Muita curiosidade, chat lotado de perguntas e troca de conhecimentos têm marcado os encontros do projeto Meninas SuperCientistas. Voltado ao incentivo de meninas em carreiras na ciência em áreas cuja representação feminina é baixa, o projeto engloba palestras de pesquisadoras da Unicamp e de outras instituições. Na edição de 2021, o evento, que começou em maio e vai até julho, ocorre de forma online. As transmissões são abertas ao público em geral. Dezenas de jovens estudantes participam, assistindo e tirando suas dúvidas com as cientistas.
Conversamos com quatro participantes do Meninas SuperCientistas para saber como têm experienciado o projeto. A inspiração e a motivação ao ouvir mulheres cientistas, o aprendizado e a descoberta de novas áreas na ciência são pontos que perpassam as falas de Sofia Rodrigues, Daniela Azevedo, Luiza Oliveira e Emanoelle Parra, mostrando que “é importante sim incentivar as mulheres”, como aponta uma delas.
Mulheres na ciência inspiram as mais jovens
Sofia Rodrigues, estudante da Escola Estadual Carlos Gomes, comenta o incentivo que a traz conhecer histórias de vida e da carreira das mulheres cientistas. “É importante ver pessoas como nós fazendo as coisas para que possamos nos ver. É muito importante que as mulheres estejam na ciência e elas acabam nos inspirando”, avalia. O projeto, para ela, também está abrindo caminhos para conhecer segmentos da ciência que desconhecia. “O Meninas SuperCientistas vai me abrir portas para outras áreas, eu poder participar do projeto me fez ver outras áreas dentro da astronomia, saber outras áreas da ciência que eu também posso me apaixonar”.
Apesar de ter apenas 13 anos, Sofia demonstra segurança ao falar que já escolheu seguir uma carreira ligada à astronomia, área que ela começou a ter interesse aos 8 anos de idade. “Sempre tive interesse em astronomia, participei do evento inicialmente porque nós íamos visitar um laboratório de astronomia, eu queria saber como funcionava”. Ela se refere à visita ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), que ocorreu de forma virtual no penúltimo encontro do evento, 28 de junho.
Evento empodera mulheres
A estudante Daniela Azevedo também relata o incentivo que o projeto vem dando a ela. "Gostei de todas as palestras, fico aficionada, presto atenção, faço anotações, conto para minha família o que eu vi”, compartilha. “O evento empodera as mulheres, e é importante sim incentivar as mulheres, ainda mais da minha idade, porque mostra que elas também têm capacidade”, continua. O Meninas SuperCientistas, conta a estudante, a incentivou a desenvolver um projeto em sua escola, sobre cyberbullying.
Conforme Daniela, que tem 12 anos e estuda na Escola Estadual Professora Leila Mara Avelino, saber sobre as histórias das cientistas e o papel do estudo em suas vidas também tem sido importante. “Todas foram sensacionais. Deu pra ver que todas estudaram muito e gostei muito da cientista que trabalha na Nasa. Ela disse que está estudando exoplanetas e estou amando”. Poder ouvir cientistas que vivem em outros países, para ela, foi um dos benefícios que o formato virtual trouxe.
Sonhos tornam-se mais próximos
Saber mais sobre o trabalho da pesquisadora da Nasa Stela Ishitani Silva também marcou a estudante da Escola Estadual Dom Barreto, Luiza Oliveira, de 14 anos. A palestra de Stela, para ela, mostrou que não há sonho inatingível. “Me chamou atenção por ela trabalhar num lugar que a gente acha que é impossível, uma realidade longe da nossa. Ver que ela trabalha com pessoas legais da área me chamou muita atenção”.
O evento, segundo Luiza, tem sido uma ótima experiência para aprender mais sobre áreas da ciência que ainda não foram abordadas na escola. “Tenho muita curiosidade sobre o mundo da ciência. É uma oportunidade legal porque estou aprendendo com o projeto coisas que nem imaginava que existiam”.
Evento ajuda a conhecer áreas da ciência
Para Emanoelle Parra, que tem 15 anos e é estudante da escola Objetivo, conhecer mulheres que fazem ciência é uma experiência inspiradora. “Geralmente a gente estuda homens cientistas e ver a representatividade das mulheres e conhecer um pouco do que você gosta é uma oportunidade incrível. Ver aquelas mulheres inspirando nossos sonhos é uma experiência perfeita”.
A estudante, que deseja seguir carreira na área da Biologia, conta que o evento tem sido também importante para conhecer áreas sobre as quais ela não tinha familiaridade, como a arqueologia. “Nunca me interessei sobre arqueologia e me fascinou bastante”, conta.
O projeto
O Meninas SuperCientistas teve sua primeira edição em 2019, e foi idealizado pela estudante do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC) da Unicamp, Marcela Medicina. Através do projeto, são selecionadas estudantes do ensino fundamental 2, em sua maioria de escola pública, para participar da programação, que envolve palestras e visitas a espaços de trabalho de cientistas. Ao apresentar referências de pesquisadoras de sucesso, a ideia é reforçar a compreensão de que as habilidades necessárias para qualquer carreira podem ser desenvolvidas independentemente do gênero.
A segunda edição, em 2020, após o processo de seleção de 65 meninas e depois de um primeiro encontro presencial, precisou ser adiada devido à pandemia. Após uma reorganização, o evento prosseguiu, em formato virtual, a partir de maio de 2021. A transmissão é aberta ao público e, para as selecionadas, há uma sala do Meet onde podem interagir diretamente com as palestrantes. Já participaram dos encontros Nina da Hora (estudante Ciência da Computação da PUC-Rio); Stela Shitani Silva (Cua/Nasa); Caroline Chanel (Isae/Supaero); Amanda Bendia (Instituto Oceanográfico/USP); Taícia Fill (Instituto de Química/Unicamp) e Ana Zeri (CNPEM). O último encontro desta edição será no dia 10 de julho, com as palestrantes Anne Bronzi, do IMECC, e Esther Colombini, do Instituto de Computação (IC). Todas as transmissões podem ser acessadas no canal do Meninas SuperCientistas no Youtube.
A organização da edição de 2021 conta com Marcela Medicina (IMECC/Unicamp); Julian Furtado (FCM/Unicamp); Juliane Baiochi (IMECC/Unicamp) e Ana Augusta Xavier (FEA/Unicamp). Para Marcela, adaptar o projeto ao formato online foi um desafio, e também contou com uma mobilização para arrecadação de equipamentos e chips internet necessários para aquelas que não tinham.
No entanto, apesar de não ser possível realizar atividades presenciais, avalia, as estudantes que estão participando se mostram engajadas. “Não só pelos temas das palestras, que elas gostam muito, mas também acho que está sendo um momento de conforto, de alívio, de esperança, de estar junto a outras adolescentes que têm ambições e sonhos parecidos. Ver esse engajamento das meninas participando, ver elas felizes e participando mostrou que conseguimos fazer algo legal. Além de passar informação, estamos conseguindo compartilhar o carinho por elas e o amor pela ciência”.
Saiba mais sobre o Meninas SuperCientistas no site do projeto.