao enterro, por isso transmitiu suas homenagens através da TV estatal.[28]

A presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen prestou homenagem a ele no Twitter, assim como o primeiro-ministro do Reino Unido Boris Johnson, o ex-secretário de Estado dos EUA Condoleezza Rice e o Taoiseach da Irlanda Micheál Martin.[29]

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse que Gorbatchov era "um estadista único que mudou o curso da história e um líder global imponente, multilateralista comprometido e defensor incansável da paz", enquanto o ex-secretário de Estado dos EUA James Baker III afirmou que "a história lembrará Mikhail Gorbachev como um gigante que dirigiu sua grande nação para a democracia" no contexto da conclusão da Guerra Fria. O ex-primeiro-ministro canadense Brian Mulroney disse que "ele era um homem muito agradável de se lidar" e "a história o lembrará como um líder transformacional".[30]

Recepção e legado

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Os presidentes George H. W Bush e Mikhail Gorbachev assinam acordos Estados Unidos-União Soviética na Sala Leste da Casa Branca. 1 de junho de 1990. Gorbachev é creditado como "o homem que pôs fim a Guerra Fria"[31]

Opiniões sobre Gorbatchov são muito divididas.[32] De acordo com uma pesquisa de 2017 realizada pelo instituto independente Levada Center, 46% dos cidadãos russos têm uma opinião negativa em relação a Gorbatchov, 30% são indiferentes, enquanto apenas 15% têm uma opinião positiva.[33] Muitos, principalmente nos países ocidentais, o veem como o maior estadista da segunda metade do século XX.[34] A imprensa dos EUA referiu-se à presença de "Gorbymania" nos países ocidentais durante o final dos anos 1980 e início dos anos 1990, representada por grandes multidões que compareciam para saudar suas visitas,[35] com a Time nomeando-o "Homem da Década" na década de 1980.[36] Na própria União Soviética, pesquisas de opinião indicaram que Gorbatchov foi o político mais popular de 1985 até o final de 1989.[37] Para seus apoiadores domésticos, Gorbatchov era visto como um reformador tentando modernizar a União Soviética[38] e construir uma forma de socialismo democrático.[39] Taubman caracterizou Gorbatchov como "um visionário que mudou seu país e o mundo — embora nem tanto quanto ele desejasse".[40] Taubman considerava Gorbatchov como sendo "excepcional... como um governante russo e um estadista mundial", destacando que ele evitou a "norma tradicional, autoritária e antiocidental" de ambos os antecessores como Brezhnev e sucessores como Putin.[41] McCauley acredita que, ao permitir que a União Soviética se afastasse do marxismo-leninismo, Gorbatchov deu ao povo soviético "algo precioso, o direito de pensar e administrar suas vidas por si mesmo", com toda a incerteza e risco que isso implicava.[42]

Para o historiador Eric Hobsbawm:[43]

"O fracasso da perestroika e a conseqüente rejeição de Gorbachev pelos cidadãos eram cada vez mais óbvios, embora não reconhecidos no Ocidente, onde a popularidade dele permaneceu justificadamente alta. Isso reduziu o líder da URSS a uma série de manobras de bastidores e mudanças de alianças com grupos políticos e de poder que haviam surgido da parlamentarização da política soviética, o que o tornou igualmente suspeito para os reformistas que inicialmente se haviam reunido à sua volta — os quais ele de fato convertera numa força para a mudança do Estado — e para o fragmentado bloco do partido cujo poder ele quebrara. Ele foi uma figura trágica, e assim vai entrar na história, um “czar-libertador” comunista, como Alexandre II [nota 3] que destruiu o que queria reformar e foi destruído ao fazer isso. Charmoso, sincero, inteligente e verdadeiramente movido pelos ideais de um comunismo que via corrompido desde a ascensão de Stalin, Gorbachev era, paradoxalmente, demasiado um homem de organização para o burburinho da política democrática que criara; demasiado um homem de comitê para uma ação decisiva; ele estava demasiado distante das experiências da Rússia urbana e rural, que jamais administrou, para ter o senso das realidades nas bases que dispunha um velho chefão do partido. Seu problema era não tanto o de não ter estratégia efetiva para reformar a economia — ninguém tinha, mesmo depois de sua queda — quanto estar distante da experiência do cotidiano de seu país. ".

As negociações de Gorbatchov com os EUA ajudaram a pôr fim à Guerra Fria e reduziram a ameaça de conflito nuclear.[40] Sua decisão de permitir que o Bloco Oriental se separasse evitou conflitos significativos na Europa Central e Oriental; como Taubman observou, isso significava que o "Império Soviético" terminou de uma maneira muito mais pacífica do que o Império Britânico várias décadas antes.[40] Da mesma forma, sob Gorbatchov, a União Soviética se separou sem cair em guerra civil, como aconteceu durante a dissolução da Iugoslávia ao mesmo tempo.[44] McCauley observou que ao facilitar a fusão da Alemanha Oriental e Ocidental, Gorbatchov foi "um co-pai da unificação alemã", garantindo-lhe popularidade de longo prazo entre o povo alemão.[45]

Gorbatchov conseguiu destruir o que restava do totalitarismo na União Soviética; ele trouxe liberdade de expressão, de reunião e de consciência para pessoas que nunca a conheceram, exceto talvez por alguns meses caóticos em 1917. Ao introduzir eleições livres e criar instituições parlamentares, ele lançou as bases para a democracia. É mais culpa da matéria-prima com que trabalhou do que de suas próprias deficiências e erros reais que a democracia russa levará muito mais tempo para construir do que ele pensava.

—William Taubman, biógrafo de Gorbachev, em 2017[40]

Ele também enfrentou críticas domésticas durante seu governo. Durante sua carreira, Gorbatchov atraiu a admiração de alguns colegas, mas outros passaram a odiá-lo.[46] Em toda a sociedade, sua incapacidade de reverter o declínio da economia soviética trouxe descontentamento.[47] Os liberais achavam que ele não tinha o radicalismo para realmente romper com o marxismo-leninismo e estabelecer uma democracia liberal de livre mercado.[48] Por outro lado, muitos de seus críticos do Partido Comunista achavam que suas reformas eram imprudentes e ameaçavam a sobrevivência do socialismo soviético;[49] alguns acreditavam que ele deveria ter seguido o exemplo do Partido Comunista da China e se restringido a reformas econômicas em vez de governamentais.[50] Muitos russos viram sua ênfase na persuasão ao invés da força como sinal de fraqueza.[51]

Para grande parte da nomenklatura do Partido Comunista, a dissolução da União Soviética foi desastrosa, pois resultou em sua perda de poder.[52] Na Rússia, ele é amplamente desprezado por seu papel no colapso da União Soviética e o colapso econômico que se seguiu.[32] General Varennikov, um dos que orquestrou a tentativa de golpe de 1991 contra Gorbatchov, por exemplo, o chamou de "um renegado e traidor de seu próprio povo".[53] Muitos de seus críticos o atacaram por permitir que os governos marxistas-leninistas em toda a Europa Oriental caíssem,[54] e por permitir que uma Alemanha reunificada se juntasse à OTAN, algo que eles consideram contrário ao interesse nacional da Rússia.[55]

O historiador Mark Galeotti enfatizou a conexão entre Gorbatchov e seu antecessor, Andropov. Na opinião de Galeotti, Andropov era "o padrinho da revolução de Gorbatchov", porque, como ex-chefe da KGB, ele foi capaz de defender a reforma sem ter sua lealdade à causa soviética questionada, uma abordagem que Gorbatchov era capaz de construir e seguir adiante.[56] De acordo com McCauley, Gorbatchov "colocou reformas em movimento sem entender onde elas poderiam levar. Nunca em seu pior pesadelo ele poderia ter imaginado que a perestroika levaria à destruição da União Soviética".[57]

De acordo com o The New York Times, "Poucos líderes no século 20, na verdade em qualquer século, tiveram um efeito tão profundo em seu tempo. Em pouco mais de seis anos tumultuados, Gorbatchov levantou a Cortina de Ferro, alterando decisivamente o clima político do mundo".[58]

Publicações

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Ano Título Co-autor Editor
1996 Memoirs Doubleday
2005 Moral Lessons of the Twentieth Century: Gorbachev and Ikeda on Buddhism and Communism Daisaku Ikeda I. B. Tauris
2016 The New Russia Polity
2018 In a Changing World
2020 What Is at Stake Now: My Appeal for Peace and Freedom Polity

Notas e referências

Notas

  1. Cargo denominado Presidente do Presidium do Soviete Supremo de 1 de outubro de 1988 a 25 de maio de 1989, Presidente do Soviete Supremo de 25 de maio de 1989 a 15 de março de 1990 e Presidente da União Soviética de 15 de março de 1990 a 25 de dezembro de 1991.
  2. Devido à falta de convenções para a transcrição do alfabeto cirílico ao latino, seu nome é corriqueiramente grafado como Gorbatchev, Gorbachev, Gorbatchof, Gorbatchov, entre outras variações. Uma possível transcrição fonética para o português seria Mihaíl Sirguiêivitch Garbatchóf. O nome da introdução está de acordo com as regras específicas da comunidade.
  3. Alexandre II libertou os servos e empreendeu várias outras reformas, mas foi assassinado por membros do movimento revolucionário, que se tornara pela primeira vez uma força em seu reino

Referências

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  2. Schmemann, Serge; Times, Special To the New York (12 de março de 1985). «CHERNENKO IS DEAD IN MOSCOW AT 73; GORBACHEV SUCCEEDS HIM AND URGES ARMS CONTROL AND ECONOMIC VIGOR; TRANSFER IS SWIFT». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331. Consultado em 1 de setembro de 2022 
  3. «Cópia arquivada». Consultado em 16 de novembro de 2018. Arquivado do original em 2 de dezembro de 2013 
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  24. Вишнева, Светлана (20 de junho de 2022). «Представитель Горбачева подтвердил наличие проблем с почками у политика». radiokp.ru (em russo). Consultado em 30 de agosto de 2022 
  25. «Горбачева похоронят рядом с супругой на Новодевичьем кладбище». РЕН ТВ (em russo). 30 de agosto de 2022. Consultado em 30 de agosto de 2022 
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Ligações externas

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Precedido por
Konstantin Chernenko
Secretário-Geral do
Partido Comunista da União Soviética

1985 — 1991
Sucedido por
Vladimir Ivashko (interino)
Precedido por
Tenzin Gyatso
Nobel da Paz
1990
Sucedido por
Aung San Suu Kyi