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i
“Theories of the Policy Process, Fifth Edition continues to define public policy
scholarship more than two decades after the first edition was published. The
authors, under the editorial guidance of Chris Weible, deliver theoretically
innovative material through the circumspect curation of updated chapters,
a feat not insignificant for the fifth edition of an edited volume. Moreover,
Theories of the Policy Process is most empirically relevant in substance
and form: the expanding geographical scope of the theories’ practical
applications renders the material spatially aware whereas the author teams
are diverse, producing polyphonic scholarship. Theories of the Policy Process
charted my own career path almost two decades ago – the fifth edition is a
compass every student and researcher must possess in order to navigate the
complex public policy questions of our time.”
Evangelia Petridou, Mid Sweden University, Sweden and
NTNU Social Research, Norway
“Theories of the Policy Process, Fifth Edition provides the most comprehensive
set of theoretical lenses, including comparative lens, to observe complex
policy processes. Each lens offered within this book is clear, unique and up
to date. It is a must-read for anyone who wants to understand the policy
process quickly and conduct policy process research better.”
Fang Chen, School of Public Affairs, Xiamen University, China
Theories of the Policy Process provides a forum for the experts in policy process
research to present the basic propositions, empirical evidence, latest updates,
and the promising future research opportunities of each policy process theory.
In this thoroughly revised fifth edition, each chapter has been updated
to reflect recent empirical work, innovative theorizing, and a world facing
challenges of historic proportions with climate change, social and political
inequities, and pandemics, among recent events. Updated and revised chapters
include Punctuated Equilibrium Theory, Multiple Streams Framework,
Policy Feedback Theory, Advocacy Coalition Framework, Narrative Policy
Framework, Institutional and Analysis and Development Framework, and
Diffusion and Innovation.This fifth edition includes an entirely new chapter
on the Ecology of Games Framework. New authors have been added to
most chapters to diversify perspectives and make this latest edition the most
internationalized yet. Across the chapters, revisions have clarified concepts
and theoretical arguments, expanded and extended the theories’ scope,
summarized lessons learned and knowledge gained, and addressed the rele-
vancy of policy process theories.
Theories of the Policy Process has been, and remains, the quintessential
gateway to the field of policy process research for students, scholars, and
practitioners. It’s ideal for those enrolled in policy process courses at the
undergraduate and graduate levels, and those conducting research or under-
taking practice in the subject.
FIFTH EDITION
Edited by
Christopher M. Weible
vi
Contents
List of Figures xi
List of Tables xii
About the Contributors xiii
Preface and Acknowledgements to the Fifth Edition xx
PART I
Theoretical Approaches to Policy Process Research 27
x Contents
xi
Figures
Tables
Language: Portuguese
CÔRTE NA ALDEIA
E
noites de inverno
por
volume ii
16.ª serie—numero 63
LISBOA
COMPANHIA NACIONAL EDITORA
successora de david corazzi e justino guedes
40—Rua da Atalaya—52
FILIAES: Praça de D. Pedro, 127, 1.º andar, PORTO
38, rua da Quitanda, Rio de Janeiro
1890
LISBOA
typographia da companhia nacional editora
309, Rua da Rosa, 309
1890
INDICE
CÔRTE NA ALDEIA
E
NOITES DE INVERNO
DIALOGO IX
da pratica e disposição das
palavras
(Continuação)
—De maneira (disse D. Julio) que temos averiguado que falar
vulgar, e propriamente, é falar bem: e na verdade, da boa linguagem
a principal parte é a clareza; e o mais d’ella consiste em fugir
d’esses atoleiros. Mas ainda eu tenho por peior de todos o da
prolixidade, de cujas partes se tocou o principal na noite passada.—
Ha muitos homens (proseguiu Leonardo) tão palavrosos, que vos
não deixam tomar carta na conversação; e são tão amigos de
levarem um comprimento até o fundo, que nem com o silencio vos
defendeis dos seus; e é vicio, de que se ha de fugir como de peste
da discrição. E já me occorreu por que razão chamariam aos
faladores paroleiros, ou homens de parola; que posto que a phrase
seja italiana, lhe acho uma mais secreta galanteria; e é que, como a
lingua de Italia é mais copiosa, ornada, e comprida nas razões; aos
que na nossa falam muito, áquella semelhança chamaram homens
de parola, como se lhe chamaram italianos.—Boa está a derivação
(tornou o fidalgo) porém vamos á brevidade, que eu me não
atrevera a culpar, se agora vos não ouvira.—Não sou eu o primeiro
(respondeu elle) que o disse; que já o poeta se queixou que quando
queria ser breve ficava escuro. E verdadeiramente a pratica
comprida não a comprehende a memoria; e a mais breve do
necessario cega o entendimento; e ha muitos, que, por abreviarem o
que dizem, não declaram o que querem: que posto que a brevidade
seja louvada, e por ella se avantajassem os laconicos na linguagem
dos outros gregos, o cortezão nem ha de dizer as cousas em tres
palavras, nem em trezentas.—Dizeis bem como em tudo (accudiu o
doutor) que ha alguns, que, por quererem atar tudo em um feixe
(como disse o proverbio) desconcertam o que com poucas palavras
mais podia ser bem dito: e muito se me parece esse erro de abreviar
com o de enfeitar as palavras, que é como perder um por carta de
menos, outro por a ter de mais. Posto que o mesmo vicio (proseguiu
elle) se tratou a noite que falámos das cartas, não o deixarei passar
agora sem outra lembrança, porque é um trabalho não sómente
escusado, mas odioso, que a pratica artificiosa embaraça aos que
sabem pouco, e não agrada mais ao discreto, e serve de nevoa para
as cousas que se tratam; que com o ornamento das razões se perde
muitas vezes o sentido principal d’ellas: e é tão culpavel o feitio, que
n’isso se perde, como o que as mulheres usam em desmentir as
graças da natureza com fingida formosura, que nunca aos bem
entendidos pode parecer verdadeira. E deixando esta parte,
passemos á principal, e que mais pertence ao discreto, que é não se
descuidar com a confiança; porque ha muitos, que de confiados em
sua sufficiencia, falam por si, e não pesam as palavras com o
receio, que para bem ha de ser sempre a balança d’ellas. E assim
hora dizem algumas pouco decentes á honestidade da conversação;
outras, escandalosas a algum dos ouvintes; outras, que, por serem
fóra de tempo, perdem o logar, e elle na opinião dos que escutam o
que com muitos outros tem alcançado.
O primeiro descuido da confiança, e o que fica mais em
descredito do cortezão, é quando entre mulheres principaes usa de
algumas palavras que ou no som ou na materia, offendam a
honestidade de seu estado; culpa, em que cahem muitos confiados,
mórmente nas visitas de desposorios e nascimento de filhos, e em
outras semelhantes, em que é mais necessario ao discreto as redias
na mão, porque elle não perca os estribos e a ellas se não mude a
côr. E tambem sou de opinião que antes fuja de dizer algumas
cousas que de lhes mudar o nome, como chamar ás pernas
sustinentes ou andadeiras; porque, nomeando estas partes das
mulheres deante d’ellas, não é cortezia.—Parece (perguntou
Pindaro) que nomeando logo as pernas dos homens não será erro,
ainda que seja deante d’ellas?—Não (respondeu elle) porque nas
mulheres é parte occulta, e nos homens manifesta; e o trajo de cada
um ensina esta cortezia: e muitos ha, que, de escrupulosos n’ella
dão em disparates: como me contaram ha pouco de um mestre de
grammatica, que, desculpando-se um discipulo seu que não viéra ao
estudo, porque aquelle dia parira sua mãe, o mandou castigar,
dizendo que em publico não se haviam de falar palavras mal
soantes á honestidade. E outros, que fazem cortezia de mudarem
os nomes ás cavalgaduras, e por se desencontrarem de um asno,
darão mil rodeios.—N’iso tem elles muita razão (acudiu D. Julio)
porque não vi eu peior azar que esse encontro. E devia de ser
inventada esta maneira de cortezia, por não nomearem asno deante
de algum que o parecesse, por guardar a advertencia do rifão, em
casa de ladrão não lembrar baraço: sendo assim, que nos animaes
nojentos, e as sevandijas nomeam por o seu nome, ainda que isto
não usára eu entre donas e damas delicadas, a quem com menos
occasião se enoja o estomago.—Mui bem trazida está essa
lembrança (proseguiu Leonardo) e continuando com as outras, me
parece que o segundo descuido é quando o discreto fala, ou allega
latins entre pessoas que o não sabem, ou que não tem obrigação de
o entender, como são mulheres: ou conta deante d’ellas historias da
India, ou de outras regiões remotas, onde esteve, dizendo as
cousas com muitas palavras dos nomes proprios d’aquellas partes;
que ha alguns, que em colhendo na pratica Ormuz, Malaca ou
Sofala, não sabem dar um passo sem palanquins, bajús, catanas,
bois, larins e bazarucos; e outras palavras, que deixam em jejum o
entendimento dos ouvintes, sem os seus por isso ficarem melhor
acreditados. O ultimo descuido e mais perigoso, é que motejando
em materia que possa offender a terceiro, não advirta, antes de
falar, se está na presença a quem toque por sangue ou amizade a
offensa que se faz ao ausente, ainda que seja em materia leve; ou
se está alli outro do mesmo estado de que se murmura, do mesmo
cargo, vicio ou costume; que, não tendo esta vigilancia, lhe poderia
nascer da sua graça uma resposta.—Pois se offereceu (disse D.
Julio) falardes em graça, dando côr de que na murmuração se acha
mais certa, estimarei saber que é o que chamam sal os discretos,
que é um termo de falar muito ordinario entre elles.—A resposta
d’isso (tornou Leonardo) está por conta do doutor, que parecem
esquecidos da noite passada: com elle o haveis de haver; que eu
vou já dando fim ao que me cahiu em sorte.—Sou contente (disse o
doutor) de me chamardes por parte n’esta pergunta do sr. D. Julio
por o servir a elle, e dar occasião a Solino de saber a vantagem que
n’isso nos tem a todos. Primeiramente o sal, a quem um auctor
chamou conducto de todos os outros, é o que dá sabor, e faz
appetite ao desejo para todos elles.—Muito se parece n’isso com a
fome (acudiu Solino).—Assim é (disse o doutor) porém tem demais
que os conserva e sustenta com sua força; pelos quaes attributos
Homero e Platão chamaram ao sal divino: e assim como os
mantimentos sem elle não obrigam a vontade; assim tambem por
elle (como disse Plinio) significamos os effeitos do animo; chamando
homem sem sal, pratica sem elle, riso em sosso, e ainda formosura
sem sal, como escreveu Catullo, de Quincia que pintando-a
formosa, branca e comprida, diz que em toda aquella figura não
havia uma pedra de sal. De maneira que, conforme a este sentido, o
sal é uma graça, e composição da pratica, do rosto ou do
movimento do andar, que faz as pessoas apraziveis. E esta,
segundo alguns, particularmente se declara no que obriga a riso e
alegria, com um modo de murmuração leve. D’onde Seneca disse
que o sal da conversação dos amigos não havia de ter dentes: e
assim como os mantimentos que tem mais sal, fazem maior sede a
quem os come; assim a conversação que tem mais d’elle, é mais
appetitosa e desejada dos ouvintes: e como sem sal todas as
iguarias são semsabores e desgostosas, assim a pratica onde a sua
graça falta, é puro fastio. Porém, quanto a mim, o que da tenção
d’estes auctores convém mais com o seu modo de falar, sal quer
dizer graça, que é o contrario da frieza e semsaboria: e dizemos do
gracioso que é salgado; e do bemdito que tem muito sal, e do que o
não é, que não tem nenhum.—Porque razão (perguntou Feliciano)
sendo o sal cousa tão excellente, os egypcios não queriam usar
d’elle em nenhum mantimento, e até o amassavam sem sal, tendo-o
por inimigo?—Os egypcios o faziam (respondeu elle) por lhes
parecer que observavam n’isso a castidade, attribuindo á virtude do
sal a fecundidade e o appetite carnal, por razão do calor, a cujo
respeito fingiram os poetas que Venus nascera do sal, que é da
espuma marinha; e alguns naturaes disseram que só com comerem
e usarem muito do sal, concebiam alguns animaes. Outro auctor diz
que os egypcios o faziam por sobriedade e abstinencia, tirando o
sabor e gosto ás iguarias, em lhe não deitarem sal: mas a verdade é
que, se elles o tinham por inimigo da vida, não ha cousa n’ella mais
saborosa: porque as duas cousas que a sustentam, como escreveu
um auctor grave, são sal e sol: e ainda depois da morte o sal
conserva os corpos sem corrupção e os sustenta inteiros sem deixar
apartar os membros da sua compostura: por as quaes propriedades
o fizeram os antigos symbolo da amizade (como diz Pierio Valeriano
nos seus jeroglificos) que ella, assim como o sal, tempera todas as
cousas da vida entre os humanos. E a primeira cousa que se punha
aos amigos na mesa era o sal; costume que ainda agora se usa,
posto que se não saiba em muitas partes a razão d’elle; nem a
porque se enojam e enfadam os hospedes, de se derramar o sal
pela meza; que n’este nosso reino querem fazer particular agouro
dos Mendoças, sendo a causa geral: porque lhes parecia aos
antigos que se apartava e perdia a amizade, entornando-se o sal,
que na mesa fazia a figura d’ella. E á semelhança tinham por boa
sorte derramar-se o vinho, que, como era symbolo da alegria e
contentamento, desejavam que entre todos se espalhasse. Com isto
tenho dito do sal o que me perguntastes, posto que, para lhe dar
mais solidos louvores, o pudéra levar á Escriptura Sagrada, onde
não só significa confederação e amizade, mas por elle se entende a
doutrina evangelica; e aos mesmos apostolos e prégadores d’ella
chama Christo sal. E pois para falar d’este tomei mais tempo do que
quizera, é bem que vos deixe livre este, que fica, para que todos nos
aproveitemos de vos ouvir.—Pouco pudéra eu dizer (respondeu
Leonardo) se não fosse acostado á vossa erudição e auctoridade. E
do sal me não fica outra cousa que advertir mais, que haver-se de
maneira com elle o cortezão que não seja a pratica toda de graças,
nem sem ella: se não uma certa liga, com que se componha o
galante e o sizudo, que é uma differença, que sempre fiz do
engraçado ao gracioso; porém como isto ha de ser em
conformidade das materias, occasiões e pessoas com que se
pratica, não posso dar a isso regra ordenada. Fica além d’isto que
advertir ao discreto a mecanica geral dos termos, e nomes dos
principaes instrumentos com que se exercitam as artes mais nobres,
como a pintura, esculptura, architectura, arithmetica, astrologia e
musica: saber as peças e os nomes d’ellas, com que se arma um
cavalleiro: as que pertencem ao jaez e arreio de um cavallo: os
logares, ordens e disposição de um esquadrão formado: o maneio
militar de uma galé bogante: os nomes de um edificio bem
fabricado, e de uma fortaleza bem guarnecida: saber a côr e o nome
a todas as pedras de valia: os quilates do ouro; o peso dos metaes,
a melhoria d’elles; e outras cousas semelhantes a estas, que, como
andam sempre na praça ordinaria da conversação, não é justo que
faltem ao discreto palavras, com que mostre que tem conhecimento
de todas. Com estas lembranças me hei por despedido d’esta
materia, posto que fiquem de fóra algumas cousas d’ella, como são
contos, historias e novellas dos cortezãos, e agudeza de ditos; que
cada uma pedia mais compridas horas de pratica: porém com a
minha voz tenho a todos cançados, sem eu ficar ocioso.—O das
historias (disse Pindaro) podeis vós, senhor, dilatar, mas não vos
escusareis de as dizer, mórmente quando pela inculca, que de mim
fizestes, me importa mais que a todos saber o particular d’ellas.—
Fiquem essas guardadas para ámanhã (disse Solino) e se temeis
que até então se damnem, obrigae ao doutor que do muito sal, que
aqui lançou, á minha conta deite n’ellas algum.—Boa lembrança foi
(acudiu o doutor) eu confesso a culpa de não applicar o que disse á
vossa graça e galantaria, que é o sal com que vos convidei, e que a
todas as praticas d’esta nossa conversação faz parecer agradaveis
e saborosas a todo o entendimento.—Vós, senhor doutor, replicou
elle, me tendes feito um saleiro com vossos louvores; e com a
vangloria d’elles não me tenho por seguro no assento de qualquer
logar.—Se entornardes o sal (acudiu Pindaro) não será a primeira
vez que déstes má conta da amizade.—De confiado na minha
(tornou elle) falaes contra o que entendeis d’ella, que mais se
acredita nas obras que nas palavras.—A verdade é (disse
Leonardo) que sois bom amigo, ainda que com muito sal; e que sem
encarecimento vos podiam chamar o mesmo nome.—Ainda (disse
elle) me haveis aqui de converter em sal.—Antes (acudiu Pindaro)
no que disse Marco Varrão que o sal era a alma do porco; e eu sei,
e todos da vossa graça, e ninguem dará fé que tenhaes alma.—
Essa (tornou Solino) está agora no purgatorio de vos ouvir: e porque
estes senhores já com uns bocejos dissimulados dão signaes de
que tem necessidade de repouso, fique a demasia para ámanhã.
Todos então se levantaram mostrando que ainda o faziam com
pouca vontade, porque nas praticas de gosto primeiro cansam os
sentidos, que os desejos.
DIALOGO X
da maneira de contar historias na
conversação
Depois que os amigos se apartaram, e D. Julio se recolheu a
casa para repousar, achou n’ella uma occasião de desasocego, que
lhe fez perder o somno. Porque lhe trouxe novas um creado, a que
tinha encommendada a diligencia, que o prior se partia na manhã
seguinte para a cidade, acompanhando aquella formosa peregrina
para o recolhimento da clausura a que de tão longe estava
affeiçoada: e como elle o ficou tanto de sua vista, e corrido comsigo
mesmo dos poucos extremos, que por ella fizera, determinou com a
occasião de caçador (que já fôra principio d’aquella ventura) fazer-
se encontradiço no caminho, e acompanhar ao prior até o fim da
jornada: para o que tirou a luz aos melhores concertos de campo
que tinha, e o vestido e galas mais louçãs, com que podia apparecer
n’aquelle disfarce, usando o mesmo nos creados que levava. Ao
outro dia pôz em execução este pensamento: e deixando para seu
tempo o successo que teve, os da conversação o não souberam
todo aquelle dia: e quando veiu a noite, que o acharam menos,
houve quem désse novas de como o encontrára n’aquella empreza;
e com esta occasião começaram a pratica, e disse o doutor:—
Sempre ouvi que os cuidados de amor em peitos generosos sahem
com seus extremos ao longe; e que então se forçam quando os
outros sugeitos desconfiam. Aquelles encarecimentos de meu amigo
D. Julio, aquelle silencio e segredo, aquelle respeito de cortezia tão
encolhido, parece que apanhava pedras para melhor tempo; e
n’este costuma a fazer seus lanços este diabinho do amor, porque
tem outros da sua parte, á conta de estorvarem seu bom proposito.
—Segundo isso (disse Solino) receiaes que a que engeitou
principes mais louros que salmonetes, acceite agora um fidalgo
retirado na aldeia, d’onde sahe com as galantarias mais penujentas,
que marmelo temporão.—Muitas damas (tornou elle) que
engeitaram grandes senhores, não desprezaram grande amor: e
outras, a quem offenderam procedimentos ingratos, estimaram de
sugeitos mais humildes devidas cortezias.—Não façamos (acudiu
Leonardo) offensa aos ausentes; nem a ella demos por arrependida,
nem a D. Julio por tão namorado: porém maiores cousas houve no
mundo. Tudo podia tecer o amor, e acabar a ventura: e se essa
cahira á conta de D. Julio, outra pudera ser peior empregada.—Não
estou bem (disse Solino) com a ventura dos casamentos por
amores.—Será (respondeu Feliciano) por estardes mal nas muitas,
que por elles se alcançaram: e bem pudéra eu a essa conta trazer
alguma historia de notavel exemplo, se estas horas não estiveram
promettidas a outro exercicio.—Antes a materia, que hontem ficou
por acabar (disse Pindaro) era como se havia de haver o cortezão
nos contos e historias; e vem a vossa a tempo, que servirá de
exemplo, e, o que sobre ella se disser, de doutrina.
—Ainda que isso parece mais concerto de amigos falados (disse
Solino) que occasião, digo que tendes justiça, e sou de parecer que
vá de historia: mas praza a Deus que não caiaes no atoleiro, de que
vos desviastes a primeira noite da nossa conversação.—Bem sabeis
(respondeu elle), que em ribeiro grande saltar de traz: e assim
primeiro hei de vêr as balizas de meu companheiro, do que caia nas
vossas mãos.—Enganaes-vos (replicou Solino), que menos seguro
vae o cego do que o moço que o guia.—Não aperteis tanto com os
amigos (acudiu Leonardo), ouçamos ao licenciado a sua historia; e
quando as pellas vierem a Pindaro, elle as tornará á vossa vista, e
direis o que entenderdes.—Outra cousa espero eu (accrescentou o
doutor), e é que haveis de passar pela lei que ordenardes, contando
tambem a vossa historia, da qual se ha de devassar como das mais:
e, por dilatarmos esta menos, diga o licenciado, e declare se vende
a sua historia por verdadeira.—Por tal a conto (respondeu elle) e de
um auctor mui approvado e verdadeiro, e é a seguinte:
“Na côrte do imperador da Allemanha Oton III, d’este nome, que
foi a mais florente, e frequentada de principes, que houve muitos
annos antes, e depois n’aquelle imperio, assistia, com grande
satisfação de suas partes, Aleramo, filho do duque de Saxonia,
mancebo de pouca edade, e de muita gentileza, magnanimo,
esforçado, liberal, e tão cheio de graças naturaes, que n’elle, como
em um thesouro, parece que as depositara todas a natureza. Tinha
o imperador uma filha da mesma edade, e de tanta formosura, que,
sem o que a sorte devia a seu nascimento, merecia ter o imperio do
mundo: e se em a belleza tinha esta vantagem a todas as damas de
Allemanha, ainda lh’a fazia muito maior na discrição, aviso e
galanteria. Aleramo, que no serviço do imperador tinha sempre á
vista aquelle despertador de pensamentos altos, e que, além dos
que a grandeza de seu sangue lhe permittia nos olhos de Adelazia
(que este era o nome da princeza) ia aprendendo pouco a pouco a
lhe querer muito, foi descobrindo esta vontade, até que foi
testemunha de seus effeitos a propria causa. Não se houve por
offendida d’este amor Adelazia, por lhe parecer devido á sua
gentileza, e natural em um coração magnanimo, e generoso;
maiormente que na vista, e fama de Aleramo achava tudo o que
podia desejar para um emprego amoroso, ainda que a
desegualdade dos estados o defendesse. Foi elle accrescentando o
amor, e este gerando atrevimentos, que são as salamandras que
n’este fogo se criam; e ella, depois de batalhar com os receios
largamente, descobriu ao mancebo sua vontade, encommendando,
na fé do que lhe queria, o segredo d’ella, porque bastava para total
destruição de suas vidas uma leve suspeita, que o imperador
tivesse de seus amores. Continuou muito tempo este segredo, sem
ser entendido; e pouco a pouco se apurava a paciencia d’estes dois
amantes, tratando em uma amorosa correspondencia seus
cuidados, sem outros mensageiros, ou secretarios mais que os seus
olhos: eram estes comtudo sem esperança, por quão alheio o
imperador estava de consentir n’elles; parecendo-lhe pouco, para os
merecimentos d’aquella filha, dar-lhe por esposo o mais rico e
poderoso dos reis christãos, quanto mais um filho menor de um seu
vassallo. Mas como o poder de amor se mostra em ter em menos
conta a maior grandeza, fez tanto com Adelazia, que, esquecendo
todos os interesses, offertas e esperanças da fortuna, se determinou
de fugir com Aleramo, que, sem respeitar o perigo, se offereceu ao
que sua senhora ordenasse. Escolhido o tempo e occasião
opportuna, levando ella comsigo as joias de preço que tinha, e elle
as cousas de valor que pôde grangear, sahiram da côrte, e andaram
em pouco espaço de tempo tanto caminho, quanto lhes foi
necessario para pôr em salvo as vidas, a que a ira de Oton
ameaçava: o qual achando menos a filha, a quem queria mais que a
tudo o da vida, esteve a risco de a perder com sentimento; e
mandou logo atalhar as estradas, e caminhos de toda a Europa com
bandos e pregões de grandes promessas a quem descobrisse, ou
désse novas do roubador de Adelazia: mas ella e seu esposo
caminhando a pé contra a parte de Italia em habito de peregrinos,
foram ter ao condado de Tirol: e porque o temor de serem
conhecidos os desviava sempre do povoado, vieram na montanha a
poder de salteadores, que roubando-lhes as joias e dinheiro, que
traziam, lhes deixaram sómente as vidas sujeitas a tão grande
miseria e pobresa, que lhes foi necessario, para poder sustental-as,
andarem pedindo esmola por toda Lombardia de logar em logar, já
tão mudados de seu parecer, e gentileza com os trabalhos, que a
mudança lhes pudera escusar os de seu receio. Resolvendo-se
comtudo de não fazerem assento em Milão, nem em outra cidade
imperial, se foram viver a umas montanhas entre Asti e Savona,
onde amor e a necessidade lhes ensinaram com os trajos vis a
conformar exercicio de que vivessem, que era cortando lenha
n’aquelles bosques, fazerem carvão, que vendiam nos logares
d’aquelle districto; e com esse sustentavam em vivas brasas o
verdadeiro amor, que lhes dava a vida. Alli com a riqueza, de que
elle os tinha satisfeitos, contentes de tão saborosa necessidade,
com habitos humildes, nomes mudados, e corações conformes,
houveram sete filhos varões, que logo nos rostos o pareciam ser de
paes illustres, e de um tão amoroso ajuntamento. O maior d’elles, a
quem pozeram nome Guilhelmo, começou logo na sua puericia a
ajudar a seus progenitores n’aquella miseria, levando o carvão e
lenha a vender a Asti, Savona, Alba, e a outros muitos logares, que
por alli havia: e como a sua generosa, e natural inclinação vencia a
razão daquelle estado miseravel, em que se criára, do que com seu
trabalho ganhava n’aquello trato, um dia comprava um punhal, outro
uma espada, outro um cão de caça, sem que valessem ao generoso
pae as reprehensões com que o persuadia do que convinha mais
para sua pobresa. Passaram alguns dias, quando elle veiu com o