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Primeira Missa no Brasil (Victor Meirelles)

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Primeira Missa no Brasil
Primeira Missa no Brasil (Victor Meirelles)
Autor Victor Meirelles
Data século XIX
Gênero pintura histórica
Técnica tinta a óleo, tela
Dimensões 268 centímetro x 356 centímetro
Localização Museu Nacional de Belas Artes
Descrição audível da obra no Wikimedia Commons
Recurso audível (info)
noicon
Este áudio foi inserido no verbete em 16 de novembro de 2017 e pode não refletir mudanças posteriores (ajuda com áudio).

Primeira Missa no Brasil, óleo sobre tela do gênero de pintura histórica, é considerada a primeira grande obra do pintor brasileiro Victor Meirelles. A tela foi feita entre 1859 e 1861,[1] em Paris, durante o período em que o artista viveu na Europa graças a uma bolsa de estudos concedida pela Academia Imperial de Belas Artes. Com 9 m2, Primeira Missa no Brasil foi inspirada na carta escrita por Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal descrevendo a primeira missa feita no país.[2] O estilo de pintura adotado por Meirelles é influenciado por padrões estéticos europeus que buscam a criação de figuras heroicas e exaltação da natureza.[3] A natureza estética da obra se relaciona com o momento de afirmação do Estado Nacional e da construção de identidade brasileira também nas artes visuais.[4]

O quadro se tornou uma das telas mais populares e reconhecidas do país[1] e, exposta no Salão Oficial de Paris em 1861, foi a primeira tela brasileira a participar em uma mostra internacional de relevância. A obra também conferiu a Meirelles o grau de cavaleiro Imperial da Ordem da Rosa e o cargo de professor honorário da Academia de Belas Artes.[5]

Estudo para o quadro.

A grande dimensão da tela, 2,70 por 3,57 metros,[6] é característica comum às pinturas históricas, gênero em que Primeira Missa no Brasil está inserida.[7] O quadro representa a primeira missa celebrada no Brasil a partir dos relatos de viagem feitos por Pero Vaz de Caminha. Nele, o momento é representado em uma organização circular em torno da figura principal, o Frei Henrique de Coimbra, que ocupa também o centro físico da tela em um gesto de erguer o cálice. Os grupos que Meirelles representa, índios e portugueses, estão diferenciados tanto por suas características físicas quanto por sua atitude diante da missa. Enquanto os portugueses se ajoelham e mantém uma postura séria diante do altar, os índios se dispõe entre as árvores e o chão, conversam e esboçam estranhamento causado pelo acontecimento.[5] Apesar das diferenças entre os grupos, todos assistem à missa harmoniosamente[2] e evidenciam respeito e concentração durante a cerimônia.[1]

Primeira Missa em Kabylie, de Horace Vernet, que inspirou Meirelles.

O núcleo central da obra, em que se encontra o altar que sustenta a cruz de madeira, foi inspirado na obra de Horace Vernet, a Primeira Missa em Kabylie. O artista francês se tornou uma das grandes referências de Meirelles para a construção da obra, mas o pintor brasileiro de distancia de Vernet ao optar por retratar a cena com mais leveza.[2] A iluminação principal também incide no núcleo central, deixando o primeiro plano, composto pelos índios, em uma área de sombra. Já a paisagem, que compõe principalmente o fundo da tela, também chega ao primeiro plano, em que faz parte da cena envolvendo as figuras que participam do ritual.[5] A natureza retratada é própria do nordeste brasileiro e os índios, apesar de estamparem pinturas corporais, são representados de forma idealizada e sem indicações de uma etnia específica.[2]

Estudo para o quadro.

Primeira Missa no Brasil foi executado em um momento em que o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, fundado em 1838, junto à Academia Imperial de Belas Artes, buscava estabelecer mitos fundadores da história do país. Baseado em experiências jesuíticas, o conceito de nação que se buscava narrar caminhava com a ideia de um processo civilizador como forma de assegurar o controle do Estado sobre populações indígenas. Meirelles foi influenciado por esse sistema de criação de referências visuais, em especial na pintura histórica, a partir de pesquisas de documentos históricos e da construção de personagens heroicos e de fundos de tela com elementos que exaltam a natureza.[3]

A obra foi realizada no período em que Victor Meirelles viveu na Europa graças a uma bolsa de estudos concedida para aprimorar seus conhecimentos acadêmicos.[8] Manuel Araújo Porto-Alegre, então diretor da Academia Imperial de Belas Artes, sugeriu o tema do mito fundador do Brasil com o interesse de obter apoio governamental para promover o desenvolvimento das Belas-Artes no país.[1] O pintor, então, utilizou como grande referência a Carta de Pêro Vaz de Caminha, documento que relata suas impressões sobre o Brasil e que descreve a primeira missa realizada no país.[8]

Análise (estilo artístico e relevância da obra)

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Estudo para o quadro.

Primeira Missa no Brasil é considerado por alguns teóricos o precursor das pinturas de caráter histórico no Brasil.[7] Uma das característica desse gênero é a verossimilhança, ou seja, tem-se a pretensão de reproduzir uma cena tal qual ela aconteceu.[5] Mas além das características das pinturas históricas, Meirelles foi influenciado pelo quadro Primeira Missa em Kabylie, de Horace Vernet. A análise minuciosa do quadro francês, apresentado no Salão de Paris em 1955, foi motivada por ser uma referência em que o artista foi testemunha ocular da cena: Vernet assistiu à missa que celebrava a colonização francesa na África do Norte. A obra francesa carregava uma legitimidade nos parâmetros da pintura histórica que inspirou o pintor brasileiro.[9]

O quadro, considerado a primeira grande obra de Meirelles, se tornou uma das telas mais populares do Brasil[1] e aparece recorrentemente em materiais didáticos de História.[10] A importância que Primeira missa no Brasil tem foi reconhecida no ano seguinte em que foi concluída, quando, em 1861, foi exposta no Salão Oficial de Paris. Foi a primeira vez que um artista brasileiro participou de uma mostra internacional com a relevância que o Salão possui, marcando não só a carreira de Meirelles, mas também a da Academia Imperial.

A obra e a identidade nacional

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Estudo para o quadro.

Junto a outras obras de Pedro Américo, como o Grito do Ipiranga e Batalha do Avaí, e a outras do próprio Meirelles, como Batalha dos Guararapes, A Primeira Missa no Brasil faz parte de um grupo de representações românticas da história nacional.[11] O tema 'Primeira Missa' possui uma iconografia extensa no continente americano e foi retomado no período da República no Brasil como um marco fundador da criação de cidades. Era uma maneira de enfatizar histórias regionais.[2] A obra de Meirelles tinha o objetivo de ser um marco fundador não somente de uma região do país, mas do Brasil em si, e a grande circulação de sua obra a coloca como elemento importante do imaginário coletivo da história nacional.[7]

Como representação plástica de um acontecimento, os elementos que constituem a nacionalidade na obra foi objeto de investigação acadêmico. Primeira Missa no Brasil, em um primeiro momento, sugere que a nação é fundada no momento em que os portugueses instituem o catolicismo no país, característica que contribui para a ideia de um surgimento da nação a partir de uma ação civilizatória.[7] A harmonia entre os representados na tela também sugere uma ideia de igualdade e contribui para a criação de outro aspecto da identidade nacional: que a construção de seus símbolos são uma ferramenta de contenção de revoltas.[4]

Recepção da obra

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Estudo para o quadro.

Depois de sua primeira exposição em 1861 no Salão de Paris, em maio de 1876 a obra volta a ser exposta no exterior. Enviada junto a outras duas obras de Meirelles, Passagem de Humaitá e Combate Naval de Riachuelo, Primeira Missa no Brasil ficou exposta na seção de Belas Artes da Exposição da Filadélfia, nos Estados Unidos.[8] Além da recepção em exposições internacionais, a obra conferiu a Victor Meirelles o grau de cavaleiro Imperial da Ordem da Rosa e o cargo de professor honorário da Academia de Belas Artes.[5]

Em 2013, o quadro fez parte da exposição de longa duração Quando o Brasil Amanhecia, do Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro,[6] na Galeria de Arte Brasileira do Século XIX.[12]

Referências

  1. a b c d e Couto, Maria de Fátima Morethy (4 de novembro de 2009). «Imagens eloqüentes: a primeira missa no Brasil». Artcultura. 10 (17). ISSN 2178-3845 
  2. a b c d e Christo, Maraliz de Castro Vieira (30 de dezembro de 2009). «A pintura de história no Brasil do século XIX: Panorama introdutório». Arbor. 185 (740): 1147–1168. ISSN 1988-303X 
  3. a b Molina, Ana Heloisa (30 de julho de 2014). «Ensino de História e Imagens: possibilidades de pesquisa». Domínios da Imagem. 1 (1): 15–29. ISSN 2237-9126 
  4. a b DECCA, EDGAR SALVADORI DE. «CIDADÃO, MOSTRE-ME A IDENTIDADE!» (PDF). Cad. Cedes. Unicamp. Consultado em 16 de novembro de 2017 
  5. a b c d e Venâncio, Giselle Martins (25 de junho de 2009). «PINTANDO O BRASIL: artes plásticas e construção da identidade nacional (1816-1922)». Revista Eletrônica História em Reflexão. 2 (4). ISSN 1981-2434 
  6. a b «Museu de Belas Artes exibe obras consideradas ícones das artes plásticas do país». EBC. 20 de abril de 2013 
  7. a b c d Venâncio, Giselle Martins (25 de junho de 2009). «PINTANDO O BRASIL: artes plásticas e construção da identidade nacional (1816-1922)». Revista Eletrônica História em Reflexão. 2 (4). ISSN 1981-2434 
  8. a b c Coelho, Mario Cesar (2007). «Os Panoramas perdidos de Victor Meirelles: aventuras de um pintor acadêmico nos caminhos da modernidade». Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Consultado em 20 de outubro de 2017 
  9. Castro, Isis Pimentel de (2009). «Entre a opsis e a akôe: as marcas de enunciação na pintura histórica e na crítica de arte do oitocentos». História da Historiografia. 0 (2): 29–49 
  10. Guimarães, Francisco Alfredo Morais. «A TEMÁTICA INDÍGENA NA ESCOLA: ONDE ESTÁ O ESPELHO?». Consultado em 16 de novembro de 2017 
  11. Coelho, Tiago da Silva (19 de dezembro de 2012). «A IMAGEM E O ENSINO DE HISTÓRIA EM TEMPOS VISUAIS». PerCursos. 13 (2): 188–199. ISSN 1984-7246 
  12. Globo, Acervo - Jornal O. «Da Academia Real ao Museu Nacional de Belas Artes, um tesouro de 20 mil obras». Acervo