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  • Crítica | O Reino Proibido

    Crítica | O Reino Proibido

    Rob Minkoff conduz a tradução fílmica de uma lenda milenar, A Jornada ao Oeste, que anteriormente foi “traduzida” para o ocidente através do mangá mais popular da história, Dragon Ball, de Akira Toriyama. Muito mais preso e fiel ao cerne do conto original, O Reino Proibido começa em um sonho, que faz alegoria a um sonho envolvendo o Rei Macaco (Jet Li), com pelos dourados, lutando em um estilo de Kung-Fu com os seus opositores.

    O próximo corte faz menção a um sonho de um jovem americano chamado Jason Tripitikas (Michael Angarano), que acorda após sonhar com o momento maravilhoso, frustrado por não conseguir assistir até o final a aventura. À sua volta, há uma televisão ligada, em um típico filme de artes marciais, além de materiais colecionáveis e pôsteres, que exprimem seu fanatismo pelo exploitation do tema luta. A volúpia pela temática faz Jason passear por lojas especializadas em cultura asiática à procura de novas aventuras semelhantes às que permeiam seus sonhos, e é em um desses lugares que encontra o sábio Old Hope, que tenta em vão passar alguns parcos ensinamentos a ele. Após sofrer uma ação de bullying, Jason é perseguido até a lojinha; após uma confusão, o menino vê o mentor perecer, mas não antes de ser entregue a si um cajado em forma de bastão, que em meio à fuga, o faz teletransportar para outra realidade.

    Jason logo chega a uma planície verdejante, totalmente diferente da urbanidade suja em que antes habitava. Sem entender uma palavra dita pelos que o cercam, ele percebe estar em uma viagem pelo tempo feudal, em algum lugar da China, sendo guiado por um guerreiro hábil, que se vale de sua bebedice – reprisando o estilo que fez seu intérprete Jackie Chan famoso – para vencer seus oponentes. O “novo” mentor é Lu Yan, e é a partir dele que Jason descobre que o dono do bastão é o Rei Macaco, o mesmo que habitava suas fantasias pós noite.

    A direção de arte de Che Liu Kam é primorosa. Sua experiência com filmes Hong Kong o coloca em um patamar ideal para feitoria da fita. Os cenários, figurinos e demais apetrechos visuais servem muito bem a ambientação mítica, regida a perfeição, rivalizando como melhor aspecto do filme apenas com as belas coreografias de luta de Chan e Li, que mesmo veteranos, exibem uma inspirada atuação física e até dramatúrgica, claro, levando em consideração que interpretam caricaturas.

    A luta entre os dois símbolos dos filmes de Kung Fu pós-Bruce Lee é um evento mítico por si só, mas não é jogado ao léu. O embate é plenamente justificado pelo roteiro, fazendo valer os detalhes da lenda e os arquétipos narrativos da jornada do herói de Joseph Campbell, imprimindo questões como alta traição e redenção, além de dar espaço para os estilos clássicos da arte marcial, do louva-deus (ou gafanhoto) feito pelo Silent Monk de Li e do tigre, protagonizado por Chan.

    Após uma união de forças, Silent Monk e Lu Yan passam a treinar Jason, para que ele possa ser páreo ante as forças do mal que se aproximam do grupo, a busca pelo sagrado armamento. As forças de Ni Chang (Bingbing Li) a serviço de Jadn Warlord (Colin Chou) – o déspota que traiu seu império, causando todo o mal que acomete a nação – travam belas batalhas com os defensores dos ideais de justiça, que estão a serviço do Rei Macaco, que enfim retorna para proteger seus súditos.

    A direção de Rob Minkoff era acostumada a pautar comédias infantis, mas não exclusivamente estas. Mesmo em Stuart Little, o diretor provou conseguir tocar o imaginário do público adulto, além de entreter o majoritário composto por crianças. Em O Reino Proibido o conceito evoluiu, para se tornar certamente a obra prima de seu autor, que consegue dosar momentos míticos com a atualidade, exibindo uma história à prova do tempo, por seu valor universal e de renovação.

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  • Crítica | Os Mercenários 3

    Crítica | Os Mercenários 3

    Expendables 3

    Simbolicamente – e claro, a exemplo dos dois episódios anteriores – Os Mercenários 3 já começa em meio a ação, mostrando Barney Ross (Sylvester Stallone) e seu grupo de dispensáveis brucutus invadindo um trem em movimento, no intuito de resgatar o preso e antigo amigo do membro do grupo Surgeon, que é vivido por Wesley Snipes, que apesar de ser resgatado, permanece arredio. A quantidade de referências à vida pessoal do intérprete (este ficou um tempo longe dos holofotes por estar encarcerado) só não é maior que o paralelo feito com o retorno aos sucessos que cada um dos antigos heróis de ação teve após o primeiro filme de Sly e companhia.

    No entanto, uma mudança é notada logo de início. Apesar do conteúdo da fita permanecer agressivo, a faixa etária da classificação indicativa diminuiu drasticamente, o que impede a câmera do novato Patrick Hughes de exibir a quantidade colossal de sangue e dilacerações que permeavam os filmes anteriores. O retorno de Surgeon, além de causar uma marola na relação dos Mercenários (com uma referência, claro, a este como alcunha do clube) por este, como Christmas (Jason Statham) ser especialista em facas, reabre algumas feridas, como com as mostras das tags dos antigos companheiros mortos e claro, com a descoberta da sobrevivência de Conrad Stonebanks, encarnado por um bombadíssimo Mel Gibson.

    Além de guardar o ódio de seus antigos colegas, Stonebanks alveja Caesar (Terry Crews), e o põe em um perigo de vida imenso, o que faz Barney pensar mais seriamente em uma aposentadoria, não por si, mas por seus companheiros. A caçada do herói passa a ser solo, resgatando mais algumas figuras de seu passado, cortando a estrada em busca do que deu errado, e do porquê de Conrad ainda estar vivo. Nesse ínterim, ele é apresentado a uma nova gama de personagens, entre eles o novo encarregado da CIA vivido por Harrison Ford, Drummer – que consegue ser um trocadilho até pior que Church – o selecionador de novos talentos Bonaparte (Kelsey Grammer) e o acrobata cinquentenário Galgo (Antonio Banderas) e alguns outros meninos novos, com disposição e com todos os dentes na boca, que deveriam substituir os trabalhos de seus antigos colegas.

    Refugados por seu antigo líder, Lee e os outros veem a força tarefa da nova geração embarcar junto a Barney e Trench (Arnold Schwarzenegger), repleta de rostos bonitos, sorrisos encantadores, remetendo visualmente às séries consumidas pelos adolescentes atuais, em mais uma artimanha de Stallone em alcançar o público juvenil. A dura realidade de estar novamente relegado a um papel secundário, em um campo onde antes reinavam, acomete Lee, Gunnar (Dolph Lundgren), Toll Road (Randy Couture) e Surgeon, e até o que poderia ser um defeito do guião acaba sendo uma boa anedota, a banalização da figura do brucutu serve como uma excelente motivação dentro da proposta.

    O legado que Ross tenta deixar é o de proteger os que lhe são caros, mesmo que isso signifique tirar da ação aqueles que sempre foram fiéis, o que faz o embate com seu antigo parceiro ser ainda mais aviltante, uma vez que Conrad considera que ambos são iguais. O antagonista não vê diferença nas posturas tomadas pelos sexagenários mercenários, e em meio a uma troca de papéis nos arquétipos de gato e rato, Stonebanks rapta a nova equipe de Barney, o que faz com que o dream team retorne das cinzas, em mais uma manobra redentora típica dos filmes que Sly dirigia nos anos 80.

    O modo como Hughes conduz a câmera é competente em sua proposta, uma vez que, ao contrário dos outros filmes onde se fazia um pastiche dos filmes de ação oitentistas, esse serve para mergulhar na mente e na operação de seus protagonistas. A fita é repleta de humor, especialmente nas figuras de Galgo, mas o viés de reflexão é mais sobre a obsolescência do que qualquer outra coisa, não que haja alguma inteligência maior do que nos outros momentos da franquia, mas a emoção é muito mais elevada, a busca é em comover a audiência através do drama de seus heróis.

    Nas cenas finais, é a velha guarda que toma as rédeas da situação, protagonizando as partes mais interessantes do embate, que infelizmente usa e abusa dos efeitos em CGI. Um dos diferenciais da franquia até então eram os combates filmados in loco, com técnicas que podem ser vistas como rudimentares pelo expectador novato, mas que garantiam às fitas mais veracidade e textura.

    No entanto, os erros de concepção ficam ainda mais evidentes. O vilão poderia ter sido melhor construído, ele não é nem tão digno de ódio quanto Villain era em Os Mercenários 2. Falta sentir apuro pelos personagens principais, a todo momento parece que os velhacos se safarão sem arranhões, são raros os embates físicos, que até são precedidos por frases feitas de cunho excelente, mas pouco mostram, ainda que a breve luta de Stonebanks e Ross seja interessante. O grave problema deste Os Mercenários 3 é ser bem menos divertido do que as fases pretéritas, deixando espaço para enxergar seus defeitos.

    A mensagem deixada em seu final vai de encontro a tudo o que foi mostrado na carreira de Stallone e também nesta franquia. O modo como Barney olha para aqueles que seriam os seus alunos, trinta anos mais jovens fazendo tudo o que ele cansou de fazer em tela dá a tônica de como funciona atualmente a mente e a intimidade do ator, diretor e cineasta, talvez até antevendo uma possível aposentadoria, se não da carreira de cineasta, ao menos do filão de filmes de ação. Esse subtexto acaba sendo mais rico que toda a arquitetura, pirotecnia e atitude bad ass que sempre preconizaram as ações de Barney e seus asseclas.

  • Crítica | Máquina Mortífera 4

    Crítica | Máquina Mortífera 4

    maquina-mortifera-4

    Em 1998, a popular trilogia se tornou uma quadrilogia. Seis anos após o terceiro capítulo, a “gangue” toda se reuniu para uma última rodada de aventura e muita confusão. Sempre sob o comando de Richard Donner, Mel Gibson, Danny Glover e companhia entregaram um digno fechamento da saga com Máquina Mortífera 4. Como não poderia deixar de ser, uma grande homenagem àquilo que marcou a franquia: uma comédia de ação onde, muito mais do que trama, o foco são os personagens, sua humanidade e o (mais martelado do que nunca) fator família.

    Acompanhando a evolução do cinema de ação, tanto tecnológica quanto conceitual, temos aqui as cenas mais grandiosas e exageradas da série. A começar pela sequência de abertura, onde Riggs e Murtaugh enfrentam um incendiário blindado. A solução? Atirar no tanque de napalm do cara, causando um efeito dominó que explode o bandido, um caminhão tanque e um posto de gasolina. Coisa de fazer Michael Bay aplaudir com lágrimas nos olhos. A consequência inacreditável do evento é a promoção dos dois sargentos para capitães da polícia de LA. A “explicação” é que eles precisam ser retirados das ruas, pois o seguro do departamento se recusa a cobrir as constantes destruições do patrimônio público que eles promovem.

    Tal promoção acaba não fazendo nenhuma diferença, pra variar. Eles vão trombar por acaso com a ameaça da vez, uma operação de tráfico de escravos vindos da China que se desenrola numa grande conspiração envolvendo a Tríade, famosa máfia chinesa, falsificação de dinheiro e corrupção do governo chinês. Um plot confuso, que visivelmente é apenas uma desculpa para movimentar a história e colocar os personagens pra resolver algum conflito. Nada muito diferente dos filmes anteriores, se pararmos pra pensar.

    Na vida pessoal dos dois parceiros, a novidade é que agora inclusive Riggs se pergunta se não está “velho demais para essa m…”. Prestes a ser pai, considerando casamento, em quase nada ele lembra o maluco suicida de outrora. Essa evolução pode ser creditada tanto ao seu relacionamento com Lorna (Rene Russo) quando a longa convivência com Murtaugh e sua família. Roger por sua vez, não fala mais sobre aposentadoria, mas vai se tornar avô – e não sabe disso. Sua filha mais velha casou-se em segredo com o detetive Butters (Chris Rock, deslocado por estar num papel não assumidamente cômico, mas não compromete). Completando a turma, o veterano Joe Pesci mais uma vez como o surtado Leo Getz.

    E, em seu primeiro papel em Hollywood, Jet Li nos brinda com o melhor vilão da franquia. Com pouquíssimas falas (todas em chinês) e uma agilidade impressionante, ele passa o filme arrebentando a cara de Riggs. Além de criar uma aura tão ameaçadora que rende um momento impagável na batalha final, quando a dupla de heróis se borra de medo do chinesinho que tem metade do tamanho deles.

    Apesar de exagerar em alguns momentos, como a prolongada batalha final e a sequência pastelão/final de novela na maternidade, o filme se manteve fiel à sua proposta. Uma aventura movimentada e muito divertida, com o merecido final feliz para nossos velhos conhecidos. E ainda bem que a franquia não teve uma revisita que poderia estragar tudo isso.

    Texto de autoria de Jackson Good.

    Ouça nosso podcast sobre Máquina Mortífera.

  • VortCast 25 | Máquina Mortífera

    VortCast 25 | Máquina Mortífera

    vortcast25

    Bem-vindos à bordo. Nesta edição Rafael Moreira (@_rmc), Jackson Good (@jacksgood), Nicholas Aoshi (@aoshi_senpai) e o Hell do Melhores do Mundo (@melhoresdomundo) se reúnem para comentar uma das mais importantes séries do cinema policial, a quadrilogia Máquina Mortífera.

    Duração: 97 min.
    Edição: Rafael Moreira
    Trilha Sonora: Rafael Moreira

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    Crítica Máquina Mortífera 2 – Compre Aqui
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  • Crítica | Os Mercenários

    Crítica | Os Mercenários

    expendables

    Stallone está de volta e, com ele, toda a truculência dos brucutus dos anos 80, que tanto nos proporcionaram entretenimento. Após alguns anos de ostracismo, Sylvester Stallone conseguiu se renovar ao retornar às telas dos cinemas com Rocky Balboa, reinventando não apenas seu personagem mais conhecido – tachado por muitos como ultrapassado e parte de uma lembrança já esquecida -, como também ele próprio.

    Em 2010, Sly abandonou completamente o aspecto intimista contido em Rocky Balboa ou até mesmo Rambo IV, que mesmo com seu roteiro raso ainda proporcionava reflexões acerca da temática política abordada e uma interessante conclusão na construção de um personagem criado ao longo do tempo. Em Os Mercenários temos um retorno aos filmes de ação que o consolidaram como um ícone anos atrás e, acima de tudo, uma grande homenagem ao gênero que o consagrou.

    E para esse retorno aos “velhos tempos”, Stallone convidou um time de peso para participar do elenco. Entre eles temos Dolph Lundgren (o eterno Ivan Drago), Mickey Rourke, Jason Statham, Jet Li, Terry Crews, os lutadores Steve Austin e Randy Couture, Eric Roberts e a brasileira Gisele Itié. Além dos já citados, muitos outros nomes foram cogitados, mas sem dúvida o ponto alto do longa são as aparições de Arnold Schwarzenegger e Bruce Willis em uma reunião com Stallone, em que todos eles se auto-satirizam em um diálogo cheio de tiradas sarcásticas.

    É bom deixar claro que o roteiro de Os Mercenários está repleto de clichês dos filmes do gênero, mas a proposta é justamente essa: ser um bom filme de ação e, acima de tudo, não se levar a sério; afinal, o próprio título original já deixa isso claro (The Expendables = Os Descartáveis). Os Mercenários nada mais são do que um grupo de especialistas contratados pelo governo, ou quem quer que pague, para realizar trabalhos que ninguém mais quer fazer.

    O grupo é liderado por Barney (Stallone), que é contratado para derrubar um governo ditatorial na América do Sul. Ao chegar no país, o grupo percebe que a missão não seria tão fácil quanto o esperado e decidem não aceitá-la, mas o personagem de Barney se apaixona pelo seu contato no país, Sandra, personagem vivida pela Gisele Itié, e decide levar a missão até as últimas consequências.

    Como já falado, a trama é simples, girando em torno da remoção do Ditador Garza (David Zayas), da lealdade dos companheiros de Barney e de seu amor por Sandra. Apesar de uma motivação um tanto medíocre, Stallone traça uma linha entre os filmes de ação dos anos 80 e seu novo longa: se antes a motivação desses personagens estava apenas em suas convicções políticas, aqui temos o amor repentino e o companheirismo de seus parceiros, deixando de lado o discurso panfletário para ser apenas um grande blockbuster.

    O ponto forte do elenco fica por conta de Statham, Rourke e Jet Li, que se mostram carismáticos, além do próprio Stallone, que, apesar de toda sua deficiência, convence com toda sua canastrice. Os demais personagens são bastante inexpressivos, inclusive Gisele, que tem função única de servir como exaltação à beleza feminina e nada mais.

    A direção tem algumas tomadas aéreas e de explosões muito competentes, além de um um close-up durante um momento bastante interessante do personagem do Mickey Rourke, mas para por aí. No geral, ela peca pelo excesso ao tentar filmar cenas de ação desenfreada. Convenhamos, Stallone não é um Paul Greengrass, e as tomadas soam confusas, dificultando o acompanhamento dos movimentos em certos momentos.

    Os Mercenários não veio para reinventar a roda do cinema de ação, mas é ótimo rever um time desse calibre não se levando a sério, rindo deles próprios e, diferente do seu título original, ele não é descartável.

  • Crítica | Os Mercenários 2

    Crítica | Os Mercenários 2

    Expendables-2-

    Quando Sylvester Stallone decidiu não dirigir a sequência de seu sucesso de 2010 (ele passou o cargo para Simon West e apenas co-assina o roteiro), deve ter pensado em ter menos trabalho e mais diversão. Isso já entrega o tom de Os Mercenários 2: muito mais do que o primeiro filme, esse mergulha com gosto na auto-ironia e se assume de vez uma comédia, na qual a ação é apenas uma desculpa pra toda a galera se divertir fazendo o que mais gosta.

    A história é o mais simples e clichê possível. Após uma missão aparentemente fácil acabar muito mal, o bando de Barney Ross sai em busca de vingança, aproveitando o embalo pra salvar um inocente vilarejo do Leste Europeu – afinal, eles são os mocinhos: matam geral, mas só quem merece. O plot envolve qualquer coisa relacionada a armas nucleares soviéticas, só pra ajudar na cara de anos 80 do filme, mas a verdade é que o roteiro parece algo escrito às pressas durante as filmagens das cenas de ação, só porque alguém ali lembrou que precisavam de uma “liga” entre elas.

    E, para desespero da ala hipster, isso não tem importância diante do que o filme se propõe a fazer, não se levando a sério em (quase) nenhum momento. Diversão honesta, regada a tiroteios nos quais a contagem de corpos chega a níveis astronômicos e piadinhas e mais piadinhas sobre as carreiras e as idades dos envolvidos. Ainda que visualmente este fique aquém do antecessor, em termos de impacto massa véio, a pegada humorística e as participações mais especiais acabam compensando.

    Falando sobre o elenco (até porque não há muito mais o que dizer sobre o filme), nosso herói Sly não seria ele se não jogasse uma carga dramática em seu personagem, basicamente por conta do novato sniper vivido pelo irmão do Thor (que não é o Loki), o que resulta num problema, nem tanto pela execução mas pelo fato de isso destoar de todo o resto no filme.

    Jason Statham mais uma vez co-protagoniza e garante os bons momentos de porradaria ninja, já que os outros se dedicam mais a atirar. E também porque Jet Li apareceu só pra constar, imagino que estava obrigado por contrato. Dolph Lundgren é o símbolo maior do novo direcionamento, pois deixa completamente de lado o tom sombrio do filme anterior e se torna o alívio cômico dentro da comédia. Randy Couture (quem?) e Terry Crews já tinham pouco espaço e agora têm menos ainda – no caso do segundo, uma pena. Fechando o time, uma mercenária, a chinesa feiosa que teve até mais destaque do que merecia.

    Em relação aos astros convidados, Schwarzenegger tem um papel maior (surgindo de qualquer jeito na trama, mas enfim) e cumpre o que se esperava dele: metralha igualmente inimigos e piadas com “exterminar” e “eu voltarei”. Bruce Willis é intimado pelo Sly e também vai pra linha de frente, porém tudo meio burocrático. Faltou alguém falar que ele é “duro de matar”.

    Van Damme faz o vilão (chamado Vilain, é sério) e, apesar da cara derretida e dos braços de Popeye, parece à vontade, convence como um cara mauzão. E finalizando com o melhor, a lenda, o mito, o… eu ia dizer Deus, mas isso seria rebaixá-lo: Chuck Norris. Vale o ingresso, só isso. E daí que sua aparição não tem a menor lógica na história? Se sua entrada em cena com trilha sonora de western já não fosse digna de aplausos, o filme ainda brinca da forma mais gratuita possível com os Chuck Norris Facts!

    Depois dessa, pode-se dizer que um terceiro Os Mercenários seria desnecessário. Mas, enquanto houverem medalhões a serem chamados para brincar com si mesmos, há “conteúdo” a se explorar. Sly pode continuar reunindo a turma pra se divertir, e nós pegamos carona com eles.

    Texto de autoria de Jackson Good.